sexta-feira, 25 de julho de 2008

Lima Barreto (Foi Buscar Lã...)

A sua aparição nos lugares do Rio onde se faz reputação, boa ou má, foi súbita.

Veio do Norte, logo com a carta de bacharel, com solene pasta de couro da Rússia, fecho e monograma de prata, chapéu-de-sol e bengala de castão de ouro, enfim, com todos os apetrechos de um grande advogado e de um sábio jurisconsulto. Não se podia dizer que fosse mulato; mas também não se podia dizer que fosse branco. Era indeciso. O que havia nele de notável era o seu olhar vulpino, que pedia escuridão para brilhar com força; mas que, à luz, era esquivo e de mirada erradia.

Aparecia sempre em roda de advogados, mais ou menos célebres, cheio de morgue tomando refrescos, chopes, mas pouco se demorando nos botequins e confeitarias. Parecia escolher com grande escrúpulo as suas relações. Nunca se o viu com qualquer tipo aboemiado ou mal vestido. Todos os seus companheiros eram sempre gente limpa e de vestuário tratado. Além do convívio das notabilidades do bureau carioca, o doutor Felismino Praxedes Itapiru da Silva apreciava também a companhia de repórteres e redatores de jornais, mas desses sérios, que não se metem em farras, nem em pândegas baratas.

Aos poucos, começou a surgir seu nome, subscrevendo artigos nos jornais diários; até, no Jornal do Comércio, foi publicado um, com quatro colunas, tratando das "Indenizações por prejuízos resultantes de acidentes na navegação aérea" As citações de textos de leis, de praxistas, de. comentadores de toda a espécie, eram múltiplas, ocupavam, em suma, dois terços do artigo; mas o artigo era assinado por ele: doutor Felismino Praxedes Itapiru da Silva.

Quando passava solene, dançando a cabeça como cavalo de coupé de casamento rico, sobraçando a rica pasta rabulesca, atirando a bengala para adiante muito para adiante, sem olhar para os lados, havia quem o invejasse, na Rua do Ouvidor ou na avenida, e dissesse: — Este Praxedes é um " águia" ! Chegou noutro dia do Norte e já está ganhando rios de dinheiro na advocacia! Esses nortistas...

Não havia nenhuma verdade nisso. Apesar de ter carta de bacharel pela Bahia ou por Pernambuco; apesar do ouro da bengala e da prata da pasta; apesar de ter escritório na Rua do Rosário, a sua advocacia ainda era muito "mambembe". Pouco fazia e todo aquele espetáculo de fraques, hotéis caros, táxis, cock-tails, etc., era custeado por algum dinheiro que trouxera do Norte e pelo que obtivera aqui, por certos meios de que ele tinha o segredo. Semeava, para colher mais tarde.

Chegara com o firme propósito de conquistar o Rio de Janeiro, fosse como fosse. Praxedes era teimoso e, até, tinha a cabeça quadrada e a testa curta dos teimosos; mas não havia na sua fisionomia mobilidade, variedade de expressões, uma certa irradiação, enfim, tudo o que denuncia inteligência.

Muito pouco se sabia dos seus antecedentes. Vagamente se dizia que Praxedes fora sargento de um regimento policial de um Estado do Norte; e cursara como sargento a faculdade de Direito respectiva, formando-se afinal. Acabado o curso, deu um desfalque na caixa do batalhão com a cumplicidade de alguns oficiais, entre os quais, alguns eram esteios do situacionismo local. Por único castigo, tivera baixa do serviço, enquanto os oficiais lá continuaram. Escusado é dizer que os " dinheirosa" com que se lançava no Rio, vinham em grande parte das " economias lícitas do batalhão tal da força policial do Estado".

Eloqüente a seu modo, com voz cantante, embora um tanto nasalada, senhor de imagens suas e, sobretudo, de alheias, tendo armazenado uma porção de pensamentos e opiniões de sábios e filósofos de todas as classes, Praxedes conseguia mascarar a miséria de sua inteligência e a sua falta de verdadeira cultura, conversando como se discursasse, encadeando aforismas e foguetões de retórica.

Só o fazia, porém, entre os colegas e repórteres bem comportados. Nada de boêmios, poetas e noctívagos, na sua roda! Advogava unicamente no cível e no comercial. Isto de "crime", dizia ele com asco, "só para rábulas".

Pronunciava — "rábulas" — quase cuspindo, porque devem ter reparado que os mais vaidosos com os títulos escolares são os burros e os de baixa extração que os possuem.

Para estes, ter um pergaminho, como eles pretensiosamente chamam o diploma, é ficar acima e diferente dos que o não têm, ganhar uma natureza especial e superior aos demais, transformar-se até de alma.

Quando fui empregado da Secretaria da Guerra, havia numa repartição militar, que me ficava perto, um sargento amanuense com um defeito numa vista, que não cessava de aborrecer-me com as suas sabenças e literatices. Formou-se numa faculdade de Direito por aí e, sem que nem porque, deixou de me cumprimentar.

São sempre assim...

Praxedes Itapiru da Silva, ex-praça de pré de uma polícia provinciana, tinha em grande conta, como coisa inacessível, aquele banalíssimo trambolho de uma vulgar carta de bacharel; e, por isso, dava-se à importância de sumidade em qualquer departamento do pensamento humano e desprezava soberbamente os rábulas e, em geral, os não formados.

Mas, contava eu, o impávido bacharel nortista tinha um grande desdém pela advocacia criminal; à vista disso, certo dia, todos os seus íntimos se surpreenderam quando ele lhes comunicou que ia defender um dado criminoso, no júri.

Era um réu de crime hediondo, cujo crime deve estar ainda na 1embrança de todos. Lá, pelas bandas de Inhaúma, num lugar chamado Timbó, vivia num "sítio" isolado, quase só, um velho professor jubilado da Escola Militar, muito conhecido pelo seu gênio estranhamente concentrado e sombrio. Não se lhe conheciam parentes; e isto, há mais de quarenta anos. Jubilara-se e metera-se naquele ermo recanto do nosso município, deixando mesmo de freqüentar o seu divertimento predileto, por deficiência de condução. Consistia este no café-concerto, onde houvesse anafadas mulheres estrangeiras e saracoteios de raparigas no palco. Era um esquisitão, o doutor Campos Bandeira, como se chamava ele. Vestia-se como ninguém se vestiu e se vestirá: calças brancas, em geral; colete e sobrecasaca curta, ambos de alpaca; chapéu mole, partido ao centro; botins inteiriços de pelica; e sempre com chapéu-de-chuva de cabo de volta. Era amulatado, com traços indiáticos e tinha um lábio inferior muito fora do plano do superior. Pintava e, por sinal, muito mal, os cabelos e a barba; e um pequeno pince-nez, sem aros, de vidros azulados, acabava-lhe a fisionomia original.

Todos o sabiam homem de preparo e de espírito; tudo estudava e tudo conhecia. Dele contavam-se muitas anedotas saborosas. Sem amigos, sem parentes, sem família, sem amantes, era, como examinador, de uma severidade inexorável. Não cedia a empenhos de espécie alguma, viessem donde viessem. Era o terror dos estudantes. Não havia quem pudesse explicar o estranho modo de vida que levava, não havia quem atinasse com a causa oculta que o determinava. Que desgosto, que mágoa o fizera assim ? Ninguém sabia.

Econômico, lecionando, e muito particularmente, devia possuir um pecúlio razoável. Os rapazes calculavam em cento e tantos contos.

Se era tido como estranho. ratão original, mais estranho, mais ratão, mais original pareceu ele a todos, quando se foi estabelecer, depois de jubilado. naquele cafundó do Rio de Janeiro: — Que maluco! — diziam.

Mas o doutor Campos Bandeira (ele não o era, mas assim o tratavam), por não os ter, não ouviu amigos e meteu-se no Timbó. Hoje, há lá uma magnífica estrada de rodagem, que a prefeitura em dias de lucidez construiu; mas, naquele tempo, era um atoleiro. A maioria dos cariocas não conhece essa obra útil da nossa municipalidade; pois olhem: se fosse em São Paulo, já os jornais e revistas daqui teriam publicado fotografias, com artigos estirados, falando da energia paulista, dos bandeirantes, de José Bonifácio e da valorização do café.

O doutor Campos Bandeira, apesar da péssima estrada que lá havia, por aquela época, e vinha trazê-lo ao ponto dos bondes de Inhaúma, lá se estabeleceu, entregando-se de corpo e alma aos seus trabalhos de química agrícola.

Tinha quatro trabalhadores para a roça e tratamento de animais; e, para o interior de casa, só tinha um serviçal. Era um pobre diabo de bagaço humano, espremido pelo desânimo e pelo álcool, que acudia, nas vendas dos arredores, pelo apelido de "Casaca", por andar sempre com um fraque rabudo.

O velho professor o tinha em casa mais por consideração do que por qualquer outro motivo. Quase não fazia nada. Bastava-lhe possuir alguns níqueis, para que não voltasse a casa a fim de procurar serviço. Deixava-se ficar pelas bodegas. Pela manhã, mal varria a casa, fazia o café e moscava-se. Só quando a fome apertava aparecia.

Campos Bandeira, que fora tido, durante quarenta anos, por frio, indiferente, indolor, egoísta e, até, mau, tinha, entretanto, por aquele náufrago da vida ternuras de mãe e perdões de pai.

Uma manhã, "Casaca" despertou e, não vendo o seu amo de pé, foi até os seus aposentos receber ordens. Topou-o na sala principal, amarrado e amordaçado. As gavetas estavam revolvidas, embora os móveis estivessem nos seus lugares. "Casaca" chamou por socorro; vieram os vizinhos e desembaraçando o professor da mordaça, verificaram que ele ainda não estava morto. Fricções e todo o remédio que lhes veio à mente empregaram, até tapas e socos. O doutor Campos Bandeira salvou-se, mas estava louco e quase sem fala, tal a impressão de terror que recebeu. A polícia pesquisou e verificou que houvera roubo de dinheiro, e grosso, graças a um caderno de notas do velho professor. Todos os indícios eram contra o "Casaca" O pobre diabo negou. Bebera, naquela tarde, até os botequins fecharem-se, por toda a parte, nas proximidades. Recolhera-se completamente embriagado e não se 1embrava se tinha fechado a porta da cozinha, que amanhecera aberta. Dormira e, daí em diante, não se 1embrava de ter ouvido ou visto qualquer coisa.

Mas... tamancos do pobre diabo foram encontrados no local do crime; a corda, com que atacaram a vítima, era dele; a camisa, com que fizeram a mordaça, era dele. Ainda mais, ele dissera a "Seu" Antônio " do botequim" que, em breve, havia de ficar rico, para beber na casa dele, Antônio, uma pipa de cachaça, já que ele recusava fiar-lhe um "calisto". Foi pronunciado e compareceu a júri. Durante o tempo do processo, o doutor Campos Bandeira ia melhorando. Recuperou a fala e, ao fim de um ano, estava são. Tudo isto se passou no silêncio tumular do manicômio. Chegou o dia do Júri. "Casaca" era o réu que o advogado Praxedes ia defender, quebrando o seu juramento de não advogar no " crime" A sala encheu-se para ouvi-lo. O pobre "Casaca" , sem pai, sem mãe, sem amigos, sem irmãos, sem parati, olhava tudo aquilo com o olhar estúpido de animal doméstico num salão de pinturas. De quando em quando, chorava. O promotor falou. O doutor Felismino Praxedes Itapiru da Silva ia começar a sua estupenda defesa, quando um dos circunstantes, dirigindo-se ao presidente do tribunal, disse com voz firme: — Senhor juiz, quem me quis matar e me roubou, não foi este pobre homem que aí está, no banco dos réus; foi o seu eloqüente e elegante advogado.

