quinta-feira, 2 de julho de 2009

Roberto Gomes (1882 – 1922)


O que mais impressiona na literatura dramática brasileira é quando nos deparamos com aqueles autores singulares, praticamente desconhecidos e que ficam com parte significativa da obra teatral inédita, e que, por vezes, por mais que os estudiosos ou 'testemunhas dramatúrgicas' lhes propaguem as qualidades literárias e teatrais, os textos não saem das gavetas e prateleiras, ou seja lá onde se amontoem a literatura dramática do Brasil.

Assim também se dá com Roberto Gomes, nome tão simples mas de dramaturgia tão complexa e que não pode ser dividida. Autor que se deixou viver muito pouco, se suicidou aos 40 anos, e de obra não tão grande, porém não menos expressiva, queda-se no esquecimento, considerando ainda que à época de vida do autor o teatro brasileiro passava uma daquelas suas fases de crise, ou seja, tudo se fazia no palco menos teatro. Estamos entre 1897 a 1922, período ativo de dramaturgia para Roberto Gomes.

Autor de um refinamento de cultura e expressão muito agudos, adquirido nos estudos ora no Brasil ora na França, podemos dizer que é o autor certo para a hora errada. A consistência dos diálogos e de temas fez de Roberto Gomes um exemplar único da sua época e de sua geração, talvez único na dramaturgia brasileira.

A semana de arte moderna ficou manca de teatro e talvez isso tenha afetado o autor profundamente, pois que já esquecido em vida e com sérios problema de depressão, pôs fim a sua vida às 22:30 do dia 31 de dezembro de 1922. Não seria o único injustiçado das artes brasileiras e, especificamente, injustiçado pela semana de arte moderna. Considerando os temas de suas peças em comparativo com o teatro brasileiro de então e a busca pela qualidade dramatúrgica, há que se ter um desconto pelo seu excesso romântico e poético nos textos, mas que com elencos de primeira linha seriam não só obstáculos vencidos como seriam um laurel para as montagens.

O estilo de Roberto Gomes não é de vanguarda, dando um valor superior à palavra, mas sem esquecer a 'vida' do palco. Trata o autor de colocar pequenos discursos com idéias e ideais nas personagens, mas é de se ressaltar que estes pequenos discursos não afetam o andamento das peças, nem seus ritmos. Ainda que o ritmo da dramaturgia de Roberto Gomes seja mais lento do que a vida, digamos assim. O autor coloca uma série de convenções próprias, que vão se revelando minuciosamente e com uma inteligência de palco incrível ao longo do próprio enredo de suas peças.

O tema fundamental do autor é o tempo e a impossibilidade, do amor, da felicidade... ou seja, seus temas estão muito ligados a dramaturgia francesa de sua época, da qual era um confesso admirador, como de Henri Bataille, por exemplo, e nas letras em geral como Marcel Proust.

Há que ser entendido que Roberto Gomes era filho de um banqueiro com uma dama da sociedade parisiense, foi educado nas primeiras letras escolares em Paris, e lá uma vez mais foi onde começou a se impregnar de teatro, seja atuando ou tentando começar a escrever suas peças, ou ainda tocando sua música. Roberto era um exímio pianista, havendo estudado em Paris, onde se bebia os compositores simbolistas, modernos e de toda a sorte de pianos deprimidos, o que certamente teve profunda influência em sua dramaturgia. O autor, embora nascido no Rio de Janeiro em 12 de janeiro de 1882, começa a escrever suas peças em francês, e depois as traduz quando retorna definitivamente ao Brasil em 1897. Porém, é de registrar que isto não prejudica a dramaturgia de Roberto Gomes, nem mesmo os temas abordados pelo autor. Temos que fazer duas considerações nesse assunto, para que não seja mal interpretado nosso autor em tela. Roberto Gomes escreveu em francês quando residia na França, peças estas que tinham um elevamento de tema, sem colocações sociais precisas (até porque ainda não existia propriamente o teatro social, este se conforma como uma existência em si a partir de 1920 com Erwin Piscator, na Alemanha), restringindo as dores dos personagens ao ambiente burguês, que predominava em Paris, e no Rio de Janeiro também, e em qualquer lugar de cultura ocidental onde houvesse burguesia europeizada. Assim as peças poderiam até estar em servo-croata e não perderiam sua validade intrínseca. A outra consideração, é que o Rio de Janeiro da época do autor era de tal forma parisiense que em nada se perdem os textos. O Rio era uma cidade então capital do país, mas que propriamente não fazia parte deste país. Havia um banqueiro que mandava suas camisas serem lavadas na França por causa das águas do Rio Sena, para se ver a que ponto chegava a burguesia carioca de então, na tentativa de reproduzir a vida de Paris!

Os textos de Roberto Gomes que seguem a sua moradia no Brasil, já com ambientações em salões de Petrópolis e outros elitismos, fixam exatamente este exagero de tentativa da reprodução de Paris nos trópicos, sem entretanto serem críticos em relação a isso. Eles ambientam os salões da burguesia carioca e fluminense com busca de identificação, inclusive, do próprio autor que freqüentava estes salões.

Roberto Gomes escreve em prosa, mas com ritmo de poesia. Seus textos contam sempre com acabamentos literários perfeitos, e ainda teatralmente bem compostos. Única no gênero da literatura teatral brasileira, a obra de Roberto Gomes ainda está por ser verdadeiramente descoberta pelos homens de palco do Brasil.

Vale conferir a publicação de suas obras completas pela FUNARTE/IBAC, ou seja lá que nome tiver atualmente o órgão cultural do governo; atentos, sobretudo, às peças A Casa Fechada e Ao cair da tarde.
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Abaixo veja a peça teatral A Casa Fechada, na íntegra
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Fonte:
Marcos André Tavares , no artigo Roberto Gomes, um raro simbolista para O Cisco Tonitruante

Roberto Gomes (A Casa Fechada)


ATO ÚNICO

(Uma rua tristonha, numa cidade do interior. Uma lagoa reluz ao longe. Ao fundo, à extrema direita, uma casinha de duas janelas, separada da rua por um pequeno jardim. A casa está completamente fechada. No primeiro plano, à esquerda, a entrada do Correio. Perto da porta, um banco. No centro, ao fundo, um lampião perfila-se diante de uma árvore raquítica. A rua é vista em diagonal. Seis horas da tarde.)

CENA 1

(Dona Sinfonia, Joaquim Aguaceiro, Mendigo,Pescador.)
(Dona Sinfonia, à janela da agência, faz crochê e olha de vez em quando para a casa fechada. O Mendigo está sentado, imóvel, debaixo do lampião. Entra o Pescador com uma carta na mão e atravessa o palco. Quando ele vai penetrar no Correio, topa com Joaquim Aguaceiro, que, em pé, no solar, contempla a casa, ao longe.)

O PESCADOR
(Cumprimentando) Boa tarde, patrão.

JOAQUIM AGUACEIRO
Boa tarde, Candonga. (O Pescador entra, depois de cumprimentar Dona Sinfonia, e sai, logo após, sem a carta.) Está metido a escritor, agora?

O PESCADOR
Foi a carta que mandei pro filho.

JOAQUIM AGUACEIRO
Está sempre trabalhando na cidade?

O PESCADOR
Sim, patrão. Há muito que não sei dele. Então, como estava me dando saudade, pedi ao Anfilóquio para escrever uma carta.

JOAQUIM AGUACEIRO
Quem sabe se ele não anda doente?

O PESCADOR
A última vez que tive notícias, ele estava bem forte e saudável. Mas lá na cidade os homens caem depressa. Ah! Patrão! Criança é o castigo da gente! (Olha para Dona Sinfonia, que concorda com a cabeça.)

JOAQUIM AGUACEIRO
Aqui ele já era meio extravagante. Ficava a jogar bilhar até as dez horas.

O PESCADOR
Eu, na idade dele, era um bicho... era um bicho para tudo. Tinham medo, tão bravo que eu era no trabalho.

JOAQUIM AGUACEIRO
Hoje ainda.

O PESCADOR
Qual! Tenho andado doente. Foi uma resfriadela que apanhei. (Olha para o céu.) O tempo não está bom para reumatismo... Está assim cozinhando... Mas vamos ter chuva. (Olha ao longe.) A lagoa está brilhando.

JOAQUIM AGUACEIRO
Trabalhou muito hoje?

O PESCADOR
Assim. A pesca não foi lá das melhores. E, para atravessar a lagoa, meu bote só pega três pessoas. A gente precisa suar muito para ganhar pouco. Ah! Se eu tivesse todo o dinheiro que perdi, já estava remediado.

JOAQUIM AGUACEIRO
Agora vai pra casa?

O PESCADOR
Vou sim, patrão. (Pausa. Ele não se move.) Vou, sim... (Permanece imóvel. Afinal, dá um passo e pára. Mostrando a casa ao longe, com a cabeça:) Ainda estão lá dentro?

DONA SINFONIA
Estão, sim. Há mais de uma hora.

JOAQUIM AGUACEIRO
Ele é capaz de descobrir a coisa.

O PESCADOR
Ah! Com o Dr. Aprígio ninguém escapa. Moleque feio tem de entrar nela.

DONA SINFONIA
Não se ouve nada.

O PESCADOR
Nada. Está tudo fechado. Parece que estão a velar um defunto.

DONA SINFONIA
Desde a manhã, ninguém saiu.


CENA II

(Os mesmos, o Boticário) (O Boticário, chegando pausadamente, aperta a mão de Joaquim Aguaceiro, cumprimenta cerimoniosamente Dona Sinfonia, e, de alto, o Pescador.)

O BOTICÁRIO
Boas tardes, senhor aguaceiro.

JOAQUIM AGUACEIRO
Como passa, Sr. Simplício?

