quinta-feira, 4 de novembro de 2010

VII Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores, em Eurico Salles, ES (5 a 7 de Novembro)


Com uma programação variada e envolvendo a participação de artistas, estudantes, professores e toda a Comunidade em geral, será realizado de 05 a 07 de Novembro próximo, o VII Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores, numa promoção do Clube dos Trovadores Capixabas, CTC, na Sede da AMBES, Associação de Moradores de Eurico Salles, Rua dos Colibris, em Eurico Salles, Carapina, Serra, ES.

Com as presenças confirmadas de Escritores, Poetas e Trovadores de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Amazonas será realizado de 05 a 07 de Novembro de 2010, na AMBES, Associação de Moradores do Bairro Eurico Salles, o VII Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores e a 27a. Edição dos Seminários Nacionais da Trova, iniciados em 2001 para comemorar naquela época o 1º Aniversário do Clube dos Trovadores Capixabas, CTC.

A abertura solene do evento será no dia 05 de Novembro, com início às 19 horas, com a apresentação do Coral da Arcelor Mittal, antiga CST, Recitais Poéticos e declamações.

Para o Congresso de 2010 estão programadas várias Palestras, Lançamentos de Livros, Noite de Autógrafos, Troveata, Oficina de Criação Poética, ensinando a fazer poesia e trovas, Show dos Poetas trovadores na Praça dos Pássaros com quatro Bandas de Rock, SERENATA pelas ruas de Eurico Salles e uma Missa em Trovas.

CONGRESSO VAI DEBATER A INCLUSÃO DAS OBRAS DE AUTORES CAPIXABAS NAS SALAS DE AULAS

Com base numa idéia da Câmara Capixaba do Livro e com integral apoio do Empresário Luiz Carlos Maioli e de vários Acadêmicos da Academia de Letras e Artes da Serra e sócios do Clube dos Trovadores Capixabas, CTC, durante o Congresso de Poetas Trovadores, a ser realizado de 05 a 07 de Novembro de 2010 será apresentado em plenário para discussão e possível aprovação, a proposta da criação de uma lei estabelecendo que entre os livros paradidáticos a serem adotados nas Escolas Estaduais e Municipais nos próximos anos, sejam incluídos autores Capixabas, de modo especial os beneficiados pela Lei de Incentivo a Cultura, Chico Prego.

A proposta será apresentada pelo Presidente do CTC, Clério José Borges para ser incluída na Carta de Eurico Salles, documento com a ser encaminhado às autoridades federais, estaduais e municipais com as principais reinvidicações dos poetas e escritores brasileiros presentes no evento.

NOITE DE AUTÓGRAFOS REUNE ESCRITORES BRASILEIROS E AUTORES BENEFICIADOS PELA LEI "CHICO PREGO" DE INCENTIVO À CULTURA

Os escritores Aldo José Barroca, Luciano Cardoso, Rogério Afonso e Clério José Borges confirmaram participação na Noite de Autógrafos, durante a abertura solene do VII Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores no dia 05 de Novembro, com início às 19 horas até às 22 horas, lançando seus Livros "O Amigo José" , "Mangue. Doc" e "Dicionário Regional de Gírias e Jargões", editados com o incentivo da Lei Chico Prego da Prefeitura Municipal da Serra, ES.

Também participará da Noite de Autógrafos o Escritor Carlos Brunno S. Barbosa, da cidade de Valença, RJ, que lançará o seu livro "Diários de Solidão".

Outros escritores também estarão participando do evento, entre os quais, Fernando Antônio Barbosa Aguiar, Levi Basílio, Mestre Gil, Valdemir Ribeiro Azeredo, Edson Constantino, Repentista Ceará, Albércio Nunes, Moacir Malacarne e in memoriam, Beatriz Barbosa Aguiar.

MISSA EM TROVAS SERÁ NO DOMINGO COM PADRE PEDRO SETTIN E CORAL DA IGREJA CATÓLICA

O Coral "Cantando com Jesus", de Eurico Salles, Carapina Serra ES, sob a batuta do Maestro Joel, confirmou presença na Missa em Trovas a ser realizada durante do Congresso de Trovadores, na Sede da AMBES.

A Missa em trovas do Trovador Antônio Augusto de Assis, residente em Maringá, PR, será celebrada pelo Padre Pedro Settin, Comboniano, Pároco da Paróquia São José Operário de Carapina, Serra, ES, no dia 07/11, Domingo com início às 09h30m.

Após a Missa haverá uma apresentação especial da Banda de Congo Mirim de Bicanga.

ESCRITOR CLÉRIO JOSÉ BORGES LANÇA 8º LIVRO

A Academia de Letras e Artes da Serra e o Clube dos Poetas Trovadores Capixabas, CTC, convidam Vossa Excelência e família para a NOITE DE AUTÓGRAFOS do Poeta Trovador, Escritor e Acadêmico, CLÉRIO JOSÉ BORGES DE SANT ANNA, por ocasião do lançamento do Livro DICIONÁRIO REGIONAL DE GÍRIAS E JARGÕES, com gírias da Malandragem, dos Jovens, dos Advogados (Expressões em Latim), dos Noiados, das Patricinhas e Mauricinhos e dos Policiais. Um trabalho de pesquisa realizado durante 35 anos trabalhando como Escrivão de Polícia da Polícia Civil do Estado do Espírito Santo.

O lançamento do oitavo Livro de Clério José Borges será no dia 05 de Novembro de 2010, Sexta feira, com início às 19,00 horas, durante a solenidade de abertura do VII CONGRESSO BRASILEIRO DE POETAS TROVADORES, a ser realizado de 05 a 07/11/2010, na Sede da Associação de Moradores do Bairro Eurico Salles, AMBES, na Rua dos Colibris, quadra 10, Eurico Salles, ES.

POESIAS DE BERTHOLD BRECHT NA ABERTURA DO CONGRESSO DE TROVADORES

Inspirado no texto dramático infanto-juvenil do dramaturgo alemão Berthold Brecht (1898-1956), "O Mendigo ou Cachorro Morto" (1919), a Tibicuera Produções acaba de anunciar as apresentações do espetáculo teatral, "O Mendigo, o Imperador e suas palavras", no Município da Serra e em várias cidades do Estado. Everaldo Nascimento e Altamir Furlane são os atores da peça e confirmaram presenças na abertura do Congresso, dia 05/11, a partir de 19,00 horas declamando poesias de Brecht.

