quinta-feira, 19 de junho de 2008

Educação no Mundo (1a. Parte)


ECCO, ABIAMO ARTE!
Nas escolas italianas, falar, estudar, viver a arte é muito mais do cumprir o currículo

As crianças italianas têm o privilégio de ver e tocar o que a maior parte das outras crianças do mundo só podem apreciar por meio das páginas físicas e virtuais de livros e sites. Pertinho dessa garotada estão museus, exposições, praças e monumentos que mostram as grandes obras primas dos maiores nomes da arte mundial, como Leonardo da Vinci e Michelangelo. Tudo ali, ao alcance dos olhos. Basta uma curta viagem, e pronto! No início do ano letivo as escolas recebem dos museus a programação do ano, assim podemos escolher a qual queremos levar os alunos, explica a educadora Bianca Montevecchio, da escola de Ensino Fundamental Dante Alighieri, em Forli, região da Emilia-Romagna, nordeste da Itália.

E, como a arte na Itália pode ser vista em cada prédio, casa, jardim, praça... Enfim, dapertutto, todos os artistas - e não somente os mais famosos - entram no programa de estudo da criançada. Cada escola enfoca os principais artistas da região. Por exemplo, os estudantes de Florença, na Toscana, estudam os artistas daquela região, salienta Bianca. Pode parecer bairrismo, mas nao é. Acontece que cada parte da Itália tem uma história e um dialeto particular, o que muitas vezes dá a impressão que são vários países dentro de um só. Daí a importância de valorizar os artistas regionais.

Os professores têm também por interesse fazer os alunos lerem o contexto social, cultural e até econômico do período de cada obra - o que pode mudar muito de acordo com a região. Sem dizer que existe uma infinidade de grandes e maravilhosas obras espalhadas pelo país, feitas por artistas desconhecidos aos olhos do mundo, mas muito importantes para a Itália.

Uma aula especial

Na escola Dante Alighieri, a professora Silvia Bartolletti fez uma verdadeira viagem no tempo com os alunos da 2ª série. O artista escolhido foi pintor Silvestro Lega. Para fazer a turma conhecer e entender a época em que ele vivia, Silvia iniciou uma viagem ao ano de 1840, período em que o artista começou a desenvolver seus trabalhos. As crianças pesquisaram em bibliotecas e na internet quais eram os costumes das pessoas, o que vestiam, o que comiam. O enfoque da pesquisa voltou-se às mulheres e crianças, freqüentemente relatadas nas obras de Lega. Silvia também se preocupou em explicar a técnica usada por Lega e apresentou à turma aspectos da vida pessoal do artista. Quando os alunos já estavam bem familiarizados com o autor, a professora marcou o dia da visita ao museu.

As crianças gostam não somente por ser uma excursão afinal, são crianças e adoram passear - mas dá para perceber a curiosidade em cada uma. É como se elas estivessem indo encontrar Silvestro Lega em pessoa, relembra Silvia. No dia marcado, os alunos chegaram entusiasmados ao museu. Para a surpresa deles, logo na entrada, a guia que os acompanharia estava vestida como as mulheres da época de Lega - outra invenção de Silvia para tornar ainda mais atrativa a exposição.

Conforme caminhavam, a guia explicava o contexto histórico e perguntava aos alunos o que sabiam daquela época. Conversava com eles sobre a técnica e as cores mais evidentes em cada quadro. Por que Lega teria feito cada uma dessas escolhas? À frente de algumas obras, a guia pedia para que as crianças fechassem os olhos. Então, descrevia o quadro e pedia que imaginassem as danças, os sons, os cheiros e as vozes ali retratadas. É impressionante ver até onde pode ir a criatividade deles, ressalta Silvia.

O desfecho não poderia ser outro: a turma foi apresentada ao autoretrato do autor. Em seguida, a guia pediu a todos que descrevessem, por meio daquela pintura, a personalidade de Lega. As respostas foram as mais diversas e inesperadas: Bravo! Carrancudo! Um homem sério! Muito sério! Ele não teve filhos, né! Um homem fechado! Perfeccionista! Triste!.

E ali terminava a visita ao museu, mas não as atividades. De volta à escola, hora de colocar a mão na massa! Ou, mais precisamente, no pincel! Cada aluno escolheu o quadro de que mais gostou e fez sua releitura. Não uma simples reprodução, mas uma aplicação de tudo o que haviam aprendido até o momento sobre a história e a arte de Lega. Façam de conta que vocês são Lega e imaginem o que ele queria transmitir no momento em que pintava essa obra!, pediu Silvia. Segundo a professora, é notável a diferença entre a produção dos alunos antes e depois da visita ao museu.

O trabalho com a arte não é exclusivo de Silvia. A escola Dante Alighieri é arte pura. Ao entrar no pátio, é possível ver em todas as paredes as obras dos pequenos artistas. É grande a variedade de técnicas trabalhadas e as exposições são permanentes.

A REVOLUÇÃO NA SALA DE AULA
Ponto chave da Batalha de Idéias proposta por Fidel Castro, a educação é um dos pilares de sustentação da Revolução em Cuba, país que se dá ao luxo de declarar-se território livre de analfabetismo há 45 anos

Em 22 de dezembro de 1961, diante de milhares de pessoas que lotavam a Praça da Revolução, em Havana, Fidel Castro agradeceu aos 282334 voluntários cubanos responsáveis pela redução do analfabetismo na ilha a quase zero. Em um ano e dois meses, a Campanha Nacional de Alfabetização fez o índice cair de 23,6% para 3,9%, o que levou o governo da Ilha a declarar Cuba um território livre do analfabetismo.

Sem educação não há revolução nem socialismo possível, alegou Fidel na ocasião. Mais agradecidos ficaram os 707212 cidadãos que, ao final desse período, aprenderam a ler e a escrever.

Passados 45 anos, os índices cubanos mostram que, ao menos no campo da Educação, a Batalha de Idéias continua vitoriosa. Em 1981, os analfabetos em Cuba somavam 1,9% e, no início dos anos 2000, o governo local garantia que 98% das crianças freqüentavam regularmente a escola - gratuita e obrigatória até que se complete o ensino secundário, de nove anos. Um outdoor fixado numa das estradas que levam à capital escancara esse orgulho e é, certamente, objeto de inveja para visitantes: Anualmente 100 milhões de crianças no mundo precisam trabalhar para viver. Nenhuma delas é cubana.

Um ideal

Gratuito para todos os níveis desde o pré-escolar até cursos de pós-graduação -, o sistema educacional em Cuba tem seu primeiro degrau nos chamados Círculos Infantis. Esses centros abrigam as crianças com idade entre 1 e 6 anos, que têm ali o primeiro contato com a Educação formal.

Quando chega à escola, a criança deve ter recebido, além dos elementos emocionais de educação, conhecimentos preparatórios para o primeiro ano como cores, figuras geométricas e relações espaciais. O pré-escolar traz ainda conhecimento de algumas letras, explica a vice-diretora de uma escola primária em Havana, Olidia Diaz Raveiro.

Alguns entram na primeira série já sabendo ler, ainda que não saibam desenhar os traçados das letras. No ensino primário, aprendem elementos como numeração e todas as letras e terminam o ano lendo e escrevendo corretamente.

Na escola de Olidia, no bairro de Centro Havana, estudam 236 crianças entre a 1ª e a 6ª série, atendidas por 22 professores. A média de 10 alunos para cada mestre é outro número que os cubanos fazem questão de exaltar. O país conta com 250 mil professores espalhados por todos os cantos da ilha, o que lhe confere a menor densidade em sala de aula da América Latina, mais Estados Unidos.

Aqui, por mais distante que seja o lugar, há ali um mestre. Podem ser escolinhas de madeira nas montanhas, mas todas têm computadores e televisão. Nos locais onde não há corrente elétrica, painéis solares geram energia, afirma a professora Olidia, que trabalhou na escola da minúscula San Cristóbal (província de Pinar del Rio), onde costumam estudar não mais que três a quatro alunos.

Se parece um exagero, o que dizer das 164 escolas em todo o território cubano que funcionam única e exclusivamente para atender a um só aluno? O lema é: se há uma criança por perto, obrigatoriamente haverá uma escola.

Espanhol, geografia e política

Na escola de Olidia, a abertura dos portões acontece às seis da manhã. O expediente termina só depois que o último aluno sai, não importa a hora. Geralmente os pais vêm buscar entre 17h e 19h, mas sempre há alguns que têm problemas no trabalho, entende a professora.

Como a atividade docente começa às 7h50 e termina às 16h30, os professores fazem uma escala semanal para ajudar os assistentes educativos na recreação. Nessa escola de Havana, são três responsáveis pelos horários extra-classe, encarregadas da entrega dessas crianças aos pais. Enquanto não chegam, os filhos ficam brincando e fazendo atividades. Fazendo atividades significa, entre uma brincadeira de pega-pega ou um jogo de beisebol, por exemplo, disputar uma partida de xadrez ou a ler a biografia de um líder político importante, como Che Guevara ou Jose Martí, cujos bustos enfeitam a fachada do prédio.

O conhecimento político é, em Cuba, uma disciplina tão importante como Matemática ou Espanhol. Todos os dias os alunos do país inteiro repetem o mesmo ritual quando chegam à escola. O Matutino como é chamado o período de dez minutos que antecede as classes tradicionais inicia às 7h50 em ponto, com todos reunidos no pátio, em fila. Quatro ou cinco monitores alunos mais destacados de cada série percorrem as filas para verificar as presenças. A chamada não é feita individualmente, mas por turma: um ranking premia as classes com maior numero de freqüências.

Em seguida, um anúncio evidencia o regime socialista da ilha e a exaltação constante à pátria: Coletivo da escola primaria, atenção para a nossa bandeira. Um pequeno grupo marcha com o estandarte nas mãos enquanto o resto dos alunos permanece em posição de sentido e silêncio absoluto. O hasteamento acontece ao som do Hino Nacional de Cuba. Na primeira nota todos postam as mãos na cabeça numa típica saudação militar e cantam os versos com furor. Duas professoras são advertidas pelos próprios alunos por estarem conversando durante a execução de La Bayamesa homenagem à cidade de Bayamo, marco da primeira vitória das tropas mayombes que lutaram pela independência na Guerra dos Dez Anos (1868 1878).

Semanalmente, as turmas se revezam na condução da leitura e na discussão das efemérides. É uma via de caráter informativo, onde se trabalha o acontecido. O nascimento de algum mártir, alguma figura importante ou os destaques do noticiário, por exemplo. Podem compor a pauta a criação de um partido único na Venezuela, uma nova fábrica de canos nas proximidades de Havana ou os resultados da liga nacional de beisebol. O que se quer é que as próprias crianças desenvolvam as temáticas, não os professores. Assim vemos seu protagonismo, seu desempenho como cidadãos, explica Olídia.

Uma vez dentro da sala de aula, os alunos ainda têm mais dez minutos da disciplina de Informação Política, também abordando temas relevantes no cenário mundial e local.

Matemática

Às 8h começam as aulas das demais disciplinas, com duração de 45 minutos, até às 12h40, quando as crianças seguem para o refeitório. O almoço (em geral, arroz, feijão, carne e salada) é fornecido pelo governo. Entre 13h30 e 14h30, há um novo período de recreação e depois, até às 16h30, aula novamente. Para as crianças em fase de alfabetização, depois do almoço é hora de dormir.

Assim como nas Escolas Rurais, o trabalho também é incentivado na área urbana. As crianças se revezam no preparo dos alimentos, assistidos por funcionários do governo e na limpeza do refeitório, após o almoço. Uns retiram os pratos, outros limpam as mesas e os terceiros, lavam a louça.

O ano letivo em Cuba vai de setembro a julho, quando todos tiram férias de um mês. No resto do tempo, a sistemática é de uma semana de descanso para cada quatro de trabalho. Assim o curso se divide em quatro períodos, com três semanas de recesso mais as férias em julho, anota a diretora Olga Posada Fuentes.

Além da educação tradicional e do Matutino, os alunos cubanos assistem a teleclasses (aulas em vídeo complementares ao conteúdo presencial) e das atividades realizadas nos computadores, que abrangem todas as disciplinas.

A presença de especialistas em Educação Física e Computação nas escolas abre precedente para a única queixa da vice-diretora. Uma coisa que ajudaria seria contar também com músicos e artistas plásticos. Ainda que tenhamos instrutores de arte que supervisionam o conteúdo, o trabalho na aula é feito pelos professores das turmas.

Segundo Olga Posada Fuentes, a aprovação é quase total, em todos os anos, graças às aulas de apoio que os próprios professores ministram aos alunos que apresentam alguma dificuldade.

Pais e mestres

A cerimônia diária de hasteamento da bandeira é espiada pelos pais, por trás dos muros da escola. Mas a relação família-escola se fortalece nas reuniões mensais entre pais e professores. O encontro não serve tanto para abordar o comportamento das crianças em sala de aula, mas para saber de que maneira a família está interferindo na educação dos pequenos. Nos últimos encontros, por exemplo, tratou-se do tema pontualidade, algo que, se negligenciado, atrapalha a rotina escolar.

O conteúdo programático das escolas cubanas está determinado no chamado Livro Reitor, que norteia a Educação na ilha. É um programa ministerial: para todas as escolas do país, o ensino é o mesmo. Além de objetivos a serem atingidos por série, o Livro contém orientações metodológicas, não obrigatórias. Cada mestre tem sua própria maneira de ensinar, que depende da sua experiência em sala de aula, afirma Olga.

Ainda que na escola de Olidia existam professores com mais de 20 anos em sala de aula, também é função da vice-diretora monitorar as práticas didáticas que estão utilizando. Para saber como vai o processo de ensino e aprendizagem, Olidia percorre diariamente as classes, observa o comportamento de alunos e mestres. Além disso, acompanha o desempenho escolar dos estudantes, conversa com os pais e realiza reuniões com os professores. Também prepara aulas de metodologia, ministradas à noite na própria escola e freqüentadas por todo o corpo docente.

A luta continua
Encarnando o ideal Martiniano de que ser culto é o único modo de ser livre, Cuba persegue a meta de ter 100% de sua população alfabetizada. Desde 1961, quando começou a Campanha de Alfabetização, o governo se dedica especialmente a manter as taxas de escolaridade cada vez mais próximas do ideal. Para isso, em 2006, por exemplo, 19,4% do PIB foram investidos na área da Educação.

Outro projeto que completou cinco anos de atividades é a formação de Maestros Emergentes. Não satisfeito com a formação acadêmica tradicional de professores e com intuito de levar escolas a pontos cada vez mais distantes, Fidel criou grupos de estudo onde se formam docentes em menos de um ano. Qualquer pessoa que tenha segundo grau completo pode desempenhar a função.

