sábado, 17 de abril de 2010

Marques Rebelo (1907 – 1973)


Segundo ocupante da Cadeira 9 da Academia Brasileira de Letras, eleito em 10 de dezembro de 1964, na sucessão de Carlos Magalhães de Azeredo e recebido pelo Acadêmico Aurélio Buarque de Holanda em 28 de maio de 1965. Recebeu os Acadêmicos Francisco de Assis Barbosa e Herberto Sales.

Marques Rebelo (nome literário de Edi Dias da Cruz), jornalista, contista, cronista, novelista e romancista, nasceu no Rio de Janeiro, em 6 de janeiro de 1907, e faleceu também nessa cidade em 26 de agosto de 1973.

Era filho do químico Manuel Dias da Cruz Neto e de Rosa Reis Dias da Cruz. Sua infância dividiu-se entre Vila Isabel, onde nasceu, e a cidade mineira de Barbacena, para onde sua família se mudou quando ele tinha quatro anos. O que nunca lhe faltou, no Rio ou em Minas, foi um terreno baldio para jogar futebol e livros para ler. Além dos livros de ficção da biblioteca de seu pai, aos 11 anos já tinha lido autores que os outros só lêem quando adultos: Buffon, Flaubert, Balzac e os clássicos portugueses. Aos 15 anos o conhecimento de Machado de Assis e Manuel Antônio de Almeida iria despertar nele a “coceira de escrever” de que nunca mais se libertaria. Prosseguiu seus estudos e, no início dos anos 20, ingressou na Faculdade de Medicina, que logo abandonou para se dedicar ao comércio.

Dedicou-se ao jornalismo profissional no início dos anos 20. Publicou poemas nas revistas modernistas Verde, Antropofagia, Leite Crioulo e outras.

Escreveu seus primeiros contos por volta de 1927, quando fazia o Serviço Militar. Oscarina, publicado em 1931, é, em grande parte, fruto de sua vivência na caserna, que se transformou em literatura graças a uma queda sofrida numa competição esportiva que o reteve meses numa cama de hospital, e ele aproveitava o tempo para escrever.

Juntamente com a decisão de abandonar a poesia e se tornar ficcionista, o escritor tomou a de rebatizar-se.

Questionado porque adotou o pseudônimo de Marques Rebelo, Edi Dias da Cruz explicou: “Nome de família muitas vezes atrapalha. Devido à campanha que fizeram contra os modernistas na Semana de Arte Moderna, justamente na época e por influência da mesma senti que tinha vocação para a literatura e resolvi adotar esse pseudônimo, evitando assim sofrimentos para a família.”

Dois anos depois de Oscarina, veio a público Três caminhos, volume composto pelas novelas “Namorada”, “Vejo a lua no céu” e “Circo de cavalinhos”, e o romance Marafa, em 1935, laureado com o Grande Prêmio de Romance Machado de Assis, da Cia. Editora Nacional.

O grande êxito viria em 1939 com A estrela sobre, romance de uma jovem suburbana que “vence” no rádio, a grande fábrica de ilusões dos anos 30.

Marques Rebelo integrou a geração que fez o Romance de 30, inserido na linha da literatura de acusação e de denúncia da miséria brasileira.

Foi o romancista do Rio de Janeiro, sobretudo de sua gente simples e humilde. Para ele, o Rio era a Zona Norte, de onde vinha o Carnaval e onde ia buscar a maioria dos seus personagens de classe média.

Escreveu sobre futebol, viagens e sobre Manuel Antônio de Almeida, o primeiro romancista brasileiro a retratar a vida urbana do Rio de Janeiro. Depois de Manuel Antônio de Almeida, Machado de Assis e Lima Barreto, Marques Rebelo é o mais apaixonado pintor da vida carioca. Mas o Rio por ele descrito já desapareceu, pois ele retratou a cidade nos últimos anos pré-industriais, quando na Tijuca ainda se faziam serenatas, a Lapa estava no auge e casais de namorados passeavam de bonde.

Depois de anos de paciente trabalho, publicou em 1959 O Trapicheiro, seguido de mais dois volumes: A mudança (1962) e A guerra está entre nós (1968), que formam o grande e inconcluso romance cíclico O espelho partido, painel fragmentário da vida brasileira, especialmente carioca, na primeira metade do século.

Obras:
Oscarina, contos (1931);
Três caminhos, contos (1933);
Marafa, (1935);
A estrela sobe (1939);
Stela me abriu a porta, contos (1942):
Vida e obra de Manuel Antônio de Almeida, biografia (1943);
Cenas da vida brasileira, crônica de viagem (1943);
Bibliografia de Manuel Antônio de Almeida (1951);
Cortina de ferro, crônica de viagem (1956);
Correio europeu, crônica de viagem (1959);
O trapicheiro (1959);
A mudança (1962);
O simples Coronel Madureira, novela (1967);
Antologia Escolar Brasileira (1967);
Brasil, Terra & Alma: Guanabara, antologia (1967);
A guerra está entre nós (1968);
Antologia Escolar Portuguesa (1970).

Fonte:
Academia Brasileira de Letras

terça-feira, 13 de abril de 2010

Pausa até Quinta-feira


Comunico que até a quinta feira, dia 15 de abril, não haverão postagens, em virtude de treinamento que estarei participando para a realização do Censo 2010.

Sexta-feira retorno às postagens normais.

Obrigado

José Feldman

Seletiva de Obras Poetas 2010 na Paco Editorial



A PACO EDITORIAL está abrindo a primeira seletiva de obras para o projeto 2010 poetas. Na primeira fase serão publicadas obras de 30 poetas nacionais, selecionados entre autores de todo o Brasil.

As obras serão publicadas durante o mês de junho de 2010 e farão parte da Coleção NOVAS LETRAS, cujo foco é dar a oportunidade de publicação a novos talentos nacionais. Não se trata de antologia poética, com vários poetas, mas de livros individuais de cada autor.

Os livros serão publicados com as seguintes características:

FORMATO 14X21CM, COM ORELHAS DE 6CM.
CAPA COLORIDA, EM PAPEL TRIPLEX 250gr/m²
MIOLO COM 80 PÁGINAS, DE 1X1 COR, EM PAPEL BRANCO 75gr/m². ACABAMENTO: COLADO COM HOTMELT.

Os poetas interessados deverão enviar seus originais para avaliação para o e-mail originais@pacoeditorial.com.br , entre os dias 09 a 19 de abril de 2010. As obras deverão estar em arquivo de Word, juntamente com os dados pessoais do autor (NOME, ENDEREÇO E TELEFONE).

Todos os originais recebidos serão avaliados pela equipe da PACO, dos quais apenas os 30 melhores serão publicados.

Veja mais informações em: www.pacoeditorial.com.br/2010poetas.html

RENATO BREDAS
COORDENAÇÃO EDITORIAL
http://www.pacoeditorial.com.br/
coordenacao@pacoeditorial.com.br
11 4521 6315

Fonte:
Colaboração de Renato Bredas

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Quadro Poético I - Antonio Manuel Abreu Sardenberg (São Fidélis/RJ)

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Henriette Effenberger (Louquinha Lelé)


"Rola-me na cabeça
o cérebro oco. Porventura, meu Deus,
estarei louco ?". Augusto dos Anjos

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Diagnóstico fácil: Psicose por drogas. Camisa de força química para substituir a tradicional, a ambulância deslizando pelas avenidas, os portões abrindo-se após a identificação, o quarto frio, as grades, o abandono...

Abandono tão seu conhecido que já nem se importava com ele. Era íntima também da solidão, do desprezo, da indiferença. Conhecia-os desde que nascera: do barraco onde viveu com a mãe embriagada, das ruas onde se abrigou das surras que levava em casa e dos orfanatos e instituições para menores carentes e infratores, os quais freqüentou com assiduidade e rebeldia. Refugiava-se daqueles sentimentos na cola, esmaltes e solventes. Mais velha, descobriu o álcool e o crack. Ao mesmo tempo iniciou-se nos pequenos furtos e na prostituição, onde também aprendeu a defender-se com estiletes e canivetes...

Só muito mais tarde começou ouvir as vozes. De início estranhou, depois acostumou-se. Eram tantas as vozes falando ao mesmo tempo, que a princípio não conseguia entender o que diziam. Com o tempo foi habituando-se a elas. Às vezes respondia, outras ignorava.
Foi nessa época que começaram a chamá-la de Louquinha-Lelé. Odiava o apelido!
Quanto mais enraivecia, mais os moleques a agrediam. Corria atrás deles, cuspia, xingava, fazia o diabo e nada! O apelido pegou...

Olhou para cima, através das grades do manicômio, e viu o céu cinzento. Olhou para baixo, viu homens e mulheres, marchando como se fizessem parte de um batalhão. Gesticulavam, sorriam para si mesmo ou ficavam prostrados, indiferentes ao que se passava ao redor. Resolveu acenar para eles. Ninguém correspondeu.

Começou então a desfiar a bainha do cobertor: as linhas emaranhavam-se num colorido desgastado. Foi separando-as uma a uma: cinza com cinza, branco com branco, preto com preto, marrom com marrom...Formou meadas até consumir a coberta. Nem ligava, já não sentia frio.
Valeu a pena ! Um dia, um anjo de branco abriu a porta de seu quarto e disse-lhe: Que lindo, Lelé ! e, carinhosamente, deu-lhe um outro cobertor, de cores fortes, novinho em folha e ela começou a separar vermelho com vermelho, laranja com laranja, verde com verde, azul com azul...Formou meadas e as trançou, verde com preto, branco com vermelho, laranja com marrom, cinza com azul...O anjo sorrindo lhe disse: Parabéns, Lelé, você é uma artista !

Lelé cobriu a boca com as mão e escondendo o sorriso sem dentes, sorriu com o olhar. O anjo, então, depositou em suas mãos um tear de madeira e começou a tecer, ensinando-lhe como se fazia. Lelé dominou a técnica. Ganhou meadas de lãs coloridas e teceu um quadro, outro, mais outro e outros mais, vibrantes e coloridos. Perdeu a vergonha de sorrir!

Olhou para o céu azul, atravessou os portões, deixando lá dentro as vozes que a incomodavam. Um aperto no coração fez com que olhasse para trás e visse, da janela, o anjo acenando para ela. Certificou-se de que em sua bagagem estavam as meadas vermelhas, verdes, azuis e brancas e seguiu em frente, caso encontrasse as linhas cinzas, pretas e marrons, agora já seria capaz de tecer um lindo quadro. Era uma artista !

Fonte:
REBRA - Rede de Escritoras Brasileiras

Henriette Effenberger (1952)



Henriette Effenberger, nascida a 29 de junho de 1952, em Bragança Paulista- S.Paulo, cidade onde atualmente reside. Filha de pais desquitados, o que era um estigma dentro da sociedade conservadora de uma pequena cidade do interior, buscou muito cedo refúgio na leitura e, posteriormente, na escrita como canal extravasador de seu sentimento de perda.

Incentivada por sua professora do antigo curso normal, hoje magistério, Madre Edith Bechara, começou a escrever poesias, contos e crônicas, que sistematicamente engavetava, com temor de mostrá-los a terceiros e deixar transparecer a fragilidade de sua alma poética.

