terça-feira, 24 de junho de 2008

Orientações Metodológicas para o Estudo

HÁBITOS DE ESTUDO

É verdade que não aprendemos todos da mesma maneira, mas não é menos verdade que nem sempre a nossa forma de estudar é a mais adequada. O tempo dedicado ao estudo é importante, mas nem sempre o resultado é proporcional ao número de horas de trabalho. É que estudar muito não é o mesmo que estudar bem.

Para ser eficaz, o estudo deve ser feito de forma metódica. O modo como se estuda, o local e as condições em que se estuda, o tipo de registros que se faz (ou não se faz!) determina a quantidade e a qualidade da informação retida, bem como o modo como ela se organiza na nossa mente.

Apesar de não haver receitas universalmente eficazes para bem estudar, visto que aquilo que funciona com algumas pessoas não funciona tão bem com outras, vejamos rapidamente algumas regras básicas.

LER DE FORMA ATIVA
Comece por uma leitura rápida

A leitura eficaz de um texto ou de um conjunto de textos processa-se em duas etapas distintas.

Numa primeira etapa, lê-se "por alto", faz-se uma leitura rápida, dando particular atenção a títulos, esquemas, anotações e frases em destaque. O objetivo é saber de que assunto se trata e identificar os elementos mais importantes ou mais interessantes do texto.

Depois de obter uma visão geral do assunto, chega o momento de ler "em profundidade". Nesta segunda etapa, o leitor aproxima-se do texto, de forma cuidadosa e crítica, para compreender melhor o que se diz e como se diz. A compreensão do texto é fundamental para elaborar corretamente esquemas ou resumos e para fazer bons comentários.

Consulte o dicionário (geral e/ou especializado)

A ignorância das palavras constitui o primeiro obstáculo à compreensão de um texto. Por isso, deve consultar o dicionário, sempre que encontre palavras desconhecidas cujo significado não pode descobrir pelo contexto.

Divida o texto em blocos

A não ser que se trate de um texto muito pequeno, é sempre possível distinguir nele várias partes, cada uma delas com certa unidade de sentido. Convém reler cada uma dessas unidades separadamente, procurando destacar a(s) idéia(s) principal(ais). Por vezes o próprio livro já explicita essa divisão; nesse caso, é só respeitá-la.

Faça sublinhados e anotações

Fazer sublinhados e anotações é um processo de leitura ativa que desperta a atenção e facilita a captação das idéias. Além disso, sublinhados e anotações são auxiliares preciosos para tirar bons apontamentos e rever matéria.

Os sublinhados são muito úteis: obrigam-nos a uma leitura mais atenta e permitem pôr em destaque os aspectos fundamentais de um texto. Com eles as revisões tornam-se mais rápidas e produtivas.

A arte de sublinhar está na capacidade de selecionar o essencial. Sublinhar tudo é tão inútil como não sublinhar nada. Aconselha-se ao leitor que sublinhe, de preferência, definições, fórmulas, esquemas, termos técnicos ou outras expressões que sejam a chave da idéia principal.

Erros a evitar:
-Excesso de sublinhados (mais uma vez, sublinhar tudo é não sublinhar nada);
-Sublinhado por impulso (assinalar a primeira frase que nos desperta a atenção pode ser um erro).

Procedimentos:
-Fazer uma primeira leitura, para apreender a idéia geral do texto;
-Numa segunda leitura, sublinhar as idéias que consideramos fundamentais;
-Se necessário, usar dois tipos de sublinhado (reto e ondulado, por exemplo), um para as idéias mais importantes, outro para aspectos secundários.

As anotações são reações do leitor, escritas à margem dos textos. Essas anotações podem expressar-se através de palavras ou pequenas frases que resumam a idéia central de um parágrafo. As anotações devem constituir uma espécie de sumário do fragmento e podem chamar a atenção para outra parte do livro, relacionada com o assunto que está a ser tratado. Não se esqueça que o uso de abreviaturas facilmente compreensíveis facilita a redação de notas.

Os sublinhados e anotações completam-se mutuamente.

Elabore esquemas e resumos
Os bons estudantes conhecem as vantagens de elaborar esquemas e resumos das suas leituras. Esquemas e resumos facilitam a aprendizagem e permitem revisões rápidas antes das provas.

Os esquemas permitem visualizar facilmente o conteúdo de um texto. São ideais como "auxiliares de memória", mas podem perder o sentido com o decorrer do tempo. Daí que os resumos se tornem mais aconselháveis, uma vez que neles se condensam as idéias essenciais, usando frases bem articuladas.

Um bom resumo é a reconstrução abreviada do texto original, por palavras próprias, seguindo o plano e o pensamento do autor. Isto exige a identificação e o registro das idéias de cada parágrafo.

Resumir não é comentar. Um bom resumo diz apenas, com brevidade, clareza e rigor, o que disse o autor do texto. O comentário vai além do resumo, na medida em que implica:
-compreender a idéia central do texto e os argumentos utilizados pelo autor para defesa dos seus pontos de vista;
-situar o texto na obra do autor e no seu contexto histórico, cultural ou filosófico;
-apreciar o valor das idéias apresentadas, comparando-as, por exemplo, com as idéias defendidas por outros autores a respeito do mesmo assunto.

PREPARAR PROVAS DE AVALIAÇÃO

Tire apontamentos das aulas
Um texto pode sempre ser relido, mas as exposições orais normalmente são únicas. Por isso é importante tirar notas durante as aulas.

O estudante deve registrar sempre os esquemas, as sínteses, os comentários e as indicações bibliográficas que o professor apresenta na aula. Não vale a pena tentar escrever todas as palavras do professor. É mais eficaz anotar as idéias, por palavras próprias.

Procedimentos:
-Ficar atento e distinguir o essencial do acessório;
-Usar uma escrita sintética (telegráfica) para poupar tempo;
-Sempre que possível recorrer a abreviaturas;
-Registrar com cuidado os esquemas e sínteses, se os houver;

Muitas vezes, o estudante precisa completar ou esclarecer o que escreveu nas aulas. Esse trabalho de reescrita deve ser feito o mais cedo possível, quando a matéria ainda está fresca, para que os apontamentos fiquem prontos a usar, no momento das revisões finais.

Estude com regularidade

Estudar à última da hora, sob pressão, não é um método seguro. É uma prática traiçoeira que, em vez de facilitar a aprendizagem, favorece as confusões. Quando surgem dúvidas, não há hipótese de esclarecê-las. Além disso, o aluno que estuda na véspera horas seguidas, sem intervalos, vai cansado para os testes, correndo o risco de interpretar mal as perguntas e embaralhar as respostas.

Os alunos responsáveis estabelecem prioridades e preparam-se com tempo. Na véspera dos testes, limitam-se a fazer uma revisão final.

Verifique se sabe a matéria
Antes de realizar uma prova, o estudante deve proceder a uma cuidadosa auto-avaliação para verificar se sabe, de fato, a matéria. Uma coisa é julgar que sabe e outra é saber mesmo. Importa que ele confirme se compreendeu e sabe explicar, por palavras próprias (oralmente ou por escrito), as idéias essenciais.

Ao tomar consciência dos seus pontos fracos, está a tempo de dar uma nova passagem pela matéria e evitar surpresas desagradáveis. Ao verificar que domina os assuntos, o estudante reforça a sua autoconfiança, encarando assim os testes com maior tranqüilidade.

Preste atenção às perguntas
Quando se enfrenta uma prova escrita, a primeira coisa a fazer é ler todo o enunciado e respectivas instruções. Com uma visão global do teste, é mais fácil tomar decisões sobre a forma de organizar as respostas e distribuir o tempo.

Cada pergunta merece uma leitura atenta para que não haja dúvidas sobre o que se pede. Questões complexas exigem ainda maior cuidado. É essencial responder concretamente ao que é pedido.

Perante perguntas que exigem desenvolvimento, convém fazer uma lista de tópicos orientadores da resposta. O estudante que estrutura as suas respostas, com base em tópicos, não se perde em repetições ou divagações.

Verbos utilizados com maior freqüência nas provas de avaliação:
Avaliar ; Caracterizar ; Comentar ; Comparar ; Criticar ; Definir ; Demonstrar ; Discutir ; Distinguir ; Enunciar ; Explicar ; Fundamentar ; Identificar ; Interpretar ; Justificar ; Relacionar
Mostrar o valor ou validade.
Pôr em evidência os elementos principais ou distintivos.
Explicar, tomando posição fundamentada.
Apresentar semelhanças e diferenças.
Dar opinião pessoal. Tomar posição, a favor ou contra
Dar o significado exato.
Apresentar provas.
Defender ou atacar. Criticar.
Mostrar as diferenças
Dizer qual é ou quais são, de forma breve. Indicar.
Clarificar o sentido. Desenvolver, para tornar inteligível.
Mostrar as bases.
Dizer quem é ou o que é.
Esclarecer o sentido. Fazer um comentário crítico.
Dizer porquê. Apresentar provas.
Estabelecer ligações.

Fundamente as opiniões pessoais

Os professores apreciam mais os testes que revelam originalidade na forma de transmitir os conhecimentos.

Ser original não significa necessariamente dar opiniões pessoais. A experiência aconselha mesmo a que o estudante não expresse opiniões, desde que não lhe sejam pedidas. Se tiver de expressá-las, é importante que as fundamente com fatos ou argumentos convincentes.

Argumentações pobres e afirmações levianas desvalorizam os testes. O estudante terá vantagem em defender os seus pontos de vista numa linguagem moderada, baseando-se, sempre que possível, em autoridades reconhecidas na matéria: "Tendo em conta a opinião de... Parece-me que..."

Um comentário é tanto mais apreciado quanto mais fundamentado e menos dogmático for.

Respeite as regras da escrita
Muitas vezes, os testes mostram que os alunos não trabalharam o suficiente ou estudaram sem método. Outras vezes, há confusões, porque os alunos não respeitam as regras da escrita. Usam palavras cujo sentido não dominam ou constroem frases demasiado longas, sem a adequada pontuação.

Um caminho seguro para construir textos inteligíveis e agradáveis é optar por palavras bem conhecidas. Também as frases curtas se tornam preferíveis, na medida em que são menos traiçoeiras para quem escreve e menos fatigantes para quem lê.

Não basta ter idéias. É preciso ser capaz de transmiti-las com clareza e rigor.

Fonte
A. Antunes, A. Estanqueiro, M. Vidigal (adaptado)
Ser em Português - 10º B, Areal Editores (adaptado)
http://pwp.netcabo.pt/0511134301/docum.htm

David Pontes (Como se Ensina o Prazer da Leitura)

Baciadas de livrinhos coloridos e dúzias de CD-ROM educativos não fazem a criançada gostar de ler. Quase sempre é por aí que vão os pais quando percebem o baixo rendimento dos filhos nas aulas de Português, sua dificuldade de compreender um texto, a inapetência para as letras e - portanto - a pobreza na comunicação com o mundo, mas chapá-los ou diverti-los com sopinhas alfabéticas não resolve a parada. No máximo, os pequenos acabam se acostumando a mais esta atividade. Ter prazer na leitura é que funciona como vitamina, e o segredo para aplicá-la é: escolher um bom conto de fadas, empostar a voz e ler para eles.

