segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

D. João da Câmara (O Presépio)


Havia quase um ano que estava na loja, mercearia num bairro escuro, em que mal entrava de esguelha, como espreitando a medo, um raio de sol, entre as casarias muito altas da rua tortuosa.

Com doze anos, que saudades tinha da aldeia, da família, dos antigos companheiros de escola, dos cães amigos que ladravam de noite a vigiar a casa!

Tudo lá tão longe! Ah! Se ele soubesse!...

Pois nem uma lágrima lhe viera anuviar o último adeus, quando a diligência dera volta na estrada e ele vira sumirem-se os choupos da ribeira e o lenço que mão saudosa sacudia no alto da cabeça. É que o deslumbrava a ideia de Lisboa, de que tantas maravilhas grandes lhe contavam. Ainda agora partia, e já se via de volta na aldeia, de relógio e cadeia de ouro, a falar de alto, a puxar o bigode, a dar enchente, como o Januário, que lhe arranjara o lugar.

Com o seu examezinho de instrução primária, marçano* de uma tenda... Não, que os pais não o queriam para cavador. Tinham sido consultados o mestre-escola, o prior, o senhor Freitas, lavrador muito importante que arrastava tudo nas eleições, o Custódio, velhote de muito bom conselho, e todos se tinham mostrado de acordo: não havia como Lisboa para fazer um homem. Era ver o Januário que tinha casado com a viúva do patrão. A loja era de um cunhado dele, bom homem, áspero mas bom homem. Os olhos baixos do Manuelzito, fitos no chão, viam no tijolo resplandecer auréolas, que giravam como o fogo de vistas pelas festas.

Ah estava, havia quase um ano; e no desvão da escada, onde às dez horas o mandavam deitar, a morrer de calor no Verão, no Inverno a morrer de frio, punha-se a rever os campos e a casa deixados sem as lágrimas, que lhe corriam agora em grossos fios pelas faces.

Os primeiros dias tinham passado muito lentos. A conselho do Januário, um biscoito ou outro da mão papuda e oleosa do merceeiro tinham-no ajudado na tarefa. Assim é que ele havia de ser homem, um dia. Mas o patrão mostrava maior pressa. Pai, mãe e mestre-escola nunca lhe tinham batido. Atreveu-se uma vez a declará-lo. Foi pior. 

Chegou o Verão. As festas de São João e São Pedro aumentaram-lhe a tristeza. Reviu nesses dias mais intensamente a alegria da aldeia, os bailes à noite em volta da fogueira, a ida à fonte pela manhã, o sino a tocar à missa, e ele a pensar que, quando fosse crescido, havia de ter uma namorada por quem queimasse uma alcachofra, a quem cantasse umas quadras falando de estrelas e de flores.

A bulha nas ruas, nessas noites, não o deixara dormir. Cada bomba era uma pancada no coração. Um sol-e-dó que passou tocando arrancou-lhe lágrimas de imensa saudade.

Pelos Santos, com a melancolia do tempo, ainda foi pior. Depois veio o Inverno, começaram os dias de chuva. O mau tempo irritava o patrão, porque lhe afugentava fregueses. Na loja, com recantos muito negros, acendiam-se muito cedo os candeeiros, e o Manuelzito tinha pena da sombra em que se acolhia com maior amor. Pasmava os olhos, fugia com o pensamento para muito longe.

— Acorda, moleque! — gritava-lhe o patrão.

Estava a chegar o Natal. Que lindo era o Natal lá na aldeia! Andavam na rua a abrir um cano; quase ninguém ali passava; os passeios eram cheios de lama. O patrão andava furioso. Então o pequeno teve uma ideia.
* * *

Lembrou-se de fazer muito misteriosamente um presépio. O segredo em que havia de trabalhar mais o animava na tarefa. Todos os dias, muito a medo, enquanto o patrão almoçava ou saía da loja algum instante, vinha à porta, se não havia freguês a servir, espreitava, corria, apanhava um nadinha de barro nas escavações do cano. Escondia-o, e debaixo do balcão, quase às apalpadelas, ia fazendo as figurinhas. Assim modelou o menino Jesus, que deitou num berço de caixa de fósforos, Nossa Senhora de mãos postas, São José de grandes barbas, os três Reis Magos a cavalo, e os pastores, um a tocar gaita de foles, outro com um cordeirinho às costas, e uma mulher com uma bilha. Não se pareceriam lá muito; mas ele deu provas de que sabia puxar pela imaginação. Sempre lhe faltava alguma coisa. Havia problemas difíceis de resolver. 

Um dia, engraxando as botas do patrão, lembrou-se de engraxar um dos reis, e pôs-lhe depois umas bolinhas brancas, de papel a fingir os olhos. Aos anjos fez asas com as penas de uma galinha que depenou para um jantar de festa que não comeu. Moeu vidro para fingir as águas do rio, e no papel de embrulho recortou um moinho que só havia de armar à última hora. Levou nisso parte de Novembro e Dezembro todo, até ao Natal. Escondia os materiais debaixo da enxerga e, de vez em quando, revia-se na obra.

