terça-feira, 6 de junho de 2023

J. G. de Araújo Jorge (Inspirações de Amor) XXX


Soneto para Maria Helena


Tu que por crenças vãs a Vida arrasas
e ante o espelho não queres ver que és,
que imagina viver abrindo as asas
e te esqueces de andar com os próprios pés...

Que transforma o Sonho num revés
mesmo a acender o fogo em que abrasas,
e te algema as mãos, - as mãos escravas
como as do prisioneiro das galés.

Tu que te enganas a falar de alturas
com as palavras mais belas e mais puras
e te imolas num gesto superior,

não percebes nessa ânsia de suicida
que nada há enfim mais alto do que a Vida
quando a erguemos num brinde - ébrios de amor!
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Sorrio...

Ah! vieste me falar de antigamente
desse tempo em que fui sentimental,
quando o amor era um sonho puro e ardente
vestido em véu de espumas, nupcial...

Quando me dava, perdulariamente,
vivendo o mal sem conhecer o mal,
a levar a alma inquieta de quem sente
e de quem busca uma conquista ideal...

Era sestro da idade essa existência...
Sinal de pouca vida e muito sonho,
de muito sonho... e pouca experiência...

Hoje, no entanto, se a pensar me ponho:
- sorrio... Um vão sorriso de indulgência...
...Sinal de muita vida... e pouco sonho…
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Suprema  Ironia

Não digas que não sofro - o meu sofrer profundo
com um sorriso nos lábios muita vez apago...
A dor - é coo a pedra que cai - vai pro fundo
sob a face serena e tranquila do lago...

Um segundo de pura alegria - um segundo
muitas vezes me basta, e já me dou por pago...
Se invejo, invejo aquele que não tendo um mundo,
tem mundo para além do olhar ardente e vago...

Que eu não ando a dizer que sofro e me atormento!
É covardia a gente maldizer-se à toa
a viver esta vida entre um ai e um lamento...

Eu, não! Bem sei que sofro, mas sofrer - que importa ?
Digo aos homens que o mundo é belo, a vida é boa!
E... suprema ironia... a minha voz conforta!
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Supremo Orgulho

Nunca soube pedir...Nunca soube implorar...
Nasci, tendo este orgulho em minha lama irrequieta,
- há  um brilho que incendeia o meu altivo olhar
de crente superior... de indiferente asceta...

Minha fronte, jamais, eu soube curvar
na atitude servil de uma existência abjeta...
Ninguém é mais que eu!... Ninguém... e este meu ar
de orgulho, vem da glória imensa de ser poeta...

Sou pobre - mas riqueza alguma há igual à minha,
- a mulher que eu amar terá a glória suprema
de um dia se sentir maior que uma rainha....

Terá a glória de saber o seu nome
perpetuado por mim nas estrofes de um poema,
desses que a História guarda e o Tempo não consome !
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Surpresa

Começamos assim: - eu, tendo em mente
fingir gostar apenas: namorar,
como chamam na vida comumente
aos primeiros encontros de algum par...

Tu, disposta a prender-me ao teu olhar
por um mero capricho e, fatalmente,
depois que eu me curvasse a te adorar
trocar-me-ias por outro facilmente...

Começamos assim - logo, no entanto
- aquilo que pensei, não consegui,
nem conseguiste o que querias tanto...

E afinal - que belíssima surpresa !...
- Eu, de tanto fingir:  –  gostei de ti,
tu, querendo prender: - ficaste presa !...

Fonte:
JG de Araújo Jorge. Meus sonetos de amor. RJ: Ed. do Autor, 1961.

Machado de Assis (Habilidoso)

Paremos neste beco. Há aqui uma loja de trastes velhos, e duas dúzias de casas pequenas, formando tudo uma espécie de mundo insulado. Choveu de noite, e o sol ainda não acabou de secar a lama da rua, nem o par de calças que ali pende de uma janela, ensaboado de fresco. Pouco adiante das calças, vê-se chegar à rótula a cabeça de uma mocinha, que acabou agora mesmo o penteado, e vem mostrá-lo cá fora; mas cá fora estamos apenas o leitor e eu, mais um menino, a cavalo no peitoril de outra janela, batendo com os calcanhares na parede, à guisa de esporas, e ainda outros quatro, adiante, à porta da loja de trastes, olhando para dentro.

A loja é pequena, e não tem muito que vender, coisa pouco sensível ao dono, João Maria, que acumula o negócio com a arte, e dá-se à pintura nas horas que lhe sobram da outra ocupação, e não são raras. Agora mesmo está diante de uma pequena tela, tão metido consigo e com o trabalho, que podemos examiná-lo a gosto, antes que dê por nós.

Conta trinta e seis anos, e não se pode dizer que seja feio; a fisionomia, posto que trivial, não é desengraçada. Mas a vida estragou a natureza. A pele, de fina que era nos primeiros anos, está agora áspera, a barba emaranhada e inculta, embaixo do queixo, onde ele usa rapá-la, não passa navalha há mais de quinze dias. Tem o colarinho desabotoado e o peito à mostra, não veste paletó nem colete, e as mangas da camisa, arregaçadas, mostram o braço carnudo e peludo. As calças são de brim pardo, lavadas há pouco, e muito remendadas nos joelhos, remendos antigos, que não resistem à lavadeira, que os desfia na água, nem à costureira, que os recompõe. Uma e outra são a própria mulher de João Maria, que reúne aos dois misteres o de cozinheira da casa. Não há criados; o filho, de seis para sete anos, é que lhes vai às compras.

João Maria veio para este beco há uns quinze dias. Conta fazer alguma coisa, embora seja lugar de pouca passagem, mas não há, no bairro, outra casa de trastes velhos, e ele espera que a notoriedade vá trazendo os fregueses. Demais, não teve tempo de escolher, mudou-se às pressas, por intimação do antigo proprietário. Ao menos, aqui o aluguel é módico. Até agora, porém, não vendeu mais que um aparador e uma gaiola de arame. Não importa! Os primeiros tempos são mais difíceis. João Maria espera, pintando.

Pintando o que, e para quê? João Maria ignora absolutamente as primeiras lições do desenho, mas desde tenra idade pegou-lhe o sestro de copiar tudo o que lhe caía nas mãos, vinhetas de jornais, cartas de jogar, padrões de chitas, o papel das paredes, tudo. Também fazia bonecos de barro, ou esculpia-os a faca nos sarrafos e pedaços de caixão. Um dia aconteceu-lhe ir à exposição anual da Academia das Belas-Artes, e voltou de lá cheio de planos e ambições. Engenhou logo uma cena de assassinato, um conde que matava a outro conde; rigorosamente, parecia oferecer-lhe um punhal. Engenhou outros, alastrou as paredes, em casa, de narizes, de olhos, de orelhas, vendo na Rua da Quitanda um quadro que representava um prato de legumes, atirou-se aos legumes, depois, viu uma marinha, e tentou as marinhas.

Toda arte tem uma técnica; ele aborrecia a técnica, era avesso à aprendizagem, aos rudimentos das coisas. Ver um boi, reproduzi-lo na tela, era o mais que, no sentir dele, se podia exigir do artista. A cor apropriada era uma questão dos olhos, que Deus deu a todos os homens, assim também a exação (
precisão) dos contornos e das atitudes dependia da atenção, e nada mais. O resto cabia ao gênio do artista, e João Maria supunha tê-lo. Não dizia gênio, por não conhecer o vocábulo, senão no sentido restrito de índole — ter bom ou mau gênio —, mas repetia consigo mesmo a palavra, que ouvia aos parentes e aos amigos, desde criança.

— João Maria é muito habilidoso.

Assim se explica que, quando alguém disse um dia ao pai que o mandasse para a academia, e o pai consentiu em desfazer-se dele, João Maria recusasse a pés juntos. Foi assim também que, depois de andar por ofícios diversos, sem acabar nenhum, veio a abrir uma casa de trastes velhos, para a qual se lhe não exigiam estudos preparatórios.