PREMIADA ESCRITORA KÁTIA BOBBIO LANÇA MAIS UM LIVRO DE CORDEL

A Artista Plástica e Escritora Kátia Maria Bobbio Lima, nascida em Conceição da Barra estará presente no Congresso lançando mais um Livro de Cordel, onde relata a história dos 30 anos do CTC, Clube dos Trovadores Capixabas. Kátia já publicou mais de 100 livros da Literatura de Cordel.

PROGRAMAÇÃO DO CONGRESSO

CONVITE

VII CONGRESSO BRASILEIRO DE POETAS TROVADORES

Com uma programação variada e envolvendo a participação de artistas, estudantes, professores e toda a Comunidade em geral, será realizado de 05 a 07 de Novembro próximo, o VII Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores, numa promoção do Clube dos Trovadores Capixabas, CTC, na Sede da AMBES, Associação de Moradores de Eurico Salles, Rua dos Colibris, em Eurico Salles, Carapina, Serra, ES.

OFICINA DE CRIAÇÃO POÉTICA / APRENDA O QUE É POESIA E COMO FAZER A TROVA

DUAS TURMAS E DUAS AULAS EM DOIS DIAS. INSCRIÇÕES NA HORA. GRÁTIS.
TURMA A – dia 05/11/2010 - PELA MANHÃ – 10,00 horas.
TURMA A – dia 06/11/2010 - PELA MANHÃ – 10,00 horas.
TURMA B – dia 05/11/2010 - PELA TARDE – 14,00 horas.
TURMA B – dia 06/11/2010 - PELA TARDE – 14,00 horas

DIA 05 DE NOVEMBRO.
SEXTA FEIRA. De 10 às 19,00 horas – Varal de Poesias e Vídeos.

19H30M - ABERTURA SOLENE NA SEDE DA AMBES. PARTICIPAÇÃO ESPECIAL DO CORAL DA ARCELOR MITTAL.
Composição da Mesa. Homenagens. Hora de Arte. Noite de Autógrafos, dos Escritores, Aldo José Barroca, Valdemir Ribeiro Azeredo, Levi Basílio, Luciano Cardoso e Rogério Afonso, Carlos Brunno S. Barbosa, Kátia Bobbio, Edilson Celestino Ferreira, Beatriz Barbosa Aguiar.

Lançamento do Livro DICIONÁRIO REGIONAL DE GÍRIAS E JARGÕES, com gírias da Malandragem, dos Jovens, dos Advogados (Expressões em Latim), dos Noiados, das Patricinhas e Mauricinhos e dos Policiais.
Dia 05/11/2010, Sexta feira, com início às 19h30m, na Sede da Associação de Moradores do Bairro Eurico Salles, AMBES, na Rua dos Colibris, Eurico Salles.
PREÇO DO LIVRO R$ 10,00.

DIA 06/11/2010 – SÁBADO – 09,00H –
Reabertura dos trabalhos, na sede da AMBES.
Vídeo: INVENTO de um para sol para veículos, de Edilson Celestino Ferreira e Vídeo Fotos antigas de Vitória.

Concurso Relâmpago de Trovas.

Declamações.

Espaço livre para apresentações e notícias culturais.

Carta de Eurico Salles.

Oficina de Criação Poética e Arte dos Bonecos para crianças, com Maria José, do RJ.

13h30m - Exibição de Vídeos: “Cantagalo, terra de Euclides da Cunha”; “Como compor um Livro”, de Lola Prata, SP; “Serra, Monumento Arquitetônico e história - ontem e hoje”, de Suzy Nunes e “Judith, Senhora Cidadã”, de José Benevides Correia, com produção e roteiro de Suzy Nunes.

14h30m - Diversidade Cultural, com coordenação das Professoras Maria Lúcia Adriano Costa e Vanderléia L. Adriano Costa.

16,00 horas - Peça Teatral com coordenação de Fábio Santana.

17,00 horas - Exibição do Filme “Siga minhas mãos”, sobre as Montanhas do Espírito Santo, de Luciana Gama. Obra editada com apoio da Lei de Incentivo à cultura da Serra, ES, Lei Chico Prego.

19,00h - SERENATA na sede da AMBES com caminhada até a Praça.

20,00H, SHOW NA PRAÇA DOS PÁSSAROS EM EURICO SALLES COM QUATRO BANDAS DE ROCK ‘N’ ROLL, HEAVY METAL E ROCK ALTERNATIVO, COM SUCESSOS DE LED ZEPPELIN, BLACK SABBATH, JIMMY HENDRIX, IRON MAIDEN, METALLICA, NIRVANA, RAIMUNDOS E PITTY. AS BANDAS SÃO: “JUICING SOULS” E “ANARCKIA”, DE VITÓRIA; “STILLBORN” E “TÉTRICOS”, DA SERRA.

Dia 07/11/2010, DOMINGO - 09h30m –
MISSA EM TROVAS, na Sede da AMBES, com trovas do Trovador A. A. de Assis, de Maringá, Paraná, celebrada pelo Padre Italiano, Pedro Settin.
Participação do Coral “Cantando com Jesus”, da Igreja Católica da Comunidade São Paulo, de Eurico Salles. Declamação e leitura de Poesias. Banda de Congo Mirim de Bicanga.

LIVROS A SEREM LANÇADOS NO CONGRESSO

O AMIGO JOSÉ, Livro de contos e crônicas, patrocinado pela Lei Chico Prego, da Secretaria de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer da Prefeitura da Serra, com importante participação do Conselho Municipal de Cultura, e apoio cultural do Banestes - Banco do Estado do Espírito Santo, cujo lançamento será sexta-feira, 5 de novembro, a partir das 19 horas, na AMBES - Associação de Moradores do Bairro Eurico Sales, como parte da programação do Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores.

Convite: Lançamento do 4º livro de Aldo José Barroca: “O amigo José”, contos e crônicas. Preço promocional no lançamento: R$ 5,00 (cinco reais). Sexta-feira, 5 de novembro de 2010, das 19 horas em diante, na Associação de Moradores do Bairro Eurico Sales, Serra, durante o VII Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores.
Patrocínio: Lei Chico Prego, da Secretaria de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer (Prefeitura da Serra / Conselho Municipal de Cultura) e apoio cultural: Banestes. Contato com o autor: ajbarroca@oi.com.br / 88145252.

¨DIÁRIOS DE SOLIDÃO”, Livro de Carlos Brunno S. Barbosa.

