quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Índio na Literatura Brasileira (Estante de Livros) 2


BANDEIRA, Pedro. Pântano de sangue – mais uma aventura com os Karas.

Conta a história da turma dos Karas, em sua luta contra o crime organizado, que está agindo no Pantanal de Mato Grosso, sob a liderança do implacável Ente. Em um enredo fascinante, repleto de suspense do começo ao fim, os Karas envolvem-se em uma trama criminosa, que leva à dramática destruição de uma cultura indígena e da natureza.

BARBOSA, Ely. Viagem fantástica ao Brasil de 1800:nossos índios.

Narra a aventura de Priscila e Terremoto, os quais, levados pelo XPeteleco, vão conhecer os povos indígenas em contato com os colonizadores no Brasil de 1800. As paisagens, o povo e os costumes do Brasil do século XIX estão registrados em belas gravuras e desenhos de dois ilustres artistas europeus que se encantaram com o que viram nesse país: o alemão Rugendas e o francês Debret.

BARBOSA, Rogério Andrade. Na trilha do mamute.

Conta a história do doutor Arlã Garcia, renomado cientista que, no interior de Roraima, constrói um sofisticado laboratório, onde pretende desenvolver sua ambiciosa pesquisa: a clonagem de um mamute. Para essa mesma região viaja outro cientista, o professor Baltazar, especialista em cultura oral indígena, o qual pretende fazer contato com os Yanomami. Em seu trabalho, conta com a ajuda de Guilherme, seu sobrinho, de Mayop, professora Yanomami e de Ranulfo, o piloto da aeronave. Os estudiosos acabam se encontrando e Baltazar é obrigado a acompanhar Arlã Garcia numa arriscada viagem de helicóptero em busca do mamute clonado.

BARBOSA, Rogério Andrade. Sangue de índio.

Descreve a história de Érico, um jovem consciente dos problemas sociais brasileiros que acaba de participar de um debate sobre o assassinato de um índio Pataxó, em Brasília, cometido por jovens de classe média.

BITTENCOURT, Aline M. Momeucáua.

Consiste na criação a partir de mitos e costumes oriundos de vários povos indígenas e de diversos elementos folclóricos, sem com isso transformar-se numa colagem. As palavras indígenas e termos caboclos encontrados no texto são explicados ao final do livro.

BORGES, Rogério. Você cria o texto.

Apresenta ilustrações com imagens sobre o meio ambiente e a questão indígena. A proposta é lançada para que as crianças possam trabalhar a expressão oral, a escrita e o desenho, de forma a estimular sua criatividade e, ao mesmo tempo, sensibilizá-las para uma percepção mais crítica de seu universo.

OS BOROROS DE MERURI-MT.Boe Eno Bakaru:lendas Bororo.

Apresenta uma notável contribuição ao estudo bilíngüe do idioma Bororo Ocidentais, Orári Mogo-Dóge. As cinco breves lendas apresentadas neste opúsculo destinam-se às crianças e adolescentes Bororo das Missões Salesianas.

BRANCO, Samuel Murgel. A Iara e a poluição das águas.

Aborda o conceito de poluição das águas, suas causas e conseqüências. Iara, protetora das águas, e o Curupira, protetor das florestas e dos animais, são os protagonistas da aventura em que descobrem a poluição dos rios, seus efeitos nocivos, mas, felizmente, encontram também as soluções para o problema.

BRANDÃO, Toni. Perdido na Amazônia.

Narra a história de um garoto chamado Dan, o qual, ao completar 11 anos, ganha uma viagem à Amazônia. Mas, em Manaus, ele embarca no avião errado e se vê perdido na floresta.

BRANDÃO, Toni. Tutu, o menino índio.

Narra a história de um indiozinho da nação Tutu que, desde seu crescimento, é tratado de maneira diferente dos outros meninos de sua sociedade. Um dia, é expulso de sua aldeia e mandado para a floresta em companhia de uma onça. O menino faz, então, uma viagem de aprendizado em busca de sua identidade e de seu destino.