O BOTICÁRIO
Sempre bem. Deixei um instantinho a botica para comprar uns selos. Dona Eudóxia está?

JOAQUIM AGUACEIRO
Está. Ela anda um pouco atarefada. Desde manhã cedo teve gente como quê.

O BOTICÁRIO
Dona Sinfonia não largou a janela.

DONA SINFONIA
Estou com dor de cabeça... Preciso respirar.

O BOTICÁRIO
Tenho um bom remédio para dor de cabeça.

DONA SINFONIA
(Continuando, sem responder) Preciso respirar. Não posso ficar trancada.

JOAQUIM AGUACEIRO
(Olhando para a casa e piscando) Trancados estão eles.

O BOTICÁRIO
Já devem estar cheirando a mofo. (Pausa) Que estarão fazendo? Ouviu alguma coisa, Dona Sinfonia?

DONA SINFONIA
Não ouvi nada, Sr. Simplício. Não costumo meter-me na vida dos outros.

O PESCADOR
Quem viu foi o Geraldino.

DONA SINFONIA
(Largando o crochê) Ah! Ele viu?

O BOTICÁRIO
(Sem afetação) Viu?

O PESCADOR
Viu, sim. Ele ficou de me procurar depois do serviço pra me contar a coisa. O doutor delegado já conversou com ele.

DONA SINFONIA
Ah! Conversou?

O PESCADOR
(Importante) Conversou, sim. E agora está lá dentro com eles todos. Ah! Com aquele homem é preciso andar na linha. Senão, está tudo à toa.

DONA SINFONIA
(Olhando para a casa) À-toa é ela. Santa Bárbara!


CENA III

(Os mesmos, Dona Eudóxia, a Agente do Correio) (Dona Eudóxia aparece à porta do Correio. Joaquim Aguaceiro, com indiferença afetada, vai se aproximando da casa fechada e passa lentamente rente às janelas.)

O BOTICÁRIO
Como tem passado, Dona Eudóxia?

DONA EUDÓXIA
Vou indo, Sr. Simplício. Dona Quintanilha está boa?

O BOTICÁRIO
Está, obrigado.

DONA EUDÓXIA
Deseja alguma coisa?

O BOTICÁRIO
Preciso de uns selos. Mas não há pressa... não há pressa...

DONA EUDÓXIA
Não quer entrar um pouquinho?

O BOTICÁRIO
Prefiro ficar aqui mesmo.

DONA EUDÓXIA
Então, não quer sentar-se?

O BOTICÁRIO
Aceito o seu convite, Dona Eudóxia. Sinto-me cansado.

JOAQUIM AGUACEIRO
Foram as emoções desta noite.

DONA SINFONIA
Ah! Cruzes!

DONA EUDÓXIA
Deixe lá o seu crochê, Dona Sinfonia. A esta hora, vai estragar a vista. (Falando para dentro) Moleque! Traga uma cadeira!

(O Moleque Jenipapo aparece com uma cadeira. O Boticário senta-se nela; os outros no banco. O Pescador fica em pé. Aproxima-se Joaquim Aguaceiro.)

O BOTICÁRIO
Por onde anda, seu compadre?

DONA SINFONIA
Ouviu alguma coisa?

JOAQUIM AGUACEIRO
Nada. Está tudo calado.

O BOTICÁRIO
Não é como esta noite.

DONA SINFONIA
Ah! Que barulheira!

O BOTICÁRIO
A Quintanilha até chorou de susto.

DONA EUDOXIA
Ah!

O BOTICÁRIO
Tive de lhe dar água de flor de laranja com umas gotas e... Urna composição minha. (Pausa.)

DONA EUDÓXIA
(Voltando-se para a casa ao longe) Dizem que “ela” embarca no trem das sete.

O PESCADOR
Das sete.

DONA SINFONIA
Ela terá de passar por aqui.

JOAQUIM AGUACEIRO
Decerto.

O BOTICÁRIO
Homem! Já que vim até cá, estou quase a me demorar um pouco.

DONA SINFONIA
Até as sete.

JOAQUIM AGUACEIRO
Quero ver o seu jeito, quando ela passar.

DONA EUDÓXIA
Quem havia de dizer? Urna mulher assim tão direita!

O BOTICÁRIO
Oh! Eu sempre desconfiei... Essa gente calada...

DONA SINFONIA
E velha que ela é!

DONA EUDÓXIA
Velha, não!

DONA SINFONIA
Como não?

JOAQUIM AGUACEIRO
(Ao Pescador) Que idade tem ela? (Aos outros) Candonga sabe.

O PESCADOR
Ela ,já deve estar capinando os seus trinta e cinco.

DONA SINFONIA
(De mãos postas) Trinta e cinco!

O BOTICÁRIO
E três filhos.

JOAQUIM AGUACEIRO
O Julinho já anda pelos seus quinze.

DONA EUDÓXIA
Coitado!

DONA SINFONIA
Pois eu também vou esperar para vê-la passar... Ia agora para casa, mas como todos ficam...

DONA EUDÓXIA
Não querem tomar café?

O BOTICÁRIO
Aceito, Dona Eudóxia.

JOAQUIM AGUACEIRO
Não vale a pena.

O BOTICÁRIO
Bem que vale.

DONA EUDÓXIA
Já está feito, Sr. Joaquim. E só trazer. Vou chamar o Jenipapo. (Chamando) Moleque! Moleque! (Olhando para dentro) Onde se meteu esse moleque? (O Moleque Jenipapo entra correndo pelo fundo. Ele esteve atrás da casa fechada.) Ah! Ele tinha ido espiar! (Ao Moleque) Traga o café, depressa.

O BOTICÁRIO
(Fazendo-o parar) Viste alguma coisa, moleque?

O MOLEQUE JENIPAPO
Não, senhor, senhor não. A casa está toda escura. (Sai.)

DONA EUDÓXIA
Uma casa que parecia tão feliz! Lembra-se, Sr. Joaquim? Havia sempre flores às janelas.

JOAQUIM AGUACEIRO
Parece que esta noite ele arrebentou até as flores.

O PESCADOR
Viu que estava desgraçado. Então foi desgraçando tudo.

DONA EUDÓXIA
É isso mesmo... Oh!

DONA SINFONIA
Que é?

DONA EUDÓXIA
Acendeu!

TODOS
Acendeu?

DONA EUDÓXIA
Vejam. (Todos olham para a casa fechada. Com efeito, unia réstia de luz filtra pelas venezianas. Longo silêncio, durante o qual eles contemplam, imóveis, aquele feixe luminoso.)

O BOTICÁRIO
(Murmura.) Que será?

DONA SINFONIA
Não ouvem nada? (Todos escutam. Pausa.)

JOAQUIM AGUACEIRO
Nada. (Pausa.)

DONA EUDÓXIA
Eu também preciso acender. (Entra, acende o interior da casa e volta a ter com os outros.)

DONA SINFONIA
Vê-se ainda. (A uma senhora que chega) Oh! Ritoca! Há quanto tempo não a encontrava!


CENA IV
(Os mesmos, Ritoca)

DONA RITOCA
(Saudando a todos e abraçando Dona Sinfonia) Como vai sua obrigação?

DONA SINFONIA
Estou boa. E você?

DONA RITOCA
Não estou passando muito bem.

JOAQUIM AGUACEIRO
Pois não parece. Quando atravessava o largo, há pouco, estava dengosa como seriema no capim.

O BOTICÁRIO
Se não está boa, eu recebi da cidade uma pílulas que curam num instante. ~ só pedir.

DONA RITOCA
(Abraçando Dona Eudóxia) Vim até cá para ver se não havia cartas à minha espera.

DONA EUDÓXIA
Bem sabe que, quando há, sempre lhe mando levar. Não precisava incomodar-se. (Entra o Moleque com uma bandeja.) Toma café conosco?

DONA RITOCA
Não sei se tenho tempo... (Mais baixo, rapidamente) Ela já saiu?

DONA EUDÓXIA
Não. Vai pelo trem das sete.

DONA RITOCA
Ah! (Alto) Pois aceito... Uma canequinha.

DONA SINFONIA
Café nunca se recusa.

DONA EUDÓXIA
(Ao Moleque, que acaba de servir o café) Uma cadeira! Depressa. (Ele traz a cadeira e dirige-se, depois, para o lado da casa fechada, atrás da qual desaparece. Todos bebem o café aos goles.)

DONA RITOCA
Estavam falando da Maria das Dores?

JOAQUIM AGUACEIRO
Estávamos. Quem havia de dizer?

DONA RITOCA
Eu não sei ao certo o que houve. Que foi, heim, Sr. Aguaceiro?

O BOTICÁRIO
(A Dona Eudóxia) Ela já deve saber de cor. Desde manhã cedinho que se agarra a toda a gente para que lhe contem.

DONA SINFONIA
Quem conhece bem o caso é o Geraldino.

DONA RITOCA
O barbeiro?

O PESCADOR
Sim, senhora, Dona Ritoca. Tanto que ele ficou de me procurar, depois do serviço... Ele viu tudo, e já conversou com o doutor delegado. (Passa ao fundo uma criança arrastando um papagaio. Quando chega diante da casa fechada, ergue-se na ponta dos pés e procura espiar. Depois, segue o caminho.)

JOAQUIM AGUACEIRO
Não sei como é que ele não apareceu.

O PESCADOR
Ainda não acabou o serviço. (Pausa.)

DONA RITOCA
(Olhando para a casa) E ele? Não se sabe afinal quem é?

O BOTICÁRIO
Ela não quis dizer... Por nada. Ao senhor delegado talvez...

DONA SINFONIA
Parece até impossível.

DONA RITOCA
Não valia a pena fazer tanto xodó para acabar assim!

DONA EUDÓXIA
Que pena, meu Deus! Que pena!