Fonte:
Clerio José Borges Sant’Anna

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.39)


Trova do Dia

Essa paz tão desejada,
pelos homens, certamente,
precisa ser procurada,
primeiro, dentro da gente!
DELCY CANALLES/RS

Trova Potiguar

A saudade não faz sangue,
mas, fura feito um arpão,
com efeito bumerangue,
volta sempre ao coração!...
FRANCISCO MACEDO/RN

Uma Trova Premiada

2010 > São Paulo/SP
Tema > FEITIÇO > Vencedora

Para ter o compromisso
do amor de certa mulher,
eu, que não creio em feitiço
faço o feitiço que houver!
ARLINDO TADEU HAGEN/MG

Uma Poesia livre

– Vicente Alencar/CE –
FRUTOS DOCES

Os frutos doces
de um amor maduro
transformam meus dias
de minuto a minuto
fazendo-os mais ensolarados
e as noites mais amenas.

O preciosismo
de um amor maduro
modifica, altera,
faz a vida ganhar
uma outra dimensão
com os caminhos ficando abertos
nos dando
uma nova alegria de viver.

Uma Trova de Ademar

A seca cruel e dura
faz o maior escarcéu,
quebra a chave e a fechadura
da caixa d’água do céu.
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Com quatro versos, eu penso
que na trova com certeza,
há quatro pontas de um lenço,
para enxugar a tristeza...
ORLANDO BRITO/MA

Estrofe do Dia

Saudade é foto amarela
que um filho guardou dos pais,
depois que os pais faleceram
da foto ele foi atrás,
de tanto guardar, perdeu;
procurou, não achou mais.
PEDRO ERNESTO FILHO/CE

Soneto do Dia

– Antônio Roberto Fernandes/RJ –
LADAINHA.

Olhai pra mim, mulher da minha vida!
Senhora dos meus sonhos, me escutai!
Minh' alma já não sabe aonde vai,
neste vale de lágrimas perdida.

Com a luz de vossos olhos me mostrai
um caminho, uma chance, uma saída,
Senhora finalmente aparecida,
meus negros horizontes clareai.

Não tenho vocação para o martírio,
perdão se é heresia o meu delírio
mas nestes lábios que têm fogo e mel.

Arrebatai-me agora, ao gozo eterno
para que eu - que já conheço o inferno -
possa, convosco, conhecer o céu!.…

Fonte:
Ademar Macedo

Felipe Daiello na Feira do Livro de Porto Alegre (Onde Estão os Dinossauros?: Uma aventura na Mongólia)

Fonte:
Felipe Daiello

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Cantinho do Assis (Bela alma a do poeta)

Hoje começamos o Cantinho do poeta, trovador, haicaista maringaense Antonio Augusto de Assis
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Quantos sons você conta aí?... Suponhamos que sete: Be-la-al-maa-do-po-e-ta. Mas por certo haverá quem conte seis, ou mesmo cinco, dependendo do ouvido de cada um.

Dá-se isso por obra do bendito hiato, o inimigo número um da métrica. Parece que para a maioria dos poetas brasileiros o verso fica mais agradável quando se respeitam os hiatos, porém outros acham mais natural fundir as vogais. E como é que se resolve isso? Sabe-se lá...

O maior drama é nos concursos. Você não sabe se conta poe-ta ou po-e-ta. O jeito é torcer para que os julgadores acatem o sotaque de cada autor. Em regra, não se derruba nenhuma trova em razão desse problema; entretanto, mesmo assim, o concorrente fica de pé atrás, pelo medo de quebrar o cujo...

A tendência, como foi dito, é pronunciar po-e-ta, vi-a-gem, a-in-da, a-al-ma, a-ho-ra, o-ho-mem, o-ou-ro, po-ei-ra, su-a, to-a-da etc. Mas... e se você não concordar? Tudo bem. Você continuará escrevendo seus versos do modo que mais lhe agrade, e pronto. Afinal de contas, quem manda no texto é o autor. Se bem que alguns, por via das dúvidas, têm feito o seguinte:

se, por exemplo, mandam a trova para um concurso no Rio de Janeiro, contam/fri-io/, em dois sons;
se o concurso é em São Paulo, contam/friu/, num som apenas.
Outros, mais cuidadosos ainda, procuram de toda forma evitar hiatos.

Resolve? Bem... Pelo menos pode livrar a trova do risco de perder pontos por não soar bem no ouvido do julgador. São ossos que o poeta encontra em seu delicioso ofício...

Fonte:
Revista Virtual Trovia – ano 8 – n.88 – Outubro 2006

Monteiro Lobato (Emília no País da Gramática) – Capítulo II: Portugália

Era uma cidade como todas as outras. A gente importante morava no centro e a gente de baixa condição, ou decrépita, morava nos subúrbios. Os meninos entraram por um desses bairros pobres, chamado o bairro do Refugo, e viram grande número de palavras muito velhas, bem corocas, que ficavam tomando sol à porta de seus casebres. Umas permaneciam imóveis, de cócoras, como os índios das fitas americanas; outras coçavam-se.

— Essas coitadas são bananeiras que já deram cacho — explicou Quindim. — Ninguém as usa mais, salvo por fantasia e de longe em longe. Estão morrendo. Os gramáticos classificam essas palavras de arcaísmos. Arcaico quer dizer coisa velha, caduca.

— Então, Dona Benta e Tia Nastácia são arcaísmos! — lembrou Emília.

— Mais respeito com vovó, Emília! Ao menos na cidade da língua tenha compostura — protestou Narizinho.

O rinoceronte prosseguiu:

— As coitadas que ficam arcaicas são expulsas do centro da cidade e passam a morar aqui, até que morram e sejam enterradas naquele cemitério, lá no alto do morro. Porque as palavras também nascem, crescem e morrem, como tudo mais.

Narizinho parou diante duma palavra muito velha, bem coroca, que estava catando pulgas históricas à porta dum casebre. Era a palavra Bofé.

— Então, como vai a senhora? — perguntou a menina, mirando-a de alto a baixo.

— Mal, muito mal — respondeu a velha. — No tempo de dantes fui moça das mais faceiras e fiz o papel de advérbio. Os homens gostavam de empregar-me sempre que queriam dizer Em verdade, Francamente. Mas começaram a aparecer uns Advérbios novos, que caíram no gosto das gentes e tomaram o meu lugar. Fui sendo esquecida. Por fim, tocaram-me lá do centro. "Já que está velha e inútil, que fica fazendo aqui?", disseram-me. "Mude-se para os subúrbios dos Arcaísmos", e eu tive de mudar-me para cá.