O que mais o encantava era o menino Jesus, com a cabeça do tamanho de um grão de milho, com buraquinhos a fingirem olhos, ouvidos, nariz e boca. Tinha mãos com cinco dedos riscados a canivete e dois pezinhos que ele achava um encanto. Com tiras de papel azul havia de fazer o céu e, como o não tinha dourado onde recortasse a estrela, fez em papel branco uma meia Lua; vinha quase a dar na mesma

Aquele mês passou correndo.

Era a véspera do Natal. As dez e meia, o patrão mandou-o deitar e saiu. Que alegria estar só! Não lhe deixavam luz; mas que importava? Às escuras armaria o presépio. E logo começou. Enrolou o moinho, pôs-lhe as velas; esticou o papel azul que fingia o céu e pregou nele com um alfinete a meia Lua; espalhou o vidro moído, num S em volta das palhas; dispôs as figurinhas, suspendeu os anjos. Depois fez uma carreira de fósforos de cera, que todos se tinham de acender ao mesmo tempo, num deslumbramento, quando desse meia noite.

Deram onze e três quartos. Ajoelhou. Batia-lhe o coração, que lhe parecia que deviam de ser milagrosas as figurinhas, que delas lhe viria algum bem, consolação da sua vida triste. Que seria quando ele iluminasse o desvão da escada e os santinhos se pusessem todos a luzir quase tanto como os verdadeiros? Rezava-lhes... Rezava-lhes... Àquela hora, lá na aldeia, tocavam os sinos alegres e iam ranchos contentes a caminho da igreja. Lá dentro reluzia o trono, e o sacristão muito atarefado ia, vinha...

Meia noite!

Acendeu os fósforos e ficou embasbacado! Nunca assim vira coisa tão perfeita. Os anjos voavam deveras, os cavalos dos reis galopavam, o rio corria, as velas giravam no moinho e os pontinhos do Menino Jesus sorriam-lhe no rosto a São José e a Nossa Senhora!

Pôs-se a cantar, como lá na aldeia:

Andava nessas campinas,
Esta noite, um querubim.

Tão enlevado cantava, que nem ouviu o patrão abrir a porta, entrar na loja, chegar ao desvão. Acordou-o do êxtase um pontapé.

— Isso... Agora larga-me fogo à escada!... Varre-me já esse lixo!

E ele, a chorar, levantou-se, foi buscar a vassoura.

O bruto continuava aos pontapés.

— Vá?... Vá!

Mas quando se deitou, encontrou na enxerga uma figurinha. Apalpou-a, conheceu-a logo: era a do Menino Jesus. Beijou-a muito. Pior vida levara do que ele... Sentiu de repente um dó muito grande do patrão, que não vira nada, nem que era tão bonito aquele Menino, com um olhar tão meigo nos seus olhinhos picados.
____________________
Nota:
* Marçano: aprendiz de caixeiro, esp. de loja de gêneros alimentícios; 
por extensão: novato em qualquer ocupação; principiante.

Fonte:
Vários Autores. Contos de Natal Portugueses

Caldeirão Poético XVIII



ELOGIOS
                                
Teus olhos têm momentos desiguais;
sua luz ora é plácida, ora é ardente,
é o suave fluir da água corrente
ou o relampejar de dois punhais.

Estranhos pirilampos de savanas
brilhando nos meus céus tão desolados,
são dois negros diamantes resguardados
por tuas magníficas pestanas.

Únicos olhos que hão por mim chorado,
únicos olhos que hão interpretado
toda a minha alma lutadora e forte;

quero que sejam, com sua luz querida,
os únicos a rir em minha vida,
os únicos que chorem minha morte.

(Tradução de Othon Costa)



A PROMESSA 

... E todo o ouro do mundo parecia
diluído na tarde luminosa.
Apenas um crepúsculo de rosa
a alta copa das árvores tingia.

Súbito amor, a minha mão unia
à tua mão morena, carinhosa...
Éramos Booz e Ruth ante a formosa
terra que aos nossos olhos se estendia.

- Me amarás? perguntaste. Lenta e grave
veio-me aos lábios a promessa suave
da amante moabita, tão querida;

e foi como um “Amém!”  que neste instante
se ouviu, num toque de oração, vibrante
bater o sino da pequena ermida!

(Tradução de J. G. de Araujo Jorge)


EXPLOSÃO

Se a vida é amor, bendita seja então!
Quero mais vida, se esse amor aumento;
que não valem mil anos de razão
um só minuto azul de sentimento.

