quinta-feira, 12 de julho de 2012

Sylvia Ortoff (Se as Coisas fossem Mães)

Se a lua fosse mãe, seria mãe das estrelas, o céu seria sua casa, casa das estrelas belas.Se a sereia fosse mãe, seria mãe dos peixinhos,O mar seria um jardim e os barcos seus caminhos.Se a casa fosse mãe, seria a mãe das janelas,Conversaria com a lua sobre as crianças estrelas,Falaria de receitas, pastéis de vento, quindins,Emprestaria a cozinha pra lua fazer pudins!Se a terra fosse mãe,seria a mãe das sementes, pois mãe é tudo que abraça, acha graça e ama a gente.

Se uma fada fosse mãe, seria mãe da alegria. Toda mãe é um pouco fada...

Nossa mãe fada seria.

Se uma bruxa fosse mãe, seria mamãe gozada: Seria mãe das vassouras, da família vassourada! Se a chaleira fosse mãe, seria mãe da água fervida,Faria chá e remédio para as doenças da vida. Se a mesa fosse mãe, as filhas sendo cadeiras, sentariam comportadas, teriam "boas maneiras". Cada mãe é diferente: mãe verdadeira, ou postiça, mãe vovó e mãe titia, Maria, Filó, Francisca, Gertrudes, Malvina, Alice, toda mãe é como eu disse. Dona Mamãe ralha e beija, erra, acerta, arruma a mesa, cozinha, escreve, trabalha fora, ri, esquece,
lembra e chora, traz remédio e sobremesa...

Tem até pai que é "tipo mãe"... Esse então é uma beleza!

Fonte:
Se as coisas fossem mães, Sylvia Orthof, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro.

Inauguração de Novo Bosque da Leitura, em Pirituba/SP

Neste final de semana será inaugurado o novo Bosque da Leitura Parque Rodrigo de Gásperi, na região de Pirituba. Durante o evento teremos:

Contos e Cantos Africanos
Com Sansakroma

Buscando referências na cultura oral dos africanos, brasileiros e cubanos, o Grupo Sansakroma buscará a integração entre estas culturas e promete um momento de muitas histórias, música e diversão.

15 de julho (dom) – 11h
Endereço: Av. Miguel de Castro nº321 - Vila Zatt - Pirituba
Telefone: 3974-8600

Fonte:
Sistema Municipal de Bibliotecas/SP

BP Hans Christian Andersen/SP (Curso Básico de Formação para Contadores de Histórias)

Curso básico de formação para contadores de histórias na Biblioteca Temática em Contos de Fadas Hans Christian Andersen.

Carga Horária: 60h.

35 vagas. Inscrições de 16 a 21 de julho, pessoalmente na Biblioteca. No ato da inscrição, o interessado deverá preencher uma carta de intenção que será decisiva na seleção dos participantes, caso o número de inscrições ultrapasse o número de vagas.

Aos sábados, das 9h às 13h, de 4 de agosto a 24 de novembro. BP Hans Christian Andersen.

Fonte:
Sistema Municipal de Bibliotecas/SP

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 605)

Uma Trova de Ademar  

A cada um de Vocês, 
aos três que aniversaria;
mando com toda honradez
Meus Parabéns, em Poesia!
Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional


Thereza, Thalma e Luiz,
três abraços de uma vez;
com esta eu vou ser feliz,
pois fico amigo dos três.
–Olympio Coutinho/MG–

Uma Trova Potiguar


No mundo da poesia,
faço real cada sonho
sem pensar na fantasia
das estrofes que eu componho.
–Tarcísio Fernandes Lopes/RN–

Uma Trova Premiada


2000 - Pouso Alegre/MG
Tema - PASSADO - M/H


Recordações na parede,
cucos de sonhos no chão,
e o passado, numa rede,
embalando a solidão !
–Eduardo A. O. Toledo/MG–

...E Suas Trovas Ficaram


Ouvi, alguém que dizia:
-Lá se vai o poeta morto,
sem perceber a alegria
do sonho chegando ao porto.
–Adelmar Tavares/PE–

Uma Poesia


Vejo a poesia estampada
na manhã que se levanta,
na ternura dolorosa
dos olhos da Virgem Santa
e na grandiosa beleza
da cachoeira que canta!
–José Lucas de Barros/RN–

Soneto do Dia

THALMA TAVARES.
–Delcy Canalles/RS–


Thalma Tavares, como eu gostaria,
neste doze de julho, exatamente,
escrever, para ti, linda poesia,
que te dissesse o quanto estou contente!

Contente porque, este, é o teu dia,
dia de festa... amor... dia envolvente,
em que sorri, pra nós, a alegria,
pelo fato de estarmos frente à frente!

Se não fosse a distância, meu amigo,
eu voaria para estar contigo
e te abraçar, aí em São Simão !

Por isso, eu uso, agora, o imaginário,
para chegar no teu aniversário ,
e te entregar, inteiro, o coração!