O interessado começa a freqüentar cursos teóricos que incluem disciplinas tradicionais como Espanhol, Matemática, Historia e Geografia. Também são apresentados à metodologia de ensino e, aproximadamente em um ano, os novos docentes já estão aptos a ministrar classes. Essa fase culmina na própria escola, onde são preparados para a sala de aula. Mesmo depois que já estão inseridos no cotidiano escolar, seguem nessa atividade teórica e metodológica, para se desenvolverem ainda mais, destaca Olidia.

Olga Puentes faz questão de sublinhar a importância dessa colaboração. Na escola que dirige, dos 15 professores excluindo os especialistas três são emergentes. Mas há algumas escolas onde quase todos são dessa categoria. Nas secundárias, lembra a mestra que acumula 30 anos de experiência, a maioria tem licenciatura. Segundo a diretora, não existe discriminação entre os licenciados e os emergentes, além da evidente diferença de experiência. Esses três que tenho aqui são muito bons.

A política de formar professores emergenciais foi criada por necessidade, já que, na visão do governo cubano, o número de licenciados não alcançava a demanda. Para reverter o quadro, as escolas estão trabalhando com os próprios alunos, para que se interessem por carreiras pedagógicas. Além de um sistema parecido com o magistério brasileiro, onde estudantes do 12º ano podem optar pela licenciatura, os pequenos também são estimulados a descobrir essa vocação.

Já a partir da 4ª série, os professores estimulam na garotada o gosto pelo ensino. Em cada grau são eleitos monitores, os mais destacados em cada disciplina e a eles cabe responsabilidades como revisar tarefas e auxiliar os colegas na compreensão de algum tema. Uma vez ao mês, eles têm a oportunidade de ministrar uma aula previamente planejada com o mestre, conta Olidia. Nas séries iniciais a atividade não é obrigatória, mas se há interesse por parte do aluno, desenvolvem atividades semelhantes.

O magistério é minha vida

Sentada tranqüilamente em uma carteira ao lado do portão da escola, Sila Corona Torres cumprimenta cada aluno que chega. Atualmente está aposentada, depois de 38 anos de sala de aula. A paixão pela escola, no entanto, a fez procurar a administração, que lhe concedeu o cargo de recepcionista, para não se afastar das crianças.

Os dentes faltando indicam que a idade já avançou para a senhora, nascida em 1944, mas o tempo transcorrido não apaga de sua memória aquele ano. Em 1961, Sila Corona Torres freqüentava a escola secundaria e tinha 17 anos de idade. Não fazia parte de nenhum movimento revolucionário até então, mas conta que quando ouviu o chamado de Fidel Castro para a Campanha Nacional de Alfabetização, a vocação para a docência se despertou. Acompanhe seu depoimento:
O governo anterior não se preocupava com isso, havia muito analfabetismo, as pessoas não sabiam ler nem escrever. E graças ao Triunfo da Revolução, começamos essa campanha. A partir da chamada de Fidel Castro, muitos alfabetizadores se mobilizaram e entre eles, eu. Eu estava estudando secundário e quando veio o chamamento, me incorporei à campanha. Houve também muitos companheiros que ainda eram alunos, gente que tinha 14, 15 anos.
Muitos foram às montanhas, e os que não puderam, ficaram nos seus povoados mesmo. Porque na cidade também tinha problema de analfabetismo. Eu trabalhei com dois companheiros de um povoado chamado El Caino, no município de Havana. Marieta Pinhal, era uma mulher de 40 e poucos anos que aprendeu muito bem e Alfredo Goncalves, que tinha uns 60. Em menos de um ano, estavam alfabetizados. Eu os ensinei.

Ministrava minhas aulas nas suas casas, e vivia aqui na cidade. Porque não pude ir ao campo, por problema de saúde. Continuo vendo eles, todos os anos. O companheiro já faleceu, porque tinha 62 anos na época. Mas a companheira vive ali em Carlos III (Avenida de Centro Havana).

Conheci muita gente que foi para o campo, para a Sierra Maestra, que levaram a cabo a campanha se movendo pelas montanhas. Esses companheiros viviam na casa dos campesinos, repartiam a pouca comida que havia e dormiam em colchões no chão. Eram casinhas muito pobres e as aulas eram ministradas ali mesmo, no seio da família.

As boas lembranças são dos avanços comemorados pelos campesinos, quando já eram capazes de identificar algumas letras. Depois, as algumas palavras soltas, seus nomes. Por fim, já eram capazes de compor pequenas frases, saudações, recorda.

Senti-me muito orgulhosa depois que vi que estavam lendo e escrevendo, quando antes não sabiam nada. Esse foi o momento mais marcante. Isso foi o que me incentivou, continuei a estudar e me tornei professora, para ensinar também as crianças. Passei muito tempo dando aulas em uma escola primária durante o dia, e, pela noite, dava aulas aos campesinos que já sabiam ler e escrever algo. Quando recebi minha medalha me senti muito orgulhosa. A cerimônia foi lindíssima, num lugar muito bonito, as escadarias do Teatro Nacional de Havana, em 22 de dezembro de 61. Sinto me orgulhosa, por mim e por meus filhos, que são dois e vivem felizes por sua mãe.

Por outro lado, Sila fala das negras marcas deixadas pela perseguição aos alfabetizadores. Em um ano, muitos morreram, depois de brutalmente torturados.

Houve problemas porque havia muitos contra-revolucionários. No primeiro caso que me lembro, foram a casa de um campesino onde havia um alfabetizador, e mataram aos campesinos e ao jovem alfabetizador. Queriam interferir na campanha, mas não puderam porque todos os cubanos defenderam essa Revolução e estamos defendemos até hoje. Porque aqui em Cuba, nunca um campesino havia vivido como vive agora, eram muito mais pobres, muito mais necessitados¨.

A primeira batalha vencida, Sila segue na luta pela Educação. Acredita que hoje, os meios de aprendizagem são mais modernos, o que facilita a assimilação dos conteúdos. O próprio desenvolvimento da escolaridade contribui para a alfabetização no século XXI e para a formação cidadã.

Agora é distinto, antes a gente era analfabeta, não sabia nada. Quem sabe ler e escrever entende melhor tudo, se dá conta dos males da sociedade, sabe como ir adiante, resume.

A escola de Che

O professor Miguel de La Rosa Perez tem 48 anos de idade e há 29 vive no povoado de Manaca Ranzola, no município de Fomento, província de Sancti Spiritus. No pátio de sua casa exibe um privilégio raro entre os cubanos: a estátua em tamanho natural do argentino Che Guevara, doada por mexicanos. No mesmo lugar onde Miguel vive hoje com sua esposa, em 1958, Che instalou seu posto de comando, de onde emitiu as ordens que resultaram na rendição definitiva das tropas do ditador Fulgêncio Batista, na célebre batalha de Santa Clara a cerca de 40 km.

O casebre de alvenaria tem paredes brancas, janelas e portas em tom azul escuro. Um amplo jardim recebe os eventuais visitantes levados ao local pela curiosa homenagem a Che. Quase ninguém freqüenta aquelas ruelas de chão batido, com exceção dos 11 alunos de Miguel. No marco da porta principal da casa, pode-se ler Escuela Primaria Rural Silverio Blanco.

Auxiliado por uma jovem professora, que está concluindo o curso de docência, Miguel leciona para quatro turmas. Na 1ª série, apenas um aluno; quatro na 2ª, seis na 3ª e outros dois na 4ª. São duas salas de aula equipadas com televisão e videocassete e ainda três computadores, nos quais se fazem lições repassadas semanalmente por um técnico em informática que se desloca até o povoado. O mesmo acontece com as professoras de Educação Física e de Arte, por dois períodos semanais.

Na Escuela Silvério Blanco não há refeitório. Três dos 11 alunos sentam-se à mesa do mestre e comem a refeição preparada por sua esposa, que também é auxiliar de serviços gerais do local. Os demais alunos vão até suas casas para almoçar e retornam em seguida para o turno inverso, quando trocam os cadernos e lápis por ferramentas de jardinagem. A horta fornece legumes para o almoço e frutas para o lanche das crianças. A idéia de conhecimento aliado ao trabalho surgiu em 1966, com a criação das Escolas Rurais, onde os alunos dividem seu tempo entre os estudos e a agricultura.

Dados da Educação em Cuba
População total
11.245.000
Entre 0 e 14 anos: 2.024.100 (18%)
Entre 15 e 64 anos: 7.871.000 (70%)
Mais de 65 anos: 1.124.000 (10%)

População em idade escolar
845.922
Educação Infantil
100% matriculados
Ensino Fundamental
95% de meninas e 97% de meninos matriculados
Ensino Médio
87% de meninas e 86% de meninos matriculados

Total de escolas
Públicas
9029 primárias (6 a 11 anos)
1005 secundárias (12 a 14 anos)
Privadas
Não existem

Total de professores
90.867 em primárias
250 mil pedagogos

Alunos por sala de aula
10 (Unesco)
20 (Ministério da Educação)

Concluintes do Ensino Fundamental na idade correta 99%

Taxa de reprovação 0,1%

Taxa de evasão 0

Índice de analfabetismo
Jovens: 0
Adultos: 0,2%

Jornada diária
99,1% das crianças tem aulas em dois turnos (oito horas diárias). Nas escolas do campo, um dos turnos é destinado à tarefas da agricultura.

Formação dos professores
Cursos de licenciatura estão espalhados em todas as universidades do país. Há também os chamados Maestros Emergentes, categoria de estudantes egressos do ensino médio que realizam preparação intensiva em seis meses para lecionar. Nesse caso, os professores seguem recebendo lições dos mais experientes durante cerca de um ano. Na Educação Infantil, 16.619 são emergentes.

Piso dos professores de 1ª série
240 pesos (aproximadamente 10 dólares, valor do salário mínimo).

Investimento do Estado em Educação
19,4% do PIB

DE VOLTA ÀS TRADIÇÕES
No ano do centenário da Imigração Japonesa ao Brasil, é uma escola que recebe brasileiros no oriente que dá uma aula de respeito à diferença

A escola municipal Ishihamanishi, em Higashiura, província de Aichi, é a única em território nipônico a participar oficialmente da comemoração do Centenário da Imigração Japonesa ao Brasil. Para seus 90 alunos brasileiros (de um total de 300), isso tem um significado bem especial. Descendentes diretos do chamado “Fenômeno Dekassegui” – que desde a década de 90 levou 300 mil descendentes de japoneses e seus familiares “de volta” ao oriente – os pequenos não precisaram dos livros para aprender o significado da palavra imigrar.

Alguns não estiveram no Brasil mais do que uma ou duas vezes. Outros alternam a vida entre os dois países. De um jeito ou de outro, assim como seus avós, tiveram de aprender a viver no meio de duas culturas. Boa parte das escolas do arquipélago não dá bola para as diferenças culturais dos estrangeiros. Atua dentro das regras próprias da educação japonesa e espera que haja uma adaptação rápida aos hábitos locais. Os que não conseguem, são deixados de lado. Vítimas de preconceito dos colegas, muitos passam a ter vergonha das origens e tentam fingir que são japoneses. Se negam a falar em português e rejeitam os pais, que são motivo de constrangimento para os filhos, por não dominar o idioma local.

Na Ishihamanishi, que oferece do 1º ao 6º ano do Ensino Fundamental (chamado em japonês de shoogakkoo), a história era parecida. Localizada numa área de plantações e fábricas e vizinha de um danchi (moradia do governo muito procurada por estrangeiros pelo preço acessível), o número de estudantes de outros países, sobretudo do Brasil, só aumentou desde a década de 90. Não se sabia o que fazer com eles.

Foi então que, há cinco anos, o então recém-assumido diretor Yoshiaki Koyama percebeu que era era preciso tomar uma atitude – esperava-se que os não-japoneses voltassem logo a seus países, mas a realidade se mostrava diferente. Muitos, como Luis Guilherme Higa Katayama, de aluno do 5º ano, passaram a maior parte da vida no novo país e mal sabiam como é o Brasil. “Eu só morei lá até os dois anos, não me lembro de mais nada”, diz Luís.

A primeira decisão: tratar a todos com a mesma dedicação, independentemente da origem. O novo lema foi o ponto de partida para uma série de implementações, que mudaram o cotidiano da Ishihamanishi. Duas intépretes foram contratadas, além de uma assistente de classe que fala português. Criaram-se as salas de JSL (Japanese as Second Language), com três professores de língua japonesa para ajudar quem tem dificuldades em entender o conteúdo de classe. Percebendo que muitos faltavam na aula por motivos banais – como o frio e a chuva – os professores começaram a buscar os ausentes na porta de casa, um costume que até então só era aplicado aos nativos, além de ligar para saber de notícias em caso de ausências seguidas. E todos iniciaram um trabalho conjunto para dar um basta no preconceito.

Para aproveitar o conhecimento dos brasileirinhos nos conteúdos de sala de aula e melhorar a integração com os colegas japoneses, foi elaborada uma série de atividades multiculturais para serem feitas dentro e fora de aula.

Por exemplo, na disciplina de Tarefas Domésticas, a criançada foi para a cozinha preparar comidas dos dois países. Com ajuda das mães, todos aprenderam a tradicional receita japonesa de udon – macarrão de trigo ensopado – e a nossa irresistível coxinha.

Para resgatar a história dos antepassados, os brasileiros do 6ª ano tiveram uma atividade especial. Quando a aula de Estudos Sociais abordou a Era Meiji (1868-1912), abriu-se um espaço especial para falar de Imigração. Uma avó japonesa, que tinha partido para a América do Sul e depois retornou às origens como dekassegui, contou sua história. Com base no depoimento, os alunos procuraram fotos antigas na internet e escreveram textos nas duas línguas para explicar o material. Assim, eles entenderam um pouco mais sobre a própria história e o percurso que sua família seguiu até retornar ao Japão.

Lição para os pais

“Mas só isso não adianta, pois, muitas vezes, a influência vem de casa. Se os país brasileiros têm preconceito e não gostam de japoneses – e vice-versa –, as crianças repetem o comportamento na escola”, afirma Lucia Ikenami, assistente de classe. O jeito foi pôr os adultos para aprender também. Em junho do ano passado, a escola transformou uma reunião obrigatória do ensino nipônico – em que os pais acompanham um dia dos filhos na escola – numa tremenda festa multicultural. Normalmente realizado de dia, o encontro mudou para o sábado à noite, de modo que os pais brasileiros – que trabalham até 12 horas por dia e dificilmente têm folga – pudessem participar. Depois de ver os filhos na aula, famílias das duas nacionalidades assistiram a apresentações de música verde-amarela tocada com instrumentos orientais, capoeira e taiko (tambor nipônico). Tudo com o apoio de membros da comunidade local.

