sábado, 14 de julho de 2012

Affonso Romano de Sant'Anna (Velho Olhando o Mar)

Meu carro pára numa esquina da praia de Copacabana às 9h30m e vejo um velho vestido de branco numa cadeira de rodas olhando o mar à distância. Por ele passam pernas portentosas, reluzentes cabeleiras adolescentes e os bíceps de jovens surfistas. Mas ele permanece sentado olhando o mar à distância.

O carro continua parado, o sinal fechado e o estupendo calor da vida batia de frente sobre mim. Tudo em torno era uma ávida solicitação dos sentidos. Por isto, paradoxalmente, fixei-me por um instante naquele corpo que parecia ancorado do outro lado das coisas. E sem fazer qualquer esforço comecei a imaginá-lo quando jovem. É um exercício estranho esse de começar a remoçar um corpo na imaginação, injetar movimento e desejo nos seus músculos, acelerando nele, de novo, a avareza de viver cada instante.

A gente tem a leviandade de achar que os velhos nasceram velhos, que estão ali apenas para assistir ao nosso crescimento. Me lembro que menino ao ver um velho parente relatar fotos de sua juventude tinha sempre a sensação de que ele estava inventando uma estória para me convencer de alguma coisa.

No entanto, aquele velho que vejo na esquina da praia de Copacabana deve ter sido jovem algum dia, em alguma outra praia, nos braços de algum amor, bebendo e farreando irresponsavelmente e achando que o estoque da vida era ilimitado.

Teria ele algum desejo ao olhar as coxas das banhistas que passam? Olhando alguma delas teria se posto a lembrar de outros corpos que conheceu? Os que por ele passam poderiam supor que ele fazia maravilhas na cama ou nas pistas de dança?

Me lembra ter lido em algum lugar que o inconsciente não tem idade. Ah, sim, foi no livro de Simone de Beauvoir sobre "A velhice". E ali ela também apresentava uma estatística segundo a qual por volta dos 60 anos poucos se declaram velhos; depois dos 80 anos, só 53% se consideram velhos, 36% acham que são de meia-idade e 11% se julgam jovens.

Não sei porque, mas toda vez que vejo um senhor de cabelos brancos andando pela praia penso que ele é um almirante aposentado. Às vezes, concedo e admito que ele pode ser também da Aeronáutica. Por causa disto, durante muito tempo, vendo esses senhores passeando pela areia e calçada, sempre achava que toda a Marinha e Aeronáutica havia se aposentado entre Leblon e Copacabana.

Mas esses senhores de short e boné branco que passam às vezes em dupla pelo calçadão, são mais atléticos que aquele que denominei de velho e, sentado na cadeira, olha o mar.

Ele está ali, eu no meu carro, e me dou conta que um número crescente de amigos e conhecidos tem me pronunciado a palavra "aposentadoria" ultimamente. Isto é uma síndrome grave. Em breve estarei cercado de aposentados e forçosamente me aposentarão. Então, imagino, vou passear de short branco e boné pelo calçadão da praia, fingindo ser um almirante aposentado, aproveitando o sol mais ameno das 9h30m até cair sentado numa cadeira e ficar olhando o mar.

Me lembra ter lido naquele estudo de Simone de Beauvoir sobre a velhice algo neste sentido: "Morrer, prematuramente, ou envelhecer: não há outra alternativa." E, entretanto, como escreveu Goethe: "A idade apodera-se de nós de surpresa." Cada um é, para si mesmo, o sujeito único, e muitas vezes nos espantamos quando o destino comum se torno o nosso: doença, ruptura, luto. Lembro-me de meu assombro quando, seriamente doente pela primeira vez na vida, eu me dizia: "Essa mulher que está sendo transportada numa padiola sou eu." Entretanto, os acidentes contingentes integram-se facilmente à nossa história, porque nos atingem em nossa singularidade: velhice é um destino, e quando ela se apodera de nossa própria vida, deixa-nos estupefatos. "O que se passou, então? A vida, e eu estou velho", escreve Aragon.

Meu carro, no entanto, continua parado no sinal da praia de Copacabana. O carro apenas, porque a imaginação, entre o sinal vermelho e o verde, viajou intensamente. Vou ter de deixar ali o velho e sua acompanhante olhando o mar por mim. Vou viver a vida por ele, me iludir que no escritório transformo o mundo com telefonemas, projetos e papéis. Um dia, talvez, esteja naquela cadeira olhando mar à distância, a vida distante.

Mas que ao olhar para dentro eu tenha muito que rever e contemplar. Neste caso não me importarei que o moço que estiver no seu carro parado no sinal imagine coisas sobre mim. Estarei olhando o mar, o mar interior e terei alegrias de nenhum passante compreenderá.

Fonte:
Releituras

Bernardo Trancoso (Caderno de Sonetos I)


A ROSA BRANCA (I)

Tantas púrpuras rosas no rosal;
Grosas e grosas, tão bonitas rosas;
Entre as rosas vultosas, majestosas,
Brota uma branca rosa, desigual.

Meu olhar só percebe a rosa tal;
Prefere-lhe, entre rosas mais charmosas;
Rosas prá te dizer que, em meio às grosas,
És como a rosa branca, especial.

Tens no andar que alucina novas cores;
É por ter novas cores que alucina;
És preferida, dentre mil amores.

Como a flor no rosal, tão pequenina
Que, perante outras mais formosas flores,
Difere e, o coração, logo ilumina.

A ROSA BRANCA (II)

Tantas púrpuras rosas pelo chão;
Grosas e grosas, lá se vão as rosas;
Entre as rosas feiosas, mal-cheirosas,
Brilha uma branca rosa, em exceção.

Meu olhar escolheu tal rosa, então,
Protegeu-lhe, entre rosas perigosas.
Rosa a seiva que falta àquelas grosas,
Concede à rosa branca o coração.

Contrastes já não valem mais, nem cores
Que, dentre mil amores, são só teus,
Pois o tempo carrega esses primores.

Vale é ser essa flor que, aos olhos meus,
Nunca apodrecerá, como outras flores.
Vais brilhar nos rosais do eterno Deus.

A ROSA BRANCA (III)

Tantas púrpuras rosas na avenida;
Grosas e grosas, tão vendidas rosas;
Entre as rosas vistosas, preciosas,
Falta uma branca rosa, preferida.

Meu olhar arrancou da rosa a vida,
Elevou-lhe, entre rosas valiosas.
Rosa eterna nos versos e nas prosas,
És como a rosa branca, a mais querida.

Elegi essa cor, dentre outras cores,
Prá provar grande amor que, às vezes, vem.
Que não podem trazer vermelhas flores,

Que nem podem querer comprar, também,
Porque, nessa avenida, os vendedores
Não darão seus amores prá ninguém.

SONHO ACORDADO

Sonhei teu grande amor ter encontrado.
Quando acordado, não acreditei
No corpo que avistei, ali, deitado,
Bem ao meu lado, como desejei.

Paraíso sem lei, por mar cercado;
Diante de um reinado imenso, o rei;
De desejo, eu fiquei desencontrado;
Fui tentado a sonhar, quando acordei.

Por demais te querer, te ter também -
Sentimento que, vez em quando, imponho,
Quando alguém já me torna mais risonho -

Tive a alegria, enfim, que poucos têm,
Ao ver um dia, ao lado do meu bem,
Um sonho, transformar-se em outro sonho.

SONHOS E TROVAS

Um grande sonhador quer acordar
No meio de um amor que faz sonhar
Prá, quando se deitar, sua alma em flor,
Desperto, ele sonhar com esse amor.

Quer mais um trovador, já quer cantar
Toda forma de amor que imaginar
Prá, quando a flor murchar e ele se for,
Seu canto inda ecoar, num sonhador.

Sonhos e trovas juntos na alegria
Que, um dia, plante fé no coração,
Ao sentimento amor, que principia,

Levando o sonhador à conclusão:
Paixão não sobrevive, sem poesia;
Poesia também morre, sem paixão.

O PERFUME

O amor, como o perfume, deixa indícios
De euforia em quem sente o seu odor;
Ambos dão alegria, ambos dão vício,
E mesmo os seus resquícios têm sabor.

Em tão pequenos frascos, benefícios;
Num coração ou vidro, tanto ardor;
Mas deves desfrutar sem desperdícios,
Seja perfume d'alma, seja amor.

Têm de todos os tipos prá agradar:
Um deles, quase eterno; outro, ligeiro.
Melhor é o que mais caro te custar,

Mas importa que seja verdadeiro
Pois, tendo um falso, logo há de notar
Que paixão não vai dar, com ou sem cheiro.