Meu coração morria triste e lento
e hoje é uma flor de luz em combustão!
A vida canta como um mar violento
quando a mão de um amor a agita em vão!

Esfuma-se na noite triste, fria,
de asas rotas - minha melancolia;
como a indelével mancha de uma dor

que na sombra distante já perdi...
A vida toda canta, beija, ri,
numa explosão como uma boca em flor!

(Tradução de J. G. de Araujo Jorge)


SÚPLICA 

Sê franca uma só vez! Desfaz o engano
se teus olhos me dizem que tu mentes,
- se nunca amor sentiste, e se o não sentes
por que juntar a farsa ao desengano?

Tratas-me como estranho... É desumano!
Por piedade, confessa! Não aumentes
com promessas que querem ser ardentes
este sonho que a mim só causa dano.

Se pudesses saber quanto te quero!
Fugir, mil vezes tento e não consigo,
meu querer faz-se pranto, e eu desespero...

Maldigo a sorte então, e um tal encanto,
pois me tens a teus pés... E te maldigo
e até te odeio. . . mesmo a amar-te tanto!

(Tradução de J. G. de Araujo Jorge)

Fonte:
J G de Araujo Jorge. Os Mais Belos Sonetos Que O Amor Inspirou. 
vol. III (Poesia Universal - Européia e Americana), 1966.

Franz Kafka (O Vizinho)


Meu negócio descansa inteiramente sobre os meus ombros. Duas senhoritas com suas máquinas de escrever e seus livros comerciais no primeiro quarto, e uma escrivaninha, caixa, mesa de informações, cadeiras de braços e telefone no meu, constituem todo meu aparelhamento de trabalho. É muito fácil controlar isso com uma vista de olhos, e dirigi-lo. Sou muito jovem e os negócios se acumulam aos meus pés. Não me queixo, não me queixo. 

Desde o Ano Novo, um jovem alugou sem hesitar a sala contígua, pequena e desocupada, que por tanto tempo titubeei, estupidamente, em tomar para mim. Trata-se de um quarto com antecâmara e, além do mais, uma cozinha. Tivesse podido utilizar o quarto e a antecâmara - minhas duas empregadas sentiram-se mais uma vez sobrecarregadas em suas tarefas -, mas, para que me teria servido a cozinha? Esta pequena hesitação foi a causa de permitir que me tirassem a sala. Nela está instalado, pois, esse jovem. Chama-se Harras. Com exatidão não sei o que faz ali. Sobre a porta lê-se: "Harras, escritório". Pedi informações, comunicaram-me que se trataria de um negócio idêntico ao meu. Na realidade, não vem ao caso dificultar-lhe a concessão de crédito, pois se trata de um homem jovem e de aspirações, cujas atividades tenham talvez futuro, mas não se poderia, contudo, aconselhar que se lhe outorgue crédito, pois atualmente, segundo todas as presunções, careceria de fundos. Quer dizer, a informação que se dá habitualmente quando não se sabe de nada. 

Às vezes encontro Harras na escada, deve ter sempre uma pressa extraordinária, pois se escapule diante de mim. Nem mesmo pude vê-lo bem ainda, e já tem pronta na mão a chave do escritório. Num instante abre a porta, e antes que o observe bem já deslizou para dentro como a cauda de uma rata e aí tenho outra vez à minha frente o cartaz "Harras, escritório", que li muitas mais vezes do que o merece. 

A miserável finura das paredes, que denunciam o homem eternamente ativo, ocultam porém o desonesto. O telefone está suspenso à parede que me separa do quarto de meu vizinho. 

Não obstante, destaco-o apenas como constatação particularmente irônica. Mesmo quando pendesse da parede oposta, ouvir-se-ia tudo da sala vizinha. Evitei o meu costume de pronunciar ao telefone o nome de meus clientes. Mas não é necessária muita astúcia para adivinhar os nomes através de característicos mas inevitáveis torneiros da conversação. Às vezes, aguilhoado pela inquietação, sapateio nas pontas dos pés em volta do aparelho, com o receptor no ouvido, mas não posso impedir que se revelem segredos.

Naturalmente, as resoluções de caráter comercial se tornam assim inseguras e minhas voz, trêmula. Que faz Harras enquanto telefono? Se quisesse exagerar muito - o que é preciso fazer com frequência para ver claro -, poderia dizer: Harras não precisa telefone, usa o meu, colocou o sofá contra a parede e escuta; eu, em troca, quando o telefone toca, devo ir atender, tomar nota dos desejos do cliente, adotar resoluções graves, sustentar conversações de grandes proporções, porém, antes de tudo, proporcionar a Harras informações involuntárias, através da parede. 

Ou antes, nem mesmo espera o fim da conversação, porém que se ergue depois da passagem que lhe informa suficientemente sobre o caso, atira-se, segundo o seu costume, através da cidade e, antes de eu ter pendurado o receptor, está talvez trabalhando já contra mim.