As crianças parecem aprovar os esforços. “Eu gosto de tudo aqui”, diz Beatriz Komaru, da 6ª série, que só esteve duas vezes no Brasil e fala com fluência as duas línguas. Mas os desafios ainda são grandes. Escolas como a Ishihamanishi se deparam freqüentemente com problemas como o aprendizado incompleto dos dois idiomas, as mudanças excessivas de colégio por conta da troca constante de emprego dos pais, a dificuldade em se adaptar aos hábitos locais e o temido ijime, palavra em japonês para os maus-tratos sofridos dos colegas, chamado em inglês de bullying.

Neste ano, o diretor Koyama quer ampliar as atividades de integração, aproveitando que o Centenário da Imigração se aproxima. Uma delas vai levar dez alunos do colégio – entre brasileiros e japoneses – a uma cerimônia oficial em Tokyo, na qual poderão declamar uma mensagem sobre a convivência multicultural ao primeiro-ministro japonês Yasuo Fukuda e a uma comitiva do governo do Brasil. Foram as próprias crianças que se candidataram para participar – o pré-requisito era escrever uma redação sobre o Centenário (a mensagem foi feita com partes das composições). “O Brasil aceitou os japoneses há cem anos, então chegou a hora de nós mostrarmos nossa gratidão. Por isso, acho que essa data não é apenas para festividades. Os brasileiros precisam ter seus direitos como moradores do Japão, entre eles o de poder estudar e ir para a faculdade, assim como qualquer japonês”, afirma o diretor.
Dados da Educação no Japão
População total do país: 127.053.000
População em idade escolar
Educação Infantil (0 a 5 no Brasil) 1.738.766
Ensino Fundamental (6 a 14 no Brasil)10.823.873
Ensino Médio (15 a 17 no Brasil)3.605.242

Número total de escolas no país
Educação Infantil (0 a 5 no Brasil) 13.949
Ensino Fundamental (6 a 14 no Brasil) 34.158
Ensino Médio (15 a 17 no Brasil) 5.418
Públicas 5.595 (Infantil) 33.252 (Fundamental) 4.917 (Médio)
Privadas 8.354 (Infantil) 915 (Fundamental) 1.321 (Médio)
Total de professores
Educação Infantil (0 a 5 no Brasil) 110.393
Ensino Fundamental (6 a 14 no Brasil)665.527
Ensino Médio (15 a 17 no Brasil)251.408
Média de alunos por sala de aula 27
Porcentagem de crianças que freqüentam a Educação Infantil. 58,4%
Porcentagem de alunos que concluem o Ensino Fundamental na idade correta 100%, pois não existe reprovação no Ensino Fundamental.
Taxa de reprovação Zero.
Taxa de evasão 2,4%
Índice de analfabetismo do país 0,02%
Quantas horas as crianças ficam por dia na escola 6 horas
Formação dos professores Nível superior.
Piso dos professores de 1ª série Cerca de 3.500 reais.
Investimento do Estado em Educação 3,5% do PIB

Dados de 2005 fornecidos pelo Ministério de Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia do Japão

Fontes:
Thiago Minami (Higashiura, Japão). De volta às tradições.
Naira Hofmeister (Havana, Cuba). A Revolução na sala de aula
Vanessa Moura. Ecco, abiamo arte!
Revista Nova Escola.
http://revistaescola.abril.com.br/

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A editora Carlini&Caniato/TantaTinta ganhou destaque na edição de junho da revista Globo Rural, pela publicação do livro “Aldeia de Minas”, dos autores César Saullo e Regis de Morais. O livro tem como tema a cidade de Passa Quatro, retratada por meio de fotos e poesias que revelam o cotidiano do interior mineiro. O prefácio do livro é do famoso escritor e psicanalista Rubem Alves. Mais informações sobre a editora pelo telefone (65)3023-5714, ou pelo site http://www.tantatinta.com.br/ .
Fonte:
http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=319399
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O Japão é um país repleto de lendas e tradições milenares. Para quase tudo o que existe lá, há uma lenda explicando sua origem. Os contos são passados de geração para geração e costumam encantar adultos e crianças.
Com as comemorações dos cem anos da imigração japonesa, o interesse pelas histórias japonesas tem aumentado no Brasil e para esse público há uma boa novidade. Semana que vem, o ilustrador da Tribuna do Paraná, jornalista, poeta e escritor Cláudio Seto estará lançando o livro Lendas trazidas pelos imigrantes do Japão. São quinze histórias ilustradas.
Lançamento de Lendas trazidas pelos Imigrantes do Japão, 26 de junho (quinta-feira), 19h30.
Livraria Curitiba do shopping Estação. Entrada gratuita.
Fonte:
http://www.parana-online.com.br/noticias/
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VI CONCURSO INTERNACIONAL DE POETRIX
VI ANNUAL INTERNATIONAL OF POETRIX CONTEST
Com o objetivo de popularizar a linguagem poética POETRIX, o MIP - Movimento Internacional Poetrix promove o VI CONCURSO INTERNACIONAL DE POETRIX, que será regido pelo seguinte regulamento:

REGULAMENTO

POETRIX é um poema composto de título e uma estrofe de três versos (terceto) com um máximo de trinta sílabas métricas.

Cada autor pode enviar quantos poetrix inéditos (jamais publicados nem divulgados em qualquer meio) desejar, em português, inglês, italiano ou espanhol, sobre qualquer temática.

Os trabalhos deverão ser enviados em qualquer formato, em três vias, sob pseudônimo.
Junto com os trabalhos deverá ser enviado envelope lacrado onde, externamente, constará apenas os títulos dos poetrix e o pseudônimo do autor. Internamente deverá ser informado seu nome, endereço completo, telefone, e-mail, títulos dos poetrix, pseudônimo e breve curriculum literário.

Para cada poetrix inscrito deverá ser enviada uma taxa de R$ 1,00 (um real) para o Brasil ou US$ 1,00 (um dólar) para os demais países, até o dia 30/06/2008.
Os trabalhos deverão ser enviados para:

VI CONCURSO INTERNACIONAL DE POETRIX – Caixa Postal 8622 – Ag. Shopping Itaigara – 41857-970 - Salvador – Bahia – Brasil.
[...] mais informações aqui: http://www.movimentopoetrix.com/
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Euclides Cavaco tem a subida honra de participar a todos os seus amigos e leitores a apresentação do seu novo livro HORIZONTES DA POESIA no PALÁCIO GALVEIAS, Localizado junto ao Campo Pequeno, em LISBOA, Sábado dia 14 de Junho às 19:00 horas. Com a colaboração da ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE POETAS, presidido pela sua digníssima Presidente, Dra. Maria Ivone Vairinho
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EDITORIAL MINERVA (DNA), e os autores realizaram a sessão de apresentação da obra POIESIS - antologia de poesia e prosa poética portuguesa contemporânea, Vol. XVI - 58 autores*, (capa do artista plástico Luís Folgosa) no dia 14 (Sábado) de Junho de 2008 16:30 horas no AUDITÓRIO CARLOS PAREDES, Junta de Freguesia de Benfica, Avª Gomes Pereira, 17 – Benfica – Lisboa.
Apresentação dos autores e da obra pelo “animador de ideias” Ângelo Rodrigues. Todos os autores interessados tiveram a oportunidade de uma breve intervenção. Seleção e leitura de dois poemas da obra por Cristina Estrompa e von Trina. Momento musical (canções) pela ANIMATUNA de Lisboa.
Autores presentes: Alberto Pereira; Ana Sara Carvalho; Ângela Constantino; António da Conceição Penedo; Armando Mendes; Arnaldo Guedes; Carlos Barroso; Carmen Zita Ferreira; Carvalho Marques; Catarina Mouro; Cátia Alves; Débora d’Andrade; Delmar Maia Gonçalves; Emídia Salvador; Fernando Duarte Pereira; Irondina Viegas; Jeracina Gonçalves
João Aires Guerreiro; João Amendoeira; João Filipe Ferreira; João Franco; João Luís Cardoso Martins Alves; John E. Contreiras; José Branquinho; José Verdasca dos Santos; Júlia Brimbela; Leonor Bettencourt Bernardo; Lúcia Lupenny Rodrigues; Lucília Novo Quesada; Luísa Ferreira Redondo; Manuel José Caria Gonçalves; Maria Alice Peixoto; Maria Ana Silva; Maria do Céu S.; Maria Elisabete Simões; Maria Helena Dinis Prata Tomás; Maria Victória Rodrigues Pereira; Mariana Reis; Mário Cirilo Viegas; Mel de Carvalho; Nobre Serena; Pais Garcia; Penélope Ramos Chichorro Rodrigues; Piedade Araújo Sol; Roberto Tavares; Rosélia Maria Guerreiro Martins; Rute Galvão; Rute Silva; Sara Madaleno; Sara Martins; Sérgio Godunhos; Severino Moreira; Shinya Jordão; Sílvia Soares; Vanda Caetano; Vera Alexandra M. de Sousa; Vera Novo Fornelos; Yeshua
PREÂMBULO

1. E voltou a “acontecer poesia”, isto é, POIESIS – Vol. XVI, antologia que inclui também alguns autores da CPLP bem como autores portugueses residentes no estrangeiro. Sejam bem-vindos à leitura e fruição desta obra colectiva que, quer queiramos quer não, conquistou já um pequeno lugar no “panorama literário português”, seja lá isso o que for.

2. POIESIS é uma obra de continuação, consolidação, luta e resistência para um número apreciável de autores e também uma oportunidade de publicação para muitos outros; também por isso, uma parte do que aqui se encontra, são experiências literárias com óbvias diferenças técnicas, estilísticas, estéticas, intenção e sentido (...). Seria muito difícil e provavelmente inútil, desconstruir e analisar manchas criativas de tão grande e diversa subjectividade, experimentação e procura (do graal de cada um). Não vamos por aí.

3. A obra em presença resulta de uma comum paixão; não é apenas um espaço de divulgação poética e para-poética com ecletismos, “ecumenismos”, nostalgias, futurismos, diferenças, atitudes, descobertas, revelações... pretende também e mais do que tudo, aferir, “fazer-desenvolver” e facultar uma alternativa intercultural e se possível transcultural, estabelecendo um sistema global de comunicação, de crítica e debate - ser alternativa, dar expressão e sentido aos processos criativos em Língua Portuguesa.

4. E porque há coragem, sonho, amor, vontade de partilha, cumplicidades, mistérios, encantamentos, desejos..., ficou menos tímida e um pouco mais ousada, a Musa oculta e irregular que habita a espiritualidade dos homens.

5. Porque escrever é um acto de solidão e porque publicar é sempre um acto de resistência, de muita coragem e ousadia, um renovado e intenso abraço a todos os autores que - uma vez mais - tornaram possível esta outra aventura.

Ângelo Rodrigues
Coordenador literário do DNA
Fonte:
http://www.joaquimevonio.com/agenda.htm
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Fonte:
Colaboração de Douglas Lara. In http://www.sorocaba.com.br/acontece

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Prêmio Literário “Notáveis Escritores do Brasil” e “Agenda 2009"


REGULAMENTO
I Premio Literário Notáveis Escritores do Brasil

1 – Categorias

O “I Premio Literário Notáveis Escritores do Brasil” estará recebendo obras nos seguintes gêneros literários: poesia, conto, novela, crônica e romance.

2 – Como participar:

As obras concorrentes poderão ser inscritas até o dia 30 de junho de 2008. As obras inscritas poderão ter sido publicadas anteriormente.

Etapas para inscrição:

* preenchimento da ficha de inscrição;
* pagamento da taxa de inscrição no valor de R$ 40,00 (quarenta reais). O pagamento deverá ser efetuado no ato da inscrição, através de depósito bancário, na seguinte conta em nome de Katya Marcos da Silva, Banco do Brasil – agência 4214-5, c/c: 6195-6 (envie uma cópia do comprovante de depósito para a Editora por e-mail ou correio).
* envio postal ou entrega, na própria Editora, de 1 (um) exemplar da obra concorrente, obedecendo às seguintes especificações:
* obra impressa em Times New Roman, corpo 12, entrelinhamento duplo e com, no máximo, 100 (cem) páginas;
* os exemplares enviados para o prêmio NÃO serão devolvidos após sua leitura pela Comissão Julgadora;
* não serão aceitas antologias para julgamento;
* o autor poderá concorrer em uma ou mais categorias, obedecendo sempre aos itens deste regulamento, como envio das obras nos moldes descritos e o pagamento da taxa para cada obra inscrita.

3 – Envio da(s) obra(s)

As obras deverão ser enviadas por e-mail: casadonovoautor@uol.com.br, ou pelo correio para Rua General Lecor, 56 – Ipiranga – São Paulo – SP – CEP. 04213-020.

4 – Comissão Julgadora

As obras inscritas serão analisadas por uma equipe de 5 (cinco) jurados especialmente convidados para o prêmio, e responsáveis por selecionar, cada um, 1 (um) título de cada categoria.

(4a) Serão selecionadas cinco (cinco) obras de cada categoria e, na etapa final, os editores da Casa do Novo Autor Editora tomarão parte, selecionando, com o auxílio da Comissão Julgadora, a obra vencedora.

5 – Premiação

O ganhador do “I Prêmio Literário Notáveis Escritores do Brasil”, promovido exclusivamente pela Casa do Novo Autor Editora, irá receber certificado de premiação e a edição da obra premiada em 100 (cem) exemplares, com registro de ISBN (código de barras) e Catalogação na CBL.

6 - Resultado

O resultado do concurso será divulgado dia 20 de julho de 2008.

7 - Outras informações

Os concorrentes que preencherem todos os requisitos dispostos neste regulamento estarão fazendo parte do “I Prêmio Literário Notáveis Escritores do Brasil” e concorrendo ao prêmio de publicação.

A decisão da Comissão Julgadora será soberana e não merecerá mudanças por parte dos concorrentes.

Os casos omissos serão resolvidos diretamente pela Editora e, havendo dúvidas, os concorrentes poderão solicitar informações complementares através do e-mail casadonovoautor@uol.com.br, ou pelos tel.: (11) 6163-0709 e 6169-9963.


Modelo de FICHA DE INSCRIÇÃO I PREMIO LITERÁRIO NOTÁVEIS ESCRITORES DO BRASIL (encontrado no site)

INSCRIÇÕES ATÉ 30 DE JUNHO DE 2008!

