sexta-feira, 22 de abril de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 192)


Uma Trova Nacional

A liberdade é bandeira
sempre erguida em mãos de um bravo,
que lhe entrega a vida inteira
para não morrer escravo!
–CAROLINA RAMOS/SP–

Uma Trova Potiguar

Enquanto a ambição nos traça
um caminho amargo e velho,
Jesus nos legou de graça
os tesouros do Evangelho!
–APARÍCIO FERNANDES/RN–

Uma Trova Premiada

1982 - Niterói/RJ
Tema : SILÊNCIO - M/H

O mundo, às vezes, parece
a cela escura e sem grade
onde, em silêncio, padece
um grito de liberdade!!!
–IZO GOLDMAN/SP–

...E Suas Trovas Ficaram

A glória dos homens brilha
com fulgor de eternidade,
toda vez que uma Bastilha
tomba aos pés da Liberdade!
–WALDIR NEVES/RJ–

Simplesmente Poesia

Quando eu curvo o joelho aos pés da cruz,
vejo o quanto Jesus Cristo sofreu,
eu pergunto a mim mesmo, por que foi,
que este filho inocente, assim morreu?

Peço a Deus, rogo a Deus, vertendo pranto,
que não deixe eu na vida sofrer tanto,
sendo um bom pecador como sou eu.
PROF. GARCIA/RN–

Estrofe do Dia

A quaresma é período de preparo
para a Páscoa bendita do Senhor,
penitência é a prática de louvor
que renova o espírito e dar-lhe amparo,
quem rezar e viver no mundo claro
por Jesus vai ser sempre abençoado,
tem um novo caminho iluminado
por um facho de fé que brilha aceso
-Na quaresma o jejum é contrapeso
que enfrenta os repuxos do pecado.
PEDRO ERNESTO FILHO/BA–

Soneto do Dia

–ALICE DE PAULA MORAIS/SP–
Os Olhos de Maria

Eram azuis os olhos de Maria!
Eram dois pedacinhos de turquesa
cheios de luz e plenos de beleza
mansa e sutil do declinar do dia...

Quando ao meigo Jesus ela sorria
tinha uns fundos toques de tristeza
e a clara transparência da pureza
e um misto de amargura e de poesia.

Lembravam os miosótis debruçados
junto à margem dos lagos sossegados,
doce Mãe do Senhor, Santa Judia!

E as lágrimas de dor dos vossos olhos
transformaram em flores os abrolhos
pelos caminhos que Jesus seguia.

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XVI – João Esperto


Havia um casal muito pobre, que tinha um filho de nome João, bastante espertinho; mas apesar disso sua mãe, mulher de beiço rachado e muito má, não gostava dele. João vivia só, sem ter com quem brincar. Seu único amigo era uma cachorrinha que sua avó lhe dera — a Pita.

Quando ficou moço, João saiu um dia a passear longe de casa. Pelo caminho encontrou um viajante com quem puxou prosa. Soube que no reino das Três Princesas, que era perto, ia haver o casamento de uma das moças. Para isso estava o rei dando uma festa de quinze dias, a fim de que os pretendentes à mão da princesa lhe propusessem uma adivinhação. Se ela adivinhasse, o pretendente ia para a forca; mas se não adivinhasse, então o felizardo se casaria com ela. Nas forcas já estavam pendurados diversos pretendentes que apareceram com adivinhações que a princesa adivinhou num instantinho.

João ouviu tudo aquilo e ficou a pensar. Quem sabe se ele venceria a princesa e se casaria com ela? Voltou para casa com um plano na cabeça.

— Meu pai, quero sair pelo mundo para ganhar a vida.

O pai consentiu, mas a mãe, que era a pior bisca das redondezas, preparou-lhe uma peça: deu-lhe um pão envenenado, imaginem! João arrumou a trouxa e partiu acompanhado da cachorrinha.

Mas onde era o caminho para o reino das Três Princesas? Não sabia. Nem havia por ali ninguém que pudesse informá-lo. João foi andando ao acaso, com a trouxinha ao ombro. Subiu uma montanha, desceu do outro lado, numa campina, onde pousou.

No dia seguinte continuou a caminhar até onde havia um grande rio. Ficou à margem olhando para a água. Viu um burro morto, de barriga inchada, que vinha descendo rio abaixo. Em cima dele uma porção de urubus. Botou reparo naquilo e continuou a viagem.

Quando caiu a tarde João sentou-se debaixo duma figueira para jantar o pão que sua mãe lhe dera, mas qualquer coisa lhe disse que o não comesse antes de fazer uma prova com a cachorrinha — e ele deu a ela um pedaço do pão. Foi tiro e queda. Assim que a pobre Pita engoliu o primeiro bocado, tremeu e morreu.

João ficou muito triste da maldade de sua mãe, e também por ter perdido sua única amiguinha. Enterrou-a. Mas vieram três urubus que a desenterraram e a comeram — e também morreram. Imaginem que veneno forte a peste da mulher tinha inventado!

João botou às costas os urubus mortos e seguiu caminho. Chegou a uma estalagem onde não havia ninguém. Entrou. Lá nos fundos viu sete homens armados de espingardas, todos a morrerem de fome. Dando com o novo hóspede que entrava com aquelas aves negras ao ombro, os famintos avançaram e tomaram--lhe os urubus. Devoraram-nos — e morreram.

João escolheu a melhor das sete espingardas e lá se foi pelo caminho afora. Saiu numa extensa campina onde se sentou debaixo dum pé de árvore. Seu estômago dava torcidas medonhas, tanta era a fome. De repente viu uma perdiz mexer-se no capim. Disparou um tiro. Errou. O chumbo foi acertar numa rolinha que ele não tinha visto. Para quem erra perdiz, rolinha serve.

João depenou a rolinha — mas não viu lenha para fazer fogo. Olhou. Havia perto uma cruz muito velha. Foi lá, tirou umas lascas, fez fogo, assou a rolinha e comeu-a. E água? Como obter água para matar a sede?

Teve uma idéia. Montou num cavalo que andava pastando por ali e o fez galopar até que suasse em bicas; recolheu o suor e bebeu. E assim, matada a fome e a sede, pôde continuar a viagem.

Pouco adiante encontrou uma caveira em que um enxame de maribondos havia feito colmeia. Viu também um burro amarrado a uma árvore, a escarvar o chão com o pé. Indo investigar o que havia naquele chão, encontrou uma botija de dinheiro. Pôs-se novamente a caminho e afinal avistou o reino das Três Princesas. Tinha chegado.

Indagou das festas. "Tudo corre bem, informou-lhe um sujeito, mas não aparece pretendente nenhum com adivinhação que a princesa não adivinhe. As forcas estão engordando."

João dirigiu-se ao palácio, onde declarou ao porteiro que era pretendente à mão da princesa adivinhadeira.

O porteiro mandou-o entrar, mas todos riram-se daquele pobre diabo com cara de matuto, mal vestido, de trouxinha às costas.

— Suma-se daqui, moço, se tem amor à vida. Rapazes dos mais distintos já falharam, e estão neste momento com as línguas de fora, nas forcas. Se é lá possível que um bobo como você consiga inventar uma adivinhação que a melhor adivinhadeira do mundo não adivinhe! Suma-se, enquanto é tempo.

João, porém, tanto insistiu que foi levado à presença do rei.

— Sabes que arriscas a vida? — disse o rei.

João declarou que sim, mas que estava disposto a tudo.

— Bem — exclamou o rei. — Nesse caso, apresente a sua adivinhação — e chamou a princesa.

João foi e falou assim:

Sai de casa com massa e pita;
a massa matou pita,
a pita matou três,
os três mataram sete
e das sete escolhi a melhor.
Atirei no que vi
e matei o que não vi.
Com madeira santa
assei e comi,
bebi água sem ser do céu;
vi o morto carregando os vivos
e o burro sabendo
o que os homens não sabem.
Resolva agora, princesa,
ou me dê cá sua mãozinha.

A princesa pensou, pensou e não foi capaz de adivinhar. Pediu-lhe que repetisse a história. João repetiu-a três vezes, e a moça nada. Por fim, já com dor de cabeça, confessou ao rei:

— Impossível, meu pai. Esta eu não adivinho.

— Pois então abrace e beije o seu noivo — respondeu o rei.

E mandou que preparassem o reino para o grande casamento.
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— Gostei, gostei! — exclamou Emília. — Não tem nada de boba essa historinha. É uma luta de esperteza contra esperteza, em que o mais esperto saiu ganhando. Pedrinho sabe o que isto significa em linguagem científica. Diga lá, Pedrinho.

E o menino, que era um darwinista levado da breca, veio logo com a sua cienciazinha.

— Isso significa a vitória do mais apto. O mais apto é o mais esperto.

— A história que vocês acabam de ouvir — disse dona Benta — pertence ao tipo das engenhosas. Reparem que está muito engenhosamente arranjada. Na adivinhação o matuto começa falando em massa e pita — massa é pão, e Pita, o nome da cachorrinha; e vai por ai além, contando toda a sua viagem em termos simbólicos.

— Então símbolo é isso? — perguntou Narizinho.