Em 1990 participou de seu primeiro concurso literário, patrocinado pelo Banespa - Banco do Estado de São Paulo S.A , empresa em que trabalhou por 25 anos, sendo classificada em terceiro lugar. Com esse incentivo, começou a participar de concursos de poesias, contos e crônicas sendo premiada em inúmeros deles em todo território nacional e tendo seus trabalhos compondo antologia de vencedores, como forma de premiação.

Em junho de 1991 integrou uma comissão que pretendia criar, em Bragança Paulista, uma entidade que congregasse escritores e amantes da literatura. Em fevereiro de 1992, oficialmente foi fundada a Associação de Escritores de Bragança Paulista - ASES - sendo Henriette Effenberger, sócia pioneira, eleita tesoureira da primeira diretoria constituída. Entidade que veio a presidir por duas gestões consecutivas: biênios 98/2000 e 2000/2002. Atualmente é diretora social da ASES.

Em 2002 lançou seu primeiro romance A Ilha dos Anjos, escrito em parceria com a escritora Maria Dulce Naief Kattar Louro.

Como cronista colabora com o jornal Bragança Hoje e com a Revista Qualidade & Vida, ambos de Bragança Paulista.

BIBLIOGRAFIA

OBRAS INDIVIDUAIS
= A Ilha dos Anjos - Editora Degaspari- Piracicaba- 2002 - Romance
= Livro virtual de poesias - Pecado Original - hospedado no site da ASES (http://www.asesbp.com.br) e http://intermega.globo.com/bvcaestamosnos


OBRAS COLETIVAS
= Antologia do Concurso de Poesias e Crônicas
Afubespoesia - Antologia de poesias - 1993 - S.Paulo - SP. - poesia
Melhores Textos - Editora Uniart- Barretos - SP - 1995 - conto
= Contos do Brasil contemporâneo - Grupo Brasília de Comunicação - 1992 - Brasília - DF.- conto
= Antologia do III Prêmio Cidadão de Poesia - SINECOL- 1997- Limeira- SP - poesia
= Via Verso - Prefeitura Municipal de Ourinhos - 1994-Ourinhos - SP - poesia
= Mapa Cultural Paulista - Secretaria do Estado de Cultura- São Paulo - SP - 1997 - poesia
= Saudade em Prosa e Verso - Editora Alba - Varginha-MG- 1999- poesia e crônica
= Perfil 98/99- Apperj - 1998 - poesia
= Trajetória Literária de Bragança Paulista ( Coletânea de biografias de bragantinos ligados à literatura por escritores da ASES) - Edusf - 1995- Bragança Paulista - biografia do jornalista Cásper Líbero
= ASES em prosa e verso ( coletânea de trabalhos em poesia ou prosa de escritores da ASES)- Datagraf - 1998- Bragança Paulista - conto
= ASES só em versos ( coletânea de trabalhos poéticos de escritores da ASES)- Datagraf- 1999- Bragança Paulista- poesia
= ASES só em prosa ( coletânea de trabalhos em prosa de escritores da ASES)- Datagraf - 2000 - Bragança Paulista- conto.

Fonte:
REBRA - Rede de Escritoras Brasileiras

Figueiredo Pimentel (O Soldado e o Diabo)


Contam que, em outros tempos, há milhares e milhares de anos, quando nada existia do que hoje existe, viveu em certa cidade um rico fidalgo, o barão de Macário, tão poderoso e opulento, quão orgulhoso e mau.

Uma tarde, achava-se ele no seu escritório, contemplando avaramente a grande fortuna que acumulara, roubando aos pobres, às viúvas e aos órfãos, emprestando dinheiro a juros elevados, quando, de súbito, se sentiu tocado por um raio de bondade, até então jamais experimentado pelo seu coração empedernido.

Lembrou-se que já estava velho; e que, com aquela idade, nunca fizera o menor benefício a pessoa alguma, sem ter dado jamais uma única esmola sequer.

Arrependeu-se, então, do seu passado.

Nessa mesma tarde, Augusto, um infeliz sapateiro, seu vizinho, que vivia na maior pobreza, carregado de filhos, veio bater à porta, suplicando que lhe emprestasse cem mil-réis, para se ver livre de uma penhora, e poder comprar o material que precisava para os trabalhos de sua profissão.

– Em vez de cem-mil réis, dar-te-ei um conto de réis, Augusto; disse o barão, com a condição, porém, que, se eu morrer primeiro, você irá vigiar meu túmulo, nas três primeiras noites depois do meu enterro.

O sapateiro prometeu, acossado como estava pela necessidade, e o fidalgo deu-lhe o conto de réis.
***

Dois meses depois, o barão de Macário morreu; e Augusto, lembrando-se de sua promessa, como era homem de promessa, foi cumpri-la. Duas noites passou ele em claro, no cemitério da cidade, cheio de medo, mas sem que ocorresse novidade alguma. Na terceira e última, dirigia-se para ir velar junto no túmulo, quando avistou um soldado encostado a um mausoléu.

– Eh! camarada! bradou. Que fazes aí? Não tens medo de estar no cemitério?
– Eu não tenho medo de coisa alguma, respondeu o militar. Vim para aqui, porque não tenho onde pousar esta noite.

Puseram-se ambos a conversar, enquanto o sapateiro contava ao soldado por que motivo ali se achava. Passou-se o tempo, sem que eles o sentissem, quando o relógio da torre da igreja bateu compassadamente as doze badaladas fúnebres da hora terrível da meia-noite!...

Então, nesse momento, próximo deles surgiu de súbito, sem que soubessem de onde vinha, um homem vestido de vermelho, com os olhos chispando fogo, e cheirando fortemente a enxofre.

Era o diabo, que lhes ordenou:

– Retirem-se daqui, rapazes! a alma deste homem, que foi um grande usurário na terra, pertence-me, e eu vim buscá-la.

– Senhor vestido de vermelho, disse o soldado, o senhor não é meu superior, nem mesmo um oficial. Não posso, pois, obedecer-lhe; e, assim, digo-lhe que se retire daqui, pois aqui chegamos primeiro.

O diabo, vendo aquele militar destemido, não quis puxar barulho, e lembrou-se de comprá-lo, perguntando-lhe quanto queria para se ir embora.

– Aceito o negócio que me propõe, sr. Satanás. Basta que me dê o dinheiro em ouro, que uma das minhas botas puder conter.

O diabo saiu, e foi pedir emprestado a um judeu seu amigo, que morava naquela mesma cidade. Enquanto não vinha, o soldado puxando o rifle, cortou a sola do pé direito, e colocou-a por cima de um túmulo aberto.

Quando Satanás chegou, vergado ao peso de um saco de ouro, esvaziou-a, peça por peça, dentro da bota. O dinheiro caía todo na sepultura.

– Olé! disse o capataz do Inferno, esta bota parece-me mágica!
– Vá buscar mais ... mandou o soldado.

Mais de dez sacos foram assim trazidos pelo diabo. As moedas escorregavam pelo cano da bota, e iam cair no túmulo, de modo que a bota jamais se enchia. Satanás, desesperado, ia trazendo saco por saco. Na ocasião em que carregava o décimo saco, cheio de moedas de ouro, eis que amanheceu de repente. O galo cantou; o sol rompeu; e
o sino da igreja bateu alegremente, chamando para a missa.

Satanás deu um berro e desapareceu...

Estava salva a alma do barão de Macário...

O soldado e o sapateiro Augusto repartiram entre si a grande fortuna que o diabo deixara na cova; e foram viver ricos e felizes, empregando uma boa parte do dinheiro em dar esmolas aos pobres.

Fonte:
Figueiredo Pimentel. Historias da avozinha. Rio de Janeiro, 1996.

Oficina Passo a Passo para a Publicação de seu Próprio Livro, em Canoas/RS



EDITORA ALTERNATIVA, MILTON J. PANTALEÃO e NEIDA ROCHA WOBETO

Apresentam a OFICINA:

PASSO A PASSO PARA A PUBLICAÇÃO DE SEU PRÓPRIO LIVRO

Muitas pessoas escrevem seus textos e os escondem a sete chaves, pois não se sentem merecedores de publicá-los. Essa dificuldade dá-se às vezes por falta de incentivo e outras por não saberem o que fazer para a publicação de um livro.

Com a intenção de superar essa barreira, Neida Rocha, convidou o senhor Milton J. Pantaleão da Editora Alternativa, para a realização da Oficina “PASSO A PASSO PARA A PUBLICAÇÃO DE SEU PRÓPRIO LIVRO”.

Graças a múltiplas parcerias e abertura de editais pelo poder público e privado, surge a oportunidade de realização de diversos projetos pessoais e, entre eles, a publicação de livros de escritores iniciantes, sendo oferecido a esses, a possibilidade de apresentação de seus textos para além dos limites geográficos de suas próprias gavetas.

A Oficina “PASSO A PASSO PARA A PUBLICAÇÃO DE SEU PRÓPRIO LIVRO” justifica-se através de palestra proferida pelo senhor Milton J. Pantaleão, Diretor da Editora Alternativa, às 18h30m do dia 11/05/2010, no Auditório da Biblioteca Pública João Palma da Silva, situada à Rua Ipiranga, 104, na cidade de Canoas/RS.

O objetivo principal é apresentar o passo a passo para a confecção de livros de escritores iniciantes, além de disponibilizar informações para o registro na Biblioteca Nacional, detalhes sobre a Carta Catalográfica, Registro de Direitos Autorais, inscrição no ISBN, bem como a confecção da capa, a importância da revisão ortográfica e adequação à norma culta, além de orientar sobre o melhor formato do livro para o aproveitamento de papel.

A A viabilidade da Oficina realizar-se-á mediante a Coordenação da Escritora Neida Rocha Wobeto.