Fonte:
Franz Kafka. Contos.

domingo, 9 de dezembro de 2018

Olivaldo Júnior (Trovas para o Dia Universal do Palhaço)

10 de dezembro: Dia Universal do Palhaço


1
Ponho a bola no nariz
e pareço outra pessoa:
sou palhaço, sou feliz,
levo a vida "numa boa"!...
2
Lá na lona improvisada,
entre tantos dissabores,
o palhaço e a garotada
da alegria são doutores.
3
Cada riso que eu coloco
no meu rosto semimudo
'vira' o riso que provoco
no seu rosto carrancudo.
4
Das estrelas decadentes,
o palhaço vence a "treva"
e ressurge dos ausentes:
alva estrela que se eleva!
5
Não sou Bozo, nem sou clown,
mas, em plena noite escura
- toda vez que eu fico "down" -,
me transformo com ternura…

Fonte:
O Trovador

Carlos Drummond de Andrade (Caso de Arroz)



E assim aquela eficiente dona de casa do Leblon resolveu o problema do arroz, do feijão, da carne e de outras preciosidades da nossa era: mudando de mercearia.

- Não! - exclamou a amiga. - Não vá me dizer que Nossa Senhora Aparecida desceu por aqui e montou um supermercado. Milagre não vale!

Pois não era milagre, quem falou nisso? Era apenas a federação, que divide (e reúne) o Brasil em nações autônomas, com seus recursos econômicos e seu comércio próprios. Os novos fornecedores de dona Araci ficam ali no estado do Rio. Não é precisamente no bairro em que ela mora, mas o casal comprou um carrinho paulista, e o marido de dona Araci é um amor: concordou em ir de lotação para o escritório. Ela pegou os dois garotos, botou-os no carro e tocou para o País da Fartura, Caxias chamado:

- Vocês dão um passeio e me ajudam a carregar os sacos.

O merceeiro de Caxias vendeu a dona Araci umas duas arrobas de magnificente arroz, mas ponderou-lhe, com o saber de experiências feito:

- Madame não passa na barreira com esse sortimento. O máximo permitido são cinco quilos.

- Não seja por isso. Trouxe fronhas em quantidade, e vou transformar meus feijões e meu arroz em travesseiros para os meninos repousarem a cabeça - retrucou-lhe a precavida senhora.

Assim foi feito, e, de novo com o pé na tábua, a família voltou muito feliz para o País do Está-em-Falta, conhecido também por Guanabara.

Junto à barreira, a fila de caminhões e automóveis era longa, e os guardas procediam a uma investigação cabal. A Alfândega de Nova York não seria mais rigorosa, ao farejar entorpecentes ou engenhos nucleares. Alguns veículos retrocediam, e de outros os motoristas retiravam pacotes condenados, que eram entregues à lei, na pessoa de seus agentes implacáveis.

- Qual, não atravesso esse muro de Berlim - suspirou dona Araci, desanimada. - Eles fazem até radiografia da gente.

Nisso apareceu um cortejo fúnebre, que os guardas deixaram passar sem formalidades, dando-lhe preferência, e dona Araci não teve dúvida: incorporou-se a ele, recomendando aos garotos:

- Vocês aí: façam cara triste!

E lá se foi o enterro, enorme. Que defunto seria aquele, tão estimado, a julgar pelo número de acompanhantes, pelas fisionomias compungidas? Eis que aparece o cemitério, na curva da estrada, e de súbito o imenso acompanhamento deixa o carro mortuário quase sozinho, com um ou dois carros na retaguarda, e toca para o Rio. Os motoristas interpelam-se aos gritos:

- Quantos quilos você trouxe?

- E você?

- E você?

Dona Araci não chegou a apurar quem era o morto a que prestara aquela homenagem de emergência. Os outros também não sabiam. E daí, o caixão talvez não contivesse nenhum defunto, quem sabe?

Fonte:
Carlos Drummond de Andrade. 70 Historinhas. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

Elciana Goedert (Poemas Escolhidos)


BARREIRAS?

Barreiras a vencer,
Ou medos a enfrentar? 
A quem quer convencer? 
Não queira se enganar... 

Se a vontade for real
Encontra-se uma maneira
Mas se a intenção for virtual, 
Persistirá a "cegueira”

CATARSE

É preciso percepção 
É finda uma fase
Mas nada foi em vão... 

Minha última frase:
"Por que te amo tanto"? 
E interrompi a metástase... 

Não me olhe com espanto
A missão foi cumprida
Cada um pro seu canto... 

Inicio uma nova vida
Sem tê-lo do meu lado
Oculto a minha ferida... 