— Símbolo é palavra grega, com significado de sinal que indica uma coisa. Tudo na língua são símbolos. Todas as palavras são símbolos. A palavra "Emília", por exemplo, que é senão um símbolo da criaturinha mais pernóstica e sabida destas redondezas?

— Destas redondezas só? — protestou Emília. — Da redondeza da terra, isso sim, porque outra como eu ainda está para nascer...

Dona Benta piscou para tia Nastácia, como quem diz: "Já se viu como está ficando vaidosa?"
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Continua… XVII – o Caçula
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 191)


Uma Trova Nacional

Na primavera, cheguei...
Neste inverno, te aqueci...
No outono, te desfrutei,
veio o verão... Te esqueci.
ESTER FIGUEIREDO/RJ–

Uma Trova Potiguar


Mulher, és como se fosse
um destempero total!
No teu suco não tem doce
na comida não tem sal.
–ZÉ DE SOUSA/RN–

Uma Trova Premiada


2006 - Curitiba/PR
Tema: JOVEM - Venc.


Somos jovens… desenhistas…
E também somos atores…
Somos loucos cientistas,
Somos jovens trovadores!
LUIZA PORTELA ROSA/PR
8a. Série A – Esc. Munic. Papa João XXIII


...E Suas Trovas Ficaram

A lua, mulher formosa,
espera a noite chegar,
mirando-se presunçosa
no espelho verde do mar.
–ZENÍLIA PAIXÃO/MG–

Simplesmente Poesia

–OLAVO DRUMMOND/MG–
Poemeiro

Poemeiro em lua nova
Nos autos do amor bastante.
Poemeiro é sempre réu
Canta a treva com ternura,
Prisioneiro da amargura,
Enquanto a lua inconstante
Troca de roupa no céu...

Estrofe do Dia

Avistei um pequenino
subindo de déu em déu,
quando chegou lá no céu
quis falar com Deus divino,
gritaram: pese o menino
pra saber se é pecador,
Jesus disse, não senhor,
pode guardar a balança;
no coração da criança
não pode existir rancor.
SEVERINO FERREIRA/RN–

Soneto do Dia

–RENATO ALVES/RJ–

Nascimento.


Brilha ao longe uma luz no fim da estrada
em que deslizo em contrações, cativo,
vou migrando da bolha para o nada
do destino refém, ou fugitivo.

Era bem calma há pouco esta morada,
um ninho acolhedor, convidativo,
eu – grão imerso em água abençoada –
percorrendo o processo evolutivo.

Mas, de repente, rompe-se o meu ninho,
lançado longe, tinto, mais que o vinho,
sou carregado, assim, de afogadilho...

Descerro os olhos: Há luz na saída!...
Os pulmões doem... Sorvo o ar da vida...
E ouço afinal a voz que diz: "Meu Filho!”

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

terça-feira, 19 de abril de 2011

Paulo Leminski (Razão de Ser)


Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Antonio Botto (As Tres Peneiras)


O pequeno Raul saiu da escola a correr, chegou a casa muito excitado, e, depois de beijar a mãe, exclamou:

- Já sabes o que dizem do António?

- Espera um pouco, tem paciência. Antes de principiares, lembra-te das três peneiras...

- Mas quais peneiras, minha mãe?

- Sim; vais ouvir e saberás. A primeira chama-se verdade. Tens a certeza de que é certo o que me queres dizer?

- Não; se é certo, não sei.

- Vês?... E a segunda chama-se benevolência. Será benevolente, será boa, essa notícia?

- Não, minha mãe, não é boa.

- E a terceira chama-se necessidade. Será necessário respeitares tudo isso que te contaram desse teu camarada e amigo?

- Não, minha mãe.

- Pois se não é necessário nem benevolente, e talvez nem seja verdade, entendo que é preferível, meu filho, calares a tua boca.

Fonte:
Os Contos de Antonio Botto. Marginalia, s/d

António Botto (1897 - 1959)


António Tomás Botto (Concavada, Abrantes, 17 de Agosto de 1897 — Rio de Janeiro, 16 de Março de 1959) foi um poeta português.

António Botto nasceu em Concavada, freguesia do conselho de Abrantes, Portugal, às 8h00[1], filho de Maria Pires Agudo e de Francisco Thomaz Botto. O seu pai trabalhava como "marítimo" no rio Tejo. Em 1908 a sua família mudou-se para o bairro de Alfama em Lisboa, onde cresceu no ambiente popular e típico desse bairro, que muito influenciou a sua obra. Recebeu pouca educação formal e trabalhou em livrarias, onde travou conhecimento com muitas das personalidades literárias da época, e foi funcionário público. Em 1924 - 25 trabalhou em Santo António do Zaire e Luanda, na então colônia de Angola.

António Botto tinha um sentido de humor sardónico, incisivo, uma mente e língua perversos e irreverentes, e era um conversador brilhante e inteligente. Era amigo do seu amigo, mas ferozmente ruim se sentia que alguém antipatizava com ele ou não o tratava com a admiração incondicional que ele julgava merecer. Este seu feitio criou-lhe um grande número de inimigos.

Era visitante regular dos bairros boêmios de Lisboa e das docas marítimas onde desfrutava a companhia dos marinheiros, tantas vezes tema da sua poesia. Apesar de ser sobretudo homossexual, António Botto foi casado até ao final da sua vida com Carminda Silva Rodrigues.

Em 9 de Novembro de 1942 António Botto foi demitido do seu emprego na função pública (escriturário de primeira-classe do Arquivo Geral de Identificação) por fazer versos e recitá-los durante as horas regulamentares do funcionamento da repartição, prejudicando assim não só o rendimento dos serviços mas a sua própria disciplina interna.

Ao ler o anúncio publicado no Diário do Governo, Botto ficou profundamente desmoralizado e comentou com ironia: "Sou o único homossexual reconhecido no País..."

Para se sustentar passou a escrever artigos, colunas e crítica literária em jornais, e publicou vários livros, entre os quais "Os Contos de António Botto" e "O Livro das Crianças", uma coleção de sucesso de contos para crianças (que seria oficialmente aprovada como leitura escolar na Irlanda, sob o título The Children’s Book, traduzido por Alice Lawrence Oram). Mas tudo isto se revelou insuficiente.

A sua saúde deteriou-se devido a sífilis terciária que ele recusava tratar e o brilho da sua poesia começou a desvanecer-se. Era alvo de troça quando entrava nos cafés, livrarias e teatros. Por fim, cansou-se de viver em Portugal e em 1947 decidiu emigrar para o Brasil. Para juntar dinheiro para a viagem organizou, em maio desse ano, recitais de poesia em Lisboa e no Porto, que resultaram em grandes sucessos, com elogios por parte de vários intelectuais e artistas, entre os quais Amália Rodrigues, João Villaret e o escritor Aquilino Ribeiro.

A 17 de Agosto partiu finalmente para o Brasil com a sua mulher.

No Brasil residiu em São Paulo até 1951 quando se mudou para a cidade do Rio de Janeiro. Sobreviveu escrevendo artigos e colunas em jornais Portugueses e Brasileiros, participando em programas de rádio e organizando récitas de poesia em teatros, associações, clubes e, por fim, botequins.

A sua vida foi-se degradando de dia para dia e acabou por viver na mais profunda miséria. A sua megalomania agravada pela sifílis era gritante e não parava de contar histórias delirantes das visitas que André Gide lhe teria feito em Lisboa ("Se não foi o Gide, então foi o Marcel Proust..."), de ser o maior poeta vivo e de ser o dono de São Paulo. Em 1954 pediu para ser repatriado, mas desistiu por falta de dinheiro para a viagem. Em 1956 ficou gravemente doente e foi hospitalizado por algum tempo.

Em 4 de Março de 1959, ao atravessar a Avenida Copacabana, no Rio de Janeiro, foi atropelado por um automóvel do governo. 16 de Março de 1959, no Hospital da Beneficência Portuguesa, Botto expira, abraçado pela sua inconsolável mulher.

Em 1966 os seus restos mortais foram trasladados para Lisboa e, desde 11 de Novembro do mesmo ano, estão depositados no Cemitério do Alto de São João.

O seu espólio seria enviado do Brasil pela sua viúva Carminda Rodrigues a um parente, que o doara, em 1989, à Biblioteca Nacional.

A obra poética

"A vasta obra poética de Botto, em parte ainda dispersa ou não-recoligida, apesar de e também pelo muito que ele publicou, republicou, reorganizou em volumes dispersos ou suprimia de volumes anteriores, etc., poderá repartir-se em quatro fases: a juvenil, em que continua o tom da quadra dita popular, conjugando-o com aspectos da dicção simbolista que poetas como Correia de Oliveira, Augusto Gil, e sobretudo Lopes Vieira haviam introduzido nela; a simbolistico-esteticista, em que a juvenilidade tradicionalizante se literaliza dos requebros esteticísticos que marcaram, nos anos 20, muita poesia simultaneamente da tradição saudosista e modernista (é a das primeiras edições das Canções e breves plaquetes seguintes, em que todavia a personalidade do poeta já figura inteira em diversos poemas); a fase pessoal e original, nos anos 30, desde as edições de 1930-32 das Canções (em que ele ia incorporando seleções de coletâneas anteriores) até a Vida Que Te Dei e Os Sonetos (fase que é também a dos seus excepcionais contos infantis que tiveram realmente as edições estrangeiras que se julgava ser uma das mentiras megalomaníacas do poeta, da «novela dramática» António, e da peça Alfama); e a última fase, nos anos 40 e 50, até à morte que é a de uma longa e triste decadência, com poemas desvairadamente oportunistas, revisões desastrosas afetando nas reedições alguns dos melhores poemas anteriores [...]" em Líricas Portuguesas, de Jorge de Sena.