INSCRIÇÕES GRÁTIS

CONTATOS:
Neida Rocha - (051) 9942-3898
neidarocha@terra.com.br
Milton J. Pantaleão – (051) 3330-8818
miltonjp@terra.com.br

Fonte:
Colaboração de Neida Rocha

Jogos Florais de Nova Friburgo- 2010 (Classificação Final)


Âmbito nacional

Tema --- PRAZER

Vencedores

1º Lugar

Se a vida, em seus embaraços,
faz minha vida ser triste,
busco prazer em teus braços...
... e esqueço que a vida existe!
PEDRO MELLO
SÃO PAULO- SP

2º lugar

A vida, além de um prazer,
é a chance que a gente tem
de, mais que apenas viver,
ser luz na vida de alguém.
A. A. DE ASSIS
MARINGÁ- PR

3º lugar

Neste mundo tão mesquinho,
é um prazer ouvir a voz
de quem faz o bem sozinho,
mas usa o pronome “Nós”.
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
CURITIBA - PR

4º lugar

De compromissos te esquivas
mas é fácil de notar,
que o prazer do qual me privas
vive escrito em teu olhar...
ANALICE FEITOSA DE LIMA
SÃO PAULO- SP

5º lugar

Quem segue, apenas querendo
ver o porto de chegada,
nem sabe que está perdendo
o prazer de olhar a estrada!
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
CURITIBA - PR

Menção Honrosa

No prazer que envolve a gente
há tanta proximidade,
que me sinto intimamente
parte da tua metade.
ANALICE FEITOSA DE LIMA
SÃO PAULO- SP

O vinho ao pé da lareira,
teu carinho, teu calor...
Como não ser prisioneira
desses prazeres de amor?
WANDA DE PAULA MOUTHÉ
BELO HORIZONTE- MG

Esse meu amor de outrora
que vivi na mocidade,
é prazer que ainda mora
nos desejos da saudade.
SEBAS SUNDFELD
TAMBAÚ - SP

As mentiras bem montadas
que me dizes com prazer,
são algemas desgastadas
que eu teimo em não desprender!
ALBA CRISTINA CAMPOS NETO
SÃO PAULO- SP

Seu beijo me dá prazer,
me faz perder o juízo...
Eu nem preciso morrer
para entrar no paraíso!
ISTELA MARINA GOTELIPE
BANDEIRANTES- PR

Menção Especial

Disse-me adeus a esperança,
mas deixou no seu lugar
o prazer de uma lembrança
que veio para ficar!
ALMIRA GUARACY REBELO
BELO HORIZONTE- MG

Em algo simples se encerra
raro prazer e emoção:
- O cheiro que emana a terra
quando a chuva cai no chão.
OLGA AGULHON
MARINGÁ - PR

Findou a paixão intensa,
o prazer deu-se ao cansaço...
E, entre nós, a indiferença
construiu o seu espaço.
THEREZA COSTA VAL
BELO HORIZONTE- MG

Guardo os bons tempos da vida,
e os maus procuro esquecer,
mas a memória, atrevida,
teima em roubar-me o prazer.
DOROTY JANSSON MORETTI
SOROCABA- SP

Quanto mais a idade avança
no longo tempo a correr,
eu tenho mais esperança
e mais prazer em viver...
BENEDITO VIEIRA TELLES
MARINGÁ -PR

Tema Desespero ( Humororistica)

1º Lugar

Desepero mais certeiro
neste mundo errado e torto,
é o coitado do coveiro
não ter onde cair morto...
JOÃO PAULO OUVERNEY
PINDAMONHANGABA-SP

2º lugar

Cornélio...desesperado...
abre o armário...(a arma na mão)...
“Você...compadre?!...”. – E, aliviado:
“Pensei que fosse um ladrão!”
JAIME PINA SILVEIRA
SÃO PAULO – SP

3º lugar

Pleno vôo, explica o Pero:
- este avião vai cair...
Não entrem em desespero,
quem quiser pode sair.
ISTELA MARINA GOTELIPE LIMA
BANDEIRANTES- PR

4º lugar

Tomou “todas”- Que exagero!-
ficou com dupla visão...
Foi pra casa e... Oh! Desespero!
- Duas sogras no portão!!!
RENATO ALVES
RIO DE JANEIRO- RJ

5º lugar

Diz vovó, com desespero,
- Não “eleva”, nem rezando?
Bota no gelo, Ferrero,
quem sabe, se congelando...
LICÍNIO ANTÔNIO DE ANDRADE
JUIZ DE FORA-MG

Menção Honrosa

Chega em casa, inesperado
e ao procurar, seu pijama,
por desespero, o danado,
remia, em baixo da cama...
FABIANO DE CRISTO M. WANDERLEY
NATAL - RN

Desespero do tenor,
que já se sente “gagá”:
pra noiva, cheia de amor,
só ergue a voz – e olhe lá...
JOÃO FREIRE FILHO
RIO DE JANEIRO- RJ

Fez a macumba... no entanto,
desesperou-se e sofreu...
- Em vez de “baixar” o santo,
a caxumba é que desceu...
PEDRO MELLO
SÃO PAULO- SP

A platéia se espantou:
o ator saiu do roteiro,
desesperado, e gritou:
“Meu reino por um banheiro!”
SELMA PATTI SPINELLI
SÃO PAULO- SP

Com desespero, gemidos,
Zé se agacha atrás de um toco.
pelos torresmos comidos,
passa vergonha...e sufoco!..
TEREZA COSTA VAL
BELO HORIZONTE- MG

Menção Especial

Mal subi no parapente,
que DESESPERO, Doutor :
- Minha sogra – “sorridente”...
bem no lugar do instrutor!...
MARIA MADALENA FERREIRA
MAGÉ- RJ

Comida sem « exagero »
disse o médico ao doente:
-Não me leve ao desespero...
dotô, sou um rico emergente...!
WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ
CURITIBA- PR

Faz regime...e, por fazê-lo,
se desespera a coitada,
pois sempre tem pesadelo
com rodízios...de salada!...
PEDRO MELLO
SÃO PAULO- SP


“Desembarque demorado!!!”
E quando o luso escutou
“É FOGO!” – desesperado,
Correu à proa... e pulou!...
MARIA MADALENA FERREIRA
MAGÉ- RJ

O “cabra lá no sertão,
pra desespero da casa,
só gosta de chimarrão
e de churrasco na brasa!
DJALDA WINTER SANTOS
RIO DE JANEIRO
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Fonte:
Colaboração de A. A. de Assis

Lançamento do livro de Berta Waldman: O Teatro Ídiche em São Paulo

Clique sobre a imagem para ampliar
Dia 17 de abril, às 16h30, no "Espaço Café" do Museu da Língua Portuguesa

A Casa Guilherme de Almeida iniciará, com o volume O teatro ídiche em São Paulo, de Berta Waldman (USP), apresentado por Jacó Guinsburg, a coleção Estudos & Fontes, dedicada a trabalhos nas áreas de cultura, história, literatura, arte, música, poesia e tradução, publicada em parceria com a editora Annablume.

Enquadrada na série "Cultura / História" da coleção, a obra – que, ao tratar da participação de imigrantes em São Paulo, afina-se com um dos focos de interesse de Guilherme de Almeida, a diversidade linguístico-cultural da cidade – baseia-se em entrevistas realizadas com atores do teatro ídiche, e inclui imagens relativas ao tema colhidas no acervo do antigo teatro Taib (Teatro de Arte Israelita Brasileiro), no bairro do Bom Retiro, e no acervo do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro.

O lançamento no Museu da Língua Portuguesa contará com uma breve exposição da autora sobre seu trabalho e com uma apresentação de canções tradicionais em ídiche, pela cantora Sonia Goussinsky.
––––––––––––––––––––––––-
Idiche = O ídiche (ou iídiche, forma aportuguesada de iidisch) originou-se, ao que tudo indica, nas áreas fronteiriças franco-germânicas, às margens do Reno, por volta do séc. X. Aí, judeus vindos principalmente da Itália e de outros países românicos adotaram o idioma local, ou seja, o alto-alemão em sua passagem do período antigo para o médio. Misturando-se desde logo com elementos do laaz ("língua estrangeira", "não-hebraica"), correlativos judaicos em francês e italiano (1) arcaicos, com a terminologia litúrgica, ritual, comercial e institucional do hebraico-aramaico, isto é, o chamado laschon-kodesch, íd. loschen-koidesch ("língua sagrada"), com palavras hebraico-aramaicas (2) ligadas à atividade diária e eufemismos destinados a ocultar ao não-judeu o significado dos termos, começaram a desenvolver o juedisch-deutsch, isto é, o "judeu-alemão", nome que se alterou para iidisch-taitsch ("ídiche-alemão", sendo que o termo taitsch também veio a significar "interpretação"), de onde derivou o vocábulo iídiche

(1) (O francês e o italiano antigos desempenharam também papel relevante entre os constituintes do ídiche. Seus vestígios persistem em palavras como: alker = alcove; almer = armoire; bentschen = benés; pultzel = pucelle; davenen = divisiner; prisant = présent. E, em nomes próprios, como: Schnoier = Senior; Bunem = Bonhomme; Toltze = Dolce; Ienti = Gentile; Schprintze = Esperanza.)

(2) Hebraísmos como din (julgamento); kascher, íd. koscher ("ritualmente puro" ); iom-tov, íd iontev ("dia de festa"); gan-eden, íd. gan-eiden ("jardim do Éden, paraíso ); Torá, íd. Toire ("Lei", "ensinamento"); bem como aramaísmos, isto é, os dois constituintes lingüísticos semíticos do que é efetivamente a chamada "língua sagrada", figuram certamente entre os primeiros componentes do ídiche

Fontes:
– Colaboração do Instituto Cultural Israelita Brasileiro (São Paulo)
– Jacó Guinsburg. Uma lingua passaporte: o idiche. Revista Espaço Academico. Maringá, PR: Universidade Estadual de Maringá, 2004.

Berta Waldman


Berta Waldman nasceu em São Paulo. Estudou Letras na Universidade de São Paulo. Professora de Literatura Brasileira e Teoria Literária na Unicamp, dedica-se também à Literatura Hebraica, disciplina em que se tornou professora-titular no Departamento de Letras Orientais da USP, junto ao programa de Língua e Literatura Hebraicas.

Escreveu os seguintes livros, além de capítulos de livros, artigos, ensaios, em veículos nacionais e internacionais:

WALDMAN, Berta, (livro) Linhas de Força: Escritos sobre literatura hebraica. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2004.

WALDMAN, Berta, (livro) Entre Passos e Rastros (Presença Judaica na Literatura Brasileira Contemporânea). São Paulo: Perspectiva: Fapesp, 2003.

WALDMAN, Berta, (livro)Do Vampiro ao Cafajeste. Uma leitura da obra de Dalton Trevisan. 1ª ed. SP/Curitiba, Ed. Hucitec/ Sec. da Cultura e Esporte, 1982. 2ª ed. SP. Ed. Hucitec/ Ed. Unicamp, 1989.

WALDMAN, Berta, (livro) A Paixão Segundo Clarice Lispector.1ª ed. SP, Ed. Brasiliense, 1983. 2ª ed. rev. aum. SP, Ed. Escuta, 1992.

WALDMAN, Berta e Carlos Vogt, (livro) Nelson Rodrigues, Flor de Obsessão. SP, Ed. Brasiliense, 1985.

Bolsista do CNPq (Produtividade em Pesquisa , nível 1B), na qualidade de orientadora apresenta vinte e cinco dissertações orientadas e defendidas, treze teses de doutorado orientadas e defendidas e quatro pós doutorados, um em curso.

Coordena, a partir de 2003, a "Coleção Judaica", com nove títulos publicados pela Associação Editorial Humanitas.

Fontes:
http://www.verdestrigos.org/
Colaboração de Marina Sendacz, presidente do Instituto Cultural Israelita Brasileiro

Nachman Falbel (O Teatro Idiche)


Trazido para a América por imigrantes da Alemanha e da Europa Oriental, o teatro ídiche brilhou durante anos nos palcos de Nova York, ajudando os judeus a manter viva a lembrança de sua terra natal. Não conseguiu, no entanto, sobreviver à destruição dos judeus pelos nazistas, nem à assimilação no Novo Mundo.

Em meados da Idade Média, mímicos, dançarinos, cantores e trovadores judeus andavam de aldeia em aldeia, divertindo o povo. Esta tradição se manteve até o século XVI, quando o teatro ídiche começou a assumir a forma e o estilo que o celebrizaram durante décadas, até produzir grandes sucessos na Broadway.