Parece pouco, mas é um acontecimento grandioso. Ouvir uma história contada ao vivo, pelos pais ou por alguém conhecido, é uma experiência que marca para sempre. Aí se juntam elementos fundamentais no desenvolvimento. A presença e a dedicação do adulto naquele instante, sua entonação e semblante, seu estado de espírito e o conteúdo da narrativa, tudo isso se junta e se mistura aos sentimentos e à imaginação das crianças. É um raro momento de integração profunda, que gera energia de crescimento. E o prazer desta hora se liga ao texto. Assim se inscreve a leitura na memória das coisas boas, e assim se abrem as portas para uma criativa busca do conhecimento.

Bastam 10 minutos por dia, ou a cada dois dias, três ou só no fim-de-semana... Não precisa - e nem pode - ser nada penoso ou complicado. Apenas um momento reservado regularmente para um adulto afetivo se sentar, abrir um bom livro e ler em voz alta. Para os pequenos, é um momento para ouvir, sentir e fantasiar, como quiserem e puderem. Por isso, não vale cobrar nada deles. Sem essa de "vamos ler, agora fique quietinho". Crianças ouvem historinhas cantarolando, andando, falando, mexendo e se mexendo, e às vezes até vão para outros cômodos da casa sem pedir pausa na leitura. Não importa. Sua maneira de prestar atenção, seu ritmo, tudo é diferente. O que importa é a voz que conta o conto, que repete infinitas vezes um trecho a pedido do ouvinte, que responde às perguntas sem reclamar da "interrupção".

Quando "atrapalham" a leitura dos grandes, os pequenos estão apenas se aproximando do texto. Não é este o objetivo? Então é indispensável deixar que toquem o livro, virem a página para ver a ilustração seguinte, sintam a textura do papel e a harmonia das letras... Vale até atiçar a curiosidade e sua vontade de ver a história escrita. É bom lembrar: esta é uma experiência que os adultos oferecem às crianças, de graça, sem exigir nada em troca, sem policiar nem chatear. Quem não tem disposição e paciência para isso, melhor fazer só cinco minutinhos, ou dois, para que não se torne uma experiência desagradável - e acabe produzindo o efeito contrário. É necessário, aliás, que estes momentos não estorvem a rotina. A leitura não pode ocupar o tempo de brincar, de fazer lição ou de comer. Já o tempo da TV e do videogame...

Desligar as telinhas para contar histórias seria um grande presente. Trocar o estímulo unidirecional, com imagens chocantes que cavam espaços estáticos na memória, pela integração afetiva, que fortalece e desenvolve, é um negócio irrecusável. Claro que o conteúdo do texto é fundamental. O que potencializa esta grande usina criativa são as narrativas que têm situações do imaginário da criança, repleto de antíteses: bom-mau, bem-mal, certo-errado, bonito-feio, grande-pequeno, alegre-triste... Ou seja, são os contos de fadas mais antigos, com personagens maus e cruéis, que valem como combustível na ebulição dos sentimentos. Não servem as versões moderninhas, açucaradas e politicamente corretas. Sentindo que a leitura alimenta e fortifica o coração, a molecada pode então gostar dela.

Mais ainda se estes momentos forem marcados pela presença dos pais - que é sempre especial - e pela sua própria satisfação em ler. Ensinar o prazer da leitura é também se apresentar às crianças como alguém que gosta de ler, e que ganha com isso. Quem se sente bem com um livro nas mãos deve se exibir orgulhosamente aos pequenos. Aos menos habituados cabe um esforço, que não é tão grande assim. Afinal, quem não pôde se apaixonar pela literatura na infância tem agora a chance de mergulhar na fantasia por alguns minutos, enquanto a filharada escuta, se encanta e começa a preparar sua própria história.

Fonte:
http://www.moderna.com.br

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Nilton Tuller (Pai, Desculpe a Franqueza)

PAI .Puxa ! Faz tempo que não pronuncio esse nome. Sabe papai, eu era um menino cheio de vida. Tinha sonhos febris como os meus colegas de escola. Sim eu sonhei em ser tantas coisas lindas!!! Só não sonhei em ser o que sou hoje. Eu pensava: vou crescer, estudar, trabalhar, etc., etc.

O senhor era meu herói. Sim meu Pai Herói. Para mim não existia ninguém com mais autoridade que o senhor. É certo que eu estranhava quando o senhor chegava, meio alcoolizado em casa, abetumado macambúzio e jururu. Mas papai, eu quero dizer aqui de longe algo que trago no meu peito há muito tempo. O senhor não me preparou para enfrentar a vida. Lembra papai, o senhor não tinha tempo para mim. É verdade que o senhor me dava presentes, eu creio que o senhor nunca se esqueceu de um presente de natal, aniversário e tantas outras vezes. Só se esqueceu da minha pessoa. Lembrou-se do que eu precisava, e até do supérfluo, mas não se lembrou do que eu era. Eu era, na verdade um órfão de pai vivo! Pai, eu não queria os seus presentes apenas, eu queria mesmo era você. Queria e ansiava seu calor, o seu abraço, o seu beijo a sua atenção. Abraço . Nem me lembro de ter recebido um! O senhor nunca elogiou um boletim escolar que trazia para casa. Um dia a minha bicicleta descentralizou as rodas. Lembro-me como se fosse hoje. O senhor ia saindo para o escritório. Eu lhe pedi para me ajudar. Lembra papai o que me respondeu . Eu não tenho tempo. Meus clientes estão me esperando. Puxa vida, eu senti tanto ciúmes do senhor. Afinal seus clientes eram mais importantes do que eu. Você e mamãe estavam tão ocupados que mal me viram crescer. Vocês tinham que satisfazer os compromissos com a sociedade. Eu me sentia só, e isto me revoltava. Nasceu dentro de mim um conflito. Eu não sabia bem se o odiava ou tentava chamar a sua atenção para o meu dilema. Eu queria tanto que o senhor soubesse que apesar de tudo eu o amava. Hoje estou confuso, e nem sei mais o que é amor. Eu sei papai, que o senhor não é de tudo culpado. O senhor é fruto de uma sociedade consumista. Comunista e humanista. O senhor nunca me ensinou nada sobre religião, fé, Deus. Nas refeições vocês só falavam em negócios, dinheiro, ações, investimentos etc... Eu quase não via você chegar. Ah! Se você tivesse adivinhado que as poucas vezes que eu estava acordado, esperava que a porta do meu quarto abrisse e você fosse assentar na minha cama e pudesse me desejar uma boa noite. Mas... você passava direto para o seu aposento. Por causa disso papai, eu por curiosidade, por auto-afirmação ou aventura, não sei, entrei para as drogas. Como o senhor não me ajudou, os traficantes me adotaram.

E então os meus sonhos se desmoronaram. Eu que o admirava tanto, passei a chamá-lo de quadrado, velho, coroa e outros adjetivos.

Hoje estou aqui atrás das grades. Sim papai, estou preso nas garras do vício, na malha da lei. Pior,que isto. Estou preso nas minhas esperanças.

Mas... pensando melhor pai, eu olhei agora pelas grades da prisão e vi lá fora bem alto e longe uma nesga de céu azul. Creio que há esperança. Eu quero sair daqui papai. Quero ser livre. Liberte-se também de tudo aquilo que lhe prende, e vamos começar de novo. Vamos fazer um convênio. EU VOLTO A SER CRIANÇA, E O SENHOR VOLTA A SER PAI.
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Sobre o Autor:
NILTON TULLER
Cadeira Nº.17 – Patrono: Gonçalves Dias
Pastor evangélico. Foi vereador. Presidente fundador do MOLIVI (Movimento para Libertação de Vidas). Nasceu em Martinópolis-SP, no dia 30 de maio de 1939. Autor de “Por que um jovem entra nas drogas?” e “Vencendo no poder da fé”.
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Fonte:
Academia de Letras de Maringá
http://www.afacci.com.br/
Fotomontagem: José Feldman

Associação dos Literatos de Ubiratã (ALIUBI)


A Associação dos Literatos de Ubiratã - ALIUBI, há vinte anos difundindo as Artes Literárias pelo Brasil e exterior, estende a oportunidade de edição a todos os amantes da poesia.

2.007 com certeza foi mais um ano de festa no palco da literatura brasileira pois, expandir as artes literárias tornou-se para a ALIUBI,tarefa de máxima importância e responsábilidade, já que no decorrer destes anos, retrataram com muito sucesso o trabalho de inúmeros talentos do Brasil e exterior.

No decorrer desta jornada, a Aliubi tornou-se não apenas uma associação, mas sim, um lar de poetas, " uma familia", onde a união de idéias, ideais e sonhos de todos os participantes, fez o " Seu Sucesso!!!".

A voce que participa conosco há tempos, "muito obrigado", e a voce que vem participar pela primeira vez, "muitíssimo obrigado pelo apoio e, sejam bem vindos à família Aliubi!". (Joacir Zen Ranieri - presidente)

Antoine de Saint-Exupéry (1900 - 1944)

“Vou confiar-te o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos”

Antoine-Jean-Baptiste-Marie-Roger Foscolombe de Saint-Exupéry terceiro filho do conde Jean Saint-Exupéry e da condessa Marie Foscolombe veio ao mundo em Lyon, França, em 29 de Junho de 1900, e desapareceu em 31 de Julho de 1944, no Mediterrâneo.

Com a prematura morte de seu pai, monsieur Jean de Saint-Exupéry, Antoine foi ter uma infância feliz ao lado da mãe, dos três irmãos e da tutora austríaca Paula no velho castelo da tia avó materna, Madame de Tricaud, em Saint-Maurice de Rémens.

Neste tempo, o melhor amigo de Antoine era um velho fogão... aos 12 anos já escrevia versos como este em louvor das máquinas de voar "Les ailes frémissaint sous le souffle du soir" (Asas fremiam à brisa do crepúsculo).

Apaixonado desde a infância pela mecânica, estudou a princípio no colégio jesuíta de Notre-Dame de Saint-Corix, em Mans, de 1909 a 1914. Neste ano da Primeira Guerra Mundial, juntamente com seu irmão François, transfere-se para o colégio dos Maristas, em Friburgo, na Suíça, onde permanece até 1917. Quatro anos mais tarde, em abril de 1921, Antoine inicia o serviço militar no 2º Regimento de Aviação de Estrasburgo, tinha dificuldades de se ajustar à disciplina da realidade; entregando-se a devaneios, fazia poesias, sonhava acordado, foi reprovado nos exames para admissão da Escola Naval.

Após a doce infância, a dura realidade de sua juventude contrastaria com o conto de fadas vivido em Saint-Maurice.

Nessa época, seus colegas de juventude descreviam Antoine como um “jovem tímido e introspectivo, e com tendência a súbitas mudanças de humor, transformando-se, rapidamente, de uma pessoa cheia de vida a uma atitude calada; pouco sociável e indócil, sofria, porque queria ser amado.”

Falhara irremediavelmente no concurso para ingresso na escola naval, porque ultrapassara a idade limite; então, foi estudar arquitetura. Foi um período “sociável” de Antoine, mas uma época insípida, porque, embora gostasse de desenhar, não estava feliz com os estudos de arquitetura. Quando Antoine foi convocado para servir no Segundo Regimento da Força Aérea, em 02 de Abril de 1921, ele sentiu a chance de encontrar o seu verdadeiro caminho: A aviação.