NATUREZA

Tens das pedras dureza; tens, agora,
Da noite que apavora, vã frieza.
A incerteza que tens, é de quem chora
Quando o amor vai embora; tens tristeza.

Tens, porém, chama acesa; vida aflora
Do teu peito, ó senhora; és natureza -
Da fauna, tens riqueza e quem te adora,
E da flora, bem mais, pois, tem beleza.

Só pareces não ter o dom vibrante,
O desejo constante de viver,
A grandeza de ser a cada instante,

Quando o mais importante é renascer.
Esse dom de manter a dor distante,
Em plantas e animais, vais perceber.

CEM PALAVRAS

Não pode ser você quem vejo aqui!
Sim, sou... Que bom te ver! Tempo passou,
Você cresceu... Você também mudou...
Por onde andou? Aí... Muito aprendi!

Por que voltou? Saudade deu de ti!
Não fale assim... É, sim... Quem me ensinou
O amor, nunca esqueci... por isso, estou
Aqui! Prá ter de volta o que perdi!

Anos depois... Pois é... Um dia, eu cá
Pensei, não voltará! Errei... Você
Deixou-me a dor, mas cri... Quem ama, crê!

Foi tanto o que sofri! Não sofrerá!
Se depender de ti... Mudei! Virá?
Vou... Sem palavras, já... Falar, prá quê?

JARDINEIRO

- Recita uma poesia para mim!
- Jardim! - o trovador já respondia -
tens do brilho das flores a alegria.
Em teu corpo, o perfume é de jasmim.

Lugar que eu regaria tanto assim,
Com luz e com paixão, e todo dia.
Para mim, nada mais importaria
Que ter tua beleza minha, ao fim.

Faria um paraíso em teu canteiro,
Se tu me concedesses um segundo,
Prá provar meu amor, que é verdadeiro.

Nessa doce empreitada, lá no fundo,
Eu seria o teu servo, um jardineiro...
O jardineiro mais feliz do mundo.

Fonte:
Sonetos

Machado de Assis (Badaladas – 22 de outubro de 1871)

Escapamos de boa!

Ali ao pé de nós, a vinte minutos de viagem, ali na formosa Niterói, esteve há dias prestes a romper uma guerra terrível - uma guerra entre a província do Rio de Janeiro e a Itália.

Dois deputados provinciais propuseram que a assembléia, em nome da província, protestasse “contra o escândalo de que é vítima o Santo Padre” – que esta sendo “acometido insólita e traiçoeiramente em seus direitos incontestáveis”, e cuja posição “é nimiamente precária, injusta, inqualificável, vexatória e atentatória, etc.”.

Isto é declarar guerra à Itália, creio que era uma e a mesma coisa.

Para sustentar o seu ultimato fez o Sr. padre Alves dos Santos um discurso, não longo, mas entremeado de apartes, com que os seus colegas iam cortando-lhe impiedosamente as asas.

O melhor, porém, aquilo em que o Sr. padre Alves dos Santos me pareceu abjurar dos princípios da nossa Igreja, foi um aparte que deu ao Sr. Mattoso Ribeiro.

Dizia este seu colega:

“— A conquista do território romano nada tem com a religião católica, apostólica, romana, — porque, se o Papa sai de Roma, não se perderá o catolicismo.”

Acode o Sr. Alves dos Santos:

“– Está muito enganado!”

Ó divino Cristo, que pensarás tu ao ouvir esta resposta? Dizias uma necessidade quando afirmavas que contra a tua Igreja não prevaleceriam as portas do inferno. Estavas em erro, meu divino Cristo. A força da tua Igreja não vem da tua doutrina; vem de alguns quilômetros de território. O catolicismo em Roma vale tudo; se o pusessem em Jerusalém, não valia nada. Verité em deçà, erreur au delà.

Victor Manuel deixou ainda uma parte da cidade ao Santo Padre; é por isso que existe a Igreja. Se ele amanhã o expulsasse de lá, acabava-se o catolicismo. Victor Manuel dava cabo da obra de Jesus; podia mais que o inferno.

Em trocos miúdos, é a opinião do deputado fluminense.

É escusado dizer que todo o católico, e o próprio deputado se refletir no dito, deve repelir tão singular opinião.
Em todo o caso, ainda que o orador tivesse razão, não era motivo para que a assembléia provincial rompesse as relações (que não tem) com a Itália. O Sr. Vieira Souto acudiu a tempo, desbastando a moção inicial, com uma emenda que nada compromete, e assim ficou encerrado o incidente.

Perguntam-me várias pessoas se não estou disposto a dizer alguma coisa a respeito do caso triste e digno de memória que se deu entre uma freira da Ajuda e o nosso prelado.

Respondi que sim, e pretendia navegar nas águas do Sr. Ribeiro Franco, quando o Jornal do Comércio de quinta-feira, em que vem a resposta de um Sr. Apostolo ao irmão da finada freira. Mudei de opinião.

O tal Apostolo, depois de algumas expressões que apostam mansidão com as do Evangelho, explica francamente que o pedido da freira era fraqueza feminil; que a carne, a carne, e mais a carne (ils sont très espirituels) não devia ser atendida; que S. Excia. fez ouvidos de mercador (textual) às lamúrias encapotadas da carne (textual) já, solene e irrevogavelmente, renunciada pela dita freira, etc.

Depois de tão vigorosa resposta, pensava eu que o Sr. Ribeiro Franco poria termo aos seus artigos.

Mas qual!

O irmão da finada quer imitar os comunistas de Paris que também morderam o nosso prelado...

Aqui para o leitor, e pergunta se estou zombando dele.

Não, caro leitor; não zombo, repito o que nos disse a referida folha:

“O nosso sábio e virtuoso bispo foi de modo insólito agredido pelo Sr. José Ribeiro Franco, por um fato bem simples, que bem demonstra que a impiedade desenvolve todos os dias mais força a ponto de não trepidar, como os comunistas de Paris, em erguer o asqueroso colo para fincar dentes envenenados na sagrada pessoa do nosso preclaro e virtuosíssimo bispo, inegavelmente a honra e glória do episcopado brasileiro”.

O Sr. José Ribeiro Franco continua, pois, a imitar a comuna de Paris.

No seu artigo de quinta-feira censura o nosso prelado por haver dito que S. José era duas vezes onipotente.

Não se dá maior impiedade! Bem se vê que o Sr.Ribeiro Franco parou nos evangelistas e nos padres da Igreja. Está abaixo do seu século; anda na aldeia e não vê as casas.

O erro do Sr. Ribeiro Franco provém de uma ilusão deplorável. S. S. supõe que nós ainda estamos no Cristianismo, quando essa religião vai senão vantajosamente substituída pelo Marianismo.

A demissão do Padre, do Filho e do Espírito Santo pode-se dizer que é um fato; não está oficialmente publicado, mas é um fato. A teoria do Marianismo é que Deus nada pode contra a vontade de Nossa Senhora, e se nada pode, pode menos, e se pode menos é poder inferior.

A isto se prende naturalmente a idéia das duas onipotências de S. José.

A propósito. . .

Corre em Lisboa, já, em 2ª. edição, e sei se aqui também, um livrinho com o título :
Novíssimo mês de Maria, ou mês das flores, coordenado pelo padre J. L. L.

A devoção de Maria e a consagração que se lhe fez do mês de maio, são coisas dignas de respeito: cumpria, porém, que estas obras, já que estamos no século XIX, se despissem de superstições que não levantam o ânimo do povo.

Não li o livro aludido; mas uma folha de Lisboa transcreve um pedaço que aí se lê a págs. 308,309 e 310.

Destacarei o primeiro período da transcrição para que melhor se aprecie a doutrina:

“Nas crônicas dos padres capuchinhos (cap. 11, part. 1ª.) se conta que em Veneza havia um célebre advogado, o qual com enganos e injustiças tinha enriquecido, e vivia em mau estado. Não tinha talvez de bom mais que rezar todos os dias uma certa oração à Santíssima Virgem; e contudo esta pobre devoção lhe valeu para escapar da morte eterna pela misericórdia de Maria.”

Leitor sagaz, isto é um verdadeiro achado. Trapaceia como puderes, dá, a tua facadazinha, e fica certo de que escaparás da morte eterna mediante uma oração a Virgem — é a receita mais barata que se conhece. . . renouvellée de Louis XI.

Vejamos agora o resto da notícia; precisa ser lida com muita atenção e sem se perder uma linha.