BRASIL, Assis. Os desafios de Kaíto.

Descreve a história de Kaíto, um indiozinho Kamayurá, muito esperto e corajoso, que é escolhido para conhecer a longa história de seu passado, e assim tornar-se a memória viva de seu povo, dando continuidade à tradição dos mais velhos.

BRASIL, Assis. O destino é cego:aventura de gavião vaqueiro.

Focaliza o ambiente rural nordestino. Raramente podemos ter contato com personagens tão tipicamente brasileiros como o Gavião Vaqueiro e a Minaiá, que representam a cultura indígena.

BRASIL, Francisco de Assis Almeida. Yakima, o menino-onça.

Conta a história de dois aventureiros, Quizila e Gavião, que se embrenham na floresta amazônica à procura de Jonas, o filho mais velho de um rico fazendeiro, desaparecido durante uma caçada, há quase dois anos. A aventura os leva à aldeia do temido tuxáua Inapricio, raptor do menino, onde Jonas deverá ser resgatado.

BRAZ, Júlio Emílio. Saguairu.

Narra aventura numa floresta virgem, em que um lobo-guará e um índio travam um duelo interminável, alternando-se nos papéis de caça e caçador. Na luta pela sobrevivência, uma lição de respeito à vida, narrada de maneira emocionante e poética.

BRITO, Iremar. Aldeia dos pássaros.

Apresenta um conjunto de lendas indígenas, entrelaçadas pela história de amor entre uma índia Suyá e um guerreiro Iarumá. Apesar de ser uma obra de ficção, também inserem-se no enredo histórias dos povos Kamayurá e Juruna.

CANTON, Kátia. Lendas de amor dos índios brasileiros.

Apresenta diversas lendas presentes no imaginário indígena, tendo o amor como fio condutor. As delicadas aquarelas de Lina Kim tornam o texto ainda mais saboroso.

CAPELLA, Vladimir; ROCHA, José Geraldo. Panos e lendas.

Delineia a trajetória entre o começo e o fim do mundo, por meio de sete atores, que assumem diversos papéis, como o de mestres-de-cerimônia, contadores de histórias ou simplesmente dos atores que são. São abordados costumes, crendices, cantos, bichos, brincadeiras, cores e cantos brasileiros, num clima que busca ser uma festa cantada e dançada.

CARDOSO, Manoel. Rolando na duna.

Narra a aventura de Noel, filho de pescadores que quer ir para o mar, mas não consegue convencer o pai e o irmão a levá-lo. Durante vários dias, eles voltam com a rede vazia. Desanimado, o pai resolve levar o pequeno Noel, para dar sorte. O menino descobre onde estão os peixes, mas... desaparece da jangada. Quando volta para casa, traz novos amigos
e uma grande surpresa para a família. No decorrer da história, o autor introduz alguns nomes indígenas e, ao final, apresenta seus significados.

CARVALHO, André; ÁULICUS, Célius. Nas terras do índio Peri.

Apresenta uma livre adaptação do romance O Guarani, de José de Alencar. Nesta versão, O Guarani se transforma em aventura vivida por Laurinha, Tusuca e Aristóteles, mantendo, no entanto, suas características e sua beleza original.

COSTA E SILVA, Alberto da. Lendas do índio brasileiro.

Apresenta 44 lendas, originárias do imaginário de diversos povos indígenas do Brasil, abordando temas como a criação do universo, o início do mundo, a origem do homem e o cotidiano em diferentes comunidades.

Fonte:
Moreira, Cleide de Albuquerque; Fajardo, Hilda Carla Barbosa. O índio na literatura infanto-juvenil no Brasil. - Brasília: FUNAI/DEDOC, 2003.

Anísio Abreu (Toques do Coração)

Vida – um palco!... O berço, a infância,
Sonho, amor, dor, desengano,
Luta, velhice, distância
E a morte que cerra o pano...