Houve sussurro; o juiz admoestou a assistência, o popular continuou: — Eu sou o professor Campos Bandeira. Esse tal advogado, logo que chegou do Norte, procurou-me, dizendo-se meu sobrinho, filho de uma irmã, a quem não vejo desde quarenta anos. Pediu-me proteção e eu lhe pedi provas. Nunca mas deu, senão alusões a coisas domésticas, cuja veracidade não posso verificar. Vão já tantos anos que me separei dos meus... Sempre que ia receber a minha jubilação, ele me escorava nas proximidades do quartel-general e me pedia dinheiro. Certa vez, dei-lhe quinhentos mil réis. Na noite do crime, à noitinha, apareceu-me, em casa, disfarçado em trajes de trabalhador, ameaçou-me com um punhal, amarrou-me, amordaçou-me. Queria que eu fizesse testamento em favor dele. Não o fiz; mas escapou de matar-me. O resto é sabido. O "Casaca" é inocente.

O final não se fez esperar; e, por pouco, o "Casaca" toma a si a causa do seu ex-patrono. Quando este saía, entre dois agentes, em direitura à chefatura de polícia, um velho meirinho disse bem alto:

— E dizer-se que este moço era um "poço de virtudes" !

América Brasileira, Rio, maio 1922.

Fonte:
http://www.dominiopublico.gov.br

Lygia Fagundes Telles (Herbarium)

Todas as manhãs eu pegava o cesto e me embrenhava no bosque, tremendo inteira de paixão quando descobria alguma folha rara. Era medrosa mas arriscava pés e mãos por entre espinhos, formigueiros e buracos de bichos (tatu? cobra?) procurando a folha mais difícil, aquela que ele examinaria demoradamente: a escolhida ia para o álbum de capa preta. Mais tarde, faria parte do herbário, tinha em casa um herbário com quase duas mil espécies de plantas. "Você já viu um herbário" - ele quis saber.

Herbarium, ensinou-me logo no primeiro dia em que chegou ao sítio. Fiquei repetindo a palavra, herbarium. Herbarium. Disse ainda que gostar de botânica era gostar de latim, quase todo o reino vegetal tinha denominação latina. Eu detestava latim mas fui correndo desencavar a gramática cor de tijolo escondida na última prateleira da estante, decorei a frase que achei mais fácil e na primeira oportunidade apontei para a formiga saúva subindo na parede: formica bestiola est. Ele ficou me olhando. A formiga é um inseto, apressei-me em traduzir. Então ele riu a risada mais gostosa de toda a temporada. Fiquei rindo também, confundida mas contente: ao menos achava alguma graça em mim.

Um vago primo botânico convalescendo de uma vaga doença. Que doença era essa que o fazia cambalear, esverdeado e úmido quando subia rapidamente a escada ou quando andava mais tempo pela casa?

Deixei de roer as unhas, para espanto da minha mãe que já tinha feito ameaças de cortes de mesada ou proibição de festinhas no grêmio da cidade. Sem resultado. "Seu eu contar, ninguém acredita" - disse ela quando viu que eu esfregava para valer a pimenta vermelha nas pontas dos dedos. Fiz minha cara inocente: na véspera, ele me advertira que eu podia ser uma moça de mãos feias, "ainda não pensou nisso?" Nunca tinha pensado antes, nunca me importei com as mãos mas no instante em que ele fez a pergunta comecei a me importar. E se um dia elas fossem rejeitadas como as folhas defeituosas? Ou banais. Deixei de roer unhas e deixei de mentir. Ou mentir menos, mais de uma vez me falou no horror que tinha por tudo quanto cheirava falsidade, escamoteação. Estávamos sentados na varanda. Ele selecionava as folhas ainda pesadas de orvalho quando me perguntou se já tinha ouvido falar em folha persistente. Não? Alisava o tenro veludo de uma malva-maçã. A fisionomia ficou branda quando amassou a folha nos dedos e sentiu seu perfume. As folhas persistentes duravam até mesmo três anos mas as cadentes amareleciam e se despregavam ao sopro do primeiro vento. Assim a mentira, folha cadente que podia parecer tão brilhante mas de vida breve. Quando o mentiroso olhasse para trás, veria no final de tudo uma árvore nua. Seca. Mas os verdadeiros, esses teriam uma árvore farfalhante, cheia de passarinhos - e abriu as mãos para imitar o bater das folhas e asas. Fechei as minhas. Fechei a boca em brasa agora que os tocos das unhas (já crescidas) eram tentação e punição maior. Podia dizer-lhe que justamente por me achar assim apagada é que precisava de me cobrir de mentira como se cobre com um manto fulgurante. Dizer-lhe que diante dele, mais do que diante dos outros, tinha de inventar e fantasiar para obrigá-lo a se demorar em mim como se demorava agora na verbena - será que não percebia essa coisa tão simples?

Chegou ao sítio com suas largas calças de flanela cinza e grosso suéter de lã tecida em trança, era inverno. E era noite. Minha mãe tinha queimado incenso (era sexta-feira) e preparou o Quarto do Corcunda, corria na família a história de um corcunda que se perdeu no bosque e minha bisavó instalou-o naquele quarto que era o mais quente da casa, não podia haver melhor lugar para um corcunda perdido ou para um primo convalescente.

Convalescente do quê? Qual doença tinha ele? Tia Marita, que era alegrinha e gostava de se pintar, respondeu rindo (falava rindo) que nossos chazinhos e bons ares faziam milagres. Tia Clotilde, embutida, reticente, deu aquela sua resposta que servia a qualquer tipo de pergunta: tudo na vida podia se alterar menos o destino traçado na mão, ela sabia ler as mãos. "Vai dormir feito uma pedra" - cochichou tia Marita quando me pediu que lhe levasse o chá de tília. Encontrei-o recostado na poltrona, a manta de xadrez cobrindo-lhe as pernas. Aspirou o chá. E me olhou: "Quer ser minha assistente? perguntou soprando a fumaça. - A insônia me pegou pelo pé, ando tão fora de forma, preciso que me ajude. A tarefa é colher folhas para minha coleção, vai juntando o que bem entender que depois seleciono. Por enquanto, não posso mexer muito, terá que ir sozinha" - disse e desviou o olhar úmido para a folha que boiava na xícara. Suas mãos tremiam tanto que a xícara transbordou no pires. É o frio, pensei. Mas continuaram tremendo no dia seguinte que fez sol, amareladas como os esqueletos de ervas que eu catava no bosque e queimava na chama da vela. Mas o que ele tem? perguntei e minha mãe respondeu que mesmo que soubesse, não diria, fazia parte de um tempo em que doença era assunto íntimo.

Eu mentia sempre, com ou sem motivo. Mentia principalmente à tia Marita que era bastante tonta. Menos à minha mãe porque tinha medo de Deus e menos ainda à tia Clotilde que era meio feiticeira e sabia ver o avesso das pessoas. Aparecendo a ocasião, eu enveredava por caminhos os mais imprevistos, sem o menor cálculo de volta. Tudo ao acaso. Mas aos poucos, diante dele, minha mentira começou a ser dirigida, com um objetivo certo. Seria mais simples, por exemplo, dizer que colhi a bétula perto do córrego, onde estava o espinheiro. Mas era preciso fazer render o instante em que se detinha em mim, ocupá-lo antes de ser posta de lado como as folha sem interesse, amontoadas no cesto. Então ramificava perigos; exagerava dificuldades, inventava histórias que encompridavam a mentira. Até ser decepada com um rápido golpe de olhar, não com palavras, mas com o olhar ele fazia a hidra verde rolar emudecida enquanto minha cara se tingia de vermelho o sangue da hidra.

"Agora você vai me contar direito como foi: - ele pedia tranqüilamente, tocando na minha cabeça. Seu olhar transparente. Reto. Queria a verdade. E a verdade era tão sem atrativos como a folha da roseira, expliquei-lhe isso mesmo, acho a verdade tão banal como esta folha. Ele me deu a lupa e abriu a folha na palma da mão: "Veja então de perto." Não olhei a folha, que me importava a folha? mas sua pele ligeiramente úmida, branca como papel com seu misterioso emaranhado de linhas, estourando aqui e ali em estrelas. Fui percorrendo as cristas e depressões, onde era o começo? Ou o fim? Demorei a lupa num terreno de linhas tão disciplinadas que por elas devia passar o arado, ih! vontade de deitar minha cabeça nesse chão. Afastei a folha, queria ver apenas os caminhos. O que significa este cruzamento, perguntei e ele me puxou o cabelo: "Também você, menina?!"

Nas cartas do baralho, tia Clotilde já lhe desvendara o passado e o presente. "E mais desvendaria" - acrescentou ele guardando a lupa no bolso do avental banco, às vezes vestia o avental. O que ela previu? Ora, tanta coisa. De mais importante, só isso, que no fim da semana viria uma amiga buscá-lo, uma moça muito bonita, podia ver até a cor do seu vestido de corte antiquado, verde-musgo. Os cabelos eram compridos, com reflexos de cobre, tão forte o reflexo na palma da mão!

Uma formiga vermelha entrou na greta do lajedo e lá se foi com seu pedaço de folha, veleiro desarvorado soprado pelo vento. Soprei eu também, a formiga é um inseto! gritei, as pernas flexionadas, pendentes os braços para diante e para trás no movimento do macaco, hi hi ! hu hu! é um inseto! um inseto! repeti rolando no chão. Ele ria e procurava me levantar, você se machuca, menina, cuidado! Fugi para o campo, os olhos desvairados de pimenta e sal, sal na boca, não, não vinha ninguém, tudo loucura, uma louca varrida essa tia, invenção dela, invenção pura, como podia? Até a cor do vestido, verde-musgo? E os cabelos, uma louca, tão louca como a irmã de cara pintada feito uma palhaça, rindo e tecendo seus tapetinhos, centenas de tapetinhos pela casa, na cozinha, na privada, duas loucas! Lavei os olhos cegos de dor, lavei a boca pesada de lágrimas, os últimos fiapos de unha me queimando a língua, não! Não. Não existia ninguém de cabelo de cobre que no fim da semana ia aparecer para buscá-lo, ele não ia embora nunca mais, NUNCA MAIS! repeti e minha mãe que viera me chamar para o almoço acabou se divertindo com a cara de demônio que fiz, disfarçava o medo fazendo caras de medo. E as pessoas se distraíam com essas caras e não pensavam mais em mim.

Quando lhe entreguei a folha de hera com formato de coração (um coração de nervuras trementes se abrindo em leque até as bordas verde-azuladas) ele beijou a folha e levou-a ao peito. Espetou-a na malha do suéter: "Esta vai ser guardada aqui." Mas não me olhou nem mesmo quando eu saí tropeçando no cesto. Corri até a figueira, posto de observação onde podia ver sem ser vista. Através do rendilhada de ferro do corrimão da escada, ele me pareceu menos pálido. A pele mais seca e mais firme a mão que segurava a lupa sobre a lâmina do espinho-do-brejo. Estava se recuperando, não estava? Abracei o tronco da figueira e pela primeira vez senti que abraçava Deus.

No sábado, levantei mais cedo. O sol forcejava a névoa, o dia seria azul quando ele conseguisse rompê-la. "Aonde você vai com esse vestido de maria-mijona? - perguntou minha mãe me dando a xícara de café com leite. Por que desmanchou a barra?" Desviei sua atenção para a cobra que disse ter visto no terreiro, toda preta com listras vermelhas, seria um coral? Quando ela correu com a tia para ver, peguei o cesto e entrei no bosque, como explicar-lhe? Que descera todas as barras das saias para esconder minhas pernas finas, cheias de marcas de picadas de mosquitos. Numa alegria desatinada fui colhendo as folhas, mordi goiabas verdes, atirei pedras nas árvores, espantando os passarinhos que cochichavam seus sonhos, me machucando de contente por entre a galharia. Corria até o córrego. Alcancei uma borboleta e, prendendo-a pelas pontas das asas, deixei-a na corola de uma flor, te solto no meio do mel! gritei-lhe. O que vou receber em troca? Quando perdi o fôlego, tombei de costas nas ervas do chão. Fiquei rindo para o céu de névoa atrás da malha apertada dos ramos. Virei de bruços e esmigalhei nos dedos os cogumelos tão macios que minha boca começou a se encher d’água. Fui avançando de rastros até o pequeno vale de sombra debaixo da pedra. Ali era mais frio e maiores os cogumelos pingando um líquido viscoso dos seus chapéus inchados. Salvei uma abelinha das mandíbulas de uma aranha, permiti que saúva-gigante arrebatasse a aranha e a levasse na cabeça como uma trouxa de roupa esperneando mas recuei quando apareceu o besouro de lábio leporino. Por um instante me vi refletida em seus olhos facetados. Fez meia-volta e se escondeu no fundo da fresta. Levantei a pedra: o besouro tinha desaparecido mas no tufo raso vi uma folha que nunca encontrara antes, única. Solitária. Mas que folha era aquela? Tinha a forma aguda de uma foice, o verde do dorso com pintas vermelhas irregulares como pingos de sangue. Uma pequena foice ensangüentada foi no que se transformou o besouro? Escondi a folha no bolso, peça principal de um jogo confuso. Essa eu não juntaria às outras folhas, essa tinha que ficar comigo, segredo que não podia ser visto. Nem tocado. Tia Clotilde previa os destinos mas eu podia modificá-los, assim, assim! e desfiz na sola do sapato o cupim que se armava debaixo da amendoeira. Fui andando solene porque no bolso onde levara o amor levava agora a morte.

