quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Gislaine Canales (Glosas Diversas) 12


JÁ NEM SEI…
Glosando Benedito Camargo Madeira

MOTE:
Viver assim… te adorando..
já nem sei o que fazer…
- Se é melhor viver te amando;
ou te deixar e… sofrer!


GLOSA:
Viver assim… te adorando..
é sempre tudo que eu quis,
é gostoso estar gostando,
pois te amando, sou feliz!

Mas quando aperta a saudade,
já nem sei o que fazer...
se sou feliz de verdade,
ou se te amar, faz sofrer!

Fico, então, me questionando,
responde, meu coração:
- Se é melhor viver te amando,
ou viver sem emoção?

Não sei se sigo a sonhar,
não sei que devo fazer,
se continuar a te amar,
ou te deixar e… sofrer!
______________

VERSOS DE AMOR
Glosando Cidoca da Silva Velho

MOTE:

Quando de mim te aproximas
com semblante sonhador,
minha alma flutua em rimas,
compondo versos de amor!


GLOSA:
Quando de mim te aproximas,
dispara o meu coração
e, vejo em tudo, obras primas
no meu mundo de emoção!

É lindo quando apareces
com semblante sonhador,
teus olhos me lembram preces,
preces de sonho e de cor!

Com teu jeitinho, me mimas,
trazes contigo a alegria!
Minha alma flutua em rimas,
num mar de pura poesia!

Tornas feliz meu viver,
por não conhecer a dor,
eu passo a vida a escrever,
compondo versos de amor!
__________________

ENCONTRO
Glosando Clênio Borges

MOTE:

Num encontro repentino,
sem promessa, nem espera,
tu foste o meu desatino
e nosso amor foi quimera…


GLOSA:
Num encontro repentino,
nós ficamos frente à frente;
nem sei bem como defino
esse encontro diferente!

Foi um encontro bonito,
sem promessa, nem espera,
em momentos de infinito
que lembrar, sempre, eu quisera.

Ouvi sons de violino,
enlouqueci de paixão,
tu foste o meu desatino
e a minha desilusão!

Foi assim o nosso amor;
que fosse real ,quem dera,
sobrou ilusão e dor,
e nosso amor foi quimera...
__________________________________

UM AMIGO
Glosando Clenir Neves Ribeiro

MOTE:

Amigo é o que na verdade
vendo fraco o seu irmão,
mostra a força da amizade,
e firme lhe estende a mão!


GLOSA:
Amigo é o que na verdade
fica sempre junto a nós
pois nossa emoção, invade!
E nunca nos deixa a sós!

Um amigo verdadeiro,
vendo fraco o seu irmão,
com um amor feiticeiro
faz feliz seu coração!

Com enorme lealdade,
ajuda, consola e anima,
mostra a força da amizade,
com sua força de estima!

Para amigo, não há hora,
em qualquer situação,
manda os problemas embora,
e firme lhe estende a mão!
____________________________________

NOSSOS ERROS
Glosando Clevane Pessoa

MOTE:

Nossos erros nos apontam
novas trilhas nos caminhos
e os acertos só despontam
se afastarmos os espinhos.


GLOSA:
Nossos erros nos apontam
a direção a tomar,
e muitas vezes, nos contam
o porquê do nosso errar!

Nós devemos descobrir
novas trilhas nos caminhos
para poder ir e vir,
evitando os descaminhos!

Quebra-cabeças se montam,
desafiando a razão
e os acertos só despontam
se ouvirmos o coração!

Seremos muito felizes,
não ficaremos sozinhos,
veremos novos matizes,
se afastarmos os espinhos.

Fonte:
Gislaine Canales. Glosas Virtuais de Trovas XXXIV. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. 2007.

Contos e Lendas do Mundo (Nação Tupinambá: Maire-Monan e os Três Dilúvios)


Os tupinambás creem que houve, nos primórdios do tempo, um ser chamado Monan. Segundo alguns etnógrafos, ele podia não ser exatamente um deus, mas aquilo que se convencionou chamar de um “herói civilizador”.

Deus ou não, o fato é que Monan criou os céus e a Terra, e também os animais. Ele viveu entre os homens, num clima de cordialidade e harmonia, até o dia em que eles deixaram de ser justos e bons. Então, Monan investiu-se de um furor divino e mandou um dilúvio de fogo sobre a Terra.

Até ali a Terra tinha sido um lugar plano. Depois do fogo, a superfície do planeta tornou-se enrugada como um papel queimado, cheia de saliências e sulcos que os homens, mais adiante, chamariam de montanhas e abismos.

Desse apocalipse indígena sobreviveu um único homem, Irin-magé, que foi morar no céu. Ali, em vez de conformar-se com o papel de favorito dos céus, ele preferiu converter-se em defensor obstinado da humanidade, conseguindo, após muitas súplicas, amolecer o coração de Monan.

Segundo Irin-magé, a terra não poderia ficar do jeito que estava, arrasada e sem habitantes.

– Está bem, repovoarei aquele lugar amaldiçoado! – disse Monan, afinal.

A história, como vemos, é tão velha quanto o mundo: um ser superior cria uma raça e logo depois a extermina, tomando, porém, o cuidado de poupar um ou mais exemplares dela, a fim de recomeçar tudo outra vez.

E foi exatamente o que aconteceu: Monan mandou um dilúvio à Terra para apagar o fogo (aqui o dilúvio é reparador) e a tornou novamente habitável, autorizando o seu repovoamento.

Irin-magé foi encarregado de repovoar a Terra com o auxílio de uma mulher criada especialmente para isto, e desta união surgiu outro personagem mítico fundamental da mitologia tupinambá: Maire-monan.

Esse Maire-monan tinha poderes semelhantes aos do primeiro Monan, e foi graças a isto que pôde criar uma série de outros seres – os animais –, espalhando-os depois sobre a Terra.