Os primeiros espetáculos eram tradicionalmente realizados durante a comemoração de Purim (1) e tornaram-se conhecidos como Purimshpiel - ou Peças de Purim. Danças, acrobacia, muita música e palhaços compunham a tônica central destas apresentações, que eram quase sempre improvisadas. Os papéis femininos eram representados por homens vestidos de mulheres pois, segundo os costumes da época, estas não podiam apresentar-se ou cantar em público. Os homens, por sua vez, poderiam fantasiar-se de mulheres apenas durante os Purimshpiel. Outra característica das apresentações no século XVI era o fato de serem totalmente amadoras.

O teatro ídiche nos seus primórdios não era muito bem visto pelos grandes intelectuais judeus da época, que tinham o costume de escrever suas obras no idioma de sua terra natal – polonês, alemão ou russo. Para eles, o ídiche era um dialeto popular sem muito peso cultural e literário.

A partir de 1800, no entanto, e por influência do Iluminismo, surgiu um movimento de jovens que percebeu que o ídiche era o melhor caminho para se comunicar com a grande maioria do povo judeu, pois este era o idioma no qual as massas falavam. Assim, em 1876, Avraham Goldfadn escreveu a primeira peça profissional em ídiche. Além de ser o autor do texto, foi o responsável pela direção, produção, divulgação e cenários do espetáculo. Ex-professor e jornalista, era também um poeta e cantor que viajava pelas aldeias levando sua arte.

A obra beirava a comédia e não tinha muita profundidade, razões pelas quais foi criticada pelo famoso escritor ídiche I.L. Peretz e também por não abordar aspectos importantes da vida judaica. O autor reagiu aos comentários dizendo que o povo não estava interessado em nada além de canções, brincadeiras e beijos. No entanto, todas as histórias tinham uma moral e ele tinha um costume que deixou como herança para o teatro ídiche: explicar a moral da história, depois que as cortinas baixavam. Suas últimas peças incluíram temas heróicos da história judaica.

Seguindo a tradição dos antigos trovadores, Goldfadn também levava seus espetáculos pelas aldeias judaicas da Europa, contando suas histórias e fazendo o povo rir e, às vezes, até chorar. Seguindo seu exemplo, vários outros grupos teatrais surgiram e se multiplicaram, muitos nascendo das suas próprias divisões internas. Estudiosos do tema relatam que, em 1905, cerca de dez grupos profissionais - muitos formados por famílias inteiras - e centenas de atores faziam suas apresentações na Europa Oriental.

Fazer teatro, no entanto, nem sempre foi um negócio muito fácil e lucrativo. Assim, quando um espetáculo transformava-se em sucesso, os salários eram pagos em dia e os atores principais passavam a ser disputados pelas diferentes companhias. Quando o fracasso era muito grande, ninguém recebia. Além de Goldfadn, outro nome marcou o palco ídiche no século 19: Joseph Judah Lerner, que fez da Rússia o berço de seu trabalho. O anti-semitismo e as leis anti-semitas de 1883, no entanto, proibiram a exibição dos espetáculos, que passaram a ser denominados de “Teatro Alemão”. Precisavam de autorizações especiais que as autoridades dificilmente concediam. Assim, no final do século XIX e início do XX, centenas de escritores e atores resolveram tentar a sorte na Inglaterra e nos Estados Unidos.

A significativa população judaica da Nova York de então, somada à onda de artistas que imigrou para a América, tornou a cidade um centro de dramaturgia ídiche na virada do século. Historiadores afirmam que, entre 1881 e 1903, cerca de 1 milhão 300 mil judeus que falavam ídiche chegaram a Nova York. O público comparecia aos teatros e aplaudia com o mesmo entusiasmo comédias ou melodramas. O som do idioma da terra natal de quem deixara seu país seja pela discriminação racial ou pela falta de perspectiva econômica constituía um grande atrativo levando centenas de pessoas às casas de espetáculos no Lower East Side, Bronx e Brooklyn.

Durante 50 anos, cerca de doze teatros mantiveram em cartaz permanentemente espetáculos em ídiche. Havia uma grande concorrência entre as casas para atrair públicos maiores. As peças tinham uma certa regularidade de estilo: atores declamando em voz alta, gestos e expressões exagerados e atrizes com gestos dramáticos afetados. A grande diferença entre um espetáculo e outro estava na estrela principal, que acabou se tornando o trunfo de cada uma das companhias.

Início de uma era
Boris Tomashevsky chegou a Nova York no início de 1880, vindo da Ucrânia, juntamente com outros atores. Dono de uma bela voz, ganhava a vida cantando na sinagoga da rua Henry, e também vendendo cigarros em uma loja. Foram estes atores que apresentaram a primeira peça em ídiche nos Estados Unidos. De autoria de Goldfadn, “Koldunye” ou “A Bruxa” foi apresentado em um teatro da Rua 4, em Manhattan.

Tomashevsky tinha então 13 anos e se tornou produtor e diretor da companhia, apesar de sua pouca idade, e passou a viajar pelos Estados Unidos apresentando inúmeras peças e onde quer que se apresentassem entretinham um público formado por operários judeus imigrantes. Deu preferência aos trabalhos de Goldfadn, entre os quais “Shmendrich e o Fanático” ou “Os Dois Kuni-Lemls” (“Os Tolos”), responsável pela introdução do personagem Shmendrich, cujo nome acabou fazendo parte do léxico americano como sinônimo para desastrado.

Em 1887, a companhia de Tomashevsky encenou “Baltimore”. Na platéia, uma espectadora especial, que posteriormente se tornou um dos grandes nomes da dramaturgia ídiche nos Estados Unidos, Bessie Baumfeld-Kaufman, encantou-se pela protagonista da história, uma jovem donzela. Ao dirigir-se aos camarins para conhecer a atriz, descobriu surpreendida que esta era Thomashevsky. Algum tempo depois, Bessie fugiu de casa para juntar-se à companhia e, em 1891, casou-se com o ator, e passou a substituí-lo nos papéis femininos que este costumava representar.

Embora os Tomashevsky não fossem a única companhia importante de teatro ídiche, eram os empresários mais famosos. Encenaram vários espetáculos, entre os quais as versões judaicas de “A Cabana do Pai Tomás”; “Fausto”, de Goethe, e “Parsifal”, de Wagner. Boris foi a estrela de uma adaptação de “Hamlet”, de Shakesperare, chamada “Der Yeshiva Bokher” (“O Estudante da Ieshivá”) e Bessie foi a estrela de “Salomé”, de Oscar Wilde.

Outro nome que marcou época foi Jacob Gordin, que procurou escrever peças e encenar espetáculos que contivessem elementos mais realistas. Os autores foram estimulados a encarar o teatro ídiche como um negócio, incentivados também pelo surgimento de um público mais exigente. Autores como David Pinski, Leon Kobrin e Peretz Hirscheim escreveram obras que lidavam com problemas sociais sérios.

O repertório da companhia de Gordin incluía a livre adaptação de obras clássicas européias, que levaram à apresentação de O Rei Lear Judeu, em 1892. O rei foi interpretado por Jacob P. Adler, fundador do grupo de atores que falavam ídiche e inglês e era integrado por sua esposa Sara, e Celia, Julia, Stella e Luther Adler.

Sholem Asch e Sholem Aleichem exploravam temas e personagens do folclore judaico com humor e sensibilidade; e H. Leivick - pseudônimo de Levick Halpern, produziu dramas sociais envolvendo tanto operários judeus quanto os de outra classe social. Como exemplo deste período está “O Golem”, publicado em 1921, e “Milagre do Gueto de Varsóvia”, encenado em 1945.

Maurice Schwartz fundou o Teatro de Arte Ídiche em 1918, que se tornou um centro de treinamento para toda uma geração de atores. Entre seus parceiros estão Rudolph Schildkraut, Jacob Ben-Ami e Muni Weisenfreund, que se tornou posteriormente conhecido no mundo do cinema como Paul Muni.

Na Europa, também, o teatro ídiche passava por mudanças, que se refletiram no surgimento e sucesso do Grupo de Vilna, em 1916, que encenava espetáculos de maior qualidade literária e exigia dos atores um idioma mais apurado, além de melhor desempenho da companhia como um todo, ao invés de centralização em um único protagonista. A montagem de “O Dibuk”, de Anski, em 1920, garantiu a aceitação do grupo em meio ao público.

Ao longo dos anos, o teatro ídiche nos Estados Unidos passou a trazer para o palco também o conflito entre os países de origem dos imigrantes e seus filhos nascidos na nova pátria; ou então as tensões entre os ortodoxos e os judeus do Iluminisno da Europa e da América, ajudando os imigrantes que falavam ídiche a lidar com as contradições de acordo com sua própria perspectiva.

De certa forma, o teatro ídiche ajudou a construir a ponte entre o shtetl (2) e a América e brilhou durante algumas décadas. Não foi, no entanto, capaz de sobreviver à destruição do idioma e da cultura ídiche pelos nazistas, na Alemanha e na Europa Oriental, enquanto os descendentes dos imigrantes assimilavam-se cada vez mais na América. Assim, na segunda metade do século XX, era incerto o futuro das poucas companhias que ainda funcionavam em Nova York, Londres, Bucareste, Buenos Aires e Varsóvia. O desaparecimento gradativo das platéias levou à redução do número de espetáculos, que passaram a ser substituídos por peças que refletiam, cada vez mais, o dia-a-dia, ou seja, os dilemas e desafios da sociedade americana contemporânea.

O Teatro Ídiche no Brasil

Seguindo as tradições culturais européias, os judeus que imigraram ao Brasil, mantiveram formas de atividade cultural onde o teatro teve um lugar privilegiado nas comunidades em formação, no início de nosso século.

Quando examinamos os livros de atas das primeiras instituições judaicas em São Paulo em outras cidades, salta à vista a importância que as representações teatrais tiveram entre os imigrantes que formavam grupos e sociedades filo-dramáticas, para encenarem peças dos clássicos da língua ídiche.

Também a imprensa judaica das primeiras décadas de nosso tempo revela, pelos anúncios, a riqueza da atividade teatral entre os judeus em nosso país que nos anos 20, e mesmo antes, quando se deu a visita de Peretz Hirschbein, o grande dramaturgo e escritor judeu, os círculos dramáticos esforçavam-se em contatar e trazer do exterior trupes e artistas de renome mundial ao Brasil. Estes últimos vinham da Europa, dos Estados Unidos e, muitas vezes a caminho da Argentina, que constituía um centro de atração maior naqueles tempos, para fazerem suas paradas nas grandes cidades brasileiras e representarem peças do repertório teatral judaico.

Alguns dentre esses atores chegaram a se radicar entre nós e passaram a atuar junto àqueles amadores que se estabeleceram aqui, com o próprio fluir da imigração. Outros permaneciam temporariamente, exercendo sua atividade profissional contratadas pelas instituições culturais que ambicionavam preparar seus quadros e grupos na arte teatral.

Assim, já nos anos vinte, viriam ao Rio de Janeiro Mark Orenstein, Jacob Parnes, que se radicou entre nós, e, posteriormente, receberíamos o famoso Jacob Rotbaum e ainda Zigmund Turkov e outros. A crítica teatral também acabaria por surgir e se manifestar, tal como ocorreu nos anos 20, quando Jacob Nachbin redigiu o “Dos Ídiche Vochenblat”.

O Brasil também foi motivo de inspiração para novos autores dramáticos que, impressionados por certas temáticas locais, puderam expressá-las em suas obras.