Tia Marita veio ao meu encontro, mais aflita e gaguejante do que de costume. Antes de falar começou a rir: "Acho que vamos perder nosso botânico, sabe quem chegou? A amiga, a mesma moça que Clotilde viu na mão dele, lembra? Os dois vão embora no trem da tarde, ela e linda como os amores, bem que Clotilde viu uma moça igualzinha, estou toda arrepiada, olha aí, me perguntou como a mana adivinha uma coisa dessas!"

Deixei na escada os sapatos pesados de barro. Larguei o cesto. Tia Marita me enlaçou pela cintura enquanto se esforçava para lembrar o nome da recém-chegada, um nome de flor, como era mesmo? Fez uma pausa para estranhar minha cara branca, e esse branco de repente? Respondi que voltara correndo, a boca estava seca e o coração fazia um tuntum tão alto, ela não estava ouvindo? Encostou o ouvido no meu peito e riu sacudindo inteira, quando tinha minha idade pensa que também não vivia assim aos pulos?

Fui me aproximando da janela. Através do vidro (poderoso como a lupa) vi os dois. Ela sentada com o álbum provisório de folhas no colo. Ele, de pé e um pouco atrás da cadeira, acariciando-lhe o pescoço e seu olhar era o mesmo que tinha para as folhas escolhidas, a mesma leveza de dedos indo e vindo no veludo da malva-maçã. O vestido não era verde mas os cabelos soltos tinham o reflexo de cobre que transparecera na mão. Quando me viu, veio até a varanda no seu andar calmo. Mas vacilou quando disse que esse era nosso último cesto, por acaso não tinham me avisado? O chamado era urgente, teriam que voltar nessa tarde. Sentia perder tão devotada ajudadora mas um dia, quem sabe?... Precisaria perguntar à tia Clotilde em que linha do destino aconteciam os reencontros.

Estendi-lhe o cesto mas ao invés de segurar o cesto, segurou meu pulso: eu estava escondendo alguma coisa, não estava? O que estava escondendo, o quê? Tentei me livrar fugindo para os lados, aos arrancos, não estou escondendo nada, me larga! Ele me soltou mas continuou ali, de pé, sem tirar os olhos de mim. Encolhi quando me tocou no braço: "E o nosso trato de só dizer a verdade? Hem? Esqueceu nosso trato?" - perguntou baixinho.

Enfiei a mão no bolso e apertei a folha, intacta a umidade pegajosa da ponta aguda, onde se concentravam as nódoas. Ele esperava. Eu quis então arrancar a toalha de crochê da mesinha, cobrir com ela a cabeça e fazer micagens, hi hi! hu hu! até vê-lo rir pelos buracos da malha, quis pular da escada e sair correndo em ziguezague até o córrego, me vi atirando a foice na água, que sumisse na correnteza! Fui levantando a cabeça. Ele continuava esperando, e então? No fundo da sala, a moça também esperava numa névoa de ouro, tinha rompido o sol. Encarei-o pela última vez, sem remorso, quer mesmo? Entreguei-lhe a folha.

Fonte:
http://www.academia.org.br

Zitkala-Sa (1876 - 1938)

tradução por José Feldman

Gertrude Simmons Bonnin, Zitkala-Sa (Pássaro Vermelho), era uma mulher nativa americana extraordinariamente talentosa e educada que lutou e triunfou em um tempo que o preconceito severo prevaleceu na cultura nativa americana em relação às mulheres. Os talentos dela e contribuições no mundo da literatura, música e políticas desafiam convicções existentes há muito que a cultura do homem branco é a melhor, e nativas americanas são pecadores selvagens. Zitkala-Sa começou a criar a compreensão entre o branco dominante e culturas nativas americanas. Como uma mulher de ascendência americana branca e nativa misturadas, ela incorporou a necessidade de as duas culturas viverem cooperativamente dentro do mesmo espaço de terra. Os trabalhos dela criticaram dogmas, e a vida dela como uma mulher nativa americana era dedicada contra os males de opressão.

Zitkala-Sa nasceu em 1876, na Reserva de Cume Pínea em Dakota do Sul. O pai dela era um homem branco nomeado Felker, sobre quem pouco é conhecido. A mãe dela era Ellen Tate Iyohinwin (Ela Alcança para o Vento) Simmons, um Sioux de raça pura. Zitkala-Sa era a terceira criança de Simmons. Só aos oito anos de idade, decidiu deixar a mãe dela e a reserva para participar do Instituto de Trabalho Manual dos Brancos em Wabash, Indiana. Esta era uma escola fundada pelo Quakers.

Depois de quatro anos, ela voltou para casa, entretanto, se registrou, contra o desejos da mãe dela, na Escola Normal de Treinamento Santee. Ela escolheu esta escola porque estava perto da mãe dela. Em 1895, ela decidiu se mudar e foi aceita para bolsas de estudos de Faculdade de Earlham em Indiana.

Embora a maioria notasse o gênio literário e político dela, Zitkala-Sa também era uma violinista e até mesmo ganhou uma bolsa de estudos para estudar no Conservatório de Boston de Música. Em 1913, ela e o compositor de música clássica William Hanson escreveram uma ópera chamada Dança de Sol. A criação foi apreciada por alguns nativos americanos mas, desde 1937, não foi publicada, pois era uma ópera escrita por uma nativa americana. A música era o amor verdadeiro dela, contudo sentia mais importante lutar pelos direitos das pessoas semelhantes a ela por literatura e políticas.

Depois dos estudos dela no Conservatório de Boston, aceitou uma posição pedagógica na Carlisle Indian School. A escola foi fundada por Richard Henry Pratt, um oficial do exército que viu educação como um dos meios para mover " de selvageria a civilização " e acreditava que " Nós temos que matar o selvagem para salvar o homem ". Pratt explorou os estudantes abusivamente para o trabalho enquanto ao mesmo tempo recebia fundos de governo para cada estudante que freqüentava a escola. A permanência de Zitkala-Sa na Escola durou dois anos.

Como uma escritora, ela adotou o pseudônimo " Zitkala-Sa " e, em 1900, começou a publicar artigos que criticam a Carlisle Indian School. Ela se ressentiu com a degradação que os estudantes foram sujeitados, do Cristianismo que castigava severamente por falar em idiomas nativos. Ela foi muito criticada na ocasião.

Teve duas propostas de matrimônio na vida dela. O primeiro foi feita por Carlos Montzuma, um ativista de Yavapai e médico. Ela desmanchou este noivado porque os próprios planos dela para a vida dela ia além das esperanças dele por ela ser o ajudante dele e mãe de seus filhos. A segunda proposta que ela aceitou, era do Capitão Raymond Bonnin. Ele era de sangue misturado Nakota se mantendo na reserva e trabalhando para a Agência de Negócios índios. Infelizmente, o matrimônio foi prejudicial realmente à carreira dela, pois era forçada a seguir o marido na carreira dele, indo de reserva para reserva. Tiveram um filho chamado Ohiya (o Vencedor).

Em uma reserva em Utah, os Bonnins tomaram parte da Sociedade de índios americanos dos quais ela foi eleita secretária em 1916. Os Bonnins se mudam para Washington, D.C. onde Gertrude continuou o trabalho dela com a Sociedade e começou a editar a Revista índia americana, então.

Uma voz política forte para nativos americanos, Bonnin escreveu para o Oklahoma's Poor Rich Indians sobre a Exploração das Cinco Tribos Civilizadas e Roubo Legalizado. Este trabalho, publicou em 1924, com dois co-autores brancos, expondo os roubos e assassinatos em Oklahoma de pessoas nativas americanas e conduziu ao Ato de Reorganização índio de 1934, restabelecendo a verdade das terras dos índios. Zitkala-Sa também ganhou os direitos de cidadania e o voto para nativos americanos. Ela fez isto buscando unidade entre todas as tribos e um poder político pan-índio. Assim começara a Deliberação Nacional de índios americanos em 1926.

Morreu em 1938. Ela foi enterrada em Arlington National Cemetery. A lápide dela é gravada " Zitkala-Sá da Nação Sioux. Ironicamente, a honra de enterro não era devida às grandes contribuições dela para o EUA, mas por causa da posição do marido dela como um capitão de exército.

Dos trabalhos literários dela, "Por que eu Sou uma Pagã " explica as convicções religiosas dela. Foi publicado primeiro em dezembro de 1902, um tempo no qual a sociedade foi acostumada e esperavam composições nativas americanas sobre conformações para o cristianismo.

Junto com um capítulo - " As grandes maçãs vermelhas ", impressões de uma Infância índia, a composição é contra o cristianismo tradicional e religioso. Os dois trabalhos são fascinantes, e eles formam expressa as indignações sofridas pelos nativos americanos nas mãos de cristãos.
Zitkala-Sa estava ardentemente contra a opressão de nativos americanos na cultura Ocidental, entretanto ela viu isto como uma interiorização da linguagem dos "cara-pálidas".

Alude habilmente à história Bíblica de Adão e a queda de Eva como uma metáfora para a sedução dos nativos americanos através de brancos em " As grandes maçãs vermelhas ". Eva foi seduzida pela cobra por causa da ambição dela pelo conhecimento. Zitkala-Sa criou um paralelo à própria experiência de infância dela dos "cara-pálidas", do vir do Leste para a reserva dela procurando as crianças índias para recrutar para a escola deles. Estes homens prometeram " Sim, pequena menina, as melhores maçãs vermelhas são para aqueles que as escolher" no Leste. Assim contra o desejos da mãe dela, Bonnin comeu da árvore proibida e assumiu o Leste.

O uso magistral do idioma por Zitkala-Sa e as alusões ao Oeste acrescentaram efetividade á sua escrita. Como muitos outros escritores minoritários, ela aprendeu sobre a cultura que a oprime e desenvolveu técnicas de escrita, de modo a que a sua voz pudesse ser ouvida, esperançosamente entendida pela cultura dominante. Se tivesse usado insinuações a histórias nativas americanas e o idioma nativo dela, ela não teria atingido o público-alvo dela, os cara-pálidas opressivos. "As grandes maçãs vermelhas " fazem os leitores brancos re-pensar as conquistas tradicionais Cristãs sugerindo que o índio foi corrompido pela cultura dominante. " Por que eu Sou uma pagã", é um modo reverente e religioso cristão de ver a beleza das crenças índias, o amor deles pela natureza, apreciação deles pela maravilha do universo, e aceitação de tudo (até mesmo o "cara-pálida") como fazendo parte da criação de Deus. A imagem de um Deus-temeroso, aceitando, e o amando é um contraste acentuado à imagem de um guerreiro selvagem.