Lá vai:

“. . . E eis aqui como. Por fortuna sua, tomou este advogado amizade com o padre fr. Matheus de Basso, e tanto lhe pediu que viesse um dia jantar a sua casa, que finalmente lhe fez a vontade. Chegando a casa, lhe disse o advogado: Ora, padre, eu quero-lhe fazer ver uma coisa que nunca terá visto. Eu tenho uma macaca admirável, a qual me serve como um criado, lava os copos, põe a mesa, abre-me a porta. – Veja (lhe respondeu o padre) não seja essa macaca mais alguma coisa: faça-me a vir aqui.
“Chamou ele a macaca, tornou-a a chamar, procurou-a por toda a parte, e a macaca não aparecia; finalmente foram achar debaixo do leito, escondida em um vaso da casa ; mas a macaca dali não queria sair. Então disse o religioso: Vamos nós buscá-la. E chegando juntamente com o advogado, onde estava a macaca, lhe disse o religioso: Besta infernal, sai para fora, e da parte de Deus te mando, que declares quem és. Respondeu a macaca que era o Demônio e que estava esperando que aquele pecador deixasse de rezar algum dia aquela acostumada oração à Mãe de Deus porque a primeira vez que deixasse, tinha ordem de Deus para afogar, e levá-lo para o inferno. Com esta resposta o pobre advogado se pôs logo de joelhos pedindo ao religioso que o socorresse, o qual o animou e mandou ao demônio que se ausenta-se daquela casa sem fazer dano a coisa alguma. - Só te dou licença (lhe disse o religioso) que, em sinal de te teres ausentando, rompas uma parede destas casas. – Apenas lhe disse isto, se viu, depois de se ouvir um grande estrondo, feita na parede uma abertura, a qual, ainda que muitas vezes intentaram tapar com pedra, quis Deus que por muito tempo perseverasse; até que por conselho do religioso se pôs naquela abertura, uma pedra, com a figura de um anjo. O advogado se converteu; e esperamos que dali por diante continuaria na mudança da vida até a hora da morte.”

Não explica o autor do livrinho, nem a crônica dos capuchos, nem o jornal a que aludi, por que motivo foi Deus buscar para seu instrumento um demônio, podendo servir-se de um anjo, que era muito mais natural. Também não compreendo muito a razão por que Deus não consentiu que se tapasse o buraco da parede, e só depois de muito tempo deixou de fazer oposição a essa obra necessária.

São verdadeiros mistérios em que nunca poderá meter o dente o
Dr. Semana.

Fonte:
Obra Completa, Machado de Assis, Rio de Janeiro: Edições W. M. Jackson,1938. Publicado originalmente na. Semana Ilustrada, Rio de Janeiro, de 22/10/1871 a 02/02/1873.

Marina Colassanti (Palavras Aladas)

Silêncio era a coisa de que aquele rei mais gostava. E de que, a cada dia, mais parecia gostar. Qualquer ruído, dizia, era faca em seus ouvidos.

Por isso, muito jovem ainda, mandou construir altíssimos muros ao redor do castelo. E logo, não satisfeito, ordenou que por cima dos muros, e por cima das torres, por cima dos telhados e dos jardins, passasse imensa redoma de vidro.

Agora sim, nenhum som entrava no castelo. O mundo podia gritar lá fora, que dentro nada se ouviria. E mesmo a tempestade fez-se muda, sem que rolar de trovão ou correr de vento perturbassem a serenidade das sedas.

- Ouçam que preciosidade - dizia o rei. E toda a corte se calava ouvindo embevecidamente coisa alguma.

Mas, se os sons não podiam entrar, verdade é que também não podiam sair. Qualquer palavra dita, qualquer espirro, soluço, canto, ficava vagando prisioneiro do castelo, sem que lhe fossem de valia fresta de janela ou porta esquecida aberta, Pois, se ainda era possível escapar às paredes. nada os libertava da redoma.

Aos poucos, tempo passando sem que ninguém lhe ouvisse os passos, palavras foram se acumulando pelos cantos, frases serpentearam na superfície dos móveis, interjeições salpicaram as tapeçarias, um miado de gato arranhou os corredores, E tudo teria continuado assim, se um dia, no exato momento em que sua majestade recebia um embaixador estrangeiro, não atravessasse a sala do trono uma frase desgarrada. Frase de cozinheiro que, sobrepondo-se aos elogios reais, mandou o embaixador depenar, bem depressa, uma galinha.

Mais do que os ouvidos, a frase feriu o orgulho do rei.

Furioso, deu ordens para que todos os sons usados fossem recolhidos, e para sempre trancados no mais profundo calabouço.

Durante dias os cortesãos empenharam-se naquele novo esporte que os levava a sacudir cortinas e a rastejar sob os móveis. A audição certeira abatia exclamações em pleno vôo. Algemava rimas, desentocava cochichos. Uma condessa encheu um cesto com um cento de acentos. Um marquês de monóculo fez montinhos de monossílabos. E houve até quem garantisse ter apanhado entre os dedos delicado “não” de uma donzela. Enfim, divertiram-se tanto, tão entusiasmados ficaram com a tarefa, que acabaram por instituir a Temporada Anual de Caça à Palavra.

De temporada em temporada, esvaziava-se o castelo de seus sonhos, enchia-se o calabouço de conversas. A tal ponto que o momento chegou em que ali não cabia mais sequer o quase silêncio de uma vírgula. E o mordomo real viu-se obrigado a transferir secretamente parte dos sons para aposentos esquecidos do primeiro andar.

Foi portanto por acaso que o rei passou diante de um desses cômodos. E passando ouviu um: murmúrio, rasgo de conversa. Pronto a reclamar, já a mão pousava na maçaneta, quando o calor daquela voz o reteve. E, inclinado à fechadura para melhor ouvir, o rei colheu as lavas, palavras, com que um jovem, de joelhos talvez, derramava sua paixão aos pés da amada.

A lembrança daquelas palavras pareceu voltar ao rei de muito longe, atravessando o tempo, ardendo novamente no peito. E em cada uma ele reconheceu com surpresa sua própria voz, sua jovem paixão. Era sua aquela conversa de amor há tantos anos trancada. Fio da longa meada do passado, vinha agora envolvê-lo, religá-lo a si mesmo, exigindo sair de calabouços.

- Que se abram as portas! - gritou comovido, pela primeira vez gostando do seu grito, ele que sempre havia falado tão baixo. E escancarou os batentes à sua frente.

- Que se abram as portas! - correu o grito da sala ao salão, da escada ao jardim, muro acima, até esbarrar na cúpula de vidro, e voltar, batendo no queixo majestoso.

- Que se derrube a redoma! - lançou então o rei com todo o poder de seus pulmões. - Que se abatam os muros!

E desta vez vai o grito por entre o estilhaçar, subindo, planando, pássaro-grito que no azul se afasta, trazendo atrás de si em revoada frases, cantigas, epístolas, ditados, sonetos, epopéias, discursos e recados, e ao longe - maritacas - um bando de risadas. Sons que no espaço se espalham levando ao mundo a vida do castelo, e que, aos poucos, em liberdade se vão.

FONTE:
A Garupa, e outros contos /Sylvia Orthof...[et al.]. São Paulo: Martins Fontes, 2002 - (Coleção literatura em minha casa ; v.2)

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 607)

Uma Trova de Ademar  

Inimigo do trabalho,
é meu primo, o “Paraíba;”
seu emprego é no baralho:
buraco, truco e biriba.

–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional


Maria anda bem vestida.
Dizem que faz quase nada.
Tem roupas caras... que vida!
Mas só trabalha pelada.

–Nilton Manoel/SP–

Uma Trova Potiguar


Maroquinha, o teu gingado
está dando o que falar!
Talvez não seja pecado,
mas faz a gente pecar!

–José Lucas de Barros/RN–

Uma Trova Premiada

2009 - Nova Friburgo/RJ
Tema - CINQUENTÃO - 2º Luga
r

Na sinuca, ela afobada
num jogo de sedução,
acertou uma tacada
no taco do cinquentão !

–Adilson Maia/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram


Há três coisas que a mulher
consegue fazer de um nada:
uma intriguinha qualquer,
um chapéu e uma salada!...

–Carolina A. de Castro/PE–

U m a P o e s i a


M O T E : Ademar Macedo/RN
Fiz a “pergunta” ao espelho
que para não me ofender
disfarçou, ficou vermelho,
e não quis me responder!