Entre ele, devemos lembrar a figura de Leib Malach, que viveu e percorreu as comunidades judaico-brasileiras, retratando seus dramas e expressando os problemas do imigrante que chegava para se radicar em um novo país e meio social.
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(1) Purim =Em Purim se celebra a milagrosa salvação dos judeus da Pérsia, que lá foram exilados após a destruição do Primeiro Templo. O nome da festa advém da palavra persa "pur", que significa "sorte". A Meguilat Esther o livro que relata com detalhes a história de Purim explica: "Por isso, àqueles dias chamam Purim (sortes)" por causa da sorte que Haman havia lançado, determinando o dia em que os judeus seriam aniquilados". As celebrações referentes a Purim se iniciam no Shabat que antecede a festa: no sábado de manhã, a leitura da Torá na sinagoga deve incluir a porção Zachor (Êxodo 17:8-16). Este trecho lembra o ataque do povo de Amalek contra Israel pouco após sua libertação do Egito. Essa leitura está relacionada à data festiva, pois o grande vilão de Purim, o malévolo primeiro-ministro Haman, descendia de Amalek. A Torá nos manda recitar essa passagem para recordar e estar sempre atentos aos planos malignos dos inimigos do povo de Israel." Pois Haman, inimigo de todos os judeus, não se satisfaria com nada menos do que a destruição física de todo o povo judeu" (Esther 9:24).

(2) Shtetl =é a denominação iídiche para "cidadezinha". Chamavam-se "shtetl" as povoações ou bairros de cidades com uma população predominantemente judaica, principalmente na Europa oriental, como por exemplo na Polônia, Rússia ou Bielorrússia, antes da Segunda Guerra Mundial. Os primeiros Shtetlech apareceram no século XII, quando judeus fugindo das perseguições da Europa Central e Ocidental receberam a permissão de colonizar o território pertencendo a Dinastia Piast na Polônia.



Fontes:
– revista Menorá , ano IX, n.32 ,abril de 2001, p.66.
– A Festa de Purim. Revista Morashá. Edição 39 - Dezembro de 2002.
– Shtetl. http://pt.wikipedia.org/

domingo, 11 de abril de 2010

Trova 139 - Antonio Manuel Abreu Sardenberg (São Fidélis/RJ)

Constelação de Trovas


Mesmo soltas e espalhadas,
as pétalas são formosas;
porém somente abraçadas
é que elas se tornam rosas!
A. A. de Assis – Maringá

As almas de muita gente
São como rio profundo:
- A face tão transparente,
E quanto lodo no fundo!...
Belmiro Braga

Promessas! Ah, quem me dera,
um dia, alguma alcançar!...
E, ao final de tanta espera,
ver que valeu esperar!...
Cyrléa Neves – Nova Friburgo

Aquela rede que um dia
foi nosso ninho perfeito
hoje balança vazia
na varanda do meu peito.
Cyrléa Neves – Nova Friburgo

No grande páreo da vida,
o amor luta contra o ódio.
Não permita que a corrida
finde sem o amor no pódio.
Miguel Russowsky – Joaçaba

Repare que nossa alma
rende-se sempre bem mais
por um olhar que se espalma
que por ouvir tristes ais.
Amilton Monteiro – SJ dos Campos

Transformou nosso destino
uma pequena criança,
pois junto a Jesus menino
nasceu no mundo a esperança!
Jeanette De Cnop - Maringá

Amanhece... e eu me agasalho
na mais fria solidão,
porque o sol enxuga o orvalho,
mas minhas lágrimas... não!
Edmar Japiassú Maia – Rio de Janeiro

Meu carnaval mais risonho
foi aquele em que eu vesti
as fantasias de um sonho
que até hoje não vivi!
Elisabeth Souza Cruz – N. Friburgo

Mamãe fazia a polenta,
papai pitava um cigarro.
– Hoje a saudade é que esquenta
o velho fogão de barro!...
José Ouverney – Pindamonhangaba

A minha roça eu troquei
pelas luzes da cidade.
Nesse dia eu comecei
meu plantio de saudade!
Arlindo Tadeu Hagen – Juiz de Fora

Tenha isto como norma,
que aprendi com meus avós:
“Os amigos são a forma
com que Deus cuida de nós!”
Amilton Maciel Monteiro - S.J.dos Campos

As mães são divinas plantas
que deram flores, sementes...
Para Deus são todas santas,
com milagres diferentes!
Maria Nascimento – Rio de Janeiro

Vou dormir porque preciso
com você, mamãe, sonhar,
e sonolenta analiso:
não vou querer acordar!
Vânia Souza Ennes – Curitiba

Deus, em toda a sua glória,
com tanta grandeza e brilho,
pra completar sua história,
quis ter mãe e quis ser filho!
Gislaine Canales – B. Camboriú

Liberto a paixão contida,
seco as lágrimas do pranto...
e canto... à beira da vida
o meu canto ao desencanto...
Maria Lua – Nova Friburgo

Nos momentos de tristeza
o silêncio é tão intenso
que a solidão, com certeza,
escuta tudo o que eu penso...
Izo Goldman – São Paulo

Fico em teus braços...Depois,
Rogo a Deus, mais uma vez,
Que o segredo de nós dois
Fique só entre nós três.
Cezário Brandi Filho

Na Vila Rica de então,
Quis o destino imprevisto,
Que um pobre artista sem mão
Esculpisse as mãos de Cristo.
Dormevilly Nóbrega

Planta um beijo em meu jardim,
meu amor, quando te fores,
que ao ver teu beijo florir
murcharão as outras flores!
Pedro Emílio – São Fidélis
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Fonte:
Colaboração de Antonio Manuel Abreu Sardenberg

Urda Alice Klueger (Rosina x Pedro)


Rosina foi a própria imagem da desolação nas semanas que se seguiram. Deus do céu, como tivera a coragem? Virgem Santíssima, como pudera pecar assim, esquecer-se das promessas sempre renovadas de virtude que por anos e anos fizera nas tardes da capelinha? Oh! Como enfrentar de novo a serenidade e a pureza de Nossa Senhora, ela que se deixara contaminar pela impureza, ela que tudo jogara fora por um momento de loucura? Sim, pois estava convencida de que jogara fora inclusive o almejado noivo, aquele homem bonito que chegara a falar em casar-se com ela, aquele homem que, pela primeira vez na sua vida que já era de solteirona, chegava e falava-lhe em casamento. Meu Deus, meu Deus, como voltar atrás? O seu noivo chegara e se fora; não iria mais ele querer casar-se com moça assim fácil, moça desonrada, moça que se entregava no meio do mato ao primeiro que aparecia. Haveria algum meio de ele saber que ela não era a mulher fácil que parecia, que se ela se entregara fora porque já não resistia, fora porque já não sabia viver sem ele? Amargas lágrimas chorava ela agora, escondida no mato, naquele lugar do seu pecado, enquanto a família a imaginava a rezar na capela, já que lá não tinha mais a coragem de ir e enfrentar a Virgem Santíssima. Depois de uns dias, assustou-a uma nova imagem: e se viesse a ter um filho? Parada no mato, hirta e branca, as rosas sumidas de vez das faces, Rosina quase enlouqueceu com a idéia. Meu Deus, se o pecado tivesse lhe deixado um filho? Que seria da sua vida? Oh! Se o pai a descobrisse desonrada e grávida o que aconteceria? Talvez até o pai morresse de desgosto, talvez também a mãe morresse, mas antes eles a expulsariam de casa, colocá-la-iam na rua, todo o mundo saberia do seu pecado — como quase não enlouquecer com a idéia? Amargas lágrimas chorava Rosina. E lágrimas de dor vinham junto e misturava tudo, pois, mais que o terror pelo pecado, mais que o medo do pecado, o que lhe doía era a perda de Pedro, do noivo que, afinal, lhe aparecera. E o que doía mais não era a perda que ela julgava irremediável, mas a saudade que sabia que ficaria para toda a vida.

— Oh! Mãe Santíssima! — rezava ela nessas horas. — Que eu possa vê-lo de novo quando passar, nem que seja de longe!

Inexperiente Rosina, quanto sofrimento à toa! Como passaria ele de longe depois de ter provado o sorriso de ouvi-la delirar incoerentemente sob o seu peso? Nada ela sabia dessas coisas, tinha a alma virgem, pensara sempre num noivo como numa solução social, como alguém a quem servir e para quem trabalhar, alguém a quem dar filhos, sem se deter muito nas minúcias de como seria o gerar desses desejados filhos que ela criaria com desvelo. Nunca imaginara as sensações pecaminosas que Pedro de Souza viera lhe trazer e que estavam a voltar a cada instante e que a horrorizavam, principalmente a daquele desmaio de ventura ocorrido no momento do pecado e que ela não podia esquecer. Inexperiente Rosina, italiana e católica, quanto sofrimento à toa!

***
Pelo resto dos seus dias, Pedro de Souza não mais esqueceria aquele desmaio de prazer de Rosina Viviani sob o seu peso no leito rústico da floresta que envolvia o lugar chamado Rodeio, lá na serra-abaixo, na terra dos italianos.

Foi-se ele embora, naquele dia, tão cheio de excitação quanto quando chegara, apesar da doçura daquele êxtase que o lavara como uma chuva de verão lava uma planta ressequida e empoeirada. Foi-se embora excitado e, na sua cabeça e no seu coração, agora, Rosina imperava absoluta, com suas rosas nas faces e sua harmonia de delírio, e ele sentia-se esfomeado e sedento dela muito mais do que se sentira antes. Voltou ao Planalto como se vagasse dentro de um sonho e a mãe viu-o chegar assim e entendeu que o tempo chegara, o de dividir a casa com outra mulher, mas nada disse. Esperou que ele falasse, mas os dias passavam sem que ele nada dissesse.

Pedro esteve com sua índia, sua Maria, não dissemos antes que ela se chamava assim. Ela ainda era pouco mais que uma menina, teria dezoito anos, talvez dezenove ou vinte, e continuava mansa e terna sob o seu corpo, e ele viu quanto era morno o prazer que sentia com ela, quanto era morno perto da sensação de poder e de absoluto que houvera com Rosina.

Pedro de Souza partiu a cavalo e chegou ao lugar chamado Rodeio alguns dias depois. Ansiava rever Rosina como nunca ansiara nada na vida, e foi direto ao sítio onde ela morava. Chegou de tarde, quando estavam todos na roça, e para a roça tocou o cavalo bonito, malhado, e apeou-se junto ao velho italiano Viviani, tirando o chapelão com todo o respeito.

— Boas tardes! Como vão todos por aqui?

Giuseppe Viviani já o conhecia, tinha até uma certa cisma com ele por causa de Rosina, mas achava-o simpático, apesar das suas desconfianças.

— Boa tarde. Vamos trabalhando.

Chapéu na mão, Pedro aproximou-se mais. Via Rosina, pouco adiante, pálida como uma morta, fazendo de conta que trabalhava.

— Eu vim para tratar de um assunto com o senhor.

O velho Viviani ainda demorou uns momentos antes de parar de trabalhar e apoiar-se na enxada.

— É assunto de negócio? — cada qual falava a sua língua, mas conseguiam entender-se.