Concurso de Trovas do Clube dos Trovadores Capixabas (Classificação Final)

Promoção: Clube dos Trovadores Capixabas
Apoio: Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de Vitória

A professora Déa Maria Barbosa Aguiar, a Escritora Kátia Maria Bobbio Lima e o Presidente do CTC, Clério José Borges de Sant Anna reunidos no dia 10 de Julho de 2012, após duas horas de debates e detalhado julgamento decidiram a seguinte Classificação final do Concurso de âmbito Nacional e Internacional, das 498 Trovas que foram recebidas no período de 21 de março a 30 de Junho, com a participação de 166 Poetas Trovadores de vários Estados Brasileiros e também de Portugal. No âmbito Nacional a Trova vencedora é de autoria do Poeta Geraldo Trombin, da Cidade de Americana, Estado de São Paulo. No âmbito do Espírito Santo o primeiro lugar ficou com a Trova do Trovador Albércio Nunes Vieira Machado, morador da Cidade Continental no Município da Serra. A entrega dos prêmios será no dia 27 de Julho de 2012, a partir de 19 horas, na abertura solene do Nono Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores a ser realizado de 27 a 29 de Julho, na Escola de Teatro, Dança e Música FAFI (Faculdade de Filosofia) em Vitória, Espírito Santo.

TEMA PESCADORES – ÂMBITO NACIONAL

1º Lugar
Somos todos nessa vida
Pescadores de ilusão
Dedicando a nossa lida
Aos anzóis de uma paixão
Geraldo Trombin
Americana - SP

2º Lugar

Vivo de esperança e sonhos
Assim como os Pescadores
Que voltam do mar, tristonhos
Disfarçando os dissabores
Ademar Macedo

Natal – Rio Grande do Norte

3º Lugar


Quando os Pescadores poetas,
Nas águas vão se inspirar,
Jogam as redes inquietas
E puxam versos do mar
Roberto Tchepelentyky
São Paulo – SP

4º Lugar

Se as moquecas saem boas,
Vão para o “chef” os louvores.
- Nunca ouvi cantarem loas
Ao labor dos Pescadores...
Antônio Augusto de Assis
Maringá – Paraná

5º Lugar

- Pescadores, foi milagre!
E o fanfarrão se gabava:
Só a foto do meu bagre
Mais de dez quilos pesava
Hegel Pontes
Juiz de Fora – Minas Gerais

6º Lugar

Feito de tramas e dores,
Aprisionados na areia,
O cesto dos Pescadores
Por mais uma Pesca anseia
Joana D’Arc da Veiga
Nova Friburgo - Rio de Janeiro

7º Lugar

Foram pobres Pescadores
Por Jesus os escolhidos
Seus primeiros seguidores
E da “palavra” incumbidos
Ruth Farah Nacif Lutterback
Cantagalo – RJ

8º Lugar

Poetas são pescadores
De palavras e emoção:
- Fisgam assim seus amores
Com os versos da paixão.
Eliana Ruiz Jimenez
Balneário Camboriú – Santa Catarina

9º Lugar

Amargurando os amores,
Sob a luz da lua cheia,
O sonho dos Pescadores
É fisgar uma sereia
Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho
Juiz de Fora – MG

10º Lugar

Pescador inteligente
Só pesca com emoção...
São Pedro fica de frente
Quando puxa o arrastão!...
Neiva Fernandes
Campos dos Goytacazes – Rio de Janeiro

TEMA PESCADORES – ÂMBITO ESTADUAL

1º Lugar

Barcos n’água e com destreza
Pescadores levam fé
Trazendo sustento à mesa
Nesse vaivém da maré
Albércio Nunes
Serra, ES

2º Lugar

São Pedro leva no barco
A Fé junto aos Pescadores...
E neste barco que embarco
Afogando dissabores!
Valsema Rodrigues da Costa
Vila Velha – ES

3º Lugar

Eu ouço no mar um cântico
Suave e às vezes bravio
Os Pescadores do Atlântico
Enfrentam esse desafio
Maria do Rosário Silva Santos
Vitória – ES

4º Lugar

Iguais aos desbravadores
Dos sertões do meu Brasil
Vão, os heróis Pescadores
Enfrentar o mar hostil!
Nealdo Zaidan
Anchieta – Espírito Santo

5º Lugar

Caçadores, pescadores...
Quem inspira a nossa lira
Na mira dos Trovadores:
Contadores de mentira
Ednes Rangel
Vila Velha – ES

6º Lugar

Jesus que as dores acalma
Quer nos fazer Pescadores
Para pescarmos a alma
De todos os sofredores.
Maria Immaculada Teixeira Schirmer
Serra – ES

7º Lugar

Pesquem, pesquem Pescadores,
Com gosto e sabedoria,
Tendo em mente os promissores
Princípios de ecologia
Genilton Vaillant de Sá
Vitória – ES

8º Lugar

São jovens ou são senhores
Corajosos e com fé
Isso faz os Pescadores
Remarem contra a maré
Jorge Luis de Oliveira
Alegre – ES

9º Lugar

E sobre as ondas do mar
Navegando os Pescadores
Sempre rumo a encontrar
Do Divino seus valores
Márcia Couto Zanandréa
Vitória – ES

10º Lugar

Vitória dos Trovadores
De festa, cultura e fé.
É saudando os Pescadores:
Serenata em Itararé
Edilson Celestino Ferreira
Vitória – ES

Fonte:
Clério José Borges de Sant’Anna

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Zé Lucas, Ademar Macedo e Prof. Garcia (Um Debate em Setilha Agalopada) Parte 2

31 - Zé Lucas
Muito moço, me lembro, certo dia,
os ciganos estavam se arranchando;
o famoso Chatô, com o violão,
Marcelino, era o chefe, no comando,
e, num simples olhar e doce frase,
uma jovem cigana quase, quase
me puxava pra dentro do seu bando.