Nem aprendeu nada, nem possuía o talento que adivinha e impele a aprender e a inventar. Via-se-lhe, ao menos, alguma coisa parecida com a faísca sagrada? Coisa nenhuma. Não se lhe via mais que a obstinação, filha de um desejo, que não correspondia às faculdades. Começou por brinco, puseram-lhe a fama de habilidoso, e não pôde mais voltar atrás. Quadro que lhe aparecesse, acendia-lhe os olhos, dava rebate às ambições da adolescência, e todas vinham de tropel, pegavam dele, para arrebatá-lo a uma glória, cuja visão o deslumbrava. Daí novo esforço, que o louvor a outros vinha incitar mais, como ao brio natural do cavalo se junta o estímulo das esporas.

Vede a tela que está pintando, à porta. É uma imagem de Nossa Senhora, copiada de outra que viu um dia, e esta é a sexta ou sétima em que trabalha.

Um dia, indo visitar a madrinha, viúva de um capitão que morreu em Monte Caseros, viu em casa dela uma Virgem, a óleo. Até então só conhecia as imagens de santos nos registros das igrejas, ou em casa dele mesmo, gravadas e metidas em caixilho. Ficou encantado; tão bonita! cores tão vivas! Tratou de a decorar para pintar outra, mas a própria madrinha emprestou-lhe o quadro. A primeira cópia que ele fez, não lhe saiu a gosto, mas a segunda pareceu-lhe que era, pelo menos, tão boa como o original. A mãe dele, porém, pediu-lha para pôr no oratório, e João Maria, que mirava o aplauso público, antes do que as bênçãos do céu, teve de sustentar um conflito longo e doloroso, afinal cedeu. E seja dito isto em honra dos seus sentimentos filiais, porque a mãe, D. Inácia dos Anjos, tinha tão pouca lição de arte, que não lhe consentiu nunca pôr na sala uma gravura, cópia de Hamon, que ele comprara na Rua da Carioca, por pouco mais de três mil réis. A cena representada era a de uma família grega, antiga, um rapaz que volta com um pássaro apanhado, e uma criança que esconde com a camisa a irmã mais velha, para dizer que ela não está em casa. O rapaz, ainda imberbe, traz nuas as suas belas pernas gregas.

— Não quero aqui estas francesas sem-vergonha! – bradou D. Inácia; e o filho não teve remédio senão encafuar (
esconder) a gravura no quartinho em que dormia, e no qual não havia luz.

João Maria cedeu a Virgem e foi pintar outra; era a terceira, acabou-a em poucos dias. Pareceu-lhe o melhor dos seus trabalhos: lembrou-se de expô-lo, e foi a uma casa de espelhos e gravuras, na Rua do Ouvidor. O dono hesitou, adiou, tergiversou, mas afinal aceitou o quadro, com a condição de não durar a exposição mais de três dias. João Maria, em troca, impôs outra: que ao quadro fosse apenso um rótulo, com o nome dele e a circunstância de não saber nada. A primeira noite, depois da aceitação do quadro, foi como uma véspera de bodas. De manhã, logo que almoçou, correu para a Rua do Ouvidor, a ver se havia muita gente a admirar o quadro. Não havia então ninguém. Ele foi para baixo, voltou para cima, rondando a porta, espiando, até que entrou e falou ao caixeiro.

— Tem vindo muita gente?

— Tem vindo algumas pessoas.

— E olham? Dizem alguma coisa?

— Olhar, olham! Agora se dizem alguma coisa, não tenho reparado, mas olham.

— Olham com atenção?

— Com atenção.

João Maria inclinou-se para o rótulo, e disse ao caixeiro que as letras deviam ter sido maiores; ninguém as lia da rua. E saiu à rua, para ver se podiam-se ler. Concluiu que não, deviam ter sido maiores as letras. Assim como a luz não lhe parecia boa. O quadro devia ficar mais perto da porta. Mas aqui o caixeiro acudiu, dizendo que não podia alterar a ordem do patrão. Estavam nisto, quando entrou alguém, um homem velho, que foi direito ao quadro. O coração de João Maria batia que arrebentava o peito. Deteve-se o visitante alguns momentos, viu o quadro, leu o rótulo, tornou a ver o quadro, e saiu. João Maria não pôde ler-lhe nada no rosto. Veio outro, vieram mais outros, uns por motivo diverso, que apenas davam ao quadro um olhar de passagem, outros atraídos por ele; alguns recuavam logo como embaçados. E o pobre diabo não lia nada, coisa nenhuma nas caras impassíveis.

Foi essa Virgem o assunto a que ele voltou mais vezes. A tela que está agora acabando, é a sexta ou sétima. As outras deu-as logo, e chegou a expor algumas, sem melhor resultado, porque os jornais não diziam palavra. João Maria não podia entender semelhante silêncio, a não ser intriga de um antigo namorado da moça, com quem estava para casar. Nada, nem uma linha, uma palavra que fosse. A própria casa da Rua do Ouvidor onde os expôs recusou-lhe a continuação do obséquio. Recorreu à outra da Rua do Hospício, depois a uma da Rua da Imperatriz, a outra do Rocio Pequeno. Finalmente não expôs mais nada.

Assim que, o círculo das ambições de João Maria foi-se estreitando, estreitando, estreitando, até ficar reduzido aos parentes e conhecidos. No dia do casamento forrou a parede da sala com as suas obras, ligando assim os dois grandes objetos que mais o preocupavam na vida. Com efeito, a opinião dos convidados é que ele era “um moço muito habilidoso”. Mas esse mesmo horizonte foi-se estreitando mais, o tempo arrebatou-lhe alguns parentes e amigos, uns pela morte, outros pela própria vida, e a arte de João Maria continuou a mergulhar na sombra.

Lá está agora diante da eterna Virgem. Retoca-lhe os anjinhos e o manto. A tela fica ao pé da porta. A mulher de João Maria veio agora de dentro, com o filho. Vai levá-lo a um consultório homeopático, onde lhe dão remédios de graça para o filho, que tem umas feridas na cabeça.

Ela faz algumas recomendações ao marido, enquanto este dá uma pincelada no painel.

— Você escutou, João Maria?

— Que é? - disse ele distraidamente, recuando a cabeça para ver o efeito de um rasgo.

— A panela fica no fogo. Você daqui a pouco vá ver.

João Maria respondeu que sim, mas provavelmente não prestou atenção.

A mulher, enquanto o filho conversa com os quatro meninos da vizinhança, que estão à porta, olhando para o quadro, ajusta o lenço ao pescoço. A fisionomia mostra a unhada do trabalho e da miséria, a figura é magra e cansada. Traz o seu vestido de sarja preta, o de sair, não tem outro, já amarelado nas mangas e roído na barra. O sapato de duraque (
espécie de sarja forte) tem a beirada da sola comida das pedras. Ajusta o lenço, dá a mão ao filho, e lá vai para o consultório. João Maria fica pintando; os meninos olham embasbacados.

Olhemos bem para ele. O sol enche agora o beco; o ar é puro e a luz magnífica. A mãe de um dos pequenos, que mora pouco adiante, brada-lhe da janela que vá para casa, que não esteja apanhando sol.

— Já vou, mamãe! Estou vendo uma coisa!

E fica a mirar a obra e o autor. Senta-se na soleira, os outros sentam-se também, e ficam todos a olhar boquiabertos. De quando em quando dizem alguma coisa ao ouvido um do outro, um reparo, uma pergunta, qual dos anjinhos é o Menino Jesus, ou o que quer dizer a lua debaixo dos pés de Nossa Senhora, ou então um simples aplauso ingênuo, mas tudo isso apenas cochichado, para não turvar a inspiração do artista. Também falam dele, mas falam menos, porque o autor de coisas tão bonitas e novas infunde-lhes uma admiração mesclada de adoração, não sei se diga de medo — em suma, um grande sentimento de inferioridade.

Ele, o eterno João Maria, não volta o rosto para os pequenos, finge que os não vê, mas sente-os ali, percebe e saboreia a admiração. Uma ou outra palavra que lhe chega aos ouvidos faz-lhe bem, muito bem. Não larga a palheta. Quando não passeia o pincel na tela, para, recua a cabeça, dá um jeito à esquerda, outro à direita, fixa a vista com mistério, diante dos meninos embasbacados. Depois, unta a ponta do pincel na tinta, retifica uma feição ou aviva o colorido.