Em " Por que eu sou uma Pagã, " Zitkala-Sa adora um Deus que criou a beleza no mundo e uma religião que abraça a todos e todas as partes deste vasto universo ". Contrasta isto com o cristianismo para o qual o primo dela subscreveu " me ensinou (ele) também a loucura de nossas velhas convicções ". Ela argumentava que Deus não chamou o homem branco para destruir uma cultura nativo americano bonita, roubar as pátrias deles, colocá-los em reservas, ou bater as crianças índias por falar na língua materna. Embora ela se ressentisse com este mau trato, Bonnin ainda buscou atravessar uma abertura entre as diferenças vastas do branco dominante e culturas nativas americanas. Ela não se deixou ser seduzida em acreditar que as tradições nativas americanas eram loucura ou pecado. Como uma pessoa de sangue misturado, a vida dela poderia ser olhada em como um exemplo da beleza e realizações podem ser feitas quando as duas culturas puderem viver cooperativamente. Zitkala-Sa percebeu que odiar a diferença era odiar a vida; era um amante de vida. Talvez está na hora que o EUA tenha um cemitério nacional para honrar os iguais a Zitkala-Sa que buscaram paz e amaram a vida, em vez de matar isto.

Trabalhos pela Autora (podem ser obtidos no Projeto Gutemberg)
- Oklahoma's Poor Rich Indians: An Orgy of Graft, Exploitation of the Five Civilized Tribes, Legalized Robbery (1924)
- Impressions of an Indian Childhood (1899)
- Old Indian Legends (1985)
- American Indian Stories (1985, 2003)
- Dreams and Thunder: Stories, Poems and the Sun Dance Opera, edited by P. Jane Hafen (2001)
- Iktomi and the Ducks and Other Sioux Stories, retold by Zitkala-Sa; foreword by Agnes M. Picotte; introduction by P. Jane Hafen (2004)

Fontes:
http://voices.cla.umn.edu/vg/Bios/entries/bonnin_gertrude_simmons_zitkala-sa.html
http://en.wikipedia.org/

Inajá Martins de Almeida (O Ato de Ler)

Dê-me uma meada de lã e eu teço um agasalho.
Dê-me uma palavra e eu formulo uma frase.
Dê-me uma frase e eu escrevo um texto.
Dê-me um texto e eu componho um livro”.

Definições, conceitos, significações, frases, textos, livros, são atributos de que nos valemos, quando nos predispomos a fazer uma pesquisa mais acurada de algo que queremos conhecer melhor.

Definimos, conceituamos, buscamos significados, formulamos frases, elaboramos textos, compomos livros, tudo para perpetuar nossa idéia e percebemos que:

"Os livros que em nossa vida entraram, são como a radiação de um corpo negro, apontando pra expansão do Universo, porque a frase, o conceito, o enredo, o verso (e, sem dúvida, sobretudo o verso) é o que pode lançar mundos no mundo".

O livro que entra em nossa vida, portanto, já não é mais o mesmo: já deixou de ser estático num canto da estante; agora, ele, descortinou novos horizontes para nós; já nos enriqueceu um pouco mais; já nos tirou da ignorância verbal e oral; já nos transformou; já nos cativou; já se tornou responsável por aquele que cativou.

Ah! Bendito os que semeiam livros ... livros a mão cheia ... e faz o povo pensar ... em verso cantava Castro Alves e, se bendito são os que semeiam livros, abençoados são os que lêem, os que pensam, os que informam, os que se informam, os que transformam, os que se transformam.

Percebemos, contudo, que antes mesmo de lermos a palavra, já lemos a imagem; Paulo Freire diz que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”, porque na realidade estamos lendo o que nos permeia, tudo o que está a nossa volta é uma leitura que se faz, de acordo com quem olha.

Mas uma vez que nos tornamos leitores da palavra, invariavelmente estaremos lendo o mundo sob a influência dela, quer tenhamos consciência disso ou não. Nesse momento, a leitura, até então oral e ágrafa, amplia-se, oferece-nos outras perspectivas para ler o mundo. Dá-nos condição de encontro com novas maneiras de interpretar a sociedade, seus conflitos e a própria natureza humana. A partir de então, mundo e palavra permearão constantemente nossa leitura e inevitáveis serão as correlações, de modo intertextual, simbiótico, entre realidade e ficção”.

Mas afinal, por que lemos?

Lemos porque a necessidade de desvendar caracteres, letreiros, números, faz com que paremos a olhar, a questionar, a buscar decifrar o desconhecido. Antes mesmo de ler a palavra, já lemos o universo que nos permeia: um cartaz, uma imagem, um som, um olhar, um gesto:

"Lemos, intensamente por várias razões, a maioria das quais conhecidas: porque na vida real, não temos condições de "conhecer" tantas pessoas, com tanta intimidade; porque precisamos nos conhecer melhor; porque necessitamos de conhecimento, não apenas de terceiros e de nós mesmos, mas das coisas da vida", argumenta Harold Bloom. Embora considere "a busca de um prazer sofrido" como o principal motivo quando se lê. São muitas as razões para a leitura. Cada leitor tem a sua maneira de perceber e de atribuir significado ao que lê”.

Para que lemos?

Lemos para nos comunicar; para resolver uma questão proposta por nós ou por alguém; para nos aperfeiçoar; para nos informar; para adquirir mais conhecimento; para saciar nossa sede do saber; para recreação, quem sabe: cada um sabe para que lê. Leonardo Boff nos diz que cada um lê com os olhos que tem. E “a melhor maneira de se ensinar uma criança a ler é lendo” nos fala a escrita Ana Maria Machado.

O que lemos?

Uns lêem cartas geográficas, outros cartas de informação – como a carta do descobrimento do Brasil. “Caminha não podia imaginar que sua carta se tornaria, principalmente no século XX, uma das fontes de inspiração para romancistas e poetas brasileiros”; outros tantos cartas de amigos.

As cartas fascinam tanto porque são parte da expressão humana. Porque nelas estão as fraquezas, os bons augúrios e, quase sempre, espelhos da alma de quem as escreve. Quando as lemos, é como se fôssemos ouvindo o remetente em nosso ouvido a conversar conosco. É como se Mário falasse conosco. Ler as cartas que Mário escrevia a seus amigos é encontrar um pouco com a alma do nosso povo, de nós mesmos. Sua prosódia oscila entre o popular e o erudito, embala o leitor em sua linguagem, deixa-o confortavelmente deleitar-se com sua escrita”. Numa delas, esta a Carlos Drummond de Andrade, dizia “só nos domingos que posso escrever. Tenho atualmente a vida mais deliciosamente burguesa que a gente pode imaginar. Sou homem de domingos. Só no domingo que me divirto, visito os amigos, escrevo pros de longe visto roupa nova e descanso ... São onze horas do dia. Tenho meia-horinha pra você ...” .

Se lemos gibis, poesias, jornais, textos científicos, textos literários, textos... livros... enfim, não importa o que lemos, se lemos por algum motivo ou razão. “Primeiro devemos deixar ler, para depois orientar, porque ler é um direito do cidadão e da criança”, exorta nossa imortal da literatura infantil Ana Maria Machado.

Porque lemos realmente dará sentido a todos os outros questionamentos, pelo fato de que: “Ler é olhar o mundo para enxergar mais além do que o nosso interior. É entender o processo coletivo. É observar a tribo para analisar a globalização. É ler imagens para ultrapassar a aventura. É aventurar-se pelos escaninhos mais recônditos do subconsciente para entender a lucidez dos discursos que untados em votos (eletrônicos para serem modernos) prometem zerar qualquer coisa”.

Nessa frase, parei por uns minutos mais prolongados em “ler imagens” e, um fato curioso, me fez retornar ao passado, quando então se pensou que esta – a imagem – substituiria a palavra, a partir de um slogan, veiculado através da televisão, onde se dizia que uma imagem valia mais do que mil palavras.

Ledo engano aquele; a palavra continuaria cada vez mais forte, sendo produzida em larga escala incessantemente porque, segundo nos premia Millôr Fernandes “a imagem só pode se transformar em instrumento de comunicação quando podemos dela falar - usando palavras”.

E as palavras continuaram permeando o universo, conquistando espaços, ganhando mais e mais adeptos – seus leitores. Quem não se sente solto e livre a vagar pelo ar, a viajar sem sair do próprio lugar ao se deleitar com uma fantástica leitura – palavras, frases, textos ... – quem não se enriquece interiormente; quem não cresce em conhecimento e cultura; quem não se inquieta, não questiona, não se torna investigativo a querer galgar novas plagas, quebrar barreiras, ultrapassar fronteiras; quem não voa com asas de águia percorrendo parágrafos, grifando palavras, bailando, girando como folhas ao vento; quem não se torna livre ao ter um livro nas mãos. Quem não quer se aventurar por “mares nunca d’antes navegados

São muitas as razões para a leitura. Cada leitor tem a sua maneira de perceber e de atribuir significado ao que lê. Essa particularização da leitura é que estimula, por meio de um processo artístico, emoções e vivências diferentes no leitor permitindo-lhe o conhecimento de si mesmo; o reconhecimento do outro, a descoberta do mundo”.

Sim ... em meio a tanto questionamento “livros nos tornam livres” , na medida em que:

Ler é alimentar-se espiritualmente, é adquirir aquela inquietação interior — bem como uma série de convicções — a indescritível riqueza íntima de quem está atento à vida, de quem carrega consigo a vontade de conhecer e amar infinitamente".

E quem não se torna criança ao adentrar no mundo encantado do faz de conta, do era uma vez no País das Maravilhas da Alice; quem não se sente o próprio David ao derrotar o gigante Golias, personagens estes que ultrapassam o tempo, tornam-se presentes, jamais esquecidos, sempre lembrados, sempre lidos, sempre recontados – o tempo não os consumiu.

Ler é multiplicar a própria idade, é ganhar tempo, é expandir-se para todos os tempos, e, quem muito lê vai reunindo em si mais lembranças e conhecimentos do que se tivesse mil anos de idade. Vai se universalizando no tempo, e também no espaço.

Numa fração de segundos, podemos retornar a infância, acordar de um profundo sono, como Bela Adormecida, ao beijo suave do príncipe encantado e se tornam felizes para sempre; aí se faz presente a arte, que toca o âmago do ser sensível – a arte da palavra, então:

se olho demoradamente para uma palavra descubro, dentro dela, outras tantas palavras. Assim, cada palavra contém muitas leituras e sentidos. O meu texto surge, algumas vezes a partir de uma palavra que, ao me encantar, também me dirige. E vou descobrindo, desdobrando, criando relações entre as novas palavras que dela vão surgindo. Por isso digo sempre: é a palavra que me escreve”.

Se cada leitor percebe em cada palavra tantas outras, em cada leitura pode sentir a magia do encantamento que a arte proporciona, depreendemos que:

Ler é uma arte, e, como toda a arte, requer do seu artista uma sábia flexibilidade, a capacidade de utilizar os meios de acordo com a finalidade primordial a ser alcançada”.

Essa arte que quebra barreira, extrapola horizontes infindáveis, essa arte que nos tira do anonimato, que nos dá poder de investigação, de interagir na sociedade, de conquistar o inimaginável, sim

Ler é uma arte que pode ser de muitos, que pode nos devolver a nós mesmos. Ler é poder, é conhecer-nos e aos outros.

Suzana, cita palavras de Richard Bargenguer, extraídas do seu livro “Como incentivar o hábito da leitura” quando nos diz que:

Ler é a tarefa do futuro, quando as pessoas necessitarão de uma espécie de auto-educação permanente ou seja: deverão promover a pesquisa, a reflexão, o crescimento intelectual por conta própria. Deverão desenvolver de modo autônomo sua competência, enfim”.

Eu, contudo, não consigo ver um cidadão completo, que não saiba ler e interpretar as situações que o rodeiam, porque "quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê", já nos alertava Monteiro Lobato.

Sob meu ponto de vista, uma vez que “cada ponto de vista é a vista de um ponto” , leitura não significa simplesmente o que os textos nos apresentam, mas qualquer percepção depreendida em nosso cotidiano: das conversas entre amigos, da fala do professor a nossa frente, da interpretação de um filme – o que os personagens nos transmitem através da tela – dos homens de Deus nos púlpitos ao ministrar a Palavra aos fiéis; leitura também é decifrar imagens.

Alberto Mangel, escritor argentino, entende a leitura como forma de decifrar sinais, interpretar códigos e se expressa:

Eu vejo a leitura não apenas como um modo de entender textos, mas também de decifrar sinais. O ser humano é um decifrador de sinais. Nós interpretamos até mesmo códigos que não são feitos para serem lidos, como o relevo, o céu, o rosto das pessoas".