A tempestade desencadeada por Canções e por "Sodoma Divinizada", bem como por outras obras e artigos que apareciam nas livrarias e jornais da época de que importa destacar "Decadência" de Judite Teixeira, foi tremenda, e a Federação Acadêmica de Lisboa, tendo como porta-voz Pedro Teotónio Pereira, denuncia no jornal "A Época", em fevereiro de 1923, a "vergonhosíssima desmoralização, que sob os mais repugnantes aspectos, alastra constantemente".

A Federação Acadêmica de Lisboa estaria com grande probabilidade apenas a servir de face pública das vontades do poder instituído da época porque pouco depois, em Março, é ordenada pelo Governo Civil de Lisboa a apreensão dos já mencionados livros de Botto, Raul Leal e Judite Teixeira.

Fernando Pessoa e Álvaro de Campos protestam contra o ataque dos estudantes a Raul Leal: "Ó meninos: estudem, divirtam-se e calem-se. (...) Divirtam-se com mulheres, se gostam de mulheres; divirtam-se de outra maneira, se preferem outra. Tudo está certo, porque não passa do corpo de quem se diverte. Mas quanto ao resto, calem-se. Calem-se o mais silenciosamente possível". Mas com pouco efeito. O impulso censório, moralista, obscurantista e homofóbico, ganha força com o regime do Estado Novo e a revista "Ordem Nova" declara-se "antimoderna, antiliberal, antidemocrática, antibolchevista e antiburguesa; contra-revolucionária; reaccionária; católica, apostólica e romana; monárquica; intolerante e intransigente; insolidária com escritores, jornalistas e quaisquer profissionais das letras, das artes e da informação". António Botto acaba por se ver forçado a emigrar para o Brasil e Raul Leal será vitíma de espancamentos e deixará de escrever para jornais durante 23 anos.

Obras

Poesia

Trovas (1917)
Cantigas de Saudade (1918)
Cantares (1919)
Canções (várias edições, revistas e acrescentadas pelo autor, entre 1921 e 1932) (eBook)
Canções do Sul
Motivos de Beleza (1923)
Curiosidades Estéticas (1924)
Pequenas Esculturas (1925)
Olimpíadas (1927)
Dandismo (1928)
Ciúme (1934)
Baionetas da Morte (1936)
A Vida Que te Dei (1938)
Sonetos (1938)
O Livro do Povo (1944)
Ódio e Amor (1947)
Fátima - Poema do Mundo (1955)
Ainda Não se Escreveu (1959)

Ficção

António (1933)
Isto Sucedeu Assim (1940)
Os Contos de António Botto (1942) - literatura infantil
Ele Que Diga Se Eu Minto (1945)

Teatro

Alfama (1933)

Esgotada desde há muitos anos, a obra completa de António Botto começou a ser reeditada, em 2008, pelas Quasi Edições (Lisboa), a cargo do crítico literário e escritor Eduardo Pitta.

Homenagens

Prémio António Botto = Prémio atribuído pela Câmara Municipal de Abrantes a autores de literatura infantil, desde 1996.

José Régio = Em 1938 é publicado no Porto o ensaio António Botto e o Amor da autoria de José Régio, considerado como uma arrojada análise psico-poética do poeta das Canções.

Fonte: Wikipedia

Vicência Jaguaribe (Com o Toque da Campainha)


O primeiro toque da campainha acordou-a. Afinal, o seu quarto era o segundo aposento da casa, com duas portas de correspondência para a sala de visitas, as quais ficavam sempre abertas durante a noite. E nada separava a sala de visitas da rua, a não ser o nível do chão. Das duas varandas da sala até a calçada distava talvez um metro e meio.

Acordou é maneira de dizer. Ficou naquele estado de semi-inconsciência, e não podia determinar com certeza se estava vivendo um sonho ou se começava a emergir para a realidade.

O segundo toque da campainha fê-la abrir os olhos e sentar-se na cama. Mas, pelo amor de Deus, quem acionava aquela bendita campainha a uma hora daquelas, em pleno sábado? Vestiu o robe por cima do pijama e abriu a janelinha que dava da sala para a área aberta que corria em toda a lateral da construção e pela qual quem chegava tinha acesso ao interior da casa. Olhou para o portão, meio aberto, e não viu ninguém. Se alguém realmente acionara a campainha, quisera fazer uma brincadeira fora de hora. Já fechava a pequena janela quando viu uma caixa, colocada do lado de dentro do portão. Aliás, fora mais uma impressão do que uma visão. Abriu novamente a janela e estirou o pescoço para fora. Não, não se enganara, era realmente uma caixa, e relativamente grande. A curiosidade, mais do que qualquer outra coisa, levou-a a dar a volta pela sala de jantar e abrir a porta desaída. Por aquela porta passava-seà varanda, que emendava com a área descoberta e desembocava na calçada.

De perto, ela viu que a caixa estava aberta. Dentro, divisou uns panos brancos, que não paravam de se mexer. Já meio desconfiada do que continha aquela caixa — mais do que desconfiada, quase certa —, arredou os panos, que agora percebia serem cobertas, e tremeu. Tremeu antes de ver. E viu. Viu um bebê de poucos dias, de pele morena e cabelos negros, que a encarou como se dissesse cheguei.Ela já ouvira de mais de uma pessoa a descrição do que se sente num momento como aquele, mas nunca supusera que fosse tudo tão intenso. Seu corpo tremia como se estivesse atacado pela maleita. As lágrimas, sem pedir licença e sem se importar com sua reação, não caíram de duas em duas, comportadamente, não. A impressão é que uma torneira fora aberta e não fora fechada. Fez força para controlar-se e tirou o bebê de dentro da caixa. Ele continuava caladinho, como se tivesse medo de causar má impressão àquele colo quente e confortável.

A mulher dirigiu-se ao interior da casa e esbarrou com uma parte da família, que também achara estranho o toque da campainha tão cedo, num sábado. A mãe, idosa, aproximou-se e pegou a criança, que, quando se sentiu em uns braços menos confortáveis, abriu o berreiro. E o que se falou ali, o que se perguntou, não pode ser repetido, já que todos falavam de uma vez e queriam ter, todos ao mesmo tempo, o bebê nos braços. Mas algumas perguntas se distinguiam, porque partiam da boca de todos. Quem era aquele menino? Sim, já se descobrira o sexo do bebê. De onde viera? Quem o trouxera? As perguntas eram dirigidas à mulher que recolhera a criança. Mas ela não podia dar-lhes nenhuma resposta, pelo simples motivo de que não sabia de nada. Só contou o pouco de que participara.

A situação era óbvia. Não havia mistério. Estava ali uma criança enjeitada, que precisava de uma família. E alguém achara que aquela era a família certa: pessoas de princípios, boa situação financeira, quase todos os filhos casados, com uma filha solteira ainda dentro de casa, que podia ajudar os pais já idosos naquela missão que — agora estava claro — desafiava-os. O irmão da dona da casa, que passava as férias ali, foi o primeiro a falar. Era totalmente contra. Não se podia exigir da irmã, uma mulher de mais de setenta anos, mãe de doze filhos, que, àquelas alturas da vida, se responsabilizasse pela educação de mais uma criança. Os três ou quatro sobrinhos presentes acharam que deveriam ponderar. Não se rejeita uma criança assim, principalmente uma criança que já fora abandonada pela mãe.

Enquanto uma parte da família discutia sobre a possibilidade de adoção, a mulher que recolhera a criança, agora mais calma, tratava de coisas mais imediatas. Mandou alguém à farmácia comprar fralda, leite e mamadeira. Telefonou ao cunhado médico e pediu que ele fosse ver a criança. Será que era saudável?Examinou-lhe o corpinho em busca de feridas ou de marcas de maus tratos. Mandou a empregada lavar uma bacia e amornar água, para banhá-lo. Para efeitos legais, aquele menino seria filho de seus pais, no entanto sabia, mais, sentia, seria ela a mãe de fato.

No segundo momento, os outros filhos do casal, os que moravam em outros estados, foram contatados: os pais exigiam um compromisso. Eles adotariam aquela criança, mas todos seriam responsáveis por ela. Deviam comprometer-se a assumir as despesas com sua educação e a cuidar dele, caso os velhos morressem antes de cumprir a nova missão que alguém — Quem? Deus? O destino? O acaso? — achara que eles ainda podiam cumprir. Restava, agora, mergulhar nos trâmites legais.

Dentro de casa, a mulher que seria chamada de mãe, terminava de banhar a criança e recebia de uma das irmãs a mamadeira com o leite que o menino esvaziou com rapidez. Quando terminou, já estava de olhos fechados. A mãe, então, improvisou com os travesseiros de sua cama um recanto seguro onde agasalhou a criança. A sua criança. Sim, alguém lhe mandara aquele presente. E ela iria cuidar dele com desvelo.