Não lhe lembra a panela ao fogo, nem o filho que lá vai doente com a mãe. Todo ele está ali. Não tendo mais que avivar nem que retificar, aviva e retifica outra vez, amontoa as tintas, decompõe e recompõe, encurva mais este ombro, estica os raios àquela estrela. Interrompe-se para recuar, fita o quadro, cabeça à direita, cabeça à esquerda, multiplica as visagens, prolonga-as, e a plateia vai ficando a mais e mais pasmada. Que este é o último e derradeiro horizonte das suas ambições: um beco e quatro meninos.

Fonte:
Disponível em Domínio Público.
Publicado originalmente em Gazeta de Notícias, de 06  de setembro de 1885.

Minha Estante de Livros (A Cor da Magia, de Terry Pratchett)


A Cor da Magia é um romance de fantasia, publicado em 1983, por Terry Pratchett, sendo o primeiro livro da série Discworld. O livro faz uma sátira aos livros de aventuras fantástica e tem bastante traços de criaturas de H.P. Lovecraft

ROTEIRO

O personagem principal é o cínico e incompetente mago chamado Rincewind Ele involuntariamente torna-se um guia para o tolo DuasFlor o primeiro e único turista do Discworld. Forçados a fugir da cidade de Ankh-Morpork para fugir de um terrível incêndio, começam uma jornada pelo Disco afora. Sem o conhecimento deles, sua jornada é controlada pelos Deuses jogando um jogo de tabuleiro. Em sua jornada eles se encontram continuamente com o Morte e conhecem Hrun, o Bárbaro. Enfrentam o deus Bel-Shamharoth em seu templo e sobrevivem, para fúria de Morte.

Eles visitam Wyrmberg uma montanha invertida lar dos dragões que só existem na imaginação. Eles quase caem pela cascata à beira do Disco, apenas para serem salvos pelo Reino de Krull uma cidade localizada na beira do Discworld por magos hidrofóbicos. Os Krullians querem descobrir o gênero da Grande A'Tuin, a gigante tartaruga que carrega o Discworld através do espaço, então decidiram construir uma cápsula espacial e lançá-la pela beira. Eles intencionam em sacrificar Rincewind e DuasFlor para que o Destino sorria para a viagem. No entanto, Rincewind e DuasFlor furtam a capsula em uma tentativa de fuga e são lançados para fora do Disco por própria conta.

A história continua no romance seguinte de Discworld A Luz Fantástica

A Cor da Magia é um livro de um total de oito, de Discworld.

GRAPHIC NOVEL

Uma graphic novel ilustrada por Steven Ross e adaptada por Scott Rockwell, foi publicada por Corgi em 1992. Esta graphic novel é dividida em uma série de capítulos como no livro.

Diferenças cruciais entre o livro e o quadrinho incluem o corte de algumas aventuras em Ankh-Morpork e Krull. Inclusive, no livro, as montadoras de dragão são descritas como seminuas, como mulheres bárbaras na ficção tendem a ser. No entanto, para abranger o público infantil, as mulheres usam cotas de malha nos seios como as descritas no livro. Foi publicado em capa dura junto com o romance de A Luz Fantástica, como The Discworld Graphic Novels.

ADAPTAÇÃO DE TV

The Mob Film Company e Sky One produziram uma adaptação em duas partes chamada The Colour of Magic (TV film) combinando A Cor da Magia e A Luz Fantástica e exibido em 2008. David Jason atuou no papel de Rincewind, Sean Astin ficou com o papel de DuasFlor, enquanto Christopher Lee dublou o personagem Morte.

Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Cor_da_Magia

segunda-feira, 5 de junho de 2023

Ademar Macedo (Ramalhete de Trovas) 6

 

Graciliano Ramos (Um papagaio falador)

Quem principiou a história do papagaio foi Cesária, mas os homens se aproximaram da esteira onde ela cochichava com Das Dores e depois de alguns minutos Alexandre concluiu a narração. Cesária falou assim:

— O nosso casamento foi pouco depois da vaquejada. Você se lembra, Das Dores? O caso da novilha se espalhou de repente e o nome de Alexandre correu de boca em boca. Ele não disse isto porque não gosta de pabulagem (
gabolice), mas acredite que ficou o homem mais importante do sertão. Os fazendeiros tiravam o chapéu quando passavam por ele e cumprimentavam com respeito: — “Como vai a obrigação, major Alexandre?” É isto, Das Dores. Alexandre num instante virou major. Meu pai era pessoa de muito cabedal, e todo mundo por aquelas bandas queria casar comigo. Eu não fazia conta de ninguém, mas quando Alexandre se apresentou, bem vestido e bem-falante, quebrou-me as forças. Vinha preparado, com um rebenque de cabo de ouro, esporas de ouro...

— Montado no bode? – perguntou Das Dores.

— Não. – respondeu Cesária. – O bode era para as vaquejadas. Vinha num cavalo baixeiro, arreado com arreios de ouro, espelhando. Só queria que você visse, Das Dores. Meu pai ficou muito satisfeito com o pedido e eu concordei logo: — “Se vossemecê acha que deve ser, está certo.” Marcou-se o dia e preparou-se o enxoval, que foi uma beleza, Das Dores. Só queria que você visse. Um enxoval em que trabalharam todas as costureiras do lugar. A festa do nosso casamento durou uma semana. Muita dança, muita bebida, muita comedoria. Não ficou peru, nem porco para semente. Veio o vigário, veio o promotor, veio o comandante do destacamento, veio o prefeito. Meu pai estava-se estragando, mas era senhor de muitas posses e dizia: — “Festa é festa. Mais vale um gosto que quatro vinténs.” Quando os derradeiros convidados se retiraram, fomos morar na nossa casa nova, uma casa bonita como as da cidade. E o pai de Alexandre deu a ele um baú cheio de moedas de ouro. Aí era preciso a gente tratar da vida. Eu vendia e comprava, dirigia as coisas direito. Sempre tive cadência para as arrumações. Mas as viagens e as transações de muito dinheiro quem fazia era Alexandre. Na primeira viagem dele encomendei um papagaio. Queria um papagaio falador, custasse o que custasse. Agora você conta o resto, Alexandre.

— Não senhora! - respondeu o marido. – Você não começou a história? Então acabe.

— Não senhor! – replicou Cesária. – Comecei porque podia começar, mas acabar não acabo. Contei a minha parte, que dei a encomenda, mas quem comprou o papagaio foi você.

Depois de muitas razões, Alexandre se resolveu a tomar a palavra.

— Em vista disso, eu conto. Isto é, conto o fim da história, que o princípio os senhores já sabem. E nesse princípio não acrescento nada, porque tudo quanto Cesária disse é a pura verdade. Amarro o negócio no ponto em que ela ficou. Realmente esse caso não tem importância, e até nem sei como Cesária foi mexer nele. Papagaio é bicho besta, ninguém presta atenção a lorotas de papagaio. Esse era melhor que os outros, sem dúvida. Eu nem me lembrava dele, mas como a patroa foi desenterrá-lo, vá lá. Escutem. Estávamos na viagem, não é isto? Viagem do sertão à mata, para vender gado. Como era a primeira que eu fazia, a separação foi custosa. Cesária chorou, deu-me conselhos, afinal se aquietou com a esperança de possuir um louro falador. Prometer eu não prometia, que não ia oferecer a minha mulher um bicho ordinário, mas se aparecesse coisa boa, Cesária estava servida. Separei o gado, escolhi os tangerinos, despedi-me da mulher depois de muitos poréns e tomei o caminho do sul, sempre aumentando a boiada com o que havia de melhor por aquelas redondezas. Aves de pena vi em quantidade, araras, ararões, e canindés, mas viventes de pouca fala. Procurei, pedi informações — não achei nada que servisse. Larguei a encomenda e decidi levar uma lembrança diferente para Cesária, volta de ouro ou corte de pano fino.

“ Num dia de calor bati numa porta, com vontade de pedir água:

— “Ô de casa!”

Uma voz de homem perguntou lá de dentro: — “Ô de fora! Quem é?”

E eu respondi: — “É de paz. O senhor faz favor de arranjar uma sede de água para um viajante.”

— “Não posso, tornou a voz. Não posso porque estou amarrado.”

Espantei-me: — “Como? Quem amarrou o senhor? Diga, que eu desamarro.”

— “Não se incomode não, moço. – foi a resposta. – Aqui em casa o costume é este. Vivo acorrentado.”