A paixão de Antoine por aviação era antiga; nos tempos de infância, próximo ao castelo de Saint-Maurice, havia uma pista de aviação, na qual ele sempre espionava o vem-e-vai de pilotos e mecânicos, admirando-lhes a dedicação ao novel meio de transporte e o clima de camaradagem entre eles.

Em um dia do ano de 1912, um famoso piloto, Vedrines, levou Antoine para um passeio de avião. Este dia tornou-se inesquecível para Antoine, que descobriu que tinha alma de piloto de avião; sua bicicleta, ele transformou em um “avião”, fixando nela um par de asas...

Mas, no Segundo Regimento da Força Aérea de Strasbourg, Antoine logo se desiludiu: Eles não o haviam convocado para o pessoal de vôo, e sim como assistente de serviços de terra. Nesta ocasião, deprimido, como de costume, ele revelou sua tristeza a sua mãe, em uma carta:

À noite, sinto-me um pouco triste. Venha algum dia a Strasbourg. Sinto-me um tanto sufocado neste lugar. Eu estou sem perspectivas. Eu preciso me dedicar a algo que eu goste. Mãe, se você soubesse o quanto é irresistível o meu desejo de voar! Se eu não conseguir meu objetivo, eu serei muito infeliz... Mas eu vou conseguir” (1921)

A 17 de junho, obtém em Rabat,para onde fora mandado, o brevê de piloto civil. No ano seguinte, 1922, já é piloto militar brevetado, com o posto de subtenente da reserva. Em 1926, recomendado por amigo, o Abade Sudour,é admitido na Sociedade Latécoère de Aviação, onde começa então sua carreira como piloto de linha, voando entre Toulouse, Casablanca e Dacar, na mesma equipe dos pioneiros Vacher, Mermoz, Guillaumet e outros.

A falta de recursos para estudar aviação, tendo de se socorrer, constantemente, da generosidade da mãe, talvez, explique a ansiedade de Antoine, a impaciência e os conseqüentes acidentes em que se envolvia.

Definitivamente, Antoine não era um homem de sorte: Sem dinheiro, sem trabalho e moralmente abatido pelo último acidente que o fez perder tudo... Então, longos meses de amargura vieram.

Durante um tempo, quando recuperou-se dos ossos quebrados, foi trabalhar contando telhas; sentia-se prisioneiro entre as quatro paredes do escritório de quatro metros quadrado, atrás das barras de intermináveis colunas de números.

Em 1923, Antoine se descrevia, em cartas a sua mãe, como um patético, vivendo uma situação desprezível e desalentadora. Sua vida era dividida entre o escritório e o quarto de hotel onde vivia. Sua alegria era pilotar, aos finais de semana, quando tinha dinheiro para tanto... Então, seu entusiasmo não tinha limites:

Mãe, Domingo eu fui dar uma volta de avião. Tive um bom vôo. Eu adoro voar. Você não pode imaginar a calma e a solidão que se encontra a 4.000 metros de altitude, sozinho com o motor.”

Em 1924, um novo emprego: Representante de vendas de caminhão; então, viajava o tempo todo para muitos lugares, mas, em quinze meses, vendeu apenas um caminhão... Através de uma parente distante, Antoine conheceu Jean Prevost, o qual publicou alguns de seus escritos na edição de Abril (1926) da revista “Navire d’argent”. O Piloto, era a estória de um instrutor de vôo que, como ele, tinha depressão quando abandonava seu avião. O Piloto foi um sucesso. Nesta ocasião, conheceu Beppo de Massimi, um dos idealizadores da Companhia Aérea Latdcoe’re, que o apresentou ao inflexível e perspicaz Didier Daurant.

Antoine queria ser piloto da empresa e teve sucesso na entrevista com Daurant que, no entanto, mandou Antoine para o galpão de mecânica primeiro, como fazia com todos que queriam ser pilotos.

Alguns meses mais tarde, Antoine já voava entre Toulouse-Rabat; depois, Dakar-Casablanca, num perigosíssimo percurso de 2.765 quilômetros sobre território africano. Realizado, escreveu a sua mãe, em 1926: “Estou bem e feliz”.

Em 1927, Didier Daurant designou Antoine para assumir uma base da empresa em Cape Juby, entre Casablanca e Dakar, cuja missão seria a de resgatar pilotos franceses civis que caíssem no deserto, os quais não podiam contar com o auxílio das forças espanholas em território dissidente; muitos pilotos tinham tido suas gargantas cortadas no deserto e Daurant precisava de alguém que tivesse diplomacia para lidar com os militares espanhóis, a fim de obter permissão para construção de uma pista de pouso no deserto; ainda, tinha que ser um homem corajoso e disposto a voar, a qualquer hora, para resgatar seus companheiros que caíssem no deserto do Saara. De fato, ninguém mais apropriado para tal missão que “Saint-Ex”.

Porém, Antoine viveu ali um fim de mundo, solidão, silêncio e isolamento, cercado pelo mar de um lado e pelo deserto do outro, precariamente instalado em uma barraca que repartia com o mecânico “Toto”, dormindo em um colchão fino, com uma jarra de água e bacia de lavar o rosto, com sua máquina de escrever e alguns papéis timbrados da empresa. Antoine conquistou a confiança dos militares espanhóis e, ainda, através das crianças, a amizade dos árabes, com os quais podia contar para resgatar pilotos que caíam no deserto. Nestes tempos, escreveu seu primeiro livro, Southern Mail, sobre uma tábua apoiada em dois barris. Depois de dezoito meses em Cape July, a missão de Antoine fora ali mais do que cumprida e, como resultado de seu esforço, foi condecorado. Quando chefiou o posto de Cap Juby,que os mouros lhe deram o cognome de senhor das areias.

Em seguida, Didier designou Antoine, em Outubro de 1929, como gerente chefe da companhia Aeroposta-Argentina, com a missão de abrir novos caminhos para a companhia na costa da América Latina; mesmo ganhando 225 mil francos por ano, Antoine não se sentia completamente feliz.

Todavia, foi neste período em que escreveu seu segundo livro, Night Flight, que fez um sucesso fabuloso entre o público. Mas, seus amigos o reprovaram, acusando Antoine de haver distorcido a verdadeira realidade existente na vida dramática dos pilotos que faziam os vôos noturnos.

Em 1931, Antoine casou-se com Consuelo Suncin. A Aeroposta Argentina entrou em declínio e Antoine foi demitido, voltou ao posto de simples piloto, fazendo os vôos noturnos entre Casablanca e Dakar. Porém, o governo francês transformou todas as empresas aéreas em apenas uma, a Air France, e Antoine voltou a estaca zero, com um trabalho apático de piloto de teste na companhia Latecoere, em 1932. Antoine é um péssimo piloto de testes e é obrigado a desistir deste trabalho. Em 1935, passa a viajar pela França e no exterior pelo departamento de propaganda da Air France. Então, começa a escrever artigos para o jornal “Paris Soir”; seus artigos fazem sucesso, sua situação financeira melhora e ele compra seu avião, o “Simoun”.

Ao comprar o “Simoun”, um de seus projetos era bater o recorde de velocidade entre Paris e Saigon. Em 29 Dezembro de 1935, Antoine e seu mecânico Prevot caíram no deserto, onde passaram cinco dias morrendo de sede, tendo miragens e quase morreram, quando, então, foram resgatados por beduínos. Esta experiência serviu de pano de fundo para o Pequeno Príncipe.

Apesar de ter quase morrido no deserto, Antoine não perdera a coragem, nem a fascinação pelo perigo. Ia levando a vida exercendo o jornalismo. Pelo jornal “O Intransigente”, foi enviado à Barcelona para acompanhar a guerra civil, onde Antoine passou pela amarga experiência de presenciar atrocidades.

Passados já alguns anos da fracassada aventura Paris-Saigon, Antoine estava pronto para outra: Uma corrida aérea entre Nova Ioque e Tierra del Fuego; ao decolar de uma pista na Guatemala, houve um sério acidente: Antoine teve traumatismo craniano, quase perdeu o ombro esquerdo e permaneceu em coma por vários dias em Nova Iorque. Demorou muitos meses para que Antoine se recuperasse e, durante este período, ele escreveu um novo livro, Wind, Sand and Stars, um livro de memórias sobre seus dez anos de pilotagem e velhos amigos dos tempos da rota Toulouse-Dakar, os pilotos Mermoz e Guillaumet. Em Maio de 1939, recebe o Grande Prêmio da Academia francesa. Quatro meses depois, eclodia a Segunda Grande Guerra.

Neste tempo, Antoine é capitão da reserva da Força Aérea de Toulouse. Mas, sua idade (39 anos) e seu estado de saúde (ombro semi-paralítico) o impedem de realizar missões aéreas. Porém, Antoine não se conformou com a idéia de ficar na reserva, e passou a envidar todos os esforços para poder participar de missões aéreas durante a guerra. Tanto se esforçou que convenceu o General Davet que, por sua vez, convenceu seus superiores de que, na força aérea, o que importa “não é a condição física do coração, mas sua dedicação.”

Assim, em 03 de Novembro de 1939, foi designado para o esquadrão de reconhecimento em Orconte, na província de Champagne. As experiências em Orconte, Antoine descreveria em Flight to Arras.

Em 22 de Junho de 1940, a França assinou um armistício de derrota e Antoine, sentindo-se extremamente humilhado, abandonou seu país, partindo para Nova Iorque. A França estava sob o jugo do domínio alemão e, por isso, o livro Flight to Arras, lido por um grande público americano, teve sua distribuição proibida pelos alemães na França.

Antoine permaneceu por dois anos nos Estados Unidos, correspondendo-se, por carta, com o jornalista Léon Werth, um amigo que vivia na França ocupada pelos alemães. Estas cartas foram publicadas em Fevereiro de 1943 e, em Abril do mesmo ano, foi publicado o Pequeno Príncipe, que recebeu um fria recepção do público. Ninguém poderia imaginar que, da literatura de Antoine, seria produzido um livro como o Pequeno Príncipe, que se constituía de uma curta história para crianças, onde os animais falavam. Era inimaginável, para muitos, que um homem de ação, e com o perfil de um herói como Antoine, pudesse escrever histórias para crianças.

Todos que conheceram Antoine sabem que, sempre que tinha qualquer pedaço de papel às mãos, fosse um guardanapo de restaurante ou um papel de carta, ele desenhava crianças. Questionado, certa vez, pelo seu editor, nos Estados Unidos, Curtice Hitchcock, o que desenhava, ele respondeu: “Nada demais, apenas a criança que existe no meu coração”, ao que o editor lhe replicou que ele deveria escrever a história daquela criança em um livro de crianças. Daí, talvez, haver nascido o livro Pequeno Príncipe, cujos desenhos foram feitos pelo próprio Antoine, sem a ajuda de profissionais, de modo que as ilustrações pudessem ter a mesma simplicidade e a mesma doçura do caráter daquela curta história.