32 – Ademar
Meu poeta, eu também quase debando,
e só não debandei porque não pude;
eu não tinha talento para o circo
e isso fez eu tomar tal atitude;
esse amor que nem era de verdade
eu guardei pra lembrar e ter saudade,
dos amores da minha juventude.

33 - Prof. Garcia
Eu confesso não ter tido a virtude
de poder cultivar na flor da idade,
os amores ciganos tão sonhados
ao florir da mais tenra mocidade;
mas eu juro, que guardo por lembrança,
as paqueras do tempo de criança
num baú carregado de saudade.

34 - Zé Lucas
De trabalho foi minha mocidade:
conheci a pancada da marreta,
colhi safras de milho e de algodão,
cavei chão de alavanca e picareta,
mas a escola explorou a minha mente
e ensinou-me a ser mais independente,
no manejo do mouse e da caneta.

35 – Ademar
Escorado no topo da muleta,
eu me fiz um poeta e trovador;
meu passado de atleta e de boêmio
para mim, não foi nada alentador;
mas depois do meu trágico acidente,
encontrei na poesia e no repente
o remédio eficaz pra minha dor.

36 - Prof. Garcia
Sempre fui um eterno sonhador
dos encantos febris da meninice,
não consigo esquecer de minha infância
nem da força de tanta peraltice;
por capricho inda trago na memória,
bem guardado o registro desta história
que transformo em poemas na velhice.

37 - Zé Lucas
Eu daria três quartos da velhice
por um quinto da minha mocidade;
não que a vida atual não seja boa,
mas porque, nos meus vinte anos de idade,
tinha força e saúde como um touro
e hoje, desse belíssimo tesouro,
não disponho de um terço da metade!

38 – Ademar
Nos meus quase sessenta anos de idade
descobri com minha alma enternecida
que nos versos que eu fiz a vida inteira
encontrei na poesia uma guarida,
um sentido maior pra o meu amor,
o remédio eficaz pra minha dor
e um alento pra toda minha vida.

39 - Prof. Garcia
Eu queria vencer esta corrida
sem estresse e passando pelos flancos,
mas o tempo é carrasco e não perdoa
bate duro, me dando solavancos;
todo dia provoca o meu desgosto,
costurando outra ruga no meu rosto
e aumentando estes meus cabelos brancos.

40 - Zé Lucas
Muitas vezes, a trancos e barrancos,
as pessoas se perdem nos caminhos;
descuidadas da vida, se arrebentam
em abismos de pedras e de espinhos,
e além disso, sem fé a protegê-las,
perambulam em noites sem estrelas
e lamentam que os dias são mesquinhos!

41 – Ademar
Muletando eu irei pelos caminhos
cada dia mais lento... devagar,
carregando o meu fardo de doenças
e sabendo que Deus vai me curar...
nesta vida tão cheia de distâncias,
eu envolto nas minhas inconstâncias
não acerto os caminhos de voltar.

42 - Prof.Garcia
Mesmo assim todos temos que lutar,
porque Deus, sabe tudo quanto faz,
se ele fez este mundo tão bonito
a doença ele cura que é capaz;
Jesus Cristo nos deu trevas e luz,
também fez cada um com sua cruz,
mas a cruz que carrega pesa mais!

43 - Zé Lucas
Não existe no mundo dos mortais
um ser vivo que escape ao sofrimento;
cada um tem a carga que merece,
só não pode é ficar alguém isento;
esse é o preço que a sorte nos repassa,
porque a vida, que Deus nos dá de graça,
nunca fica de graça cem por cento.

44 – Ademar
Tive agora uma pane de momento
no lugar onde o verso nasce e cria;
o intelecto não foi prejudicado
nem sofreu qualquer tipo de avaria,
digo aqui a você que não se engane,
acabei de sofrer, com esta pane,
“Um derrame” de verso e de poesia.

45 - Prof. Garcia
Mas a mente do vate sempre cria
os mais lindos cenários naturais,
Deus tem dó dos poetas sofredores
para o verso abre todos os portais;
se você no passado criou tanto,
no presente voltou com mais encanto
num derrame de versos imortais.

46 - Zé Lucas
Ademar retornou um pouco mais
afinado pra o nosso desfio;
no repouso que teve, colheu chuva,
pôs mais água no leito do seu rio,
alargou mais os passos do confronto,
temperou mais o caldo e deu o ponto
para um verso gostoso e mais sadio.

47 – Ademar
Descobri neste nosso desafio
o que todo poeta já sabia:
que nos versos que José Lucas faz
tem métrica, tem rima e melodia;
e ao compor essa estrofe eu digo e penso
quanto mais versos leio, me convenço
que Zé Lucas é um mestre na poesia.