DONA RITOCA
Lembra-se, Dona Sinfonia? Quando o coronel Fulgêncio passou uma tarde por aqui... Papai tinha preparado em casa um café de estalar a língua... Toda a gente à espera. Pois fizeram tanta intriga que o coronel acabou indo tomar café em casa da Maria das Dores.

DONA SINFONIA
Uma mulher que nem punha chapéu pra missa das dez!

JOAQUIM AGUACEIRO
Sim. O Matias está hoje desfalcado; mas já teve alguma coisa; e a Maria das Dores ainda hoje tem ar assim de gente grossa.

DONA EUDÓXIA
Quando ela entrava na igreja com seu grande xale preto, lembrava uma princesa...

O BOTICÁRIO
Pois está fresca, a princesa!

DONA RITOCA
Papai nunca perdoou o café do coronel. (Pausa.)

JOAQUIM AGUACEIRO
(Olhando para a casa) E nada...?

O BOTICÁRIO
Até agora, nada. (Silêncio.)

DONA SINFONIA
Que vai ser dela, sozinha, na capital?

DONA RITOCA
Ora!

O BOTICÁRIO
Com o perdão da palavra, vai cair na malandragem.

O PESCADOR
Ela tem umas primas por lá.

DONA EUDÓXIA
Coitada da Maria das Dores!

DONA SINFONIA
Coitada quê, Dona Eudóxia? Coitado do Matias!

DONA EUDÓXIA
Ele era muito bruto.

JOAQUIM AGUACEIRO
Qual bruto qual nada! Mulher precisa é andar na linha.

O BOTICÁRIO
Pancada traz amor.

DONA EUDÓXIA
(Apontando o Mendigo) O pai Tobias é que vai sentir falta. Acabou-se a janta.

O BOTICÁRIO
Onde vais comer agora, heim, pai Tobias?

O MENDIGO
(Fita-os sem responder, e, após um silêncio, gravemente) Deus é que sabe! (Pausa.)

O BOTICÁRIO
Antes não comer que comer o pão do pecado.

O PESCADOR
Ah! Isso também não!

DONA SINFONIA
(De repente) Oh! (Todos olham. Vê-se entreabrir a porta da casa, donde sai o delegado seguido pelo escrivão. O Moleque Jenipapo, que espiava, escondido, atravessa a rua correndo. Todos calam, cumprimentam o delegado. Este toca de leve o chapéu e sai.)

O PESCADOR
Ele saiu.

DONA EUDÓXIA
Que terá havido, meu Deus!

DONA RITOCA
Mais logo vamos saber.

DONA SINFONIA
Está começando a esfriar, não acham?

DONA EUDÓXIA
Podemos entrar.

DONA RITOCA
Estamos muito bem aqui.

O BOTICÁRIO
Estamos, sim.

JOAQUIM AGUACEIRO
(Puxando o relógio) Pouco falta para as sete.

DONA SINFONIA
E a estação fica tão perto!

OPESCADOR
Aí vem o Geraldino!

TODOS
Ah!

DONA RITOCA
Afinal!

CENA V
(Os mesmos, Geraldino)

JOAQUIM AGUACEIRO
Então, Geraldino? Teve serviço até agora?

GERALDINO
Fui até a estação. (Cumprimenta a todos.) Boas tardes!

O BOTICÁRIO
Já se pode dar boa-noite.

(Geraldino saúda com a mão o Pescador, que corresponde.)

DONA EUDÓXIA
Há muita gente na estação?

GERALDINO
Está cheia... Assim... Todos querem ver.

DONA SINFONIA
Que gente bisbilhoteira!

DONA RITOCA
Eu é que não me mexo.

GERALDINO
Também, ela tem de passar por aqui.

O BOTICÁRIO
Ela irá mesmo?

GERALDINO
Vai, pois não. Só se ela quiser dizer quem foi.

DONA EUDOXIA
O senhor delegado saiu agora mesmo.

GERALDINO
(Importante) Sei. Já estive com ele hoje à tarde. (Todos olham para o Geraldino, esperando que ele fale.)

O PESCADOR
Mas você viu mesmo tudo, seu Dino?

GERALDINO
Vi, decerto.

DONA SINFONIA
Tudo?

GERALDINO
Tudo, tudo, não.

DONA RITOCA
Oh! Conte... Conte...

GERALDINO
Mas vosmecê já me ouviu contar hoje duas vezes. (Todos se riem.)

O BOTICÁRIO
(A Dona Eudóxia) Está vendo?

DONA RITOCA
(Zangada) Eu? Onde? Onde?

GERALDINO
Esta manhã, perto da vacaria, quando eu explicava a coisa ao Zé Menezes; e, antes das duas...

DONA RITOCA
Oh! Eu passava tão depressa... Não ouvi quase nada.

JOAQUIM AGUACEIRO
Não se zangue, Dona Ritoca.

DONA RITOCA
Não. Mas parece assim que sou curiosa!

GERALDINO
(Dispondo-se a contar) Então, vá lá!

JOAQUIM AGUACEIRO
Quer pitar?

GERALDINO
Pois sim.

O BOTICÁRIO
Eu aceitava mais uma canequinha.

DONA EUDÓXIA
Moleque!... Café para o seu Simplício! (Pouco depois entra o Moleque, com o café.)

DONA SINFONIA
Então? Como foi isso?

GERALDINO
Foi assim... Eram onze horas. Eu passava pelo Beco das Formigas.

JOAQUIM AGUACEIRO
Às onze horas pelas ruas, seu malandro...

GERALDINO
Ora, não me interrompa...

O BOTICÁRIO
Deixe falar o Geraldino!

GERALDINO
Vinha da casa do Tinoco... A casa nova...

O PESCADOR
Um sujeito que outro dia mesmo estava arrancando mato, e depois ficou rico tão ligeiro!

GERALDINO
Assim não conto nada!

DONA RITOCA
Ora!

O BOTICÁRIO
Sossega! Gente!

GERALDINO
Está bom. (A Joaquim) Dê cá fogo! (Acende o cigarro, que se apaga.) Passava lá pelos fundos do beco, quando me pareceu ouvir ao longe uma qualquer coisa de especial dentro da casa do Matias. Paro para ouvir. De repente, bate a janela com toda a força, e vejo um vulto a pular.

DONA SINFONIA
A pular?

GERALDINO
Fiquei assim indeciso, sem saber. Pensei a princípio num ladrão. Mas, enquanto estava a cismar, ele desata a correr que nem veado e cai no mato.

DONA EUDÓXIA
Por que não correu atrás?

DONA RITOCA
E não reconheceu?

GIRALDINO
Não pude.Vi só que era um rapaz novo, esperto... Mas não reconheci.

DONA SINFONIA
Novo... Esperto... Quem sabe se não era o Alcino?

O BOTICÁRIO
O Alcino ontem estava de cama. Melhorou com um xarope meu, excelente.

JOAQUIM AGUACEIRO
Quem sabe se o Antônio Ferraz ...

DONA RITOCA
Ah! O António Ferraz!

O PESCADOR
Qual! O Nico bem que andava a rondar a casa do Matias, — não arranjou nada. Ela nem olhava para ele!

DONA RITOCA
(Resmungando) Não olhava... Não olhava...

DONA SEFONIA
Então, a gente nunca há de saber?

GERALDINO
Só se ela disser...

O PESCADOR
(para si) Por que é que ela não diz...?

O BOTICÁRIO
Adiante, Geraldino!

GERALDINO
Fui chegando de mansinho até a janela,que tinha ficado entreaberta, e espiei lá para dentro. Gente! Estava o Matias com os olhos a saltar, agarrado à mulher, torcendo-lhe os braços. E batendo-lhe com a cabeça no chão... (Redobra a atenção de todos)

DONA RITOCA
E ela gritava?

GERALDINO
Nem um pio. Ela não queria acordar os filhos.

DONA RITOCA
Ora veja!

GERALDINO
Parece que todas as noites, quando o Matias estava adormecido, ela ia devagarinho abrindo a porta da casa... Sabem que de dia ela não podia sair...

DONA EUDÓXIA
Que noites terríveis deviam ser aquelas!

O BOTICÁRIO
Ela com os filhos ao lado. Com a certeza de ser um dia apanhada.

DONA RITOCA
Ela não tinha medo de acordá-los?

JOAQUIM AGUACEIRO
Como é que a Maria das Dores, tão sossegada, tão refletida, foi desnortear assim, depois de velha?

DONA SINFONIA
Isso não se explica.

GERALDINO
São coisas!

JOAQUIM AGUACEIRO
Mas por quê?

DONA EUDÓXIA
(Timidamente) A gente, às vezes, sente-se tão só!

DONA RITOCA
Só... com um marido e três filhos!

DONA EUDÓXIA
(Viva mente) Não foi isso que eu quis dizer

O BOTICÁRIO
Que foi que a senhora quis dizer, Dona Eudóxia?
(Silêncio.)

DONA EUDÓXIA
(Depois de hesitar) Quis... (Pára um instante.) Eu bem sinto cá dentro, mas não sei explicar... Não sei... (Olham para Dona Eudóxia. Pausa.)

DONA SINFONIA
Uma grande sonsa é o que ela era.

JOAQUIM AGUACEIRO
Não tem desculpa o que ela fez.

DONA RITOCA
Que acha o Sr. Simplício?

O BOTICÁRIO
Uma desavergonhada... Pior que uma cadela.

DONA SINFONIA
E fingindo-se de boa! Quando penso, senhor aguaceiro, que, o mês passado, ela foi tratar da minha Ruth, na ocasião da tal epidemia! Eu também estava doente. Seis noites que ela passou na cabeceira da pequena, maculando com seu contato impuro aquele anjinho de inocência! Quando penso nessa desgraça...