Fontes:
Texto enviado pela autora
Imagem = http://www.eletrocompany.com/materiais-eletricos/materias-eletricos

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XV – A Formiga e a Neve


Uma vez uma formiga, que andava pelos campos, ficou com as perninhas presas na neve.

— Ó neve valente que meus pés prende! — exclamou a formiga, e a neve respondeu:

— Sou valente mas o sol me derrete. A formiga voltou-se para o sol:

— Ó sol valente que derrete a neve que meus pés prende! — e o sol respondeu:

— Sou valente mas a nuvem me esconde.

A formiga voltou-se para a nuvem:

— Ó nuvem valente que esconde o sol que derrete a neve que meus pés prende! — e a nuvem respondeu:

— Sou valente mas o vento me desmancha.

A formiga voltou-se para o vento:

— Ó vento valente que desmancha a nuvem que esconde o sol que derrete a neve que meus pés prende! — e o vento respondeu:

— Sou valente mas a parede me pára. A formiga voltou-se para a parede:

— Ó parede valente que pára o vento que desmancha a nuvem que esconde o sol que derrete a neve que meus pés prende! — e a parede respondeu:

— Sou valente mas o rato me fura. A formiga voltou-se para o rato:

— Ó rato valente que fura a parede que pára o vento que desmancha a nuvem que esconde o sol que derrete a neve que meus pés prende! — e o rato respondeu :

— Sou valente mas o gato me come. A formiga voltou-se para o gato:

— Ó gato valente que come o rato que fura a parede que pára o vento que desmancha a nuvem que esconde o sol que derrete a neve que meus pés prende! — e o gato respondeu:

— Sou valente mas o cachorro me pega.

A formiga voltou-se para o cachorro:

— Ó cachorro valente que pega o gato que come o rato que fura a parede que pára o vento que desmancha a nuvem que esconde o sol que derrete a neve que meus pés prende! — e o cachorro respondeu :

— Sou valente mas a onça me devora. A formiga voltou-se para a onça:

— Ó onça valente que devora o cachorro que pega o gato que come o rato que fura a parede que pára o vento que desmancha a nuvem que esconde o sol que derrete a neve que meus pés prende! — e a onça respondeu:

— Sou valente mas o homem me caça. A formiga voltou-se para o homem:

— Ó homem valente que caça a onça que devora o cachorro que pega o gato que come o rato que fura a parede que pára o vento que desmancha a nuvem que esconde o sol que derrete a neve que meus pés prende! — e o homem respondeu:

— Sou valente mas Deus pode comigo. A formiga voltou-se para Deus:

— Ó Deus valente que pode com o homem que caça a onça que devora o cachorro que pega o gato que come o rato que fura a parede que pára o vento que desmancha a nuvem que esconde o sol que derrete a neve que meus pés prende!

Deus respondeu:

— Formiguinha, acaba com essa história e vai furtar.

É por isso que a formiga vive sempre na maior atividade, furtando, furtando.
====================
— Ora até que enfim ouvi uma história que merece grau dez! — gritou Emília. — Está muito bem arranjada, e sem rei dentro, nem príncipes, nem olho furado, nem burro bravo. Ótima! Meus parabéns a tia Nastácia.

— Também gostei bastante — disse Narizinho. — Só que não concordo com o fim. A formiga não furta. As coisas que há no mundo são tão dela como nossas e de todos os outros animais. Por que considerar gatuninha a formiga?

Dona Benta explicou:

— A gente vê aí o dedo das contadeiras de histórias. São em geral donas de casa, ou amas, ou cozinheiras, criaturas para as quais as formigas não passam dumas gatuninhas, porque vivem invadindo as prateleiras e guarda-comidas para furtar açúcar. Se fosse escrita por um filósofo, a história não teria esse fim, porque os filósofos nem sabem que há guarda-comidas no mundo. Só enxergam o céu, as estrelas, as leis naturais, etc. Mas as tias Nastácias sabem muito bem das. formiguinhas que furtam açúcar.

— E é mesmo, sinhá — confirmou a preta. — Outro dia esqueci de tampar a terrina de doce de laranja, e quando foi de manhã estava pretinha de formigas. As bobas se deixam grudar na calda e morrem afogadas. Bem feito! Quem manda serem gatuninhas?

— Então você também é gatuna — disse Emília — porque furta as laranjas da laranjeira para fazer doce.

— Mas a laranjeira é da gente, Emília, é da casa, é ali de dona Benta. Quem tira o que é seu não furta.

— E onde está a escritura da Natureza que deu a laranjeira a dona Benta? — gritou Emília pregando um soco na mesa.
–––––––––––––
Continua… XVI – João Esperto
–––––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 190)


Uma Trova Nacional

Tua alma desperta em mim
tanta calma e tanto ardor,
que, se o amor não for assim,
eu mudo o nome do amor!
–SÉRGIO FERREIRA DA SILVA/SP–

Uma Trova Potiguar

...Mas que ironia a da rima
na ponte que a rua cobre:
o carro do rico em cima,
em baixo a casa do pobre!!!
–LUIZ DUTRA/RN–

Uma Trova Premiada

2008 - Bandeirantes/PR
Tema: AUDÁCIA - Venc.

Quem não sabe, quem não sente
que às vezes nos custa caro
essa audácia de ser gente,
quando ser gente é tão caro?!
–CAROLINA RAMOS/SP–

...E Suas Trovas Ficaram

Segue, filho, a tua estrada
sem entrar pelos desvios,
pois só vence a caminhada
quem enfrenta os desafios!
–MARIA DOLORES PAIXÃO/MG–

Simplesmente Poesia

MOTE.
Cada passo é mais um sonho
Ao longo do caminhar.

GLOSA:
Esteja alegre ou tristonho
O poeta enxerga a vida
Tal a terra prometida...
Cada passo é mais um sonho.
Chega ao destino, risonho,
Pelo prazer de rimar
Antes mesmo de apear
Em pensamentos, imerso,
Olha pra trás, vê seu verso
Ao longo do caminhar.
–FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Estrofe do Dia

Viver com independência,
renúncia e simplicidade,
sentindo a dignidade
no íntimo da cosciência,
presevar sua decência
no início, meio e fim,
discordar do que é ruim,
ser por Deus compreendido,
ter um lar constituído
felicidade é assim.
–PEDRO ERNESTO FILHO/CE–

Soneto do Dia

–DARLY O. BARROS/SP–
Detalhe

Com movimentos leves, elegantes,
pousou no parapeito da sacada,
a me fitar de olhinhos penetrantes,
feito escultura – estática, parada...

“ Deixa que eu te contemple, por instantes,
não fujas!”, supliquei-lhe, extasiada,
“ beleza assim, confesso, eu não vi, antes,
trazes o sol nas asas, és dourada!”

“ E, tu, poeta, se me vês assim,
sou mera borboleta, isso sim,
é o sol brilhando que me faz tão bela;

não fora, do astro-rei seu brilho farto,
e, na sacada agora, do teu quarto,
eu não seria mais do que amarela...”

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Paulo Leminski (Vim pelo Caminho Difícil)


Vim pelo caminho difícil,
a linha que nunca termina
a linha bate na pedra,
a palavra quebra uma esquina
mínima linha vazia,
a linha, uma vida inteira,
palavra, palavra minha.
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Montagem com imagens
Agulha e linha = http://paulinhannina.blogspot.com

Letras = http://studiomzo.com.br

Ivan Martins (Desculpe, Não me Lembro de Você)


É chato ouvir isso, mas acontece – e não mata.

Todos nós somos inesquecíveis, claro. Mas algumas pessoas, estranhamente, se esquecem de nós. E nós também nos esquecemos de pessoas. Se a vida fosse simples, não haveria problema. “Desculpe, eu não me lembro de você”. Diante dessa frase, perfeitamente compreensível, a pessoa explicaria, rapidamente, onde e quando vocês se conheceram – e que tipo circunstância compartilharam. Foi trabalho, lazer ou prazer? Mas a vida está longe de ser simples. Diante de um sorriso de intimidade num rosto estranho, a maior parte de nós mergulha em pânico social. Em vez de admitir ignorância, somos levados a agir como tontos. Sorrimos de forma mecânica, entabulamos uma conversa sem sentido, esperamos que o cérebro – o mesmo que acaba de nos deixar na mão – encontre uma saída para a enrascada. A quem pertence esse rosto, meu deus? De quem é essa voz que se dirige a mim com tanta naturalidade? Todos já passamos por esse pesadelo.

Faz muito tempo eu vi um filme francês no qual havia uma cena desse tipo, deliciosa. O sujeito entra no bar, senta-se em frente da garçonete e faz cara de criança feliz. A moça olha, estranha a atitude dele e, afinal, pergunta: você e eu nos conhecemos? O rapaz balança a cabeça afirmativamente. Ela faz cara de brava, afasta-se, mas volta, minutos depois, curiosa. “Nós transamos?”, pergunta. O rapaz assente, com entusiasmo. Na cena seguinte, estão os dois na cama, com cara de que deu tudo errado. Ela diz uma única frase: “Agora me lembrei de você”.