DADOS DO AUTOR:
Nome completo: ___________________________
Nome como será editado no livro: _________
Data de nascimento:____/____/_____________
Endereço :________________________________
CEP: ____________ Tel:( )_______________
e-mail: ________________
Cidade:____________________ Estado:_______
RG:________________ CPF: _________________

PAGAMENTO DA INSCRIÇÃO:
( ) em dinheiro
( ) cheque
( ) depósito bancário

Para depósitos em conta corrente:
Em nome de Katya Marcos da Silva - Banco do Brasil - agência 4214-5 - conta corrente: 6195-6
* enviar cópia do comprovante do depósito por e-mail ou correio.

Data____/____/____


________________________________
Assinatura do autor/responsável


Enviar esta ficha preenchida e assinada por e-mail ou pelo correio.

Fonte:
http://www.casadonovoautor.com.br/

Quer editar seu livro?




A Casa do Novo Autor Editora está fazendo de tudo para você publicar suas obras literárias!

“REALIZE SEU SONHO, PUBLIQUE SEU LIVRO!”

A Casa do Novo Autor Editora criou facilidades para você ter seu livro editado. Entre elas, e graças ao moderno sistema de impressão digital adotado, conseguimos produzir pequenas tiragens, viabilizando assim sua publicação.Além do baixo custo de impressão para pequenas quantidades, o sistema dispensa o uso de fotolitos, inclusive para capas em quadricromia, possibilitando menor custo e economia já na produção.

O processo digital permite ainda usar um original antigo ou mesmo um exemplar já esgotado como matriz. A possibilidade de imprimir edições a partir de 50 exemplares é hoje uma realidade. A quantidade certa de livros em pequenas tiragens é o nosso negócio.Basta enviar-nos sem compromisso sua obra digitada que a encaminharemos à nossa comissão de leitura e avaliação de originais. Após esta etapa você receberá a seguinte proposta:

A Casa do novo Autor criou o PEP (Plano Executivo de Publicação) Neste sistema você poderá pagar a edição em até 12 parcelas, isso mesmo, UM ANO e receberá um cronograma completo da edição passo a passo, assim você poderá acompanhar todo o processo de edição do seu livro.

Aceitando nossa proposta, seu livro terá:

* revisão ortográfica,
* composição eletrônica, capa 4 cores
* ficha catalográfica pela Câmara Brasileira do Livro
* registro no ISBN pela Biblioteca Nacional,
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* contribuição legal à Biblioteca Nacional,
* 100 convites para o lançamento.

PROMOÇÃO POR TEMPO LIMITADO

Casa do Novo Autor Editora
Rua Clóvis Bueno de Azevedo, 159 – Ipiranga - CEP. 04266-040
Tel: (11) 6163-0709 ou (11) 6169-9963
e-mail: casadonovoautor@uol.com.br

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Fonte:
e-mail enviado pela Casa do Novo Autor

Paraná em Trovas (Convite)


A Diretoria da Seção de Curitiba da União Brasileira de Trovadores convida para as as festividades dos XV JOGOS FLORAIS DE CURITIBA/2008

Dia 20/06/2008 – Sexta-feira
18h00 – Recepção de boas-vindas aos Trovadores visitantes, no saguão do Alta Reggia Plaza Hotel
19h30 – Saída para a Câmara Municipal de Curitiba.
20h00 – Abertura do evento no Palácio Rio Branco - Plenário da Câmara Municipal de Curitiba.
Após, coquetel de confraternização oferecido pela Câmara Municipal, no auditório do prédio anexo .
Distribuição do Livro dos XV Jogos Florais de Curitiba
Lançamento do livro “Paraná em Trovas” por Vânia Ennes – Presidente Estadual da UBT.

Dia 21/06/2008 – Sábado
10h00 - Passeio turístico pela cidade
13h00 - Almoço festivo com rodada de trovas, sorteio de brindes e muita alegria na Sapolândia – Chácara Derosso – Rua Desembargador Antonio de Paula, 3695 – Bairro Xaxim.
Final da tarde livre
20h00 - Ato Solene de premiação, dos vencedores dos concursos de âmbito nacional e estadual, no auditório Sala Londrina do Memorial de Curitiba Rua Claudino dos Santos com R José Bonifácio.(Junto ao Largo da Ordem)
A seguir, coquetel, no saguão do primeiro andar.
Distribuição do livro dos XIV Jogos Florais de Curitiba.

Dia 22/06/2008 – Domingo
10h - Visita à feira de artesanato do Largo da Ordem
13h00 – Almoço de encerramento, com rodada de trovas no salão do Instituto de Engenharia do Paraná (1ºAndar).( almoço por adesão: R$ 30,00 por pessoa).
_______________________________
Haverá ônibus para deslocamento para os eventos e passeio pela cidade.
_______________________________
Informações: Luiz Hélio (41)3078-7357 ou (41)9228-6129 ou pelo
e.mail: luizheliof@gmail.com

Pará em Luto



Depois de quase um mês internado faleceu na noite deste domingo (15), em um hospital particular da capital, o escritor Benedicto Wilfredo Monteiro. O velório será na Academia Paraense de Letras. O sepultamento acontece na segunda-feira (16), no cemitério Max Domini, em Ananindeua.

Monteiro foi internado no dia 22 de maio, após uma reação a um medicamento. Desde então teve oscilações em seu quadro clínico. Chegou a ficar interando na UTI(Unidade de Terapia Intensiva) e também a ter melhora no quadro.

Segundo a família a causa da morte foi falência múltipla dos orgãos. 'Ele estava em tratamento de câncer nos ossos. Estamos muito chocados ainda', disse a neta, Taiana Monteiro.

Aos 84 anos, Benedicto Monteiro é um dos mais importantes e destacados escritores paraenses do século 20. Nascido em Alenquer, é escritor, advogado, jornalista e político reconhecido nacional e internacionalmente pela sua luta pela democracia e ligação com os movimentos que combateram o regime militar de cuja ditadura, o escritor foi vítima, perseguido e prisioneiro.
Benedicto Monteiro criou a Procuradoria Geral do Estado, sendo o primeiro Procurador Geral. Em 1983, também criou e organizou a Defensoria Pública do Estado do Pará.

Além de integrante da Academia Paraense de Letras, Monteiro também era membro do Instituto Histórico e Geográfico do Pará e da Academia Paraense de Jornalismo.

Fonte:
Defensoria Pública do Estado do Pará
http://www.defensoria.pa.gov.br/?q=node/105

Benedicto Monteiro (1924 - 2008)


Benedicto Wilfredo Monteiro nasceu no dia 1°. de março de 1924, em Alenquer no Estado do Pará. É filho de Ludgero Burlamaqui Monteiro e Heribertina Batista Monteiro. Fez o curso de Humanidades no Colégio Marista N.S. de Nazaré em Belém e completou os seus estudos de ginásio no Rio de Janeiro, onde cursou Direito na Universidade do Brasil. Ainda no Rio, exerceu o jornalismo na imprensa local e publicou o seu primeiro livro de poesia Bandeira Branca, pela editora Zélio Valverde (1945) prefaciado pelo escritor Dalcídio Jurandir.

Casado com Wanda Marques Monteiro, com a qual teve cinco filhos: Aldanery, Ana Luiza, Wanda Benedita, Benedicto Filho e Dulcinez. Os filhos lhe deram dez netos: Bonny, Tahiana,Carlos Tadeu, Carla, Marcelo, André, Aline, Diego, Cauê, Iago e duas bisnetas: Luara e Luma.

Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, exerceu os cargos de Promotor Público, Juiz de Direito e Secretário de Estado. Foi eleito Deputado Estadual, tendo sido cassado em 1964, pelo regime militar instalado. Caçado como animal, nas matas de Alenquer, ficou preso e incomunicável por vários meses e foi torturado e marginalizado da sociedade, tendo seus direitos políticos suspensos por mais de 10 anos. Depois que saiu da prisão, dedicou-se ao exercício da advocacia agrarista e à literatura, tendo publicado o livro Direito Agrário e Processo Fundiário e vários livros de poesia e ficção que constam de seus dados bibliográficos.

O seu livro de contos Carro dos Milagres, foi premiado pela Academia Paraense de Letras, e o romance A Terceira Margem, recebeu o Prêmio Nacional de Literatura da Fundação Cultural do Distrito Federal.

Benedicto Monteiro, além de se destacar por sua atuação como Advogado Agrarista e como Parlamentar em defesa da Amazônia, também exerceu o magistério, como Professor convidado, ministrou palestras em Seminários e Cursos de Extensão Universitária e aulas de Direito Agrário em Instituições de Ensino de Nivel Superior, ainda encontrava tempo para compor músicas com temas amazônicos que apresentam rítmos que fazem parte da cultura do Pará, como o lundum, o marambiré e a toada.

Redemocratizado o país, foi eleito Deputado Federal e foi reeleito para a Assembléia Nacional Constituinte. Criou a Procuradoria Geral do Estado do Pará e foi o seu primeiro Procurador Geral. Criou e organizou a Denfensoria Pública do Estado do Pará.

A obra do escritor Benedicto Monteiro é reconhecida e prestigiada não só no Brasil, mas,sobretudo no Exterior. Na Europa, em países como Portugal, Holanda, Itália e Alemanha ( Berlim e Colonia), onde suas obras são traduzidas e servem como objeto de teses de mestrado e doutorado, e de monografias e estudos acadêmicos.

Especialmente na Alemanha, onde em tese de doutorado defendida pelo Professor Klaus Meyer Koeken, intitulada "Die Illusion Von oraitãt im brasilianischen Roman": "Zur Simulation realer Sprechsituationen in drei ‘mündich erzählten Lebensgeschichten ", com resumo em português: "A ilusão da oralidade no romance brasileiro", destaca e considera o romancista brasileiro Benedicto Monteiro como um dos representantes da literatura brasileira neste estilo de narrativa, colocando-o ao lado dos renomados escritores França Junior e Guimarães Rosa.

Nos Estados Unidos da América, sua obra literária é objeto de estudo acadêmico de autoria do Professor Macolm Silverman da San Diego State University – Califórnia, que em sua obra traduzida para o português intitulada "Protesto e o novo romance brasileiro", dá destaque à obra do escritor Benedicto Monteiro e comenta: "...Ao iluminar a noite simbolicamente,

Benedicto Monteiro termina Verde Vagomundo com uma nota de esperança e resistência, cujo otimismo era, ironicamente, difundido logo após o golpe militar, embora já houvesse terminado ao tempo da publicação do romance...". Esta estudo, com tradução de Carlos Araújo, foi publicada no Brasil pela Editora Civilização Brasileira, no Rio de Janeiro, no ano de 2000 e é considerado o melhor "Melhor Livro de Ensaios"- Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte.

Seu livro de Contos O Carro dos Milagres foi, durante vários anos consecutivos, recomendado como leitura obrigatória para o Vestibular, com textos selecionados para interpretaçao, pela Universidade Federal do Pará e por outras entidades privadas de ensino superior. E ainda, serviu de roteiro para peças de teatro e filmes de curta metragem.

O escritor Benedicto Monteiro recorrendo a sua vasta experiência literária, contextualizou a história do Pará, com todas as suas nuances e dimensões, resgatando, de forma didática, os valores da rica cultura paraense, lançando em parceria com as Organizações Rômulo Maiorama- ORM, a obra História do Pará, distribuída em fascículos encartados pelo jornal "O Liberal" no ano de 2001. Esta obra representa a síntese da história paraense, desde os fundamentos da pré-história amazônica à sua contemporaneidade, sob o ponto de vista econômico, geográfico, social, político e ecológico.

Na literatura publicou os livros: A Tetralogia Amazônia - Verde Vagomundo, O Minossauro, A Terceira Margem e Aquem Um. Além dessa tetralogia, publicou os livros Carro dos Milagres, Cancioneiro do Dalcídio, Como se faz um Guerrilheiro, todos publicados em editoras do Rio de Janeiro e São Paulo. Recentemente publicou, Maria de Todos os Rios, Transtempo, Discurso sobre a Corda e A Poesia do Texto. Dedicou-se, há mais de 10 anos, a escrever artigos semanais para os jornais O Liberal e a Província do Pará. Tanto os seus livros que compõem a Tetralogia Amazônica como O Carro dos Milagres e a Maria de Todos os Rios, têm sido objetos de estudo das Universidades Brasileiras.

Em Colônia e Berlim, Alemanha, seus livros foram selecionados na literatura brasilera como repretativos da ilusão da oralidade no romance brasileiro juntamente com Guimarães Rosa e Osvaldo França Jr., tendo a Universidade de Colônia editado um livro sobre esse assunto.

Recentemente Maria de Todos os Rios, foi publicado na Holanda.

Como membro da Academia Paraense de Letras, recebeu a Medalha José Veríssimo. Assim como recebeu o título de Honra ao Mérito da Câmara Municipal de Santarém, da Câmara Municipal de Alenquer, da Câmara Municipal de Belém e da Assembléia Legislativa do Estado do Pará.

Recentemente, Benedicto Monteiro, publicou cinco volumes de livros sobre história, geografia, economia e questões sociais da Amazônia e especificamente do Estado do Pará. São livros didáticos dedicados ao ensino fundamental, mas que interessam a todas as pessoas que queiram conhecer a Amazônia. Eles tratam desde a época pré-colonial, a era dos descobrimentos, até os nossos dias.

Benedicto Monteiro escreveu também dez contos infanto juvenis, sobre as lendas amazônicas.
"Quando escrevo faço o exercício da minha mais íntima liberdade".

Fontes:
http://www.verdevagomundo.com.br/obrasverde.htm
http://www.alenquerpara.com.br/?pg=noticia&id=144

Lendas Indigenas (Kuadê – Jurun mata o sol ; Poronominaré; Sinaá; Begorotire; Kuát e Iaê; Iamulumulu)

Kuadê – Jurun mata o sol

Jurun mata o Sol Kuadê, o Sol, era gente também. Morava longe e falava outra língua. Os Juruna costumavam passear na casa dele. Perto de onde morava o Sol tinha um buraco na pedra que estava sempre cheio de água. Era uma armadilha para pegar bicho. Bicho que enfiava a cabeça no buraco para beber água ficava preso. Todos os dias o Sol ia ver se havia caça presa. Quando encontrava, matava e levava pra casa para comer. A pesca, ele só fazia à noite, clareando a água com uma luz que ele tinha no traseiro. Ele zangava e matava quem dizia ter visto a sua luz. Havia um moço Juruna que não sabia da armadilha do Sol, o buraco na pedra.