G L O S A : Lisieux/MG
Fiz a “pergunta” ao espelho
"existe mulher mais bela?
Dá-me aqui o teu conselho:
posso atuar na novela?"
O espelho, eu imagino
que para não me ofender
buscou com cuidado e tino
uma forma de dizer...
E, coitadinho do espelho!
Fez rodeio, embaraçou-se,
disfarçou, ficou vermelho,
engoliu seco, engasgou-se.
Sem poder dizer-me tudo
e por mentir não saber,
ficou cego, surdo, mudo,
e não quis me responder!
Soneto do Dia

BENEDITO SALGADO.
–Joinvile Barcelos/RS–


Vai às aulas e às feiras, lê, patina,
namora, odeia os militares. Tersos
os seus sonetos, nos jornais dispersos,
João dos Anzóis "pomposamente" assina.

Ama o truco, o bilhar, jogos diversos.
Ah! Viver no "xadrez" (que bela sina!!),
tendo ao lado uma cândida menina,
bons patins, bons autores e bons versos.

Vive alheio aos jurídicos assuntos.
Provas de exame nós "colamos" juntos,
eis por que ainda não levamos pau.

Prega aos calouros tímidos na Escola:
“não tenham medo, aqui tudo se cola”,
“Cola-se” até solenemente — “o grau!"

Guimarães Rosa (Conto de Sagarana: Minha gente)

Análise da obra

Narrado em primeira pessoa, tendo um narrador que participa da história com visão limitada dos fatos que narra, Minha gente é um dos contos mais bem tramados do livro, com a história principal emendada, alterada, recontada por pequenos detalhes e elementos dados pouco a pouco ao leitor.

O foco narrativo ilumina os passos do protagonista, mas também revela certas sutilezas que servem para esclarecer o sentido mais profundo da história. Há uma partida de xadrez, narrada no início, que mostra como se deve entender o enredo em si: um xeque, dado pelo protagonista, acaba se virando contra ele próprio. Assim, a narração insinua ao leitor que as aparências dos fatos escondem, mais que revelam, sua verdadeira intenção.

É um conto que fala mais do apego à vida, fauna, flora e costumes de Minas Gerais que de uma história plana com princípios, meio e fim. Os "causos" que se entrelaçam para compor a trama narrativa são meros pretextos para dar corpo a um sentimento de integração e encantamento com a terra natal. O lirismo dos temas do amor e da solidão transparece em Minha gente.

O autor utiliza uma linguagem mais formal, sem grandes concessões aos coloquialismos e onomatopéias sertanejas. Alguns neologismos aparecem: suaviloqüência, filiforme, sossegovitch, sapatogorof - mas longe da melopéia vaqueira tão ao gosto do autor. A novidade do foco narrativo em primeira pessoa faz desaperecer o narrador onisciente clássico, entretanto quando a ação é centrada em personagens secundárias - Nicanor, por exemplo - a oniscência fica transparente.

Muitas temáticas são desenvolvidas no conto, por exemplo: a saga da política no interior (tio Emilio); a honra sertaneja (morte do Bento Porfírio); os caprichos do Destino (casamento de Armanda com o narrador).

Aliás, esse último aspecto é desenvolvido também num conhecido poema de Drummond, Quadrilha:

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

O cenário é a Fazenda Saco-do-Sumidouro (interior de Minas Gerais), do Tio Emílio, pai de Maria Irma.

Personagens

Narrador - Homem da cidade que estava a passeio pelas fazendas dos tios, no interior de Minas Gerais. Chamavam-no "Doutor", gostava da prima Maria Irma, mas casou-se com Armanda, filha de uma fazendeira. É o protagonista do conto. Só sabemos que é um "Doutor" por intermédio da fala de José Malvino, logo no início da narrativa: "Se o senhor doutor está achando alguma boniteza...", fora isso, nem mesmo seu nome é mencionado.

Santana - Inspetor escolar intinerante. Bonachão e culto. Tem memória prodigiosa. É um tipo de servidor público facilmente encontrável. Companheiro nas andanças do narrador, tem mania de jogar xadrez, mesmo quando estão andando a cavalo.

José Malvino - Roceiro que acompanha o protagonista na viagem para a fazenda do Tio Emílio. Conhece os caminhos e sabe interpretar os sinais que neles encontra. Atencioso, desconfiado, prestitavo e supersticioso.

Tio Emílio - Fazendeiro e chefe político, para ele é uma forma de afirmação pessoal. É a satisfação de vencer o jogo para tripudiar sobre o adversário. Tio do narrador; sofreu mudança radical depois que se meteu na política.

Maria Irma - Prima do protagonista e primeiro objeto de seu amor. É inteligente, determinada, sibilina. Elabora um plano de ação e não se afasta dele até atingir seus objetivos. Não abre seu coração para ninguém, mas sabe e faz o que quer. Uma das filhas de Tio Emílio; no passado, o narrador e ela foram namorados de brincadeira. Tem cintura fina, olhos grandes, pretíssimos. Passou alguns anos no internato.

Armanda - Filha de fazendeiros; estudou no Rio de Janeiro. Terminou casada com o narrador.

Bento Porfírio - Empregado da fazenda de Tio Emílio. Vaqueiro; gostava de pescar. Envolveu-se com uma prima casada (de-Loudes) e terminou assassinado a foice pelo marido enciumado (Alexandre). É companheiro de pescaria do protagonista.

Resumo do conto

Caminham juntos, pelo sertão de Minas, a cavalo, o narrador, Santana e José Malvino. O narrador é um observador apaixonado das coisas do sertão: a paisagem, o céu, os pássaros, as árvores... Tudo para ele merece elogios e observações. A viagem chega ao fim: estão agora numa fazenda.

Dois dias na fazenda, e o narrador achava tudo mudado. Mas mudança de verdade notara no Tio Emílio: rejuvenescido, transfigurado. Logo, o narrador descobriu o porquê da mudança: Tio Emílio estava metido na política. Sempre atendendo aos pedidos do povo, a qualquer hora, mesmo à noite.

A prima Maria Irma, em conversa com o narrador, fez questão de informar que estava quase noiva. O narrador quis saber de quem, mas ela fez mistério.

Bento Porfírio, enquanto pesca com o narrador, vai-lhe contando uma história. Agripino, bom parente, convidou Bento para ir ao arraial. Queria apresentá-lo à sua filha de-Lourdes: quem sabe os dois podiam casar. Mas Bento não foi. Preferiu uma pescaria misturada com farra, com mulher-da-vida e sanfona pelo meio. Tempos depois, "quando Bento Porfírio veio a conhecer a prima de-Lourdes, ela já estava casada com o Alexandre". Os primos foram-se vendo e gostando um do outro. Por pirraça e por falta do que fazer, Bento casou-se com Bilica.

O narrador ficou na varanda até anoitecer. A prima Irma mudou de modos e, na hora do jantar, sorriu diferente para o narrador. Ele ficou desconfiado. "Mulher bonita, mesmo sendo prima, é uma ameaça". E o narrador lembra bem o conselho de Tertuliano Tropeiro: "Seu doutor, a gente não deve de ficar adiante de boi, nem atrás de burro, nem perto de mulher! Nunca que dá certo..." Noite sem estrelas, noite de roça. O narrador foi dormir.

O narrador foi novamente pescar no poço com Bento Porfírio. Depois de algum tempo, a história do adultério continuou. O marido da prima, o Alexandre, não sabe que está sendo enganado. De repente, o marido traíd????È?o surgiu de trás de uma moita, foice na mão, e matou Bento com um só golpe. O corpo caiu no poço, e o narrador, apavorado, não sabia o que fazer. O assassino foi embora, o narrador correu para casa e contou ao Tio Emílio o ocorrido. As ordens foram dadas: tirar o morto do poço, avisar o subdelegado e ir atrás do assassino. Não para matá-lo, mas para protegê-lo das autoridades.

Os dias vão passando, e o narrador começa a gostar da prima Maria Irma. Por que não namorá-la? Um rapaz da cidade veio visitá-la e trazer-lhe livros. Ela se enfeitou toda para o receber. Por que não estava toda enfeitada na chegada do primo? À noite, o narrador fica sabendo que o rapaz se chama Ramiro e que é namorado da Armanda, uma amiga de Maria Irma, filha da fazendeira do Cedro.

O narrador não se conteve e fez uma declaração de amor à prima. Ela ouviu e, depois, disse que não acreditava. Ele tentou convencê-la usando argumentos infantis. Em vão.

Depois de uma conversa séria com a prima e de obter dele somente negativas, o narrador ameaçou ir embora. Ela insistiu que ele ficasse: queria apresentar-lhe Armanda, a namorada de Ramiro. Ele, teimoso, partiu no outro dia. Iria para Três Barras, onde mora o seu tio Luduvico.