— Por que não morre duma vez para ir descansar no cemitério? — perguntou Emília com todo o estabanamento.

— É que, de quando em quando, ainda sirvo aos homens. Existem certos sujeitos que, por esporte, gostam de escrever à moda antiga; e quando um deles se mete a fazer romance histórico, ou conto em estilo do século XV, ainda me chama para figurar nos diálogos, em vez do tal Francamente que tomou o meu lugar.

— Aqui o nosso Visconde pela-se por coisas antigas — disse a menina. — Conte-lhe toda a sua vida, desde que nasceu.

O Visconde sentou-se ao lado da palavra Bofé e ferrou na prosa, enquanto Narizinho ia conversar com outra palavra ainda mais coroca.

— E a senhora, quem é? — perguntou-lhe.

— Sou a palavra Ogano.

— Ogano? O que quer dizer isso?

— Nem queira saber, menina! Sou uma palavra que já perdeu até a memória da vida passada. Apenas me lembro que vim do latim Hoc Anno, que significa Este Ano. Entrei nesta cidade quando só havia uns começos de rua; os homens desse tempo usavam-me para dizer Este Ano. Depois fui sendo esquecida, e hoje ninguém se lembra de mim. A Senhora Bofé é mais feliz; os escrevedores de romances históricos ainda a chamam de longe em longe. Mas a mim ninguém, absolutamente ninguém, me chama. Já sou mais que Arcaísmo; sou simplesmente uma palavra morta. . .

Narizinho ia dizer-lhe uma frase de consolação quando foi interrompida por um bando de palavras jovens, que vinham fazendo grande barulho.

— Essas que aí vêm são o oposto dos Arcaísmos — disse Quindim. — São os neologismos, isto é, palavras novíssimas, recém-saídas da fôrma.

— E moram também nestes subúrbios de velhas?

— Em matéria de palavras a muita mocidade é tão defeito como a muita velhice. O Neologismo tem de envelhecer um bocado antes que receba autorização para residir no centro da cidade. Estes cá andam em prova. Se resistirem, se não morrerem de sarampo ou coqueluche e se os homens virem que eles prestam bons serviços, então igualam-se a todas as outras palavras da língua e podem morar nos bairros decentes. Enquanto isso ficam soltos pela cidade, como vagabundos, ora aqui, ora ali.

Estavam naquele grupo de Neologismos diversos que os meninos já conheciam, como Chutar, que é dar um pontapé; Bilontra, que quer dizer um malandro elegante; Encrenca, que significa embrulhada, mixórdia, coisa difícil de resolver.

— Outro dia vovó disse que esta palavra Encrenca é a mais expressiva e útil que ela conhece, de todas que nasceram no Brasil — lembrou Pedrinho.

Depois que os Neologismos acabaram de passar, os meninos dirigiram-se a uma praça muito maltratada, cheia de capim, sem calçamento nem polícia, onde brincavam bandos de peraltas endiabrados.

— Que molecada é esta? — perguntou a menina.

— São palavras da Gíria, criadas e empregadas por malandros ou gatunos, ou então por homens dum mesmo ofício. A especialidade delas é que só os malandros ou tais homens dum mesmo ofício as entendem. Para o resto do povo nada significam.

Narizinho chamou uma que parecia bastante pernóstica.

— Conte-me a sua história, menina.

A moleca pôs as mãos na cintura e, com ar malandríssimo, foi dizendo:

— Sou a palavra Bamba, nascida não sei onde e filha de pais incógnitos, como dizem os jornais. Só a gente baixa, a molecada e a malandragem das cidades é que se lembra de mim. Gente fina, a tal que anda de automóveis e vai ao teatro, essa tem vergonha de utilizar-se dos meus serviços.

— E que serviço presta você, palavrinha? — perguntou Emília.

— Ajudo os homens a exprimirem suas idéias, exatamente como fazem todas as palavras desta cidade. Sem nós, palavras, os homens seriam mudos como peixes, e incapazes de dizer o que pensam. Eu sirvo para exprimir valentia. Quando um malandro de bairro dá uma surra num polícia, todos os moleques da zona utilizam-se de mim para definir o valentão. "Fulano é um bamba!", dizem. Mas como a gente educada não me emprega, tenho que viver nestes subúrbios, sem me atrever a pôr o pé lá em cima.

— Onde é lá em cima?

— Nós chamamos "lá em cima" à parte boa da cidade; este "lixo" por aqui é chamado "cá embaixo".

— Vejo que você tem muitas companhias — observou Narizinho, correndo os olhos pela molecada que formigava em redor.

— Tenho, sim. Toda esta rapaziada é gentinha da Gíria, como eu. Preste atenção naquela de olho arregalado. É a palavra Otário, que os gatunos usam para significar um "trouxa" ou pessoa que se deixa lograr pelos espertalhões. Com a palavra Otário está conversando outra do mesmo tipo, Bobo.

— Bobo sei o que significa — disse Pedrinho. — Nunca foi gíria.

— Lá em cima — explicou Bamba —- Bobo significa uma coisa; aqui embaixo significa outra. Em língua de gíria Bobo quer dizer relógio de bolso. Quando um gatuno diz a outro: "Fiz um bobo", quer significar que "abafou" um relógio de bolso.

— E por que deram o nome de Bobo aos relógios de bolso?

— Porque eles trabalham de graça — respondeu Bamba, dando uma risadinha cínica.

Os meninos ficaram por ali ainda algum tempo, conversando com outras palavras da Gíria — e por precaução Pedrinho abotoou o paletó, embora seu paletó nem bolso de dentro tivesse. A gíria dos gatunos metia-lhe medo. . .

— Por estes subúrbios também vagabundeiam palavras de outro tipo, malvistas lá em cima — disse o rinoceronte apontando para uma palavra loura, visivelmente estrangeira, que naquele momento ia passando. — São palavras exóticas, isto é, de fora — imigrantes a que os gramáticos puseram o nome geral de barbarismos.

— Querem significar com isso que elas dizem barbaridades? — indagou Emília.

— Não; apenas que são de fora. Este modo de classificá-las veio dos romanos, que consideravam bárbaros a todos os estrangeiros. Barbarismo quer dizer coisa de estrangeiro. Se o Barbarismo vem da França tem o nome especial de galicismo; se vem da Inglaterra, chama-se anglicismo; se vem da Itália, italianismo — e assim por diante. Os Galicismos são muito maltratados nesta cidade. As palavras nascidas aqui torcem-lhes o focinho e os "grilos" (como são chamados em São Paulo os guardas policiais das ruas) da língua (os gramáticos), implicam muito com eles. Certos críticos chegam a considerar crime de cadeia a entrada dum Galicismo numa frase. Tratam os coitados como se fossem leprosos. Aí vem um.