Apesar de ser uma espécie de monge e gostar de viver longe das pessoas, ele estava sempre cercado por uma corte de admiradores e de pedintes. Ele também tinha o dom de se metamorfosear em criança. Quando o tempo estava muito seco e as colheitas tornavam-se escassas, bastava dar umas palmadas na criança-mágica e a chuva voltava a descer copiosamente dos céus. Além disso, Maire-monan fez muitas outras coisas úteis para a humanidade, ensinando-lhe o plantio da mandioca e de outros alimentos, além de autorizar o uso do fogo, que até então estava oculto nas espáduas da preguiça.

Um dia, porém, a humanidade começou a murmurar.

– Este Maire-monan é um feiticeiro! – dizia o cochicho intenso das ocas. – Assim como criou vegetais e animais, esse bruxo há de criar monstros e Tupã sabe o que mais!

Então, certo dia, os homens decidiram aprontar uma armadilha para esse novo semideus. Maire-monan foi convidado para uma festa, na qual lhe foram feitos três desafios.

– Bela maneira de um anfitrião receber um convidado! – disse Mairemonan, desconfiado.

– É simples, na verdade – disse o chefe dos conspiradores. – Você só terá de transpor, sem queimar-se, estas três fogueiras. Para um ser como você, isso deve ser muito fácil!

Instigado pelos desafiantes, e talvez um pouco por sua própria vaidade, Maire-monan acabou aceitando o desafio.

– Muito bem, vamos a isso! – disse ele, querendo pôr logo um fim à comédia.

Maire-monan passou incólume pela primeira fogueira, mas na segunda a coisa foi diferente: tão logo pisou nela, grandes labaredas o envolveram. Diante dos olhos de todos os índios, Maire-monan foi consumido pelas chamas, e sua cabeça explodiu. Os estilhaços do seu cérebro subiram aos céus, dando origem aos raios e aos trovões que são o principal atributo de Tupã, o deus tonante dos tupinambás que os jesuítas, ao chegarem ao Brasil, converteram por conta própria no Deus das sagradas escrituras.

Desses raios e trovões originou-se um segundo dilúvio, desta vez arrasador. No fim de tudo, porém, as nuvens se desfizeram e por detrás delas surgiu, brilhando, uma estrela resplandecente, que era tudo quanto restara do corpo de Maire-monan, ascendido aos céus.
* * *
Depois que o mundo se recompôs de mais um cataclismo, o tempo passou e vieram à Terra dois descendentes de Maire-monan: eles eram filhos de um certo Sommay, e se chamavam Tamendonare e Ariconte.

Como normalmente acontece nas lendas e na vida real, a rivalidade cedo se estabeleceu entre os dois irmãos, e não tardou para que a fogueira da discórdia acirrasse os ânimos na tribo onde viviam.

Tamendonare era bonzinho e pacífico, pai de família exemplar, enquanto Ariconte era amante da guerra e tinha o coração cheio de inveja. Seu sonho era reduzir todos os índios, inclusive seu irmão, à condição de escravos. Depois de diversos incidentes, aconteceu um dia de Ariconte invadir a choça de seu irmão e lançar sobre o chão um troféu de guerra.

Tamendonare podia ser bom, mas sua bondade não ia ao extremo de suportar uma desfeita dessas. Erguendo-se, o irmão afrontado golpeou o chão com o pé e logo começou a brotar da rachadura um fino veio de água.

Ao ver aquela risquinha inofensiva de água brotar do solo, Ariconte pôs-se a rir debochadamente.

Acontece que a risquinha rapidamente converteu-se num jorro d’água, e num instante o chão sob os pés dos dois, bem como os de toda a tribo, rachou-se como a casca de um ovo, deixando subir à tona um verdadeiro mar impetuoso.

Aterrorizado, o irmão perverso correu com sua esposa até um jenipapeiro, e ambos começaram a escalá-lo como dois macacos. Tamendonare fez o mesmo e, depois de tomar a esposa pela mão, subiu com ela numa pindoba (uma espécie de coqueiro).

E assim permaneceram os dois casais, cada qual trepado no topo da sua árvore, enquanto as águas cobriam pela terceira vez o mundo – ou, pelo menos, a aldeia deles.

Quando as águas baixaram, os dois casais desceram à Terra e repovoaram outra vez o mundo. De Tamendonare se originou a tribo dos tupinambás, e de Ariconte brotaram os Temininó.

Fonte:
A. S. Franchini. As 100 melhores lendas do folclore brasileiro.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Varal de Trovas n. 127


Humberto de Campos (A Noiva do Donato)


- Foi um caso espantoso, único, inacreditável, Sr, conselheiro, esse de que fui testemunha, e que eu lhe conto, embora o senhor já o tenha lido no "D. Quixote".

E puxando o relógio, para ver se ainda havia tempo, o ilustre advogado santista começou, em estilo rápido, vivaz, nervoso, pictural, a referir-me a horrível história, sob o alpendre da Central, à hora, quase, do noturno de luxo:

- "Era no sítio do "Pau d'Alho", em Vila Bela, onde se haviam casado, naquele dia, o Donato e a Rosinha. Um despotismo de gente, como o senhor não imagina. A Vila, as cercanias, a redondeza toda, no "Pau d'Alho". Até veio gente de Ubatuba! Calcule!"

Uma olhadela ao relógio, e continuou, telegráfico:

"Violeiro: o Chico Messias. Dança-se "baile" no terreiro. Chico Messias tira da toeira* uma coriza lacrimosa, de valsa sem motivo."

E acrescentou, num parênteses:

"O caiçara diverte-se sem sorrir. Diverte-se por obrigação. Sua alegria é uma hipótese triste, socavada de ancilóstomos*."

E reatou, descritivo, unindo o gesto à palavra, dando voltas no meio do alpendre:

- "Damas e cavalheiros vão e vem, e tornam a ir, e tornam a vir, e dão-se as mãos, e balanceiam, e remoinham, e desnalgam-se*, numa choréa que tem passos de lanceiros, atitudes de Pedowa e desengonços tupinambás."

Outra interrupção, para um surto histórico:

"D. Pedro Fernandes Sardinha, quando foi do seu caso com os Aimorés, devia ter assistido a paulovices muito semelhantes."