Nessa altura uma velha apareceu com um caneco de água e falou: — “Cala a boca. Deixa de tomar confiança com quem tu não conheces.”

Bebi e ia agradecer quando percebi que ela se dirigia a um papagaio que batia as asas, na gaiola pendurada à parede. Não é que eu tinha sido embromado, comendo o bicho por gente?

— “Sinha dona, – perguntei - vossemecê me vende esse louro?”

— “Não vendo não, moço, é de estimação.”

Eu cantei a velha: — “Que seja de estimação não duvido. Mas pense direito, sinha dona. Quem tem vida morre. Se botarem mau-olhado nele, vossemecê fica sem mel nem cabaço. Eu pago bem. Faça preço no papagaio, dona.”

“A velha endureceu, depois chegou às boas e acabou pedindo pelo bicho um despropósito. Discutimos e findamos o ajuste, comprei o papagaio por quinhentos e cinquenta e quatro mil e setecentos réis. Vejam que dinheirão. Quinhentos e cinquenta e quatro mil e setecentos. Bem. Recebi a gaiola e fiquei atrapalhado. Como havia de levá-la numa viagem que ia durar meses? Depois de refletir, desocupei uma bolsa de roupa, fiz uns buracos nela e meti ali o papagaio, que protestou, muito contrariado. Arrumei a bolsa no meio de uma carga e tocamos para a frente. Onde andei e quanto ganhei não preciso contar, basta dizer que a boiada se vendeu e fiz bom negócio. Conheci homens de consideração e vi sobrados.

“Quando voltei, trazia um surrão cheio de ouro e cargas de mantimentos. Dei uma festa quase tão grande como a do casório. O povo da rua se admirou, meu pai e meu sogro arregalaram os olhos. Eu de correntão no peito, eu lorde, mandando abrir caixas de bebidas. Quem quisesse beber bebia até cair. Dinheiro não faltava. Enfim tudo se acomodou, o pessoal saiu e nós fomos endireitar a casa, varrer, lavar, limpar, arranjar as coisas. Cesária passou um dia arrumando a bagagem, abrindo malas e guardando troços nos armários.

No meio do trabalho me chamou: — “Está aqui uma bolsa furada, Alexandre. Que é isto?”

E eu me lembrei: — “Ai, Cesária! É o papagaio. Tranquei o papagaio na bolsa. Coitado. Esqueci-me dele e o pobre viajou sem comer.”

Corri mais que depressa e fui abrir a bolsa. Encontrei o infeliz nas últimas, enrolado num canto, feio como um pinto molhado. Cesária trouxe um pires de leite, mas era tarde, não havia jeito não. O papagaio olhou para mim, balançou a cabeça, levantou-se tremendo, encorujado, e disse baixinho:

— “Sim senhor, seu major, isto não é coisa que se faça.”

Amunhecou (
fraquejou) e morreu.

Fonte:
Disponível em Domínio Público.
RAMOS, Graciliano. Histórias de Alexandre. Publicado originalmente em 1944.

Maria Thereza Cavalheiro (Trovas para Refletir) – 1 -


A cada dia que passa,
a vida é prêmio em disputa.
A roupa é simples couraça
com que se parte pra luta.
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Amor... Paz... Fraternidade:
eis o trinômio perfeito
a fim de que a humanidade
tenha Deus dentro do peito.
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A vida é bem mais bonita
e tudo tem mais valor
quando se encontra a pepita
no próprio veio do amor!
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Cabelos soltos ao vento...
Pés de leve sobre a grama...
A vida toda é um momento
no coração de quem ama!
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Desgraça nem sempre dura,
pode a bonança voltar...
Infeliz da criatura
sem tempo para esperar!
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Deus ao homem, cada dia,
dá a sua preocupação,
mas há quem perca a alegria
por males que nem virão.
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É festa por toda a parte,
e até os dias têm mais cor,
quando a amizade, com arte,
veste a túnica do amor!
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É triste a paz que amortece,
torna os homens infelizes...
Alegre é a paz que floresce,
que tem seiva nas raízes!
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Há muito amor que demora
e é como as ondas do mar:
nem bem chega, vai-se embora;
quando vai, já quer voltar...
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Muito amor se faz fumaça
sem amargura nem queixa;
apenas o que não passa
é o desencanto que deixa.
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No mundo, todos têm medo;
no entanto ninguém o diz...
E há quem sufoque, em segredo,
o anseio de ser feliz!
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No tempo mais se comprova
quando é verdadeiro o amor,
que não quer jura nem prova,
não faz escravo ou senhor.
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O amor é sorriso... ou pranto.
O amor é nuvem... ou sol.
O amor é lágrima... ou canto.
O amor é treva... ou farol.
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Os cílios fazem cortina
para um palco de emoção,
que a luz do amor ilumina
quando canta o coração!
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Pensa que a vida é bonita
e a espera nem sempre é vã
para aquele que acredita
na surpresa do amanhã!
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Prefere ter em teu cofre
somente o que chega ao pão,
às riquezas de quem sofre
sem a paz no coração!
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Quando existe em nós a chama
de uma alegria interior,
é porque alguém que se ama
corresponde ao nosso amor!
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Quando ninguém te elogia,
não há perda nem proveito:
o que fazes dia a dia
somente a Deus diz respeito.
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Quem labuta e não receia
viver por seu ideal,
se da sela não apeia,
um dia chega, afinal.
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Quem não faz, risco não corre.
Erro... engano... quem não falha?
Só pode errar quem socorre,
age, executa, trabalha!
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Quem quiser vencer na vida,
não busque nenhum atalho;
é partir duro pra lida
e se impor pelo trabalho!
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Quem vive só do futuro
e esquece a vida que passa,
descobre claro no escuro
que fez projetos de graça.
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Reticências dizem tanto!
E entendê-las, é preciso:
nos olhos, podem ser pranto;
nos lábios, talvez sorriso...
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Riqueza não vale a pena
se vem e nos leva a paz...
No prado, a bela açucena
com a luz do sol se compraz!
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Se de novo o amor palpita,
o velho se faz criança...
E como a vida é bonita
no retorno da esperança!
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Se o peito de amor transborda
e as mãos não se veem sozinhas,
dentro em nós um deus acorda
ao som de mil campainhas!
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Trabalho não intimida
quem enfrenta os seus rigores.
E é bom que sejas na vida
o melhor no que tu fores!
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Vale a vida ser vivida?
De viver qual a razão?
- Até vale ser sofrida
quando vibra o coração!

Fonte:
Enviado pela Trovadora.
CAVALHEIRO, Maria Thereza. Trovas para refletir. SP: Edição do Autor, 2009.

Sílvio Romero (Dona Labismina)

(Folclore do Sergipe)


Uma vez havia uma rainha, casada já há muito tempo, que nunca tinha tido filhos, e tinha muita vontade de ter, tanto que uma vez disse: «Permita Deus que seja uma cobra!…»

Passados uns tempos apareceu grávida, e quando deu à luz foi uma menina com uma cobrinha enrolada no pescoço. Toda a família ficou muito desgostosa; mas não se podia tirar a cobrinha do pescoço da criança. Foram crescendo ambas juntamente, e a menina tomou muita amizade pela cobrinha. Quando já mocinha, costumava ir passear à beira do mar, e lá a cobra a deixava e fugia para as ondas, mas a princesinha punha-se a chorar até que a cobra voltava, se enrolava outra vez no seu pescoço e iam ambas para o palácio, onde ninguém sabia disso.

Assim foram indo até que um dia a cobra entrou no mar e não voltou mais, porém disse à irmã que, quando se visse em perigo, chamasse por ela. A cobra tinha o nome de Labismina e a princesa o de Maria.

Passados os anos, caiu doente a rainha, e morreu; mas na hora de morrer tirou do dedo uma joia e deu ao rei, dizendo: «Quando tiveres de casar outra vez, deve ser com uma princesa, na qual esta joia der, sem ficar nem frouxa, nem apertada.»