DONA EUDÓXIA
Mas a menina salvou-se.

DONA SINFONIA
Graças à Divina Providência.

DONA RITOCA
Com certeza, ao sair, ela ia se encontrar com o tal rapaz.

O BOTICÁRIO
Ora se ia!

JOAQUIM AGUACEIRO
O tratamento era o pretexto.

DONA SINFONIA
Ah! Aquela mulher é um monstro. Não é, Sr. Geraldino?

GERALDINO
Decerto.

O BOTICÁRIO
Forca é o que ela merece. (Nesse momento, o velho mendigo deixa cair o cajado. Joaquim Aguaceiro volta-se para ele ao ouvir o ruído e exclama:)

JOAQUIM AGUACEIRO
E você, pai Tobias, que acha disso tudo?

O MENDIGO
(Olhando-os, lentamente, depois de apanhar o cajado) Essas coisas cá da terra a gente nunca
pode explicar.., nem julgar... Deus é que sabe... (Silêncio.)

DONA RITOCA
(Ao Barbeiro) E depois?

GERALDINO
Depois...? Ele puxava-lhe os cabelos, torcia-lhe os braços, sacudindo-a e repetindo sempre com raiva: “Diga o nome... Diga o nome..."

O PESCADOR
(Consigo mesmo) Mas por que é que ela não disse?

O BOTICÁRIO
Pudera! Se o Matias pegasse o rapazinho, esborrachava-o com um soco.

GERALDINO
(Prosseguindo) Então, corno ela não queria falar, ele apanhou à parede um grande chicote de couro e começou a bater-lhe, a bater-lhe até mais não poder. A princípio ela gemia baixinho, mas depois pegou a gritar, a gritar que era um gosto. Ele só repetia: “Diga o nome... Diga o nome...” E ela nada... Até que o sangue começou a pingar.

DONA RITOCA
O sangue?

DONA EUDÓXIA
Cruzes! (Todos se aproximam do Geraldino, ofegantes. Os peitos arfam, os olhos brilham no crepúsculo.)

GERALDINO
Sim. A cada chibatada, aparecia uma fitinha vermelha que ia escorrendo pelo corpo. Não sei se o Matias tinha dó, mas ele chorava também. E continuava, de chicote em punho, a dizer, chorando: “O nome... O nome... Diga o nome... Ela torcia-se no chão, feito cobra. Arrastava-se, agarrava-se a ele, gritando:“ Tem pena! Tem pena! Matias, eu te amei também!...” Quando o Julinho entrou no quarto, ela estava toda encharcada...

DONA SINFONIA
Encharcada?

GERALDINO
O assoalho estava vermelho, como se tivessem amassado goiaba... (Nesse momento, Dona Ritoca desanda a rir nervosamente. Todos olham, estupefatos. Geraldino interrompe-se. Mas a risada continua, cada vez mais nervosa, mais estridente.)

O BOTICÁRIO
Que é, Dona Ritoca?

DONA EUDÓXIA
Está incomodada?

DONA SINFONIA
Quer ir lá pra dentro?

DONA RITOCA
(Insistindo, e continuando a rir-se, diz, com palavras entrecortadas e ofegantes:) Não... Não... Mas... Eu imaginava a Maria das Dores, oferecendo chá ao coronel, com seus ares de princesa.., e ontem... o chicote... e o sangue... (E ri-se, ri-se sem parar. Todos entreolham-se, em silêncio, com certo constrangimento. Longa pausa.)

DONA SINFONIA
Coitada da Ritoca! ~ tão sensível!... (A Dona Eudóxia) Não tem um pouco de vinagre?

DONA EUDÓXIA
Sim. (Entra e volta com o vinagre, que faz respirar a Dona Ritoca, enquanto a conversa recomeça.)

JOAQUIM AGUACEIRO
Foi só o Julinho que entrou?

GERALDINO
As pequenas também. Elas estavam com medo, mas o Matias arrastou-as até o quarto e disse à mulher: “Olha bem, pela última vez... Se não queres dizer o nome, amanhã tu sais desta casa para sempre, e nunca mais verás teus filhos... Nunca..."

O BOTICÁRIO
E ela não disse?

GERALDINO
Não.

O PESCADOR
(Meditando) Mas por quê?

DONA SINFONIA
Que mãe sem entranhas!

DONA EUDÓXIA
No entanto, bem extremosa que ela era!

O PESCADOR
Era, sim. E ela vai deixar os filhos para sempre.

DONA SINFONIA
Disfarce!

DONA EUDÓXIA
Mas, Sr. Geraldino, por que é que o senhor não entrou no quarto quando viu isso?

GERALDINO
Oh! Dona Eudóxia... Eu não me meto nas brigas de casais... Não me casei, foi para não brigar.

DONA EUDÓXIA
Que noite horrorosa! Fui acordada em sobressalto pelo Julinho.

DONA RITOCA
Ah! O Julinho esteve aqui?

DONA EUDÓXIA
Veio pedir-me um remédio para a mãe, que não podia mais...

O BOTICÁRIO
Em vez de ir à botica... E a senhora deu?

DONA EUDÓXIA
Pois não.

O BOTICÁRIO
Não posso deixar de estranhar essa atitude, Dona Eudóxia! A senhora... uma funcionária exemplar, de vida tão correta, pretender aliviar o castigo de uma criminosa!...

DONA EUDÓXIA
Desculpe, Sr. Simplício. Não tive em vista desgostá-lo. Mas, quando uma criatura sofre, acho que é sempre digna de piedade.

O BOTICÁRIO
São idéias subversivas, Dona Eudóxia. Ai de nós se todos assim pensassem!

DONA EUDÓXIA
Tanto mais que o Matias era longe de ser um marido exemplar. É um homem...

O BOTICÁRIO
E um homem. E o dono. Tem todos os direitos.

JOAQUIM AGUACEIRO
Isso tem.

DONA EUDÓXIA
E possível. Não sei. Não sei me exprimir... Mas isso assim não está direito.

DONA SINFONIA
Não acha justo o castigo?

DONA EUDÓXIA
Não sei. Mas a Maria das Dores, que foi, durante tantos anos, tão boa mãe, tão boa esposa, tão boa para todos... Como é que perde tudo assim, num dia só... Isso não é justo... Não é justo...

O BOTICÁRIO
Pois eu acho que ele foi até bem bom. Não é? (Volta-se para Joaquim Aguaceiro, que aprova com a cabeça.)

GERALDINO
Eu matava.

DONA EUDÓXIA
Oh! Sr. Geraldino!

JOAQUIM AGUACEIRO
(Ao Pescador) E você, Candonga? Que diz?

O PESCADOR
(Começando a falar, sem responder) Lá pelo sertão de Minas, morava um primo meu, o Xicão. Estava casado com uma mulher linda... Eu a conheci... Uma noite, ele ouve barulho dentro de casa... Levanta-se, pega a garrucha e vai ter até o sótão. (Cospe.) Lá, ele topa com a mulher nos braços dum rapaz, um desses cometas vagabundos que andam a correr pelas estradas.

DONA SINFONIA
Matou os dois?

DONA RITOCA
(Pegando-lhe o braço, súplice) Oh! Deixe falar...

O PESCADOR
Ele atracou o rapaz. Era um valente, o Xicão, e forte, como o Matias. Amarrou o homem aos pés da cama, enterrou-lhe um lenço na boca para que não pegasse a gritar...

DONA SINFONIA
E depois...?

O PESCADOR
Depois?... Fez esquentar um ferro na trempe. Quando esteve em brasa, deu-o à mulher, mostrou-lhe o rapaz amarrado e disse: “Vai... Espeta!”

DONA EUDÓXIA
Ah! Que horror!

DONA RITOCA
E ela?

O PESCADOR
Ela a princípio não queria. Ele então encostou-lhe a garrucha na testa e disse: “Espeta ou eu atiro!...” (Pausa.) Então ela espetou.

DONA EUDÓXIA
Oh!

O PESCADOR
Espetou a noite inteira. O Xicão não tinha pressa... Ele dizia: “Espeta aqui... estes braços que te abraçaram... aqui esta boca que te beijou... Espeta!” De vez em quando ele mandava parar, pra esticar... Quando o rapaz desfalecia... ele deixava que acordasse para continuar... A carne cheirava... De madrugada, furou-lhe os olhos...

DONA EUDÓXIA
Oh!

O PESCADOR
(Calmo) Ele tinha deixado os olhos pro fim... Até que o outro morreu. Já nem parecia gente.

DONA RITOCA
E a mulher?

O PESCADOR
O Xicão matou-a logo em seguida. Enterrou-a na fazenda. Mas o corpo do rapaz ficou pros urubus.

O BOTICÁRIO
Ah! O Xicão era um homem.

O PESCADOR
Um sujeito às direitas.

JOAQUIM AGUACEIRO
Vêem que o Matias ainda foi bem manso.

O BOTICÁRIO
(Puxando o relógio) Já são quase horas do trem...

DONA SINFONIA
Ela é capaz de não ir.

GERALDINO
Vai, sim.

DONA EUDÓXIA
E se ela disser o nome?

GERALDINO
Não diz, não. Mulher quando bate o pé... (O Pescador faz um gesto de quem não compreende.)

CENA VI

(Os mesmos, o Acendedor de Lampiões) (Ele vai entrando devagar e acende lentamente o lampião.)

JOAQUIM AGUACEIRO
Oh! Velho Aprígio!

O ACENDEDOR DE LAMPIÕES
Boas noites!

O BOTICÁRIO
Acenda bem, Aprígio... que nós precisamos ver direito...

O ACENDEDOR DE LAMPIÕES
(Acendendo) Pronto.

JOAQUIM AGUACEIRO
Que luz desgraçada!