A riqueza que nos proporciona o ato de ler e interpretar palavras, encontro nas Cartas que o apóstolo Paulo enviava às igrejas e cidadãos da sua época – esta aos Coríntios – uma passagem que, em especial, chamou-me atenção. Escrita há dois mil anos atrás, exortava o povo a se expressar de forma clara, dizendo que:

“... se com a língua não falardes palavras bem distintas, como se entenderá o que se diz? Estareis como que falando para o ar” e acrescenta dizendo que “há infinidade de sons e contudo nenhum sem sentido, e que se não soubermos interpretar esses sons, seremos como bárbaros para o que fala assim como bárbaro para o que ouve”.

E chegando a atualidade, Gabriel Perissé, citando Bernardo Gusbanov, diz:

Ler e compreender o que se lê é uma capacidade que deve ser desenvolvida. Quem não lê e não compreende o que lê está excluído socialmente. Torna-se uma pessoa com pobreza no uso do vocabulário e dificuldades de expressão, que se refletem tanto na vida social quanto profissional".

Portanto, após tantas falas, depreende-se que

Há mais valor na sabedoria do que na tolice, quanto mais valor na luz do que nas trevas...

A era da informação, exige que avancemos incessantemente; o mundo globalizado pede pessoas cada vez mais preparadas para o mercado competitivo, e onde buscar essa preparação, a não ser através de leituras diversas. Não se concebe mais o cidadão com escolaridade básica, há que ter mais, tanto a que se conquista nos bancos acadêmicos, quanto e, principalmente, aquela que se busca através da “auto-educação”, como nos alerta Bargenguer.

Na era da informação, não é simples ficar sintonizado e atualizado: o mundo dobra o conhecimento a cada dezoito meses e é preciso, portanto, correr atrás de atualização o tempo todo: comportamental, emocional, de mercado, de vida...”

Não se permite mais esperar. “Esperar não é saber”, porque “quem sabe faz a hora e não espera acontecer”, já nos dizia o músico e compositor Geraldo Vandré na década de 60 – Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores – quando, em plena ditadura militar, falando de flores, alertava o povo sobre a opressão que os soldados armados impunham, mas que caminhando e cantando, seguindo a canção interior poderíamos sim ensinar uma nova lição; mudar o curso da vida; contar a própria história: poderíamos ser, enfim, a própria história, porque:

vem uma geração, e vai outra geração, mas a terra permanece eternamente... e os olhos nunca vêem o bastante, nem os ouvidos se enchem de ouvir”.

Porém, quando pensamos que geração vem e passa e que não temos tempo para ver, ouvir tudo o que gostaríamos, buscamos nas leituras várias, abstrair uma realidade distante e, ao lermos um livro, pensamos e criamos nossa própria realidade, porque cada leitor se torna um co-autor, uma vez que:

cada um lê e relê com os olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita... Cada um lerá e relerá conforme forem seus olhos. Compreenderá e interpretará conforme for o chão que seus pés pisam... E para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura”.

Contudo, para muitos, a leitura é um passatempo, para outros tantos um aprendizado incessante; para alguns, apenas um fardo para cumprir uma tarefa, muitas vezes imposta, muito embora transformar a leitura num dever, numa obrigação curricular, pode ser um equívoco, porém, se pararmos para pensar que "a leitura é muito mais do que uma simples relação dos olhos com os livros... iremos perceber que, a leitura é um espaço, um lugar predileto, uma luz escolhida, um ritual em que importa até a época do ano."

Há, também, quem diga que “leitura é essencial. Não mata a fome, sequer a de espírito como se insinua pois espírito não tem fome, mas mata a falta de lucidez, cria consciência” e outro que "a leitura torna o homem completo; a conversação torna-o ágil e o escrever dá-lhe precisão" .

O que podemos entender então! Entendemos sim, que somente através da leitura podemos desvendar o desvendável – o conhecimento; conhecimento esse que nos dá mais segurança para dialogar e até para expressar idéias, opiniões, interagir na sociedade, e com tudo isso, maior mobilidade para nos expressar através da escrita.

Torna-se imprescindível que se forme o hábito, da leitura, porque este, hoje, tornou-se artigo de primeira necessidade.

Através da palavra tudo se forma – “Haja luz ... e houve luz ..."

Nas palavras há, portanto, força e, alerta-nos o pensador Confúcio “sem conhecer a força das palavras é impossível conhecer os homens”, porque "quem não vê bem uma palavra não pode ver bem uma alma", como complementa o poeta português Fernando Pessoa.

No princípio Deus criou o céu e a terra ... e a terra estava sem forma e vazia... e Deus disse: haja luz; e houve luz

Para que haja uma criação é necessária uma vontade: a vontade de criar algo, assim

A palavra não cria as coisas do nada. Mas retira, sim, as coisas da sombra, do esquecimento, do exílio, ou do passado, ou do futuro. As palavras são embaixatrizes da realidade. Elas trazem para o nosso meio todo o universo. Trazem reinos, aves exóticas, estrelas do céu, flores de aromas impensáveis, anjos, demônios. Falamos a palavra, e o universo responde ao chamado, e os mortos ressuscitam, e nós mesmos nos iluminamos”.

O que é então o ato de ler senão tomar posse do texto, do livro. Livro que nos fala por meio das palavras. Palavras que vão tomando forma e cor, aos olhos atentos do leitor. Palavras que podem descobrir as vozes dos enredos, as cenas que desfilam através das entrelinhas do texto.

Jean Paul Sartre, extasiado com a interpretação que sua mãe fazia, ao contar-lhe histórias para embalar-lhe o sono, premia-nos com o texto As palavras, onde nos transporta, também, para aquele rosto que transformava-se a cada fala; para aquela voz que ele desconhecia e por fim, para aquela resposta aos porquês daquela performance:

daquele rosto de estátua saiu uma voz de gesso. Perdi a cabeça: quem estava contando? O quê? E a quem? Minha mãe ausentara-se: nenhum sorriso, nenhum sinal de conivência, eu estava no exílio. Além disso, eu não reconhecia sua linguagem. Onde é que arranjava aquela segurança? Ao cabo de um instante, compreendi: era o livro que falava".

Uma “leitura bem feita é uma inteligente e apaixonada conversa com o autor” e, quando “consciente, empenhada, reflexiva, desperta a vida do livro, aciona toda aquela fecundidade que o autor nos legou ao concluir o seu trabalho e que permanece ali, nas páginas impressas... “

Sim, o livro nos fala, quando percebemos que a “leitura é um diálogo profundo e uma intensa experiência de vida, na medida em que põe o leitor no interior de “realidades”, de “ambientes”, de “idéias” e de “pessoas” — criados ou recriados pelo cronista ou pelo memorialista, enfim, pelo autor que esteja sendo lido”.

E, quando do término de uma leitura, jamais devemos questionar o que o autor nos quis dizer, e sim o que sentimos, uma vez que “em educação, a emoção precede a cognição, e a cognição ajuda a despertar mais emoção”.

Em assim pensando, após tantos momentos, tantas reflexões, não nos permitimos mais “viver sem razão” ;

precisamos nos tornar uma nação leitora, porque o cidadão comum de uma nação moderna, é alguém que chega à vida adulta, capacitado para ler e entender manuais, embalagens de produtos, instruções de uso e advertências, relatórios, poesias, formulários, atlas, contos, gráficos, tabelas, artigos de jornal e revista e todas as demais formas da escrita cotidiana impressa ou eletrônica” e, “Ler com atenção, a rigor, significa compreender. E compreender significa também interpretar, discernir, captar em profundidade, discordar, ampliar...”

Porque

Entender um texto é compreender claramente as idéias expressas pelo autor para, então, interpretar e extrapolar essas idéias. Nesse momento o leitor deve ajustar as informações contidas no contexto em análise às que ele possui em seu arquivo de conhecimento”.

Quando se pensa então em “arquivo de conhecimento”, pressupõe-se que muitas informações foram buscadas; muitas leituras foram feitas, muitos foram os conhecimentos adquiridos e armazenados nos escaninhos do cérebro.

A medida que adentramos o universo da leitura, descortinando autores, e temas os mais variados, percebemos que vamos nos familiarizando cada vez mais com a palavra, que, com intimidade passeia, rodopia, baila suavemente em nossa mente ávida pelo conhecimento, porque “o prazer da leitura de um texto não pode ser avaliado. É coisa subjetiva; quem ama ler tem nas mãos as chaves do mundo”.

“... para ser ‘leitor útil’ há que existir a vontade, o desejo de ler, em primeiro lugar, mas também são necessários livros para serem lidos, uma quantidade e variedade suficientes para que cada um eleja o seu gênero predileto, os seus temas, os seus enredos, os seus “clássicos”, aqueles livros que nunca acabam de dizer o que têm para dizer, como definiu Ítalo Calvino. Livros que “viciem” o leitor, pois a leitura inquieta, desloca, preenche, responde, diverte, cria novas perguntas, possibilita usos pessoais da criação de um escritor”.

De todos os prazeres – a música, a dança, o cinema, passeios diversos – o mais inebriante para mim é a leitura; percebi, desde muito cedo, que esta realmente pode influenciar grandes mudanças, grandes transformações – a leitura dá poder, que vai além do simples prazer de ler por ler: “leitura pressupõe busca de informação

Pensar nesse universo – da leitura – é jamais cair no marasmo, na mesmice; é jamais se entediar, uma vez que para cada leitura, podemos fazer novas releituras, aprendendo, ensinando, enriquecendo-nos, porque “os livros têm seu próprio destino... o destino dos livros está ligado ao destino dos leitores”, assim eu os convido a fazerem-se co-criadores “do mundo criado e por criar”, conforme nos convida Leonardo Boff.

Podemos perceber, então, que o ato de ler, está atrelado a maneira com que cada leitor o faz, uma vez que a cada leitor o seu livro, a cada livro seu leitor, como nos orientava o grande bibliotecário Ranganathan, nas suas Leis da Biblioteconomia, que o bibliotecário tão bem conhece.
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Inajá Martins de Almeida
bibliotecária e coordenadora de projetos na Fundação Educandário Coronel Quito Junqueira e presidenta da ONG Educare Est Vita

Fonte:
http://www.amigosdolivro.com.br/

4a. Semana do Escritor de Sorocaba (Programação)



Programação

25/07
sexta-feira

18h
Exposição e autógrafo: Dr. Sergio Balsamo
Obra: Revelação

18h
Exposição e autógrafo: Dr. Edgard Steffen
Obra: O anjinho dos pés tortos

18h30
Exposição e autógrafos: José Antonio Rosa
Obra: O livro de Salomão

19h
Exposição e autógrafo: Celso Ribeiro "Marvadão" e Walter Martins
Obras: Criando Com O Marvadão / Sorocaba bem-te-vi

19h
Exposição e autógrafo: Samuel Barros
Obra: DRACMAS

20h
Exposição e autógrafos: João Rosas Barrios
Obras: - Caminhos mesclados - A praça e a prosa - O monge, o santo e a devoção

20h
Apresentação dos Poetas: Coesão Poética

DIA RESERVADO PARA OS ESCRITORES DA IMPRENSA

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26/07
Sábado


15h
Exposição e autógrafo: Rodrigo Capela
Obra: Poesia não Vende

15h
Exposição e autógrafos: Renato de Oliveira Leme
Obra: A baleia que aprendeu a voar

16h
Exposição e autógrafos: Nilza Florentina Vendrami
Obra: Sete filhos de Maria

16h
Exposição e autógrafos: Míriam Cris Carlos
Obra: Arteiras sorocabanas

16h
Exposição, autógrafos e distribuição gratuíta dos exemplares: Juliana Simonetti
Obra: Poesias

16h
Exposição e autógrafos: Leda Borguesi Rodrigues
Obra: Faça da sua cozinheira um sucesso na cozinha

16h
Exposição: Otto Wey Netto
Obra: Memórias do esporte sorocabano

18h
Exposição e autógrafos: Dalila Silva
Obra: Sob o olhar do corvo, a história de Hermes Tadeu/ Arrecadação para o GPACI

18h
Exposição e autógrafos: Maria do Carmos Alves Chaves Torres
Obra: De coração para coração

19h
Exposição e autógrafos: Prof. Mário Pereira Neto
Obras: Sorocaba Século 21 / Multinacionais em Sorocaba – BR

20h
Exposição e autógrafos: Carlos Roberto Mantovani
Obra: Escritos Ordinários

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27/07
Domingo


10h
Atividades diversas

18h
Encerramento da Semana do Escritor de Sorocaba

Fonte:

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Curiosidades de Nossos Escritores

Aluísio de Azevedo
Aluísio de Azevedo tinha o hábito de, antes de escrever seus romances, desenhar e pintar, sobre papelão, as personagens principais mantendo-as em sua mesa de trabalho, enquanto escrevia.