E tornando, com uma soberba vivacidade de descrição:

"Ela, a noiva, dentro do vestidinho clássico, de manzuk branco, o filó pendente da mão. Tem olhos baixos e constrangidos de protagonista. Ele, traz a fatiota* de elasticotine, que tem reflexos envernizados e o suplemento da gravata escura, de tricô frouxo, escorrida pelo "adão"*.

E descreve a festa:

- "Ambos assistem sem apetite o apetite dos convidados. Há um mastigo odioso de bocados grandes, e o cair do bocado, goela abaixo, com um rumor de rã assustada em pântano adormecido. Comem! E comem!

Nova consulta ao relógio, e a descrição despenhou-se, para ganhar tempo:

"Hora da sobremesa. O Inocêncio, professor publico, vai falar! Recuo de cadeiras; engolir de últimos bocados; bigodes engordurados que se chupam. - Atenção, senhores! O Inocêncio vai falar."

Como se estivesse na festa, eu próprio me empertigo, e o ilustre viajante repete, assombroso:

"Vai falar o Inocêncio. E começa tan, tan, tan, e meus senhores, e o himeneu, e a família, e o tugúrio*, e mais isto, e mais aquilo e... e.... e o Inocêncio perde o fio, e embrulha, enrola, engole, mastiga, encaroça, embatuca. Estende-se um vágado* coletivo, pesado como um paralelepípedo. O Inocêncio, que empunha o copo, guina a boreste gorgolões de cerveja."

Noutro parênteses, o meu amigo sentencia, outra vez:

- "Há situações que obstruem a vida como caroços de jabuticaba!"

E engatando, de novo, com os olhos no trem, desabou, história abaixo:

- "Coitado do Inocêncio! Felizmente, o Dito Pintassilgo, que lhe estava ao lado, encontrou uma saída. Levanta-se, sorri, braceja, e, alto e sonoramente:

- "Viva a noiva!

"O viva desonerou aquele constrangimento, como um laxativo. Um alívio geral.

- "Viva!...

"E o Dito prosseguiu, vitorioso:

- "Viva os óio da noiva!

- "Vivôooo!

- "Viva os dente biturado da noiva!

- "Viva!

- "Viva o pescoço da noiva!

- "Viva!

- "Viva os peito da noiva!

- "Viiiiva!

Tomando fôlego, o narrador continuou, elétrico:

- "Os vivas desciam, conselheiro, assustadoramente, noiva abaixo. O noivo, o Donato, piscou, por três vezes, os olhos, apreensivo. De repente, remexe-se, mergulha a mão pela cinta, toma da garrucha trochada*, coloca-a à sua frente, na mesa, e, com aquele sorriso seu, desdentado, e a vozinha gutural, oitava acima:

- "Oie, seus convidado: não é por nada: mas eu queria apreveni, que os "viva" que passá do imbigo da noiva pra baixo... eu sapeco!"

Último apito. Um pulo do meu amigo, um barulho de ferragens, um resfolegar fatigado de máquinas. E o trem desapareceu.
_____________________________
Glossário:
Adão -
(alquimia) pó medicinal considerado a quintessência do universo; adamo.
Desnalgam-se – remexem exageradamente as nádegas ou os quadris, especialmente ao dançar; rebolar-se.
Fatiota – traje; vestuário.
Socavada de ancilóstomos – escavada de vermes.
Toeira – corda de viola.
Trochada – diz-se de cano que foi torcido para ficar mais forte.
Tugúrio – abrigo; refúgio; casebre.
Vágado – vertigem.
(Dicionário Houaiss)

Fonte:
Humberto de Campos. Contos.

Luiz Gonzaga da Silva (Trova e Cidadania) 6 - Dor e Sofrimento


Parece que o homem é um ser destinado à dor e ao sofrimento. Não há vida sem sofrimento. Compreender isso é um passo no sentido de criarmos meios para minimizar o
destino humano. Somos jogados no mundo. A nossa primeira experiência é de desamparo. E é a partir desta experiência subjetiva que devemos nos superar e nos responsabilizar pelo nosso caminhar sobre a terra. O poeta pede mais compreensão para a dor e o sofrimento subjetivos.

Por que é que todo mundo
acha-se o mais sofredor,
se o sofrimento é profundo
e ninguém afere a dor?
Marcos Medeiros - RN

Quem me dera alguém pudesse
entender meu sentimento:
seria a trova uma prece
para o fim do sofrimento.
Neiva Fernandes - RJ

Não se mede facilmente
um sofrimento profundo,
porquanto o drama da gente
é sempre o maior do mundo!
Eduardo A. O. Toledo - MG

Para esse sofrimento subjetivo, eis um bom conselho:

Acenda a luz da esperança
ante a angústia de um momento.
Com revolta não se alcança
o cessar de um sofrimento.
Maria Antonieta B. Dutra - RN

Certamente não é possível fugir desse desamparo primordial, do nosso sofrimento subjetivo, mas ao menos devemos nos esforçar para evitar o sofrimento perpetrado pela ambição, pela desonestidade e pelas injustiças sociais,

Neste mundo, os desonestos
recebem palmas e flores
e o trabalhador, os restos,
o sofrimento e as dores.
Gonzaga da Silva - RN

Encenados, ao relento,
vejo com muita emoção
os "atos" de sofrimento
nos teatros do sertão!
Ademar Macedo - RN

Embora devamos ser proativos frente ao sofrimento causado pela maldade humana, o trovador tem razão quando expressa a triste realidade de um mundo cada vez mais cruel.

Num mundo sem soluções,
nestes tempos inclementes,
não vivem populações...
existem sobreviventes!
Sebas Sundfeld - SP


Fonte:
Luiz Gonzaga da Silva (org.). Trova e Cidadania. Natal/RN, abril de 2019.
Livro enviado pelo trovador.

Luiz Poeta (Escama e Pele)


Olhava a lâmpada. A cabeça apoiada sobre o travesseiro, recostada, o cigarro entre os dedos, a caneta indecisa, riscando o ar, paralítica.