Guarda silêncio, não fales
Das amarguras que tens;
Há muitos bens que são males,
Muitos males que são bens.

Liberdade?!... A vida ensina
Que a pedra mais incomum,
Sem martelo ou disciplina,
Não serve em lugar algum.

O homem é um pensamento,
Entre abismos e apogeus,
Que só descansa, a contento,
No pensamento de Deus.

Olhei-me, depois da morte...
Vi meus conflitos sem fim!...
Oh! Senhor, dá-me outro corpo,
Quero esconder-me de mim...
--
Fonte:
Francisco Cândido Xavier (psicografia). “Trovas Do Outro Mundo”. Digitado Por: Lúcia Aydir

Guerra Junqueiro (Os Gigantes da Montanha e os Anões da Planície)


Era uma vez uma família de gigantes, que viviam num castelo na montanha: um dos gigantes tinha uma filha de seis anos, da altura de um álamo. Era curiosa e andava com vontade de descer à planície a ver o que faziam lá em baixo os homens, que de cima do monte lhe pareciam anões. Um belo dia, em que seu pai, o gigante, tinha ido à caça e sua mãe estava dormindo, a jovem giganta, desatou a correr para um campo, onde os jornaleiros trabalhavam. Parou surpreendida a ver a charrua e os lavradores, coisas inteiramente novas para ela. – Oh! que lindos brinquedos! exclamou. Abaixou-se e estendeu por terra o avental, que quase cobriu o campo. Lançou-lhe dentro os homens, os cavalos, a charrua; em duas passadas tornou a subir a montanha, e entrou no castelo, onde seu pai estava a jantar.

– Que trazes aí, minha filha?

– Olhe, disse ela, abrindo o avental, que lindos brinquedos. São os mais bonitos que tenho visto.

E pô-los em cima da mesa, a um e um, os cavalos, a charrua e os trabalhadores, que estavam todos espantados, como formigas a quem tivessem transportado de um formigueiro para um salão. A gigantinha pôs-se a bater as palmas e a rir com uma alegria doida, mas o gigante fez-se sério e franziu o sobrolho.

– Fizeste mal, disse-lhe ele. Isso não são brinquedos, mas coisas e pessoas que devem estimar-se e respeitar-se. Mete tudo isso com cuidado no teu avental, e põe-no imediatamente onde o achaste; porque fica sabendo que os gigantes da montanha morreriam de fome, se os anões da planície deixassem de lavrar a terra e de semear o trigo.

Fonte:
Guerra Junqueiro. Contos para a infância.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 450)

Uma Trova de Ademar

Tem homem com maus intentos,
que, por maldade ou desdém,
às vezes, gasta quinhentos
para o outro não ganhar cem...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional

Se a vida é a maior graça,
que do bom Deus recebemos,
ergamos a nossa taça
enquanto vida nós temos.
–ZÉ REINALDO/AL–

Uma Trova Potiguar

Meu olhar ficou defronte,
ao seu olhar, de repente...
E este encontro se fez ponte
entre os corações da gente.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Faço versos se estou triste,
faço versos de alegria,
a minha alma não resiste
aos apelos da poesia.
–CORA LAYDNER/RS–

Uma Trova Premiada

2004 - Nova Friburgo/RN
Tema: REFÚGIO - 1º Lugar


Baú velho, tampo torto,
Cartas e fotos mofando...
- refúgio de um sonho morto
Que eu vivo ressuscitando!...
–JOSÉ OUVERNEY/SP–

Simplesmente Poesia

Libertação
–DOMITILLA BORGES BELTRAME/SP–


Cortei as amarras,
soltei o meu barco,
tracei nova rota...
Disse adeus ao velho cais,
e, qual errante arrais
navego outros mares...
Quero ancorar em ignoradas margens,
desbravar uma diferente terra,
encontrar novas paisagens,
descobrir o segredo do outro lado da serra...
Correr leve e solta
pelas brancas areias de novo sonho
já não mais tristonho,
e, quem sabe, olhos nos olhos,
mãos nas mãos,
viver um amor inesperado,
entregar os beijos que não dei
escrever os versos que guardei!...