48 - Prof. Garcia
Este novo debate desafia
os limites de nossa cavalgada;
mas se a fonte do verso não se esgota
vamos juntos romper esta jornada,
porque nada no mundo é tão sublime
quanto a fonte de luz que nos redime
na ousadia de nossa caminhada.

49 - Zé Lucas
Deus estando conosco, não há nada
que nos faça esquecer o som da lira,
porque é quase impossível segurar
um poeta na hora que se inspira,
e se o verso perder o seu encanto,
o mais doce sorriso vira pranto
e a beleza do mundo se retira.

50 – Ademar
Quando a musa do céu vem e me inspira
pondo brilhos na minha inspiração,
eu desenho na mente uma paisagem
com pincéis vivos da imaginação;
e eu envolto na mais doce aquarela
vou encher de beleza a minha tela
retratando a paisagem do sertão.

51 - Prof. Garcia
Nunca vai nos faltar inspiração
porque nunca guardamos dissabores;
nossos versos se inspiram nas estrelas,
nos perfumes sutis que vem das flores,
e também são tirados das entranhas
das cavernas profundas das montanhas
protetoras dos vates trovadores.

52 - Zé Lucas
Eu me espelho nos nossos cantadores,
andarilhos de longa travessia,
cujo ofício é vender por toda parte
o produto de sua cantoria;
com a viola, fraterna companheira,
improvisam, cantando, a vida inteira,
sem desfalque no estoque de poesia.

53 – Ademar
Deus nos fez três arautos da poesia,
nos encheu de talento e inspirações;
nas entranhas da mente pôs os versos,
pôs a paz, pôs o amor nos corações
e nos fez uns eternos sonhadores,
fabricantes de versos e criadores
das mais puras e belas emoções.

54 - Prof. Garcia
Nossos versos provocam sensações
entre os ricos, plebeus e entre nós;
vem das auras sublimes das auroras,
da saudade que bate ao por dos sóis,
do sorriso feliz das madrugadas,
dos encantos das noites orvalhadas
ao romper dos mais lindos arrebóis.

55 - Zé Lucas
As estrelas são nítidos faróis
quando o céu anoitece mais bonito;
para nós, os poetas sonhadores,
a beleza da Lua é quase um mito
na distância da cósmica jornada
em que a voz de um trovão é quase nada
e o silêncio de Deus corta o infinito.

56 – Ademar
Deus pintou o cenário mais bonito
nos neurônios que tem na minha mente.
Com o brilho das luzes da poesia
me ensinou a fazer verso e repente;
me deu todas as dicas sobre a rima
e depois de fazer esta obra-prima
deu ao mundo um poeta de presente.

57 - Prof. Garcia
Tudo quanto na vida a gente sente,
vem da musa secreta dos arcanjos;
Deus é Pai, fez de tudo neste mundo,
fez a lira do vate, sem arranjos,
fez até entre os filhos pecadores,
a poesia dos vates trovadores
e a ternura do verso entre os seus anjos.

58 - Zé Lucas
Se os poetas cantassem como os anjos,
poderiam, no espaço de um segundo,
declamar para toda a humanidade
um poema de amor, belo e profundo,
pra livrá-la de lágrimas e tédio,
pois na essência dos versos há remédio
para todas as dores deste mundo.

59 – Ademar
Como prova de amor, maior do mundo,
Cristo morre por nós, os pecadores.
Vejo ainda no manto de Maria
os vestígios de suas próprias dores;
e, dotado de toda perfeição,
pra falar deste amor e do perdão
Deus criou os poetas trovadores.

60 - Prof. Garcia
Somos todos poetas sedutores
desta musa tão bela e tão divina,
que apesar de modesta e tão singela,
nunca foi, nem será tão pequenina;
porque somos eternos aprendizes
costurando as profundas cicatrizes
desta linda cultura nordestina.

Raquel Ordones (Função Proteica da Poesia)


Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 604)

Uma Trova de Ademar 

A distância nos redime
se a saudade nos escolta;
ir pra longe é tão sublime
como sublime é a volta!

–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional


É hiper minha saudade,
é super minha emoção;
tão grande é minha vontade,
que quase perco a razão!

–Antonio M. A. Sardenberg/RJ–

Uma Trova Potiguar


Quando a noite vem chegando,
das sombras tecendo tranças,
o meu ser vai se afogando
no mar das minhas lembranças.

–Gonzaga da Silva/RN–

Uma Trova Premiada

1987 - Resende/RJ
Tema - ABANDONO - M/E


Se vejo um roto menino,
desvalido, pela praça,
no abandono, sem destino,
estranha culpa me abraça.

–Josué Vargas Ferreira/SP–

...E Suas Trovas Ficaram


Os teus mistérios e os meus,
por incrível que pareça,
sem a intervenção de Deus
tornam-se quebra-cabeça.

–Analice Feitoza de Lima/SP–

 U m a      P o e s i a  


Sendo o caminho imperfeito,
Deus ameniza a jornada,
dando-nos feixes de rimas...
e os poetas, em parada,
vão traçando no caminho
uma faixa iluminada.