— Não, não é negócio. Vim lhe falar de casamento. Queria lhe pedir para casar-me com a sua filha Rosa.

Por aquela não esperava o velho italiano! Aprumou-se com tal rapidez que a enxada caiu e ele nem se lembrou de ajuntá-la.

— O senhor disse... — ele deixou a frase no ar. Talvez não tivesse entendido direito, o outro falava português, talvez tivesse dito outra coisa que ele confundira.

— Eu quero casar com a sua filha Rosina. Casar, entende?

Giuseppe Viviani ficou um bom minuto olhando fixo, através do corpo de Pedro. Achou de novo a palavra.

— E o senhor é católico, católico praticante?

Católico Pedro era, fora batizado, fizera a primeira comunhão, mas para ser praticante faltava muito. Não titubeou, porém, em responder:

— Sim, senhor, sou católico praticante. — E tirou do peito do futuro sogro uma preocupação grande. Para ninguém Giuseppe nunca dissera, mas sempre temera que algum homem luterano se interessasse por Rosina. Não deu o suspiro de alívio que queria, mas continuou a olhar fixamente através de Pedro, até, de repente, reagir.

— Rosina! — gritou. — Vem aqui!

Ela se aproximou, os olhos vesgos abaixados e escondidos, e Pedro de Souza, como sempre que a via, fremiu de excitação e de desejo.

— Este homem aqui quer casar-se contigo. O que tu dizes?

Como, como chorar de emoção frente à formidável presença da autoridade que era o pai. Ela se conteve e não chorou, mas queria morrer de alegria. Arriscou um olhar para Pedro, e como ele achou lindos os enviesados olhos dela!

— Que tu dizes?

Oh! Como achar a voz, assim de repente?

— Sim, pai.

— Sim o quê?

Eu também quero.

O pai avaliou as rosas que começavam a se acender nas faces de Rosina, antes de gritar de novo, chamando a mulher.

— Vem cá, mulher! Vem até aqui. A tua filha vai se casar.

E a mãe de Rosina também veio e soube, e depois todos voltaram ao trabalho, e Pedro pegou na enxada e ajudou até que o crepúsculo caísse. Foi assim que Pedro de Souza e Rosina Viviani tornaram-se noivos.

Casaram-se quase duas semanas depois, quando o padre veio de Blumenau para rezar missa em Rodeio. O sogro arranjou para que Pedro ficasse hospedado em sítio vizinho, já que não podia admitir que um noivo dormisse sob o mesmo teto que a sua filha antes do casamento. Pedro vinha todas as manhãs e trabalhava nas roças, e às vezes conseguia surrupiar um momento de intimidade com a vigiada noiva Rosina e roubava-lhe um beijo apressado e cheio de promessas, que o deixava quase maluco. Era ele um homem já maduro, já com trinta e sete anos, não tinha mais a paciência de esperar como os jovens têm. Mas esperou e casou, e sua noite de núpcias foi no quarto de Rosina, apenas uma parede de madeira a separá-los dos velhos Viviani, e como se contiveram para não deixar escapar os suspiros e os ais! Intensa noite de prazer, parecia ainda mais intensa com aquele gosto de proibido, com aquele gosto de vigilância, ai! Deus do céu, que coisa louca que foi!

Viajaram no dia seguinte para o Planalto. Pedro colocara a sua Rosina montada no cavalo malhado e lindo; ia ele a pé, puxando pelo cabresto uma mula que arranjara, em cima da qual estava amontoado o enxoval dela. Não andaram muito naquele dia, porém. Na verdade, andaram apenas o suficiente para se afastarem de Rodeio e dos moradores que ficavam próximos do caminho. No primeiro eito da mata fechada que apareceu, amarrou Pedro o cavalo e a mula a uma árvore afastada e improvisou um leito primitivo e rústico no meio das folhagens da mata e para lá arrastou uma envergonhada Rosina, que ainda não conseguia dissociar a idéia do que estava acontecendo com a idéia do pecado, mas que, afinal, teve a liberdade de soltar os suspiros e os ais, e que delirou uma melodia toda nova que ecoou pela Floresta Atlântica como o mais mavioso dos cânticos.

Fonte:
CARDOZO, Flávio José (org.) Este Amor Catarina. Florianópolis: UFSC, 1996.

Urda Alice Klueger (1952)


(Blumenau, 16 de fevereiro de 1952) é uma escritora e historiadora brasileira.

Começou seus estudos na sua cidade natal, na Escola São José. Cursou o ginásio e o científico no Colégio Pedro II, também em Blumenau. Mais tarde, iniciou o curso de Economia (UNIPLAC), que não chegou a completar, na cidade de Lages. Finalmente, licenciou-se e especializou-se em História, pela FURB, em Blumenau.

Lecionou como professora de História no ensino fundamental, em escola pública, nos anos de 2001 e 2002, e ensino médio em 2003.

Atualmente, realiza pesquisa sobre os sambaquianos, antigos moradores de Santa Catarina, entre seis mil e dois mil anos atrás. A pesquisa iniciou-se em 1997 e resultou no livro O povo das conchas. Ela já gerou uma trabalho de conclusão de curso, uma monografia de especialização, e está gerando um romance-histórico, e uma dissertação de Mestrado.

É membro da Academia Catarinense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, da União Brasileira de Escritores e da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil.

Participou de várias antologias, foi colaboradora de várias revistas e jornais. Publicou cento e cinqüenta crônicas no jornal A Notícia, de Joinville, aproximadamente cento e trinta no jornal Expresso das Nove, de Açores, Portugal e também foi cronista do jornal Diário Catarinense, de Florianópolis.

Seu primeiro grande sucesso foi "Verde Vale", que conta uma saga dos primeiros colonizadores de Santa Catarina. Outros trabalhos seus são "As brumas dançam sobre o Espelho do Rio" (hino à natureza, à liberdade e ao amor), "No Tempo das Tangerinas" (conta a vida dos colonizadores do Vale do Itajaí, durante a Segunda Guerra e como a vida resiste às angústias, "A guerra nunca acabava, mas o tempo das tangerinas voltava sempre."), "Vem, Vamos Remar" (sobre as enchentes de Blumenau), "Te Levanta e Voa" (sobre jovens a procura de seu destino), "Cruzeiros do Sul", "Recordações de Amar em Cuba II", "A Vitória de Vitória" (infanto-juvenil) e "Entre Condores e Lhamas".

Urda escreve, com linguagem simples e objetiva, obras consistentes e seu texto tem sabor de poesia.

Fontes:
Escritores do Sul. http://www.escritoresdosul.com.br/
http://pt.shvoong.com/books/biography/1660807-urda-alice-klueger-vida-obra/

Urda Alice Klueger (A escritora em Xeque)


Data e local de nascimento:
Blumenau/SC, em 16.02.1952 – numa madrugada de Carnaval.

Como você se define?
Como uma cidadã da América dita Latina. Já não consigo pensar a vida em termos locais ou nacionais. A América é uma grande unidade que está dentro de mim.

Qual o seu próprio livro preferido?
“Cruzeiros do Sul” e “Sambaqui” – ambos romances-históricos.

Você é uma leitora voraz desde criança pequena. Comente um pouco da sua infância e de como começou o seu amor pela leitura.
Eu tive aquela tradicional infância de quem se criou antes da geladeira e da televisão. Meus pais, ambos, eram os primeiros de cada família a terem saído da agricultura, e até hoje sei um bocado a respeito, aprendido na nossa horta, pomar, galinheiro, jardim. Antes de ir para a escola, eu passava todo o tempo possível imaginando histórias. Quando fui para a escola e fui alfabetizada, continuei a imaginá-las, mas passei a lê-las, também. Ainda não parei.

Já li a respeito do medo que você tinha na época da ditadura, bem como as dificuldades de manifestação na sua época de juventude. Fale um pouco sobre isso.
Eu me auto-classifico como fazendo parte da geração do medo. Fui da turma que se criou tendo um medo danado de dar opinião política, de “achar” alguma coisa – e sumir, ser torturada, talvez nunca voltar. É bem difícil a gente vencer tais coisas. Hoje milito em Movimentos Sociais e enfrento bastante situações de perigo, como confrontos com a polícia (noutro dia, numa ocupação do MST em Papanduva/SC, tivemos que enfrentar até o exército brasileiro, hehe!) ou com idéias de outros – e o medo permanece. O que aprendi é que a gente tem que encarar o medo e fazer o que acha que está certo, senão a vida não vale a pena.

Você é de uma família de direita e conservadora. Como eles reagiram quando, digamos assim, você foi para o outro lado?
Minha mãe também foi mudando, conforme as coisas no mundo foram mudando. Meu pai faleceu muito cedo, não chegou a ver tais coisas. Penso que minhas irmãs, até hoje, não se conformam muito com a minha mudança.

Já tendo trabalhado na Telesc, na Caixa, entre outros, em seus períodos de lutas, você acredita que é possível um escritor ter um emprego muito diferente da sua área de atuação (geralmente por questões financeiras, já que é difícil ganhar dinheiro com literatura) e ainda assim ser feliz?
Sou a própria. Abrindo cadernetas de poupança na Caixa Econômica Federal conheci tanta gente e tantas histórias de tanta gente que pude compor um livro como “Cruzeiros do Sul”, por exemplo. Talvez não tivesse aprendido tanto sobre gentes se não tivesse trabalhado lá.

Você sempre acreditou em sua vocação para os livros? Aliás, você acredita em vocação, talento, dom, estas coisas? E para escrever?
Acreditar eu acreditava, desde criança – mas acreditava numa coisa muito menor. Eu sonhava que escreveria um livro que teria 1.000 exemplares e que seria lido em Blumenau. Esta coisa de ser lida em três continentes (às vezes quatro, quando me traduzem para o árabe) nunca tinha passado pela minha cabeça até começar a acontecer. Vocação, talento, dom – é uma discussão braba, pois tem muita gente que discorda completamente. Mas eu acredito que existe. Lá pelos três anos de idade a minha vida já era uma vida de imaginar histórias – e ainda o é! Na adolescência descobri que queria ser arqueóloga – acabei historiadora, envolvida com arqueologia. Como explicar tais gostos tão poderosos?

Quando você decidiu escrever o primeiro livro?
Um pouco depois dos vinte anos. Achei que era tempo de levar a sério aquilo que fazia sem parar. Então sentei, e em pouco mais de um ano escrevi “Verde Vale”.

Você tem rotina para escrever?
Algumas. Gosto muito de escrever em campings. Ou em lugares com natureza. Tenho um lap-top só para tais ocasiões. Também não sei escrever nada tendo tomado algum álcool. Escrevo melhor à noite do que de manhã.

Quais as suas influências literárias?
Muitíssimas! Todas as leituras, tudo na vida, todas as viagens... A vida e a arte são coisas intrinsicamente enoveladas.

Pode citar pelo menos 1 ou 2 livros marcantes na sua vida e dizer o por quê?
“Os frutos da terra”, de Knut Hamsun. “O tempo e o vento”, de Érico Veríssimo. “Os pastores da noite”, de Jorge Amado. Por que? Porque são livros que me falaram profundamente à alma.

Você se considera uma escritora blumenauense, catarinense, brasileira ou sem rótulos?
Eu me considero uma escritora.