Estrofe do Dia

Minha vida tem sido uma peleja,
quando venço um problema outro aparece,
quando alguém me ajuda outro me esquece,
toda mão que eu encontro me apedreja;
procurei um vigário na igreja
disse: padre eu só vim me confessar,
disse o padre você tem que pagar
uma conta que deve a natureza;
minha vida é um filme de tristeza
que eu deixei de assistir pra não chorar.
–BIU SALVINO/PB–

Soneto do Dia

O Ideal
–LUIZ OTÁVIO/RJ–


Esculpe com primor, em pedra rara,
o teu sonho ideal de puro artista !
Escolhe, com cuidado, de carrara
um mármore que aos séculos resista !

Trabalha com fervor, de forma avara !
Que sejas no teu sonho um grande egoísta !
Sofre e luta com fé, pois ela ampara
a tua alma, o teu corpo em tal conquista !

Mas, quando vires, tonto e deslumbrado,
que teu labor esplêndido e risonho
ficará dentro em breve terminado,

pede a Deus que destrua esse teu sonho,
pois nada é tão vazio e tão medonho
como um velho ideal já conquistado ! ...

Fonte:
Textos e imagem enviados pelo autor

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) Circo de Cavalinhos – V– O espetáculo

A alegria no circo era imensa. Ainda que o espetáculo não valesse nada, todos se dariam por bem pagos da viagem pelo simples prazer da reunião. Os convidados do reino das Águas Claras estavam radiantes de se verem com os famosos personagens que até ali só conheciam através dos livros de histórias. E estes, como fazia muito tempo que não vinham à terra, estavam satisfeitíssimos de se verem em companhia de crianças de carne e osso.

Já soara o terceiro sinal e nada do espetáculo ter começo. O “respeitável público” ia ficando irritado. Narizinho achou que o melhor era começar imediatamente.

— Não posso antes de vovó chegar — alegou Pedrinho. — Está se arrumando ainda. Como as princesas vieram, vovó teve de mudar de vestido e está passando a ferro aquele de gorgorão do tempo do Imperador. Tia Nastácia não sei se vem. Está com vergonha, coitada, por ser preta.

— Que não seja boba e venha — disse Narizinho. — Eu dou uma explicação ao respeitável público.

Afinal as duas velhas apareceram — dona Benta no vestido de gorgorão, e Nastácia num que dona Benta lhe havia emprestado.

Narizinho achou conveniente fazer a apresentação de ambas por haver ali muita gente que as desconhecia. Trepou a uma cadeira e disse:

— Respeitável público, tenho a honra de apresentar vovó, dona Benta de Oliveira, sobrinha do famoso cônego Agapito Encerrabodes de Oliveira, que já morreu. Também apresento a princesa Anastácia. Não reparem ser preta. É preta só por fora, e não de nascença. Foi uma fada que um dia a pretejou, condenando-a a ficar assim até que encontre um certo anel na barriga de um certo peixe. Então o encanto se quebrará e ela virara uma linda princesa loura.

Todos bateram palmas, enquanto as duas velhas se escarrapachavam nas suas cadeiras especiais.

— Palhaço! — gritou o Pequeno Polegar.

— Podemos dar começo — disse Pedrinho à menina. — Vá preparar a Emília que eu vou cuidar do palhaço.

Como o primeiro número do programa era uma corrida a cavalo da Emília, Narizinho deu-lhe os últimos retoques e fez-lhe as últimas recomendações. Pela primeira vez na vida a boneca mostrava-se um tanto nervosa. Blem, blem, blem, soou a enxada. Era hora.