No peito, um vácuo inexplicável, espécie de vazio inexprimível por gesto ou palavra; na cabeça, porção de coisas ora amorfas, vez nebulosas; noutras, vivas, móveis, sufocantes.

Na janela, mudez soturna, nudez sem medo das estrelas pálidas, trêmulas, fetos sozinhos no líquido amniótico de metileno, fundo, profuso, profundo, profanável somente por olhos maus, insensíveis, inumanos.

O vento assobiava silêncios e um inflexível veleiro de neve percorria-o, tornando fluvial cada ramificação de artéria, capilar ou veia, penetrando-lhe como um punhal, estalactite, adaga de gelo no mar sanguíneo das emoções que o inundavam.

Repentinamente, o sono e o sonho. Era um planeta longínquo, tonalizado de verde, dourado e azul. Na areia lívida das margens dos rios, o rastro, a pegada, o vestígio, o resquício da imagem que varou as águas no rumo da cachoeira... ele, fitando a escuma nas pedras escorregadias, aparando a eterna, misteriosa e mansa pressa das vertentes.

Num átimo, o salto de um impetuoso peixe assustando o seu sonâmbulo enlevo... Do peixe... a pele... o corpo, a humana forma de mulher que lhe cingiu o pescoço num toque mágico de braços longos, dedos finos, pernas infinitas... o tépido ventre na umidade do seu sexo... depois, os beijos de lábios que se percorriam mansos, macios, velozes, provocando a lágrima de felicidade de tão puros na sua essência e tão passional na sua prazerosa e sinestésica ocorrência.,.

Todavia, no mesmo torpor que saltara da alma do peixe e da ânsia do homem, os movimentos esfumaram-se lentos, esvoaçantes, voláteis, num surrealismo que se metamorfoseava em abstratas imagens... ele, desesperado, tentando conter a imagem que se diluía nebulosamente etílicas em suas mãos... numa loucura de ansiar um todo, percebeu-se fundamente solitário e triste, num abandono de grãos minúsculos que o vento frio da manhã arrebatou-lhe gelidamente, vindo talvez da nascente daquele planalto de picos solitários furando a eterna, insensível e metilênica pele do céu.

Despertou no quarto: a tela dos cavalos selvagens galopando eternamente em sua direção, a chama do cigarro ardendo-lhe nos dactilos e a caneta caída, inerte, sem perspectiva de poesia ou de palavras aleatórias confessando segredos inconfessáveis... o etéreo punhal eólico das nevascas rasgando-lhe as artérias nervosas como aquele rio onírico despejando corpos abstratos no espumante precipício de lágrima e de sangue...

Fitou o teto novamente. Uma aranha tecelã bordava silêncios no canto entre duas paredes e um inseto vulgar e inexpressivo bebia-lhe a expectativa bem próximo, pousado, despreocupadamente num lavar de patas aleatório ao perigo de viver num mundo limitado por territórios e revezes, como o dele. Aturdido ainda, tentou resgatar o êxtase produzido pelo sublime pesadelo, mas a metálica luz do sol provocava-lhe a vida existente em cada uma de suas sonolentas retinas. Dobrou caprichosamente o cobertor, guardou-o no armário junto com o travesseiro molhado pelo suor das ansiedades, alisou afetuosamente as dobras do lençol, cerrou a janela sobre os raios matinais tagarelando brilhos dourados. Enxugou uma lágrima das tantas que ainda choraria e saiu no rumo de uma vaga perspectiva desenhada pela trajetória dos sentimentos e cerrou cuidadosamente a porta.

Lembrava-a agora. Recordava o sonho, o rio, os grãos, o peixe tornado ela, neve na pele de sua solidão, fogo na lágrima descendo sinuosa, limpa à luz da lua espraiada sobre o espelho das poças, olho fundo, sugado pela insônia, mirando, pedindo, esperando, implorando o desespero do contato nervoso das peles.

Caminhava. Ruas entrelaçavam-se unidas pelo abandono, trançadas sob seus letárgicos passos, o coração batendo mais alto que o próprio rebuliço das calçadas repletas de transeuntes alheios ao seu silencioso abandono. Sem que se desse, estava na antiga casa. Parou. Percorreu-a com o olhar súplice de uma única presença. Arriscou um primeiro passo na direção do aparentemente imutável. Atravessou nostalgicamente o misterioso quintal verde-negro, protegido apenas por um portão de ferro, enferrujado como suas esperanças que rangiam desesperos, afastando, no caminhar, as ramagens pendentes dos velhos troncos de árvores seculares, fragilizadas pelas intempéries climáticas.

Num galope, o mesmo cão veio até ele receptivo. Era a realidade que latia exibindo um riso que se exprimia mais pelo abanar de uma cauda do que pela saliva pulando dos caninos. Um afago no animal em festa, uma melancólica alegria, e o sapato estalando esperanças, esmagando lentamente o tempo, no ritmo de cada passada embalada pelo fúnebre compasso do improvável...

Afastou as cortinas de mais uma lágrima, mirando a remota arquitetura da sua vida tão carente de companhia: a mesma janela do sobrado, o mesmo galho seco sobre a varanda... a mesma gaiola suspensa e o canário piando, buscando os acordes de um trinado sem perspectiva de um canto ideal.

Subiu. As solas dos sapatos tocavam cautelosamente o assoalho de cada um dos degraus de madeira. Contou-os um a um; eram doze... o mesmo número do dia em que se ausentou para uma nova vida que se tomou tão sem perspectiva.

Abriu a porta do quarto. Tropeçou na própria insegurança.

- Quem está aí? – Ela mirava-o com seriedade. O semblante percorrendo-o com perplexidade e mansidão.

Os olhos dele eram o limite entre o medo e a vontade. Um riso seminu afastou lentamente os lençóis da timidez. Com ele, uma minúscula gota de pranto parava no trampolim da emoção... mas... para onde saltar? O vago precipício da incerteza estava dentro dele... precisava escolher...