GERALDINO
Qual, meu velho! Sua luz não presta!

O PESCADOR
Não se vê nada.

O ACENDEDOR DE LAMPIÕES
Minha luz é muito boa... Vocês é que não sabem ver.

O PESCADOR
Está bom... Não se zangue... Pare um tiquinho conosco para apreciar uma coisa bonita!

O ACENDEDOR DE LAMPIÕES
Não posso parar. Tenho que seguir caminho... Há muita gente no escuro que espera pela luz...

O PESCADOR
Então, boa noite!

O ACENDEDOR DE LAMPIÕES
(Saindo) Boa noite!

CENA VII

(Os mesmos, menos o Acendedor de Lampiões, depois, o Filho)
O BOTICÁRIO
(Murmura) Velho maluco! (Ouve-se o sino da estação e, ao longe, o arfar surdo do trem.)

DONA RITOCA
O trem vai chegar!

DONA SINFONIA
E ela não embarca!

O BOTICÁRIO
Embarcará, sim, à última hora... correndo...

JOAQUIM AGUACEIRO
De vergonha...

DONA SINFONIA
Eu nem hei de olhar para ela!

DONA RITOCA
(A Dona Eudóxia) Dê-me o seu xale, Dona Eudóxia. Estou sentindo frio... (Dona Eudóxia).
vai buscar o xale, que estava numa mesa perto da porta. Dona Ritoca entra com ela.).

GERALDINO
(De repente) Ela está saindo! (Aponta para a casa. Com efeito, a porta abriu-se. Todos olham com ânsia. Mas quem sai da casa é um rapazinho em mangas de camisa. Desce lentamente os degraus da porta e, sem olhar para ninguém, vai encostar-se ao muro que separa o jardim da rua, com a cabeça descansando nos braços.)

DONA SINFONIA
(Baixo) É o Julinho.

O BOTICÁRIO
O Julinho, sim. (Sussurro geral.)

DONA SINFONIA
Que é que ele veio fazer?

O MOLEQUE JENIPAPO
(Surgindo de repente) Ela já vem! Ela já vem! (Movimento de todos.)

JOAQUIM AGUACEIRO
Você viu?

O MOLEQUE JENIPAPO
Espiei, sim. Ela acabou de preparar a trouxa. Vai sair.

DONA SINFONIA
(Gritando para dentro) Ritoca! Ritoca! Ela vai passar! (Aparecem Dona Ritoca e Dona Eudóxia, em seguida.)

GERALDINO
Quer sentar, Dona Ritoca?

DONA RITOCA
Em pé vê-se melhor. (Ouve-se o silvo do trem que está chegando.)

O BOTICÁRIO
Ela é capaz de perder o trem.

DONA EUDÓXIA
Qual! Esses trens... a gente nunca perde...

DONA SINFONIA
(Chamando) Venha aqui, Ritoca!

DONA EUDÓXIA
E ela não verá mais os filhos?

O BOTICÁRIO
Nunca!

O PESCADOR
(Só para si) Mas por que é que ela não disse o nome?

TODOS
Oh! Oh! Oh!

CENA VIII
(Os mesmos, Maria das Dores).
(Abre-se de novo a porta, e, destacando-se, no fundo luminoso da sala, aparece no limiar o vulto de Maria das Dores. Um grande xale preto cobre-lhe a cabeça e cai até os joelhos. Na mão, uma pequena trouxa. Ela começa a caminhar, rígida, de rosto fechado, sem olhar para ninguém. Ouve-se um sussurro no grupo. Mas alguém faz “Pst” e o silêncio torna-se geral. Todas as personagens estão na penumbra. Só o velho mendigo iluminado pela luz do lampião. Quando Maria das Dores passa por ele, ele ergue-se e tira o chapéu. Então, no meio do silêncio mortal, ouve-se um soluço abafado e desesperado. E o filho que está chorando, encostado ao muro. Ela tem um longo estremecer do corpo todo. Atrasa insensivelmente o passo um segundo, mas continua a caminhar sem um gesto e sem se voltar. Todos a acompanham com os olhos. Ouve-se novamente o silvo da locomotiva. Então, a voz do velho mendigo eleva-se na noite, grave e lenta.)

O MENDIGO
Deus é que sabe... Deus é que sabe...
FIM

Fonte:
GOMES, Roberto. A Casa Fechada. In: Teatro da Juventude. Ano IV, nº. 26. Governo do Estado de São Paulo. Secretaria de Cultura. São Paulo: Imprensa Oficial, 1999.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Alerta


Hoje não haverão postagens. Estou enviando por e-mail o índice das postagens de junho, com acesso direto pelo documento anexo.
Caso queira receber todo início de mês o índice do mês anterior, envie e-mail para pavilhaoliterario@gmail.com
Breve estarei fazendo o índice de todas os textos postados (até o momento 2515).
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Obrigado

José Feldman

terça-feira, 30 de junho de 2009

Trova XXXIII

Inglês de Sousa (A Quadrilha de Jacob Patacho )

Palavras negritadas veja vocabulário ao final do texto
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Eram sete horas, a noite estava escura, e o céu ameaçava chuva.

Terminara a ceia, composta de cebola cozida e pirarucu assado, o velho Salvaterra dera graças a Deus pelos favores recebidos; a sora Maria dos Prazeres tomava pontos em umas velhas meias de algodão muito remendadas; a Anica enfiava umas contas destinadas a formar um par de braceletes, e os dois rapazes, espreguiçando-se, conversavam em voz baixa sobre a última caçada. Alumiava as paredes negras da sala uma candeia de azeite, reinava um ar tépido de tranqüilidade e sossego, convidativo do sono. Só se ouviam o murmúrio brando do Tapajós e o ciciar do vento nas folhas das pacoveiras. De repente, a Anica inclinou a linda cabeça, e pôs-se a escutar um ruído surdo que se aproximava lentamente.

- Ouvem? - perguntou.

O pai e os irmãos escutaram também por alguns instantes, mas logo concordaram, com a segurança dos habitantes de lugares ermos:

- É uma canoa que sobe o rio.

- Quem há de ser?

- A estas horas, - opinou a sora Maria dos Prazeres, - não pode ser gente de bem.

- E por que não, mulher? - repreendeu o marido, - isto é alguém que segue para Irituia.

- Mas quem viaja a estas horas? - insistiu a timorata mulher.

- Vem pedir-nos agasalho, redargüiu. - A chuva não tarda, e esses cristãos hão de querer abrigar-se.

A sora Maria continuou a mostrar-se apreensiva. Muito se falava então nas façanhas de Jacob Patacho, nos assassinatos que a miúdo cometia; casos estupendos se contavam de um horror indizível: incêndios de casas depois de pregadas as portas e janelas para que não escapassem à morte os moradores. Enchia as narrativas populares a personalidade do terrível Saraiva, o tenente da quadrilha cujo nome não se pronunciava sem fazer arrepiar as carnes aos pacíficos habitantes do Amazonas. Félix Salvaterra tinha fama de rico e era português, duas qualidades perigosas em tempo de cabanagem. O sítio era muito isolado e grande a audácia dos bandidos. E a mulher tinha lágrimas na voz lembrando estes fatos ao marido.

Mas o ruído do bater dos remos n'água cessou, denotando que a canoa abicara ao porto do sítio. Ergueu-se Salvaterra, mas a mulher agarrou-o com ambas as mãos:

- Onde vais, ó Felix?

Os rapazes lançaram vistas cheias de confiança às suas espingardas, penduradas na parede e carregadas com bom chumbo, segundo o hábito de precaução naqueles tempos infelizes; e seguiram o movimento, do pai. A Anica, silenciosa, olhava alternativamente para o pai e para os irmãos.

Ouviram-se passos pesados no terreiro, e o cão ladrou fortemente. Salvaterra desprendeu-se dos braços da mulher e abriu a porta. A escuridão da noite não deixava ver coisa alguma, mas uma voz rústica saiu das trevas.

- Boa-noite, meu branco.

Quem está aí? - indagou o português. - Se é de paz, entre com Deus.

Então dois caboclos apareceram no círculo de luz projetado fora da porta pela candeia de azeite. Trajavam calças e camisa de riscado e traziam na cabeça grande chapéu de palha. O seu aspecto nada oferecia de peculiar e distinto dos habitantes dos sítios do Tapajós.

Tranqüilo, o português afastou-se para dar entrada nos noturnos visitantes. Ofereceu-lhes da sua modesta ceia, perguntou-lhes donde vinham e para onde iam.

Vinham de Santarém, e iam a Irituia, à casa do tenente Prestes levar uma carga de fazendas e molhados por conta do negociante Joaquim Pinto; tinham largado do sítio de Avintes às quatro horas da tarde, contando amanhecer em Irituia, mas o tempo se transtornara à boca da noite, e eles, receando a escuridão e a pouca prática que tinham daquela parte do rio, haviam deliberado parar no sítio de Salvaterra, e pedir-lhe agasalho por uma noite. Se a chuva não desse, ou passasse com saída da lua para a meia-noite, continuariam a sua viagem.

Os dois homens falavam serenamente, arrastando as palavras no compasso preguiçoso do caboclo que parece não ter pressa de acabar de dizer. O seu aspecto nada oferecia de extraordinário. Um, alto e magro, tinha a aparência doentia; o outro reforçado, baixo, e de cara bexigosa, não era simpático à dona da casa, mas afora o olhar de lascívia torpe que dirigia a Anica, quando julgava que o não viam, parecia a criatura mais inofensiva deste mundo.