O Galicismo Desolado vinha vindo, muito triste, de bico pendurado. Quindim apontou-o com o chifre, dizendo:

— Se você algum dia virar poeta, Pedrinho, e cair na asneira de botar num soneto este pobre Galicismo, os críticos xingarão você de mil nomes feios. Desolado é o que eles consideram um Galicismo imperdoável. Já aquele outro que lá vem goza de maior consideração. É a palavra francesa Elite, que quer dizer a nata, a fina flor da sociedade. Veja como é petulantezinha, com o seu monóculo no olho.

— Elite tem licença de morar no centro da cidade? — perguntou o menino.

— Não tinha, mas hoje tem. Já está praticamente naturalizada. Durante muito tempo, entretanto, só podia aparecer por lá metida entre aspas, ou em grifo.

— Que é isso?

— Aspas e Grifo são os sinais que elas têm de trazer sempre que se metem no meio das palavras nativas. Na cidade das palavras inglesas não é assim — as palavras de fora gozam lá de livre trânsito, podendo apresentar-se sem aspas e sem grifo. Mas aqui nesta nossa Portugália há muito rigor nesse ponto. Palavra estrangeira, ou de gíria, só entra no centro da cidade se estiver aspada ou grifada.

— Olhem! — gritou Emília. — Aquela palavrinha acolá acaba de tirar do bolso um par de aspas, com as quais está se enfeitando, como se fossem asinhas. . .

— É que recebeu chamado para figurar nalguma frase lá no centro e está vestindo o passaporte. Trata-se da palavra francesa Soirée. Reparem que perto dela está outra a botar-se em grifo. É a palavra Bouquet. . .

— Judiação! — comentou Narizinho. — Acho odioso isso. Assim como num país entram livremente homens de todas as raças — italianos, franceses, ingleses, russos, polacos, assim também devia ser com as palavras. Eu, se fosse ditadora, abria as portas da nossa língua a todas as palavras que quisessem entrar — e não exigia que as coitadinhas de fora andassem marcadas com os tais grifos e as tais aspas.

— Mesmo assim — explicou o rinoceronte — muitas palavras estrangeiras vão entrando e com o correr do tempo acabam "naturalizando-se". Para isso basta que mudem a roupa com que vieram de fora e sigam os figurinos desta cidade.

Bouquet, por exemplo, se trocar essa sua roupinha francesa e vestir um terno feito aqui, pode andar livremente pela cidade. Basta que vire Buquê. . .

Perto havia uma elevação donde se descortinava toda a cidade; o rinoceronte levou os meninos para lá.
––––––––––––––––––-
Continua… Capítulo III: Gente importante e gente pobre
––––––––––––––––
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Emília no País da Gramática. SP: Círculo do Livro. Digitalizado por http://groups.google.com/group/digitalsource

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.38)


Trova do Dia

Insconstância é estar contigo,
tudo tem duplo valor:
busco o amor , encontro o amigo,
busco o amigo, encontro o amor.
LISETE JOHNSON/RS

Trova Potiguar

Das luzes da mocidade,
que deram luz à ilusão,
sobrou sombra de saudade,
dando sombra à solidão.
LUIZ DUTRA BORGES/RN

Uma Trova Premiada

2010 > São Paulo/SP
Tema > FEITIÇO > Vencedora

Nem mesmo o sol nos desperta
do feitiço sem pudor,
que nos envolve e acoberta
nas madrugadas de amor!
ÉLEN DE NOVAIS FÉLIX/RJ

Uma Poesia livre

– Roberto Pinheiro Acruche/RJ –
TEMPESTADE

Você chegou a minha vida
tal qual uma tempestade...
Foi uma grande ventania
que me arrostou,
arrasando tudo que podia.
Abalou meu coração,
desfez meu compromisso
e além disso
arrancou de mim a razão.
Você passou por mim
com a pressa e a velocidade de um tufão!
Derrocou a minha vida,
modificou o meu rumo
levando-me a inflexível adversidade...
Deixando-me o martírio do infortúnio,
a solidão, naufragando no mar da saudade.

Uma Trova de Ademar

Encenados, ao relento,
vejo com muita emoção
os “atos” de sofrimento
nos teatros do sertão!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Há dois mil anos atrás,
o doce e meigo Jesus
pregou aos homens a paz...
e foi pregado na cruz...
WILSON MONTEMÓR/RJ

Estrofe do Dia

Quando reza um pai nosso em oração
você pede perdão pelas ofensas,
mesmo sem esquecer das desavenças
e do ódio que tem no coração.
Meu amigo, você preste atenção,
que no mesmo Pai Nosso oferecido,
você diz, assim meio introvertido,
sem pensar na importância deste tomo:
"Perdoai minhas ofensas assim como
eu perdoo a quem tem me ofendido.
JOSÉ ACACI/RN

Soneto do Dia

– Francisco Macedo/RN –
DES(E)DUCAÇÃO.

A nossa educação do “Faz de conta”...
- Emaranhando reles neologismos,
pedagogia plena de modismos,
que para a maioria são de ponta.

Na educação, que ao meu tempo remonta,
tinha um aprendizado sem cinismo.
Não tinha a “Caixa Preta” do estrelismo,
que nenhum pedagogo hoje desmonta.

Chega-se à sexta série sem saber,
as básicas noções: Ler e escrever,
no “armazém” de “guardar” adolescentes.

Neste “jogo” de grande hipocrisia,
a própria educação hoje é quem cria
toda uma geração de delinqüentes.

Fonte:
Ademar Macedo

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Maranhão Sobrinho (Poemas Avulsos)


O GATO

Enquanto mamãe Chiquinha
no quarto o caçula embala,
com os contos da Carochinha,
os dois namoram na sala.

-Tu não te zangas Corinha,
se eu te beijar? Anda...fala!
-Não sei, não, diz-lhe a priminha
e um beijo bem longo estala.

A mãe, que, ao menor ruído,
se assusta, pergunta: -Cora,
que foi isto? e atenta o ouvido.

Diz-lhe a filha que a escutou:
-Não foi nada, não, senhora:
foi o gato que espirrou!

SOROR TERESA

... E um dia as monjas foram dar com ela
morta, da cor de um sonho de noivado,
no silêncio cristão da estreita cela,
lábios nos lábios de um Crucificado...

somente a luz de uma piedosa vela
ungia, como um óleo derramado,
o aposento tristíssimo de aquela
que morrera num sonho, sem pecado...