Já tendo conhecidos diversos lugares no Brasil e no mundo, você nunca pensou em construir sua vida longe de Blumenau?
Já pensei muito, sim. Antigamente, tal lugar seria Salvador, que eu acho um dos melhores lugares do mundo. Hoje, além de Salvador, penso muito, também, em Cusco e em Quito.

E os hippies em Blumenau nos anos 70? Eles verdadeiramente lhe fascinavam?
Quanto aos hippies - que dizer mais forte que o encanto que eles tinham e deixaram? Minha vida ainda hoje é encantada por aquele tempo, por aqueles acontecimentos. Eu acho que eles não me fascinavam, eles me fascinam até hoje!

Quando se fala em Blumenau, a primeira coisa que muitas pessoas associam é a Oktoberfest. O que você recomenda em sua cidade além desta festa? E em literatura? Quais os escritores da cidade que você gosta?
Complicou. Na verdade, para mim, quando se fala em Blumenau, a primeira coisa que penso não é a Oktoberfest, mas os desalojados das suas casas e terrenos pela Tragédia das Águas de novembro de 2008. Até hoje não se fez uma casinha que fosse para eles, que continuam vivendo da pior forma possível, em abrigos coletivos, apesar das imensas quantidades de dinheiro que vieram para esta cidade para que tal fosse feito. Não é nada fácil viver aqui. Sobre escritores, eu gosto muito do Viegas Fernandes da Costa, do Maicon Tenfen, da Taninha Rodrigues...

E os escritores do sul. Quais os seus preferidos?
Sem dúvida, cá no sul, a grande estrela, para mim, é Érico Veríssimo. Faz pouco tempo que cheguei a ir passar uns dias em Cruz Alta/RS, só para ver de verdade a terra dele, os campos dele. Tenho uma série de crônicas intituladas “Os campos de Érico Veríssimo”. Penso que um dia elas comporão um livro.

O que é ser uma "romancista histórica", como já vi você se auto-denominar?
É não conseguir trabalhar com a ficção sem um fundo histórico. Na verdade, penso que a grande maioria dos escritores vive dando testemunho da História, testemunho do seu tempo. Ouvi Salim Miguel, faz algum tempo, dizer que não gosta de romances-históricos, quando acabava de lançar um fascinante romance-histórico chamado “Nur na escuridão”! (livro que a gente não deve deixar de ler)

Fale um pouco dos aspectos germânicos e da miscigenação em seus livros.
Um dia, mais de 30 anos atrás, eu escrevi dois livros sobre alemães e seus descendentes. Um sobre a imigração para o Vale do Itajaí (Verde Vale) e outro sobre os descendentes daqueles (No tempo das tangerinas) vivendo o período da segunda guerra mundial – e adquiri o rótulo de escritora que fala sobre alemão. Depois disso já escrevi mais 18 livros sobre os mais variados assuntos, mas não tem o que me faça perder aquele rótulo antigo. Não sou absolutamente germânica – sou uma brasileira de muitas origens (em mim se misturam, no mínimo, seis etnias) – e acho que é este fato de ser tão mestiça que me leva a falar, de vez em quando, nas miscigenações.

Você acha que pra se tornar um grande escritor é necessário trabalho duro, como um "operário da escrita" ou é uma questão de mero talento?
Acho que há que haver as duas coisas. E muita leitura, muita mesmo – pelo menos uns 2.000 livros, quando me perguntam a quantidade. Tem escritor que nunca leu nada, escreve qualquer coisa meio intragável, e depois culpa o mundo pela sua falta de sucesso.

Dois mil livros? Se uma pessoa ler 1 livro por semana ininterruptamente (48 por ano) levará em média então 42 anos para ser um escritor? Isso é possível?
Eu considero nesses 2.000 livros a começar por aqueles livrinhos que a sua mãe leu para você lá n infância (eles são um bocado importantes!). Depois, provavelmente você leu livros dos quais não se deu conta, como um livro inteirinho de bulas de remédio, por exemplo. No meu caso, no comprido período que abrange o final da infância/adolescência/começo da vida adulta, lia algo como um livro por dia - era rata de biblioteca mesmo. Depois, as leituras começam a ficar mais profundas, e a gente demora mais - mas aí já tem um bocado de livro lido na reserva. Para você ter uma idéia, o meu sonho de criança era completar 12 anos, para poder ser sócia da biblioteca pública daqui de Blumenau - pois antes dos 12 anos já lera tudo o que havia na minha casa, na minha escola, nos meus parentes, nos meus vizinhos, e isto incluía as enciclopédias Barsa e Dela Larousse inteiras. Eu digo 2.000, mas isto é um número aleatório, só para dar um corte naquela gente que chega dizendo que quer ser escritor, e a gente pergunta: "E costumas ler?" e a pessoa, cheia de empáfia, declara: "Claro! Já li 12 livros!" - comprendes, não?

Você acha que publicar livros no Brasil é fácil ou difícil?
Para mim, sempre foi fácil.

O que você acha das publicações virtuais? Para vão os livros com inovações como o Kindle?
Ih, eu ainda nem conheço o Kindle – mas imagino o que seja. Acho é que sempre terá que haver um livro (de papel ou de outro jeito) que a gente poderá levar para a cama, para a praia, para a rede... Ler direito na telinha do computador é bastante cansativo.

Hoje você já consegue viver da literatura?
Nem pensar. Vivo do meu salário de aposentada, e de outros trabalhos.

Você gosta mais de escrever crônicas, romances, ensaios, artigos históricos?
O romance-histórico e a crônica, nesta ordem.

Você já escreveu para o Jornal Diário Catarinense. Por que você saiu? É verdade que aconteceu uma briga?
Briga das feias – e que me fez o maior bem. Quando o editor chefe do jornal me contatou para escrever para eles, eu já disse a ele que não daria certo, pois tínhamos pensamentos opostos, eu e o jornal, mas ele disse que o meu pensamento seria respeitado. Então passei a escrever para eles, algo como 80 semanas, penso, e me respeitaram durante tal tempo. Mas há um assunto que os donos do jornal não suportam: que se defenda a Palestina. E foi por aí a coisa: numa das minhas defesas da Palestina, o bicho pegou. A briga foi tão feia, na época, que envolveu gente de 12 países. Claro que fui demitida – mas saí de um pequeno universo de 30.000 leitores para um outro universo que envolve três continentes, às vezes quatro. Foi muito bom.

Quando você se formou? Conte um pouco sobre a sua escolha na faculdade.
Lá na época certa, na juventude, andei fazendo Economia, mas não cheguei a me formar. O sonho era ser arqueóloga, e quando não se pode ser arqueóloga, o caminha seguinte é ser historiadora. Esperei um bocado para tanto, no entanto. Fui fazer minha faculdade de História às vésperas da aposentadoria, quando decidi que era tempo de ser feliz!

O que você vê de mais negativo e positivo nas universidades brasileiras hoje, seja numa faculdade de História ou qualquer outra?
Vejo muito ranço, um ranço danado. Há uma ou outra que escapa daquela coisa de ser mera reprodutora da sociedade vigente e fazer o jogo do Capital e dos poderes estabelecidos – mas a maioria se ajoelha diante dos velhos preconceitos da sociedade e das regras do deus Capital com a maior subserviência. Felizmente, há as exceções.

Você acredita que um escritor precisa de algum diploma em alguma área determinada?
Um escritor precisa ler muito – e escrever.

Como surgiu a editora na sua vida?
Medo de não ter o que fazer quando me aposentasse. Não queria me aposentar e ficar vendo a sessão da tarde.

Como deve proceder quem tem interesse em publicar pela sua editora?
Procurar a Sandrinha no hemisferiosul@san.psi.br e encaminhar para ela um original impresso, para ser passado para o conselho editorial. Só vale romance, conto e cônica. A Hemisfério Sul não publica livros técnicos, poesia, auto-ajuda, etc.

Defina algumas palavras:
Amor – Boooommmm!!!
Sexo – Booommm!!!
Liberdade – Melhor ainda!
Religião – Procuro respeitar todas
Deus – Sou agnóstica
Inteligência – conseguir enxergar adiante do que diz a televisão normal e a revista Veja.
Burrice – das piores: acreditar na revista Veja, por exemplo.
Prosperidade – Estar em harmonia consigo próprio, com o mundo, com a natureza – e com as outras pessoas capaz de estarem assim.
Vida – É muito curta.
Morte – Que pena – poderia demorar mais um pouco.

Qual o sentido da vida pra você?
Vou citar o Che: “Se és capaz de indignar-te diante de qualquer injustiça , esteja onde estiveres, então somos companheiros”.

Como gostaria de morrer?
Gostaria de poder viver uns 800 anos, para dar conta de fazer todas as coisas que queria, principalmente escrever. E morrer rapidinho, sem sofrimento, assim dum infarto, como a minha tia Frieda.

Quais teus sonhos?
Algum dia escrever muito bem. Algum dia ver o mundo sem guerras, sem fome, sem injustiças.

Já usou drogas, inclusive bebidas?
Muito, mas muito mesmo cuba-libre. Só que parei, faz uns dez anos.

Gostaria de deixar alguma mensagem?
Que deixemos de olhar para os nossos próprios umbigos. Que nos inteiremos que estamos cercados por um mundo onde há bilhões de pessoas com fome de comida e de justiça, e de tantas guerras horripilantes, quase sempre criadas pelo deus Capital.

Fonte:
http://www.escritoresdosul.com.br/

Livro "Bar do Escritor"



Após muito esforço de todos – principalmente de Giovani Iemini e Cristiano Deveras, os organizadores da antologia – está disponível para o público o livro “Bar do Escritor”, editado pela LGE.

O livro conta com a participação de 38 autores dos mais diversos estados do país e, como não podia deixar de ser, dos mais diversos estilos literários, fazendo jus ao subtítulo: “Anarquia Brasileira de Letras”.

Com 271 páginas, entre contos, crônicas e poesias dos mais variados universos da literatura brasileira, o “Bar do Escritor” compõem uma representação consistente do panorama literário nacional, apresentando textos que passam pelo realismo, pelo naturalismo, romantismo, modernismo, pós-modernismo… Até mesmo entre os gêneros literários percebe-se a mistura entre sonetos, hai kais, microcontos, contos, crônicas, etc.

O livro foi publicado em formato “pocket” (10,5 x 17,5 cm), visando atingir um preço de venda que fosse literal e literariamente acessível. Deve-se destacar também a iniciativa, exposta na última página do livro, de estímulo à doação do exemplar após a leitura. Mesmo que o livro tenha um custo baixo para os padrões nacionais, apenas R$10,00, o incentivo à leitura é algo que sempre gera frutos e que deve ser posto em prática por todos que se preocupam com os rumos da literatura nacional.

Organização: Giovani Iemini
Autores: Alan Nery, Anderson H, Ângela Gomes, Ângela Oiticica, Carlos Cruz, Cristiano Deveras, Edson Feuser, Eduardo Perrone, Elô Barreto, Emerson Wiskow, Filipe Celeti, Flá Perez, Giovani Iemini, Glauber Vieira Ferreira, Ivo Venarusso, Ükma, Larissa Marques, Lena Casas Novas, Leonardo Spoke, Lilly Falcão, Magmah, Maria Ligia Ueno, Matheus Costa, Me Morte, Muryel de Zoppa, Pablo Treuffar, Paulinho Di Andrade, Renato Saldanha Lima, Rita Medusa, RM Sant´Ana, Robertón Hefler, Rodrigo Domit, Ruy Villani, Sabrina Costa, Sandra Santos, Vinícius Paioli, Wilson Roberto C. Almeida e Zulmar Lopes.