O Pequeno Príncipe foi, ao mesmo tempo, o mais simples e o mais profundo livro escrito por Antoine; superficialmente, é uma pequena história para crianças, mas, na realidade, é a história de uma criança escrita para os adultos. O Pequeno Príncipe foi “a criança que vivia dentro de Antoine, que o emocionava e o guiava, a criança que o fazia levantar nos momentos cruciais de sua vida, que o prevenia de tomar decisões estúpidas como muitos adultos que acreditam em números, em demonstrações, na seriedade da lógica mais do que na seriedade do coração”.

Em 1942, os Estados Unidos decidem entrar na Grande Guerra e desembarcam no Norte da África; após publicar o Pequeno Príncipe, Antoine segue para Algiers para se juntar a seus companheiros, sob o comando americano, no esquadrão 2/33.

Os americanos equipam o esquadrão com aeronaves Lightning P-38, que alcançam velocidades de até 700 Km/h; para pilotá-las, não podem os pilotos ter mais de 35 anos; aos 43 anos e com um ombro paralisado, Antoine seria excluído da pilotagem, mas, graças às suas amizades influentes, obtém autorização para pilotar os Lightning P-38.

Depois dos 40 anos queria continuar voando em missões de guerra, numa idade que já era excessiva para tal tarefa. Tentou durante vários meses, até que no final conseguiu retornar a sua esquadrilha de reconhecimento. Além das razões patrióticas, havia outra de muita importância pessoal: continuar desfrutando do vôo.

Não suportava os trabalhos administrativos e burocráticos, se bem que teria exercido um papel mais útil se os aceitasse, tendo em vista suas relações e influência. Não obstante, usou essas mesmas relações para obter a autorização de vôo, após vários meses de negativas por parte do comando aliado. A partir daí começa a ter lugar uma seqüência de fatos que acabaram por levar Saint-Exúpery ao desenlace fatal, em 31 de julho de 1944, quando desapareceu junto com seu avião.

Em 6 de junho decolou em sua primeira missão, que era fotografar vários objetivos simples na região da Marselha; um incêndio em seu motor esquerdo obrigou-o a voltar antes de chegar à zona do objetivo.

A segunda missão foi em 15 de junho, e quase desmaiou quando o regulador de oxigênio apresentou um defeito. Em 24 de junho aterrissou pensando que tudo ia bem, quando notou que não conseguia parar uma das hélices e que um único motor fazia todo o trabalho. Como diz Curtis Cate, seu biógrafo, "era um exemplo dessa distração que fazia sacudir a cabeça de seus camaradas". Sua idade e condições físicas são incompatíveis para a pilotagem dos P-38; Antoine é cortado do esquadrão.

Em 29 de junho de 1944, dia de seu aniversário, a missão em pauta era fotografar a região do lago de Annecy, à qual associava profundas e numerosas lembranças de infância. O turno cabia a outro piloto, mas ele suplicou que trocassem, quase como um presente de aniversário, para voltar a percorrer aquela região de tantas lembranças. Logo depois de decolar, perdeu um motor; sabia-se assim alvo fácil para um caça alemão, razão pela qual fez um desvio para os Alpes, onde havia menos bases inimigas e ele teria a possibilidade de mergulhar num vale se visse um caça à distância. Abaixo de seu avião, as montanhas se transformavam pouco a pouco em bases de encostas e colinas. De repente, descobre uma planície, nela uma grande cidade, e ao redor numerosas pistas de aviação. Em sua traseira aparece um caça: "Enfio a cabeça na cabine e espero. Meu pobre Antoine, desta vez estás acabado. Uma última lembrança, todos os que me esperam esta tarde, vigiando o horizonte... mas por que demora tanto a morte?". O caça o tomara por um amigo. "Reconheço Gênova e ao mesmo tempo volto a ver as muitas bandeirolas cravadas sobre esta cidade; é uma cidade muito protegida".

Em carta que escreveu a seu amigo Pellissier diz: "Exerço uma estranha profissão para minha idade. O mais velho, depois de mim, tem seis anos menos do que eu. Mas prefiro esta vida: o café da manhã às 7 horas, a comida, a tenda de campanha ou o quarto pintado de cal, em seguida, 10.000 metros de altitude em um universo inédito: é melhor que o ócio atroz de Argel" (lugar onde se refugiara quando da queda da França ante os alemães) "Para mim é impossível descansar e trabalhar na provisoriedade do limbo. Ali me falta o sentido social. Mas escolhi o gasto máximo e, como sempre, terei que ir até o extremo de mim mesmo, e não retrocederei. Desejo que esta sinistra guerra termine antes que me tenha extinguido por completo, como uma vela em combustão. Tenho outro trabalho para fazer mais adiante".

Além destes fatos, houve outros que puseram em perigo sua vida, todos relacionados com esquecimentos e distrações. Dizia simplesmente, "terminarei como meus amigos" (fazendo referência ao fato de que era o último que restava de seus velhos camaradas da AeroPostale). Em uma despedida disse: "estou seguro que não voltarei a vê-la".

Por oito meses, Antoine usa de todos os recursos para convencer pessoas influentes a ajudá-lo a retornar às missões de vôo; passa por períodos de depressão, ao mesmo tempo em que dá continuidade ao livro The Wisdom of the sands, publicado após a sua morte.

Finalmente, o Coronel Chassin, que conhecia Antoine por muitos anos, consegue convencer o General americano Eaker a deixar Antoine reintegrar-se ao esquadrão aéreo, desta vez, na Sardinia, sob a condição de que não faria mais do cinco missões de reconhecimento; contudo, estas cinco missões se transformaram em oito, porque Antoine sempre se oferecia para as missões subseqüentes.

No dia 31 de Julho de 1944, às quinze para as nove da manhã, Antoine saiu em sua nona missão, com o objetivo de fotografar Grenoble e Annecy. Uma e meia da tarde, Antoine não tinha voltado, quando ainda lhe restava apenas mais uma hora de combustível. Às duas e meia da tarde, seus companheiros suspeitaram que o pior havia acontecido.

Em 1998, um pescador (Habib Benamor) encontrou na rede que lançara ao fundo do mar uma pulseira que pertencera Exupéry.

Cinco anos antes (1993), o banco central francês lançou uma nota de cinqüenta francos com o seu retrato ao lado do Pequeno Príncipe.

Intensas pesquisas no fundo do mar próximo à Ilha de Riou foram envidadas pelo engenheiro e especialista na exploração de naufrágios Henri-Germain Delauze. O mergulhador profissional Luc Vanrell, que havia fotografado escombros metálicos naquela região (em 1982), passou a mergulhar naquela área do mar em busca de restos do avião de Exupéry, um P.38 F-5B da série J.

O DRASSM (departamento de arqueologia submarina do Ministério da Cultura francês) autorizou em 2003 uma pesquisa formal nos destroços encontrados pelos exploradores. Delauze e Vanrell passaram a trabalhar juntos. 10% da aeronave foi resgatada (uma peça de alumínio da fuselagem, um turbocompressor, componentes hidráulicos e elétricos). Philippe Castellano, historiador amador e mergulhador, foi chamado para ajudar na identificação das peças içadas à superfície pelo barco Minibex. Entre elas, Castellano encontrou o número 2734 gravado. Estava confirmado: Aquele avião era o de Exupéry...

Teria Exupéry escondido no fundo do mar o seu avião e viajado para o asteróide B 612 para juntar-se ao seu pequeno príncipe?

Uma carta foi encontrada no quarto de Exupéry. Estava endereçada ao General, a qual dizia em resumo:

Eu não me importo se eu morrer na guerra, ou se eu me transformar em alvo destes torpedos voadores, os quais nada têm de verdadeiramente voadores, e que transformam o piloto em um contador por meio de indicadores e botões. Mas, seu eu voltar vivo desta ingrata, mas necessária “tarefa”, haverá apenas uma questão para mim: O que se pode dizer à humanidade? O que se tem que dizer à humanidade?”

Suas Obras

Suas obras foram caracterizadas por alguns elementos em comum, como a aviação, a guerra. Também escreveu artigos para várias revistas e jornais da França e outros países, sobre muitos assuntos, como a guerra civil espanhola e a ocupação alemã da França.

No entanto, deve-se dar uma atenção a este último, O pequeno príncipe (O Principezinho, em Portugal) (1943), romance de maior sucesso de Saint-Exupéry. Foi escrito durante o exílio nos Estados Unidos, quando fez visitas ao Recife. E para muitos era difícil imaginar que um livro assim pudesse ter sido escrito por um homem como ele.

O pequeno príncipe é uma obra aparentemente simples, mas, apenas aparentemente. É profunda e contém todo o pensamento e a "filosofia" de Saint-Exupéry. Apresenta personagens plenos de simbolismos: o rei, o contador, o geógrafo, a raposa, a rosa, o adulto solitário e a serpente, entre outros. O pequeno príncipe vivia sozinho num planeta do tamanho de uma casa que tinha três vulcões, dois ativos e um extinto. Tinha também uma flor, uma formosa flor de grande beleza e igual orgulho. Foi o orgulho da rosa que arruinou a tranqüilidade do mundo do pequeno príncipe e o levou a começar uma viagem que o trouxe finalmente à Terra, onde encontrou diversos personagens a partir dos quais conseguiu descobrir o segredo do que é realmente importante na vida.

É uma obra que nos mostra uma profunda mudança de valores, que ensina como nos equivocamos na avaliação das coisas e das pessoas que nos rodeiam e como esses julgamentos nos levam à solidão. Nós nos entregamos a nossas preocupações diárias, nos tornamos adultos de forma definitiva e esquecemos a criança que fomos.

Principais Obras
O aviador (1926);
Correio do Sul (1928);
Vôo Noturno (1931);
Terra de Homens (1939);
Piloto de Guerra (1942);
O Principezinho (pt) (1943).
Cidadela (1948)-
Cartas ao Pequeno Príncipe


Fontes
http://www.edmundolellisfilho.com/
http://pt.wikipedia.org/
Constelar on Line Edição 108 :: Junho/2007. http://www.constelar.com.br/

Antoine de Saint - Exupéry (O Pequeno Príncipe)

O narrador recorda-se do seu primeiro desenho de criança, tentativa frustrada de os adultos entender o mundo infantil ou o mundo das pessoas de alma pura. Ele havia desenhado um elefante engolido por uma jibóia, porém os adultos só diziam que era um chapéu. Quando cresceu, testava o grau de lucidez das pessoas, mostrando-lhes o desenho e todas respondiam a mesma coisa. Por causa disto, viveu sem amigos com os quais pudesse realmente conversar.

Pelas decepções com os desenhos, escolhera a profissão de Piloto e, em certo dia, houve uma pane em seu avião, vindo a cair no Deserto de Saara. Na primeira noite, ele adormeceu sobre a areia. Ao despertar do dia, uma voz estranha o acordou, pedindo para que ele desenhasse um carneiro. Era um pedacinho de gente, um rapazinho de cabelos dourados, o Pequeno Príncipe.

O narrador mostrou-lhe o seu desenho. O Pequeno Príncipe disse-lhe que não queria um elefante engolido por uma jibóia e sim um carneiro. Ele teve dificuldades para desenhá-lo, pois fora desencorajado de desenhar quando era pequeno. Depois de várias tentativas, teve a idéia de desenhá-lo dentro de uma caixa. Para surpresa do narrador, o Pequeno aceitou o desenho. Foi deste modo que o narrador travou conhecimentos com o Pequeno Príncipe. Ele contou-lhe que viera de um planeta, do qual o narrador imaginou ser o asteróide B612, visto pelo telescópio uma única vez, em 1909, por um astrônomo turco.