Carlos Drummond de Andrade
Aos dezessete anos, Carlos Drummond de Andrade foi expulso do Colégio Anchieta, em Nova Friburgo (RJ), depois de um desentendimento com o professor de português. Imitava com perfeição a assinatura dos outros. Falsificou a do chefe durante anos para lhe poupar trabalho. Ninguém notou. Tinha a mania de picotar papel e tecidos. "Se não fizer isso, saio matando gente pela rua". Estraçalhou uma camisa nova em folha do neto. "Experimentei, ficou apertada, achei que tinha comprado o número errado. Mas não se impressione, amanhã lhe dou outra igualzinha."

Cecília Meireles
Numa das viagens a Portugal, Cecília Meireles marcou um encontro com o poeta Fernando Pessoa no café A Brasileira, em Lisboa. Sentou-se ao meio-dia e esperou em vão até as duas horas da tarde. Decepcionada, voltou para o hotel, onde recebeu um livro autografado pelo autor lusitano. Junto com o exemplar, a explicação para o "furo": Fernando Pessoa tinha lido seu horóspoco pela manhã e concluído que não era um bom dia para o encontro.

Euclides da Cunha
Euclides da Cunha, Superintendente de Obras Públicas de São Paulo, foi engenheiro responsável pela construção de uma ponte em São José do Rio Pardo, SP. A obra demorou três anos para ficar pronta e, alguns meses depois de inaugurada, a ponte simplesmente ruiu. Ele não se deu por vencido e a reconstruiu. Mas, por via das dúvidas, abandonou a carreira de engenheiro.

Gilberto Freyre
Gilberto Freyre nunca manuseou aparelhos eletrônicos. Não sabia ligar sequer uma televisão. Todas as obras foram escritas a bico-de-pena, como o mais extenso de seus livros, Ordem e Progresso, de 703 páginas.

Graciliano Ramos
Graciliano Ramos era ateu convicto, mas tinha uma Bíblia na cabeceira só para apreciar os ensinamentos e os elementos de retórica.

Guimarães Rosa
Guimarães Rosa, médico recém-formado, trabalhou em lugarejos que não constavam no mapa. Cavalgava a noite inteira para atender a pacientes que viviam em longínquas fazendas. As consultas eram pagas com bolo, pudim, galinha e ovos. Sentia-se culpado quando os pacientes morriam. Acabou abandonando a profissão. "Não tinha vocação. Quase desmaiava ao ver sangue", conta Agnes, a filha mais nova.

Jorge Amado
Jorge Amado para autorizar a adaptação de Gabriela para a tevê, impôs que o papel principal fosse dado a Sônia Braga. "Por quê?", perguntavam os jornalistas, Jorge respondeu: "O motivo é simples: nós somos amantes." Ficou todo mundo de boca aberta. O clima ficou mais pesado quando Sônia apareceu. Mas ele se levantou e, muito formal disse: "Muito prazer, encantado." Era piada. Os dois nem se conheciam até então.

José Lins do Rego
José Lins do Rego era fanático por futebol. Foi diretor do Flamengo, do Rio, e chegou a chefiar a delegação brasileira no Campeonato Sul-Americano, em 1953.

Machado de Assis
Machado de Assis era miope, gago e sofria de epilepsia. Enquanto escrevia Memórias Póstumas de Brás Cubas, foi acometido por uma de suas piores crises intestinais, com complicações para sua frágil visão. Os médicos recomendaram três meses de descanso em Petrópolis. Sem poder ler nem redigir, ditou grande parte do romance para a esposa, Carolina.

Manuel Bandeira
Manuel Bandeira sempre se gabou de um encontro com Machado de Assis, aos dez anos, numa viagem de trem. Puxou conversa: "O senhor gosta de Camões?" Bandeira recitou uma oitava de Os Lusíadas que o mestre não lembrava. Na velhice, confessou: era mentira. Tinha inventado a história para impressionar os amigos.

Nélida Pinõn
a Academia Brasileira de Letras foi a primeira academia no mundo a eleger uma mulher para a presidência, a escritora Nélida Pinõn, que assumiu o cargo em 1995.

Olavo Bilac
O nome Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, quando dividido em sílabas poéticas se torna um perfeito verso Alexandrino, este que é composto por doze sílabas.

Em geral, o verso mais longo, em estrofes isométricas. Presente em poesias extremamente trabalhadas gramática e foneticamente, como as parnasianas.

O_la_vo Brás Mar_tins dos Gui_ma_rães Bi_lac

Pedro Nava
O escritor Pedro Nava parafusava os móveis de sua casa a fim que ninguém o tirasse do lugar.

Rachel de Queiroz
A Academia Brasileira de Letras, fundada em 1897, só admitiu a primeira mulher em seus quadros 70 anos depois. A pioneira foi a escritora cearense Rachel de Queiroz.

Fonte:
http://www.amigosdolivro.com.br

Chico Bento: das histórias em quadrinhos para a vida

artigo de Sandra Regina Nóia Mina (UFMS)

Através de uma linguagem interativa e feita para todas as idades, os gibis do Chico Bento retratam a história do inocente menino do campo, que fala errado (de acordo com a Gramática Normativa), tem amigos na roça em que vive, para uma melhor caracterização do personagem (espaço/campo), e um primo para caracterizar as diferenças entre campo/cidade.

Chico Bento, morador de Vila Abobrinha, é um personagem fictício, construído a partir da biografia de Mauricio de Sousa, que o espelhou em um tio-avô. Não somente Chico, mas sua Vó (Vó Dita) também faz parte dessa biografia do autor, uma vez que essa lhe contava várias histórias que por ele foram publicadas.

A linguagem, utilizada nas histórias, mostra que o protagonista é o típico caipira do interior, mas com trejeitos de 40 anos atrás. A visão de caipira, como o menino que mora na roça, fala errado, anda descalço, conversa com os animais e gosta da natureza, é como se fosse uma comparação que o autor faz embasado em determinado período da História para os dias atuais.

O primo (sem nome) de Chico mostra claramente tais diferenças, pois mora na capital/cidade grande, tem acesso a brinquedos modernos, a computador, fala certo de acordo com a típica figura do cidadão paulistano.

Já Chico Bento tem apenas pontos positivos quando está em comparação com o primo. Tais diferenças entre eles podem ser percebidas pelo leitor, não só através do texto, mas também através das imagens.

Ou seja, há toda uma semiótica textual alertando o leitor para as diferenças propostas. Criado em 1961, mas tendo sua primeira Revista lançada apenas em 1982, a Turma da Roça traz histórias passadas num ambiente pacato do interior, que acaba fazendo com que seus leitores (crianças) tenham um pré-conceito a respeito da criança do interior.

O gibi retrata o paulista (cidade provável - Taubaté-SP), em que um possível contraste com o personagem Jeca Tatu de Monteiro Lobato pode ser enfatizado. Mas também não podemos deixar de fazer alusão aqui ao ilustre Macunaíma, personagem satírico importante de nossa Literatura.

Os personagens, além de serem simples, falarem errado e não terem as mesmas noções que uma pessoa da capital (visão política) possa ter são essenciais para a ilustração da História do Brasil, já que vivem da colheita, o que acaba retratando, de um modo-geral, todo um grupo de indivíduos de mão-de-obra barata encontrada por todo país.

Além do que dissemos, Maurício de Sousa retrata neste personagem, não somente o menino ingênuo do campo, como chama a atenção para as diferenças dialetais encontradas na cultura brasileira que são quase sempre, dignas de preconceitos.

Com o uso de uma linguagem divertida e simples, carregada de imagens e alusões, e visando a igualdade entre as pessoas, Chico Bento é a figura da inocência que falta à sociedade atual. Tal inocência, entretanto, pode se transformar quando as crianças o lêem e descobrem que podem construir um novo mundo, com pessoas no mínimo diferentes.

Fontes:
http://www.amigosdolivro.com.br
http://www.gpdesenhos.com.br (desenho)

Manuel Bastos Tigre (1882 - 1957)

Escritor, (poeta e prosador), engenheiro, jornalista e bibliotecário, nasceu em Recife, Pernambuco, a 12 de março de 1882 e faleceu em 2 de agosto de 1957 no Rio de Janeiro.

Freqüentou, aos cinco anos de idade, a Aula Pública Mista da Rua Santo Elias, no Recife, e em seguida, o Colégio Diocesano da histórica Olinda, revelando, desde cedo, seu talento literário na composição de odes cívicas e sonetos humorísticos, onde mestres e colegas eram satirizados.

Líder estudantil encabeçou movimento em prol da obrigatoriedade de ensino, campanha que viria trazer inestimáveis serviços a população.

Formou-se engenheiro civil, em 1906 na Escola Nacional de Engenharia, no Rio de Janeiro. Mais tarde especializou-se em eletricidade nos Estados Unidos, onde permaneceu cerca de três anos, diplomando-se pela Bliss School de Washington. Regressando, trabalhou como engenheiro do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil.

Da sua vida universitária e de uma época trepidante do Rio de Janeiro, tudo revelou, através de seus poemas satíricos, um prenúncio de seu extraordinário humorismo.

Sua vida de jornalista iniciou-se em 1902, quando colaborou na revista humorística “Tagarela”. Prestou depois seus serviços nos principais órgãos da imprensa carioca como: “A Noite”, “Gazeta de Notícias”, “A Rua”, “Careta”, “O Malho”, etc. .

Foi fundador da revista “D. Xiquote”. No “Correio da Manhà”, manteve durante mais de 50 anos, “Pingos e Respingos”, uma das mais conhecidas seções da imprensa citadina, na qual, glosava com sadio humor, os fatos pitorescos do Rio, do país e até do mundo. (Usava, então, o pseudônimo Cyrano e Cia).

Emilio de Menezes introduziu-o nas rodas literárias do Rio Antigo, o que o fez tornar-se grande amigo de Olavo Bilac, Martins Fontes, Guimarães Passos, Plácido Junior, Henrique de Orlando e outros.

Suas atividades como escritor, fizeram-no conquistar o 1O. Prêmio de Poesias da Academia Brasileira de Letras, com a obra “Meu Bebê”. Deixou, como poeta, uma bela obra educativa, dedicada à infância. Sob o pseudônimo de “D. Xiquote” publicou muitos livros de versos humorísticos: Saguão da Posteridade, Poesias Humorísticas, Versos Perversos, Moinhos de Vento, etc.

Ocupou ainda o cargo de Inspetor Federal do Ensino Secundário. Foi primeiro como “publicitário”. Com dignidade e muito raciocínio, foi mestre e fez escola nesta moderna arma de negócios: a publicidade. Criou vários slogans publicitários que, ainda hoje, são usados e que ficarão para sempre na lembrança do povo. Bastos Tigre amava os livros e não podia viver sem eles.

Por volta de 1915 devotou-se inteiramente aos livros, não mais abandonando as estantes das bibliotecas. Inscreveu-se no 1o. Concurso realizado em nosso País para o cargo de Bibliotecário conquistou brilhantemente o 1o. Lugar, demonstrando seus autênticos conhecimentos da técnica da Biblioteconomia, quando da apresentação da tese sobre a aplicação do Sistema de Classificação Decimal, na organização lógica dos conhecimentos em trabalhos de Bibliografia e Biblioteconomia.