Fonte:
http://bardoescritor.wordpress.com/tag/pablo-treuffar/

Lecy Pereira (Infinitivos)



Você me amar, perguntar.

Até o limite do assombro, responder.

Desaparecer, algo inimaginável. Ele, ela, eles, elas, nós, vós.

Há uma cidade correndo inteira por cabos telefônicos em postes. Correm as vozes num fluxo verbal congestionante.

Esperar que ela me entendesse quando atendesse a chamada. Ontem foi difícil, talvez não menos que agora. Aquelas fotografias congelaram um beijo que recebi numa festa tecno, dizer numa "rave". Esse é o terrível terreno da subjetividade. Suposições. Que último romance Dulcinéia ler? Que último filme assistir? Há de ser a adaptação de "Ensaio sobre a cegueira" por Walter Sales Jr. ou "Meu nome não é Johny". Que música ouvir ou quadro a reparar: cena rural, soberbia urbana, abstrações, viagens oníricas? Há na rua da selva, onde os homens não têm nome, mas números, um leopardo a nos espreitar com seu olhar agridoce numa busca elegante, imponente, por presas que afiem mais suas presas que dariam curiosos souvenires pendurados no pescoço da modelo desfilando a moda praia na passarela anoréxica.

Amar sob o filtro das luzes desse teatro de arena. Que entrem os leões! Espere, há um erro de texto. Que entrem as ninfas! Ele vive num rio de incertezas urbanas a questão em sua mente é por que alguém procura alguém para ser senhor ou senhora. A perpétua cumplicidade de um cão e seu dono feito um par de olhos cegados sendo guiado por outro par de olhos sãos. Ele tem dúvidas de amor na sórdida mitologia contemporânea. A estranha necessidade da certeza.

Se ela não amar, desaparecer.

Culpar eles que mais sabem impedir a consumação de um amor. Eles que povoam a noite de assombro. Eles que não suportam ver amar ao sabor das ondas calmas. Eles da turma dos filhos de Caim, esses que vivem a vagar sem um riso no rosto e não suportam o triunfo das belas artes.

Você me amar, ela perguntar.

Iludir, indefinir, ele responder, amar o fluir, o amanhecer. Só a essência permanecer, entender?

Será que algum dia eu caber em sua beleza, ela perguntar.

Você caber em meu fazer, ele responder.

Tudo afirmar. Medo de ver o tempo correr. Cada dia ela passar ao som do reggae, do samba, da bossa nova.

Quem eu amar, muito querer me fazer sofrer, ferir, ignorar, humilhar, ele dizer. Parecer que amar se sustentar de antônimos.

A gente se encontrar numa danceteria, ela falar, muito dançar, muito girar, globo, câmera lenta. Nossa história de desenredo começar. Beijar, beijar, lembrar disso?

Isso. Hoje só lembrar, fotos, filmes, objetos, uma lua logo ali, o sol ao sabor do ventar do nosso amor de férias.

Você me amar de verdade, ela perguntar.

Sim, sim, sim, te amar, até aprender a deixar de ser, ele responder.
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Sobre o autor
Lecy Pereira Sousa
Nascido em Almenara - MG, 39, Auxiliar de Biblioteca, alterna moradias em Belo Horizonte e Contagem. Participou da fundação da Academia Contagense de Letras - ACL. Escreve contos, crônicas, poemas e outros rascunhos no meio da noite. É entusiasta dos blogs, mas não dispensa um caderno e uma caneta.
Escreve para o site Gosto de Ler, participa do projeto "A tela e o texto" idealizado pela Universidade Federal de Minas Gerais. Participa do Projeto Pão e Poesia, idealizado pelo poeta Diovvani Mendonça. Um dos seus vários endereços na Internet é www.lecypereira.blogspot.com. Publicou em 2008 o livro de poemas "Primeirapessoaplural" pelo selo Arvore dos Poemas.
Uma de suas frases prediletas é : "segure a onda!"

Fonte:
Portal Gosto de Ler.

Lecy Pereira (Ser humano e poeta )



Aqui estou desarmado de maneirismos e friezas para escrever acerca do que em mim provocou a pré-leitura de “Poemas” - de Rogério Salgado - o livro que é a edição comemorativa dos trinta e cinco anos de vida poética desse Goytacazense (RJ) curtido e apurado em Belo Horizonte, mas cidadão do mundo.

Que o poeta é só mais um na calçada, isso já nos disse o operário da poesia Rogério Salgado. Essa constatação, por si, seria suficiente para nos tirar do terreno das vaidades e nos trazer às pedras - aquelas calcárias e basilares que vão surgindo no caminho de qualquer um ao longo dos anos existenciais. Por outro lado, diante das asperezas e da crueza cotidiana podemos enxergar naquela afirmação algum lamento, certa alta-compaixão e entendemos também que, sim, o poeta merece os holofotes, a projeção, a visibilidade, o respeito pela envergadura do seu trabalho (se isso ocorrer em vida) ou do seu lazer. Essa dicotomia final se deve à interpretação miserável que a palavra “trabalho” ganhou ao longo dos séculos. Trabalho é aquilo que nos escraviza e nos faz sofrer, eis a frase subliminar. O homem precisa do lazer para sentir-se feliz e descansado e para se entregar às atividades intelectuais que muito colaboram para seu crescimento mental e espiritual. Então, o poeta Vinícius de Morais vivia/vive em gozo eterno, posto que sua poesia fosse/é seu lazer.

Estaria Rogério Salgado celebrando trinta e cinco anos de trabalho ou lazer tendo atravessado os anos de chumbo que, mesmo com a dureza imposta à América do Sul avassalada pelas superpotências e pela arrogância dos generais, pareciam bem mais românticos na legitimidade dos ideais que o Século Vinte e Um? Os poetas são vistos como seres dislexos, dissimulados, irresponsáveis. Se não vivem na boemia, não são poetas e se são poetas, não merecem crédito haja vista que a poesia não rende salário mensal (no caso da maioria dos poetas). Ou a maioria dos poetas não têm noções mínimas de empreendedorismo (formação de sindicatos, casas de poetas para acolherem poetas abandonados pelo sistema, etc.) ou não têm o menor interesse de ganharem a vida com a poesia, e isso só é possível com empenho, paixão e a apresentação de um trabalho eminentemente poético ao longo dos anos. Num país gigantesco como o Brasil só é possível ser poeta, ser boêmio, ter família, ser respeitado por seus pares e ímpares e encarar tudo como um simples lazer dada diversidade social e cultural em que vivemos. Muitos jovens desistem da poesia ao descobrirem que esse “negócio” não rende salário no início de cada mês. Isso nos leva a crer que ser poeta no Brasil significa ser mágico.

O parágrafo anterior ressoa fora do contexto após a introdução, mas ele problematiza (um pouco mais) a situação do fazer cultural no país que clama por pessoas que lutem bravamente pela dignidade das artes e faça que elas cheguem aos mais simples e desprovidos de bagagem cultural. Mais difícil: faltam pessoas que, por ações coletivas, transformem as pessoas comuns em protagonistas da sua própria arte, aquela que habita em cada coração à espera de lapidação e não de lápide. Uma parcela da sociedade está sempre a esperar por heróis. Homens desprovidos de preguiça, dispostos a enfrentarem a burocracia partidária, a atraírem para si toda responsabilidade por erros e acertos e todo tipo de crítica pesada por fazer o que outros até gostariam de fazer, mas temem o erro, a crítica e o fracasso.

Rogério Salgado tem feito de sua vida uma contínua labuta em prol da poesia e daqueles que a cultivam seja em seus amplos apartamentos, casas com quintal e pés de manga ou casebres honrados nas favelas. Há também aqueles que não têm casa e vivem ao sabor da estrada. Os projetos requerem do poeta tal frieza que suscitam questionamentos acerca do lirismo de seus poemas. Só o amor a uma causa pode mover alguém em sua persistência. Aqui lembro a dedicação do acadêmico e escritor Vivaldi Moreira. A Academia Mineira de Letras deve muito ao destemor e por que não dizer à loucura daquele homem.

Simples e compacto “Poemas” é um livro que marca um tempo na existência de Rogério Salgado não pela síntese, mas por estar impregnado e imiscuído nas mudanças de tantas estações anuais. O que menos identifico nessa leitura é aquilo a que chamamos de “pretensão”. Rogério Salgado não quer nada, senão deixar o testemunho literário de um homem que vive de poesia. É conhecida sua declaração antecipada de que não deseja homenagens póstumas. Isso ele também me disse em plena Praça Sete de Setembro. O fator humano habita o tempo presente e qualquer celebração fora dele só nos remete à memória. Na maior parte do tempo celebram-se ausências passadas e futuras com o agravante do esquecimento pleno.

Logo de início “Poemas” trás “Punhal de mal” letra escrita em parceria com Eleonora Peixoto que levou o 1° Lugar no Festival de Música do SESC em 1979. Nota-se o drama, a sequência cinematográfica, um clímax que nada tem de datado.

Em seguida, numa dedicatória a Maiakovski, Rogério pinta mais uma vez o cenário da realidade e alfineta os poetas que a si dão demasiada importância na busca frenética por uma foto no jornal.

Adiante chama a atenção o sarcasmo de “País Tropical” que longe de ser erótico retrata mais a miséria imposta. O Brasil nunca foi um país miserável, mas é pródigo em atitudes que perpetuam a miséria. “Poema para meu aniversário” nos coloca diante daquela situação calcária de princípio e fim de tudo. O poeta é um aborrecido? O poeta é um revoltado? O poeta é um poço de remorsos? O poeta é um ateu? O poeta é um bicho triste que dói? Não, senhoras e senhores, antes de qualquer rótulo o poeta é um ser humano e, naturalmente, a espécie humana catalisa amor e ódio à desproporção.

Assim segue uma breve sucessão de simples poemas. Não devemos confundi-los com poemas simplistas. A dignidade é a palavra de ordem. Ora ao agrado, ora ao desagrado dos olhos leitores. Paciência. Esses são os ossos do ofício prazeroso ou não.

Afora uma incontestável carta de serviços prestados ao fazer poético, sempre revelando nomes de destaque no cenário literário e artístico, num país que ainda privilegia a corrupção e o coronelismo, chegar aos trinta e cinco anos de atividade poética sem “chutar o balde” significa o princípio da juventude para o ser humano que atende pelo nome de Rogério Salgado. “A vida poderia ser mais doce” – verso do poema O favo e a vela em parceria com sua esposa, a poetisa Virgilene Araújo, não resume a ópera do livro nem revela o quanto de formidável há no poema citado, mas nos convida a uma reflexão: o excesso de doçura amargo se torna. O pão doce perfeito leva sua pitada de sal. Tal é a função desses poemas: tempero temporal. Mas ainda não é o fim. Posto que poemaremos, poemaremos, poemaremos...

Fonte:
Portal Gosto de Ler.