Passando perto um dia, com sede, foi beber e ficou preso pela mão. Quando no outro dia viu o Sol que se vinha aproximando na sua visita diária, o moço fingiu de morto. Deitou e ficou imóvel, com o coração parado também, de tanto medo. O Sol chegou e começou a examiná-lo. Abriu a boca, os olhos, apalpou o peito e verificou que estava tudo parado como gente morta. Aí o Sol desprendeu o moço Juruna do buraco e o colocou dentro de um cesto para ser transportado. Mas antes de pôr o cesto nas costas, para ver se o moço estava bem morto mesmo, jogou formiga em cima dele. O Juruna aguentou as formigas, sem se mexer, mas quando elas morderam nos olhos, ele se mexeu um pouquinho.

A borduna do Sol, que estava perto, percebendo o movimento, quis logo bater, mas o dono não deixou, dizendo que o Juruna estava bem morto. Em seguida, o Sol levou o cesto com o corpo para perto da casa dele, pendurando-o no galho de uma árvore. No dia seguinte, pediu ao filho que trouxesse o cesto para dentro de casa. O filho do Sol foi mas não encontrou mais o Juruna. Ele tinha fugido de noite. O Sol sabendo disso, na mesma hora jogou a sua borduna atrás dele. a borduna saiu voando e logo adiante bateu num veado.

O Sol disse que não era aquilo que ele queria, e saiu em perseguição, até que encontrou o fugitivo escondido na raiz oca de um pau. A borduna chegou e começou logo a bater no tronco. Vendo que isso não dava resultado, cortou uma vara e passou a chuçar o buraco. O Juruna ficou todo machucado, mas continuou dentro da toca. Como já estava muito tarde, o Sol tapou a boca do buraco com uma pedra e disse para a borduna: "Amanhã nós voltamos para acabar de matar". De noite, na ausência do Sol, todo tipo de bicho - anta, porco, veado, macaco, paca, cutia - apareceu para ajudar o moço Juruna a sair de dentro da toca onde se tinha enfiado.

Lá dentro, ele pedia: "Cavem esse pau para eu sair". Os bichos começaram a cavar. Quando os seus dentes quebravam, iam à procura de outros bichos para continuar a escavação. a anta conseguiu abrir uma pequena saída. O moço Juruna pôs a cabeça para fora e pediu que cavassem mais um pouco. Com o alargamento que a cutia e a paca, por último, fizeram, ele pôde sair de uma vez para fora. Quando o sol chegou, não o encontrou mais. O moço a essa hora já estava chegando em casa. Lá, contou para os parentes o que havia acontecido com ele, dizendo que quase tinha sido morto pelo Sol.

Três dias depois foi dizer à mãe que ia sair novamente para colher coco. A mãe, chorando, pediu a ele que não fosse. "Não vá, meu filho, que o Sol vai matar você". O moço, depois de cortar todo o cabelo e se pintar de jenipapo, foi dizer à mãe que assim como estava não ia ser reconhecido pelo Sol. "Não tenha medo, que o Sol não me vai conhecer. Agora estou diferente". Falou isso e entrou mata adentro. Subiu no primeiro inajá que encontrou e ficou lá em cima colhendo coco.

Certo jovem, não muito belo, era admirado e desejado por todas as moças de sua tribo por tocar flauta maravilhosamente bem. Deram-lhe então o nome de Catuboré, (flauta encantada). Entre elas, a bela Mainá conseguiu o seu amor; casar-se-iam durante a primavera. Certo dia, já próximo do grande dia, Catuboré foi à pesca e de lá não mais voltou. Saindo a tribo inteira à sua procura, encontraram-no sem vida à sombra de uma árvore, mordido por uma cobra venenosa. Sepultaram-no no próprio local. Mainá, desconsolada, passava várias horas a chorar sua grande perda. A alma de Catuboré, sentindo o sofrimento de sua noiva, lamentava-se profundamente pelo seu infortúnio. Não podendo encontrar paz pediu ajuda ao Deus Tupã. Este então transformou a alma do jovem no pássaro Irapuru, que mesmo com escassa beleza possui um canto maravilhoso, semelhante ao som da flauta, para alegrar a alma de Mainá. O cantar do Irapuru ainda hoje contagia com seu amor os outros pássaros e todos os seres da Natureza.

Irapuru = pássaro
Catuboré = nome índio - masculino
Mainá = nome índio - feminino

O Sol, que passava por perto, pensou que era macaco que estava no alto da palmeira. Quando viu que era gente e reconheceu o Juruna, disse assim: -Quase matei você naquele dia, mas agora você vai morrer. -Eu não sou quem você está pensando. Sou outro - disse o moço lá do alto. Mas o Sol sabia, e replicou: - É você mesmo. Desça daí que você vai morrer agora mesmo. O Juruna, então, lá da copa da palmeira, pediu ao sol que parasse primeiro um cacho de coco que ele ia jogar. -Pega primeiro este cacho que eu vou jogar. -Joga - disse o Sol. O moço jogou o cacho e o Sol pegou. Era um cacho pequeno, esse primeiro jogado.

O moço lá de cima tornou a pedir: Pega mais este. E lá de cima jogou um cacho pesado, muito grande. O Sol estava esperando com os braços estendidos para o alto. O cacho caiu direito no peito dele e o matou na hora. Ao morrer o Sol, tudo ficou escuro. A borduna, com a morte do dono, no mesmo instante correu e se transformou em cobra, a salamanta (uandáre-borduna do Sol).

O sangue que escorria do Sol ia-se transformando em aranha, formiga, cobra, lacraia e outros bichos. Essas cobras e aranhas que forravam o chão não deixavam o moço Juruna descer da palmeira. ele, então, como os macacos, foi passando de árvore para árvore. Só desceu quando viu o chão limpo. Uma vez em baixo, procurou o caminho e voltou para a aldeia. Lá chegando, disse para a mãe: -Matei o Sol. -Por que você fêz isso? eu bem não queria que você saísse. Agora está tudo escuro - a mãe, assustada, lamentou. As crianças todas começaram a morrer com a escuridão, porque ninguém podia pescar, caçar, ou trabalhar. Lá na aldeia do Sol, a mulher dele já sabia da sua morte.

Disse aos três filhos que já estavam passando fome: - IO pai de vocês morreu porque gostava de matar gente. Qual de vocês quer ficar no lugar dele? Experimentou primeiro o mais velho dos três. Este, logo que pôs na cabeça o penacho do pai, achou-o muito quente. Foi subindo, subindo, quando estava quase amanhecendo não aguentou mais o calor e voltou. Aí foi a vez do outro, o do meio. Colocou o penacho na cabeça e começou a subir. Passou um pouco da altura a que chegou o primeiro, mas não aguentou também e voltou dizendo que o calor era demais. Restava o mais novo. A mãe perguntou se ele queria ficar no lugar do pai. Ele disse que sim. Adornou-se com o penacho e subiu, mas como o calor era muito grande, andou depressa e se escondeu logo do outro lado.

De regresso à casa, a mãe lhe disse: -Você aguentou um pouco,mas é preciso andar mais devagar da outra vez, para o pessoal poder matar peixe, caçar e trabalhar. Não corre não. O filho mais moço do Sol voltou a fazer a caminhada, e fez toda ela devagar, desta vez. A mãe havia recomendado a ele que parasse um pouco quando estivesse bem no alto, no meio do caminho, e que começasse a descer bem devagar depois, parando um pouquinho também, antes de entrar duma vez do outro lado. Quando a mãe viu o filho fazer todo o caminho, como devia ser feito, chorou dizendo: -Você agora está no lugar de seu pai, e não vai voltar mais para mim. O filho lá do alto por sua vez falou: -Agora não posso mais voltar para morar com você. Vou ficar sempre aqui em cima. A mãe, ao ouvir isso, chorou outra vez.

Poronominaré - O Dono da Terra

O velho pajé Cauará saiu para pescar, demorando muito a voltar. A filha preocupada resolveu procurá-lo perto das águas mansas do rio. Após muito andar, sentou-se na relva para descansar. Anoitecia e a lua surgiu atrás das montanhas, ficando a jovem a contemplá-la. Subitamente, destacou-se do astro um vulto muito estranho que vinha em sua direção. A índia parecia hipnotizada, sendo em seguida tomada de profunda sonolência. Neste momento o pajé, que havia retornado a aldeia, preocupou-se com a ausência da filha. Tomou então um pote com paricá, pó alucinógeno que, inalado, lhe despertava os poderes de pajé, entrando assim em transe.

Muitas sombras desfilaram a sua frente e entre elas surgiu a silhueta de um homem que subia aos céus em direção à lua. Aos poucos, outras imagens foram tomando formas humanas com cabeça de pássaros, anunciando ao pajé que sua filha estava numa ilha, não muito distante dali. Imediatamente Cauará dirigiu-se ao local revelado, encontrando a moça enfraquecida e faminta. Voltaram à aldeia. Passados alguns dias, a jovem, preocupada contou ao pai um sonho impressionante: no alto da montanha ela dava à luz uma criança muito clara, quase transparente. Não havia leite em seus seios, sendo o seu filhinho alimentado por uma revoada de beija-flores e borboletas.

À sua volta, outros animais que também se encantaram com o bebê, lambiam-no carinhosamente. lgum tempo depois, a filha de Cauará notou que, embora virgem, esperava uma criança. O pajé, estranhando o fato, entrou novamente em transe. As alucinações lhe mostraram ser o homem que ele vira subir à lua, o pai de seu neto. Numa madrugada em que os animais, as aves e os insetos pareciam agitados e felizes, nasceu na serra de Jacamin o neto do pajé, Poronominaré, o dono da terra. Ao ser informado do feliz acontecimento, Cauará seguiu para a montanha para conhecer o herdeiro. Surpreso, encontrou a criança com uma barbatana nas mãos, indicando a cada animal o seu lugar na Natureza. Ao cair da tarde, quando tudo já estava em pleno silêncio, ouviu-se uma cantiga feliz. Era a mãe do dono da terra que subia aos céus, levada por pássaros e borboletas.

Sinaá - Inundação e Fim do Mundo

Sinaá, o mais poderoso pajé da tribo Juruna, era filho de mãe índia e pai onça. Do felino herdara o poder de enxergar também pelas costas, o que lhe permitia observar tudo o que se passava ao seu redor. Caminhava com sua gente por toda a região, ensinando a seus companheiros serem bons e bravos. Seu povo alimentava-se de farinha de mandioca, raspa de madeira, jabutis e sucuris, cobras imensas que habitavam na água. Certa vez, uma enorme sucuri foi capturada e queimada por haver devorado diversos índios. Inesperadamente brotaram de suas cinzas diversas espécies de vegetais, como a mandioca, o milho, o cará, a abóbora, a pimenta, e algumas plantas frutíferas, até então desconhecidas para aquela tribo.

Foi um pássaro surgido do céu que os ensinou a utilizar e preparar tais alimentos e também a fazê-los multiplicar-se. A partir daquele dia, fartas roças se formaram. Para garantir o sustento de seu povo, Sinaá, face às fortes chuvas e à ameaça de grande inundação, construiu uma imensa canoa, onde plantou mudas de cada espécie. Em poucos dias o rio transbordou e a enchente cobriu toda a região, mas o grande pajé livrou seu povo da fome. Já mais velho, Sinaá casou-se com uma aranha, que lhe teceu novas vestes pra melhor abrigá-lo. Chegando a atingir idade bastante avançada, já ostentava longas barbas brancas. Seus poderes, porém, permitiam-lhe remoçar a cada banho de cachoeira, para que pudesse viver até o fim de seu povo, como tanto queria. Quando isso ocorresse, Sinaá derrubaria a forquilha de uma enorme árvore que apontava para o céu, sustentando-o. O céu desabaria sobre todos os povos e o mundo teria o seu fim.

Begorotire - O Homem Chuva

Begorotire era um índio feliz. Certo dia, porém, havendo sido injustiçado na divisão da caça, ficou furioso, decidindo que sairia à procura de outro lugar para viver. Cortou os cabelos da esposa e da filha, pintando toda a família com uma tintura preta que havia retirado do fruto do jenipapo. Pegou um pedaço de madeira pesada e resistente, fazendo a primeira borduna Caiapó, com o cabo trançado em preto e a ponta tingida com sangue da caça. Chegou então ao alto de uma montanha, levando sua arma, e começou a gritar. Seus gritos soaram como fortes trovões. Girou fortemente a borduna no ar e de suas pontas saíram relâmpagos. Em meio ao barulho e às luzes, Begorotire subiu aos céus. Os índios assustados atiraram suas flechas, mas nada conseguiu impedir que o índio desaparecesse no firmamento.

As nuvens, também assustadas, derramaram chuva. Por isso Begorotire tornou-se o homem chuva. Tempos depois, levou toda a família para o céu, onde nada lhes faltava, e de lá muito fez para ajudar os que na terra ficaram. Juntos sementes de suas fartas roças, secou-as sobre o girau, entregando-as a uma filha para trazê-las. A índia desceu dentro de uma cabaça enorme amarrada a uma longa corda, tecida com as próprias ramas do vegetal. Caminhando pela floresta, um jovem encontrou a cabaça, amarrou-a com os cipós e pedaços de madeira e, com ajuda dos amigos levou-a para a aldeia. A mãe, abrindo a cabaça, encontrou a índia, a filha da chuva, que estava magra e com longos cabelos, por lá haver permanecido muito tempo.

A jovem foi retirada e alimentada, e teve seus cabelos aparados. Ao ser indagada, a filha da chuva explicou por que viera, entregando-lhes as sementes enviadas por seu pai e deixando a todos muito felizes. O jovem que encontrou a cabaça casou-se com a moça, passando esta a morar novamente na terra. Com o tempo, resolveu visitar os pais. Pediu ao esposo vergasse um pé de Pindaíba, trazendo a copa até o chão. Sentou-se sobre ela e, ao soltarem a árvore, a índia foi lançada ao céu. Ao retornar, trouxe consigo toda a família e cestos repletos de bananas e outros frutos silvestres. Begorotire ensinou a todos como cultivar as sementes e cuidar das roças, regressando depois ao seu novo lar. Ate hoje, quando as plantas necessitam de água, o homem chuva provoca trovões, fazendo-a cair sobre as roças para mantê-las sempre verdes e fartas.