Todo o mosteiro encheu-se de tristeza,
e ninguém soube de que dor escrava
morrera a divinal soror Teresa...

Não creio que, de amor, a morte venha,
mas, sei que a vida da soror boiava
dentro dos olhos do Senhor da Penha...

Papéis Velhos... Roídos pela Traça do Símbolo, 1908

TELA DO NORTE

No estirão, percutindo os chifres, a boiada
monótona desliza; ondulando, a poeira,
em fulvas espirais, cobre toda a chapada
em cujos poentes o sol põe uns tons de fogueira.

Baba de sede e muge a leva; triturada
sob as patas dos bois a relva toda cheira!
Boiando, corta o ar a mórbida toada
do guia que, de pé, palmilha à cabeceira...

Nos flancos da boiada, aos recurvos galões
as éguas, vão tocando a reses fugitivas
o vaqueiros, com o sol nas pontas dos ferrões...

E, do gado o tropel, com as asas derreadas
quase riscando o chão, que o sol calcina, esquivas,
arrancam coleando as emas assustadas...

Estatuetas, 1909

MÁRTIR

Das cinco chagas de pesar, que exangue,
Trago no triste coração magoado,
Descem rosários de rubi de sangue
Como do corpo do Crucificado...

Pende-me a fronte sobre o peito, langue,
De infinitas Traições alanceado...
E, na noite da Mágoa, expiro exangue
Na Cruz de Pedra da Paixão pregado...

Subi, de joelhos, expirando, o adusto
Desfiladeiro enorme do Calvário...
Sob o madeiro da Saudade, a custo!

Sem consumar meus sonhos adorados,
Oiço, no meio do Martírio vário,
O chocalhar sacrílego dos Dados...

Fontes:
Antonio Manoel Abreu Sardenberg
Antonio Miranda

Maranhão Sobrinho (1879 / 1915)


Fundador com Antonio Lobo, I. Xavier de Carvalho e Corrêa de Araújo, entre outros, do movimento de renovação literária denominado Os Novos Atenienses, que em fins do século XIX e início do século XX sacudiu o meio intelectual de São Luís com idéias e conceitos vanguardistas

Boêmio notório e de vida inteiramente desregrada, Maranhão Sobrinho "foi o mais considerável poeta do seu tempo, no extremo Norte, e o simbolista ortodoxo, o satanista por excelência do movimento naquela região", segundo o crítico Andrade Murici.

Criado em Barra do Corda, no interior do Maranhão, conta-se que quando criança era irrequieto, brincalhão e levado mesmo da breca, no dizer dos seus contemporâneos. Freqüentou irregularmente os primeiros estudos no conceituado colégio do Dr. Isaac Martins, educador de excepcionais qualidades, ardoroso propagandista republicano e abolicionista.

Em 15 de agosto de 1899, com o auxílio paterno, embarcou para São Luís, onde no ano seguinte funda a "Oficina dos Novos" e matricula-se com o nome de José Maranhão Sobrinho na antiga Escola Normal, em 1901, tendo para isso obtido a ajuda de uma pequena bolsa de estudo, naqueles tempos denominada pensão. Por motivo de se haver indisposto com alguns professores, em seguida abandonava o curso normal e, sem emprego, aos poucos entregou-se à vida boêmia.

Em 1903, impressionados com a vida boêmia que levava em São Luís, alguns amigos mais dedicados o embarcaram, quase à força, para Belém do Pará, na esperança de que ali mudasse de procedimento, trabalhasse e arranjasse meios de publicar seus livros.

Na capital paraense, colocou-se no jornal Notícias e passou a colaborar na tradicional Folha do Norte. Bem depressa, tornou-se popular nas rodas boêmias e nos meios intelectuais. Colaborou também em jornais e outras publicações de São Luís e de vários Estados, incluindo-se entre estas a Revista do Norte, de Antônio Lôbo e Alfredo Teixeira.

Em 1908 funda Academia Maranhense de Letras, unido à plêiade de escritores e poetas locais. Nisso transfere-se para a Amazônia onde, residindo em Manaus, passa a colaborar com a imprensa local e torna-se membro fundador da Academia Amazonense de Letras.

Sua vida sempre foi boêmia e desregrada, escrevendo seus versos em bares, mesas de botequim ou qualquer ambiente em que predominasse álcool, papel e tinta. Despreocupado pela sorte dos seus poemas, publicou seus livros em péssimas edições sem capricho ou conservação, aos cuidados de amigos e admiradores, deixando esparsa grande parte do que escreveu em jornais, revistas e folhas de cadernos de venda.

Sem dispor de recursos financeiros, publicou seus trabalhos com grande dificuldade. Foram ao todo três livros editados de modo bastante precário, com circulação restrita à província. Além disso, apenas colaborações esparsas, ainda que numerosas, em revistas e jornais de São Luís. Muito embora sua obra ainda não tenha sido objeto de um estudo mais aprofundado, a crítica nela destaca uma bem assimilada influência de Baudelaire e Verlaine, considerando-o ao mesmo tempo um dos luminares do movimento simbolista no Brasil - quase no mesmo nível ocupado por Cruz e Souza e Alfonsus Guimaraes, expoentes máximos da escola.

De qualquer sorte, coube a Maranhão Sobrinho ser um poeta representativo do período de transição da literatura maranhense - teve o talento amplamente reconhecido, tanto pelo público quanto por seus pares, foi um dos fundadores da Academia Maranhense de Letras, mas sofreu estilisticamente na difícil tarefa de buscar uma síntese convincente entre o Romantismo ainda em voga, o Parnasianismo e o Simbolismo. Reflexos dessa luta estéril são visíveis em seus poemas. Houvesse vivido mais alguns anos, talvez sua obra conseguisse escapar dessa armadilha literária, atingindo novas e inesperadas dimensões.

Novamente muda-se mas para Belém, onde conhece o poeta Carlos D. Fernandes, que havia sido amigo de Cruz e Sousa e pertencera ao grupo da revista Rosa-Cruz. Dois anos depois, de retorno a Manaus, lá fixa-se como funcionário público do Estado, onde vem a falecer no dia do seu aniversário em plena noite de natal, no dia 25 de dezembro de 1915, com apenas 36 anos de idade.

Em Barra da Corda, o seu nome é lembrado oficialmente em uma única praça e pela Academia Barra-Cordense de Letras.