Uma cortina se abriu e a boneca entrou em cena montada no seu cavalinho de rabo de galo. Foi recebida com uma chuva de palmas. Emília fez uma graciosa saudação de cabeça, atirou uns beijinhos e começou a correr.

Correu várias voltas, umas sentada de banda, outras, de pé num pé só.

— Que danada! — exclamou dona Benta. — Nunca pensei que Emília se saísse tão bem; até parece o Tom Mix...

Tia Nastácia apenas murmurou “Credo”! e persignou-se.

Quando chegou o momento de pular os arcos, surgiu lá de dentro Faz-de-conta com dois deles na mão. Coitado! Estava mais feio do que nunca na roupa de cowboy que Narizinho lhe arranjara. Aladim virou se para o Gato de Botas e disse: “Este é que é o verdadeiro Cavaleiro da Triste Figura”, e o Pequeno Polegar berrou: “Arranca o prego, bicho careta!”

Aquele prego de Faz-de-conta, cuja cabeça aparecia quando ele estava sem chapéu e cuja ponta furava as costas de todos os seus casacos, era um eterno assunto de discussão no sítio. Pedrinho achava que deviam chamar o doutor Caramujo para operá-lo, cortando com a sua serrinha o extravagante apêndice. Mas a menina era de opinião que tal ponta de prego constituía a única arma do coitado. Além disso, era um bom cabide que ela costumava utilizar nos seus passeios com a boneca. Para pendurar coisas leves, como chapéu ou o guarda-chuvinha da Emília, nada melhor. E em vista dessa utilidade a ponta de prego ia ficando nas costas do coitado.

Faz-de-conta não ligou importância às troças que o público fez à custa dele. Trepou num banquinho e segurou com toda a convicção o arco de papel vermelho que Emília ia pular. A boneca botou o cavalo no galope, correu duas voltas e na terceira — zupt! deu um salto. Os espectadores romperam em palmas delirantes. O segundo arco era de papel azul e o terceiro, de papel verde. Emília pulou com a mesma habilidade o azul; mas ao pular o verde houve desastre.

Imaginem que o cavalinho entendeu de pular também! Pulou, não há dúvida, mas o seu rabo de pena enganchou no prego de Faz-de-conta, onde ficou dependurado. Quando o público viu que o rabo de pena havia passado do cavalinho para o cabide do boneco, foi uma tempestade de gargalhadas. Não percebendo o que havia acontecido, Faz-de-conta recolheu-se aos bastidores balançando ao vento aquele penacho.

Emília também não percebeu o desastre, e julgando que as risadas e vaias eram para ela, parou, vermelhinha como um camarão, e botou uma língua de dois palmos para o público. E recolheu-se furiosa.

— Não brinco mais! — disse lá nos bastidores, arrancando e espatifando o saiote de gaze. — Não sou palhaço de ninguém.

Foi um custo para Narizinho explicar o que havia acontecido e provar que a vaia tinha sido no cavalo e no boneco, não nela. A raivosa Emília voltou-se então contra o pobre Faz-de-conta.

— Estupido! Onde se viu tamanho homem andar de fisga nas costas, feito anzol?

— Que culpa tenho? — gemeu o feiúra tristemente. — Nasci assim...

— Pois não nascesse! — rematou a boneca — e por força do hábito pendurou-lhe na ponta do prego o esfrangalhado saiote de gaze.
––––––––––––––
Continua… Circo de Cavalinhos – VI – O desastre
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Trova Ecológica 65 - Wagner Marques Lopes (MG)


Trovadores do Além (Parte 1)

1
Nenhuma ciência elucida
Onde a saudade é mais forte:
Se nas lágrimas da vida,
Se nos júbilos da morte.
SOARES BULCÃO

2
O mal é o mesmo em ofensas
De obsessões infelizes,
Quando dizes e não pensas,
Quando pensas e não dizes.
MARCELO GAMA

3
Mãezinha, não sei ao certo
Onde a ausência dói mais fundo.
Se na paz do firmamento,
Se na dor que envolve o mundo.
RUBENS DE SÁ