Pronto! Está extirpado…

CONFIANTE

De olhos fechados
e mente aberta, 
mergulho... 
arrisco.... 
dou uma incerta. 
Ouço um barulho... 
Fico alerta. 
Venço o orgulho... 
Espanto o medo... 
Se preciso, espero... 
Dispenso a regra. 
Não sou deste aprisco... 
Ovelha negra, 
sei o que quero.

CONVITE

Toque-me
Sem receios
Entregue-se
Sem titubeios
Liberte-se
Das incertezas
Que te atormentam
Das dores
Que te acompanham
Venha comigo
Confie... 
Te darei abrigo
Aconchego 
Quebro o protocolo
Te dou meu colo
E cedo-te espaço
Em minha vida
E no meu coração.

DESILUDIDA

Ela queria um poeta 
Alma sensível como a sua 
Que enxergasse as mesmas cores
Ainda que em outros tons
Teve a poesia, a alegria...
O amor tocou seu coração. 
Mas como nem tudo são flores 
Com elas vieram dissabores
O amargor da desconfiança 
A sombra da inverdade 
E ela... optou pela solidão.

ENTÃO É NATAL…

São momentos de magia
Tempo de confraternização
Demonstrações de alegria
Dias de paz, amor e união 

Se reclamam de consumismo
Nem me atento, foco na festa
Sou da turma do otimismo
Só o lado bom se manifesta

Pra demonstrar o que se sente
Basta a presença e um abraço 
Dispensa-se aquele presente
Enfeitado com grande laço 

Mas pra ver o riso do menino
Enfeito a árvore com carinho
Abaixo dela, Jesus pequenino
Dorme em paz no seu "bercinho"

Quando vem a "noite feliz" 
Saborear a ceia, que delícia! 
A sobremesa merece bis
Cada presente, uma carícia 

E assim a noite termina
Prometendo continuação 
Esse espírito contamina
É Natal em nosso coração.

LIBERTAÇÃO

Metamorfoses...

Emoções 
Sentimentos 
Sensações

Não mais lamentos
Não mais rotina
Reais envolvimentos 
Injeção de adrenalina

Transmutação! 
De ruína a monumento
De teorias à ação 
De ingrediente a alimento

Eis o resultado! 
Chega de ilusão 
Chega de futilidades
Organiza teu coração 
E realiza tuas vontades.

NA ESTAÇÃO

Decida... 
Qual bagagem quer levar? 
A que está arrumada à sua frente, 
Ou aquela que ficou pra trás 
Espalhada pelo caminho? 

Pense bem... 
Perceba qual não pesa
E a que dificulta seus passos. 

Só não se distraia com a dúvida, 
Com os vendedores de ilusões... 
Ou perderá a viagem. 

SILÊNCIO

Essa alma anda calada... 
Dizem que foi a decepção: 
Roubou-lhe toda inspiração. 
Ou está apenas cansada... 
A vida anda uma confusão! 
Em breve, talvez, exprima
Medos, sonhos, desilusão 
Amores, humores ou... nada. 
Essa alma perdeu a rima... 
Essa alma precisa ser amada.

TEIMOSIA

Droga de coração!!! 
Não aprende nunca... 
Mal sai d'uma fria
Entra numa gelada... 
Bem te avisou a razão
"Sai fora, que é cilada!"
Pode ser covardia, 
Mas... melhor dar fim
Seguir outra estrada...

Elciana Goedert (Cadeira n. 20 da AVIPAF)

Patronesse: Florbela Espanca


Elciana Goedert (Ciça) nasceu em Ivaiporã/PR, mas radicou-se em Curitiba em 1996.

Graduada em Biologia, pela UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa), com especialização em Tecnologias Educacionais, exerce a profissão de professora. 

Participa de diversos movimentos literários curitibanos, como o Coletivo Marianas; CuTUCando a Inspiração, grupo Escritibas na Rua e Sarau Popular (evento organizado pela Fundação Cultural de Curitiba).

Tem 3 livros publicados: 
Eu e a Poesia (2014), uma coletânea de momentos que marcaram uma fase de profunda transformação na vida pessoal da escritora. São poesias que expressam a alegria, o romantismo, as reflexões entre tantas emoções que são compartilhadas por seus leitores.

Sob a Ótica de Eros (2016) e 

Nutrisia (2017) 

Participação em diversas antologias nacionais: Concurso Nacional Novos poetas - Prêmio Sarau Brasil; I Antologia da Confraria da Poesia Informal ; II Antologia da Confraria da Poesia Informal; Poesias Escolhidas Vol. II: O Melhor de Mim;- Mulheres Sem Censura; Folhetim dos Poetas Malditos (2015); Conexão: Feira do Poeta (2015, 2016 e 2017), Parnaso Poético (2017 e 2018), entre outras.

Seu poema "Ofício: Poeta", recebeu Menção Honrosa em Buenos Aires, Argentina.

Recebeu Medalha Mérito Cultural outorgada pelo Projeto Poetizar o Mundo.