Kuát e Iaê - A Conquista do Dia

No principio só havia a noite. Os irmãos Kuát e Iaê - o Sol e a Lua - já haviam sido criados, mas não sabiam como conquistar o dia. Este pertencia a Urubutsim (Urubu-rei), o chefe dos pássaros. Certo dia os irmãos elaboraram um plano para captura-lo. Construíram um boneco de palha em forma de uma anta, onde depositaram detritos para a criação de algumas larvas. Conforme seu pedido, as moscas voaram até as aves, anunciando o grande banquete que havia por lá, levando também a elas um pouco daquelas larvas, seu alimento preferido, para convencê-las. E tudo ocorreu conforme Kuát e Iaê haviam previsto.

Ao notarem a chegada de Urubutsim, os irmãos agarraram-no pelos pés e o prenderam, exigindo que este lhes entregasse o dia em troca de sua liberdade. O prisioneiro resistiu por muito tempo, mas acabou cedendo. Solicitou então ao amigo Jacu que este se enfeitasse com penas de araras vermelhas, canitar e brincos, voasse à aldeia dos pássaros e trouxesse o que os irmãos queriam. Pouco tempo depois, descia o Jacu com o dia, deixando atrás de si um magnífico rastro de luz, que aos poucos tudo iluminou. O chefe dos pássaros foi libertado e desde então, pela manhã, surge radiante o dia e à tarde vai se esvaindo, até o anoitecer.

Iamulumulu - A formação dos rios

Savuru era um espírito que possuía duas esposas. A pedido dos irmãos Sol e Lua, que as cobiçavam, as ariranhas o mataram, ficando sua esposa mais velha com o sol e a outra com a lua. Seguiram então os casais em direção à aldeia de Kanutsipei. Durante o caminho, os irmãos encontraram dificuldades e necessitaram da ajuda de outros espíritos: Iumulumulu lhes curou a impotência, Ierêp fez com que neles nascesse o ciúme das esposas e, uma vez cansados, pediram a Uiaó algo que os fizessem adormecer. No dia seguinte, dispostos, retomaram a caminhada. Chegando ao local pretendido, estavam sedentos e pediram água a Kanutsipei.

A água, porém, estava suja. O irmão Lua, tomando a forma de um beija-flor, voou rapidamente à procura de boa água. Ao voltar contou-lhes que o espírito os enganara, mantendo escondidos muitos potes com a mais pura água. Contrariados, os casais retornaram a sua aldeia, contando a todos o que ocorrera. O Sol e a Lua uniram-se a vários espíritos, Vanivani, Iananá, Kanaratê, os zunidores Hori-hori, invocando também os espíritos das águas que habitavam a copa do Jatobá. Chamaram ainda as máscaras Jakui-katu, Mearatsim, Ivat, Jakuiaép e Tauari. Reunidos, dançaram e resolveram voltar à aldeia de Kanutsipei para tomarem posse de sua água, quebrando todos os potes, conduzindo-a a outras regiões. Mearatsim, o primeiro a chegar, cantou para espantar o dono do local.

Chegaram então os outros espíritos, à medida que os potes foram quebrados, formou-se ali uma grande lagoa, de onde cada um dos espíritos criou um rio. Assim, o Sol criou o Rio Ronuro; Vani-vani formou o Rio Maritsauá; Kanaratê, o Paranajuva; Tracajá, o Kuluene e Iananá, um afluente do Ronuro. A formação dos rios não agradou ao Sol, pois todos corriam para o Morena, a região sagrada dos espíritos. Iniciou-se ali uma grande confusão, em meio à qual a Lua foi engolida por um grande peixe. O Sol, desesperado, saiu à procura do irmão, no ventre dos peixes que encontrava. Chegou a capturar o Tucunaré, o Matrinxã, o Pirarara e a Piranha. Mas havia sido o Jacunaum que a engolira, informou o Acará. E ambos, unidos, partiram à caça do peixe.

Pediram a Tapera (andorinha do campo) que lhes conseguisse um grande anzol, ocultando-o num charuto. O Acará nadou à procura de Jacunaum, oferecendo-lhe fumo. Desta maneira, o Sol conseguiu fisgá-lo. Entretanto, dentro do peixe, restavam apenas os ossos de seu irmão. Desejando ardentemente que a Lua revivesse, o Sol arrumou no chão seu esqueleto, cobrindo-o com as folhas perfumadas do Enemeóp. Aos poucos, como por encanto, a carne foi surgindo, revestindo os ossos até formar um novo corpo. Faltava-lhe ainda a vida. O Sol então introduziu um mosquitinho em sua narina, provocando-lhe um espirro, que a fez finalmente despertar. Assim foram criados os rios e, a partir daí, iniciou-se a prática da pajelança, tendo sido o Sol o primeiro pajé.
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Fonte:
PINTO, Wilson. As Mais Belas Lendas Brasileiras. Santa Catarina: Excelsus.
http://www.desvendar.com/especiais/indio/lendas.asp

Folclore Indígena (Origem da Música)

No começo, nada existia sobre o mundo terrestre, que produzisse a doce melodia ou suave harmonia. Ninguém celebrava com alegres vozes os feitos mortais, ou tocava qualquer instrumento musical. A melodiosa arte e a divina ciência na combinação de sons, era desconhecida, nenhum conjunto de orquestra havia sido organizado. Homem algum exercia a sacra arte da música e não compunha nem executavam peças musicais.

Um dia, o imortal Anhum, deus do canto e neto de Tupã, o Criador, desceu dos céus e veio passear no lendário Eldorado, as margens do rio Araguaia, em companhia da deusa Solfa, sua noiva e ao entardecer, o deus ficou muito triste, porque a vida dos homens era envolvida em um tenebroso silêncio.

O próprio deus Polo passava sem ruído e Tainacam vivia sem brilho. No alto do monte sagrado, as reuniões dos divinos eram realizadas em grande quietude e as canoras aves, pouco soltavam os seus límpidos gorjeios.

Então, Anhum, desejando manifestar os diversos afetos de sua alma à amada e divina Solfa, convocou no Ibiapaba os deuses, os semi-deuses, os homens e depois de muito discutirem, resolveram sob a orientação do deus melódico, erigir a Tupã, três altares de pedra e celebrar suave dança.

Feito isso, Anhum chamou a semi-deusa Araci, em primeiro lugar, e ela desenhou na madeira uma pauta composta de cinco linhas e quatro espaços, e além destas, outras linhas e outros espaços, pondo o nome nas primeiras, de naturais e nas segundas, de suplementares superiores e inferiores.

Em segundo lugar, convocou Vapuaçú deus dos sonhos amenos e das suaves ilusões, que crioo as sete claves, representadas por três interessantes figuras às quais deu os nomes de Sol, Fá e de Dó.

Em terceiro lugar, chamou Abeguar que rapidamente colocou sobre as linhas, sete pontos que foram chamados notas. Determinou que cada clave daria seu nome à nota que fosse assinada sobre a mesma linha e conseqüentemente, determinaria os nomes de todas as demais notas que estivesses na outras linhas e espaços. Finalmente o próprio Anhum deu nome às notas que subindo são: dó, ré, mi, fá, sol, lá, si.

E descendo são: si, lá, sol, fá, mi, ré dó.

Depois Manati formou a primeira Harmonia, aplaudido por todos.

Em seguida, o poderoso Guarací, executou o primeiro ritmo cadente e a primeira canção.

Tujubá, o poderoso mortal apresentou os primeiros acidentes, Sustenidos e Bemóis; formou as escalas; e criou os tons, os semi-tons e os intervalos. Solfã criou o primeiro cântico divino. Saci pintou as notas de preto e deu valor à cada uma.

Quando tudo estava concluído, Tupã ficou muito satisfeito e abençoou a música que tornou-se divina.

O povo unindo suas vozes aos imortais, louvou o amorável Zéfiro, a fresca aragem e terminada a curta e bela oração que Tujubá ofereceu a Tupã, os deuses, tendo à frente o divino Inochiue (deus protetor das virgens), regressaram aos céus e nas verdejantes campinas que circundavam o Eldorado, Anhum e Solfá, louvaram em um grande e solene canto, "O sagrado Tupã e sua poderosa filha Caupé".

E foi assim minha gente....que nasceu e estendeu-se por toda esta imensa e bela pátria, a mais bela de todas as artes: a MÚSICA.

Fonte:
http://www.rosanevolpatto.trd.br/Deuses%20Musica.html

Carlos Drummond de Andrade (A de Sempre)

— Até beber cerveja ficou difícil — queixa-se.
— O preço?
— Não. A variedade. O embaras du choix.
— Mas se você já estava acostumado com uma...
— E as novas que aparecem? Em cada Estado surge uma fábrica, se não surgem duas. Cada qual oferecendo diversas qualidades. Você senta no bar de sua eleição, um velho bar onde até as cadeiras conhecem o seu corpo, a sua maneira de sentar e de beber. Pede uma cervejinha, simplesmente. Não precisa dizer o nome. Aquela que há anos o garçom lhe traz sem necessidade de perguntar, pois há anos você optou por uma das duas marcas tradicionais, e daí não sai. Bem, você pede a cervejinha inominada, e o garçom não se mexe. Fica olhando pra sua cara, à espera de definição. Você olha para cara dele, como quem diz: Quê que há, rapaz? Então ele emite um som: Qual? Você pensa que não ouviu direito, franze a testa, num esforço de captação: qual o quê? Qual a marca, doutor? Temos essa, aquela, aquela outra, mais outra, e outra, e outras mais. . Desfia o rosário, e você de boca aberta: Como? Ele está pensando que eu vou beber elas todas? Acha que sou principiante em busca de aventura? Quer me gozar? Nada disso. O garçom explica, meio encabulado, que a casa dispõe de 12 marcas de cerveja nacional, fora as estrangeiras, sofisticadas, e ele tem ordem de cantar os nomes pra freguesia. Até pra mim, Leovigil? pergunto. Bem, o patrão disse que eu tenho de oferecer as marcas pra todo mundo, as novas cervejas têm de ser promovidas. Não mandou abrir exceção pra ninguém, eu é que, em atenção ao doutor, fiquei calado, esperando a dica... Não quis forçar a barra, desculpe.
— E aí?
— Aí eu disse que não havia o que desculpar, ordens são ordens e eu não sou de infringir regulamentos. Os regulamentos é que infringem a minha paz, freqüentemente. Mas para não dar o braço a torcer, nem me declarar vencido pela competição das cervejas, concluí: Leovigil, traga a de sempre.
— Não quis dizer o nome?
— Não. Minha marca de cerveja — "minha garrafa", digamos assim, pois a individualidade começa pela garrafa — passou a chamar-se "a de sempre". Não gosto de mudar as estruturas sem justa causa, nem me interessa dançar de provador de cerveja, entende?
— Mas que custa experimentar, homem de Deus?
— Só por experimentar, acho frívolo. Os moços, sim, não encontraram ainda sua definição, em matéria de cerveja e de entendimento do mundo. Saltam de uma para outra fruição, tomam pileques de ideologias coloridas, do vermelho ao negro, passando pelo róseo, pelo alaranjado e pelo furta-cor. Mas depois de certa idade, e de certa experiência de bebedor, você já sabe o que quer, ou antes, o que não quer. Principalmente o que não quer. E é isso que os outros querem que você queira. Tá compreendendo?
— Mais ou menos.
— Na verdade, não há muitas espécies de cerveja, no mundo das idéias. Mas os rótulos perturbam. Uns aparecem com mulher nua, insinuando que o gosto é mais capitoso. Bem, até agora não vi rótulo de cerveja mostrando mulher com tudo de fora, mas deve haver. Mulher se oferecendo está em tudo que é produto industrial, por que não estaria nos sistemas de organização social, como bonificação?
— Você está divagando.
— Estou. Divagar é uma forma de transformar pensamentos em nuvem ou em fumaça de cigarro, fazendo com que eles circulem por aí.
— Ou se percam.
— E se percam. Exatamente. 0 importante não é beber cerveja, é ter a ilusão de que nossa cerveja é a única que presta.

Sujeito mais conservador! Ou sábio, quem sabe?

Fonte:
ANDRADE, Carlos Drummond de. De notícias & não notícias faz-se a crônica. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974. Disponível em http://www.releituras.com/drummond_adesempre.asp

Charles Baudelaire (1821 – 1867)

Charles Baudelaire é considerado freqüentemente um dos maiores poetas do Século XIX, influenciando a poesia internacional de tendência simbolista. De seu estilo de vida originaram-se na França os chamados poetas "malditos". Um revolucionário em seu próprio tempo. Hoje ele ainda é conhecido, não somente como poeta, mas também como crítico literário. Raramente houve alguém tão radical e ao mesmo tempo tão brilhante. Mal compreendida por seus contemporâneos, apesar de elogiada por Victor Hugo, Teóphile Gautier, Gustave Flaubert e Théodore de Banville, a poesia de Baudelaire está marcada pela contradição. Revela, de um lado, o herdeiro do romantismo negro de Edgar Allan Poe e Gérard de Nerval, e de outro o poeta crítico que se opôs aos excessos sentimentais e retóricos do romantismo francês.

Poeta e crítico francês, Charles-Pierre Baudelaire nasceu em Paris em 9 de abril de 1821, na Rua Hautefeuille, nº 13 (casa já demolida; localização atual da Livraria Hachette, Boulev. St. Germain).

Joseph-François, o pai de Baudelaire, morreu em fevereiro no ano de 1827, quando Charles-Pierre tinha somente seis anos de idade. Após a morte do seu pai, Baudelaire foi criado por sua mãe e por sua enfermeira, Mariette. Sua mãe, porém, casou-se novamente em novembro de 1828. O padrasto de Baudelaire, Jacques Aupick, era um homem brilhante e auto-disciplinado. Distinguiu-se mais tarde como general e depois como embaixador e senador. Baudelaire, entretanto, não gostava de seu padrasto.

Em 1833, Aupick mudou-se com a família para Lyons, onde matriculou Charles Baudelaire em uma escola militar. A disciplina dura e o estudo rigoroso da escola tiveram uma influência profunda em Baudelaire e aumentaram seu desagrado para com seu padrasto. Na idade de quinze anos, Baudelaire foi matriculado em Louis-le-Grande, uma notória escola secundária francesa. Lá ele tornou-se cada vez mais insolente até, finalmente, ser expulso em 1839. Logo depois, declarou que pretendia tornar-se um escritor, para o grande desapontamento dos seus pais. Para evitar maiores problemas, entretanto, concordou em seguir estudos no Ecole de Droit, a escola de Direito de Paris. Mas seus interesses estavam dirigidos para qualquer coisa, menos o estudo. Em Paris, vai então morar em Lévêque Bailly, uma famosa pensão para estudantes onde conheceu diversos amigos boêmios, entre os quais os poetas Gustave Vavasseur e Enerts Prarond. Passa a viver um relacionamento amoroso com Sarah, uma prostituta de origem judia que era mais conhecida como Louchette. Em Bailly levava um estilo de vida excessivo, endividando-se cada vez mais. Durante esse tempo contraiu também sífilis, muito provavelmente nos prostíbulos que costumava freqüentar.