4
Para as tristezas da vida,
Trabalho é o grande remédio.
Quem com tédio mata o tempo,
O tempo mata de tédio.
CRISTÓVÃO BARRETO

5
O ouro, por mais renome,
Guarda esquisita função:
No cofre, piora a fonte,
No trabalho, gera o pão.
VIRGÍLIO BRANDÃO

6
Escreves? A cada traço,
Relembra a morte terrena...
Há muita pena no Espaço
Apenas devido à pena.
BATISTA CEPELOS

7
Reencontrei-te reencarnada...
Imagina o meu deserto!...
Rever-te perto e tão longe,
Sentir-te longe e tão perto...
LÍVIO BARRETO

8
Saudade – angústia que embala,
Tem um ponto impertinente:
Quem sente, às vezes não fala.
Quem fala, às vezes não sente.
ROBERTO CORREIA

9
Do Além se vê, face a face,
O que nunca se entendeu,
Na morte de quem renasce,
Na vida de quem morreu.
HELVINO DE MORAIS

10
Estranha contradição
Que a Terra vira e revira:
Muita mentira é paixão,
Muita paixão é mentira.
EMÍLIO DE MENEZES

11
Que conflito doloroso
No antigo romance nosso!
Quero amar-te e não consigo,
Quero esquecer-te e não posso.
LAURO PINHEIRO

12
Para a Justiça de Deus,
Tem muito mais expressão
A gota de caridade
Que o rio da pregação.
MARTINS COELHO

13
Saudade – sombra erradia
Que envolve a gente na estrada,
Lembra chuva mansa e fria
Numa casa destelhada.
TARGÉLIA BARRETO

14
Não sei de amor tão perfeito
Que esta divina ternura
Que as mãos carregam no peito
E guardam na sepultura.
VIDA

15
Desencarnei... É verdade,
Mas prodígios não me peças!
Já tenho a infelicidade
De ver o mundo às avessas.
RAUL PEDERNEIRAS

16
Que o mundo não te embarace
Na aparência fementida.
A vida que está na face
Não mostra a face da vida.
SABINA BATISTA

17
Bênçãos de Deus! – para vê-las,
Basta olhar por onde fores,
O céu repleto de estrelas,
A terra cheia de flores.
GOMES LEITE

18
Agora não mais me iludo
De que, na Terra ensombrada,
Quem não tem nada tem tudo,
Quem tem tudo não tem nada.
ANTÔNIO SALES

19
Tarde percebo no Espaço
A grande filosofia...
O que fazia não faço,
O que faço não fazia.
XAVIER DE CASTRO

20
Adoro a Terra, entretanto,
Vale mais no meu arquivo
Ser vivo depois de morto,
Que ser morto sendo vivo.
MARTINS COELHO

21
Do que vejo após a morte,
Que mais me causa aflição,
É ouro na caixa forte
E pequeninos sem pão.
JUVENAL GALENO

22
Toda mulher é uma estrela,
Se traz, seja linda ou não,
A palma do sacrifício
Na palma de sua mão.
IRENE SOUZA PINTO

23
Ventura! – riqueza d’alma
Que atirei pela janela.
Saudade! – retrato vivo
Do bem que se foi com ela.
ARTUR RAGAZZI

24
As coroas de finados,
Na campa de quem morreu,
São grandes zeros dourados
Se a vida nada valeu.
CORNÉLIO PIRES

25
A pessoa vigilante
Usa verbo temperado;
Nem franqueza com pimenta,
Nem brandura com melado.
DERALDO NEVILE

26
Boneca que sempre riste
De alma gelada e insincera,
Ah! Boneca, como é triste
A solidão que te espera!
VIVITA CARTIER

27
O mundo aplaude e coroa
Quem vence a batalha a esmo,
Mas, no Além, o vencedor
É quem venceu a si mesmo.
ANTÔNIO AZEVEDO