Fontes:

Contos e Lendas do Mundo (A Minhoca e o João de Barro )


Ao pé de uma frondosa paineira vivia uma minhoquinha chamada Milena. Ali vivia com a família desde que nascera. Sua infância foi muito feliz. Sempre a brincar com os irmãozinhos, parentes e demais crianças da redondeza. Tomava parte nas cantigas de roda, jogos de Amarelinha, para os quais ela não tinha lá muito jeito, mas sempre se alegrava nesses folguedos. Sim, porque a sua turma era tão unida que até chegou a criar um teatrinho para se divertir e melhor e mais depressa passar o tempo. No teatro ela fazia o papel de uma cobrinha que dançava muito bem, numa coreografia em círculos, muito aplaudida por aquele auditório ao ar livre. 

Milena, como a maioria das crianças de sua idade, vivia sempre transbordando felicidade porque vivia intensamente o presente sem se preocupar com o futuro. Era aplicada nos estudos . Seus professores eram os seus próprios pais, pois ninguém melhor do que o minhoco Mimi e mamãe minhoca Tetê para ensinar-lhe a profissão familiar e prepará-la para o convívio na sociedade. À medida que foi crescendo, no entanto, nossa amiguinha passou por uma transformação. Já não era mais aquela menina alegre, sorridente e saltitante de alguns anos atrás. A bem da verdade, se ela não fosse minhoca, poderíamos dizer que Milena estava colocando minhocas na cabeça. Sabem o que aconteceu com Milena? O mesmo que acontece, infelizmente com frequência, a um grande número de seres humanos: começou a comparar-se aos outros. 

Ora, isto não pode acontecer para ninguém, porque não existe atitude mais prejudicial do que julgar as coisas, pessoas e situações pelas aparências. Principalmente quando ao assim fazer começamos a perder o nosso senso do valor próprio, que é único. Assim procedendo ficamos com a auto-estima em baixa, que a Psicologia define como complexo de inferioridade. O desabafo de Milena à medida que o tempo passava, aqueles seus companheiros de infância, assim como ela, cresceram e constituíram famílias. 

O Sapo Jorjão nunca deixava de convidá-la para as festas de aniversário ou casamento de seus filhos. Nas Festas Juninas até aparecia o vagalume e familiares para dar um colorido luminoso aos bailes. Não só aos forrós de Jorjão, mas do Tatu Alcides, da Tartaruga Silvana ou de quem os convidasse. Os filhos de Jorjão, enquanto ele batucava, davam seus espetáculos de nado livre e eram hábeis também em terra-firme, em saltos à distância e outros números. Afinal, festejos não faltavam na Fazenda Brilhante. Esse era o nome daquele lugar que podia ser comparado a um paraíso. Mas a pobre minhoquinha começou a se sentir em nível inferior aos demais animais, pequenos e grandes com os quais convivia. 

Assim foi que, certo dia, Milena se surpreendeu falando sozinha, em voz alta, sobre o seu desconforto pessoal em não passar de uma simples minhoca. 

– Não sei saltar como o Sapo Jorjão, onde todos os de sua família são lépidos e ágeis, tanto na água como no seco. Não tenho asas como o compadre João de Barro e sua esposa Joana. Muito menos a habilidade que o consagra como o pedreiro da floresta, ou arquiteto silvestre. Não sei gorjear como o canário, nem tenho penas bonitas como o beija-flor, tão elogiado pelos poetas. O macaco, então, não precisa nem abrir a boca e todos caem na risada com suas micagens. E o papagaio com suas piadas, muitas delas até sem graça nenhuma, faz com que mesmo os animais mais sérios como o Leão, e os próprios homens deem lá suas gargalhadas. É tão carismático que, assim como os cães e os gatos, até virou animal de estimação de Dona Lúcia, dona da fazenda. E eu? Moro num buraco. Na verdade, eu trabalho em casa, porque abro brechas no solo onde resido e… 

Neste momento, o papagaio que ouvia essas lamúrias da minhoca Milena, agora mãe de família, não perdeu a deixa: 

– Escuta aqui sua chorona, pare com essa conversa mole como você, antes que o Seu Paulo Sérgio resolva espetar seu corpinho num anzol, fazer dele uma isca e você ir parar na boca de uma traíra. Eu, hein? 

Minhoca Milena sentiu arrepios por todo o corpo. As palavras do Louro Manoel atingiram-na em cheio. Afinal, quer ela admitisse ou não, o papagaio estava dizendo a pura verdade. Então a minhoca acabou por dizer-lhe: 

– Eh, Louro Manoel, você sempre brincalhão! Mas agora está parecendo uma ave de mau agouro. 

– Calma, Milena, quem está se diminuindo é você mesma. Além disso, com esse seu desprezo por si mesma e esse pessimismo, sabe o que vai lhe acontecer? 