Na dúvida, veio-lhe o abismo passional. Suas lágrimas diluíram-se lânguidas nos olhos dela. Lábios e línguas não conseguiram conter a aflita volúpia mandibular, cujos dentes foram se tomando afetuosas adagas sangrando a víscera anímica de duas prazerosas bocas que se fundiam na epidérmica umidade dos desejos.

O peixe tornado mulher saltou novamente do rio e mergulhou com ele nas aquáticas turbulências da passionalidade... julgou que despertaria... que o sonho fugiria... e agarrou-se nele com força e afeto... a miragem foi desvanecendo gradativa, sonolenta... cósmica...

- Beije-me de novo! - ele suplicou.

Na manhã seguinte, no quarto onde dormira na casa dos parentes mais próximos, o grito da empregada, o desmaio da mãe, o vitupério do pai e... o bilhete: Papai e mamãe. Amo vocês. Suas bênçãos. Um dia volto. Quem sabe...

A motocicleta violentou a nebulenta mudez da madrugada. Ela presa nele, a mochila nas costas; o amor vibrando forte, superando o ronco do motor. Escama e pele voando no rastro da liberdade.

Sob a ponte, a cachoeira continuaria eternizando um espumante beijo de amor na epidérmica solenidade das pedras escorregadias.

Fonte:
Luiz Gilberto de Barros (Luiz Poeta). Canção de Ninar Estátuas. 1.ed. Ilhéus/BA: Mondrongo, 2014.
Livro entregue pelo autor.

XXV Jogos Florais de Porto Alegre 2019 - Resultado Final


NACIONAL/INTERNACIONAL

TEMA: OURO (líricas/filosóficas)


VENCEDORES:

1º  lugar:
RENATA PACCOLA
São Paulo/SP

Busca primeiro a virtude;
teu ouro, busca depois.
Quem não toma essa atitude
acaba perdendo os dois!

2º lugar:
GILVAN CARNEIRO DA SILVA
São Gonçalo/RJ

Não há coroa que valha
mesmo em ouro cravejada,
aquele chapéu de palha
da pessoa boa e honrada.

3º lugar: 
JERSON LIMA DE BRITO
Porto Velho/RO

Somos almas garimpeiras
nessa vida de perigos
onde, em lavras rotineiras,
valem ouro os bons amigos.

4º lugar   
SÍLVIA MARIA SVEREDA
Irati/PR

O entardecer é tão lindo...
Ouro tingindo o arrebol
é a mão de Deus colorindo
a despedida do sol.

5º lugar:
RENATA PACCOLA
São Paulo/SP

Num labor que nunca encerra,
a lavoura é meu tesouro...
Minhas mãos sujas de terra
cobrem as tuas de ouro!

MENÇÕES HONROSAS:

A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Não é pelo ouro que ostenta
que a aliança tem valor,
mas sim quanto representa
a história de um grande amor.

CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Nem sempre o silêncio é ouro.
Uma palavra sensata
pode valer um tesouro,
se for a palavra exata!

GILVAN CARNEIRO DA SILVA
São Gonçalo/RJ

Aos humildes nos convém
o mais respeitoso apuro;
é do cascalho que vem
as pepitas de ouro puro.

MARIA MADALENA FERREIRA
Magé/RJ

Em ser rica não me empenho!
- Ter um lar aconchegante
e os filhos de ouro que eu tenho...
...já é riqueza bastante!

NÉLIO BESSANT
Pindamonhangaba/SP

Não há, no mundo, desdouro,
mal maior ou mais profundo,
do que vender-te por ouro
à custa do mal do mundo.

MENÇÕES ESPECIAIS:

A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Luxo é bom, porém não muda
a verdade da pessoa.
- Garfo de ouro em nada ajuda,
se a comida não é boa.

A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Tolos tesouros humanos:
ouro, fortuna estocada...
Ao fim de oitenta ou cem anos,
o “dono” parte sem nada...

ELANA RIMENEZ
 Balneário Camboriú/SC

Nenhum ouro traz a glória
se um torpe caminho teço;
não há sucesso ou vitória
quando a ética tem preço.

ELANA RIMENEZ
 Balneário Camboriú/SC

A riqueza é uma jazida
cujo garimpo assim diz:
o achado de ouro da vida
é fazer o outro feliz.

MADALENA FERRANTE PIZZATTO
Curitiba/PR

De um ipê caem as flores,
e com toque de artesão,
Deus matiza as suas cores,
revestindo de ouro o chão.

NOVOS TROVADORES

TEMA OURO (líricas/filosóficas)


1º lugar: 
JOSÉ RUI CAMARGO
Taubaté/SP

Nem tudo que brilha é ouro,
riqueza é poder amar,
pois o meu maior tesouro
e o brilho do teu olhar.

2º lugar: 
ARCHIMINO BRAZ DE CAMPOS

 Balneário Camboriú/SC
Disse adeus: passou ligeiro
pela vida em tantas provas.
Não deixou ouro ou dinheiro,
mas deixou tão belas trovas!

3º lugar:
ARCHIMINO BRAZ DE CAMPOS
Balneário Camboriú/SC

Trovador, ouro polido,
vive em plena evolução;
vê que tudo está contido
entre o amor e a vocação.

NACIONAL/INTERNACIONAL

TEMA: BRONZE (Humorísticas)


VENCEDORES:

1º lugar:
JERSON LIMA DE BRITO
Porto Velho/RO

Faltou bronze ao escultor
que, sem outra solução,
resolveu, na praça, expor
a estátua do herói anão!...

2º lugar: 
JERSON LIMA DE BRITO
Porto Velho/RO

- Fui bronze! Missão cumprida!
Disse o sujeito aos parentes,
sem mencionar que a corrida
só tinha três concorrentes.

3º lugar: 
AILTO RODRIGUES
Nova Friburgo/RJ

Saltou com vara e foi bronze...
E o medalhista escancara,
que já conquistou mais de onze
sem deixar cair a vara!...

4º lugar: 
SÉRGIO FERRAZ DOS SANTOS
Nova Friburgo/RJ

Ganhei de bronze a medalha
“O mais feio do sertão”...
E, como a raça não falha,
a de” Ouro”...foi meu irmão!