Procurando afastá-lo dessa vida boêmia, os pais de Baudelaire enviaram-no para fazer uma viagem pela África, seguindo primeiramente para ilha Maurício, em seguida na Ilha da Reunião e depois para a Índia. Saiu de Paris em junho de 1841 no navio, Des Mers du Sud de Paquebot, sob a supervisão do capitão Saliz. Durante todo o trajeto, Baudelaire permaneceu mal humorado e expressou seu desagrado em relação à viagem. Alguns meses após sua partida, o navio encontrou uma tempestade violenta e foi forçado a parar em um estaleiro para reparos. Lá Baudelaire anunciou sua intenção de retornar à França, apesar dos esforços do capitão Saliz em fazê-lo mudar de idéia. Acabou concordando em continuar a viagem. Apesar de seu desagrado quanto à viagem, é inegável que esta teve uma influência profunda em suas obras. Deu-lhe uma visão de mundo que poucos de seus contemporâneos tiveram.

Depois de seu retorno a Paris, Baudelaire recebeu uma herança de 100.000 francos deixada pelo seu pai. Com esta fortuna, mudou-se para um apartamento na ilha de Saint-Louis, onde freqüentou as galerias de arte e gastou horas com leituras e passeios. Por causa de seu comportamento excêntrico e roupas extravagantes, Baudelaire ganhou a reputação de dandy.

Em 1842 conhece Jeanne Duval, uma atriz do Quartier Latin de Paris. Jeanne era figurante no teatro da Porte Saint Antoine, entretanto sua maior ocupação era mesmo a prostituição. Como amante de Baudelaire, teve grande influência em muitas de suas obras. Sua beleza morena era a inspiração de diversos de seus poemas. A mãe de Baudelaire, entretanto, era totalmente indiferente a ela, chamava-a depreciativamente de "Vênus negra" por Jeanne ser mestiça. Em 1847, Baudelaire encontrou-se com Marie Daubrun, uma jovem atriz que foi sua amante entre 1855 e 1860, até que esta morreu doente. Em 1852, conhece Apollonie Sabatier, animadora de um salão literário muito badalado que era o ponto de encontro habitual para jantares com artistas e escritores famosos.

Baudelaire e Sabatier vivem um caso amoroso e ele escreveu-lhe muitos poemas que expressavam sua gratidão, porém depois que a paixão arrefece, passa a ter com ela apenas um relacionamento formal. Em 1854, já pensava em voltar para Duval ou Daubrun. A influência destas três mulheres em Baudelaire como escritor é muito evidente em seus poemas de amor e erotismo. Nessa época faz amizades com diversos escritores da época como Nerval, Balzac, Gautier e Banville e passa a freqüentar o famoso "Club dês Hashishins", um grupo de fumantes de haxixe que se reunia no Hotel Pimodan, onde passa a morar.

Em apenas dois anos esbanjou quase a metade de sua fortuna, e seus pais começaram a se preocupar com suas despesas excessivas. Colocaram-no então sob a guarda legal de um tutor, o escolhido foi Narcisse-Desejam Ancelle, um ato que Baudelaire considerou especialmente humilhante. Teve muitos débitos e foi forçado ainda a viver com uma renda muito abaixo do que estava habituado, sendo obrigado a viver dessa forma pelo resto de sua vida.

Enquanto o tempo passava, Baudelaire tornava-se cada vez mais desesperado. Em 1845 tentou o suicídio, embora tenha agido assim mais para chamar a atenção de sua mãe e de seu padrasto. Estes consultaram-no sobre a possibilidade dele voltar a viver com eles em Paris, entretanto Baudelaire preferiu continuar a viver longe dos pais. Em 1847 publicou Fanfarlo uma obra autobiográfica. Envolveu-se na revolta de 1848 em que teve um papel relativamente pequeno, ajudando na publicação de alguns jornais radicais de protesto.

Em 1852, Baudelaire publicou seu primeiro ensaio sobre o escritor norte americano Edgar Allan Poe. Tinha conhecido a obra de Poe em 1847, e começou a traduzi-la para o francês mais tarde. Foi influenciado extremamente pelas obras de Poe, e incorporou muitas de suas idéias em seu próprio trabalho. Publicou cinco volumes de traduções de Poe entre 1856 e 1865. Os ensaios introdutórios a estes livros são considerados seus estudos críticos mais importantes, destacando-se, sobretudo, o trabalho intitulado “O princípio poético” (1876).

Em 1857, a primeira edição de Les Fleurs du mal foi publicada por Poulet-Malassis um velho amigo de Baudelaire. A obra não foi bem aceita pelo público devido a seu foco em temas satânicos e lesbianismo. Menos de um mês depois que o livro foi posto à venda, o jornal Le Figaro publicou uma crítica mordaz que teve efeitos devastadores na carreira de Baudelaire. Ele e seu publicador foram ambos acusados de ultraje à moral e aos bons costumes. Foi multado em 300 francos, e seu publicador foi multado em 200 francos. Além disso, seis dos poemas no livro foram proibidos porque foram considerados muito imorais para serem publicados. Só a partir de 1911 apareceram edições completas da obra.

Tal desapontamento, mais a morte de seu padrasto no mesmo ano, lançou Baudelaire no mais profundo pessimismo e depressão. Em 1859, muda-se com a mão para Paris onde passa a viver com ela. Lá escreveu o terceiro Salão (1859), um livro de crítica artística que discute os trabalhos de vários artistas. Baudelaire destacou-se desde cedo como crítico de arte. O Salão (1845) e o Salão de 1846 (Salão de 1846) datam do início de sua carreira. Seus escritos posteriores foram reunidos em dois volumes póstumos, com os títulos de A Arte Romântica (1868) e Curiosidades estéticas (1868). Revelam a preocupação de Baudelaire de procurar uma razão determinante para a obra de arte e fundamentam assim um ideário estético coerente, embora fragmentário, e aberto às novas concepções.

Compôs também mais poemas para a segunda edição de As Flores do Mal, incluindo "A Viagem", que é considerado um de seus mais belos poemas.

Em 1860, publicou Paraísos Artificiais, ópio e haxixe , uma obra ao mesmo tempo especulativa e confessional, que trata sobre plantas alucinógenas, parcialmente inspirado no Confissões de um comedor de ópio (1822) de Thomas De Quincey. Durante toda sua vida, tinha recorrido freqüentemente às drogas a fim de estimular a inspiração, mas viu também o perigo de tal hábito. Concluiu que havia alguma espécie de "gênio mal" que explicaria a inclinação do homem para cometer certos atos e pensamentos repentinos. Este conceito das forças do mal que cercam a humanidade reapareceu em diversos outros trabalhos de Baudelaire.

A segunda edição de As Flores do Mal apareceu em 1861, com trinta e cinco poemas novos. Em poucos meses seguintes, a vida de Baudelaire foi marcada por uma série de desapontamentos. Foi desanimado por seus amigos de se candidatar a uma vaga na Academia Francesa de Letra, que esperava que pudesse ajudar a alavancar sua carreira de escritor. Devido a sua crise financeira, era incapaz de ajudar o seu publicador Poulet-Malassis, que acabou preso por não pagar as dívidas. Além disto, descobriu que sua amante Jeanne Duval tinha vivido por diversos meses com um outro amante de quem ela havia dito a Baudelaire ser apenas seu irmão. Em 1862 começou primeiramente a se queixar de dores de cabeça, náuseas, vertigens e pesadelos. Todos estes eventos devastadores, junto com seus problemas de saúde em decorrência da sífilis que contraiu na juventude, causaram a Baudelaire à sensação de que estaria enlouquecendo.

Em abril de 1863, Baudelaire saiu de Paris e foi para Bruxelas na esperança de encontrar um publicador para suas obras. Lá sua saúde piorou consideravelmente e em 1865 sofreu um ataque de apoplexia. Continuou a sofrer uma série de ataques, um destes teve como resultado afasia e uma paralisia parcial. Após permanecer em uma casa de repouso por dois meses, retornou a Paris no dia 02 de julho. No dia 31 de agosto de 1867, morreu de paralisia geral nos braços da sua mãe.

OBRAS
• O spleen de Paris
• Obras estéticas
• Paraísos Artificiais
• Sobre a modernidade
• As flores do mal
• Escritos sobre arte
• A Fanfarlo
• Pequenos poemas em prosa
• Richard Wagner e Tannhauser em Paris

Fonte:
Beatriix Algarve.
http://www.beatrix.pro.br/literatura/baudelaire.htm

Charles Baudelaire (Poesias Avulsas)

Dedico este poema a mim mesmo

Quando fores dormir, ó bela tenebrosa,
Em teu negro e marmóreo mausoléu, e não
Tiveres por alcova e refúgio senão
Uma cova deserta e uma tumba chuvosa;

Quando a pedra, a oprimir tua carne medrosa
E teus flancos sensuais de lânguida exaustão,
Impedir de querer e arfar teu coração,
E teus pés de correr por trilha aventurosa,

O túmulo, no qual em sonho me abandono
— Porque o túmulo há sempre de entender o poeta —,
Nessas noites sem fim em que nos foge o sono,

Dir-te-á: “De que valeu cortesã indiscreta,
Ao pé dos mortos ignorar o seu lamento?”
— E o verme te roerá como um remorso lento.

O Possesso

Cobriu-se o sol de negro véu. Como ele, ó Lua
De minha vida, veste o luto de agonia;
Dorme ou fuma a vontade; sê muda e sombria,
E no abismo do Tédio esplêndida flutua;

Eu te amo assim! Se agora queres, todavia,
Como um astro a emergir da penumbra que o acua,
Pavonear-te no palco onde a Loucura atua,
Pois bem! Punhal sutil em teu estojo esfria!

Acende essa pupila no halo dos clarões!
Acende a cupidez no olhar dos grosseirões!
Em ti tudo é prazer, morboso ou petulante;

Seja o que for, escura noite ou rubra aurora;
Uma por uma, as fibras do meu corpo arfante
Gritam: Ó Belzebu, meu coração te adora!

Destruição

Sem cessar a meu lado o Demônio se agita,
E nada ao meu redor como um ar impalpável;
Eu o levo aos meus pulmões, onde ele arde e crepita,
Inflando-os de um desejo eterno e condenável.

Às vezes, ao saber do amor que a arte me inspira,
Assume a forma da mulher que eu vejo em sonhos,
E, qual tartufo afeito às tramas da mentira,
Acostuma-me a boca aos seus filtros medonhos.

Ele assim me conduz, alquebrado e ofegante,
Já aos olhos de Deus afinal tão distante,
Às planícies do Tédio, infindas e desertas,

E lança-me ao olhar imerso em confusão
Trajes imundos e feridas entreabertas
— O aparato sangrento e atroz da Destruição!

O Fim da Jornada

Sob uma luz trêmula e baça,
Se agita, brinca e dança ao léu
A Vida, ululante e devassa.
Assim também, quando no céu

A noite voluptuosa sonha,
Tudo acalmando, mesmo a fome,
Tudo apagando, até a vergonha,
Diz o Poeta que a dor consome:

“Afinal, minha alma e meus ossos
Finalmente imploram por sossego;
O coração feito em destroços,

Procuro em meu leito aconchego
E às vossas cortinas me apego,
Ó treva oferta aos corpos nossos”

Tristezas da Lua

Divaga em meio à noite a lua preguiçosa;
Como uma bela, entre coxins e devaneios,
Que afaga com a mão discreta e vaporosa,
Antes de adormecer, o contorno dos seios.

No dorso de cetim das tenras avalanchas,
Morrendo, ela se entrega a longos estertores,
E os olhos vai pousando sobre as níveas manchas
Que no azul desabrocham como estranhas flores.

Se às vezes neste globo, ébria de ócio e prazer,
Deixa ela uma furtiva lágrima escorrer
Um poeta caridoso, ao sono pouco afeito,

No côncavo das mãos torna essa gota rala,
De irisados reflexos como um grão de opala,
E bem longe do sol a acolhe no peito.

A Alma do Outro Mundo

Como os anjos de ruivo olhar,
À tua alcova hei de voltar
E junto a ti, silente vulto,
Deslizarei na sombra oculto;

Dar-te-ei na pele escura e nua
Beijos mais frios que a lua
E qual serpente em náusea fossa
Te afagarei o quanto possa.

Ao despontar o dia incerto,
O meu lugar verás deserto,
E em tudo o frio há de se pôr.

Como os demais pela virtude,
Em tua vida e juventude
Quero reinar pelo pavor.

O Amor À Mentira

Quando te vejo andar, minha bela indolente,
Em meio aos sons da orquestra que se perdem no ar,
Movendo os passos harmoniosa e lentamente,
E passeando esse tédio de teu fundo olhar;

Quando contemplo, sob a luz do gás que a cora,
Tua pálida fronte em mórbido recato,
Onde as flamas da noite acendem uma aurora,
Ou teus olhos iguais aos olhos de um retrato,

Digo-me: Como é bela! E que frescor tão puro!
O diadema maciço, halo de áureo esplendor,
E o coração, tal como um pêssego maduro,
Impõe, como seu corpo, a sabia arte do amor.

És o fruto do outono entre dentes vorazes?
És urna fúnebre a implorar prantos e dores,
Perfume que nos faz sonhar longínquos oásis,
Almofada sensual ou corbelha de flores?

Eu sei que há olhos cheios de melancolia,
Que nada escondem por debaixo de seus véus;
Belos escrínios, mas sem jóias de valia,
Mais fundos e vazios do que vós, ó Céus!

Mas basta seres esta dádiva aparente
Para alegrar quem vive apenas na incerteza.
Que me importa se és tola ou se és indiferente?
Máscara, ornato, salve! Amo a tua beleza!
Fonte:
Biblioteca Eletrônica. vol. III. Magister (CD-ROM).

terça-feira, 17 de junho de 2008

Isabel Galucho (Fotonovela)

Considerada um subgênero da literatura, a fotonovela é uma narrativa mais ou menos longa que conjuga texto verbal e fotografia. A história é narrada numa seqüência de quadradinhos (como a banda desenhada) e a cada quadradinho corresponde uma fotografia acompanhada por uma mensagem textual.