Depois de algum tempo, o rei quis se casar e mandou experimentar a joia nos dedos das princesas de todos os reinos, e não encontrou nenhuma em que o anel coubesse pela forma que lhe tinha recomendado a rainha. Só faltava a princesa Maria, sua filha; o rei chamou-a e botou a joia no seu dedo, e ficou muito boa. Então ele disse à filha que queria se casar com ela e, como palavra de rei não volta atrás, a moça ficou muito desgostosa e vivia chorando. Foi ter com Labismina na praia do mar; gritou por ela, e a cobra veio. Maria contou-lhe o caso, e a cobra respondeu: «Não tenha medo; diga ao rei que só casa com ele, se ele lhe der um vestido da cor do campo com todas as suas flores.»

Assim fez a princesa, e o rei ficou muito passado, mas disse que iria procurar. Levou nisto muito tempo, até que afinal conseguiu. Aí a princesa tornou a ficar muito triste, e foi ter com a irmã, que lhe disse: «Diga que só se casa com ele se lhe der um vestido da cor do mar com todos os seus peixes.»

A princesa assim fez, e o rei ainda mais aborrecido ficou. Levou muito tempo a procurar até que arranjou. A moça foi ter outra vez com a Dona Labismina, que lhe disse: «Diga que só casa, se ele lhe der um vestido da cor do céu com todas as suas estrelas.»

Ela assim disse ao pai, que ficou desesperado; mas prometeu arranjar. Levou nisto ainda mais tempo do que das duas outras vezes, até que conseguiu.

A princesa, quando o pai lhe deu o último vestido, viu-se perdida e correu para o mar, onde embarcou num navio que Dona Labismina tinha preparado, durante o tempo que o rei andou arranjando os vestidos. Labismina recomendou à irmã que seguisse naquele navio, e saltasse no reino onde ele parasse, que nessa terra ela encontraria casamento com um príncipe, e que na hora de casar, chamasse por ela três vezes, que ela se desencantaria numa princesa também.

Maria seguiu. No reino em que o navio parou ela saltou em terra. Não tendo de que viver, foi pedir um emprego à rainha, que a encarregou de guardar e criar as galinhas do rei. Passados uns tempos, houve três dias de festa na cidade. Todos do palácio iam á festa, e a criadora de galinhas ficava. Mas logo no primeiro dia, depois que todos saíram, ela se penteou, vestiu o seu vestido de cor do campo com todas as suas flores e pediu a Labismina uma bela carruagem e foi também à festa.

Todos ficaram muito embasbacados ao ver moça tão bonita e rica, e ninguém sabia quem era. O príncipe, filho do rei, ficou logo muito apaixonado por ela. Antes de acabar a festa, a moça partiu e meteu-se na sua roupinha velha, e foi cuidar das galinhas.

O príncipe, quando chegou ao palácio, disse à rainha: «Viu, minha mãe, que moça bonita apareceu hoje na festa? Quem me dera casar com ela! Só parecia a criadora de galinhas.»

— «Não digas isto, meu filho; aquela pobre tinha roupa tão fina e rica? Vai ver como ela está lá em baixo porca e esmolambada.»

O príncipe foi onde estava a criada e lhe disse: «Ó criadora de galinhas, eu hoje vi na festa uma moça que se parecia contigo…»

— «Oxente, príncipe, meu senhor, quer mangar comigo… Quem sou eu?»

No outro dia, nova festa, e a criadora de galinhas foi às escondidas com o seu vestido de cor de mar com todos os seus peixes, e numa carruagem ainda mais rica. Ainda mais apaixonado ficou o príncipe sem saber de quem.

No terceiro dia a mesma coisa, e a criadora de galinhas levou o vestido cor de céu com todas as suas estrelas. O príncipe ficou tão entusiasmado que foi se pôr ao pé dela e lhe atirou no colo uma joia, que ela guardou. Chegando ao palácio, o príncipe caiu doente de paixão e foi para cama. Não queria tomar nem um caldo; a rainha rogava a todas as pessoas para lhe levarem algum caldo, para ver se ele aceitava, e era o mesmo que nada.

Afinal só faltava a criadora de galinhas, e a rainha mandou-a chamar para levar o caldo ao príncipe.

Ela respondeu: «Ora, dá-se! Rainha, minha senhora, quer caçoar comigo?! Quem sou eu para o príncipe, meu senhor, aceitar um caldo da minha mão? O que eu posso fazer é preparar um caldo para mandar a ele.»

A rainha concordou, e a criada preparou o caldo, e botou dentro da xícara a joia que o príncipe lhe tinha dado na igreja. Quando ele meteu a colher e viu a joia, pulou da cama contente e dizendo que estava bom, e queria se casar com aquela moça que servia de criadora de galinhas.

Mandaram-na chamar, e, quando ela veio, já foi pronta, como quando ia à festa. Houve muita alegria e muito banquete, e a princesa Maria se casou com o príncipe; mas se esqueceu de chamar pelo nome de Labismina, que não se desencantou, e, por isso, ainda hoje o mar dá urros e se enfurece às vezes.

Fonte:
Disponível em Domínio Público.  
Sílvio Romero. Contos Populares do Brazil.  Rio de Janeiro: 1894.
Atualização do português por J. Feldman

domingo, 4 de junho de 2023

Daniel Maurício (Poética) 53

 

Humberto de Campos (O Milagre de S. Benedito)

O corpo da pobre lavadeira Maria Jovita havia sido levado, na véspera, para o cemitério, por um carro mortuário da Santa Casa, deixando ali, naquela situação aflitiva, aquela pretinha de cinco anos, herdeira triste, e inocente, da sua cor e do seu destino. Atirada para o corredor do casarão, a pequenita passara uma noite encostada à parede, agasalhando-se como lhe era possível nos farrapos da camisinha de riscado grosseiro; uma vizinha de quarto condoeu-se, porém, da sua sorte, sendo a pretinha recolhida, então, por misericórdia, como alguém sem préstimo que se apanhasse piedosamente na rua.

Dois dias após a sua orfandade, era o dia dos mortos, como o de hoje. E como toda a gente, na casa de cômodos, se encaminhasse para o cemitério, em visita aos seus defuntos não esquecidos, a pequenita Carlota acompanhou-os, ferindo os pés descalços no pedroiço (
montão de pedras) do calçamento, e recebendo na carapinha (cabelo crespo e lanoso) descoberta, enroscada no couro da cabeça, toda a inclemência daquele horrível sol de verão. Chegada ao cemitério, perguntou a pretinha, medrosa:

- Onde está minha mãe?

As pessoas que tinham ido ao enterro da Maria Jovita indicaram-lhe um monte de terra fresca, molhada ainda, à cabeceira da qual a pequena se ajoelhou, juntando, numa prece fervente, os dois carvãozinhos das mãos. E estava ela sozinha, nessa postura, no silêncio daquela quadra abandonada, destinada aos humildes, aos desamparados, aos náufragos da vida e da morte, quando ouviu uma voz, que a chamava:

- Carlotinha?

A pretinha voltou-se, espantada, e sorriu, enxugando os olhos úmidos com as costas das mãozinhas encarvoadas: atrás dela, sorrindo-lhe com bondade, com doçura, com meiguice, estava, em ponto grande, do tamanho de uma pessoa, com a mesma cor, a mesma auréola e o mesmo burel (
hábito), a imagem do senhor São Benedito, que sua mãe, quando viva, possuía no quarto, no oratório de uma pequena caixa de papelão!

- Meu São Benedito!... - gemeu a pequena, atirando-se ao solo, e beijando-lhe, comovida, a fímbria do manto escuro.

E ia juntar as mãos para rezar, quando o santo lhe ordenou, paternal:

- Carlotinha, junta estas pedras.

A pretinha arrebanhou quanto pôde as pontas do vestidinho roto, e pôs-se a apanhar, um por um, os seixos miúdos que havia pelo chão, entre as sepulturas sem nome. E assim que enchia o regaço, despejava os calhaus (
seixos), como mandou o santo, sobre o monte de terra que assinalava, naquele oceano de túmulos, o lugar em que sua pobre mãe dormia para sempre.

De repente, cansadinha já daquela faina, a pretinha ouviu chamar, de longe, pelo seu nome:

- Carlota?

E como não respondesse, de fatigada, as pessoas da casa de cômodos foram à sua procura, até que, encontrando-a, recuaram, maravilhadas.

Diante da pretinha, que orava, de joelhos, a sepultura rasa de Maria Jovita, um simples cômoro (
monte) de areia, desaparecia, toda ela, sob um monte de rosas!