A poesia de Maranhão Sobrinho é de fato colorida e fantasiosa, por vezes cheia de um resplendor de pedrarias, quando muito se revela satânica e, em alguns momentos, penetrada do amargor de Cruz e Sousa. "... É o representante mais completo da escola simbolista no Maranhão", diz Antônio Reis Carvalho, e de fato, segundo os críticos literários, é notória a influência dos poetas franceses Mallarmé, Verlaine e Baudelaire.

Na poesia de Maranhão Sobrinho a idéia é simbólica, o sentimento é romântico e a forma é parnasiana, afirma o literato Reis Carvalho.

Literariamente batizado na escola simbolista, Maranhão Sobrinho é conhecido pelos críticos e estudiosos de literatura como um dos três melhores poetas simbolistas brasileiros, ao lado de Cruz e Souza e Alphonsus de Guimarães.

Fontes:
Antonio Manoel Abreu Sardenberg
Antonio Miranda

Monteiro Lobato (Emília no País da Gramática) – Cap.1: Uma Idéia da Senhora Emília



Dona Benta, com aquela paciência de santa, estava ensinando gramática a Pedrinho. No começo Pedrinho rezingou.

— Maçada, vovó. Basta que eu tenha de lidar com essa caceteação lá na escola. As férias que venho passar aqui são só para brinquedo. Não, não e não. . .

— Mas, meu filho, se você apenas recordar com sua avó o que anda aprendendo na escola, isso valerá muito para você mesmo, quando as aulas se reabrirem. Um bocadinho só, vamos! Meia hora por dia. Sobram ainda vinte e três horas e meia para os famosos brinquedos.

Pedrinho fez bico, mas afinal cedeu; e todos os dias vinha sentar-se diante de Dona Benta, de pernas cruzadas como um oriental, para ouvir explicações de gramática.

— Ah, assim, sim! — dizia ele. — Se meu professor ensinasse como a senhora, a tal gramática até virava brincadeira.

Mas o homem obriga a gente a decorar uma porção de definições que ninguém entende. Ditongos, fonemas, gerúndios. . .

Emília habituou-se a vir assistir às lições, e ali ficava a piscar, distraída, como quem anda com uma grande idéia na cabeça.

É que realmente andava com uma grande idéia na cabeça.

— Pedrinho — disse ela um dia depois de terminada a lição —, por que, em vez de estarmos aqui a ouvir falar de gramática, não havemos de ir passear no País da Gramática?

O menino ficou tonto com a proposta.

— Que lembrança, Emília! Esse país não existe, nem nunca existiu. Gramática é um livro.

— Existe, sim. O rinoceronte (este personagem aparece pela primeira vez nas Caçadas de Pedrinho), que é um sabidão, contou-me que existe. Podemos ir todos, montados nele. Topa?

Perguntar a Pedrinho se queria meter-se em nova aventura era o mesmo que perguntar a macaco se quer banana. Pedrinho aprovou a idéia com palmas e pinotes de alegria, e saiu correndo para convidar Narizinho e o Visconde de Sabugosa. Narizinho também bateu palmas — e se não deu pinotes foi porque estava na cozinha, de peneira ao colo, ajudando Tia Nastácia a escolher feijão.

— E onde fica esse país? — perguntou ela.

— Isso é lá com o rinoceronte — respondeu o menino. — Pelo que diz a Emília, esse paquiderme é um grandessíssimo gramático.

— Com aquele cascão todo?

— É exatamente o cascão gramatical — asneirou Emília, que vinha entrando com o Visconde.

Os meninos fizeram todas as combinações necessárias, e no dia marcado partiram muito cedo, a cavalo no rinoceronte, o qual trotava um trote mais duro que a sua casca. Trotou, trotou e, depois de muito trotar, deu com eles numa região onde o ar chiava de modo estranho.

— Que zumbido será esse? — indagou a menina. —

Parece que andam voando por aqui milhões de vespas invisíveis.

— É que já entramos em terras do País da Gramática — explicou o rinoceronte. — Estes zumbidos são os sons orais, que voam soltos no espaço.

— Não comece a falar difícil que nós ficamos na mesma — observou Emília. — Sons Orais, que pedantismo é esse?

— Som Oral quer dizer som produzido pela boca, A, E, I, O, U são Sons Orais, como dizem os senhores gramáticos,

— Pois diga logo que são letras! — gritou Emília.

— Mas não são letras! — protestou o rinoceronte. — Quando você diz A ou O, você está produzindo um som, não está escrevendo uma letra. Letras são sinaizinhos que os homens usam para representar esses sons. Primeiro há os Sons Orais; depois é que aparecem as letras, para marcar esses Sons Orais. Entendeu?

O ar continuava num zunzum cada vez maior. Os meninos pararam, muito atentos, a ouvir.

— Estou percebendo muitos sons que conheço — disse Pedrinho, com a mão em concha ao ouvido.

— Todos os sons que andam zumbindo por aqui são velhos conhecidos seus, Pedrinho.

— Querem ver que é o tal alfabeto? — lembrou Narizinho. — E é mesmo!. . . Estou distinguindo todas as letras do alfabeto. . .

— Não, menina; você está apenas distinguindo todos os sons das letras do alfabeto — corrigiu o rinoceronte com uma pachorra igual à de Dona Benta. — Se você escrever cada um desses sons, então, sim; então surgem as letras do alfabeto.

— Que engraçado! — exclamou Pedrinho, sempre de mão em concha ao ouvido. — Estou também distinguindo todas as letras do alfabeto: o A, o C, o D, o X, o M. . .

O rinoceronte deu um suspiro.

— Mas chega de sons invisíveis — gritou a menina. —-Toca para diante. Quero entrar logo no tal País da Gramática.

-— Nele já estamos — disse o paquiderme. — Esse país principia justamente ali onde o ar começa a zumbir. Os sons espalhados pelo ar, e que são representados por letras, fundem-se logo adiante em sílabas, e essas Sílabas formam palavras — as tais palavras que constituem a população da cidade onde vamos. Reparem que entre as letras há cinco que governam todas as outras. São as Senhoras vogais — cinco madamas emproadas e orgulhosíssimas, porque palavra nenhuma pode formar-se sem a presença delas. As demais letras ajudam; por si mesmas nada valem. Essas ajudantes são as consoantes e, como a palavra está dizendo, só soam com uma Vogai adiante ou atrás. Pegue as dezoito Consoantes do alfabeto e procure formar com elas uma palavra. Experimente, Pedrinho.