Afinal, o que nos torna esquecíveis ou inesquecíveis?

Minha impressão é que isso nada tem a ver com qualidades inerentes, como beleza, charme e habilidades. É uma questão de circunstância. Às vezes estamos tão agitados ou tão distraídos que a mais bela mulher do mundo pode passar sem deixar marcas. Diante do cenário em movimento, torna-se um rosto ou um corpo sem identidade. Outro. Há fases da vida dos homens e das mulheres em que isso tende a acontecer. Pela quantidade, pela repetição, pela ausência de relevo emocional. A tristeza provoca esse tipo de sensação. Ou a euforia. Tudo fica mais ou menos igual. As coisas e pessoas vão se sucedendo e todas elas ficam parecidas. É provável que alguém que passe pela vida do sujeito – ou da moça – num período desses, seja posto de lado na memória, logo em seguida. Sem desonra. A gente nunca sabe o que se passa no interior do outro.

Uma vez, anos atrás, estava com meus filhos na Fnac e avistei uma namorada de adolescência que foi, para mim, da maior importância. Ela estava na faculdade, eu no colégio. Ela era culta e bem informada, eu, louco para aprender. Longas conversas, sexo desengonçado, política, filmes e passeios no Bom Retiro. Jamais me esqueci dela. Como poderia? Pois nesse dia, na Fnac, minha ex-namorada demorou uma eternidade para lembrar-se de mim. Eu lá, sorrindo, emocionado, exibindo as minhas crias, e ela me fitando como se eu fosse de Marte. Longos minutos depois, quando eu, de tanto explicar, consegui que ela recordasse alguma coisa, a reação foi ainda pior. Ah, sim, Ivan... com uma expressão de quase indiferença no rosto. Fiquei desconcertado. Ela fora importante na minha vida, mas a recíproca, obviamente, não era verdadeira. Recolhi minha alegria sem contexto e fui embora, explicando aos meus filhos sobre a arte do desencontro. Sem desonra. A gente nunca sabe o que se passa no interior do outro.

Agora que inventaram o Facebook, essas coisas estão acontecendo em escala muito maior, planetária. Na vida de todo mundo. Eu não sou o cara mais popular da cidade, nunca fui, e, mesmo assim, vira e mexe aparece alguém no meu perfil, se reapresentado: então, lembra de mim? Às vezes eu não me lembro de nada e deixo por isso mesmo. A memória deve ter suas razões. Em outras ocasiões eu quase lembro, quase sei quem é a pessoa, e isso me deixa curioso. O que terá havido que eu borrei na memória?

Outro dia aconteceu algo assim. Apareceu um nome, um rosto e uma alegria gostosa em me reencontrar, depois de uns 10 anos. Como não era uma conversa frente a frente, o embaraço foi menor. Eu pude, delicadamente, fazer perguntas. De onde a gente se conhece mesmo, quem nos apresentou, você era a moça que alugava aquela casa na praia? Eu estava com medo de repetir a cena do filme francês - esquecer de alguém com quem eu tinha transado - mas não foi o caso. Melhor assim. Já me aconteceu de apagar esse tipo de evento íntimo e a sensação é muito ruim. A gente se sente ao mesmo tempo promíscuo e desmemoriado.

Como eu disse no início, todos nós somos intrinsecamente inesquecíveis. Únicos mesmo. E eu acredito nisso. Se alguém pudesse, como nos filmes, entrar na nossa mente, por um segundo que fosse, perceberia a corrente de sentimentos, memórias e sensações totalmente originais que forma cada um de nós. Mas não vivemos assim, não é? Passamos rapidamente pela vida dos outros, que passam pela nossa, sem verdadeiramente nos tocar. Somos muitos, não deixamos marcas e tampouco nos deixamos marcar. Nessas circunstâncias, a memória fraqueja. Cria embaraços, mas abre, também, novas oportunidades. “Desculpe, eu não me lembro de você”, não é necessariamente um insulto. Pode ser apenas um recomeço.

Fontes:
Colaboração do Autor
Imagem = http://sorisomail.com

Academia Brasileira de Trova (Solenidade de Posse de Silvia Araujo Motta)

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 189)


Uma Trova Nacional

Meus netos têm me passado
com seu abraço a ilusão
que sou um coqueiro enfeitado
de orquídeas em floração.
–WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ/PR–

Uma Trova Potiguar


A grande nau do Divino,
nas vagas do mar do além,
tem sempre um rumo, um destino,
traçando a vida de alguém!
–FABIANO DE CRISTO WANDERLEY/RN–

Uma Trova Premiada

2009 - Ribeirão Preto/SP
Tema : CIGANO - 4º Lugar.

Amor cigano, utopia,
triste busca por alguém;
quem tem um amor por dia
não tem o amor de ninguém.
–OLYMPIO COUTINHO/MG–

...E Suas Trovas Ficaram

Ninguém acreditaria
neste amor extraordinário:
você é a Ave-Maria
das contas do meu rosário!
–LATOUR ARUEIRA/RJ–

Simplesmente Poesia

–RAYMUNDO DE SALLES BRASIL/BA–
Que não Morram os Sonhos

A luz brilhava na estrada
Por onde, jovem, passei,
Por sonhos iluminada...
E afoitamente viajei.

Na ânsia desta jornada,
Muitas rampas escalei,
Espinhos de ponta afiada
Com os pés descalços pisei.

Hoje chego ao fim da estrada;
Não quero flores nem festa.
Só quero sonhar, mais nada,

Ver em pequenos tamanhos,
Na pouca luz que me resta,
Ainda luzindo os meus sonhos.

Estrofe do Dia


Não precisa de energia
só basta o sol e a lua,
ele despido, ela nua,
um de noite, outro de dia,
na hora que a tarde esfria
Deus faz a transformação,
o sol apaga o clarão
a lua desfila acesa;
tudo que o há de beleza
Deus colocou no sertão.
–VALDIR TELES/PB–

Soneto do Dia

–DAMIÃO METAMORFOSE/RN–
Corpos e Copos

Entre copos e corpos me envolvi,
Entre corpos e copos mais um trago;
Foram copos e corpos, hoje eu pago!
Nesses corpos e copos sucumbi.

Noutros copos e corpos eu bebi
O suor do pecado, em copo pleno.
Consumi gota a gota esse veneno
E assim pouco a pouco eu me perdi.

Os meus copos se encheram de amargura,
O meu corpo tombou na vala escura
Sem os copos e corpos senti frio.

Mas seu corpo me trouxe ao apogeu
Ao brindar copo e corpo com o seu
O meu corpo deixou de ser vazio.

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

Marcelo Spalding (História da leitura) IV: A Ascensão do Romance


Chegamos no alvorecer da era das máquinas, símbolo central do período histórico que ficou conhecido como Revolução Industrial, fenômeno observado especialmente na Inglaterra no meio do século XVIII, com o surgimento da indústria têxtil (entre 1760-1780), a invenção da máquina à vapor (1769) e as primeira aplicações industriais com a produção de ferro de boa qualidade (1780).

No campo social, a Revolução Industrial aos poucos criou uma massa de trabalhadores, muitos dos quais foram alfabetizados e escolarizados para atender às demandas industriais. São esses trabalhadores, tranformados em leitores, que transformaram as narrativas em prosa em um gênero comum entre as camadas populares, e por isso mesmo até então considerado menor diante da tradição épica. Conta-nos Antonio Candido que, quando o rei da Inglaterra quis dar a Walter Scott (escritor inglês que viveu entre 1771 e 1832) o título de baronete, houve dificuldade em encontrar a justificativa oficial de praxe, pois o motivo era obviamente a glória trazida pelos seus romances, mas estes saíam anônimos e o autor não quis aparecer como tal na cédula honorífica, por se tratar de atividade incompatível com as de um gentleman bem-posto. A solução foi alegar a sua qualidade de poeta, aceita tradicionalmente, pelo establishment; deste modo preservou-se o segredo de Polichinelo, e o romancista mais estrepitosamente famoso do tempo foi agraciado a pretexto de poemas da mocidade, que havia assinado e cuja autoria não o vexava..

O século seguinte, o XIX, não por acaso seria o século do romance, um gênero próprio da era Industrial, da era Burguesa, em detrimento às epopeias classicistas. É o século, além de Walter Scott, de Charles Dickens, Jane Austen, Stendhal, Honoré de Balzac, Gustave Flaubert, Victor Hugo, Dostoievski, Lewis Carrol, Mark Twain, Julio Verne, nomes basilares no cânone ocidental, e Machado de Assis, José de Alencar, Aluísio Azevedo, Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Alexandre Herculano, nomes fundamentais no cânone da língua portuguesa.

A produção do livro alcançou escala industrial, o público consumidor se fortaleceu, os gêneros populares, sobretudo o romance, se consolidaram e assim como havia ocorrido quando do surgimento dos tipos móveis, novamente a leitura passou a ser malvista tanto pelos detentores do poder quanto pelos pensadores, conforme sintetizou Schopenhauer em Parerga y paralipómena, de 1851:

(.) não se deve ler demais, para que o espírito não se acostume com a substituição e desaprenda a pensar, ou seja, para que ele não se acostume com trilhas já percorridas e para que o passo do pensamento alheio não provoque uma estranheza em relação ao nosso próprio modo de andar (.) Após essas considerações, não nos espantará o fato de aquele que pensa por si mesmo e o filósofo livresco serem facilmente reconhecíveis já pela maneira como expõem suas ideias. O primeiro, pela marca da seriedade, do caráter direto e da originalidade, pela autenticidade de todos os seus pensamentos e expressões; o segundo, em comparação, pelo fato de que tudo nele é de segunda mão. Trata-se de conceitos emprestados, de toda uma tralha reunida, material gasto e surrado, como a reprodução de uma reprodução. (2005, p. 48-49).