O pequeno Planeta era do tamanho de uma casa. O Pequeno Príncipe contou o drama que ele vivia, em seu Planeta, com o baobá, árvore que cresce muito; por este motivo, ele precisava de um carneiro para comer os baobás enquanto eram pequenos. Através do Pequeno Príncipe, o narrador aprendeu a dar valor às pequenas coisas do dia-a-dia; admirar o pôr-do-sol, apreciar a beleza de uma flor, contemplar as estrelas... Ele acreditava que o pequeno havia viajado, segurando nas penas dos pássaros selvagens, que emigravam.

O Príncipe conta-lhe as suas aventuras em vários outros planetas: o primeiro era habitado por apenas um rei; o segundo, por um vaidoso; o terceiro, por um bêbado; o quarto, por um homem de negócios; o quinto, um acendedor de lampião; no sexto, um velho geógrafo que escrevia livros enormes, e, por último, ele visitou o nosso Planeta Terra, onde encontrou uma serpente, que lhe prometeu mandá-lo de volta ao seu planeta, através de uma picada. No oitavo dia da pane, o narrador havia bebido o último gole de água e, por este motivo, caminharam até que encontraram um poço. Este poço era perto do local onde o Pequeno Príncipe teria que voltar ao seu planeta. A partida dele seria no dia seguinte. Falou-lhe, também, que a serpente havia combinado com ele de aparecer na hora exata para picá-lo. O narrador ficou triste, ao saber disto, porque tomara afeição ao Pequeno. O Príncipe lhe disse para que não sofresse, quando constatasse que o corpo dele estivesse inerte, afirmando que devemos saber olhar além das simples aparências. Não havia outra forma de ele viajar, pois o seu corpo, no estado em que se encontrava, era muito pesado. Precisava da picada para que se tornasse mais leve.

Chegado o momento do encontro com a serpente, o Pequeno Príncipe não gritou. Aceitou corajosamente o seu destino. Tombou como uma árvore tomba. E assim, voltou para o seu planeta, enfim. O narrador, dias mais tarde, conseguiu se salvar, sentindo-se consolado porque sabia que o Pequeno Príncipe havia voltado para o planeta dele, pois ao raiar do dia seguinte à picada, o corpo do Pequeno não estava mais no local. Hoje, ao olhar as estrelas, o narrador sorri, lembrando-se do seu grande Pequeno amigo.

Obs.:O Pequeno Príncipe, embora pareça um livro escrito para crianças, é uma obra urgentíssima para adultos. Suas palavras possuem conotações mais profundas, que não poderão ser notadas em uma simples leitura. Esta obra pode ser considerada como Fábula, ou se preferir, Parábola.

Fonte
http://www.netsaber.com.br/

O Pequeno Príncipe (Análise sob o olhar da Psicanálise)

Oh! Ultrapassei as imperiosas
fronteiras da terra,
E dancei nos céus
com alegres asas de prata;
Em direção ao sol subi,
e com o coração leve fui parte das
alturas, das nuvens entre as quais passa o sol
e fiz muitas coisas
Que você nunca sonharia
- girei e subi direto
E balancei-me no ar,
Bem alto no silêncio iluminado pelo sol.
Planando lá,
Persegui o vento que assobiava,
e bruscamente virei e levei
Meu ansioso aparelho através
de corredores no ar suspensos.
(Vôo Alto, John Magee)

É difícil dizer se é lícito interpretar uma obra artística através de seu autor, ainda mais num caso como O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry, cuja repercussão foi tão grande a ponto de converter-se em pouco tempo num clássico da literatura.

Segundo a a psicologia Junguiana todo artista é como o leito de uma correnteza da alma coletiva. Mas o próprio artista, em sua consciência, é marcado por esta inundação. Como diz Jung, "dificilmente haverá um homem criativo que não tenha que pagar caro pela divina centelha do poder".

Partindo desta premissa, podemos dizer que O Pequeno Príncipe é certamente um personagem que, apesar de possuir elementos da psicologia pessoal do autor, ultrapassa-o e configura uma mensagem à humanidade.

O romance O Pequeno Príncipe coloca em evidência, logo de início, a disparidade entre o pensamento infantil e o pensamento adulto, cada um com a esfera de interesses que lhe é própria, como dois mundos de difícil conciliação. Tanto que o narrador é tomado por um profundo sentimento de solidão, como ele mesmo declara: "Vivi assim, sozinho, sem ninguém com quem verdadeiramente falar ..." De fato, parece que não encontrava com quem compartilhar sua vivência pessoal. Isto posto, era de se esperar que algo acontecesse. E logo o autor acrescenta: "...até que tive uma avaria no deserto do Saara, faz 6 anos"."Era uma questão de vida ou morte". Desta maneira inicia-se O Pequeno Príncipe, que Saint-Exupéry começou a escrever no verão de 1942 e que está baseado em um fato que lhe ocorrera seis anos antes, no Ano Novo de 1936. Naquela ocasião seu avião caiu no deserto, e "tanto o tanque de água quanto o tanque de combustível foram perfurados. Tínhamos por toda provisão uma laranja, algumas uvas passas, um quarto de litro de vinho branco num recipiente térmico, um pouco de café em outro". "Estávamos privados de água por destruição de nossas reservas e incapazes de nos localizarmos no deserto com uma margem de precisão de 300 quilômetros", de acordo com o que o próprio Saint-Exupéry descreve em relatório. Esteve quase quatro dias perdido até que foi encontrado por um beduíno. "Tinham visto miragens magníficas: oásis, camelos, cidades. Prévot, seu companheiro de aventura, tinha ouvido um galo cantar. Saint-Exupéry tinha visto em sua alucinação três cães que se perseguiam mutuamente".

Em 26 de abril de 1934 Saint-Exupéry ingressa na Air France como piloto. Já fora recusado no ano anterior.

Possuía uma tremenda energia posta a serviço de atividades muito dinâmicas e rápidas, que implicam em parte a ampliação de horizontes intelectuais ou vivenciais. Foi um pioneiro da aviação, que trabalhou fazendo correio aéreo em diversas partes do mundo, tendo aberto, inclusive, a primeira linha aeropostal da Patagônia. Era alguém com presunções aristocráticas ou de auto-importância, pois nosso herói procedia de família nobre e herdou o título de conde de seu pai, mas, nunca fez alarde disso.

Caracterizava-se por uma excessiva audácia, por um sentimento exagerado de confiança, levando às vezes a realizar atos imprudentes. De fato, seu biógrafo relata o contexto da realização da acidentada viagem. Apesar de sua situação econômica não andar muito boa, Exupéry não resistiu à tentação de comprar um avião, se bem que esperasse tirar proveito disso: o Ministério da Aeronáutica da França oferecia um prêmio de 150.000 francos a quem batesse o recorde de tempo no trajeto Paris-Saigon. Exupéry conseguiu inclusive que um periódico aceitasse publicar uma reportagem sobre o vôo. Mas sua situação econômica piorou tanto que não pôde pagar o aluguel do apartamento onde vivia com a esposa Consuelo, e ainda lhe cortaram a luz e o gás. "Nunca havia passado por uma situação semelhante. Não restava mais do que um modo de sair dela: bater o recorde Paris-Saigon".

"Saint-Exupéry se encontrava visivelmente num estado nervoso pouco propício para embarcar numa experiência fisicamente exaustiva".

Em 1935, tentado pela possibilidade de ganhar 150 mil francos, Saint-Exupéry se lança à corrida Paris-Saïgon. O desafio era ligar as duas capitais em menos de cinco dias e quatro horas. A partida acontece em 29 de dezembro. Em 30 de dezembro, às 2h45 da madrugada, a aeronave se espatifa ao atingir a crista de um planalto. Durante três dias o piloto e o mecânico Jean Prévot caminham pelo deserto, sofrendo de sede, até serem resgatadospor um beduíno.

Nestas condições empreendeu a aventura que quase o levou a morrer de sede no deserto. Sabemos, por Jung, que quando faltam estímulos exteriores, tal como ocorre num deserto, o inconsciente começa a produzir seus próprios conteúdos, que se extrovertem na tela de projeção vazia que é o próprio deserto. Daí aparecem as alucinações - miragens. Além disso, a ciência médica diz que as extremas condições decorrentes do calor excessivo do deserto e da falta de água, combinados, dão como resultado diversos sintomas físicos: disfunção neurológica, conduta psicótica, delírios e alterações mentais.

Imagino que O Pequeno Príncipe seja um produto tardio desta experiência.

"Estava mais isolado que um náufrago sobre uma balsa no meio do oceano. Imagine, pois, minha surpresa quando, ao romper o dia, despertou uma estranha vozinha que dizia: - Por favor... me desenhe um cordeiro!"

Como uma miragem, surgiu do deserto este homenzinho das estrelas. Desta maneira o inconsciente irrompeu como um fantasma.

Conforme Marie-Louise Von Franz, o homem que se identifica com o Puer Aeternus (Trata-se do nome de um deus da antigüidade. Procede da Metamorfose de Ovídio, onde se aplica ao menino-deus dos mistérios Eleusinos e, do ponto de vista da psicologia profunda de Carl Jung, representa um arquétipo relacionado com a mudança e a renovação) permanece muito tempo na psicologia adolescente "com uma dependência excessiva da mãe".

Jung diz: "o Puer Aeternus só tem uma vida breve, pois sempre é uma mera antecipação de algo desejável e desejado. Isto é tão real que certo tipo de menino mimado ostenta também in concreto as propriedades do adolescente divino que floresce prematuramente, e inclusive sucumbe de morte precoce". Recordemos que Saint-Exupéry morreu aos 44 anos. Sempre teve medo de ver-se colhido por uma situação da qual "poderia ser impossível escapar". Além disso, tinha "uma fascinação por esportes perigosos, especialmente o vôo e o alpinismo".

Seu pai morreu quando ele tinha quatro anos. Manteve pela vida inteira uma prolífica correspondência com a mãe que foi recolhida e publicada, em francês, em 1955. E Jung diz, em uma nota de pé de página, que "o complexo materno deste autor foi abundantemente confirmado por informação de primeira mão".

N'O Pequeno Príncipe, diz o narrador: "tenho sérias razões para pensar que o planeta de onde vem O Pequeno Príncipe é o asteróide B612"

A grande maioria dos asteróides descobertos até agora está numa região exatamente entre as órbitas de Marte e Júpiter.

Na verdade não existe um asteróide B612, mas sim o 612, cujo nome é Verônica, um nome de mulher, e, além disso, é também uma planta herbácea de flores azuis.

Na obra, o Pequeno Príncipe tem uma relação intensa com uma flor que "havia germinado de uma semente trazida de sabe-se lá onde"- de outro planeta? Na carta de Saint-Exupéry, o significado etimológico desta última palavra é "não lugar". Podemos relacionar a flor com uma Vênus que vem de um não lugar. Isto se vê também em indivíduos com pouco enraizamento na Terra, cuja consciência está em algum não lugar fora da terra, ou seja, extraterrestre. As oposições se manifestam, geralmente, como o que em psicologia se chama projeção, quer dizer, o ver em outra pessoa características que nos são próprias, sejam estas consideradas boas ou más.