Depois que a sora Maria mostrou ter perdido os seus receios, e que a Anica serviu aos caboclos os restos da ceia frugal daquela honrada família, Salvaterra disse que eram horas de dormir. O dia seguinte era de trabalho e convinha levantar cedo para ir em busca da pequena e mais da malhada, duas vacas que lhe haviam desaparecido naquele dia. Então um dos tapuios, o alto, a quem o companheiro chamava cerimoniosamente - seu João - levantou-se e declarou que iria dormir na canoa, a qual posto que muito carregada, dava acomodação a uma pessoa, pois era uma galeota grande. Salvaterra e os filhos tentaram dissuadi-lo do projeto, fazendo ver que a noite estava má e que a chuva não tardava, mas o tapuio, apoiado pelo companheiro, insistiu. Nada, que as fazendas não eram dele e seu Pinto era um branco muito rusguento, e sabia lá Deus o que podia acontecer; os tempos não andavam bons, havia muito tapuio ladrão aí por esse, acrescentava como um riso alvar, e de mais ele embirrava com esta história de dormir dentro de uma gaiola. Quanto à chuva pouco se importava, queria segurança e agasalho para as fazendas: ele tinha o couro duro e um excelente japá na tolda da galeota.

No fundo quadrava perfeitamente à sora Maria a resolução do seu João, não só porque pensava que mais vale um hóspede do que dois, como também por lhe ser difícil acomodar os dois viajantes na sua modesta casinha. Assim não duvidou aplaudir a lembrança, dizendo ao marido:

- Deixa lá, homem, cada um sabe de si e Deus de todos.

O caboclo abriu a porta e saiu acompanhado pelo cão de guarda, cuja cabeça amimava, convidando-o para lhe fazer companhia, por via das dúvidas. A noite continuava escura como breu. Lufadas de um vento quente, prenúncio de tempestade, açoutavam nuvens negras que corriam para o sul como fantasmas em disparada. As árvores da beirada soluçavam, vergadas pelo vento, e grossas gotas de águas começavam a cair sobre o chão ressequido, de onde subia um cheiro ativo de barro molhado.

- Agasalhe-se bem, patrício, - gritou o português ao caboclo que saía. E, fechando a porta com a tranca de pau, veio ter com a família.

Logo depois desejavam boa-noite uns aos outros; o hóspede que deu o nome de Manuel, afundou-se numa rede, que lhe armaram na sala, e ainda não havia meia hora que saíra seu João, já a sora Maria, o marido e os filhos dormiam o sono reparador das fadigas do dia, acalentado pela calma de uma consciência honesta.

A Anica depois de rezar à Virgem das Dores, sua padroeira, não pudera fechar os olhos. Impressionara-a muito o desaparecimento da pequena e da malhada, que acreditava filho de um roubo, e sem querer associava na sua mente a esse fato as histórias terríveis que lhe lembrara a mãe pouco antes, sobre os crimes diariamente praticados pela quadrilha de Jacob Patacho. Eram donzelas raptadas para saciar as paixões dos tapuios; pais de família assassinados barbaramente; crianças atiradas ao rio com uma pedra ao pescoço, herdades incendiadas, um quatro interminável de atrocidades inauditas que lhe dançava diante dos olhos, e parecia reproduzido nas sombras fugitivas projetadas nas paredes de barro escuro do seu quartinho pela luz vacilante da candeia de azeite de mamona.

E por uma singularidade, que a rapariga não sabia explicar, em todos aqueles dramas de sangue e de fogo havia uma figura saliente, o chefe, o matador, o incendiário, demônio vivo que tripudiava sobre os cadáveres quentes das vítimas, no meio das chamas dos incêndios, e, produto de um cérebro enfermo, agitado pela vigília, as feições desse monstro eram as do pacífico tapuio que ela ouvia roncar placidamente no fundo da rede na sala vizinha. Mas por maiores esforços que a moça fizesse para apagar da sua imaginação a figura baixa e bexigosa do hóspede, rindo nervosamente da sua loucura, mal fechava os olhos, lá lhe apareciam as cenas de desolação e de morte, no meio das quais progrediam os olhos ardentes, o nariz chato e a boca desdentada do tapuio, cuja figura, entretanto, desenrolava-se inteira na sua mente espavorida, absorvendo-lhe a atenção e resumindo a tragédia feroz que o cérebro imaginava.

Pouco a pouco, procurando provar a si mesma que o hóspede nada tinha de comum com o personagem que sonhara, e que a sua aparência era toda pacífica, de um pobre tapuio honrado e inofensivo, examinando-lhe mentalmente uma a uma as feições, foi-lhe chegando a convicção de que não fora aquela noite a primeira vez que o vira, convicção que se arraigava no seu espírito, à medida que se lhe esclarecia a memória. Sim, era aquele mesmo; não era a primeira vez que via aquele nariz roído de bexigas, aquela boca imunda e servil, a cor azinhavrada, a estatura baixa e vigorosa, sobretudo aquele olhar indigno, desaforado, torpe que a incomodara tanto na sala, queimando-lhe os seios. Já uma vez fora insultada por aquele olhar. Onde? Como? Não podia lembrar-se, mas com certeza não era a primeira vez que o sentia. Invocava as suas reminiscências. No Funchal não podia ser; no sítio também não fora; seria no Pará quando chegara com a mãe, ainda menina, e acomodaram-se em uma casinha da rua das Mercês? Não; era mais recente, muito mais recente. Bem; parecia recordar-se agora. Fora em Santarém, havia coisa de dois anos ou três, quando ali estivera com o pai para assistir a uma festa popular, o sahiré. Hospedara-se então na casa do negociante Joaquim Pinto, patrício e protetor de seu pai, e foi ali, em uma noite de festa, quando se achava em companhia de outras raparigas sentada à porta da rua, a ver passar a gente que voltava de igreja, que se sentiu atormentada por aquele olhar lascivo e tenaz, a ponto de retirar-se para a cozinha trêmula e chorosa. Sim, nenhuma dúvida mais podia haver, o homem era um agregado de Joaquim Pinto, um camarada antigo da casa, por sinal que, segundo lhe disseram as mucamas da mulher do Pinto, era de Cametá e se chamava Manuel Saraiva.

Neste ponto de suas reminiscências, a Anica foi assaltada por uma idéia medonha que lhe fez correr um frio glacial pela espinha dorsal, ressecou-lhe a garganta, e inundou-lhe de suor a fronte. Saraiva! Mas era este o nome do famigerado tenente de Jacob Patacho, cuja reputação de malvadez chegara aos recônditos sertões do Amazonas, e cuja atroz e brutal lascívia excedia em horror aos cruéis tormentos que o chefe da quadrilha inflingia às suas vítimas. Seria aquele tapuio de cara bexigosa e ar pacífico o mesmo salteador da baía do Sol e das águas dos Amazonas, o bárbaro violador de virgens indefesas, o bandido, cujo nome mal se pronunciava nos serões das famílias pobres e honradas, tal o medo que incutia? Seria aquele homem de maneiras sossegadas e corteses, de falar arrastado e humilde o herói dos estupros e dos incêndios, a fera em cujo coração de bronze jamais pudera germinar o sentimento da piedade?

A idéia da identidade do tapuio que dormia na sala vizinha com o tenente de Jacob Patacho, gelou-a de terror. Perdeu os movimentos e ficou por algum tempo fria, com a cabeça inclinada para trás, a boca entreaberta e os olhos arregalados, fixos na porta da sala; mas de repente o clarão de um pensamento salvador iluminou-lhe o cérebro; convinha não perder tempo, avisar o pai e os irmãos, dar o grito de alarma; eram todos homens possantes e decididos, tinham boas espingardas; os bandidos eram dois apenas, seriam prevenidos, presos antes de poderem oferecer séria resistência. Em todo o caso, fossem ou não fossem assassinos e ladrões, mais valia estarem os de casa avisados, passarem uma noite em claro do que correrem o risco de serem assassinados a dormir. Saltou da cama, enfiou as saias e correu para a porta, mas a reflexão fê-la estacar cheia de desânimo. Como prevenir o pai, sem correr a eventualidade de acordar o tapuio? A sala em que este se aboletara interpunha-se entre o seu quarto e o de seus pais; para chegar ao dormitório dos velhos era forçoso passar por baixo da rede do caboclo, que não podia deixar de acordar, principalmente ao ruído dos gonzos enferrujados da porta que, por exceção e natural recato da moça, se fechara aquela noite. E se acordasse seria ela talvez a primeira vítima, sem que o sacrifício pudesse aproveitar à sua família.

Um silvo agudo, imitante do canto do urutaí, arrancou-a a estas reflexões, e pondo os ouvidos à escuta, pareceu-lhe que o tapuio da sala vizinha cessara de ressonar. Não havia tempo a perder, se queria salvar os seus. Lembrou-se então de saltar pela janela, rodear a casa e ir bater à janela do quarto do pai. Já ia realizar esse plano quando cogitou de estar o outro tapuio, o seu João, perto da casa para responder ao sinal do companheiro, e entreabriu com toda precaução a janela, espreitando pelo vão.

A noite estava belíssima.

O vento forte afugentara as nuvens para o sul, e a lua subia lentamente no firmamento, prateando as águas do rio e as clareiras da floresta. A chuva cessara inteiramente, e do chão molhado subia uma evaporação de umidade, que, misturada ao cheiro ativo das laranjeiras em flor, dava aos sentidos uma sensação de odorosa frescura.

A princípio a rapariga, deslumbrada pelo luar, nada viu, mas afirmando a vista percebeu umas sombras que se esgueiravam por entre as árvores do porto, e logo depois distinguiu vultos de tapuios cobertos de grandes chapéus de palha, e armados de terçados, que se dirigiam para a casa.

Eram quinze ou vinte, mas à rapariga de susto pareceu uma centena, porque de cada tronco de árvore a sua imaginação fazia um homem.

Não havia que duvidar. Era a quadrilha de Jacob Patacho que assaltava o sítio.