No campo da ficção, Flaubert, no clássico Madame Bovary, de 1857, criou uma protagonista que, seguindo a tradição de Quixote, deixa-se seduzir por más leituras e condiciona sua vida real de acordo com os mundos inventados da ficção. Devido à temática do livro, Flaubert chegou a ser levado aos tribunais, acusado de ofensa à moral e à religião, num processo contra o autor e também contra Laurent Pichat, diretor da revista Revue de Paris, onde a história foi publicada pela primeira vez, em episódios e com alguns pequenos cortes.

O surgimento da imprensa comercial, diária e popular, aliás, ao lado da escolarização obrigatória e consequente alfabetização em massa, tem papel fundamental na popularização do livro nessa época. O The Times, de Londres, é de 1785; o The Guardian, um dos jornais mais vendidos no Reino Unido até hoje, surge em 1821; o New York Sun, vendido a um centavo de dólar, é de 1833; no Brasil, o Correio Braziliense é de 1808, mesmo ano do lançamento da Gazeta do Rio de Janeiro, publicação oficial editada pela imprensa régia.

Com os jornais de massa, surgia um novo gênero literário, o conto moderno, que passou a ser tão malvisto como fora o romance no século anterior. Edgar Allan Poe, nos "Excertos da Marginalia", faz associação direta entre o progresso realizado em alguns anos pela imprensa e a afirmação do conto, dizendo que tal progresso não é uma decadência do gosto ou das letras americanas, como queriam alguns críticos, e sim um sinal dos tempos: "o primeiro indício de uma era em que se irá caminhar para o que é breve, condensado, bem digerido, e se irá abandonar a bagagem volumosa; é o advento do jornalismo e a decadência da dissertação".

Do ponto de vista dos livros, esta mecanização não chegou, num primeiro momento, a mudar sua técnica de impressão, que seguia seu formato de códice há cerca de mil anos, mas acelerou sobremaneira a produção, multiplicou o número de exemplares e de escritores, forjou o estudo da literatura e entregou para o século XX um objeto tradicional, capaz de suscitar medo e apreensão entre os poderosos, como bem representa Markus Zusak no romance A menina que roubava livros, sobre o período nazista, mas perfeitamente adaptado à lógica comercial e capitalista, com um sistema literário, como diria Candido, formado por autores, leitores e editores.

Neste século, o livro irá conviver com outras formas de arte e outros meios de comunicação de massa, como o cinema, o rádio e a televisão, que conquistam em pouco tempo enorme apelo popular e comercial. Nada, porém, muda a forma física do livro, até que com o surgimento da microinformática e da internet começam a surgir suportes digitais para a leitura em que não existe propriamente um objeto, e sim uma tela sobre a qual o texto eletrônico é lido, provocando uma uma revolução que Roger Chartier considera "com poucos precedentes tão violentos na longa história da cultura escrita".
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continua... V - O Livro na Era Digital
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Fontes:
Colaboração do autor, in Artistas Gauchos.

Imagem = htttp://manualdosfocas.com

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 188)


Uma Trova Nacional

Não há fronteira na vida
que separe um grande amor,
quando a ponte foi erguida
pelas mãos do Criador.
–OLGA AGULHON/PR–

Uma Trova Potiguar

Contra o perigo do mal
já não há quem se previna
porque, do gênio do mal
há um clone em cada esquina!
–CLARINDO BATISTA/RN–

Uma Trova Premiada

2008 - Caicó/RN
Tema : ESTRADA - 10º Lugar.

Caminho, mantendo acesa
a chama da sensatez,
na estrada em que, com certeza,
não passarei outra vez!
–THEREZINHA BRISOLLA/SP–

...E Suas Trovas Ficaram

Eu te quero às escondidas
– e, se esta espera durar,
te esperarei quantas vidas
for necessário esperar!
–EUGÊNIA MARIA RODRIGUES/MG–

Simplesmente Poesia

–VICENTE DE CARVALHO/SP–
Desiludida

Sou como a corça ferida
Que vai, sedenta e arquejante,
Gastando uns restos de vida
Em busca da água distante.

Bem sei que já me não ama,
E sigo, amorosa e aflita,
Essa voz que não me chama,
Esse olhar que não me fita.

Bem reconheço a loucura
Deste amor abandonado
Que se abre em flor, e procura
Viver de um sonho acabado;

E é como a corça ferida
Que vai, sedenta e arquejante,
Gastando uns restos de vida
Em busca da água distante.

Só, perdido no deserto,
Segue empós do seu carinho:
Vai se arrastando... e vai certo
Que morre pelo caminho.

Estrofe do Dia

Eu espero uma carta mas não vem,
só aumenta o amor que tenho a ela,
e pra botar outro alguém no lugar dela
eu prefiro morrer sem ter ninguém,
hoje estou padecendo sem meu bem
como um cego padece sem visão,
ou Jesus vai de mim ter compaixão
ou do mal da saudade eu morrerei,
se eu pudesse encontrar quem mais amei
livraria da dor, meu coração.
–ENEVALDO HIPÓLITO/PI–

Soneto do Dia

–Vinicius de Moraes/RJ–
SONETO DE FIDELIDADE.

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XIV – A Rainha que Saiu do Mar


Houve um rei que encasquetou casar--se com a moça mais bonita que houvesse. Seus oficiais já tinham percorrido todas as cidades, e esmiuçado todas as casas, sem que descobrissem a beleza que contentasse. Só faltava serem apresentadas ao rei as filhas dum lavrador, as únicas que ele não tinha visto.

Estavam as coisas nesse pé quando entrou na igreja um rapaz de ar abobado, que olhou para a imagem duma santa e pôs-se a chorar. Perguntaram-lhe o que era, se estava sentindo alguma dor.

— Não sinto dor nenhuma — respondeu o rapaz — mas é que olhei para aquela imagem ali e senti grandes saudades de minha irmã, que é o retrato da santa.

Todos comentaram aquelas palavras, uns caçoando, outros a sério, e de tanto fala-fala o caso chegou aos ouvidos do rei, o qual fez vir o moço à sua presença e lhe perguntou se era verdade oJustificar que dissera na igreja.

— É, sim — respondeu o rapaz — tenho uma irmã muito linda, o retrato daquela santa da igreja.

— E onde mora?

— Nas grotas do monte Escarpado, a dez mil léguas daqui, por terra, ou cinco mil por mar.

O rei mandou preparar uma esquadra que levasse os seus mensageiros ao pai da moça, a fim de pedi-la em casamento — e o rapaz que dera a informação seguiu junto.

Quando a esquadra chegou à terra do monte Escarpado, os mensageiros desceram, seguindo para a tal grota. A moça estava à janela. Oh, que maravilha! Todos ficaram tontos diante de sua beleza. Os mensageiros entregaram a carta do rei e o pai concordou em dá-la em casamento. Feitos os preparativos, a linda criatura entrou num dos navios e a esquadra partiu.

Em certo ponto da viagem o mar ficou tão bravo que os emissários resolveram descer com a moça em terra, por algum tempo. Recolheram-se à casa duma velha que morava por ali. Mas a velha não passava da pior das pestes, pois, tendo ouvido a história da moça, convidou-a a um passeio pela horta, e lá zuct! — jogou-a dentro dum poço.

Quando chegou a hora do embarque a velha levou à esquadra uma filha sua, muito feia, com a cara coberta por um véu, de modo que os emissários não perceberam a troca. A esquadra partiu.

Assim que os navios desapareceram ao longe, a peste foi ao poço e pescou a moça, cortou-lhe o cabelo, furou-lhe os olhos e botou-a dentro dum caixão, que lançou ao mar. Esse caixão foi parar no reino do rei ante» que os navios chegassem, sendo recolhido por um pescador.

Mas alguém que viu o pescador recolhendo o caixão deu denúncia ao rei, o qual mandou investigar. As autoridades vieram,, abriram o caixão e muito se assombraram de ver dentro uma tão linda moça, de olhos furados e cabelos cortados.

Lá levaram a cega para o palácio, mas por esse tempo também os navios já tinham chegado e os emissários iam entrando com a filha da velha. O chefe do grupo, muito desapontado, declarou ao rei:

— Fui alegre, senhor, e volto triste. Muito esperei e pouco alcancei, e se nisto há culpa minha, pronto estou para sofrer o castigo que Vossa Majestade haja por bem impor-me.

O rei, entretanto, era homem de bem. Apenas disse:

— Ninguém tem culpa de nada. Prometi, cumpro. Casar-me-ei com esta moça feia.