Fonte:
Disponível em Domínio Público.
Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925.

I Jogos Florais de Irati/PR (Trovas Premiadas)


ESTADUAL (PARANÁ)

VETERANOS

Tema: PEDRA (Lírica/Filosófica)

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VENCEDORES
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1º LUGAR
Quando o propósito é puro,
tudo serve ao bem e à paz.
– Se da pedra faz-se o muro,
também a ponte se faz.
A. A. de Assis
Maringá
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2º LUGAR
Melhor seguires adiante,
dispenso o anel e as mesuras:
a pedra é falso brilhante,
e falso o amor que me juras.
Lília Maria Machado Souza
Curitiba
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3º LUGAR
Não deixe o cientificismo
roubar-lhe o sonho e a emoção.
– Sem a seiva do lirismo,
vira pedra o coração.
A. A. de Assis
Maringá
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4º LUGAR
Depois de tanto desgaste,
do topo avisto a alvorada.
A pedra que me atiraste
serviu-me para a escalada.
Lília Maria Machado Souza
Curitiba
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5º LUGAR
Das pedras nunca se cansam
os homens, com seus exemplos:
alguns essas pedras lançam,
já outros... erguem seus templos!
Maria Helena Oliveira Costa
Ponta Grossa
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MENÇÃO HONROSA
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1º LUGAR
Quem constrói os seus caminhos
com base em reais valores,
enfrenta as pedras e espinhos
e, ainda, semeia flores!
Maria Lúcia Daloce
Bandeirantes
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2º LUGAR
Nas jornadas inseguras
pelas trilhas da emoção,
notei que as pedras mais duras
se encontram no coração.
Albano Bracht
Toledo
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3º LUGAR
Duas situações ruins
que nos aturdem, de fato:
uma é ter pedra nos rins;
outra, é pedra no sapato.
Davi Pereira
Toledo
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4º LUGAR
Desde um tempo bem distante,
as pedras tem seu valor,
podem matar um gigante,
ou conquistar um amor.
Caterina Balsano Gaioski
Irati
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4º LUGAR
Num conceito soberano,
toda pedra tem valor.
É, porém, o ser humano,
a jóia do Criador.
Albano Bracht
Toledo
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4º LUGAR
Pérola é chaga curada;
do nácar da concha, nasce.
Já foi pedrinha lascada,
deu-lhe a ostra nova face.
Lucrécia Welter
Toledo
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5º LUGAR
Quem chega a cargos honrosos
com determinantes passos,
nos caminhos pedregosos
soube afastar os fracassos!
Lucília Alzira Trindade Decarli
Bandeirantes
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ESTADUAL (PARANÁ)

NOVO TROVADOR

Tema: ROCHA (Lírica/Filosófica)

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VENCEDORES
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1º LUGAR
Feito rocha, sê bem forte,
resistente à desventura.
Mesmo estando à própria sorte,
na alegria encontre a cura.
Silvânia Maria Costa
Campo Mourão
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2º LUGAR
Na rocha dura da vida,
esculpi dores e risos.
Hoje fico agradecida
pelos traços imprecisos.
Ana Welter
Toledo
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ESTADUAL (PARANÁ)

VETERANO

Tema: CASCALHO (Humorística)

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VENCEDORES
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1º LUGAR
Setentão que “não se emenda”,
e dá “cascalho” às gatinhas,
gasta toda a sua renda
vendo a renda das calcinhas.
Olga Agulhon
Maringá
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2º LUGAR
No forró, por bebedeira,
Zé tropeçou num cascalho
e ficou a tarde inteira,
“carta fora do baralho”!
Leonilda Yvonneti Spina
Londrina
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3º LUGAR
Anel de lata e cascalho
foi o presente do amado.
É isso, meu bem, que valho?
Não! Te dei o anel trocado.
Lucrécia Welter
Toledo
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4º LUGAR
Nas rimas que eu desencalho
esta foi fácil de achar,
mas o achado pra cascalho
dei pra sogra procurar!!!
Maria Lúcia Daloce
Bandeirantes
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5º LUGAR
Para todos no garimpo,
eu gritei: Pepita de ouro!
Deixei o achado, bem limpo.
Era cascalho, o tesouro.
Maria Eunice Silva de Lacerda
Toledo
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ESTADUAL (PARANÁ)

NOVO TROVADOR

Tema: CASCALHO (Humorística)


1º LUGAR
Do desprender do cascalho,
eu fiz uma arte na vida.
Um lindo penduricalho,
sai sambando na avenida.
Marli Voigt
Curitiba
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2º LUGAR
Filhos são bem engraçados:
não gostam quando trabalho,
vivem todos bagunçados
e só gastam meu cascalho!
Luiz Henrique Sormani Barbugiani
Curitiba
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NACIONAL

VETERANOS

Tema: PEDRA (Lírico/Filosófico)

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VENCEDORES
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1º LUGAR
Na derradeira rodada
do bingo da solidão,
tu foste a pedra “cantada”
que me fechou o cartão...
Edmar Japiassú
Miguel Pereira / RJ
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2º LUGAR
Pedra... Fogo... a seca ataca...
E sol, língua em combustão,
lambe os ossos de uma vaca
que a fome esqueceu no chão.
Manoel Cavalcante
Pau dos Ferros / RN
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3º LUGAR
Chão de pedras, sem guarida,
na agreste visão do estio,
na invernada espalha a vida
no leito firme do rio...
Sérgio Ferreira da Silva
São Paulo / SP
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4º LUGAR
Por entre as pedras e o limo,
um fio de água corrente,
canta feliz sendo o arrimo
da sede de muita gente.
Cipriano Ferreira Gomes
São Paulo / SP
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5º LUGAR
No flagelo das pedradas,
confia em teus atributos,
que as pedras são atiradas
nas árvores de bons frutos...
Edmar Japiassú
Miguel Pereira / RJ
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MENÇÃO HONROSA
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1º LUGAR
Jesus Cristo é pedra forte,
sem ter peso e nem medida...
Seu sofrer venceu a morte,
seu amor nos trouxe vida.
Wilton Di Cali
Guarulhos / SP
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2º LUGAR
Lembrança doce e singela
enchendo o peito de afago:
eu e meu pai na pinguela,
jogando pedras no lago…
Edy Soares
Vila Velha / ES
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2º LUGAR
Tolera ofensa, ameaça
e tudo o mais que se vingue
quem, antes de ser vidraça
já foi pedra de estilingue.
Sérgio Fonseca
Mesquita / RJ
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3º LUGAR
Da pedra bruta aos brilhantes,
mãos calejadas, fiéis,
servem às mãos elegantes
a vaidade dos anéis.
Cipriano Ferreira Gomes
São Paulo / SP
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3º LUGAR
Não te eximas da labuta
que conduz à perfeição...
O talento é pedra bruta
que exige lapidação!
Thalma Tavares
São Simão / SP
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4º LUGAR
Acalma tua alma irada...
segura a tua revolta
e cada pedra chegada,
que leve uma flor de volta!
Carolina Ramos
Santos / SP
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5º LUGAR
O tempo, indomável, faz
o rochedo em pedregulho,
mas segue sendo incapaz
de quebrar o teu orgulho!
Fernando Antônio Belino
S
ete Lagoas / MG
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MENÇÃO ESPECIAL
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1º LUGAR
Tropeço e, na caminhada,
se os meus pés querem parar,
não mudo as pedras da estrada;
mudo o meu jeito de andar!…
Mara Melinni
Caicó / RN
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2º LUGAR
Encanta-me ver na luta
do artista muito inspirado
emergir da pedra bruta
o gesto mais delicado...
Antônio Gonçalves Hudson
Santo Antônio do Grama / MG
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3º LUGAR
Enfrentando as enxurradas
e vencendo os desafios,
as pedras são lapidadas
nas correntezas dos rios.
Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho
Juiz de Fora / MG
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NACIONAL

VETERANOS

Tema: CASCALHO (Humorística)