Pedrinho experimentou de todos os jeitos, sem nada conseguir.

— Misture agora as Consoantes com uma Vogai, com o A, por exemplo, e veja quantas palavras pode formar.

Pedrinho misturou o A com as dezoito Consoantes e imediatamente viu que era possível formar um grande número de palavras.

Nisto dobraram uma curva do caminho e avistaram ao longe o casario de uma cidade. Na mesma direção, mais para além, viam-se outras cidades do mesmo tipo.

— Que tantas cidades são aquelas, Quindim? — perguntou Emília.

Todos olharam para a boneca, franzindo a testa. Quindim? Não havia ali ninguém com semelhante nome.

— Quindim — explicou Emília — é o nome que resolvi botar no rinoceronte.

— Mas que relação há entre o nome Quindim, tão mimoso, e um paquiderme cascudo destes? — perguntou o menino, ainda surpreso.

— A mesma que há entre a sua pessoa, Pedrinho, e a palavra Pedro — isto é, nenhuma. Nome é nome; não precisa ter relação com o "nomado". Eu sou Emília, como podia ser Teodora, Inácia, Hilda ou Cunegundes. Quindim!. . . Como sempre fui a botadeira de nomes lá do sítio, resolvo batizar o rinoceronte assim — e pronto! Vamos, Quindim, explique-nos que cidades são aquelas.

O rinoceronte olhou, olhou e disse:

— São as cidades do País da Gramática. A que está mais perto chama-se Portugália, e é onde moram as palavras da língua portuguesa. Aquela bem lá adiante é Anglópolis, a cidade das palavras inglesas.

— Que grande que é! — exclamou Narizinho.

— Anglópolis é a maior de todas — disse Quindim. — Moram lá mais de quinhentas mil palavras.

— E Portugália, que população de palavras tem?

— Menos de metade — aí umas duzentas e tantas mil, contando tudo.

— E aquela, à esquerda?

— Galópolis, a cidade das palavras francesas. A outra é Castelópolis, a cidade das palavras espanholas. A outra é Italópolis, onde todas as palavras são italianas.

— E aquela, bem, bem, bem lá no fundo, toda escangalhada, com jeito de cemitério?

— São os escombros duma cidade que já foi muito importante — a cidade das palavras latinas; mas o mundo foi mudando e as palavras latinas emigraram dessa cidade velha para outras cidades novas que foram surgindo. Hoje, a cidade das palavras latinas está completamente morta. Não passa dum montão de velharias. Perto dela ficam as ruínas de outra cidade célebre do tempo antigo — a cidade das velhas palavras gregas. Também não passa agora dum montão de cacos veneráveis.

Puseram-se a caminho; à medida que se aproximavam da primeira cidade viram que os sons já não zumbiam soltos no ar, como antes, mas sim ligados entre si.

— Que mudança foi essa? — perguntou a menina.

— Os sons estão começando a juntar-se em sílabas, depois as Sílabas descem e vão ocupar um bairro da cidade.

— E que quer dizer Sílaba? — perguntou a boneca.

— Quer dizer um grupinho de sons, um grupinho ajeitado; um grupinho de amigos que gostam de andar sempre juntos; o G, o R e o A, por exemplo, gostam de formar a Sílaba Gra, que entra em muitas palavras.

— Graça, Gravata, Gramática. . . — exemplificou Pedrinho.

— Isso mesmo aprovou Quindim. — Também o M e o U gostam de formar a Sílaba Mu, que entra em muitas palavras.

— Muro, Mudo, Mudança. . . — sugeriu a menina.

— Isso mesmo — repetiu Quindim. — E reparem que em cada palavra há uma Sílaba mais emproada e importante que as outras pelo fato de ser a depositária do acento tônico. Essa Sílaba chama-se a tônica.

— O mesmo nome da mãe de Pedrinho!... — observou Emília arregalando os olhos.

— Não, boba. Mamãe chama-se Tônica e o rinoceronte está falando em Sílaba Tônica. É muito diferente.

— Perfeitamente — confirmou Quindim. — No nome de Dona Tônica a Sílaba Tônica é Ni; e na palavra que eu disse a Sílaba Tônica é o To. E na palavra Pedrinho, qual é a Tônica?

— Dri — responderam todos a um tempo.

— Isso mesmo. Mas os senhores gramáticos são uns sujeitos amigos de nomenclaturas rebarbativas, dessas que deixam as crianças velhas antes do tempo. Por isso dividem as palavras em oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas, conforme trazem o Acento Tônico na última Sílaba, na penúltima ou na antepenúltima.

— Nossa Senhora! Que "luxo asiático"! — exclamou Emília. — Bastava dizer que o tal acento cai na última, na penúltima ou na antepenúltima. Dava na mesma e não enchia a cabeça da gente de tantos nomes feios. Proparoxítona! Só mesmo dando com um gato morto em cima até o rinoceronte miar. ..

— E há mais ainda — disse Quindim. — As pobres palavras que têm a desgraça de ter o acento na antepenúltima sílaba, quando não são xingadas de Pro-pa-ro-xí-to-nas, são xingadas de esdrúxulas. As palavras Áspero, Espírito, Rícino, Varíola, etc, são Esdrúxulas.

-— Es-drú-xu-las! — repetiu Emília. — Eu pensei que Esdrúxulas quisesse dizer esquisito.

— E pensou certo — confirmou o rinoceronte. — Como na língua portuguesa as palavras com acento na antepenúltima não são muitas, elas formam uma esquisitice, e por isso são chamadas de Esdrúxulas.

E assim conversando, o bandinho chegou aos subúrbios da cidade habitada pelas palavras portuguesas e brasileiras.

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Emília no País da Gramática. SP: Círculo do Livro. Digitalizado por http://groups.google.com/group/digitalsource

Casa do Poeta de Canoas (Palestra com Vladimir Cunha Santos)


Casa do Poeta de Canoas convida para a 2ª edição da

CONFRARIA DA LEITURA

Palestra com o escritor, poeta, cronista, contista, romancista,
publicitário, jornalista, editor e ativista cultural

Vladimir Cunha Santos

Sexta-feira - 5/11/2010 - 19h

ASCCAN - Av. Victor Barreto, 2301 Centro/Canoas (Antiga FCC)

As 20h, após a palestra, realizaremos um Sarau de Confraternização como evento participante da Semana Cultural da ASCCAN

Maria Santos Rigo
Presidente da Casa do Poeta de Canoas

Fonte:
Casa do Poeta de Canoas