– Manoel, eu estou sendo realista – respondeu Milena. Ou você quer que eu me compare ao meu compadre João de Barro? Um dia poderei ousar construir uma casa como a dele? Lá em cima, perto do céu, com ar fresco e o perfume das flores exalando do bosque? 

– Ah, sua boba – replicou o Papagaio Manoel – eu acho que os cientistas quando usam a palavra meio ambiente, talvez seja para que ninguém bata no peito e diga que é o ambiente inteiro. Todos dependemos uns dos outros. É a Associação Biológica, da qual nem o homem, esse presunçoso, pode esquecer e ir fazendo o que bem entender. 

– Ué! Olha só quem está falando! - disse Milena em tom irônico - Outro dia você entrou na sua casinha, ficou lá e se escondeu do Gavião Penacho, sem dar um pio. 

– E daí? Acha que eu iria contar uma piada de gavião pra ele. O que você queria que eu fizesse? 

– Seja sincero, Manoel, acho que se dependesse de você os gaviões não existiriam, ou pelo menos, teriam um outro comportamento, senão esse de aterrorizar todas as aves, a começar dos galos que, quando ele grita lá em cima, eles calam a boca aqui embaixo. Até deixam o Seu Paulo Sérgio e Dona Lúcia perderem a hora de se levantar, com medo de anunciar a alvorada. 

Responde o Papagaio, virando as asas em volta, sem esconder sua sábia ironia: 

– Currupaco, você está dizendo bobagem, minhoca Milena. Há uma grande utilidade nessas ameaças do Penacho: – foi assim que aprendi a rezar. Cruz Credo!!! Além disso, dou um descanso para as minhas cordas vocais e para a minha língua e garganta. Até tiro um cochilo enquanto aquele paspalho faz aquele alvoroço como se o céu estivesse desabando. 

O João de Barro, lá de sua casinha no alto da paineira, ouviu o desabafo da minhonquinha e ficou muito penalizado. Até comentou com sua esposa: 

– Joana, nós precisamos fazer algo pela Milena. 

– Você tem razão, João. Embora Milena não tenha motivos reais para reclamar da vida, encontra-se muito infeliz porque perdeu um dos bens mais preciosos de qualquer criatura na face da terra. Ela não tem mais estima por si mesma. Sua auto-estima está a zero por conta da sua forma errada de avaliar a si mesma e ao seu próprio trabalho. 

– Sim, Joana, respondeu o pássaro marido. Que tal se a convidássemos para passar uma tarde conosco e a gente bater um bico com ela? 

– Combinado, João. Se você quiser, dou um voo até lá embaixo e faço o convite. 

Assim falou e assim fez, descendo com leveza o seu corpo em movimentos graciosos até o espaço onde vivia a Minhoquinha. E gritou pelas imediações: 

– Ô de casa ! Ô de casa! 

Uma voz bem aguda, de tom mole e preguiçoso, respondeu não escondendo uma leve ponta de irritação. 

– Que casa, comadre Joana ?! Eu não tenho casa coisa nenhuma. Vivo com a minha família ao rés da terra ! A senhora e seu marido, sim, têm uma mansão lá na paineira que vale a pena. Eu hein ? Pobre de mim ! 

– Falando em casa – disse Joana Passarinho para Milena Minhoca, vim fazer-lhe um convite para ir conhecer nossa moradia. 

– Outra piada da comadre!… Como posso, na condição de simples operária da terra, custear uma viagem aérea para chegar lá em cima da paineira? 

– Ora, Milena – disse a passarinha Joana protestando calmamente – basta você grudar em minhas asas que a levarei em menos de um minuto para nossa casa. E prometo trazê-la sã e salva no momento que você desejar. 

– É…comadre. Eu sempre tive a curiosidade de conhecer a casa de vocês. O que a senhora diz me parece um sonho… 

– Parecia um sonho, mas vamos subir então, comadre Milena. Você vai comprovar, nesta oportunidade, que tudo aquilo que a gente acredita que vai acontecer em nossa vida, sempre acaba se sucedendo. E o que é melhor: há vezes em que a felicidade que nos chega supera aquela felicidade que a gente imaginou… 

– Nossa! Mas como a comadre é otimista! Até criei coragem de fazer esse meu primeiro voo para o céu a bordo de suas asas. 

Milena a custo elevou-se sobre um cupinzeiro para facilitar sua subida nas asas da solícita passarinha. Zás! Num segundo Joana decolou rumo ao céu com a minhoca às costas empenadas. Milena ficou extasiada ao ver a paisagem lá de cima. Bem que ela tinha razão ao pensar que os João de Barro dispunham de uma visão privilegiada por disporem de asas para voar e uma casa tão no alto, acima da mina, do pasto crivado de arvoredo e animais. Em questão de segundos a passarinha Joana alcançou a paineira, dando um grito para que o marido João de Barro viesse receber Milena com todas as honras. Milena desceu sobre o galho, num movimento meio desajeitado e um pouco acanhada diante da (para ela) enorme casa do anfitrião que ali se postava à sua espera. 