5º lugar:
RENATA PACCOLA
São Paulo/SP

O lusitano espargiu
bronze por todo o quintal,
quando a mulher lhe pediu
bronzeamento artificial...

MENÇÕES HONROSAS:

ANA CRISTINA DE SOUZA
São Paulo/SP

Com seu bronze, ele exultou
ao vencer entre os novatos,
mas ele só não contou
que eram três...os candidatos...

ANTONIO COLAVITE FILHO
Santos/SP

Minha mulher me dá bronca
se eu durmo depois das onze.
- Tão alto é o som quando ronca,
bem mais que um sino de bronze...

HÉLIO CASTRO
São Paulo/SP

Já bem cheio de cachaça,
nos metais vê sua sorte...
- Que seja de bronze a taça,
pra pinga...ficar mais forte!

JERSON LIMA DE BRITO
Porto Velho/RO

Dolores, mulher de peito,
foi à praia e, que castigo,
em vez do bronze perfeito,
mancha clara até o umbigo!

MÁRCIA JABER
Juiz de Fora/MG

Tomou cascudo à vontade,
por ter olhado sem pena,
junto da cara metade,
para o bronze da morena.

MENÇÕES ESPECIAIS:

A. A. DE ASSIS 
Maringá/PR

Na praia, das oito às onze,
vovozinha ao sol se banha.
Quem sabe, pegando um bronze,
ao vê-la, o vovô se assanha!...

ELIAS PESCADOR
São Paulo/SP

O time de anões foi bronze,
com seus limites compete:
mesmo jogando com onze,
há quem diga que eram sete...

FRANCISCO GABRIEL
Natal/RN

Pra um prefeito imerso em rombos,
fiz de bronze um monumento,
depois deixei para os ombros
o resto do acabamento.

LUIZ MORAES
São José dos Campos/SP

De bronze ficou “maneira”,
a estátua do Nicolau,
antes fosse de madeira...
Ele era um cara de pau!

MARIA MADALENA FERREIRA
Magé/RJ

Foi contar atrás do “bronze”
umas “pratas” que roubou,
mas...só contou até onze:
- Logo a polícia o flagrou!...

ESTADUAL

TEMA: PRATA (líricas/filosóficas)


VENCEDORES:

1º lugar:
MARÍLIA OLIVEIRA
Porto Alegre

A humildade é este tesouro
em que a vida, autodidata   
sabe que antes de ser “ouro”,
 há de aprender a ser “prata”.

2º lugar:
LUIZ STABILE
Uruguaiana

Não tenho joias nem ouro,
mas nossa história me abrasa,
pois és meu grande tesouro,
a minha prata da casa.

3º lugar:
CLÁUDIO DERLI SILVEIRA
Porto Alegre

A menina que bailava
para os pássaros da mata.
a cada passo, sonhava
com sapatilhas de prata!...

4º lugar:
MARÍLIA OLIVEIRA
Porto Alegre

Se a vida é um matiz prateado
um novo viver proponho:
fecho os olhos e, ao teu lado,
dou cor à viva que eu sonho.

5º lugar:
FLÁVIO STEFANI
Porto Alegre

Quando o mal mostra as agruras,
maculando o paraíso,
eu busco em águas mais puras
a prata do teu sorriso!

MENÇÕES HONROSAS:

JAQUELINE MACHADO
Cachoeira do Sul

Esses cabelos de prata,
escondem a mocidade
que teu belo olhar retrata
da moldura da saudade...

LISETE JOHNSON
Porto Alegre

Apesar dos meus apelos
e ao tempo que me maltrata,
rendo-me ao ver meus cabelos
tingidos de pura prata.

LUIZ DAMO
Caxias do Sul

Dos arquivos do passado,
quem ama, um sonho resgata,
de preferência, dourado
 ou mesmo folhado em prata.

LUIZ STABILE
Uruguaiana

De nossa longa jornada,
não há lembrança mais grata
 que não seja superada
 por nossas bodas de prata.

LUIZ STABILE
Uruguaiana

Pelos anos de ventura
que nossa vida retrata,
hoje beijo com ternura
os teus cabelos de prata.

MENÇÕES ESPECIAIS:

ARY CARDOSO
Porto Alegre

Jogos Florais: fantasias,
verdades, cores, bravata...
UBT serve alegrias
em belas taças de prata.

ARY CARDOSO
Porto Alegre

Jogos Florais, labareda,
cinco lustros nesta data.
Nosso olhar vai como seda
lustrando a taça de prata.

CLÁUDIO DERLI SILVEIRA
Porto Alegre

O tempo tingiu de prata
 os negros cabelos meus
 tesouro, que bem retrata
 o poder da mão de Deus!...

LISETE JOHNSON
Porto Alegre

Não era leite, era prata 
que esguichava em raro brilho
dos seios da mãe mulata
amamentando seu filho.

LUIZ DAMO
Caxias do Sul

Duas décadas e meia
de uma união que retrata
o amor partilhado à ceia
 da eterna “bodas de prata”.

LUIZ DAMO
Caxias do Sul

O homem, por ciúmes, mata,
morre às mãos da má conduta,
longe do ouro, perde a prata,
por querer ser pedra bruta.

ESTADUAL

TEMA: JOIA (Humorísticas)


VENCEDORES:

1º lugar:
MARÍLIA OLIVEIRA

Porto Alegre
Sempre que a sogra me apoia,
agradeço-a e, na surdina,
a chamo de minha “joia”...
...minha  joia “made in China”…

2º lugar:
MARÍLIA OLIVEIRA
Porto Alegre

Minha sogra centenária,
e, por dentro, eu me deleito
por comprar, na funerária,
o “porta-joia” perfeito!

3º lugar:
FLÁVIO STEFANI
 Porto Alegre

- “Passa as joias”, vai dizendo...
E a cozinheira argumenta,
mas entrega, ainda tremendo,
dois vidrinhos de pimenta...

4º llugar:
FLÁVIO STEFANI
Porto alegre

Minha sogra, aquela “joia”,
dá veneno pro gatinho,
e já pensando em tramoia,
diz: - Vem cá, lindo genrinho...