Em Três Barras, o narrador não conseguia esquecer Maria Irma. Depois das eleições, com vitória do partido de Tio Emílio, o narrador recebeu carta: ele, o tio, queria-o de volta. O narrador ficou muito alegre e nem esperou o outro dia para voltar.

De volta, o narrador foi apresentado a Armanda. Foram passear a pé pelos pastos. Dali, do primeiro passeio, já nasceu o namoro. Em pouco tempo, o noivado e, no mês de maio, o casamento, ainda antes do matrimônio da prima Maria Irma com Ramiro Gouveia.

Fonte:
Passeiweb

Concurso Nacional de Crônicas 'Altair Bail' -2012 (Resultado Final)

Categoria Nacional 

“PÓS-SOCRÁTICO” de EDUARDO FERREIRA MOURA/Rio de Janeiro-RJ

“O CIGARRO” de JULIANA LARISSA DE LAET GOMES/São Paulo-SP

“O PÃO SANGRENTO” de GABRIEL JOSÉ NASCENTE/Goiânia-GO.

Na mesma categoria coube Menção Honrosa para a crônica
“NOTAS DE UM VELHO SEM CÂNCER” de EDUARDO FERREIRA MOURA/Rio de Janeiro-RJ.

Categoria Local

“A VIZINHA DO 42” de LIANA AIÇAR DE SUSS

“O IMORTAL OPERÁRIO FERROVIÁRIO” de ÂNGELO LUIZ DE COL DEFINO

“NÃO SE FAZEM MAIS CRIANÇAS COMO ANTIGAMENTE” de NICOLY DA SILVA FRANÇA.

Coube na categoria Menção Honrosa para a crônica
“DOMINGO DA GENTE” de LIANA AIÇAR DE SUSS.

Os três primeiros vencedores em ambas as categorias receberão a premiação de R$1.000,00 (hum mil reais) cada um, exceto as menções honrosas. Todas as crônicas selecionadas serão publicadas na ANTOLOGIA DE CONTOS POESIAS E CRÔNICAS 2012, a ser impressa oportunamente e distribuída nas escolas, bibliotecas, imprensa especializada, críticos e escritores.

Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 606)

Uma Trova de Ademar  

Por ver o sonho desfeito
de um grande amor, de verdade,
na varanda do meu peito
eu vi nascer a saudade...
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional


Tanto mal nós infligimos
em todos que bem nos queira,
e o perdão que lhes pedimos
é uma nuvem passageira.
–José Feldman/PR–

Uma Trova Potiguar


Na minha infância sofrida,
onde só a fé restava,
descobri na própria vida
que Jesus me acompanhava.
–Paulo Roberto/RN–

Uma Trova Premiada


1999 - Cachoeiras de Macacu/RJ
Tema - CORRENTEZA - 5º Lugar


Num derradeiro tributo
a um lenho e, em seu dorso presa,
uma orquídea veste luto,
boiando na correnteza...
–Darly O. Barros/SP–

...E Suas Trovas Ficaram


De uma paixão incontida,
o tempo - insano juiz -
pode curar a ferida
mas nos deixa a cicatriz.
–Alonso Rocha/PA–

Uma Poesia

No meu dia derradeiro,
em saudades já imerso,
partirei para outra vida
pra viver noutro universo,
levando para Jesus
pregado na minha cruz,
o meu derradeiro verso!
–Ademar Macedo/RN–

Soneto do Dia

AFRONTA IMPIEDOSA.
–José Antonio Jacob/MG–


Em cada rua há um vendedor de flores
E anda distante o Dia de Finados;
Casais se beijam murmurando amores,
Também não é Dia dos Namorados...

Essa cidade tem muros dourados,
Por onde passam brisas sem rumores,
E nos salões de imperiais sobrados
Divertem-se os esnobes sem pudores.

E o céu é tão azul que dói na vista,
O mar parece capa de revista
E ao longe nos acena um iate à vela...

E o que mais nos afronta e desiguala
É o luxo se exibindo na novela
E essa pobreza muda em nossa sala.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Zé Lucas, Ademar Macedo e Prof. Garcia (Um Debate em Setilha Agalopada) Parte 3

61 - Zé Lucas
O que mostra a verdade cristalina
é que a vida, na terra, é transitória;
as conquistas que às vezes nos encantam
pouco ou nada resistem como glória,
mas ainda acredito que a poesia
não se acaba da noite para o dia
e há de ter algum peso em nossa história.

62 – Ademar
A poesia marcou a minha história
povoando o meu mundo de alegria
através da divina inspiração
que o “Poeta Maior” sempre me envia;
tendo o verso e a poesia como arte,
vibro ao ver o meu nome fazer parte
do fantástico mundo da poesia.

63 - Prof. Garcia
Tudo quanto na vida a gente cria
tem o santo mistério divinal,
porque vendo a poesia em todo canto,
e a beleza do reino universal;
acredito que Cristo foi poeta,
e escreveu a poesia mais completa
na lapela da aurora matinal.

64 - Zé Lucas
A poesia mais bela e original
há na Bíblia, e mil vezes eu já li,
na harmonia do Cântico dos Cânticos
e nos salmos bonitos de Davi,
mas, em termos de amor e de obra extrema,
no Sermão da Montanha encontro o poema
mais profundo e grandioso que já vi.

65 – Ademar
Emoções que na vida eu já vivi
não previa o mais sábio dos profetas;
pois eu que era na vida um sonhador
vejo agora, alcançando minhas metas
que em mim nasce a mais pura da certeza
de que tudo que tem de mais beleza
Deus coloca na mente dos poetas.

66 - Prof. Garcia
Das belezas da vida, as mais completas,
que Deus fez neste mundo de etiquetas,
uma delas, foi nossa inspiração,
outra foi os encantos das ninfetas;
e de todas a mais surpreendente,
foi pintar tantas cores no nascente
e nas asas das lindas borboletas.

67 - Zé Lucas
Quanto é grande a beleza dos planetas
e de todos os corpos siderais!
Ninguém mede a distância das estrelas
nem o brilho existente em seus fanais,
porque a máquina humana é limitada,
porém sabe que tudo é quase nada,
comparado com Deus, que é muito mais.

68 – Ademar
Cada verso de amor que a gente faz
traz no seu nascedouro uma emoção,
fabricada por Deus em nossa mente
e que deixa pra mim uma lição:
Toda estrofe que eu faço e que escrevo
tem palavras de amor, carinho, enlevo
proferidas por nós, numa oração.

69 - Prof. Garcia
Quando eu vejo dos astros, a união,
circulando em perfeita simetria,
eu pergunto a mim mesmo, por que nós,
não vivemos assim, no dia-a-dia,
abraçados à própria natureza,
respeitando de Deus tanta grandeza
e embriagados de paz e de harmonia!

70 - Zé Lucas
Não há falha nas obras que Deus cria:
o relógio do espaço, sem ponteiro,
marca o tempo do giro planetário
sem errar um minuto em seu roteiro,
e a ciência dos homens cambaleia,
porque luta e não faz um grão de areia,
e em seis dias Deus fez o mundo inteiro.

71 – Ademar
Ao poeta que é um vate verdadeiro,
a ele nada na vida o desanima,
pode até lhe faltar inspiração
e fugirem palavras que dão rima;
mas poeta que é bom se intensifica
e montanhas de verso ele fabrica
sem comprar nem faltar matéria prima.

72 - Prof. Garcia
Se no verso, algum dia faltar rima,
faltarão as canções das alvoradas;
nunca mais vão se ouvir os bandolins
nem os vates cantando nas calçadas,
e o murmúrio do choro das cascatas,
calará as antigas serenatas
acalanto das lindas madrugadas.

73 -Zé Lucas
Se perdermos o dengue das toadas,
o sertão com certeza vai chorar,
porque o som das violas já não vai
levar ritmo ao quadrão da beira-mar
e, no meio de tantos dissabores,
se este mundo calar os seus cantores,
há de ter a tristeza em seu lugar.

74 – Ademar
Se algum dia o poeta se calar,
calará para sempre a natureza.
Passarinhos não cantam mais na mata
o sertão perderá sua beleza;
e até Deus em respeito ao menestrel
mandará que uma nuvem lá do céu
chore prantos molhados de tristeza.

75 - Prof. Garcia
Eu não creio, que a santa natureza,
por um gesto de pura rebeldia,
procedesse do jeito que procedem
os tiranos, em sua covardia;
acabando os jardins, matando as flores,
mataria os poetas trovadores
e o reinado da santa poesia!