– João! gritou Joana. Venha ver quem está aqui! 

– Eu sei quem está aí! E fico muito feliz em receber nossa comadre Milena. Hoje está um dia propício para ela ouvir também o que diz aquele ecologista… 

– Ah! – atalhou Joana – é mesmo, comadre Milena! Mora aqui por perto um senhor, o Seu Geraldo Machado, que senta aqui embaixo da paineira todas as tardes para conversar com a netinha sobre as maravilhas da Natureza. 

– Chi, comadre! Tenho certeza que ele vai falar sobre o mico leão dourado, que até virou ilustração de cédulas de dinheiro, e com essa história de estar em extinção só dá ele nos assuntos desses tais ecologistas. 

– Ó, comadre Milena. Deixe de lado esse pessimismo, levante a sua cabeça e acredite mais em si mesma. Você é tão importante quanto qualquer outro animal, seja doméstico ou selvagem. 

– Tem razão, comadre Joana. Eu sou uma privilegiada por merecer a sua amizade e confesso que estou muito feliz em estar aqui…nas alturas. 

– Mas vamos entrar, disse João de Barro. Venha conhecer a nossa casa. Além disso, daqui dá para ouvir as lições do Seu Geraldo Machado. Ele tem um bom timbre de voz. 

Nesse momento os três ouviram o ponteio de uma viola, que de repente silenciou para dar lugar ao leve ruído de passos sobre a relva, lá embaixo, nas proximidades da mina d’água. Era o velho ecologista, cabeça branca, mas ainda forte e ágil, em seus oitenta e tantos anos de idade. Descansou a viola sobre o mourão da porteira e iniciou sua lição de ecologia para a netinha Bianca. A menina era toda olhos e ouvidos, e ansiava por ouvir as sábias lições de vovô Geraldo. Adivinhem só qual foi o tema do ecologista? 

A FUNÇÃO DA MINHOCA NA NATUREZA – O diálogo teve início com uma pergunta de Bianca ao ancião: 

– Vovô, por acaso a minhoca é parente da cobra? 

– Não, minha querida netinha. Não tem nada a ver. As cobras são répteis. As minhocas são vermes – ensinou o velho. 

– Então quando se diz que alguém que está com verme, poderia ser dito que está com minhoca na barriga? – atalhou Bianca. 

– De modo algum, Bianca. É outra espécie de verme. As minhocas são anelídeos. Não habitam o organismo humano como os vermes parasitas do intestino. Elas são operárias do solo. Sua utilidade é muito grande e hoje é bem conhecida pelos cientistas. 

De lá de cima da casa do casal de pássaros, Minhoca Milena aguçou ainda mais a atenção, torcendo para que o Sr.Machado continuasse a falar sobre a sua importância na vida terrestre. Assim, continuou o naturalista a sua aula ao ar livre: 

– O nome anelídeo é porque o corpo da minhoca é formado de anéis. Graças a ela a terra se fertiliza e hidrata, isto é, ela vai fazendo furos no solo e isto permite que a água da superfície penetre nas camadas de terra mais abaixo. Não sei o que seria da vida na Terra se não fossem as minhocas com sua ação silenciosa e sem aplausos, mas indispensáveis à Natureza – concluiu o Sr.Machado. 

– Vovô,é verdade que na Califórnia há até criação de minhocas? 

– Sim, Bianca. Há fazendeiros que recebem muito dinheiro com seus minhocários e até exportam para outros países. 

– Olha, Vovô, o mais interessante é que elas trabalham em silêncio, sem barulho e, pelo que o senhor diz, são muito úteis. 

– Sim, Bianca. São úteis para a lavoura, porque permitem a melhoria das colheitas e ajudam a respiração do solo. São, sim, muito modestas, como sempre são humildes aquelas criaturas que verdadeiramente trabalham em favor dos outros. 

– Sem as minhocas seria difícil viver, Vô? – perguntou Bianca com os olhinhos arregalados. 

– Seria impraticável viver sem elas. Nem mesmo o João de Barro teria feito aquela casinha tão bonita se não fosse o trabalho das minhocas em favor do solo. 

Milena sorriu. Olhou para as paredes da casa e sentiu saudades de seu próprio ninho. Agora, consciente de seu valor próprio, com a auto-estima recuperada, pediu encarecidamente aos donos da casa: 

– Aqui está muito bom, comadre Joana e compadre João. Mas preciso ir. Estou com saudades de casa e o trabalho me espera. 

Minhoca Milena voltou para as suas atividades com alma renovada e passou a produzir muito mais, agora na alegria de sentir-se útil na sua vida e no seu trabalho.

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