Como Bibliotecário serviu no Museu Nacional depois na Biblioteca da Associação Brasileira de Imprensa e finalmente na Biblioteca Central da Universidade do Brasil, onde exerceu o cargo de 1o Diretor. Trabalhou por mais de 20 anos quando a morte veio interromper a sua magistral carreira. Decano dos Bibliotecários brasileiros foi agraciado com uma das maiores distinções da classe, sendo-lhe conferido o premio “Paula Brito” ou Premio Gutenberg” e a Resolução no. 5 de 11 de março de 1958 do Poder Legislativo do Distrito Federal, que instituiu o Dia do Bibliotecário, a 12 de março, data de seu nascimento.

Pelo carinho que dedicava aos livros foi escolhido para Patrono da Semana da Biblioteca, escolha esta oficializada pelo Decreto Federal no. 884 de abril de 1962. Como Bibliotecário, Bastos Tigre foi um homem feliz e plenamente realizado. A Biblioteconomia foi realmente a sua carreira profissional. Seu grande entusiasmo e confiança no poder do livro é expresso nesta sua frase: Veículo de idéias, que trouxe o passado até o presente, levará o presente ao infinito dos tempos.

Fonte:
Informativo CRB-10, Porto Alegre, v. 11, n. 32, p.7, fev. 1998.
http://www.amigosdolivro.com.br

Bastos Tigre (Envelhecer - Contrição - Ação de Graças do Poeta - Eterna Incógnita)

Envelhecer

Entra pela velhice com cuidado,
Pé ante pé, sem provocar rumores
Que despertem lembranças do passado,
Sonhos de glória, ilusões de amores.

Do que tiveres no pomar plantado,
Apanha os frutos e recolhe as flores
Mas lavra ainda e planta o teu eirado
Que outros virão colher quando te fores.

Não te seja a velhice enfermidade!
Alimenta no espírito a saúde!
Luta contra as tibiezas da vontade!

Que a neve caia! o teu ardor não mude!
Mantém-te jovem, pouco importa a idade!
Tem cada idade a sua juventude.

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Contrição

Não sei a quanto mal dei eu motivo,
Danos que fiz e prantos que causei;
Mas se homem sou e, se entre os homens vivo,
Vivo do erro sujeito à humana lei.

Soberbo fui, querendo ser altivo?
Quis ser justo e o inocente castiguei?
Fui, servindo à maldade, ao bem nocivo?
— Vivo e vivi. É tudo quanto sei.

Quem há que os rumos do destino mude?
Dependesse de mim, fora eu feliz
Na divina volúpia da virtude.

Não me castigarás, Sereno Juiz,
Pelo bem que não fiz porque não pude,
Nem pelo mal que sem querer eu fiz.
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Ação de Graças do Poeta

Graças a vós Senhor, pela ventura
De poder isolar-me na Poesia,
Ter nela o alívio à provação mais dura,
E, no Sonho, o meu pão de cada dia.

Sentir albor de luar na noite escura,
Achar descanso e paz na nostalgia
E ver, até no pranto da amargura,
Um consolo vizinho da alegria.

Graças a vós por este dom divino
Que me defende do destino adverso,
Tornando-me senhor do meu destino.

E se em mim próprio, ruge o mal perverso,
Puro, alegre, feliz, o mal domino
E alo-me ao Céu nas asas do meu verso.
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Eterna Incógnita

Não sei quem sou nem sei por que motivo
Vim ao mundo e o que nele vim fazer.
Sei que penso e, portanto, sei que vivo,
Neste anseio instintivo de viver.

Porque procedo do homem primitivo,
Há rugidos de fera no meu ser.
Bom e mau, triste e alegre, humilde e altivo,
Não me posso, a mim mesmo, compreender.

Pois se, de mim, não sei causa e destino,
Que dos outros, do mundo, saberei?
Que definir, se a mim não me defino?

E sigo, ao léu da vida, a ignota lei,
Descrendo das verdades que imagino
E acreditando em tudo o que não sei.
====

Lindolf Bell (1938 - 1998)

Nasceu em Timbó (SC) no dia 02 de novembro de 1938. Em 1944, sua mãe iniciou sua alfabetização em alemão. De 1945 a 1952 estudou em sua terra natal Em 1953, matriculou-se no Curso Técnico em Contabilidade de Blumenau, concluído em 1955. Voltou a Timbó. Em 1958, serviu à Polícia do Exército. Em 1959, no Rio de Janeiro (RJ), estudou Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, curso que não completou. No ano seguinte, retorna a Timbó. Em 1962, iniciou seus estudos no Curso de Dramaturgia na Escola de Arte Dramática de São Paulo, no qual se formou em 1964.

Publicou seu primeiro livro de poesia, Os Póstumos e as Profecias, em 1962. Participou de diversos eventos: na Expressão de Novos Poetas, com poemas-murais, na biblioteca paulistana Mário de Andrade; do Movimento da Catequese Poética; foi autor do roteiro cinematográfico A Deriva para o filme experimental de Juan Seringo; declamou poemas no Show Contra, no Teatro Ruth Escobar, São Paulo SP. Em 1968, viajou para os Estados Unidos, onde integrou o grupo brasileiro no International Writing Program, na Universidade de Iowa. No seu retorno, passou a viver em Blumenau, onde foi professor de História da Arte na Fundação Universidade Regional. Participou na I Pré-Bienal de São Paulo, em 1970, com poemas-objetos.

Bell casou-se com Elke Hering (reconhecida artista plástica), com a qual teve 3 (três) filhos: Pedro, Rafaela e Eduardo Bell.

Após difundir seu movimento pelo Brasil e exterior, fixou moradia na cidade de Blumenau, onde, juntamente com a esposa Elke Hering e os amigos Péricles e Arminda Prade, criou a Galeria Açu-Açu (primeira do Estado de Santa Catarina). Além destas atividades, Bell também foi contador, professor, crítico de artes, conselheiro estadual da cultura do Estado de Santa Catarina e marchand (promotor de eventos relacionados à arte).

Foi um nome ligado à invenção lógica, à ousadia, à uma capacidade mágica. Seguindo seus impulsos rompeu as amarras que prendiam a poesia, tornando e exigindo o contato direto com o leitor. Bell também difundiu suas idéias através de painéis-poemas, corpoemas...

Se o ofício do poeta é redescobrir a palavra, como dizia o autor de As Vivências Elementares, nosso ofício é o de redescobrir o poeta, através de suas palavras, tais como aquelas presentes na Metafísica Cotidiana: procuro a palavra-palavra a palavra fóssil, a palavra antes da palavra”. Esse impulso rumo às origens nos torna mais sensíveis e profundos.

Bell amava a terra e tudo o que dela advinha. Mergulhando no drama da humanidade; a sua poesia mantinha-se vibrante. Tratava sempre da vida, da terra, da infância, do destino, da solidão, do efêmero, do transcedente, do sonho e da esperança.

Em uma entrevista do poeta à FCC (Fundação Cultural Catarinense), quando questinonado sobre algo de sua residência, o mesmo respondeu: “Todas as coisas que me rodeiam são raízes. A jabuticabeira que deve ter quase cem anos, a caramboleira, os baús, os móveis e todos os objetos antigos não são uma forma triste de memória mas uma afirmação de que, num crescimento espiritual, num crescimento humano não podemos jogar nada pela janela ou no lixo.

Não podemos jogar fora as raízes - elas nos preservam e elas se preservam conosco, na memória ou dentro da terra, seja onde for, mas elas também nos projetam porque, à medida que elas se preservam na terra, elas crescem fazem a gente crescer, como uma árvore. O homem é uma árvore que abriga amores, lembranças, outros seres, uma árvore que dá sombra e luz, e é para isso que a gente nasceu, fundamentalmente. Isso eu aprendi, é claro convivendo com meus pais e também com os vizinhos, que tinham maneiras semelhantes de viver e conviver, maneiras simples mas definitivas”
, ou seja, é isso que se pretende preservar e que busca-se vislumbrar na Casa do Poeta Lindolf Bell.

Ficamos entristecidos depois de sua partida, o que apenas completava o que sempre dizia: Quanto mais sozinhos menos inteiros. Só nos bastamos na proximidade, em bando. E o bando sem ele é muito pouco.

Em 10 de dezembro de 1998 veio a falecer.

"Mas um poeta não morre; pois a vida dos poetas é eterna. Bell colocou um pouco dela em cada palavra que escreveu e, embora seu corpo tenha ido, sua vida continuará espalhada eternamente pelas páginas dos livros que abrigam sua obra, na magia de suas palavras e pelo legado cultural que nos deixou".

OBRAS:

1962 Os Póstumos e as Profecias. 1ª Edição. São Paulo: Massao Ohno, 1962.
1964 Os Ciclos. 1ª Edição. São Paulo: Massao Ohno, 1964
1965 Convocação. São Paulo: Brasil, 1965.
1966 Curta Primavera. São Paulo: Brusco, 1966.
1966A Tarefa. São Paulo: Papyrus, 1966.
1967 Antologia Poética de Lindolf Bell. São Paulo: União, 1967.
1968 Antologia da Catequese Poética.
BELL, Lindolf. MATTOS, Luiz Carlos. JARDIM, Rubens. MÜLLER, Érico Max. SANTANA, Edson R. AGUIAR, Iosito e CARDOSO, Reni. Antologia da Catequese Poética. T. Paulista. São Paulo, 1968.
1971/1979 As Annamárias. 1ª Edição. São Paulo: Massao Ohno, 1971.
(qualificada por Drummond como a mais importante obra lírico-amorosa em língua portuguesa dos últimos anos).
1974 Incorporação. 1ª Edição. São Paulo: Quiron, 1974.
1980 As Vivências Elementares. 1ª Edição. São Paulo: Massao Ohno/Roswitha Kempf, 1980.
1984 O Código das Águas. 1ª Edição. São Paulo: Global, 1984.
(melhor livro de poesia do ano - Associação Paulista dos Críticos de Artes).
1985 Setenário. Florianópolis: Sanfona, 1985.
1987 Texto e Imagem. Oficinas de Arte. Florianópolis, 1987.
1994 Pré-textos para um fio de esperança. BADESC. Florianópolis, 1994.
1993 Iconographia. Editora Paralelo: 1993.
1994 Requiem. Oficinas de Arte. Florianópolis, 1994.

Fontes:
http://www.amigosdolivro.com.br
http://www.releituras.com

Lindolf Bell (Manuel Bandeira do Brasil)

Todos fizeram seus versos para o poeta.
Também vou fazer os meus.

Quando um poeta morre
os outros fazem silêncio
ainda que ninguém tome conhecimento.

Onde estiver,
a estrela da tarde
estará no horizonte da palavra,
atrás do teatro Carlos Gomes
de meus pensamentos vãos,
e me lembrarei de ti, Manuel
Bandeira da saudade.

Onde estiver,
estarei na sacada do mundo
esperando a tua bênção
no vento noturno,
na tua galeria intemporal
de poeta que fez versos
como quem ama.

Onde estiver,
sei que pairas
entre o coração que sabe
e o ruído dos automóveis
da rua quinze de novembro e a chuva
de minha cidade temporal,
que visitas sem que ninguém saiba
e abençoas sem resposta esperada.

Todos fizeram seus versos para o poeta.
E o tempo custou a chegar
para meus versos,
afundados que jaziam no rio Itajaí,
antes da estrela da manhã
ainda que tardia,
onde os esqueci.

quando um poeta morre
os outros morrem também.

Mas nasce um canto
que fica
e fica um verso que nasce,
poeta Manuel, Leão leal.
Mas um canto de morte inteira,
Mas um verso da vida inteira.

E eu queria te dizer,
Manuel Bandeira do Brasil
e verde vale de azul anil,
que achei uma palavra fora do dicionário,
uma palavra estrelada de nome:
MANUELANCOLIA.
Fonte:
BELL, Lindolf. Incorporação: doze anos de poesia, 1962/1973. SP: Editora Quiron, 1974.Disponível em http://www.releituras.com

quarta-feira, 23 de julho de 2008

VI Aniversário da Academia de Letras de Balneário Camboriú

No dia 31 de julho de 2008, às 20hs, no Marambaia Cassino Hotel, salão Laranjeiras, em Camboriú, haverá a solenidade do VI Aniversário da Academia de Letras de Balneário Camboriú, em cuja ocasião tomará posse a nova diretoria e a consagração de novos acadêmicos.