5º lugar:
CLÁUDIO DERLI SILVEIRA
Porto Alegre

Pressente o assalto a guria...
De pronto e muito nervosa,
Expõe a bijuteria
e cobre a joia preciosa!...

MENÇÕES HONROSAS:

ARY CARDOSO
Porto Alegre

Joia e Joio se casaram
num “festerê” bacanal;
e os filhos proliferaram
no Congresso Nacional!

CLÁUDIO DERLI SILVEIRA
Porto Alegre

Pra afastar a concorrente,
ela diz que seu amor
tem um brinco que é indecente,
joia de pouco valor...

FLÁVIO STEFANI
Porto Alegre

Vende joias o ambulante,
pelas ruas da cidade,
mas não testa, nem garante,
nem dá nota...que maldade!

LUIZ STABILE
Porto Alegre

A joia com que eu sonhava
dia e noite...noite e dia,
não era quem eu pensava:
era pura fantasia...

ROQUE ALOÍSIO WESCHENFELDER
Santa Rosa

Tanta gente fica louca,
querendo tão cara joia,
mas com grana muito pouca
só se compra a paranoia.

MENÇÕES ESPECIAIS:

CLÁUDIO DERLI SILVEIRA
Porto Alegre

É a joia do meu amor
que eles cobiçam também.
Eu que sei do seu valor
faço tempo e cuido bem!!!

LUCI BARBIJAN
Caxias do Sul
Uma “joia preciosa”
é o que se dizia ser...
Falsa, chata e orgulhosa!
como tal, veio a morrer.

INTERNACIONAL : LENGUA HISPANICA

TEMA: ORO


VENCEDORAS
 
1o 
DÉLIA ESTHER FERNANDÉZ CABO
Uruguay


Oro del sol en el cielo
y del maizal en la quinta,
oro de hojas en el suelo
cuando el otoño las pinta.

2o
SUSANA ANGÉLICA ORDEN
Argentina

Oro , plata y vanidades
no orientaron mi camino
y buscando las verdades
he forjado mi destino.

3o
MARTA REGUEIROS DUEÑAS
EUA

De oro son todas las manos
que siempre entregan amor,
atributo en los humanos
que quieren dar lo mejor.

4o
MARIA ROSA RZEPKA
Argentina

El pan que llega a la mesa
es más valioso que el oro.
Hay quien llora de tristeza
por faltarle este tesoro.

5o
SUSANA ANGÉLICA ORDEN
Argentina

Más importante que oro
es la amistad compartida
y el más precioso tesoro
que nos regala de vida.

 MENCIÓN HONROSA

1o
JOSÉ LISSIDINI SÁNCHEZ
Uruguay

Si optas por deambular,
buscando tu gran tesoro,
valora siempre tu hogar,
muchísimo  más que el oro.

2o
VERÓNICA QUEZADA VARAS
Chile

Oro, metal codiciado,
en tiempos de la Conquista.
Tanto pueblo aniquilado
por ambiición egoísta.

3o
CRISTINA OLIVEIRA CHÁVEZ
EUA

Cuando el oro es codiciado
muchas tragédias arrastra,
es sortilégio dorado
que el buen sentimento, castra.

4o
SARA BACA VACA
México

El oro nos envilece
-- arsénico que envenena-
nuestra dignidad decrece
 y la vanidad nos llena.
 
5o
JOSÉ HÉCTOR CORREDOR CUERVO
Colombia

La guerra es de poderosos
que buscan oro y riqueza,
explotando a ambiciosos
de poder y de grandeza.

MENCIÓN ESPECIAL

1o
NELLY V. B. FORNI
Argentina

Mientras el hombre persiga
el hacerce rico en oro
y pecando lo consiga
pierde del cielo un tesoro.
 
2o
TERESITA MORÁN VALCHEFF
Argentina

No corras detrás del oro
y cultiva el desapego.
Con voluntad y decoro
podrás demoñar el ego.

3o
CRISTINA OLIVEIRA CHÁVEZ
EUA

El oro aun siendo brillante
es metal, sin  alma y frio
codiciado es, por su amante
que en común, tienen vacío.

4o
DÉLIA ESTHER FERNANDÉZ CABO
Uruguay

Dicen que no todo es oro
lo que en la vida reluce.
Talvez un falso tesoro
sea el que más nos seduce.

5o
MARTA REQUEIRO DUEÑAS
EUA

No es oro la divisa
con que ha de pagarse todo,
aveces una sonrisa
procede de mejor modo.

Fonte:
Resultado enviado por Alexandre Magno Oliveira de Andrade Reis para o blog Doce Aconchego das Trovas.

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Varal de Trovas n. 126


Raul Pompéia (O Fruto da Formosura)


Em princípio, ele era pequenino; uma ligeira elevação de carne infantil, macia como a polpa de um fruto esquisito; tinha um biquinho, rubro como uma cereja microscópica; tinha dois anos, então: recebia as carícias maternas de uns lábios ardentes e amorosos.

Foi crescendo... crescendo...

Já lhe notavam tendências para a bela forma redonda. A carne branca, polpuda, elevava-se pouco a pouco.

Foram-no cobrindo, zelosamente de cambraias e fitas.

Em pequenino, andava tantas vezes nu, gozando o contato suave do ar livre e fresco a passar-lhe pela epiderme. Exatamente quando mais lindo ficava, é que o queriam esconder como uma coisa indigna.

Este escrúpulo avultava com o tempo.

Esconderam-no cada vez mais, e cada vez mais, do fundo do seu retiro de linhos e cambraias finíssimas, o indiscreto erguia-se, cercado de rubores incertos e nômades, que percorriam-lhe a epiderme, semeando calor; erguia-se como quem sabe que vai a fazer-se sedutor e deseja que o vejam e o adorem...

Mas a cruel cambraia subia também, com uma impertinência ciosa e avara; o pobre via-se condenado àquela prisão cálida e escura, que o sufocava ferozmente.