–Vanda Fagundes Queiróz/PR–

Soneto do Dia

A DOCE FASCINAÇÃO DA ESPERANÇA.
–José Tavares de Lima/MG–


Vejo-te em sonho. Pelo teu semblante
imagino-te um anjo compreensivo...
Não sei se perto estás, se estás distante,
sei que te quero e, por querer-te, vivo!

És o bem que eu desejo a cada instante;
és do meu amargor o lenitivo;
és o brilho da estrela radiante
que me faz ver o mundo mais festivo...

Como a fascinação que mais me enleva
pões clarão no negror de minha treva,
na minha tempestade pões bonança!...

És tudo para quem não tem mais nada;
és, enfim, a ventura entressonhada
que os inditosos chamam de esperança!

terça-feira, 10 de julho de 2012

Zé Lucas, Ademar Macedo e Prof. Garcia (Um Debate em Setilha Agalopada) Parte 1

Nota:
Este debate potiguar possui 150 setilhas, as quais foram divididas em 5 partes, contendo 30 setilhas cada uma.
Participaram dele :
José Lucas de Barros (Zé Lucas)
Ademar Macedo (Ademar)
Francisco Garcia de Araújo (Prof. Garcia)
-----------------------

01 - Zé Lucas
Companheiros de luta, está na hora
de afinarmos a lira pra cantar!
A viagem poética vai ser
empolgante, depressa ou devagar.
Os caminhos talvez se tornem duros,
e eu não sei se meus pés estão seguros,
mas a minha vontade é caminhar.

02 - Ademar
Meus poetas, me queiram desculpar
se a resposta que eu der não ficar boa,
eu virei uma fábrica de doença,
tudo o que eu fizer hoje sai à toa;
o meu corpo tá todo dolorido,
dói cabeça, dói pé e dói ouvido
não tem mais uma parte que não doa!

03 - Prof. Garcia
Mesmo assim Deus do céu nos abençoa,
e alivia esse triste padecer,
ninguém vive no mundo por acaso
nem se vive na terra sem sofrer;
Jesus Cristo foi santo sem pecado,
perdoou, padeceu, foi condenado
e morreu para o homem não morrer!

04 - Zé Lucas
Celebremos a bênção de viver
neste mundo em que Deus nos deu morada,
alargando a esperança cada dia
e espalhando sorrisos pela estrada,
como flores de amor e de prazer,
para que, quando o ocaso aparecer,
inda existam reflexos da alvorada.

05 - Ademar
Mesmo assim com a mente adoentada
eu me sinto na “bela” obrigação
de fazer estes versos de improviso,
e perdoe esta minha exaltação;
pois aqui eu lhe digo qual gabola:
quanto mais tiro versos da cachola
nasce em mim muito mais inspiração!

06 - Prof. Garcia
Se eu tivesse essa mesma inspiração
eu confesso num tom de rebeldia:
Que meu verso seria diferente,
tinha muito mais força e ousadia,
mas a força que sinto e me domina
acredito que seja a mão divina
que me inspira e me ajuda todo dia!

07 - Zé Lucas
Quando eu era menino não sabia
que o destino nos leva a qualquer canto,
faz o jogo que quer com nossa vida,
deita e rola com nosso desencanto;
nas trapaças que sabe arquitetar,
muitas vezes nos leva a gargalhar,
outras vezes explora nosso pranto.

08 - Ademar
Eu quisera na vida o mesmo tanto
deste fardo de versos que carregas,
sobre um rio de inspiração corrente
pelo qual mansamente tu navegas;
e eu espero que tu me compreendas:
se aumentares demais as encomendas,
eu talvez nem dê conta das entregas!

09 - Prof. Garcia
Enfrentei ventos fracos e refregas,
calmarias e fortes vendavais,
a procura da musa que me inspira
nos refrões dos antigos madrigais;
mas a sorte, madrasta dos meus planos,
só me deu versos soltos e profanos
e os gemidos sofridos dos meus ais!

10 - Zé Lucas
Muitas vezes me enredo em cipoais,
sem medir o perigo que me afronta,
empreitadas que a vida me oferece,
sem, de fato, saber se vou dar conta;
mesmo assim não me assusta o caminhar,
porque sei que algum dia vou chegar
onde minha esperança sempre aponta.

11 - Ademar
Só Deus sabe se eu vou pagar a conta
ou se vou anotar na caderneta,
meu mercado de versos anda fraco
e vocês fazem versos “de carreta”;
mas daqui pro final vou ver se engrosso,
tô querendo correr mas eu não posso,
nem que eu bote um motor nessa muleta!

12 - Prof. Garcia
Inda estou garimpando na banqueta
desbastando a velhaca pedra bruta,
à procura da musa que me ensine
a manter o meu nível de conduta;
porque nesta setilha agalopada,
se eu chegar ao final desta jornada
nunca mais entrarei noutra disputa!

13 - Zé Lucas
Inda estamos no início desta luta;
não podemos dar mostras de cansaço.
O rojão é pesado, mas faremos
a viagem sem medo e sem fracasso.
A poesia, que faz nosso universo,
nos dará o condão de cada verso
e a firmeza do chão em cada passo.