E casou-se na maior tristeza, vestido de luto. Só depois disso é que lhe apresentaram a moça de olhos furados. Mas o irmão dela, que estava presente, reconheceu-a de pronto e contou ao rei o desembarque no meio do caminho, a ida à casa da velha, o passeio da velha pela horta e por fim falou da substituição da sua irmã pela filha da velha.

O rei mandou trazer a velha à sua presença. A peste negou tudo e até renegou a própria filha, dizendo que nunca tinha visto semelhante feiúra. Mas a parecença de traços entre a mãe e filha era muito grande para que alguém pudesse ter a menor dúvida, e o rei deu ordem para que cortassem os cabelos e furassem os olhos da velha.

Assim que isso foi feito, os olhos da moça ficaram perfeitinhos, e sua cabeleira cresceu num instante. Virou uma criatura ainda mais formosa do que havia sido. Estava tudo salvo. As duas embusteiras foram lançadas ao mar e o rei viu--se, finalmente casado com a criatura mais linda que havia.
–––––––––––––
— Grau 5 — gritou Emília.

— Eu nem dou nota — disse Narizinho. — Acho que não vale a pena. História mais fraca ainda não ouvi. Vamos ver outra.

–––––––––––––
Continua… XV – A Formiga e a Neve
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995. Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 187)


Uma Trova Nacional

Mandou fazer a bandida
cartões que a todos quer dar,
tornou-se a mulher perdida
mais fácil de se encontrar...
PEDRO ORNELAS/SP– Uma Trova Potiguar

Vendo os dotes de Jussara
no seu biquíni miúdo,
morro de inveja do cara
que é dono daquilo tudo!!!
–CLARINDO BATISTA/RN–

Uma Trova Premiada

1980 - Sete Lagoas/MG
Tema :VEXAME ; 7º Lugar


Cheinho o bar, lá na praia,
que vexame deu a Iara:
– o seu “tomara-que-caia”
não ficou só no... tomara...
–WALDIR NEVES/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram

Eu bem que desconfiava
desse jeitão de Maria,
o segredo que eu guardava,
todo bairro já sabia.
–P. DE PETRUS/SP–

Simplesmente Poesia

MOTE: Você já não me procura...
Também...Você não se esconde!


GLOSA:
Em noite bastante escura,
ouvi “Zefa” reclamando:
Eu já nem sei desde quando
você já não me procura.
A vista ficou escura
procurei chão, não sei onde,
mas o poeta responde
com seu jeito bonachão
dando outra explicação:
Também...Você não se esconde!
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Estrofe do Dia

Quem casa com mulher feia
vive muito descansado,
vai almoçar sem receio,
vai trabalhar sem cuidado
porque não corre perigo...
Só não tem é muito amigo
nem é muito visitado!
–ROGACIANO LEITE/PE–

Soneto do Dia

–LISINDO COPPOLI/SP–
Sociologia


Resolvido a lutar contra a indigência,
Hoje, cheio de nobres intenções,
Cuida o governo das populações
Com a sociologia, a nova ciência.

SESC, SENAI, seguro, previdência
E muitas outras boas instituições
São, em nosso país, inovações
Que ao povo suavizam a existência.

Nada disso existia antigamente;
O pobre era animal desprotegido:
Trabalhava e comia, unicamente.

Hoje em dia é outra coisa! Não se come.
Mas existe o sociólogo incumbido
De estudar e medir a nossa fome.

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Marcelo Spalding (História da leitura) III - A Imprensa de Gutenberg

Exemplar da Biblia de Gutemberg
Johannes Gutenberg, apesar de ser considerado o inventor da imprensa, não foi propriamente o primeiro a desenvolver tal tecnologia. Hoje se sabe que os chineses haviam desenvolvido tipos móveis por volta de 1045 e que os coreanos utilizavam caracteres metálicos em vez de blocos de madeira por volta de 1230. Ao contrário das inovações surgidas no Extremo Oriente, porém, foi a invenção de Gutenberg que se propagou de forma avassaladora.

A impressão por tipos móveis, ou imprensa, é um método industrial de reprodução de textos e imagens sobre papel ou materiais similares que consiste em aplicar uma tinta, geralmente oleosa, sobre peças metálicas chamadas de tipos, que a transferem para o papel por pressão. Ainda que fosse um método artesanal, pois era preciso compor com os tipos móveis palavra a palavra, página a página, mostrou-se muito veloz e prático para seu tempo, permitindo a produção de diversos exemplares com o mesmo molde.

O primeiro livro impresso por Gutenberg foi a Bíblia, conhecida hoje como a Bíblia de Gutenberg ou a "Bíblia de 42 linhas". A data mais provável para a publicação é entre 1452 e 1455 (não há nenhuma data no colofão, isto é, na nota informativa encontrada nas últimas páginas dos livros antigos). Uma cópia dessa Bíblia completa tem 1282 páginas e a maioria foi encadernada em pelo menos dois volumes. Acredita-se que tenham sido impressas 180 cópias, 45 em papiro e 135 em papel, e depois de impressas elas foram rubricadas e ilustradas à mão por especialistas, uma a uma, o que faz com que cada cópia seja única, um incunábulo de valor inestimável .

Há uma cópia da Bíblia de Gutenberg na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Além disso, a Universidade do Texas, em Austin, digitalizou cada página de sua cópia e disponibilizou as 1300 imagens digitais no site http://www.hrc.utexas.edu/exhibitions/permanent/gutenberg/project/, acessível a qualquer internauta.

Em geral, se atribui à invenção da imprensa o marco de mais importante revolução nos suportes para a leitura, sendo que alguns chamam de livro apenas os códices impressos a partir dessa tecnologia. Roger Chartier, entretanto, em A aventura do livro, afirma que "a transformação não é tão absoluta como se diz: um livro manuscrito (sobretudo nos seus últimos séculos, XIV e XV) e um livro pós-Gutenberg baseiam-se nas mesmas estruturas fundamentais - as do códex". Evidentemente que, com a nova técnica, "o custo do livro diminui, através da distribuição das despesas pela totalidade da tiragem. (...) Analogamente, o tempo de reprodução do texto é reduzido graças ao trabalho da oficina tipográfica".

É interessante percebermos, nesse sentido, que por muito tempo o códice manual tenha coexistido com o códice impresso, o que não nos permitiria falar, realmente, em uma ruptura. Nas palavras de Chartier:

"Com Gutenberg, a prensa, os tipógrafos, a oficina, todo um mundo antigo teria desaparecido bruscamente. Na realidade, o escrito copiado à mão sobreviveu por muito tempo à invenção de Gutenberg, até o século XVIII, e mesmo o XIX. Para os textos proibidos, cuja existência devia permanecer secreta, a cópia manuscrita continuava sendo a regra. O dissidente do século XX que opta pelo samizdat, no interior do mundo soviético, em vez da impressão no estrangeiro, perpetua essa forma de resistência. De modo geral, persistia uma forte suspeita diante do impresso, que supostamente romperia a familiaridade entre o autor e seus leitores e compreenderia a correção dos textos, colocando-os em mãos "mecânicas" e nas práticas do comércio"

Mais do que uma revolução na forma de ler, a imprensa representou uma popularização jamais vista do livro. Foi apenas com a imprensa, por exemplo, que A Divina Comédia, de Dante Alighieri, escrita entre 1307 e 1321, tornou-se conhecida e forjou o idioma italiano.

Fora dos domínios da arte, porém, a nova técnica logo se mostrou uma ameaça ao domínio da Igreja Católica. Martinho Lutero, padre e professor de teologia alemão, em torno de 1500 d.C. começa a promover a tradução da Bíblia para outros idiomas que não o latim, e chega a dar Bíblia aos fiéis, provocando uma verdadeira convulsão na Igreja e iniciando a Reforma Protestante.

Como parte da reação da Igreja, é criado em 1559, no Concílio de Trento, o Index Librorum Prohibitorum, um catálogo de livros proibidos pela Igreja (tal catálogo foi atualizado regularmente até a trigésima-segunda edição, em 1948), evidenciando a importância que o livro já havia adquirido naquela sociedade menos de cem anos após a impressão da primeira Bíblia de Gutenberg.

Vale salientar que este tipo de catálogo é a primeira ocorrência sistemática e ordenada alfabeticamente de nomes de autores e livros, numa época anterior à valorização do trabalho do autor e muito anterior aos direitos autorais, o que significa que "antes de ser detentor de sua obra, o autor já encontra-se exposto ao perigo pela sua obra", lembra Chartier.

Uma imagem dessa época tornou-se emblemática na história dos livros e, infelizmente, é repetida até os dias de hoje: a fogueira de livros, onde não se queimam mais (apenas) pessoas, mas suas ideias, registros e representações. Miguel de Cervantes, no célebre Dom Quixote, de 1605, tematiza tanto a ânsia pela queima de livros que assola sua época como a leituromania que toma conta de parcela da população.

Lembremos, nesse sentido, as palavras do capítulo inicial de Dom Quixote:

"Em suma, tanto naquelas leituras se enfrascou, que passava as noites de claro em claro e os dias de escuro em escuro, e assim, do pouco dormir e do muito ler, se lhe secou o cérebro, de maneira que chegou a perder o juízo. Encheu-se-lhe a fantasia de tudo que achava nos livros, assim de encantamentos, como pendências, batalhas, desafios, feridas, requebros, amores, tormentas, e disparates impossíveis; e assentou-se-lhe de tal modo na imaginação ser verdade toda aquela máquina de sonhadas invenções que lia, que pare ele não havia história mais certa no mundo."