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VENCEDORES
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1º LUGAR
- Sem "cascalho", uma beldade
hoje investe em peça antiga.
- Compra e vende antiguidade?
- Não. Namora o avô da amiga!
José Ouverney
Pindamonhangaba / SP
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2º LUGAR
Ignorando certo aviso,
virou de pernas pra cima!!!
Raimunda, em cascalho liso,
machucou a sua...rima...
Antonio Colavite Filho
Santos / SP
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3º LUGAR
Bebum que arma cambalacho,
sem cascalho, apronta tanto,
que bebe pinga em despacho
na conta do pai de santo!
Ailto Rodrigues
Nova Friburgo / RJ
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4º LUGAR
Gaita, cascalho, dim-dim
(seja lá qual nome for),
bufunfa, grana, ai de mim,
que nunca vi sua cor!
Geraldo Trombin
Americana / SP
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5º LUGAR
Minha sogra – que trambolho! –
não cometeu ato falho.
Foi tirar cisco em meu olho
e colocou um cascalho.
Antônio Francisco Pereira
Belo Horizonte / MG
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MENÇÃO HONROSA
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1º LUGAR
Tentou roubar no baralho...
Se arriscou e apostou tudo...
Mas, se a meta era um cascalho,
levou, foi mesmo, um cascudo!
Sérgio Ferreira da Silva
São Paulo / SP
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2º LUGAR
O garimpeiro se agita,
mas, são "ossos do trabalho":
se não encontra pepita,
não vê nem cor do "cascalho"!
José Ouverney
Pindamonhangaba / SP
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2º LUGAR
Te amar é desafiante,
mas vale sempre o trabalho,
pois pelo teu "diamante"
reviro qualquer cascalho!
Fernando Antônio Belino
Sete Lagoas / MG
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3º LUGAR
Comprar terras com trabalho?
Nem Cabral foi tão artista…
pois só com muito cascalho
dá pra pagar terra à vista!
Renata Paccola
São Paulo / SP
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NACIONAL

NOVO TROVADOR

Tema: ROCHA (Lírica/Filosófica)

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VENCEDORES
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1º LUGAR
Rabisco o que me angustia,
na areia, onde o vento cura;
meus instantes de euforia,
entalho-os na rocha dura!
Luciano Dionísio dos Santos
Caruaru / PE
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1º LUGAR
Cada rocha do caminho
que fere e sangra o meu pé...
É uma rocha que encaminho
aos muros da minha Fé!!!
Hudson de Almeida
Alfenas / MG
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2º LUGAR
Se mesmo a rocha que é dura
pode ser despedaçada,
que pensar da criatura
que está desesperançada...
Terezinha de Jesus Garcia Ferreira
Sidrolândia / MS
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3º LUGAR
Toda mágoa que perdura,
como rocha resistente,
é tão fria, tão escura,
que adoece toda gente.
Rodrigo Celestino Rocha
Goiânia / GO
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4º LUGAR
Se a gratidão desabrocha
na gleba do coração,
dissolve-se toda rocha
e surge flor pelo chão!
Luciano Izidoro de Borba
Tombos / MG
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4º LUGAR
Minha mãe foi mulher forte,
tal a rocha desse chão,
pois batalhou até a morte,
sem deixar faltar o pão.
Mary Guimarães
Taubaté / SP
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5º LUGAR
Não deixes que a grande rocha,
que no caminho aparece,
apague a divina tocha
que Deus representa em prece...
Renato da Silva Cardoso
São Gonçalo / RJ
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5º LUGAR
Terra, rocha flutuante,
vale um cisco no universo.
Você, terráqueo importante,
vale o tanto deste verso.
Júlio Augusto Gurgel Alves
Fortaleza / CE
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MENÇÃO HONROSA
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1º LUGAR
O mar abraça o rochedo,
mas este apenas resiste.
Sabes tu qual é o segredo?
O rochedo diz: persiste!
Adelgício Ribeiro de Paula
Franco da Rocha / SP
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2º LUGAR
Sempre que se faz preciso,
sou firme como uma rocha,
mas não seguro o sorriso
ante a flor que desabrocha.
Mônica Monnerat
Santos / SP
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3º LUGAR
Eu sou firme feito rocha,
mas quando aperta a saudade,
só quero a minha cabrocha,
para ter felicidade!
Norma Bezerra de Brito
Brasília / DF
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NACIONAL

NOVO TROVADOR

Tema: CASCALHO (Humorística)
 
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VENCEDORES
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1º LUGAR
É gíria do brasileiro
quando sem grana, trabalho,
duro, pobre, sem dinheiro,
dizer: - “Estou sem cascalho!!!”
Hudson de Almeida
Alfenas / MG
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2º LUGAR
Malandro pra ter cascalho
faz tudo, menos labuta.
Ganha a vida no baralho
e no dado faz disputa.
Carlos Carvalho Cavalheiro
Sorocaba / SP
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3º LUGAR
Minha mulher ordenou:
- Vá pegar nosso cascalho!
Minha sogra então zombou:
- Além de pobre, um paspalho!
Renato da Silva Cardoso
São Gonçalo / RJ
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4º LUGAR
O pedreiro embriagado
trocou alho por bugalho:
fez do arroz cimento armado;
comeu feijão com cascalho.
Wanda Cristina da Cunha e Silva
São Luís / MA
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Fonte:
Resultado enviado por A. A. de Assis

Nilto Maciel (Menino Ofendido)

Moisés estava morrendo. Lentamente. Coberto de chagas. No mundo inteiro mulheres choravam. Cenas de histeria e desespero. Jornais e televisões exploravam o infausto fim daquele homem tão glorioso.

No ápice de sua glória, Moisés inventou um dos mais fascinantes espetáculos de prazer. Era sua Roma, sua Sodoma. Mistura de motel e cassino. Cinco pavimentos, mais de cem quartos. Uma entrada, com bilheteria. Como nos cinemas e teatros. Galeria de arte, labirintos, saunas, piscinas. Proibida entrada de homens e travestis. Permanência de uma hora, no máximo. Preço do ingresso: dez dólares.

A fortuna de Moisés se fez em pouco mais de três anos, após a fase de modelo e manequim. Considerado um dos homens mais bonitos e atléticos do mundo, nunca se casou. Jamais esteve unido a qualquer mulher.

— Para não atrapalhar os negócios. — dizia.

E como teve início aquele império do sexo?

“Comparável a Hollywood”, afirmou uma revista.

— Meu primeiro passo foi um pequeno anúncio. Recebia em meu apartamento mulheres carentes de amor. Em troca de alguns dólares.

— Mas isso não era novidade nenhuma, Moisés.

— Eu era a novidade. Os outros se vendiam há muito tempo.

Logo depois o modelo alugou uma mansão, contratou meia dúzia de belos rapazes e inaugurou seu primeiro bordel.

— Não convidei o governador, o prefeito, deputados, empresários, homem nenhum.

— Essa gente gostaria de conhecer seus Apolos.

— Mas eu nunca gostei dessa gente.

A vaidade, ou outra ilusão, fez Moisés despedir seus pupilos. E ficou só. As clientes não gostaram da ideia. Muitas desapareceram. Fazia-se a seleção da clientela.

— Você também foi ator.

— Sim, de inúmeros filmes. E também diretor. Além disso, editei revistas. As primeiras onde homens posavam nus.

Apesar de toda a dedicação ao trabalho, Moisés viajava muito. Conheceu quase o mundo todo. Dinheiro e fama não lhe faltavam.

— Como surgiu a ideia do Palácio dos Prazeres?

— Tive um sonho. Eu não era um, porém muitos. Como se multiplicado por espelhos. Então arquitetei a casa de cem quartos. Eu poderia estar em todos eles e receber cem mulheres ao mesmo tempo. O verdadeiro harém.

Formavam-se filas diante do portão. Mulheres de todos os tipos. A maioria coberta de xales. Outras usavam óculos escuros. Porém todas dentro de carros de luxo.

Os quartos eram numerados, e muitas mulheres acreditavam serem determinados números propícios a elas. E esperavam horas e horas pela desocupação do quarto número tal. Porém alguns números vinham acompanhados de cores e nomes. Assim, havia o quarto vermelho, o quarto de Lucrécia Bórgia, o quarto azul da orgia divina, etc.

— E a coisa dos sorteios?

— Quem me encontrasse, recebia de volta o dinheiro do ingresso, com direito de participar do próximo sorteio.

— E quem o encontrasse no quarto tinha direito a que mais?