14 – Ademar
Vou impor uma lei ao meu cansaço
e mudar do meu verso a diretriz;
ao criar esta lei para o desânimo
já deixei o cansaço “por um triz”,
pois não há dor no mundo que me empate
e eu irei enfrentar este debate
sem ter medo nenhum de ser feliz!

15 - Prof. Garcia
Foi assim que eu pensei e sempre quis
e este meu pensamento eu não desfaço,
acredito na força do destino
confiando no verso que inda faço;
pois da fonte da santa inspiração,
eu bebi gotas d'água de ilusão
afastando as loucuras do fracasso.

16 - Zé Lucas
Deus, puxando o poeta pelo braço,
o coloca nas sendas da poesia,
dá-lhe a chave dos versos e o inspira
a cantar com beleza e galhardia.
É por essa razão que, certamente,
cada estrofe que faço é um presente
que recebo do céu com alegria.

17 – Ademar
Deus me fez um amante da poesia,
portador de profunda sensação,
agradeço a Deus Pai por minha vida,
vai pra Deus toda minha gratidão
pela minha família boa e pura,
pela fé, esperança e pela cura,
por meus versos... Por minha inspiração.

18 - Prof. Garcia
Sempre tive a maior veneração,
por Deus Pai, nosso eterno criador,
que me quis pequenino deste jeito
e me fez seu eterno sonhador;
como quem diz abrace o que te dei,
e a poesia, feliz eu abracei,
me tornando poeta e Trovador.

19 - Zé Lucas
A poesia nasceu quando o Senhor
disse: "Faça-se a luz" e a luz foi feita.
As estrelas por, todo o firmamento,
demonstraram que a obra era perfeita,
e o poeta, tangendo a pena leve,
bebe a luz das estrelas quando escreve,
porque verso apagado não se ajeita.

20 – Ademar
O poeta já vem com a verve feita
por Deus Pai nosso mestre e criador;
alguns nascem com a mente de aprendiz,
outros tantos já nascem professor,
e Deus vendo chegar a minha vez,
com a bênção sagrada Ele me fez:
Fuzileiro, Poeta e Trovador.

21 - Prof. Garcia
Sempre vi na grandeza do Senhor,
esta mão benfeitora e artesã:
no trinado das aves seresteiras,
despertando a floresta, o morro e a chã,
num concriz quando canta uma toada,
que enfeitiça o romper da madrugada
nos primeiros gorjeios da manhã!

22 - Zé Lucas
Canta alegre a inquieta jaçanã,
revoando por cima da lagoa;
pescador atravessa o rio cheio,
dando açoites nos remos da canoa,
aos impulsos febris do coração,
na manhã invernosa do sertão,
quando o "pai da coalhada" ainda ecoa.

23 – Ademar
Quando Deus muda a vida da pessoa
e a tribuna do verso lhe oferece,
sua vida transporta-se ao parnaso
onde eu sei que jamais ele emudece;
e ele envolto num mundo de poesia
tudo quanto ele escreve se irradia
quando a musa do verso lhe aparece.

24 - Prof. Garcia
Se esquecer de ninguém, Jesus se esquece,
porque somos seus filhos naturais,
ele tem nossos nomes e prenomes,
endereços e até nossos anais;
mas um dia, seremos todos réus,
ante os pés do Senhor, que está nos céus,
enfrentando os seus velhos tribunais!

25 - Zé Lucas
Nesta vida, os pecados são demais,
apesar de fazermos caridade.
Não podemos fugir de todos eles,
porque o mundo nos cerca de maldade,
e é por isso que o dom da salvação
não depende de nós, mas do perdão
que Jesus prometeu à humanidade.

26 – Ademar
Quando Deus me levar pra eternidade
ficará nesta terra a minha cruz,
juntamente com todos meus pecados
pois pecados pra lá não se conduz;
agradeço ao bom Deus por esta vida
e eu não quero que chorem na partida,
porque vou para o céu pra ver Jesus!

27 - Prof. Garcia
Eu também peço a Deus que me conduz,
que releve os meus gestos de maldade,
que perdoe meus pecados cometidos
muitas vezes repletos de humildade;
mas se somos reféns desses pecados,
precisamos por Deus ser perdoados
para entrarmos na santa eternidade!

28 - Zé Lucas
Tive o berço que teve a humanidade,
dentro do Éden, com Eva e com Adão.
Inquilino da "Terra Prometida",
protegeram-me os braços de Abraão.
Mesmo pobre e sofrido como Jó,
bebi água no Poço de Jacó
e depois batizei-me no Jordão.

29 – Ademar
Então hás de ganhar a salvação
pois é leve demais a sua cruz.
Percorreste um caminho da verdade
e quem faz desse jeito encontra a luz;
que demore, pra o céu, sua viagem
mas você possuindo essa bagagem
sentará à direita de Jesus!

30 - Prof. Garcia
Esqueci das barreiras que transpus
percorrendo as vertentes da poesia,
sempre em busca da forma mais completa
das origens dos versos que eu fazia;
só depois que bebi desta vertente,
Deus me fez tangerino do repente
e tropeiro do verso que me guia!

Fonte:
Setilhas enviadas por Ademar Macedo

Sylvia Orthof (Bruzundunga da Silva)

Cada livro tem uma história... mas este livro que você está começando a ler é um livro diferente. A começar pelo nome: Bruzundunga da Silva.