Todo o desespero da situação em que se achava apresentou-se claramente à inteligência da rapariga. Saltar pela janela e fugir, além de impossível, porque a claridade da lua a denunciaria aos bandidos, seria abandonar seus pais e irmãos, cuja existência preciosa seria cortada pelo punhal dos sicários de Patacho durante o sono, e sem que pudessem defender-se ao menos. Ir acordá-los seria entregar-se às mãos do feroz Saraiva, e sucumbir aos seus golpes antes de realizar o intento salvador. Que fazer? A donzela ficou algum tempo indecisa, gelada de terror, com o olhar fixo nas árvores do porto, abrigo dos bandidos, mas de súbito, tomando uma resolução heróica, resumindo todas as forças em um supremo esforço, fechou rapidamente a janela e gritou com todo o vigor dos seus pulmões juvenis:

- Aqui d'el-rei! Os de Jacob Patacho!

A sua voz nervosa repercutiu como um brado de suprema angústia pela modesta casinha, e o eco foi perder-se dolorosamente, ao longe, na outra margem do rio, dominando o ruído da corrente e os murmúrios noturnos da floresta. Súbito rumor fez-se na casa até então silenciosa, rumor de espanto e de sobressalto em que se denunciava a voz rouca e mal segura de pessoas arrancadas violentamente a um sono pacífico; a rapariga voltou-se para o lado da porta da sala, mas sentiu-se presa por braços de ferro, ao passo que um asqueroso beijo, mordedura de réptil antes do que humana carícia, tapou-lhe a boca. O tapuio bexigoso, Saraiva, sem que a moça o pudesse explicar, entrara sorrateiramente no quarto, e se aproximara dela sem ser pressentido.

A indignação do pudor ofendido e a repugnância indizível que se apoderou da moça ao sentir o contato dos lábios e do corpo do bandido, determinaram uma resistência que o seu físico delicado parecia não poder admitir. Uma luta incrível se travou entre aquela branca e rosada criatura seminua e o tapuio que a enlaçava com os braços cor de cobre, dobrando-lhe o talhe flexível sob a ameaça de novo contato de sua boca desdentada e negra, e procurando atirá-la ao chão. Mas a rapariga segurara-se ao pescoço do homem com as mãos crispadas pelo esforço espantoso do pudor e do asco, e o tapuio, que julgara fácil a vitória, e tinha as mãos ocupadas em apertar-lhe a cintura em um círculo de ferro, sentiu faltar-lhe o ar, opresso pelos desejos brutais que tanto o afogavam quanto a pressão dos dedos nervosos e afilados da vítima.

Mas se a sensualidade feroz do Saraiva, unida à audácia que lhe inspirara a consciência de terror causado por sua presença lhe fazia esquecer a prudência que tanto o distinguia antes do ataque, o brado de alarma solto pela rapariga dera aos quadrilheiros de Patacho um momento de indecisão. Ignorando o que se passava na casa, e as circunstâncias em que se achava o tenente comandante da expedição, cederam a um movimento de reserva, da índole do caboclo, e voltaram a esconder-se por detrás dos troncos de árvores que ensombravam a ribanceira. A moça ia cair exausta de forças, mas teve ainda ânimo para gritar com suprema energia:

- Acudam, acudam, que me matam!

Bruscamente o Saraiva largou a mão da Anica, e atirou-se para a janela, naturalmente para abri-la, e chamar os companheiros, percebendo que era tempo de agir com resolução, mas a moça advertindo-se do intento, atravessou-se no caminho, com inaudita coragem, opondo-lhe com o corpo um obstáculo que de fácil remoção seria para o tapuio, se nesse momento, abrindo-se de par em par, a porta da sala não desse entrada a Félix Salvaterra, seguido por dois filhos, todos armados de espingardas. Antes que o tenente de Jacob Patacho tivesse podido defender-se, caía banhado em sangue com uma valente pancada no crânio que lhe deu o velho com a coronha da arma.

O português e os filhos mal despertos do sono, com as roupas em desalinho, não se deixaram tomar do susto e da surpresa, expressa em dolorosos gemidos pela sora Maria dos Prazeres, que abraçada à filha, cobria-a de lágrimas quentes. Pai e filhos compreenderam perfeitamente a gravidade da situação em que se achavam; o silêncio e ausência do cão de guarda, sem dúvida morto à traição, e a audácia do tapuio bexigoso, mais ainda do que o primeiro grito da filha, do qual apenas haviam ouvido ao despertar o nome do terrível pirata paraense, os convenceram de que não haviam vencido o último inimigo, e enquanto um dos moços apontava a espingarda ao peito do tapuio que banhado em sangue tinha gravados na moça os olhos ardentes de volúpia, Salvaterra e o outro filho voltaram à sala, com o fim de guardar a porta de entrada. Esta porta tinha sido aberta, achava-se apenas cerrada apesar de havê-la trancado o dono da casa quando despediu o caboclo alto. Foram os dois homens para pôr-lhe novamente a tranca, mas já era tarde.

Seu João, o companheiro de Saraiva mais afoito do que os outros tapuios, chegara à casa, e percebendo que o seu chefe corria grande perigo, assobiou de um modo peculiar, e em seguida, voltando-se para os homens que se destacavam das árvores do porto, como visões de febre, emitiu na voz cultural do caboclo o brado que depois se tornou o grito de guerra da cabanagem:

- Mata marinheiro! Mata! Mata!

Os bandidos correram e penetraram na casa. Travou-se então uma luta horrível entre aqueles tapuios armados de terçados e de grandes cacetes quinados de massaranduba, e os três portugueses que heroicamente defendiam o seu lar, valendo-se das espingardas de caça, que, depois de descarregados, serviram-lhes de formidáveis maças.

O Saraiva recebeu um tiro à queima-roupa, o primeiro tiro, pois que o rapaz que o ameaçava, sentindo entrarem na sala os tapuios, procurara livrar-se logo do pior deles, ainda que por terra e ferido: mas não foi longo o combate; enquanto mãe e filha, agarradas uma à outra, se lamentavam desesperada e ruidosamente, o pai e os filhos caíam banhados em sangue, e nos seus brancos cadáveres a quadrilha de Jacob Patacho vingava a morte de seu feroz tenente, mutilando-os de um modo selvagem.

Quando passei com meu tio Antônio em junho de 1932 pelo sítio de Félix Salveterra, o lúgubre aspecto da habitação abandonada, sob cuja cumeeira um bando de urubus secava as asas ao sol, chamou-me a atenção; uma curiosidade doentia fez-me saltar em terra e entrei na casa. Ainda estavam bem recentes os vestígios da luta. A tranqüila morada do bom português tinha um ar sinistro. Aberta, despida de todos os modestos trastes que a ornavam outrora, denotava que fora vítima do saque unido ao instinto selvagem da destruição. Sobre o chão úmido da sala principal, os restos de cinco ou seis cadáveres, quase totalmente devorados pelos urubus, enchiam a atmosfera de emanações deletérias. Era medonho de ver-se.

Só muito tempo depois conheci os pormenores desta horrível tragédia, tão comum, aliás, naqueles tempos da desgraça.

A sora Maria dos Prazeres e a Anica haviam sido levadas pelos bandidos, depois do saque de sua casa. A Anica tocara em partilha a Jacob Patacho, e ainda o ano passado, a velha Ana, lavadeira de Santarém, contava, estremecendo de horror, os cruéis tormentos que sofrera em sua atribulada existência.
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Vocabulário
Sora – senhora
Alumiava – iluminava
Ciciar – sibilar, sussurrar
Pacoveira – bananeira
Cabanagem – violência, selvageria
Galeota – canoa provida de toldo onde se fazem comércio itinerante
Japá – esteira tecida de folhas de palmeira, que serve como toldo em pequenas embarcações, para cobrir barracas, alpendres etc. ou para fechar portas e janelas
Herdades – fazendas; quintas
Azinhavrada – coberto de azinhavre, camada esverdeada que se forma em objetos de cobre ou latão devido à umidade.
Mucama – no Brasil e na África portuguesa, escrava ou criada negra, ger. jovem, que vivia mais próxima dos senhores, ajudava nos serviços caseiros e acompanhava sua senhora em passeios; ama de leite dos filhos dos seus senhores.
Aboletara – acomodara-se, instalara-se
Cumeeira – parte mais elevada de um telhado.
Deletéria – insalubre, nociva

Fonte:
SOUZA, Inglês de. Contos Amazônicos. São Paulo: Martin Claret, 2006.

Antônio Cândido da Silva (Bar do Zizi)

Pintura de Talles Cabral
A última telha importada de Marselha
Virou pó na dureza do cimento.
Resta somente o espaço, o pó e o tempo
levando tudo para o esquecimento.

E a tristeza nos arquivos da memória
guarda mais um registro de saudade
misturada com indignação
e o sentimento de impotência
diante de que tem nas mãos
a força do poder.

Levanta do silêncio Guapindaia,
Doutor Tanajura, Mario Monteiro
e Bohemundo Álvares Afonso.
Protesta Professor Carlos Mendonça,
Doutor Celso Pinheiro
e Rui Brasil Cantanhede
que o prédio finalmente concluiu.

Venham ver o que fizeram do mercado
e da luta de vocês que foi em vão.
Ninguém se levantou pra defender
o pedaço de nossa história
que teimava em não cair.
Segismundo se calou, nem Zé Catraka
botou "Lenha na Fogueira" e se apagou.
Zizi, nosso velho Zizi, tombou cansado depois de tanto tempo resistir.

A última telha de Marselha virou pó.
Guarde a sua lembrança com carinho
pois o passado perdeu a realeza.
Só nos resta mandar nossa saudade
convocar Ernesto Melo
pra cantar nossa tristeza.