A flor se comportava de uma maneira muito coquete, deixando o Pequeno Príncipe fascinado por sua beleza. Mas em pouco tempo a flor já o chateava com seguidas exigências: um dia lhe pediu um biombo porque "sentia horror às correntes de ar", e inclusive forçou a tosse para lhe infligir remorsos. Típica manipulação emocional do tipo materno negativo que tem por finalidade obter a submissão do eu de nosso pequeno herói, impedindo sua maturação. Uma consciência masculina com uma anima, ou seja, com um fundo anímico deste tipo ficaria sempre envolta nesses caprichos "femininos", com duas possibilidades: ou se identifica com eles, configurando uma possível homossexualidade, ou os abandona em busca de uma nova oportunidade. Ambas as possibilidades descritas ainda mantêm a consciência masculina muito perto do complexo materno.

Nosso homenzinho parte, abandonando a flor e o planeta. É como se seu amor frustrado lhe tivesse servido de incentivo para afastar-se do lar e chegar finalmente à Terra.

A flor, para Novalis, é símbolo do amor e da harmonia que caracterizam a natureza primitiva. Identifica-se com o simbolismo da infância e de certo modo com o estado Edênico. Essa flor, como o feminino que há nele, embora ainda muito apegado à mãe. Segundo Jung, a figura do arquétipo da Anima emerge do arquétipo Mãe, e analisando a carta do Saint-Exupéry vemos que é um reflexo de sua psicologia pessoal.

Mas a flor não é apenas símbolo do feminino, é também do renascimento primaveril e da totalidade em sua manifestação plena, ou seja, o que Jung chamaria o Si mesmo, e nesta história funciona como um indicador do processo por desenvolver.

O asteróide 325 leva o nome de Heidelberga (30) faz referência à cidade alemã de Heidelberg, conhecida por ter a universidade mais antiga deAlemanha, imortalizada na opereta de Sigmund Romberg intitulada O príncipe estudante. Na obra, o Pequeno Príncipe corresponde a um reino sem súditos e coincidiria com o momento em que o puer percebe que é rei de um mundo solitário que não tem contato com a realidade.

Svea, o asteróide que corresponde ao faroleiro, que acende o farol cada vez que o sol se põe e o apaga em cada amanhecer. O habitante deste diminuto planeta parece que é o encarregado de iluminar a noite - a luz da consciência, o que indica uma pequena esperança para nosso Pequeno Príncipe. É digna de nota a aceleração do processo, já que a duração do dia deste asteróide vai-se acelerando até chegar a um dia por minuto terrestre. Provavelmente terei que pensar na circulação da luz, e citando Jung, "psicologicamente, esse curso circular seria um dar voltas em círculo em torno de si mesmo, com o que evidentemente ficam implicados todos os aspectos da personalidade.

Outra questão importante neste asteróide é que o faroleiro é o primeiro que faz algo que não é para ele, como observa o próprio Pequeno Príncipe.Possivelmente o faroleiro só se põe a serviço de uma finalidade superior, que para Jung seria o Si mesmo, coisa que ainda não pode fazer, por exemplo, na etapa do homem de negócios, que pretende apropriar-se do que pertence à totalidade (as estrelas).

Por último, antes de chegar à Terra, faz uma parada no asteróide Adalberto, onde encontra um Geógrafo, etimologicamente alguém que desenha a Terra.

Agora passarei a falar do simbolismo da escada, ou da escala, como diz o Dicionário dos Símbolos de Chevalier. "Os diferentes aspectos do simbolismo da escada se reduzem ao único problema das relações entre céu e terra" A escada pode ser esculpida em uma árvore, na rocha, ou também pode ser de matéria aérea, como o arco-íris; ou de ordem espiritual, como os degraus da perfeição interior. Mas a escada pode igualmente ser utilizada pela divindade para descer do céu à terra", e neste sentido é um instrumento das epifanias divinas, mas também veículo de encarnação das almas. "No Timor Leste, o Senhor Sol, divindade suprema, baixa uma vez ao ano a uma figueira para fecundar sua esposa, a Terra Mãe".

Os xamãs siberianos sobem ao céu e voltam a descer por uma bétula com sete entalhes (ou 9 ou 12), a escada de Buddha tem sete cores, a escala dos mistérios mitraicos sete metais, a escada de Jacob, por onde sobem e baixam os anjos, etc, são diferentes exemplos do sentido da escala ou escada na história religiosa mundial; e não esqueçamos, que nosso Pequeno Príncipe baixou sua escada de 6 asteróides e planetas, chegando à Terra, como sétimo.

Por último transcrevo uma tradução de um texto de Macróbio, um platônico latino do século IV, Comentário a um Sonho de Cipião: "A alma, ao começar seu movimento descendente desde a intercessão do zodíaco com a Via Láctea até as esferas sucessivas inferiores, ao cruzar estas esferas, não apenas adota o envoltório de cada uma das esferas, aproximando-se de um corpo luminoso, mas também adquire cada um dos atributos que exercitará mais tarde, ou seja: na esfera de Saturno adquiriria a razão e a compreensão...; na esfera de Júpiter, a capacidade de atuar...; na esfera de Marte, um espírito intrépido...; na esfera do Sol, a percepção dos sentidos e a imaginação...; na esfera de Vênus, o impulso passional; na esfera de Mercúrio, a capacidade de falar e de interpretar...; e na esfera da Lua, a capacidade de semear e de cultivar corpos...".

Como poderíamos interpretar, do ponto de vista psíquico, esta viagem interplanetária, ou mais exatamente, inter-asteróides? Para isso deveremos rever as teorias astronômicas que tratam da origem destes diminutos corpos celestes.

Há duas teorias sustentadas pelos astrônomos:

A primeira diz que seriam o resultado da fragmentação de um antigo planeta, pois segundo uma tese astronômica, deveria haver um planeta entre Marte e Júpiter. A segunda, que seriam porções de matéria cósmica que nunca teria chegado a formar um corpo celeste maior. Estas duas possibilidades enfatizam a polaridade integração-desintegração, que, se interpretada simbolicamente do ponto de vista psíquico, tem, como já veremos, sérias conseqüências, inclusive para nosso tema.

Assim como se considera em astrologia que o Sol é a fonte primária da energia que o restante dos planetas reflete, na psique humana existem fragmentos que são chamados complexos que formam parte do que, para Jung, é o inconsciente pessoal. Estes complexos são conglomerados de tonalidade afetiva, quer dizer, são como centros de força que atraem certo tipo de experiências. Assim se pode falar do complexo materno, do paterno ou de um complexo de poder, etc. Os planetas, segundo este ponto de vista, podem ser entendidos como complexos.

O objetivo do trabalho terapêutico seria a integração à consciência destes fatores inconscientes, que tendem a ter certa autonomia. Os asteróides, neste contexto, podem ser entendidos da mesma maneira, quer dizer, como aspectos cindidos a serem integrados na consciência.

O Pequeno Príncipe, através da viagem para a Terra, no processo encarnatório, foi encontrando seus diferentes complexos.

E Saint-Exupéry, o autor, já vimos que era conde, nascera na cidade de Lyon, pertencia a uma família nobre de província que descera na escala social, embora conservasse algumas propriedades familiares, mas seu pai trabalhava para uma companhia de seguros. Aqui vislumbramos possivelmente o rei sem súditos do primeiro asteróide. Saint-Exupéry não só escreveu O Pequeno Príncipe, mas também elaborou mais três novelas, além de muitos artigos e cartas. Em 1939 recebeu o prêmio da Academia Francesa de melhor novela do ano por Terra de Homens, e no mesmo ano recebeu o National Book Award do EUA por obra de não ficção.

Em todas as suas obras e cartas expressa um elevado nível de idéias, com um exacerbado idealismo que se manifesta também em artigos jornalísticos e como correspondente de guerra na Espanha, nas épocas mais sombrias daquele país. E apesar de ter combatido como piloto de guerra no exército aliado, ter participado de mil aventuras, haver-se comprometido politicamente nas difíceis horas da França ocupada, continuava tendo um irrefreável desejo de vôo. Diz em uma carta de 1944, o ano de sua morte: "Faço a guerra o mais profundamente possível. Sou, por certo, o decano dos pilotos de guerra do mundo... Vi de tudo desde minha volta à esquadrilha. Conheci as avarias da máquina, o desmaio por vazamento do tanque de oxigênio, a perseguição por caças, e também o incêndio em vôo. Pago bem. Não sou avaro, e me sinto um carpinteiro são. É minha única satisfação. E também passear em vôo solitário, somente eu e meu avião, durante horas sobre a França, tirando fotografias. É uma coisa estranha."

Na mesma carta diz mais adiante algo que é como a confissão do rei sozinho, e que além disso é quase um preâmbulo da aparição do jovem das estrelas na obra O Pequeno Príncipe: "Não tenho ninguém, nunca, com quem falar. Isso já é alguma coisa. Tinha com quem viver (refere-se à separação de sua esposa), mas que solidão espiritual!!"

Ou seja, havia vivências ou formas de pensar ou de entender o mundo que Saint-Exupéry não encontrava com quem compartilhar, um mundo como o daquele rei aquariano a que fizemos referência.

É difícil dizer se realmente nosso escritor deu materialidade à vida, como sugere a simbólica da escada cósmica, ou na realidade concretizou o processo inverso de espiritualização ou de busca espiritual, que, em sua forma mais concreta, levou-o a morte.

E aqui podemos ver o que acontece com o Pequeno Príncipe: ele volta para seu asteróide fazendo-se picar por uma serpente do deserto. Textualmente: "Parecerá que sofro... parecerá um pouco que morro". Também: "Parecerá que morri, e não será verdade..." e ainda: "é muito longe. Não posso levar meu corpo ali. É muito pesado."

Parece que nosso Pequeno Príncipe desejava voltar para o lugar de onde veio, e sem o corpo, quer dizer, em espírito.

E Saint-Exupéry também tinha esse desejo espiritual irrefreável que leva certas almas a desdenhar a vida corpórea, pondo-a em perigo, para poder viver uma vida mais alta, uma vida espiritual.

Não devemos vasculhar apenas a psicologia pessoal do escritor para compreender-lhe a obra artística: temos que compreender também que mensagem coletiva deve manifestar, e que relação tem o conteúdo da obra com a consciência de sua época.

Se existe algo que seja característico deste personagem, é sua ingenuidade, esse dom antigo que faz pensar no paraíso, no "pastarão juntos o leão e o cabrito" da Bíblia. O Pequeno Príncipe é um ser que nos remete ao princípio, ao paraíso terrestre original, razão pela qual, ao voltar a seu asteróide, é picado por uma serpente, que é como o ouroboros da alquimia, a serpente que morde a própria cauda, que é a roda interminável da origem sempre voltando para si mesma, e assim se fazendo eterna. Por outro lado a serpente também pode ser a astúcia da terra que nos pica, e esta é outra vertente do mesmo símbolo.

Tais características são evidentes no livro desde o começo, e em meu entender são o motor que nos faz lê-lo uma e outra vez com esse prazer, digamos, infantil.