28
Palavras – formas da imagem
Que o cérebro deita aos molhos.
Pranto – divina linguagem
Do coração pelos olhos.
CHIQUITO DE MORAIS

29
Por mais que o mundo progrida,
Vale o antigo passaporte;
Velha campa – nova vida,
Novo berço – velha morte
GODOFREDO VIANA

30
Não há júbilo, a rigor,
Que se possa comparar
Ao de amor que encontra o amor
Depois de muito esperar.
MACIEL MONTEIRO

31
Mãe, abençoa teu filho
Mesmo ingrato, rude e vão.
A luz nunca perde o brilho
Por derramar-se no chão.
RITA BARÉM DE MELO

32
Há muita paixão que arrasa
Qual fogueira bela e vã.
Hoje, brilho, chama e brasa,
E muita cinza amanhã.
MARCELO GAMA

33
Criança, - linda semente,
Raio de luz a sorrir.
É nesse pingo de gente
Que Deus te entrega o porvir.
BELMIRO BRAGA

34
Muitos vivos vendo o morto
Sentem pânico profundo,
E há muito morto com medo
Dos vivos que estão no mundo.
CARLOS CÂMARA

35
Não sei discernir qual seja
Mendigo mais sofredor,
Se o pobre que pede pão,
Se o rico que pede amor.
AUGUSTO DE OLIVEIRA

36
Eis o quadro mais perfeito
Que já vi do desconforto:
Mãe transportando no peito
A mágoa de um filho morto.
MARIA CELESTE

37
Afeições vistas do Além
Em cem paixões que entrevejo:
Uma delas – amor puro;
Noventa e nove – desejo.
LUCÍDIO FREITAS

38
O coração quando ama
É céu que brilha de rastros,
Luz de Deus que desce à lama,
Ou lama que sobe aos astros.
SABINO BATISTA

39
O imenso mar que se aninha
Entre céus, terras e escolhos
Brilha menos que a gotinha
De pranto a cair dos olhos.
AMÉRICO FALCÃO

40
Quem conserva terra vã
Na Terra sem cultivar,
Nasce na Terra amanhã
Sem terra para morar.
ADERBAL MELO

41
Rio morto, árvore peca,
De tudo vi no sertão,
No entanto, pior é a seca
Que lavra no coração.
VIRGÍLIO BRANDÃO

42
Palácios, arranha-céus,
Muitos dos mais expressivos,
São custosos mausoléus
Resguardando mortos-vivos.
BENEDITO CANDELÁRIA IRMÃO

43
Depois da morte, sentimos,
No mesmo grau de rudez,
Tanto o mal que praticamos,
Quanto o bem que não se fêz.
JÔNATAS BATISTA

44
Ama, filhinha, entretanto
Sofre a dor que o lar te der.
É toda feita de pranto
A glória de ser mulher.
VIDA

45
Mãe que partiu!... Podes vê-la
Na fé que te reconforta
Toda mãe é como estrela
Que brilha depois de morta.
CELESTE JAGUARIBE

46
No mundo, ninguém conhece
A força de redenção
De uma lágrima que desce
Dos olhos ao coração.
CARLOS CÂMARA

47
Amor – da sombra em que existo,
Parece clarão de aurora,
Consolo de Jesus-Cristo,
Mão estendida a quem chora.
ULISSES BEZERRA

48
Depois da morte é que a gente
Tem o amor que aperfeiçoa,
Amando quem nos esquece
Nos braços de outra pessoa.
JOVINO GUEDES

49
Coração, padece a chama
Do martírio em que te elevas!
Se muito sofre quem ama,
Quem não ama vive em trevas.
BERNARDO DE PASSOS

50
Ateu – enfermo que sonha
Na ilusão em que persiste,
Um filho que tem vergonha
De dizer que o pai existe.
ALBERTO FERREIRA

Fonte:
Francisco C. Xavier (psicografia). Autores Diversos. Trovadores do Além.