Do livro inédito: "Passarela de Emoções"
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Antônio Cândido da Silva (5 Novembro 1941)



Nasceu no dia 5 de novembro de 1941, na cidade Amazonense de Humaitá. Filho de Artur Elpídio da Silva e Raimunda Cândida da Silva. Veio para Porto Velho em 10 de maio de 1945.

Iniciou seus estudos no Colégio Dom Bosco e passou pela Escola Normal Carmela Dutra. Em 1980 concluiu o 2º Grau no Colégio Dom Bosco.

Como o próprio autor auto-biografa-se, alguém escreveu:
“Antônio Cândido nasceu num seringal meio perdido lá para as bandas do “Igarapé dos Botos” no Município de Humaitá – AM, mudando-se para Porto Velho ainda criança, onde fixou residência e permanece até hoje.

Sua primeira experiência artística foi no teatro, com apenas 10 anos de idade. Logo em seguida mergulhou pela poesia e dela nunca emergiu. Tornou-se a própria.

Considerado o poeta de Porto Velho, tanto nas suas colaborações literárias publicadas no jornal Alto Madeira, como no seu livro “Marcas do Tempo”, Antônio Cândido canta Porto Velho com seus bairros, ruas, travessas, vielas e outros logradouros.

Antônio Cândido criou a bandeira e o brasão do município de Porto Velho; a bandeira e hino do município de Costa Marques e os hinos dos municípios de Jarú e Cerejeiras.
Recebeu homenagens da Câmara Municipal com o Título – Amigo de Porto Velho, e a comenda José do Patrocínio, alusiva aos 100 anos da Abolição da Escravatura.

Intelectual com rara capacidade de percepção, bem antes de a Ecologia “entrar na moda”, o poeta, nas rodas de amigos, já defendia o meio ambiente”.
Sua grande paixão pela cidade de Porto Velho é demonstrada no poema que tem seu nome, além da história da legendária Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, toda contada em poesia, no livro “Madeira-Mamoré – O Vagão dos Esquecidos”.

É membro efetivo da Academia de Letras de Rondônia.

Além de inúmeros trabalhos publicados nos jornais literários, escreveu os livros "Marcas do Tempo" e "Madeira-Mamoré – O Vagão dos Esquecidos" (1ª Edição, 1998; 2ª Edição, 2000).

Fonte:
Academia de Letras de Rondônia

Samuel Castiel Jr. (Flor Tropical)


Flor tropical, soberba e encantadora
Que cresce e floresce em terrenos hostis
Como guardiã desafiadora
Do belo nativo e essências sutis!...

Como brisa que soprou todas as vidas
Nascestes bela, livre e agreste,
Repartindo-te em pétalas coloridas
Invejam-te o crisântemo e o cipreste...

Não queiras nunca te tornar rainha
Pois sempre foste à preferida minha!
Fascinam-me teu porte, tua cor...

Quero- te sempre assim bela e formosa
Como um livro escrito em verso e prosa
Como a mulher que me ensinou o amor!
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Samuel Castiel Jr. (Reflexões Noturnas)

Altas horas, madrugada em curso! Noite cálida de um verão tórrido e abrasador, aqui, abaixo dos trópicos! Só, da sacada de meu apartamento, espreito o silêncio desta madrugada, quebrado vez por outra pelo ronco e os faróis de um carro que passa....A brisa úmida que começa soprar levanta folhas secas e papéis que dormiam atirados ao solo. Um cachorro vem de longe, sem latir, sozinho, e desaparece no final da rua. A cidade inteira parece adormecida! Milhares de lâmpadas piscam em todas as direções. O céu estrelado completa essa harmonia silente!

São nessas horas mortas que a insônia me leva a refletir sobre a origem e objetivos da vida, sobre o destino e a trajetória dos seres humanos. Nada mais patético! Logo mais, ao amanhecer, todos estarão em mais um dia de rotina, fazendo sempre as mesmas coisas, desafiando e sendo desafiados a novas conquistas, numa competitividade cada vez mais acirrada, sem fim. Logo, alguns vão morrer, vão se matar ou serem mortos, tendo conquistado ou não seus objetivos, acumulados de conquistas, vitórias e derrotas. E daí surge mais uma elocubração: e no pós-morte tudo se acaba, vira pó, ou entramos em uma outra dimensão, outro mundo melhor (ou pior)?. Em outras palavras: vai dar Allan Kardec ou Sir Charles Darwin! Infelizmente esta questão não é tão simplória assim, não se pode “pagar-pra-ver” como no pôquer. Não podemos blefar! Em nenhuma das teorias tanto no espiritismo como na seleção natural, jamais poderemos saber quem foi o vencedor. Até porque não vão restar nem vencidos nem vencedores. Para este mundo todos estaremos mortos!...

No início da rua surge o vulto de um homem, que vem a passos lentos, com se estivesse cansado. Aproxima-se cada vez mais, então, pára e bate a porta do Colégio Dom Bosco. São batidas insistentes, fortes, quase incomodativas. Sob a luz do poste poderia ver o seu rosto, não fosse o boné que usava. Sua roupa bastante amarrotada, como se viesse de sua rotina de trabalho que terminara àquela hora. As batidas à porta daquele estabelecimento não tiveram nenhuma resposta, e seus ecos ficaram reverberando nos meus ouvidos. O homem então, solitário, parte desaparecendo no final da rua, na escuridão!

Fico então a pensar que aquele homem sou eu, em busca de tantas respostas que jamais obterei. As portas não se abriram e mesmo que tivessem se aberto, não teria eu as respostas para meus enigmas e fantasmas.

Fecho então a minha sacada e volto para tentar conciliar o sono perdido, com a mesma angústia que aflige todo ser humano que se debruça sobre a vida e a morte! Apago a luz!
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Samuel Castiel Jr.

Médico Radiologista
Membro das Academias de Letras e Medicina de Rondônia

Fontes:
Academia de Letras de Rondônia
Imagem = Estrela Guia NF

Cláudio Batista Feitosa (12 Agosto 1933)



Cláudio Batista Feitosa é amazonense, nascido na cidade de Porto Velho no dia 12 de agosto de 1933.

Ainda muito jovem, participou ativamente dos movimentos culturais promovidos pelo Colégio Dom Bosco em Porto Velho, onde fez o Primeiro Grau em 1949, concluindo o Segundo Grau em Fortaleza/CE onde residiu por alguns anos, seguindo dali para São Paulo, retornando em 1956 para Porto Velho à partir de quando exerceu diversas atividades nos setores público e privado, tendo participado de inúmeras atividades comunitárias com destaque para o Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL como presidente da Comissão Municipal de Porto Velho, no período de agosto de 1971 até abril de 1976, época em que o Movimento conseguiu alfabetizar de mais dez mil pessoas.

É de sua autoria a Canção da Brigada Príncipe da Beira (17ªBrigada de Infantaria de Selva) com sede em Porto Velho (1982), homologada pela Portaria nº63 de 14/09/1982 da Chefia/E.M.E. ; o Hino do Município de Porto Velho (1983), homologado pela Câmara Municipal de Porto Velho; as Canções da Base Aérea de Porto Velho (1986) e da Polícia Militar do Estado de Rondônia (1994), assim como o Brasão do Grande Oriente Estadual de Rondônia -GOER.

O dia 12 de agosto de 1994 marcou sua participação definitiva no campo literário (prosa) com a publicação de um pequeno ensaio do que considerava “anedotário” de Porto Velho sob o título de “O Bloco da Cobra” e o “O Bote da Boiuna, Primeiro e Último”, incluídos na Antologia Da Prosa E Do Verso Rondoniense (pgs.19 a 30) lançada naquela data pela FUNCER- Fundação Cultural do Estado de Rondônia, após compilar os melhores textos de um Concurso Literário que promoveu em 1993.

Na Antologia Da Prosa E Do Verso Rondoniense -Vol.II - FUNCER/Set-94, Cláudio está também presente (pgs.13 a 24) com o conto intitulado “ O Enterro do Balbino”.
Registre-se também sua co-autoria do livro Porto Velho Em Prosa E Verso lançado pela Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo-SEMCE da Prefeitura do Município de Porto Velho, em 25/11/1998; co-autoria do livro Escritos De Rondônia lançado pela Secretaria de Estado de Esportes, Cultura e Lazer - SECEL - Ano 2000 - (pg. 170);
co-autoria do livro Gente De Rondônia-Personagens Da Nossa História - (coletânea) lançado pela SECEL e Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia – Ano 2001 (pg. 88).

É de sua autoria o livro Gente Da Gente lançado, no dia 7 de agosto de 2005.

Cláudio Batista Feitosa é Membro da Academia Maçônica De Letras Do Estado De Rondônia - AML, ocupando a cadeira Nº 12 e também Membro da Academia De Letras De Rondônia (ACLER), tendo sido eleito para a cadeira nº 26 em 14/10/2003 e solenemente empossado no dia 01 de dezembro de 2003.

Sua atividade principal, atualmente, é a prestação de serviços como Leiloeiro Público Oficial (Matrícula nº 002/92-JUCER), com jurisdição no território do Estado de Rondônia.

Cláudio Batista Feitosa é casado com a guajaramirense Sílvia Carvajal Feitosa, havendo nascido, do enlace, os seguintes filhos: Ricardo (Eng.Eletricista), Sérgio (Geólogo), Sílvio (Arquiteto) e Cláudia (Médica). É, também, avô de Diego, Daniel, Eduardo, Amanda, Julius, Hector e Katharina.

O Acadêmico Cláudio Batista Feitosa foi eleito, no dia 04 de janeiro de 2008, compondo a nova Diretoria da Academia -biênio 2008/2009 - para o cargo de Diretor Financeiro.
É, portanto, o Acadêmico responsável pelas finanças da Academia.

Fonte:
Academia de Letras de Rondônia