Presidente: Marah T. Souza
Secretário Geral: Miriam de Almeida
1o. Secretário: Leda Mrovinski
2o. Secretário: Tamara Kaufmann
Tesoureiro: Ari Santos de Campos

Os acadêmicos:
Ana Branca Cardoso Maia (poeta)
Ari Santos de Campos (poeta)
Benjamim Zwoelfer de Farias (romancista)
Berenice dos Santos Dunbar (romancista)
Eduardo Meneghelli Júnior (poeta)
Euclides Philippi (romancista)
Helen Francine Marin Thives (poeta)
Isaque Borba Corrêa (romancista)
Jesus Gomes de Oliveira (contista)
João Staliotto (compositor)
Joel de Oliveira Gonçalves (poeta)
Jorge Luís Crestani (poesta)
Lílian Venera dos Santos (poeta)
Mara Brating (poeta)
Mara Teresinha de Souza (poeta)
Maria Carmen Varejão (poeta)
Maria Gonçalves (poesta)
Rafael Ferreira (ensaísta)
Rita de Cássia Oliani (poeta)

Fonte:
E-mail enviado por Gislaine Canales
http://www.portalcamboriu.com.br/noticias/ver2.asp?id=94

Concurso de Trovas de Maranguape / CE 2008

UNIÃO BRASILEIRA DE TROVADORES
SEÇÃO DE MARANGUAPE - CEARÁ
.
ÂMBITO MUNICIPAL

TEMA: “Amizade” (Trova lírica ou filosófica)

VENCEDORES (1º ao 3º lugares):
1º. João Osvaldo Soares - Maranguape/CE
2º. João Osvaldo Soares - Maranguape/CE
3º. José Aureilson Cordeiro de Abreu - Maranguape/CE

MENÇÕES HONROSAS (4º ao 6º lugares):
4º. Daniele Costa de Holanda - Maranguape/CE
5º. Haroldo César Beserra Paula - Maranguape/CE
6º. Maria Ruth Bastos de Abreu Brandão - Maranguape/CE

MENÇÕES ESPECIAIS (7º ao 9º lugares):
7º. Raimundo Rodrigues de Araújo - Maranguape/CE
8º. Daniele Costa de Holanda - Maranguape/CE
9º. Antônio Francisco de Andrade - Maranguape/CE

DESTAQUES (10º ao 12º lugares):
10º. José Aureilson Cordeiro de Abreu - Maranguape/CE
11º. Lúcia de Fátima Mapurunga Batista - Maranguape/CE
12º. Luiz Carlos de Abreu Brandão - Maranguape/CE

TEMA: “Risada” (Trova Humorística)

VENCEDORES (1º ao 3º lugares):
1º. João Osvaldo Soares - Maranguape/CE
2º. Olga Rosália Silva Pedrosa - Maranguape/CE
3º. Maria Leda Pereira da Silva - Maranguape/CE

MENÇÕES HONROSAS (4º ao 6º lugares):
4º. Maria Glice Sales Alcântara- ACLA-Maranguape/CE
5º. Maria Ruth Bastos de Abreu Brandão - Maranguape/CE
6º. Olga Rosália Silva Pedrosa - UBT-Maranguape/CE

MENÇÕES ESPECIAIS (7º ao 9º lugares):
7º. Luiz Carlos de Abreu Brandão - UBT-Maranguape/CE
8º. Lúcia de Fátima Mapurunga Batista - UBT-Maranguape/CE
9º. Raimundo Rodrigues de Araújo - UBT-Maranguape/CE

DESTAQUES (10º ao 12º lugares):
10º. Raimundo Rodrigues de Araújo - UBT-Maranguape/CE
11º. Daniele Costa de Holanda - UBT-Maranguape/CE
12º. José Aureilson Cordeiro de Abreu - UBT-Maranguape/CE
=========================================

ÂMBITO ESTADUAL

TEMA: “Saudade” (Trova lírica ou filosófica)

VENCEDORES (1º ao 3º lugares):
1º. Lugar: Deusdedit Rocha - Fortaleza/CE
2º. Francisco José Pessoa de Andrade Reis - Fortaleza/CE
3º. Francisco José Pessoa de Andrade Reis - Fortaleza/CE

MENÇÕES HONROSAS (4º ao 6º lugares):
4º. Ana Maria do Nascimento - Aracoiaba/CE
5º. Maria Glice Sales Alcântara - ACLA-Maranguape/CE
6º. Deusdedit Rocha - Fortaleza/CE

MENÇÕES ESPECIAIS (7º ao 9º lugares):
7º. Haroldo Lyra - Fortaleza/CE
8º. Hortêncio Pessoa - Fortaleza/CE
9º. João Osvaldo Soares (Vaval) - UBT-Maranguape/CE

DESTAQUES (10º ao 12º lugares):
10º. Ramos Pontes - UBT-Maranguape/CE
11º. Francinete Azevedo - Fortaleza/CE
12º. João Osvaldo Soares (Vaval) - UBT-Maranguape/CE

TEMA: “Palhaço” (Trova Humorística)

VENCEDORES (1º ao 3º lugares):
1º. Francisco José Pessoa de Andrade Reis - Fortaleza/CE
2º. Hortêncio Sales Pessoa - Fortaleza/CE
3º. Raimundo Rodrigues de Araújo - UBT-Maranguape/CE

MENÇÕES HONROSAS (4º ao 6º lugares):
4º. Maria Glice Sales Alcântara - ACLA- Maranguape/CE
5º. Francisco José Pessoa de Andrade Reis - Fortaleza/CE
6º. Hortêncio Sales Pessoa - Fortaleza/CE

MENÇÕES ESPECIAIS (7º ao 9º lugares):
7º. Daniele Costa de Holanda - UBT-Maranguape/CE
8º. Deusdedit Rocha - Fortaleza/CE
9º. Maria Ruth Bastos de Abreu Brandão - UBT-Maranguape/CE

DESTAQUES (10º ao 12º lugares):
10º. Raimundo Rodrigues de Araújo - UBT-Maranguape/CE
11º. Ramos Pontes - UBT-Maranguape/CE
12º. Luiz Carlos de Abreu Brandão - UBT-Maranguape/CE
===========================================

ÂMBITO NACIONAL/INTERNACIONAL

TEMA: “Paz” (Trova Lírica/filosófica)

VENCEDORES (1º ao 3º lugares):
1º. Wanda de Paula Mourthé - Belo Horizonte/MG
2º. Zeni de Barros Lana - Belo Horizonte/MG
3º. Amael Tavares da Silva - Juiz de Fora/MG

MENÇÕES HONROSAS (4º ao 6º lugares):
4º. Analice Feitoza de Lima - São Paulo/SP
5º. Therezinha Diegue Brisolla - São Paulo/SP
6º. Campos Sales - São Paulo/SP

MENÇÕES ESPECIAIS (7º ao 9º lugares):
7º. Antônio Augusto de Assis - Maringá/PR
8º. Domitilla Borges Beltrame - São Paulo/SP
9º. Milton Nunes Loureiro - Niterói/RJ

DESTAQUES (10º ao 12º lugares):
10º. Thereza Myrtes Mazza Masiero - São José dos Campos/SP
11º. Jaime Pina Silveira - São Paulo/SP
12º. Pedro Viana Filho - Volta Redonda/RJ

TEMA: “Boca” (Trova Humorística)

VENCEDORES (1º ao 3º lugares):
1º. Doralice Gomes da Rosa - Porto Alegre/RS
2º. Elen de Novais Felix - Niterói/RJ
3º. Izo Goldman - São Paulo/SP

MENÇÕES HONROSAS (4º ao 6º lugares):
4º. Renato Alves - Rio de Janeiro/RJ
5º. Jaime Pina Silveira - São Paulo/SP
6º. João Paulo Ouverney - Pindamonhangaba/SP

MENÇÕES ESPECIAIS (7º ao 9º lugares):
7º. Antônio Colavite Filho - Santo André/SP
8º. Newton Vieira - Curvelo/MG
9º. Analice Feitoza de Lima - São Paulo/SP

DESTAQUES (10º ao 12º lugares):
10º. Arlindo Tadeu Hagen - Belo Horizonte / MG
11º. José Ouverney - Pindamonhangaba/SP
12º. Ademar Macedo - Natal/RN
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Maranguape

Originalmente terra dos potiguaras, Maranguape viu o branco chegar em 1649 e dominar sua verdejante terra durante cinco anos, quando foi expulso do Brasil. Para a Coroa Portuguesa, aquele pedaço de Brasil não devia parecer interessante o suficiente para ser imediatamente ocupado, pois somente nos primeiros anos do século XVIII iniciou as concessões de sesmarias.

O processo definitivo de povoamento das terras de Maranguape somente ocorreu no despertar do século XIX, com a chegada do português Joaquim Lopes de Abreu. Com Abreu nasceu o núcleo original da atual cidade de Maranguape, um arruado à margem esquerda do riacho Pirapora, ao lado de uma capelinha a Nossa Senhora da Penha, erguida pelo colonizador lusitano. O aglomerado recebeu o nome de Alto da Vila, hoje denominado Outra Banda, para em 1760 ser rebatizado como Maranguape.

Na serra, o português espalhou o café com resultados excelentes, tanto que a produção do fruto no Ceará, meio século depois, era quase toda originária da serra e ainda era exportada. Frutas se agregaram à cultura do café, a localidade cresceu e foi elevada à condição de distrito do Município de Fortaleza. Em ruínas, a capela foi substituída por outra, erguida no lado oposto, à direita do Riacho Pirapora, consolidando-se ali o núcleo central de Maranguape, elevado à categoria de Vila em 17 de novembro de 1851.

Em 1869 Maranguape ganhou o status de Cidade, emancipando-se. Município da Região Metropolitana de Fortaleza, Maranguape tem 646,60 km2, o que corresponde a 0.46% do território cearense, distante 20 Km de Fortaleza. A rodovia de acesso é a CE 065 e os limites ao Norte, Caucaia e Maracanaú; ao Sul, Caridade e Palmácia; a Leste, Maracanaú, Guaiúba e Pacatuba e a Oeste com Pentecoste.

Maranguape está situada no Nordeste do Estado do Ceará, no sopé da serra de Maranguape, a 30 km distante de Fortaleza.

Área: 654,8 km²
Latitude: 3°53’27
Longitude: 38º41’08”
População: 98.429 habitantes
Distritos
Maranguape, Amanari, Tanques, Cachoeira, Ladeira Grande, Lagoa do Juvenal, Papara, Manoel Guedes, Penedo, Itapebussu, Sapupara, Jubaia, Antônio Marques, Vertentes do Lajedo, Umarizeiras, Lages e São João do Amanari.
Clima: Tropical Quente Úmido
Período chuvoso: Janeiro a Maio
Atividades econômicas: Na serra, portugueses espalharam o café com resultados excelentes, tanto que a produção do fruto no Ceará, era quase toda originária da serra e ainda era exportada. Frutas se agregaram à cultura do café, a localidade cresceu e foi elevada à condição de distrito do Município de Fortaleza.
Serras: Maranguape , Lajedo, Aratanha, e Pelada.

Pontos Turísticos: Pico da Rajada, Pico da Pedra Branca, Cume do Lajedo, Mirantes nas serras, nascentes de água cristalina, cachoeiras, rios e riachos.

Manifestações culturais
Maranguape tem uma grande tradição nas expressões artísticas e culturais. Berço de artesãos e bordadeiras. O Richilieu é sua maior representação.Ceramistas, escultores e artistas plásticos fazem o melhor da arte. Entre os eventos podemos citar os festejos juninos com apresentações de quadrilhas, quermesses, barracas com comidas típicas e as tradicionais festas de padroeiros, que ocorre nos 17 distritos durante o ano. Há de se destacar a Vaquejada de Itabebussu, uma das mais tradicionais do Ceará, conhecida mundialmente, que ocorre no Parque Novilha de Prata, localizado no distrito de Itapebussu, a 40 Km da sede do Município.

Fontes:
- Colaboração de A. A. de Assis
- http://www.brasilcidadao.org.br/
- Prefeitura Municipal de Maranguape.
http://www.maranguape.ce.gov.br/