No nível coletivo, O Pequeno Príncipe funciona como um balde de água fresca no meio do deserto humano da Segunda Grande Guerra (recordemos que foi escrito em 1942). Aqui nos referimos ao aspecto positivo do puer aeternus, que é essa capacidade de estar perto da fonte da vida, como os meninos, o que exerce um efeito rejuvenescedor sobre as pessoas que encarnam o arquétipo oposto, o senex, modelo do esgotado e do que chegou ao fim (o deserto). Este é um exemplo possível de como expressar a polaridade Mercúrio-Saturno.

Em segunda instância, O Pequeno Príncipe é um extraterrestre, vem de outro planeta. E é sabido que em 1942, época em que esta encantadora história começou a ser escrita, começaram a proliferar as notícias de OVNI, cuja quantidade aumenta grandemente após o fim da guerra (Segunda Guerra Mundial).


Segundo Jung, que também se ocupou deste tema, embora, naturalmente, considerando-o como fenômeno psíquico, durante a Segunda Guerra Mundial foram observados na Suécia misteriosos projéteis, que se supunha terem sido inventados pelos russos; também luzes que acompanhavam os aparelhos de bombardeio aliados, em suas incursões à Alemanha; logo se seguiram as profusas observações de pós-guerra nos EUA, até chegar ao conhecido caso Adamsky, em 1952, que disse ter viajado à Lua em uma nave tripulada por venusianos. Jung estima que os OVNIs ou "discos voadores" são objetos de estrutura mandálica, de forma circular ou esférica - embora haja também com forma de "charutos", quer dizer, cilíndricos -; e que têm a propriedade de irradiar luz intensa de diferentes cores.


Fonte
Constelar on Line Edição 108 :: Junho/2007 .
Um Pequeno Príncipe entre Marte e Júpiter. Ricardo D. Coplán
http://www.constelar.com.br/

domingo, 22 de junho de 2008

Notícias Rápidas

Arroubos Poéticos, de Edival de Moraes Blagitz
Experiências, alegrias, amores, homenagens, saudades e sentimentos humanos. Sem rodeios ou meias-palavras, "Arroubos Poéticos" apresenta a visão particular e original de Edival de Moraes Blagitz. A linguagem simples e a liberdade com que compõe seus versos, leva o autor a um nível de grande intimidade com o leitor, tornando-o, se não um amigo, um bom companheiro de conversas, ao longo das páginas, ao pé do ouvido.
Edival de Moraes Blagitz - Tel. (15) 3234-8451 / (15) 3013-8013
http://www.crearte.com.br/index.htm
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Memórias de um autêntico amazônida - Tião Maia
Professor de literatura da Universidade do Amazonas e da Universidade da Califórnia, em Bekley (EUA), Milton Hatoum, nascido em 1952, em Manaus (AM), estreou como autor em 1989, com o romance “Relato de um Certo Oriente”. Em seguida vieram “Dois Irmãos”, “Cinzas do Norte” e agora o recém-editado “Órfãos do Eldorado”, todos recebidos com entusiasmo pela crítica e muito prêmios. Um dos grandes escritores brasileiros da atualidade, publicado em mais de dez países.
http://www2.uol.com.br/pagina20/22062008/cot0222062008.htm
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Elas perguntam, Martha Medeiros responde
O Projeto Literário do Colégio Mutirão Objetivo, denominado Encontro do Escritor com o Aluno, é uma iniciativa que visa aproximar os alunos da literatura. Primeiramente, os alunos estudam as obras e a vida do escritor selecionado. Num segundo momento, eles recebem a visita do autor. Semana passada, a escola recebeu a escritora Martha Medeiros. Aos 46 anos, ela passa à platéia uma jovialidade de dar inveja. Logo no início do encontro, a cronista também se revelou uma pessoa descontraída.
http://www.clicrbs.com.br/kzuka/jsp/home.jsp?secao=detalhe&localizador=Kzuka/kzuka/Caxias%20do%20Sul/Kzuka+vai+Fundo/25539§ion=Reportagens
(VEJA REPORTAGEM ABAIXO)
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Inquérito sobre o Saci-Pererê
No dia 25 de janeiro de 1917,o eminente escritor paulista Monteiro Lobato propôs a abertura de inquérito sobre a existência do Saci-Pererê. Através do jornal "O Estado de São Paulo", deu início a sua campanha, pedindo aos leitores que enviassem cartas contando suas experiências (ou informações) sobre o mito do Saci-Pererê. Esse material rendeu o livro "O Sacy-Pererê, resultado de un inquérito". Lobato propunha que as histórias enviadas respondessem a três questões:
1) sobre a concepção pessoal do Saci; como o recebeu na sua infância; de quem recebeu; que papel representou tal crendice na sua vida etc...
2) qual a forma atual da crendice na zona em que reside.
3) que histórias e casos interessantes, "passados ou ouvidos" sabe a respeito do Saci.
No dia 08 de janeiro de 2006, o historiador e folclorista Carlos Carvalho Cavalheiro propôs, através de convites por e-mails, a reabertura do Inquérito sobre o Saci-Pererê e sugeriu que as histórias fossem enviadas e que, de alguma forma, publicadas (no molde do primeiro Inquérito) num só volume, no dia 25 de janeiro de 2007, quando se comemorará 90 anos de Inquérito sobre o Saci!
“Proponho, ousadamente, a reabertura do Inquérito. Já recebi algumas respostas. A idéia é que, de alguma forma, esses causos sejam publicadas num só volume, no dia 25 de janeiro de 2007, quando se comemorará 90 anos de Inquérito sobre o Saci”, explica Cavalheiro.
Os interessados podem mandar suas histórias para o e-mail: saci@crearte.com.br
O objetivo é recolher as histórias sobre o Saci que ainda povoam o imaginário das pessoas. Será um diagnóstico sobre como, noventa anos depois, o imaginário popular lida com a figura do Saci, um dos grandes mitos populares”, explica o pesquisador sorocabano.
Conheça algumas histórias sobre o saci em http://www.crearte.com.br/saci.htm
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O que é o Roda Mundo e como ele surgiu?
O Roda Mundo é uma Antologia Internacional que tem um caráter globalizado por contar com a participação de autores dos cinco continentes, numa integração da comunidade lusófona e também espanhola. A obra reúne crônicas, contos, poemas, ensaios e textos em português, inglês, italiano e espanhol, montando assim um panorama dos diferentes estilos, tendências, culturas e maneiras de enxergar o mundo, por meio da palavra impressa.
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4ª Semana do Escritor
Roda Mundo e Rodamundinho serão lançados em julho
O Rodamundinho é uma antologia infanto-juvenil idealizada que reúne textos de jovens de sete a 15 anos.
http://www.itu.com.br/noticias/detalhe.asp?cod_conteudo=14109

Fonte:
Douglas Lara em http://www.sorocaba.com.br/acontece

Martha Medeiros

Nasceu em Porto Alegre e se formou em Comunicação Social. Trabalhou muitos anos como publicitária, até iniciou carreira literária. Como poeta, lançou os seguintes livros: Strip-Tease (1985), Meia-Noite e Um Quarto (1987), Persona Non Grata (1991), De Cara Lavada (1995), Poesia Reunida (1999) e Cartas Extraviadas e Outros Poemas (2001). Destes, só os últimos dois seguem sendo comercializados. Todos foram editados pela L&PM, com exceção do primeiro, o Strip-Tease. (www.lpm.com.br).

Em 1995 lançou seu primeiro livro de crônicas pela editora Artes e Ofícios, chama-se Geração Bivolt e é uma raridade até em sua casa, "acho que devo ter apenas um exemplar escondido em alguma prateleira". Totalmente fora de catálogo.

Em 1996 lançou o guia Santiago do Chile, Crônicas e Dicas de Viagem, que relata sua experiência de oito meses vivendo na capital chilena. Já foi atualizado várias vezes e deve sair nova atualização ainda neste inverno. É da Artes & Ofícios também.

O segundo livro de crônicas foi o Topless, de 1997, que ganhou o Prêmio Açorianos de Literatura, e depois dele vieram Trem-Bala (1999), Non-Stop (2001), Montanha-Russa (2003, também ganhou o Prêmio Açorianos e ficou em segundo lugar no Prêmio Jabuti) e o Coisas da Vida (2005). Todos L&PM.

Tem um livro infantil chamado Esquisita como Eu, lançado pela Editora Projeto e com ilustrações da Laura Castilhos. "Um dia vou escrever de novo para crianças".

Na ficção, o primeiro foi o Divã, lançado pela editora Objetiva, do Rio. "Vendeu muito, virou peça de teatro com a Lilia Cabral no papel principal e em breve estará no cinema: já foi filmado, agora está em fase de montagem e sonorização. Lilia fará o papel de novo, e se cercou bem, olha só o casting masculino: José Mayer, Reynaldo Gianechini, Cauã Reymond... A direção é do José Alvarenga, o mesmo que dirigiu "Os Normais"".

Depois veio Selma e Sinatra, um livro em que exercitou a criação de diálogos, gostou muito de escrevê-lo, mas não teve grande repercussão.

E, por fim, Tudo Que Eu Queria Te Dizer, o livro de cartas fictícias que lançou no final do ano passado e que está indo superbem, com ótima aceitação. Acaba de ser lançado na Itália. O Divã também fez carreira internacional, foi lançado na França, Suiça, Portugal, Itália e Espanha.

São 18 livros até aqui. Em agosto estará lançando outra coletânea de crônicas. Enquanto isso, segue escrevendo todas as quartas e todos os domingos no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, e também aos domingos no Jornal de Santa Catarina e no Globo. Faz colaborações eventuais para revistas, assim como assina uma coluna bimestral na Estilo Zaffari, publicada aqui no sul, mas com distribuição em São Paulo também.

Nas horas vagas, grava entrevistas, responde e-mails, participa de Feiras e Bienais, visita escolas no interior e, segundo ela, ainda sobra tempo pro lazer! "Até porque não separo uma coisa da outra, gosto tanto do meu trabalho que me sinto permanentemente em férias. É uma questão de estado de espírito".

Fontes:
http://www.clicrbs.com.br/blog/jsp/default.jsp?source=DYNAMIC,blog.BlogDataServer,getBlog&pg=1&template=3948.dwt&tipo=1§ion=Blogs&p=1&coldir=2&blog=255&topo=3994.dwt&uf=1&local=1 Foto: Ricardo Wolffenbüttel
Montagem da foto: José Feldman

Martha Medeiros no Encontro do Escritor com o Aluno (RS)

O Projeto Literário do Colégio Mutirão Objetivo, denominado Encontro do Escritor com o Aluno, é uma iniciativa que visa aproximar os alunos da literatura. Primeiramente, os alunos estudam as obras e a vida do escritor selecionado. Num segundo momento, eles recebem a visita do autor. Semana passada, a escola recebeu a escritora Martha Medeiros. Aos 46 anos, ela passa à platéia uma jovialidade de dar inveja. Logo no início do encontro, a cronista também se revelou uma pessoa descontraída.

- Eu não faço palestras. Vim aqui para um bate-papo! - ressaltou.
Foi nesse clima de descontração que ocorreu o encontro, no auditório da Faculdade da Serra Gaúcha, lotado de jovens ansiosos por uma resposta para as suas perguntas. Como o objetivo do encontro era aproximar os jovens da escritora, o Kzuka selecionou três gurias do Objetivo para fazer perguntas à gaúcha. Mas antes confira os principais momentos do bate-papo da escritora com os alunos!