Você quer saber quem é Bruzundunga da Silva? Eu vou contar, só pra você, a vida dele. Bruzundunga nasceu numa casa em Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Nasceu numa tarde de muito calor, no dia 6 de fevereiro de 1985. A mãe do livro, a escritora que o escreveu, ficou logo aflita quando Bruzundunga chegou neste mundo. Porque Bruzundunga chegou, olhou em volta... e ficou encharcado.

- Eu não sabia que livro chorava, eu não sabia! - disse a escritora, buscando um lenço para enxugar os olhos do seu filho-livro. - Por que você está chorando, hein? - perguntou pra ele.

- É que eu sou um livro, já nasci sabendo o que me espera.

Nasci, olhei aí para os meus irmãos-livros da sua estante, mamãe... buá, buá... eles estão com um ar tão sofrido! A mãe do livro entendeu o filho, botou no colo, ninou.

Bruzundunga foi crescendo: completou a primeira página.

Para comemorar um aniversário tão importante, a Dona Mãe de Bruzundunga fez uma festa, com bolo de letras, teatro de fantoches, bolas de soprar. O tio, Dicionário de Inglês, veio muito importante e cantou o "Parabéns", dizendo "Happy Birthday to You".

Mas, de repente... Bruzundunga pulou no colo da tia Enciclopédia e recomeçou a chorar:

- Buá, Buá!

- O que foi, filho meu? Mas o que será que aconteceu? perguntou a Dona Mamãe de Bruzundunga.

- Não sei, mãe... é uma aflição... tenho medo... medo... medo...

- Medo de fantasmas? - perguntou um livro de Hisórias de Botar Cabelo Em Pé, dando um susto em Bruzundunga, pois veio voando, vestido de lençol.

- Ui, ui... que susto, buá, buá! - berrou o livro.

Mamãe Dona Mãe de Bruzundunga não entendia o motivo da aflição de seu filho. Mas mesmo assim o compreendia, porque tentava entender, mas não entendia, entende? Não? Nem eu. Só sei que era assim.

O livro Bruzundunga cresceu, completou as páginas necessárias para ir ao encontro da luta pela vida. Cresceu meio magrela, sempre dando umas choradinhas. A Dona Mãe de Bruzundunga, ao contrário, nervosa com o nervosismo do filho, desatou a comer farofa com caldo de feijão. Era só o livro-filho demonstrar um nervosinho, Dona Mãe de Bruzundunga corria pra cozinha e desatava a comer, pra ficar calma. O livro ficou magrela, a Dona Mãe, ao contrário, já estava da grossura do NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO, por parte de pai, e de ...E O VENTO LEVOU, por parte de mãe.

São livros gordíssimos, talvez porque tenham tido problemas e tenham começado a devorar feijão com farofa, sei lá!

Bruzundunga da Silva, enfim, nervosérrimo, foi para a luta pela vida, fora do escritório da mamãe. Ainda não estava bem com jeito de livro, tinha palavras risxxx, quero dizer, riscaxxxx, ora, tinha riscos e xxxxx, remendos...

enfim, era ainda um papel, ou melhor, várias folhas de papel, com cópias de papel carbono, devidamente numeradas e grampeadas.

Bruzundunga foi posto num envelope. A Dona Mãe de Bruzundunga escreveu o nome da editora no tal envelope e enviou as cópias das páginas escritas, aquelas que tinham sido copiadas com carbono.

A editora ficava em São Paulo. Bruzundunga iria pelo correio, lá do Largo do Machado, que é um correio que fica numa praça que tem de tudo: tem trinta e nove mil pombos, uma igreja, um buraco de metrô, bancos com namorados, desquitados, divorciados e amigos em geral. Tem também crianças, barulho de buzinas... e o tal correio.

Bruzundunga tremia dentro do envelope, chorando baixo. Chorou tanto, que o envelope derreteu, furando, e Bruzundunga fugiu. Logo que Bruzundunga escapuliu, a Dona Mãe de Bruzundunga, muito distraída, foi colocar o envelope no correio, mas jogou-o dentro do buraco do metrô, lá do Largo do Machado. Em vez de selo, Dona Mãe de Bruzundunga havia comprado uma passagem de metrô, que colara, com cuspe, no envelope.

Depois, Dona Mãe de Bruzundunga atravessou a praça, o tal Largo do Machado, para comer feijão com farofa num restaurante da esquina, por nervosismo.

Mãe quando se separa de filho fica assim, geralmente. Tem algumas que ficam aliviadas, dependendo do momento...porque nenhuma pessoa é igual a outra.

Bruzundunga da Silva, livre do seu envelope, que foi enviado de metrô pra não sei onde, ficou assim, fungando, no meio dos pombos do Largo do Machado.

Bruzundunga era branco. Veio um vento, abriu suas páginas... e de repente ele voou junto com os pombos.

Olhando de longe, cá de baixo, ninguém saberia dizer quem era pombo e quem era Bruzundunga. Bruzundunga ficou assustado, vendo a igreja lá embaixo... mas bateu suas asas de papel, voou e gostou.