A seguir, no sexto capítulo, é narrada a limpeza que o padre-cura, o barbeiro e a sobrinha de Quixote fizeram na sua biblioteca enquanto ele dormia, com diálogos interessantíssimos que evidenciam inclusive o desconhecimento e o caráter ocultista que o livro trazia para a parcela mais pobre da população, algo que em algum momento nossa geração também vivenciou em relação às tecnologias digitais.

"Pediu à sobrinha a chave do quarto em que estavam os livros ocasionadores do prejuízo; e ela a deu de muito boa vontade. Entraram todos e com eles a ama; e acharam mais de cem grossos e grandes volumes, bem encadernados, e outros pequenos. A ama, assim que deu com os olhos neles, saiu muito à pressa do aposento, e voltou logo com uma tigela de água benta e um hissope, e disse:

- Tome Vossa Mercê, senhor licenciado, regue esta casa toda com água benta, não ande por aí algum encantador, dos muitos que moram por estes livros, e nos encante a nós, em troca do que nós lhes queremos fazer a eles desterrando-os do mundo.

Riu-se da simplicidade da ama o licenciado, e disse para o barbeiro que lhe fosse dando os livros a um e um, para ver de que se tratavam, pois alguns poderia haver que não merecessem castigo de fogo.

- Nada, nada - disse a sobrinha -; não se deve perdoar a nenhum, todos concorreram para o mal. O melhor será atirá-los todos juntos pelas janelas do pátio, empilhá-los em meda, e pegar-lhes o fogo; e senão, carregaremos com eles para o quintal e ali se fará a fogueira, e o fumo não incomodará."

O célebre romance de Cervantes, considerado por muitos como o primeiro romance moderno da literatura, ainda revela em sua segunda parte, publicada em 1615, uma outra faceta da produção livresca desse período: a pirataria. Já no prólogo, Cervantes, dirigindo-se ao leitor, acusa a existência de continuações à revelia de sua criação, ainda que usem o nome de seu protagonista:

"(...) Mas como a virtude dá alguma luz de si, ainda que seja pelos inconvenientes e vestígios de estreiteza, vem a ser estimada pelos altos e nobres espíritos e, portanto, favorecida. E não lhes diga mais, eu quero dizer-te mais a ti, senão advertir-te que esta segunda parte de Dom Quixote que te ofereço é cortada pelo mesmo oficial e no mesmo pano que a primeira, e que te dói nela Dom Quixote dilatado, e finalmente morto e sepultado, para que ninguém se atreva a levantar-lhe novos testemunhos, pois já bastam os passados, e basta também que um homem honrado desse notícia destas discretas loucuras, sem querer de novo entrar com elas; que a abundância das coisas, ainda que sejam boas, faz com que se não estimem, e a carestia ainda das más, alguma coisa se estima."

Nesse sentido é interessante lembrarmos que hoje, com a internet, fala-se muito do problema de confiabilidade sobre os textos, pois eles podem ser alterados facilmente por erro ou intenção de quem o publica, mudando inclusive o nome do autor. Esse problema, entretanto, não é novo, e na época do surgimento da imprensa foi extremamente grave.

Robert Darnton relata, por exemplo, diferenças importantes encontradas na obra de Shakespeare, com trechos distintos de uma edição para a outra: "qual escolher? Não podemos saber a intenção de Shakespeare, pois nenhum manuscrito de suas peças sobreviveu". Segundo o autor, a solução era identificar trechos deturpados nas primeiras versões impressas, e assim foi identificado determinado tipógrafo que "compôs outros nove quartos de peças shakespearianas ou pseudoshakespearianas, usando edições mais antigas como base. Ao encontrar uma frase que considerava deficiente, ele a 'melhorava'".

Não que esse tipo de problema não acontecesse no tempo dos escribas. Como lembra Chartier, "a mão do escriba pode falhar e acumular os erros". Na era do impresso, entretanto, "a ignorância dos tipógrafos ou dos revisores, como os maus modos dos editores", trazem riscos ainda maiores: "de modo geral, persistia uma forte suspeita diante do impresso, que supostamente romperia a familiaridade entre o autor e seus leitores e compreenderia a correção dos textos, colocando-os em mãos 'mecânicas' e nas práticas do comércio".

De qualquer forma, com ou sem erros dos tipógrafos, o livro se consolida como um objeto importante para a sociedade moderna que se forma, com seus povos e línguas próprios, acumulação de riquezas estatais e particulares, lutas por espaços e exploração dos mares, perda da hegemonia católica, efervescência cultural renascentista, consolidação das Universidades e expansão da alfabetização. Mais do que registrar a cultura e as ideias de sua época, o livro impresso permite a propagação dessas ideias, e a quantidade de suas edições fez com que alguns exemplares se conservassem até os séculos seguintes, criando aos poucos um cânone fundamental para se pensar numa literatura ocidental.

Não por acaso, Harold Bloom, ao listar os cem maiores escritores de todos os tempos no seu polêmico Genius: a mosaic of one hundred exemplary creative minds, cita apenas onze autores anteriores à invenção da imprensa de Gutenberg, incluindo Dante, Maomé, o apóstolo Paulo, Platão e Homero e oitenta e nove posteriores ao livro impresso. Poderíamos afirmar que foi o livro impresso que forjou a figura do escritor, e ainda precisariam mais alguns séculos para forjar também a profissão de escritor.

Chegamos, assim, no alvorecer da era das máquinas, símbolo central do período histórico que ficou conhecido como Revolução Industrial, tema de nossa próxima coluna.
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Continua… IV – A Ascenção do Romance
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I - As Tábuas da Lei e o Rolo/ II - O Códice Medieval
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2011/03/marcelo-spalding-historia-da-leitura.html

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Fonte:
Colaboração do autor.
Artistas Gaúchos

Roberto Pinheiro Acruche (Meus Poemas Nº 11)


SONHOS NAUFRAGADOS

Um peixinho prisioneiro
fora do seu hábitat
sofre no cativeiro
olhando as águas do mar.

Vendo a sua sombra
em outro plano a nadar
imagina não estar só
preso naquele lugar.

Ao vê-lo assim, imagino,
para onde irão levá-lo
e quantos sonhos ficaram
lá no fundo do mar.

Assim vive tanta gente
pelo mundo a lamentar
em aparente liberdade,
prisioneira... e na verdade,
sem o direito de sonhar!

A PRIMEIRA VISTA

Quando a vi, pela primeira vez,
os meus olhos traduziram: é ela...
Não havia mais dúvidas... nem talvez...
Apaixonei-me pelo seu encanto,
pelo porte, pela alegria que irradiava.

Foi o amor que deflagrou, como um raio
que se arroja durante a tempestade;
invadindo-me o peito,
se alojando no coração.

Procurei viver esse amor... e vivi!
Nele encontrei a explosão da felicidade.
Era como ver toda a beleza do universo
ao mesmo tempo; sonhar o sonhos mais lindos,
descobrir todos os mistérios da magia,
mergulhar num mar de flores,
de poesias e fascinação.

Agora, tudo está acabado,
estou pagando os meus pecados
e o que detona dentro do peito,
é a saudade!

INDAGAÇÕES

Por que chora em meus braços
perdida nos abraços
quando mais intenso
é o nosso enlace?

Por que esta lágrima sentida,
sofrida, que encharca o seu rosto
precisamente no momento
que o prazer atinge e
invade todo o seu ser?

Por que arrasta o lençol
se cobrindo parcialmente
e anda para disfarçadamente
continuar a enxugar
as lágrimas incontidas?

De maneira dissimulada
esboçando um sorriso,
volta a me abraçar
e responde: Nada não, bobagem!

IPÊ AMARELO

Postado na janela
da casinha onde morava,
de longe eu olhava
para uma árvore seca,
morta, entre tantas outras
de folhagem espessa e exuberante.
Admirava cada uma daquelas
com seus contornos e ramagem multiverde
que instituíam um quadro fascinante,
primorosamente desenhado pela natureza...
E apiedava daquela cujo tronco,
aparentemente infecundo
e galhada totalmente desfolhada,
feia, desfigurada,
que certamente seria cortada,
em lenha transformada,
para alimentar o forno de alguma bolandeira.
Outro dia,
quando voltava à vista para a mesma direção,
um novo visual me chamou a atenção;
deparei-me com uma aquarela;
e aquela árvore de galhada seca, estava florida,
unicolorida, totalmente amarela...
Encantadoramente bela!
Os meus olhos em princípio,
diante da admiração,
ficaram nela fixados;
depois buscavam em todas as direções
algo que pudesse ser comparado
com tamanha perfeição.
O seu brilho parecia reluzir
como se fosse ela
uma estrela entre as outras espécies.
A sua cor destacava-se,
a beleza refletida era tão fascinante e divina,
que por bucólica sina
acreditei, entre os devaneios meus,
estar assistindo mais do que uma obra prima da natureza;
e que ali, só poderia estar repousando,
a sublime luz de Deus!

Fonte:
Colaboração do Autor