Ah! quem lhe dera sentir as auras frescas da tarde e os orvalhos da madrugada; viver à luz dos sóis e dos luares, despido, desembaraçado e nu, como os jambos rosados e venturosos!...

Despiam-no, é certo, mas unicamente para respirar o ambiente morno e viciado das alcovas.

Era nessas ocasiões que ele via como estava belo; mirava-se nas banheiras e nos espelhos, namorava-se como um narciso, o pobre...

E como torturavam-no, depois, aquelas faixas com que o comprimiam!

Parece que havia empenho em deformá-lo, contrariando a natureza que o aviventava. Entretanto, ele resistia e triunfava!

A delicada forma cônica dilatava-se-lhe, encurvava-se, sobressaía com a íntima energia de um botão de magnólia que vai desabrochar em largas pétalas. Sedutor cada vez mais.

Tornou-se tímido. O recato da cambraia que o contrariava agrada-lhe então.

O próprio ambiente morno da alcova parece feri-lo com um contato sacrílego.

O sofrimento que então o tortura já não é a contrariedade daqueles panos que o abafavam.

O sofrimento consiste em pancadas íntimas, violentas, que o agitam e mortificam.

Está amando, o pobre...

Por fim, expande-se.

Rasgam-se os linhos e as cambraias, e dois lábios impetuosos, sedentos, vão lá ao fundo violar o recato do amante misterioso e invisível.

Mudou-se-lhe de todo a natureza, ele engorgita-se em plena maturidade.

Uma criaturinha vem sofregamente sugar-lhe a seiva e nutrir-se dele como a parasita que vive da vitalidade alheia...
..................................................................

Então começa a decadência.

O belo seio, outrora rijo de virgindade e frescura, estremecendo às emoções elétricas do amor, desprende-se tristemente da antiga firmeza escultural e cai, como os frutos caem no fim do outono...

Em breve, há de apodrecer no campo, alimento dos vermes famintos, húmus fecundos da terra, como o fruto que o outono deixa, repasto das novas primaveras, vorazes, egoístas...

É quase a história comum de todos os frutos.

Fonte:
Raul Pompéia. Contos.

Odenir Follador (Poemas Avulsos) 2


ALMEJADA AMADA

Amar é sentirmos o coração
pulsar em nosso âmago, intensamente...
Inflar-se na volúpia da paixão
queimando toda alma, impetuosamente!

Um amor platônico que buscamos
encontrar, em nossa almejada amada;
e, sob as estrelas nos entregarmos
lascivos, à bruma da madrugada...

Cáustica chama do amor a sentirmos
no lampejo de uma nova alvorada!
E, num fiel anseio prosseguirmos...

Em desejos frementes, sensuais...
Entregarmo-nos à relva orvalhada
ao brilho das estrelas magistrais!

COMPARAÇÃO

Fazendo comparação
entre a canção e uma flor:
numa produz emoção
e noutra produz amor.

O momento encantador
ficará sempre guardado;
canção, amor e uma flor,
que oferece enamorado.

E o poeta à sua bela,
dedica-lhe com ternura
uma seresta à janela.

Brotando do coração,
lindos versos com candura
só de amor e sedução!

FOLHA DE PAPEL EM BRANCO

Em uma folha de papel em branco
eu escrevo contos e poesias;
descrevo a natureza e seu encanto,
inda as ocorrências do dia a dia!

Todas as folhas em branco contêm
muitos textos escritos ao leitor...
Cuja destinação vai muito além,
da mente criativa do escritor!

Folhas rabiscadas que não dão certo
são amassadas e vão para o cesto;
mas, uma irá ao leitor ou leitora...

Uma por todas e todas por uma,
diz-nos um adágio épico, em suma,
após muito trabalho... “A vencedora”!

NOSSA SENHORA DOS NAVEGANTES
E IEMANJÁ


A Nossa Senhora dos Navegantes,
Iemanjá, na fé afro-brasileira...
Cultuada por fiéis simpatizantes
praticando homenagem derradeira.

Seu dia é festejado em fevereiro
movimentando imensas multidões;
em muitas urbes do Brasil inteiro
festejam nas ruas em procissões!

Salve Nossa Senhora protetora...
Nos rios e nos mares és benfeitora
dos navegantes de nossa nação!

Também na crença afro-brasileira,
eles preparam a semana inteira
a festa de Iemanjá, com oblação.

O MAR

Observando o mar, o seu movimento...
O vai e vem das ondas agitadas
quebrando na praia, a todo momento,
esparramando espumas prateadas.

Avisto um pescador, que destemido...
Lança seu barco no mar agitado
com coragem,  não receia o perigo!
São suas redes que o tem sustentado.

Vejo gaivotas, com olhar atento...
A planarem sobre as ondas do mar,
ávidas, a procura de alimento!

À tarde, o sol deitava no ocidente,
derradeiros raios, para adornar
seus últimos brilhos, para o poente.

SALVADOR - BAHIA

Falam muito de ti frequentemente,
Salvador de belezas naturais...
Os poetas te exaltam fartamente
em versos, teus valores culturais!

Falam também de ti, principalmente:
do Dique Tororó , Orixás e Axé,
do Elevador Lacerda... , especialmente
das comidas: vatapá e acarajé!

Quisera decantar-te em muitos versos.
Exaltar toda a tua exuberância
do passado, e de hoje, os teus  progressos!

Quem já te conheceu, feliz professa...
Que cantará em versos tua importância
ao Senhor do Bom Fim..., Uma promessa!

SEU OLHAR

Uma breve esperança, em seu olhar,
simula apenas amar, e mais nada;
não é mais, que uma esperança, a brilhar,
por uma grande paixão, revogada.

O perene olhar, de um amor desfeito,
olhar que torna pura, a alma inquieta,
é um desejo feliz, meio sem jeito;
que arde, e queima, toda a alma, irrequieta.

E num olhar de amor, nós almejamos,
reatar a paixão, com que sonhamos,
íntegra, pura e branca em densas brumas.

E num olhar apenas, alcançamos,
a felicidade que nós deixamos
que voasse, como douradas plumas.

Fonte:
Sonetos enviados pelo poeta.