A fotonovela teve início na década de 40 em Itália e a sua origem foi motivada pela crescente popularização do cinema e a fama dos atores. A estabilização e o aperfeiçoamento técnico da fotografia, o acesso mais ou menos difícil de um público geral ao cinema e a inexistência ou limitada difusão da televisão são também fatores importantes para o surgimento e sucesso da fotonovela . O neo-realismo em voga na Itália determinou as descrições quotidianas e a temática urbana e realista presente nas fotonovelas. Os iniciadores da fotonovela em Itália foram Stefano Reda e Damiano Damiani que começaram por publicar em revistas adaptações de filmes de sucesso (o chamado cine-romance que adaptou obras como O Conde de Monte Cristo, O Monte dos Vendavais, Ana Karennina, e A Dama das Camélias). Essas primeiras fotonovelas eram protagonizadas por atores populares e as revistas tentavam realçar um determinado tipo de imagem do ator em questão.

Mais tarde a fotonovela torna-se independente do cinema e caracteriza-se pelas suas intrigas sentimentais (a heroína é quase sempre uma rapariga de origem modesta que sonha com um amor cheio de obstáculos e dificuldades mas no final consegue o seu objetivo), as personagens não demonstram um grande desenvolvimento psicológico e são sempre estereotipadas (os bons são sempre bons e os maus arrependem-se no final ou sofrem as conseqüências), predomina o imaginário exótico, e, mais tarde o “suspense” e o sexo, os temas variam entre problemas afetivos, sociais, a procura de sucesso numa carreira, a justiça na sociedade, a ascenção social, a marginalidade, etc.

O público da fotonovela é um público maioritariamente feminino e culturalmente pouco exigente, com pouca formação e com um baixo poder econômico. As revistas de fotonovela têm como finalidade a transmissão dos princípios éticos, morais e sociais concordantes com o sistema de valores da ideologia dominante através da integração da mulher na sociedade urbana.

Em França a primeira fotonovela data de 1949 e a sua expansão para Luxemburgo e Bélgica acontece logo depois. Em Espanha, a fotonovela surge nos finais dos anos 60 e conta com um público bastante extenso. Mais tarde a fotonovela chega à América latina e África do norte (a maior parte das revistas são traduções dos originais italianos). A fotonovela é um fenômeno que não tem ocorrência no mundo anglo-saxónico. É um produto de literatura de massas tipicamente latino.

A articulação narrativa da fotonovela é semelhante à da banda desenhada: um fotograma que apresenta um plano da ação acompanhado do texto verbal que reproduz o discurso das personagens, funcionando também como legenda ou resumo. O encadeamento da ação é lógico e cronológico, utilizando-se muitas vezes o recurso à elipse. A ação é, muitas das vezes, arrastada ao longo de vários números de uma revista o que aproxima a fotonovela do romance-folhetim do séc. XIX e do folhetim radiofônico. O narrador desempenha um papel importante na fotonovela uma vez que, para além de elucidar o leitor sobre a ação, enuncia também juízos de valor, ilações de teor moral, justificações sobre o comportamento das personagens e controla a ação, retardando-a e alongando-a. A linguagem utilizada nas fotonovelas é, normalmente redundante e expositiva para evitar a possibilidade de dúvidas ou conflito. Relativamente à fotografia nem sempre as fotonovelas possuem grande qualidade uma vez que a preocupação do consumo rápido e imediato das revistas e a preocupação do lucro fácil sobrepõem-se a uma maior noção artística. Os planos e os enquadramentos utilizados nas fotografias são quase sempre retirados do cinema.

Fonte:
http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/F/fotonovela.htm
http://diasquevoam.blogspot.com/ (imagem)

4º Concurso Literário de Suzano – Edição Nacional


ASSOCIAÇÃO CULTURAL LITERATURA NO BRASIL
PREFEITURA DE SUZANO
SECRETARIA DE CULTURA
COORDENADORIA LITERÁRIA

Categorias:
1ªConto • 2ª Poesia

R e g u l a m e n to

Participação
1- Aberto de 4 de abril á 24 de junho de 2008 á todos os residentes do território nacional. O tema é livre e os trabalhos deverão ser inéditos e redigidos em Língua Portuguesa. Não há limite de idade. Menores de 18 anos deverão trazer ou enviar autorização assinada pelos pais ou responsável.

Inscrições e envios

2- A inscrição é gratuita. Serão aceitas até 2 (duas) obras por inscrito, sendo que o participante poderá efetuar a inscrição em apenas uma categoria do concurso.

3- O limite de páginas para a categoria Conto não deve ser superior a 5 (cinco) e para a categoria Poesia não deve ser superior a 2 (duas). Nas duas categorias, a apresentação dos trabalhos deverá ser feita em 04 (quatro) vias, em folha sulfite A4, numerada, digitado em uma só face do papel, em fonte Times New Roman, letra 12 (doze) e espaçamento de 1,5. No final de cada trabalho deve constar o pseudônimo do autor. Os textos que tiverem mais de uma página deverão ser grampeados.

4- Os trabalhos terão de ser acondicionados em um envelope grande padrão, (tamanho 33x23), tendo dentro desse um outro envelope menor e lacrado, (tamanho 25x19), contendo os dados do poeta ou escritor: nome e endereço completos (inclusive CEP), bem como o número telefônico para contato, celular e e-mail (caso possua-os), pseudônimo adotado, título dos trabalhos, breve currículo literário e pessoal, além do comprovante de residência. Os trabalhos deverão ser acompanhados de um cd ou disquete onde contenham os textos e o breve currículo literário digitados. Na parte externa do envelope menor lacrado, apenas o pseudônimo e os títulos dos trabalhos. Na parte externa do envelope maior, usar o pseudônimo adotado e o nome 4º Concurso Literário de Suzano. Especificar na parte externa dos dois envelopes a categoria que está participando e o âmbito: Regional ou Nacional.

Regional refere-se aos residentes nos municípios do Alto Tietê: Arujá, Biritiba Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Poá, Salesópolis, Santa Isabel e Suzano.

5- Os trabalhos deverão ser entregues na: "Secretaria Municipal de Cultura", aos cuidados da Coordenadoria Literária, ou enviados para Rua Benjamin Constant, 682 – Centro - Suzano - SP - CEP: 08674-010

6- Apenas serão aceitos os trabalhos entregues até o dia 24 de junho do ano de 2008. Os trabalhos enviados após esta data ou que não tiverem de acordo com o regulamento, não serão considerados participantes e como os demais, não serão devolvidos. Para os trabalhos enviados pelo correio valerá a data de postagem. A Secretaria de Cultura de Suzano não se responsabiliza por possíveis extravios que possam ocorrer com os trabalhos enviados pelo correio. Os trabalhos entregues pessoalmente receberão protocolo de entrega.

Direitos autorais

7- Os participantes deste concurso concordam automaticamente em ceder os direitos para eventual uso das obras pela Secretaria de Cultura de Suzano, no período de 3 (três) anos. Será preservada a menção de crédito, de acordo com a legislação que trata, especificamente de direitos autorais no país.

Comissão julgadora

8- O julgamento dos trabalhos será da inteira competência de uma comissão julgadora, formada por escritores e professores com conhecimentos literários que os tornam amplamente aptos a julgar e classificar os textos. A decisão dos jurados é irrecorrível.

Critérios de avaliação:
a) Criatividade
b) Literariedade
c) Conteúdo

9- O resultado deste concurso será divulgado a todos os participantes no Pavio da Cultura (Sarau) – Sessão Solene, dia 9 (nove) de agosto de 2008, no Centro Cultural Francisco Carlos Moriconi, Rua Benjamin Constant, 682, Centro, Suzano, SP. O resultado somente estará disponível para consulta na internet a partir do dia 12 de agosto.

Só serão divulgados os dez primeiros ganhadores de cada categoria.

Premiação

10- A premiação, válida para as duas categorias deste concurso, será:

1º Lugar regional conto: R$ 900,00 (novecentos reais)
1º Lugar regional poesia: R$ 900,00 (novecentos reais)
1º Lugar nacional conto: R$ 900,00 (novecentos reais)
1º Lugar nacional poesia: R$ 900,00 (novecentos reais)

11- Os 10 (dez) primeiros classificados de cada categoria participarão da revista "Trajetória Literária nº 04" que será lançada no dia 16 de dezembro de 2008. Cada 1 (um) dos 10 (dez) classificados em cada categoria receberá 20 (vinte) exemplares da revista.

12- Os casos não previstos neste regulamento serão resolvidos pela comissão organizadora deste concurso.

13- O ato da inscrição neste concurso, implica na aceitação plena dos termos acima.

Obs: Não deixe para fazer sua inscrição nos últimos dias!

Cronograma do concurso:

- Inscrições: de 04 de abril à 24 de junho (através do regulamento e entrega no local das inscrições pessoalmente ou pelo correio)
- Resultado: 09 de agosto (Centro Cultural de Suzano)
- Resultado na internet: 12 de agosto (Site da Prefeitura de Suzano e no blog da Associação Cultural Literatura no Brasil)
- Lançamento da revista Trajetória Literária n° 4: 16 de dezembro

Informações:
(11) 4747-4180

cultura@suzano.sp.gov.br

Fonte:
Colaboração de Douglas Lara

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Vasco José Taborda (1909 - 1997)

Vasco José Taborda Ribas nasceu no dia 18 de setembro de 1909, na cidade de Curitiba, PR, filho de Joaquim Ignácio Brasil Taborda e Da. Magdalena Lycia Taborda Ribas.

Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Paraná (Doutor em Leis), bibliotecário do Instituto Neopitagórico, promotor da Justiça Militar, secretário geral do Tribunal de Contas do Paraná, diretor de diversos jornais e revistas, diretor do Departamento de Serviço Social do Paraná, professor do Colégio Estadual do Paraná, procurador-adjunto do Tribunal de Contas do Paraná.

Cidadão benemérito do Estado do Paraná, por lei lhe outorgada em 1969.

Membro das Academias:
Academia de Letras José de Alencar,
Academia Paranaense de Letras,
Círculo de Estudos Bandeirantes,
Centro de Letras do Paraná,
Associação dos Homens de Letras do Brasil,
Instituto de Cultura Americana,
Confraternité Universelle Balzacienne (Montevidéu),
IHG de Sergipe,
PEN Clube do Brasil

Prêmios
Medalha de Ouro da Biblioteca Paternórea (Itália),
Medalha Silver Star and Silver Cross da American Internatinal Academy (USA),


Participou de diversos congressos, encontros, seminários e publicado vários livros de contos, poesia, pensamentos, biografias e ensaios em revistas e jornais, também publicou, na área do Folclore, Linguajar paranaense – Resenha (1975) e, de parceria com Alceu Maynard Araújo, Estórias e lendas de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Revisou mais de trezentos livros, inclusive dicionários didáticos. Fundou Sapés, O Furão e O Sapo (este, reeditado), jornais.
TROVAS DE VASCO

A saudade é punhal fino
que se crava na memória:
e que a gente cante o hino
de um amor em triste história!

Em amor muito cantado
não é de se acreditar,
por ele ser inventado
e difícil de durar.

Rosa vermelha, de encanto,
cujo viver é perfume,
sobre a lareira, no canto,
és figura e também lume.

Nada acaba, tudo passa,
se soubermos bem viver,
o mundo é ver uma taça
em que colhemos prazer.

Fontes:
- TABORDA, Vasco José e WOCZIKOSKY, Orlando (organizadores). Antologia de Trovadores do Paraná. Curitiba: Edição de O Formigueiro - Instituto Assistencial de Autores do Paraná.

- http://www.soutomaior.eti.br/mario/paginas/dicftz.htm

Wilson Bueno (Língua D’Antanho)

Durante generosa parte de sua longa e frutuosa vida, o professor Vasco Taborda Ribas (1909-1997), bem mais que o conhecido poeta de um tempo curitibano que o vento levou, foi o criador e permanente entusiasta da famosa Edições O Formigueiro.

Estreitamente ligada ao Centro de Letras do Paraná, outro dos grandes entusiasmos do velho mestre, a editorinha publicou mais de uma centena de poetas e ficcionistas paranaenses d’antanho. E não se deixe de anotar aqui que Vasco Taborda Ribas era, antes de tudo, um homem modesto. De uma modéstia lírica e elegantíssima.

Lembro dele instruído pela saudade do pivete atrevido que sempre fui. Pobre e atrevido, ou atrevido justamente por isso mesmo. A mim e a Luiz Manfredini que, aliás, atenção, senhores, tem na gaveta um inédito precioso, o romance Memória de neblina, Taborda Ribas nos orientou o mundo com desvelo. Naquela pré-história de nossa humanidade...

Mas não há nostalgia aqui; antes o gosto pela linguagem de outros tempos, uma marca da maioria dos textos publicados pela Edições O Formigueiro. Linguagem que o Tempo, implacável, pulverizou e que, vista desde a ótica de nossos internéticos dias, tem um efeito cômico e, alguma vez, devastador.

Pego, aqui e ali, em alguns autores que prefiro não citar, certas palavras ou expressões que se reafirmam a Língua como coisa movente e sempre nova, nos dão, também, sem dó, a medida de sua cruel fugacidade.

Por exemplo, galanteio era, ora direis!, “fazer pés-de-alferes” o que também é o mesmo que o nosso ainda vivo “arrastar as asas” para alguém. Cousa bem mais galinácea, convenhamos, que a finada expressão grafada pelo esquecido contista num dos livros da Formigueiro. “Malandrim” era sinônimo de “peralta” e “peralvilho” de um peralta ainda mais incorrigível.

Sumiram os “peraltas” e ainda mais os “peralvilhos”. Substituídos por “meliantes” (também em franco desuso...) ainda que inumeráveis, de Brasília às favelas do Complexo do Alemão, no Rio, de uma forma assim meio indiferençada, senão misturada de todo... Ausente daqui motejo ou debique.

Inteira colho uma frase, em outro autor editado pelo saudoso Vasco e até por ele prefaciado: “Com grave defluxo se acercou o astioso capa-goma, o trabuco ao peito do níveo carniceiro”. Quem for de entender, que entenda.

Língua luso-brasileira, ouro latim em pó, nem é preciso ir muito longe (né mesmo, Toninho Vaz?) pois quem diz hoje que está apaixonado por um broto legal? E se ele (ou ela) é jóia nada difere dos supimpas d’outrora, sécios pimpolhos...

Estava certo Vasco Taborda Ribas. O negócio era juntar tudo e todos em torno da Formigueiro. Sem importar se casquilhos, tetéias barbanhudos ou vates de cavanhaque. Ao final e ao cabo, acabamos todos, sem a nada assistir, no mesmo - vão - “cinematógrapho”, a sete palmos de fundura. Sem modernidades nem ademanes.

Fonte:
http://www.parana-online.com.br/noticias/ . Publicado em 13/04/2008.