76 - Zé Lucas
Nesse nosso universo de poesia
poderemos viver bastante calmos,
porque dele os bons ventos não se afastam
nem sequer a distância de dois palmos.
Além disso, a poesia é tão divina,
que na Bíblia Sagrada Deus a ensina
pelos versos dos cânticos e salmos.

77 – Ademar
É preciso entender todos os salmos
e saber na verdade o que nos diz.
A palavra de Deus é muito sábia
mas já vi gente grande, e até juiz
enganando o seu próprio sentimento
e escondendo de si seu sofrimento,
mente ao mundo, fingindo ser feliz.

78 - Prof. Garcia.
Tudo quanto Deus fez, me faz feliz,
e eu aceito a palavra de Jesus,
porque sinto na voz dos mandamentos,
que esta força sagrada é minha luz;
e este fardo pesado que carrego,
pesa menos, nas costas quando eu pego
na mão santa de Deus, que me conduz!

79 - Zé Lucas
Satisfeito, carrego a minha cruz
com a estrela da fé dentro da mente.
Vou lutar pra vencer os atropelos
sem temer o que esteja pela frente.
Sei que a senha da morte não tem prazo,
mas, enquanto não chega o meu ocaso,
sigo olhando pra luz do sol nascente.

80 – Ademar
Agradeço ao Deus Pai Onipotente
pelo dom que me deu, de versejar,
pela Fé que me ampara e me sustenta
pela força que eu tenho de lhe amar;
agradeço por tudo o que me deu,
pois cheguei hoje em vida ao apogeu
que somente os poetas vão chegar.

81 - Prof. Garcia
Foi Deus Pai, que nos fez tanto sonhar,
descobrir no repente a paz divina,
mesmo que nos momentos desiguais
nós sejamos iguais na própria sina;
porque sonho, que é sonho de poeta,
só termina da forma mais completa,
mas a essência do verso não termina.

82 - Zé Lucas
Não podemos trilhar pela rotina
da mesmice formal que nada diz;
é preciso pensar mais colorido,
retratando, dos campos, o matiz,
porque neste labor que às vezes cansa,
manter vivas as chamas da esperança
faz a vida mais bela e mais feliz.

83 – Ademar
Ninguém vive no mundo mais feliz
do que aquele que vive de poesia,
e eu estou inserido neste mundo,
no real e também na fantasia;
pois no verso eu encontro o meu alento,
produzindo o meu próprio sentimento,
eu fabrico emoções a cada dia.

84 - Prof. Garcia
Tudo quanto na vida a gente cria,
tem alguém dando nó nos nossos laços,
se escrevemos por linhas tortuosas
há um mistério que alinha os nossos traços;
se a mensagem sai pura e cristalina,
acredito que seja a mão divina
corrigindo e guiando os nossos passos.

85 - Zé Lucas
Quando nós encontramos embaraços
e a planilha do verso sai malpronta,
porque erramos as peças do poema
com palavras sem nexo e frase tonta,
Deus apruma o martelo em nossa mão,
dá um toque de pura inspiração,
bate o prego do verso e vira a ponta.

86 – Ademar
Todo verso que eu faço é Deus que apronta,
como apronta uma obra o bom pedreiro,
passa a régua, a colher, e bota o prumo,
dá idéia do início ao paradeiro
e não deixa faltar inspiração;
sai escrito por minha própria mão
mas é Ele quem diz todo o roteiro.

87 -Prof. Garcia
Quando eu quis embarcar neste veleiro,
enfrentando do verso o mar bravio,
disse a mim, como quem diz ao destino:
vou em frente e de nada desconfio;
mas agora enfrentando os dois extremos,
fiz da força dos braços meus dois remos
nas tormentas de um grande desafio.

88 - Zé Lucas
Na vertente que anima nosso trio,
já não sei em que mundo desemboque;
tenho medo que falte pontaria
para o tiro certeiro do bodoque,
e por isso me arrisco num palpite:
se a poesia não fosse sem limite,
qualquer dia esgotava o nosso estoque.

89 – Ademar
O Poeta na terra sente o toque
das palavras que Deus do céu transmite.
Já nascemos portando os dons divinos
e não tem por aqui quem nos imite,
acredite poeta, tens razão;
eu também já cheguei a conclusão
que a poesia não tem nenhum limite.

90 - Prof. Garcia
Eu não quero arriscar nenhum palpite
nem dar provas do nosso proceder;
de manhã, nossa vida se renova,
mas à tarde, ela volta a entristecer;
é o momento em que a musa soluçando
se despede do dia e sai cantando
badaladas pra noite adormecer.

Sylvia Ortoff (Se as Coisas fossem Mães)

Se a lua fosse mãe, seria mãe das estrelas, o céu seria sua casa, casa das estrelas belas.Se a sereia fosse mãe, seria mãe dos peixinhos,O mar seria um jardim e os barcos seus caminhos.Se a casa fosse mãe, seria a mãe das janelas,Conversaria com a lua sobre as crianças estrelas,Falaria de receitas, pastéis de vento, quindins,Emprestaria a cozinha pra lua fazer pudins!Se a terra fosse mãe,seria a mãe das sementes, pois mãe é tudo que abraça, acha graça e ama a gente.

Se uma fada fosse mãe, seria mãe da alegria. Toda mãe é um pouco fada...

Nossa mãe fada seria.

Se uma bruxa fosse mãe, seria mamãe gozada: Seria mãe das vassouras, da família vassourada! Se a chaleira fosse mãe, seria mãe da água fervida,Faria chá e remédio para as doenças da vida. Se a mesa fosse mãe, as filhas sendo cadeiras, sentariam comportadas, teriam "boas maneiras". Cada mãe é diferente: mãe verdadeira, ou postiça, mãe vovó e mãe titia, Maria, Filó, Francisca, Gertrudes, Malvina, Alice, toda mãe é como eu disse. Dona Mamãe ralha e beija, erra, acerta, arruma a mesa, cozinha, escreve, trabalha fora, ri, esquece,
lembra e chora, traz remédio e sobremesa...

Tem até pai que é "tipo mãe"... Esse então é uma beleza!

Fonte:
Se as coisas fossem mães, Sylvia Orthof, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro.

Inauguração de Novo Bosque da Leitura, em Pirituba/SP

Neste final de semana será inaugurado o novo Bosque da Leitura Parque Rodrigo de Gásperi, na região de Pirituba. Durante o evento teremos:

Contos e Cantos Africanos
Com Sansakroma

Buscando referências na cultura oral dos africanos, brasileiros e cubanos, o Grupo Sansakroma buscará a integração entre estas culturas e promete um momento de muitas histórias, música e diversão.

15 de julho (dom) – 11h
Endereço: Av. Miguel de Castro nº321 - Vila Zatt - Pirituba
Telefone: 3974-8600

Fonte:
Sistema Municipal de Bibliotecas/SP

BP Hans Christian Andersen/SP (Curso Básico de Formação para Contadores de Histórias)

Curso básico de formação para contadores de histórias na Biblioteca Temática em Contos de Fadas Hans Christian Andersen.

Carga Horária: 60h.

35 vagas. Inscrições de 16 a 21 de julho, pessoalmente na Biblioteca. No ato da inscrição, o interessado deverá preencher uma carta de intenção que será decisiva na seleção dos participantes, caso o número de inscrições ultrapasse o número de vagas.

Aos sábados, das 9h às 13h, de 4 de agosto a 24 de novembro. BP Hans Christian Andersen.

Fonte:
Sistema Municipal de Bibliotecas/SP

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 605)

Uma Trova de Ademar  

A cada um de Vocês, 
aos três que aniversaria;
mando com toda honradez
Meus Parabéns, em Poesia!
Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional


Thereza, Thalma e Luiz,
três abraços de uma vez;
com esta eu vou ser feliz,
pois fico amigo dos três.
–Olympio Coutinho/MG–

Uma Trova Potiguar


No mundo da poesia,
faço real cada sonho
sem pensar na fantasia
das estrofes que eu componho.
–Tarcísio Fernandes Lopes/RN–

Uma Trova Premiada


2000 - Pouso Alegre/MG
Tema - PASSADO - M/H


Recordações na parede,
cucos de sonhos no chão,
e o passado, numa rede,
embalando a solidão !
–Eduardo A. O. Toledo/MG–

...E Suas Trovas Ficaram


Ouvi, alguém que dizia:
-Lá se vai o poeta morto,
sem perceber a alegria
do sonho chegando ao porto.
–Adelmar Tavares/PE–

Uma Poesia


Vejo a poesia estampada
na manhã que se levanta,
na ternura dolorosa
dos olhos da Virgem Santa
e na grandiosa beleza
da cachoeira que canta!
–José Lucas de Barros/RN–

Soneto do Dia

THALMA TAVARES.
–Delcy Canalles/RS–


Thalma Tavares, como eu gostaria,
neste doze de julho, exatamente,
escrever, para ti, linda poesia,
que te dissesse o quanto estou contente!