Mulheres X Homens
- Eu não sou representante do universo feminino. Pelo contrário, não quero esse estigma. Já acabou há muito tempo essa linha que dividia os assuntos entre para homens e para mulheres. Nós já ultrapassamos essa segmentação. Hoje em dia, mulher lê sobre futebol e homens lêem sobre os filhos. Eu escrevo pra todo mundo.

Inspiração
- Pra mim, escrever é muito fácil. Principalmente quando sei sobre o que quero falar. O problema é que hoje em dia existem muitos cronistas e todo mundo comenta sobre tudo. Então, como ser realmente original nesse mundo? Eu optei por ser trivial e falar das pequenas coisas do cotidiano que nos interessam muito. Tudo o que eu vejo, um filme, um show, até o papo com alguma amiga, serve de inspiração. Enfim, eu dou o meu chute em todas as áreas.

- É importante ter uma vida regrada, mas é mais importante seguir o nosso interior.

Eu, tu, eles...
- Eu tenho muita dificuldade de escrever na 3ª pessoa. Eu adoro me colocar no lugar do outro. Acho que é aí que eu ganho a empatia dos meus leitores.

Divã
- O livro Divã foi uma surpresa. Ele virou moda entre os cariocas, principalmente depois que saiu uma nota falando que o Antônio Fagundes tinha adquirido um para presentear uma 'amiga'... A atriz Lilia Cabral adorou a história e resolveu adaptá-la para o teatro. Após dois anos em cartaz, o diretor José Alvarenga achou que a história poderia virar um filme. A produção é cheia de atores globais como o Reynaldo Gianecchini e o Cauã Reymond. Eu não vi nada ainda e estou superansiosa.

Metas
- Nunca tive metas muito exóticas, elas sempre foram alcançáveis. Meu desejo mais ousado sempre foi viajar muito e, sempre que posso, faço isso. Meu principal desejo é poder continuar... continuar viajando, escrevendo, amando...

Educação
- Às vezes, temos que dizer não para os filhos. Se eles querem crescer, eles precisam aprender a se frustrar.

Três Desejos
Virgínia Maffei, 15, aluna do 1º ano, não conhecia a obra da autora antes de ler No Stop, indicação da professora do colégio.
- Adorei. Ela fala o que a gente pensa, mas não conseguimos expressar. Me identifico com o que ela escreve.

A pergunta da Virgínia: Se Deus parasse na tua frente e lhe concedesse três desejos, quais seriam?
- Nossa! Eu cairia estatelada (risos). Três pedidos é muita coisa. É muito bom chegar no estágio em que eu cheguei e ter realizado tudo o que eu queria. Agora, o que vier é lucro. Também acho que as coisas pequenas são as mais fundamentais. Mas se eu tivesse que fazer três pedidos, por primeiro, pediria pra continuar as coisas como estão. Em segundo lugar, pediria saúde por muito tempo. Por último, faria um pedido que fizesse o bem pra toda a humanidade, como ter mais paz no mundo.

Bichos de Pelúcia
Bruna Milani, 16, é aluna do 2º ano e gosta do feminismo da autora.
- Só não gostei da crônica Bichos de Pelúcia... não tem sentido o que ela falou no texto, porque eu posso ter 16 anos e ainda possuir bichos de pelúcia no quarto sem ser imatura.

A pergunta da Bruna: Por quê você condena o fato de as pessoas mais velhas terem bichos de pelúcia?
- Essa crônica rendeu uma repercussão que não esperava. Centenas de cartas chegaram ao jornal pedindo a minha demissão, e eu recebi uma enxurrada de e-mails me criticando. A inspiração surgiu quando vi um clipe de uma cantora seminua cantando abraçada à um ursinho de pelúcia. Acabei escrevendo sobre essa loucura, era apenas um deboche. A idéia era mostrar que as pessoas precisam fazer um rito de passagem, amadurecer. Mas diante de tantas críticas, fui falar com um psicólogo. Ele me fez entender que estamos vivendo num mundo tão violento, que possuir ursos de pelúcia é uma forma de manter a inocência a que ele remete. Aí, fiz uma segunda crônica falando disso... Mas ainda acredito que a gente precisa saber amadurecer. Acho a vida adulta infinitamente mais legal!

Dicas para viver melhor
Nicole Panata, 16, aluna do 3º ano, adora ler Martha Medeiros. Ela sempre acompanha as crônicas da autora no caderno Donna, da Zero Hora.
- É impossível não se identificar com os assuntos que ela escreve. A Martha faz a gente refletir e, independentemente da idade, sempre há algo das crônicas dela que podemos usar no dia-a-dia. Gosto dela porque é uma autora sem papas na língua. Ela tem as opiniões parecidas com as minhas...

A pergunta da Nicole: As tuas crônicas me passam grandes ensinamentos. Você os utiliza no seu dia-a-dia?
- Gostaria de esclarecer que eu não pretendo fazer a cabeça de ninguém, só espero que as pessoas pensem. Mas eu sigo o que eu escrevo, eu sou assim. Às vezes, eu paro, me olho e me questiono. Porque uma coisa é a teoria e outra, a prática. Costumo dizer que felicidade é uma mistura de sorte com escolhas bem_feitas. Por isso, procuro aproveitar.

Fontes:
Elas perguntam, Martha Medeiros responde. Artigo publicado por Roberta Rech em 20/06/2008.
http://www.clicrbs.com.br/kzuka/jsp/home.jsp?secao=detalhe&localizador=Kzuka/kzuka/Caxias%20do%20Sul/Kzuka+vai+Fundo/25539§ion=Reportagens
Foto: Ricardo Wolffenbüttel
Montagem da foto: José Feldman

Música e literatura unidas pela mesma causa (Entrevista com Thedy Correa)

Nos mais de 20 anos de carreira, 12 CDs foram lançados e cerca de 150 músicas foram compostas pelos porto-alegrenses do Nenhum de Nós. A sintonia no palco continua a mesma de 1986, quando os caras se reuniram pra montar a banda.

Convidado especial do evento Arte e Som, realizado na semana passada pelos acadêmicos de Relações Públicas da UCS, o vocalista Thedy Corrêa esteve em Caxias pra conversar com os alunos de comunicação e falar de algumas experiências vivenciadas durantes todos esses anos no mundo musical.

Antes de subir ao palco do UCS Teatro, Thedy bateu um papo descontraído com o Kzuka. Sentado ao lado do exemplar de Bruto, seu livro lançado em 2006, o músico contou sobre a transição de leitor pra escritor e de como os universos da música e da literatura se encontram.

Confira abaixo alguns trechos da conversa:

Kzuka - Tu começaste com a música há muito tempo e agora está transitando no universo da literatura. Tu achas que essas duas artes se encontram e tem a ver uma com a outra?

Thedy - Eu comecei primeiro na música. Já lancei mais de 10 discos, e esse tá sendo meu primeiro livro. Mas a literatura começou na minha vida antes da música. Eu sempre fui um leitor ávido. E sempre usei muito a literatura como instrumento pra tocar minha vida adiante. Tem livros que foram determinantes pra eu ser o que sou e pensar da forma que penso. Então, daí pra frente, sempre pensei que um dia eu poderia fazer um livro. E o Bruto foi o primeiro de uma série que eu espero que sejam muitos.

Kzuka - Tu lembras quais são os livros que mais te marcaram nessa tua formação?

Thedy - Eu lembro do On The Road (Pé na Estrada) do Jack Keroauc. Esse foi um livro que “abriu minha cabeça”, realmente. Eu nunca esqueci o primeiro livro que li, As Aventuras de Tibicuera, do Erico Verissimo. E outro livro importante pra mim foi Pergunte ao Pó, do John Fante. Tem outros, claro. Morangos Mofados, do Caio Fernando Abreu, por exemplo. A lista é grande.

Kzuka - Como foi dar esse salto de leitor pra escritor?

Thedy - Eu sempre escrevi bastante pro Nenhum de Nós. E muito disso vai sendo guardado e chega uma hora que tu pensa “pô, vai deixar guardado pra sempre? Ou vai fazer alguma coisa com isso?”. Resolvi pegar essas coisa que eu tinha guardado e transformar em um livro. Foi um processo natural. São poemas que seriam cantados e agora vão ser lidos. De repente até podem ser transformados em letras de música.

Kzuka - Então, é um universo parecido entre a música e a literatura, não?

Thedy - Gostaria que fosse mais parecido. Queria que as pessoas que gostam e ouvem música lessem também. No Brasil isso é complicado, né. O público de literatura não é muito forte. Eu acho que quem lê gosta de música, mas nem todo mundo que gosta de música, gosta de ler.

Kzuka - Tanto a música quanto a literatura tem a ver com comunicação. Tu te comunicas utilizando essas artes?

Thedy - Eu acho que sim. É uma ferramenta que uso pra me comunicar. Um instrumento que uso pra ajudar as outras pessoas a se comunicar. Acho que a música tem essa capacidade. Por isso que acho tão importante o papel de um músico e de uma banda.

Kzuka - A música influencia as pessoas...

Thedy - Eu tenho certeza que isso acontece. O que escrevemos é ouvido por muitas pessoas que assimilam tudo. Aliás, essa é a idéia. A música passa a fazer sentido pras pessoas de uma maneira que elas colocam em prática na vida. Não tenho dúvida de que a música é um instrumento de comunicação.

Kzuka - E qual a música do Nenhum de Nós que ainda te arrepia, faz tu obteres uma comunicação contigo mesmo?

Thedy - Você Vai Lembrar de Mim, é uma das campeãs da história do Nenhum. Foi uma música que passou por um momento de inspiração. Imaginei uma situação que acontece com algumas pessoas e a partir disso escrevi a letra. Eu achava que a música nem iria ter o sucesso que teve. Compus e quando fomos lançar um dos discos eu nem tinha mostrado ainda pra banda e depois apresentei ela: "olha, tenho uma música aqui, não sei se vocês vão gostar". Aí toquei ela pros guris e eles falaram: "tu tá louco? Essa música já está incluída no disco”.

Kzuka -Vocês estão há muitos anos na estrada, sempre com a mesma formação e sintonia, né. Qual o segredo?

Thedy - Eu costumo dizer que isso é a fé no que a gente faz. Acreditamos que estamos produzindo boa música. E cada vez que subimos no palco temos a energia renovada. Se a gente fizesse como se fosse um trabalho qualquer não existiria motivação pra continuar. Música tem que ter um componente emotivo pra ser transmitido no palco.

Kzuka - Qual o maior amadurecimento da banda ao longo de todos esses anos?

Thedy - Acho que é musical e pessoal. Nosso amadurecimento como artista é muito grande. Estamos cantando melhor, compondo melhor.

Kzuka - Daqui pra frente, o que esperar do Nenhum de Nós?

Thedy - A idéia é continuar escrevendo boas canções.

Fontes:
artigo de Marcelo Andrighetti. Publicado em Caxias 06/04/2008
http://www.clicrbs.com.br/kzuka/jsp/home.jsp?secao=detalhe&localizador=Kzuka/kzuka/Caxias%20do%20Sul/Kzuka+vai+Fundo/12771§ion=Reportagens
Foto: Daniela Xu
Montagem da foto: José Feldman