sábado, 26 de dezembro de 2009

Pedro Nava (Como escrevo?)



“Eu procuro seguir um sistema, que é o seguinte: de manhã, que é a hora em que eu me sinto com menor capacidade criativa, procuro escrever minhas cartas, o que é sempre mais leve do que o trabalho literário propriamente dito, ou organizar o meu arquivo, que nunca está em ordem. Sou um vagatônico, e os vagatônicos sofrem de manhã, a manhã não é agradável para eles, bom mesmo é a noite afora. À tarde eu crio, de meia dúzia de linhas, uma página, até no máximo oito, nove páginas datilografadas – que eu escrevo diretamente a máquina. A produção varia, conforme a dificuldade do assunto. A noite eu deixo pra fazer a revisão, pra corrigir. Na minha idade, o sujeito deve estar pronto pra tudo: quero deixar um texto pelo menos revisto por mim... A meia dúzia de linha que estou tentando escrever do novo livro já apresenta correções, você pode ver o número de chamadas e correções que eu faço. Se você me faz agora uma revelação que interesse às minhas memórias, ao desenvolver do meu trabalho, se me conta alguma coisa lá do Ceará, geralmente eu tomo nota, saio sempre com um papel no bolso pra tomar uma notinha ou outra, às vezes até de uma palavra só – dessas que nascem como uma flor, são bonitas em si. Há palavras assim, quem mexe com as letras sabe disso. Você conhece de repente e é uma revelação – ou a maneira como ela foi dita, como foi pronunciada. Tomo nota das coisas que me importam, numa série de cadernos. Depois eu corto aquilo como fichas – tenho o cuidado de escrever só de um lado da folha, para depois cortar”.

Fonte:
CAMINHA, Edmilson. Palavra de escritor. Brasília: Thesaurus, 1995.

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