Contente porque, este, é o teu dia,
dia de festa... amor... dia envolvente,
em que sorri, pra nós, a alegria,
pelo fato de estarmos frente à frente!

Se não fosse a distância, meu amigo,
eu voaria para estar contigo
e te abraçar, aí em São Simão !

Por isso, eu uso, agora, o imaginário,
para chegar no teu aniversário ,
e te entregar, inteiro, o coração!

Concurso de Trovas do Clube dos Trovadores Capixabas (Classificação Final)

Promoção: Clube dos Trovadores Capixabas
Apoio: Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de Vitória

A professora Déa Maria Barbosa Aguiar, a Escritora Kátia Maria Bobbio Lima e o Presidente do CTC, Clério José Borges de Sant Anna reunidos no dia 10 de Julho de 2012, após duas horas de debates e detalhado julgamento decidiram a seguinte Classificação final do Concurso de âmbito Nacional e Internacional, das 498 Trovas que foram recebidas no período de 21 de março a 30 de Junho, com a participação de 166 Poetas Trovadores de vários Estados Brasileiros e também de Portugal. No âmbito Nacional a Trova vencedora é de autoria do Poeta Geraldo Trombin, da Cidade de Americana, Estado de São Paulo. No âmbito do Espírito Santo o primeiro lugar ficou com a Trova do Trovador Albércio Nunes Vieira Machado, morador da Cidade Continental no Município da Serra. A entrega dos prêmios será no dia 27 de Julho de 2012, a partir de 19 horas, na abertura solene do Nono Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores a ser realizado de 27 a 29 de Julho, na Escola de Teatro, Dança e Música FAFI (Faculdade de Filosofia) em Vitória, Espírito Santo.

TEMA PESCADORES – ÂMBITO NACIONAL

1º Lugar
Somos todos nessa vida
Pescadores de ilusão
Dedicando a nossa lida
Aos anzóis de uma paixão
Geraldo Trombin
Americana - SP

2º Lugar

Vivo de esperança e sonhos
Assim como os Pescadores
Que voltam do mar, tristonhos
Disfarçando os dissabores
Ademar Macedo

Natal – Rio Grande do Norte

3º Lugar


Quando os Pescadores poetas,
Nas águas vão se inspirar,
Jogam as redes inquietas
E puxam versos do mar
Roberto Tchepelentyky
São Paulo – SP

4º Lugar

Se as moquecas saem boas,
Vão para o “chef” os louvores.
- Nunca ouvi cantarem loas
Ao labor dos Pescadores...
Antônio Augusto de Assis
Maringá – Paraná

5º Lugar

- Pescadores, foi milagre!
E o fanfarrão se gabava:
Só a foto do meu bagre
Mais de dez quilos pesava
Hegel Pontes
Juiz de Fora – Minas Gerais

6º Lugar

Feito de tramas e dores,
Aprisionados na areia,
O cesto dos Pescadores
Por mais uma Pesca anseia
Joana D’Arc da Veiga
Nova Friburgo - Rio de Janeiro

7º Lugar

Foram pobres Pescadores
Por Jesus os escolhidos
Seus primeiros seguidores
E da “palavra” incumbidos
Ruth Farah Nacif Lutterback
Cantagalo – RJ

8º Lugar

Poetas são pescadores
De palavras e emoção:
- Fisgam assim seus amores
Com os versos da paixão.
Eliana Ruiz Jimenez
Balneário Camboriú – Santa Catarina

9º Lugar

Amargurando os amores,
Sob a luz da lua cheia,
O sonho dos Pescadores
É fisgar uma sereia
Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho
Juiz de Fora – MG

10º Lugar

Pescador inteligente
Só pesca com emoção...
São Pedro fica de frente
Quando puxa o arrastão!...
Neiva Fernandes
Campos dos Goytacazes – Rio de Janeiro

TEMA PESCADORES – ÂMBITO ESTADUAL

1º Lugar

Barcos n’água e com destreza
Pescadores levam fé
Trazendo sustento à mesa
Nesse vaivém da maré
Albércio Nunes
Serra, ES

2º Lugar

São Pedro leva no barco
A Fé junto aos Pescadores...
E neste barco que embarco
Afogando dissabores!
Valsema Rodrigues da Costa
Vila Velha – ES

3º Lugar

Eu ouço no mar um cântico
Suave e às vezes bravio
Os Pescadores do Atlântico
Enfrentam esse desafio
Maria do Rosário Silva Santos
Vitória – ES

4º Lugar

Iguais aos desbravadores
Dos sertões do meu Brasil
Vão, os heróis Pescadores
Enfrentar o mar hostil!
Nealdo Zaidan
Anchieta – Espírito Santo

5º Lugar

Caçadores, pescadores...
Quem inspira a nossa lira
Na mira dos Trovadores:
Contadores de mentira
Ednes Rangel
Vila Velha – ES

6º Lugar

Jesus que as dores acalma
Quer nos fazer Pescadores
Para pescarmos a alma
De todos os sofredores.
Maria Immaculada Teixeira Schirmer
Serra – ES

7º Lugar

Pesquem, pesquem Pescadores,
Com gosto e sabedoria,
Tendo em mente os promissores
Princípios de ecologia
Genilton Vaillant de Sá
Vitória – ES

8º Lugar

São jovens ou são senhores
Corajosos e com fé
Isso faz os Pescadores
Remarem contra a maré
Jorge Luis de Oliveira
Alegre – ES

9º Lugar

E sobre as ondas do mar
Navegando os Pescadores
Sempre rumo a encontrar
Do Divino seus valores
Márcia Couto Zanandréa
Vitória – ES

10º Lugar

Vitória dos Trovadores
De festa, cultura e fé.
É saudando os Pescadores:
Serenata em Itararé
Edilson Celestino Ferreira
Vitória – ES

Fonte:
Clério José Borges de Sant’Anna

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Zé Lucas, Ademar Macedo e Prof. Garcia (Um Debate em Setilha Agalopada) Parte 2

31 - Zé Lucas
Muito moço, me lembro, certo dia,
os ciganos estavam se arranchando;
o famoso Chatô, com o violão,
Marcelino, era o chefe, no comando,
e, num simples olhar e doce frase,
uma jovem cigana quase, quase
me puxava pra dentro do seu bando.

32 – Ademar
Meu poeta, eu também quase debando,
e só não debandei porque não pude;
eu não tinha talento para o circo
e isso fez eu tomar tal atitude;
esse amor que nem era de verdade
eu guardei pra lembrar e ter saudade,
dos amores da minha juventude.

33 - Prof. Garcia
Eu confesso não ter tido a virtude
de poder cultivar na flor da idade,
os amores ciganos tão sonhados
ao florir da mais tenra mocidade;
mas eu juro, que guardo por lembrança,
as paqueras do tempo de criança
num baú carregado de saudade.

34 - Zé Lucas
De trabalho foi minha mocidade:
conheci a pancada da marreta,
colhi safras de milho e de algodão,
cavei chão de alavanca e picareta,
mas a escola explorou a minha mente
e ensinou-me a ser mais independente,
no manejo do mouse e da caneta.

35 – Ademar
Escorado no topo da muleta,
eu me fiz um poeta e trovador;
meu passado de atleta e de boêmio
para mim, não foi nada alentador;
mas depois do meu trágico acidente,
encontrei na poesia e no repente
o remédio eficaz pra minha dor.

36 - Prof. Garcia
Sempre fui um eterno sonhador
dos encantos febris da meninice,
não consigo esquecer de minha infância
nem da força de tanta peraltice;
por capricho inda trago na memória,
bem guardado o registro desta história
que transformo em poemas na velhice.

37 - Zé Lucas
Eu daria três quartos da velhice
por um quinto da minha mocidade;
não que a vida atual não seja boa,
mas porque, nos meus vinte anos de idade,
tinha força e saúde como um touro
e hoje, desse belíssimo tesouro,
não disponho de um terço da metade!

38 – Ademar
Nos meus quase sessenta anos de idade
descobri com minha alma enternecida
que nos versos que eu fiz a vida inteira
encontrei na poesia uma guarida,
um sentido maior pra o meu amor,
o remédio eficaz pra minha dor
e um alento pra toda minha vida.