— A uma hora de prazeres de todos os tipos, sobretudo os sonhados pela cliente.

— E agora, morrendo, coberto de chagas, o que dizer da vida?

Moisés se pôs a chorar, feito menino ofendido.

Fonte:
Enviado pelo autor.
Nilto Maciel. Pescoço de Girafa na Poeira. Brasília/DF: Secretaria de Cultura do Distrito Federal/Bárbara Bela Editora Gráfica, 1999.

Lucy Hay (Como escrever e publicar um livro) – 3, final –

PUBLICANDO SEU LIVRO


1 – Pense sobre a possibilidade de contratar um agente.

Estes são pessoas que trabalharão para você e o ajudarão a fazer com que seu texto seja publicado e vendido. Elas têm contatos no meio para ajudá-lo. Os agentes também são evasivos e difíceis de se conseguir quando você é novo no ramo.

Nem sempre um agente será necessário. Caso pretenda seguir o caminho da autopublicação, talvez não precise dos serviços de um. Procure por agentes em sites especializados. Neles, você pode encontrar perfis e ver que tipos de trabalho estão sendo publicados.

Leia as diretrizes de envio do agente antes de mandar seu material. O mais comum é precisar de:

Uma carta de apresentação de uma página que descreva seu trabalho.
 
Uma sinopse do livro, contendo um resumo breve da sua história.
 
Uma proposta de não ficção, caso tal seja o gênero do seu trabalho.
Este é um documento bastante detalhado, geralmente contendo de 20 a 30 páginas, que delineia sua justificativa para a publicação do livro.
 
Capítulos de amostra ou o manuscrito inteiro.

2 – Pesquise editoras diferentes.

Você pode escolher a autopublicação, mas ser publicado por uma editora de renome é a melhor forma de atingir uma audiência mais ampla.

Algumas empresas escolhem publicar ou ler somente materiais solicitados, manuscritos que passaram por um agente.

Os agentes e as editoras também gostam de materiais que venham de autores ou escritores já conhecidos. No entanto, isso não quer dizer que você não vai conseguir a atenção de nenhum dos dois. Essas pessoas vão querer saber que você tem seguidores e que está se promovendo bastante nas mídias sociais.

Algumas editoras também recebem seu manuscrito, mesmo que você não tenha um agente.

Verifique as opções de autopublicação. Esta pode soar como uma maneira de contornar um grupo de pessoas que só dirá "não", mas é difícil, e o motivo pelo qual há pessoas que publicam livros é porque elas sabem melhor como fazê-lo.

Caso decida seguir tal caminho, você precisará encontrar um bom distribuidor para as cópias físicas. Também é possível publicar sua história como e-book por meio do site da Amazon.

3 – Reduza suas opções de publicação.

Depois que escolher algumas editoras (quanto mais, melhor), comece a pesquisar sobre elas mais a fundo.

Certas empresas escolhem publicar somente para adultos e em gêneros específicos, enquanto outras podem ter uma gama maior de livros aceitos.

Toda a informação deverá estar disponível nos sites das editoras. Algumas têm políticas diferentes e limites de palavras, ou só aceitam livros solicitados.

Quase todas exigem um manuscrito em cópia física (impressa) da sua história. Lembre-se também das especificações. Há empresas que preferem linhas com espaçamento duplo, com um certo tipo de fonte em um certo tamanho etc.

Atenha-se ao que for especificado. Não mande cópias por e-mail ou em CDs, a menos que esteja declarado que você pode.

Nunca envie sua cópia original ou única de nada. Talvez você não receba os materiais de volta.

4 – Considere publicar on-line você mesmo.

A autopublicação de um ebook é uma opção popular e viável, e a maior oportunidade para esse método é o Kindle Direct Publishing da Amazon. Você só precisa fazer o upload do seu manuscrito para o programa e começar a vender cópias.

O serviço KDP é gratuito para uso, porém a Amazon ficará com até 70% dos seus lucros.

Caso escolha a autopublicação, leve seu livro para ser editado por um profissional e contrate um designer gráfico para criar a capa. Usando esse método, todo o trabalho de promover seu livro também ficará por sua conta.

Seja realista. É mais provável que você não se torne o próximo grande hit no seu primeiro livro. A fama não virá da noite para o dia. Na maioria dos casos, são necessários várias obras e muitos anos para se obter uma reputação sólida.

5 – Aguarde e seja paciente.

Envie suas cópias para todas as editoras disponíveis que puder.

Pode levar quatro meses ou mais até que seu livro seja revisado.

Caso consiga um "sim" de uma editora, parabéns! Você verá seu livro nas lojas. No entanto, pode ser que a empresa não faça a divulgação dele para você. Essa tarefa ficará a cargo do agente. A boa notícia é que conseguir um depois que a obra for aprovada é mais fácil. Mas lembre-se de que, na maioria dos casos, a parte do marketing costuma ficar por sua conta.

DICAS

– Lembre-se de que, não importa a sua idade, a maioria das editoras ainda publicará sua história se ela for boa. Prepare-se para aceitar críticas e usá-las de maneira sábia.

– Sempre edite seu próprio trabalho antes de enviá-lo. Nenhuma editora o aceitará se o texto estiver cheio de erros gramaticais e ortográficos ou inconsistente.

– Considere também contratar um editor profissional para ajudar você.

– Continue escrevendo. Embora cada um tenha um estilo de edição diferente, a maioria das pessoas acha melhor produzir o máximo possível enquanto as ideias estão frescas e revisar a história depois.

– Jogue fora as "regras de escrita". Existem mecânicas na linguagem como pontuação, estrutura geral das frases e outras, mas não se prenda ao que ler online quanto a regras como: "nunca escreva na voz passiva" ou "nunca use advérbios". A edição sempre pode vir mais tarde e limpar seu trabalho.

– Lembre-se da etiqueta para editoras e agentes. Sempre siga as regras de envio. A paciência é a chave. Após um mês ou dois sem resposta, talvez você possa procurar outras opções. Não se esqueça de que o trabalho não solicitado costuma ser deixado para depois e pode levar meses até ser revisado.

As editoras nem sempre vão anunciar seu livro. Essa tarefa fica a cargo do autor. A empresa vai vendê-lo, mas não fazer a divulgação dele, a não ser talvez no site.

– Dê a notícia aos amigos e aos familiares e espalhe folhetos pela sua cidade. Crie páginas nas mídias sociais para criar uma expectativa. Às vezes, você pode até conseguir fazer com que uma livraria local divulgue seu livro.

– Procure várias editoras. Algumas vão se interessar por você, outras não.

– Caso tenha uma ideia, comece a escrever e não pare se ficar desanimado. Sentar-se para cumprir essa tarefa pode ser a parte mais difícil.

– Atenha-se à história que está escrevendo atualmente. Se tiver outra ideia, anote-a e veja se pode inseri-la sem levar o texto para outra direção completamente diferente.

– Não tente saber se as pessoas vão gostar ou não. Não tem como um só gênero e tipo de história agradar a todos.

– Planeje a história primeiro para correr menos risco de se afastar dela. Assim também será mais fácil lembrar-se de pequenos detalhes.

REFERÊNCIAS
1. http://www.greatwriterssteal.com/2014/01/24/gws-lecture-notes-stephen-kingsmasterclass-at-umass-lowell/
2. https://www.eduplace.com/graphicorganizer/pdf/5Ws.pdf
3. https://www.reddit.com/r/writing/
4. http://www.theguardian.com/books/2012/jun/14/importance-good-book-editing
5. http://www.authoright.com/author-advice/importance-proper-editing/
6. https://janefriedman.com/find-literary-agent/
7. http://www.publishersmarketplace.com/
8. https://janefriedman.com/start-here-how-to-write-a-book-proposal/
9. http://lifehacker.com/how-to-self-publish-your-own-book-1610916214
10. http://www.amazon.com/gp/seller-account/mm-summary-page.html?
topic=200260520

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Lucy V. Hay é uma autora, roteirista e blogueira que ajuda outros escritores através de workshops, cursos e de seu blog, Bang2Write. Lucy é produtora de duas séries de suspense britânicas e seu romance de estreia, "The Other Twin', está sendo adaptado pela Free@Last TV, que também produziu a série indicada ao Emmy "Agatha Raisin".
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