Foi aí que Bruzundunga conheceu Bernardina, uma pomba roliça, bonitona. Dizem até que Bernardina e Bruzundunga tiveram um caso de amor, um caso rápido, porém lindo: coisa de muita asa e vôo.

A noite chegou. Todos os pombos foram comer milho.

No Largo do Machado tem uma velha, chamada Dona Pipoca, que todas as tardes leva milho para os pombos.

Bruzundunga, achando que era pombo, viu os pombos comerem milho e... nhoc! avançou, também. Mas não conseguiu engolir. Ficou tossindo, tossindo... até que Bernardina deu um tapa nas costas dele. O tapa foitão forte que Bruzundunga subiu, subiu, depois desceu, desceu... e foi planando, planando, até cair dentro de uma coisa escura e quente.

- Ui, ui... buá... buá... - choramingou Bruzundunga.

- Mas é o meu filho! - gritou a mãe, a Dona Mãe de Bruzundunga, pescando o lambuzado filhote de dentro do prato de caldo de feijão. Ela não saíra ainda do restaurante.

- Mãe! - exclamou o filho.

- Filho! - exclamou a mãe.

- Mãezinha queridinha! - reexclamou o filho.

- Filhotinhozinho queridozinho! - reexclamou a mãe.

Os dois, abraçadíssimos, voltaram para casa. As cigarras continuavam a cantar, porque ainda era verão.

Finalmente, depois de muito conversarem, depois de muito choro, feijão e farofa, os dois resolveram que tinham que crescer.

A mãe despediu-se do filho, levou-o para a caixa do correio mesmo.

O envelope tinha uma fralda dentro, que era para o caso de Bruzundunga chorar e evitar que o envelope ficasse molhado e tudo acontecesse de novo.

O editor leu o livro, ou melhor, o editor leu as páginas, fez um contrato com a escritora. Teve um momento em que a escritora pediu mais um dinheirinho, meio envergonhada... mas, afinal, escrever livros era a profissão dela, não é? E tudo ficou combinado.

Bruzundunga ficou conhecendo o ilustrador, que desenhou a história da sua vida. Depois, foi para a gráfica... e saiu assim, livro mesmo.

Aliás, ele virou milhares de exemplares iguais.

Quando ele está numa livraria, todo bonito, exposto para ser vendido, e alguém chega, olha pra ele, gosta e compra... aí, Bruzundunga fica feliz, feliz... e parece até que engorda, pois fica inchado.

Mas tem certas gentes que olham para um exemplar de Bruzundunga, torcem o nariz e dizem:

- Gastar dinheiro com livro? Para quê? Criança lê, depois não liga... É dinheiro jogado fora!

Quando isso acontece, Bruzundunga chora, se desmancha todo: molha a estante, desbota, encharca a livraria.

Vira um problema, dizendo:

- É por causa disso que eu já chorava, quando ainda era um bebê-papel-texto-e-pauta... buá... buá... Os meus irmãos livros, logo que eu nasci, me contaram das dificuldades pelas quais passa um livro... buá... livro sofre!

Quando Bruzundunga completou a segunda edição, aí ele já ficou menos chorão. Olhava bem pra cara das pessoas que não gastavam com livros, mas gastavam com sorvetes e sanduíches.

E quando uma daquelas gentes dizia:

- Comprar livro é besteira... A gente compra um livro para uma criança, depois a criança lê e joga pro lado...

Bruzundunga olhava bem pra cara dessas gentes, botava a língua de fora, fazia uma careta amassada e respondia, malcriado:

- É? É, não é? Quer dizer que livro é besteira, porque a pessoa lê e depois joga para um lado? E sorvete? A pessoa come... e depois? Depois... o que é que acontece com o sorvete e o sanduíche, hein? Depois de comido, digerido... vira o quê, hein? E quer saber de uma coisa? Você não merece livro, tá? Quem quiser gostar de mim, vai gostar de mim... e pode até, de vez em quando, me querer de novo, reler minha história. Falei e disse!

Bruzundunga não queria contar uma história assim, que diz que livro é importante, coisas de moral de história. Ele nem foi escrito para isso... mas é que, sem querer, livro também sente, né? E Bruzundunga resolveu falar bem dele mesmo, porque Bruzundunga resolveu, ora!

Mas neste instante Bruzundunga está inchando de felicidade!

Porque você é legal: gosta de sorvete, sanduíche... e livro... porque, se não gostasse, não ia querer saber de Bruzundunga até aqui, não é mesmo?

E a Dona Mãe de Bruzundunga?

Ela está com medo das críticas sobre Bruzundunga... está nervosa... e come feijão com farofa... e mais feijão com farofa... mas, nos intervalos, lê e escreve, ora! É isso aí.

E Bernardina, a pomba?

Ela não gosta de ler: come pipoca... e descome, come e descome... mas não liga pra livrarias. Sabe por quê?

Bernardina é míope, não usa óculos porque é vaidosa. E, sem óculos, ela só gosta de livro quando pensa que livro é pombo, como aconteceu com Bruzundunga.

Tem pomba que é assim, pombas!

FONTE:
A Garupa, e outros contos /Sylvia Orthof...[et al.]. São Paulo: Martins Fontes, 2002 - (Coleção literatura em minha casa ; v.2)