39 - Prof. Garcia
Eu queria vencer esta corrida
sem estresse e passando pelos flancos,
mas o tempo é carrasco e não perdoa
bate duro, me dando solavancos;
todo dia provoca o meu desgosto,
costurando outra ruga no meu rosto
e aumentando estes meus cabelos brancos.

40 - Zé Lucas
Muitas vezes, a trancos e barrancos,
as pessoas se perdem nos caminhos;
descuidadas da vida, se arrebentam
em abismos de pedras e de espinhos,
e além disso, sem fé a protegê-las,
perambulam em noites sem estrelas
e lamentam que os dias são mesquinhos!

41 – Ademar
Muletando eu irei pelos caminhos
cada dia mais lento... devagar,
carregando o meu fardo de doenças
e sabendo que Deus vai me curar...
nesta vida tão cheia de distâncias,
eu envolto nas minhas inconstâncias
não acerto os caminhos de voltar.

42 - Prof.Garcia
Mesmo assim todos temos que lutar,
porque Deus, sabe tudo quanto faz,
se ele fez este mundo tão bonito
a doença ele cura que é capaz;
Jesus Cristo nos deu trevas e luz,
também fez cada um com sua cruz,
mas a cruz que carrega pesa mais!

43 - Zé Lucas
Não existe no mundo dos mortais
um ser vivo que escape ao sofrimento;
cada um tem a carga que merece,
só não pode é ficar alguém isento;
esse é o preço que a sorte nos repassa,
porque a vida, que Deus nos dá de graça,
nunca fica de graça cem por cento.

44 – Ademar
Tive agora uma pane de momento
no lugar onde o verso nasce e cria;
o intelecto não foi prejudicado
nem sofreu qualquer tipo de avaria,
digo aqui a você que não se engane,
acabei de sofrer, com esta pane,
“Um derrame” de verso e de poesia.

45 - Prof. Garcia
Mas a mente do vate sempre cria
os mais lindos cenários naturais,
Deus tem dó dos poetas sofredores
para o verso abre todos os portais;
se você no passado criou tanto,
no presente voltou com mais encanto
num derrame de versos imortais.

46 - Zé Lucas
Ademar retornou um pouco mais
afinado pra o nosso desfio;
no repouso que teve, colheu chuva,
pôs mais água no leito do seu rio,
alargou mais os passos do confronto,
temperou mais o caldo e deu o ponto
para um verso gostoso e mais sadio.

47 – Ademar
Descobri neste nosso desafio
o que todo poeta já sabia:
que nos versos que José Lucas faz
tem métrica, tem rima e melodia;
e ao compor essa estrofe eu digo e penso
quanto mais versos leio, me convenço
que Zé Lucas é um mestre na poesia.

48 - Prof. Garcia
Este novo debate desafia
os limites de nossa cavalgada;
mas se a fonte do verso não se esgota
vamos juntos romper esta jornada,
porque nada no mundo é tão sublime
quanto a fonte de luz que nos redime
na ousadia de nossa caminhada.

49 - Zé Lucas
Deus estando conosco, não há nada
que nos faça esquecer o som da lira,
porque é quase impossível segurar
um poeta na hora que se inspira,
e se o verso perder o seu encanto,
o mais doce sorriso vira pranto
e a beleza do mundo se retira.

50 – Ademar
Quando a musa do céu vem e me inspira
pondo brilhos na minha inspiração,
eu desenho na mente uma paisagem
com pincéis vivos da imaginação;
e eu envolto na mais doce aquarela
vou encher de beleza a minha tela
retratando a paisagem do sertão.

51 - Prof. Garcia
Nunca vai nos faltar inspiração
porque nunca guardamos dissabores;
nossos versos se inspiram nas estrelas,
nos perfumes sutis que vem das flores,
e também são tirados das entranhas
das cavernas profundas das montanhas
protetoras dos vates trovadores.

52 - Zé Lucas
Eu me espelho nos nossos cantadores,
andarilhos de longa travessia,
cujo ofício é vender por toda parte
o produto de sua cantoria;
com a viola, fraterna companheira,
improvisam, cantando, a vida inteira,
sem desfalque no estoque de poesia.

53 – Ademar
Deus nos fez três arautos da poesia,
nos encheu de talento e inspirações;
nas entranhas da mente pôs os versos,
pôs a paz, pôs o amor nos corações
e nos fez uns eternos sonhadores,
fabricantes de versos e criadores
das mais puras e belas emoções.

54 - Prof. Garcia
Nossos versos provocam sensações
entre os ricos, plebeus e entre nós;
vem das auras sublimes das auroras,
da saudade que bate ao por dos sóis,
do sorriso feliz das madrugadas,
dos encantos das noites orvalhadas
ao romper dos mais lindos arrebóis.

55 - Zé Lucas
As estrelas são nítidos faróis
quando o céu anoitece mais bonito;
para nós, os poetas sonhadores,
a beleza da Lua é quase um mito
na distância da cósmica jornada
em que a voz de um trovão é quase nada
e o silêncio de Deus corta o infinito.

56 – Ademar
Deus pintou o cenário mais bonito
nos neurônios que tem na minha mente.
Com o brilho das luzes da poesia
me ensinou a fazer verso e repente;
me deu todas as dicas sobre a rima
e depois de fazer esta obra-prima
deu ao mundo um poeta de presente.

57 - Prof. Garcia
Tudo quanto na vida a gente sente,
vem da musa secreta dos arcanjos;
Deus é Pai, fez de tudo neste mundo,
fez a lira do vate, sem arranjos,
fez até entre os filhos pecadores,
a poesia dos vates trovadores
e a ternura do verso entre os seus anjos.

58 - Zé Lucas
Se os poetas cantassem como os anjos,
poderiam, no espaço de um segundo,
declamar para toda a humanidade
um poema de amor, belo e profundo,
pra livrá-la de lágrimas e tédio,
pois na essência dos versos há remédio
para todas as dores deste mundo.

59 – Ademar
Como prova de amor, maior do mundo,
Cristo morre por nós, os pecadores.
Vejo ainda no manto de Maria
os vestígios de suas próprias dores;
e, dotado de toda perfeição,
pra falar deste amor e do perdão
Deus criou os poetas trovadores.

60 - Prof. Garcia
Somos todos poetas sedutores
desta musa tão bela e tão divina,
que apesar de modesta e tão singela,
nunca foi, nem será tão pequenina;
porque somos eternos aprendizes
costurando as profundas cicatrizes
desta linda cultura nordestina.

Raquel Ordones (Função Proteica da Poesia)


Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 604)

Uma Trova de Ademar 

A distância nos redime
se a saudade nos escolta;
ir pra longe é tão sublime
como sublime é a volta!

–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional


É hiper minha saudade,
é super minha emoção;
tão grande é minha vontade,
que quase perco a razão!

–Antonio M. A. Sardenberg/RJ–

Uma Trova Potiguar


Quando a noite vem chegando,
das sombras tecendo tranças,
o meu ser vai se afogando
no mar das minhas lembranças.

–Gonzaga da Silva/RN–

Uma Trova Premiada

1987 - Resende/RJ
Tema - ABANDONO - M/E


Se vejo um roto menino,
desvalido, pela praça,
no abandono, sem destino,
estranha culpa me abraça.

–Josué Vargas Ferreira/SP–

...E Suas Trovas Ficaram


Os teus mistérios e os meus,
por incrível que pareça,
sem a intervenção de Deus
tornam-se quebra-cabeça.

–Analice Feitoza de Lima/SP–

 U m a      P o e s i a  


Sendo o caminho imperfeito,
Deus ameniza a jornada,
dando-nos feixes de rimas...
e os poetas, em parada,
vão traçando no caminho
uma faixa iluminada.

–Vanda Fagundes Queiróz/PR–

Soneto do Dia

A DOCE FASCINAÇÃO DA ESPERANÇA.
–José Tavares de Lima/MG–


Vejo-te em sonho. Pelo teu semblante
imagino-te um anjo compreensivo...
Não sei se perto estás, se estás distante,
sei que te quero e, por querer-te, vivo!

És o bem que eu desejo a cada instante;
és do meu amargor o lenitivo;
és o brilho da estrela radiante
que me faz ver o mundo mais festivo...

Como a fascinação que mais me enleva
pões clarão no negror de minha treva,
na minha tempestade pões bonança!...

És tudo para quem não tem mais nada;
és, enfim, a ventura entressonhada
que os inditosos chamam de esperança!