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quinta-feira, 20 de março de 2008

Isaac Asimov (A Sensação de Poder)

"Em meu conto "A Sensação de Poder", publicado em 1957, lancei
mão de computadores de bolso, cerca de dez anos antes de tais
computadores se tornarem realidade. Cheguei mesmo a
considerar a possibilidade de eles contribuírem para
que as pessoas acabassem perdendo a capacidade
de fazer operações aritméticas à maneira antiga."
(Introdução - Isaac Asimov)

Jehan Shuman estava acostumado a lidar com os homens responsáveis pelas tropas espalhadas pela Terra. Era apenas um civil, mas tinha criado os programas que possibilitaram o surgimento dos mais avançados computadores automáticos de guerra. Consequentemente, os generais ouviam sua opinião. Os líderes das comissões parlamentares também.

Havia um militar e um político no salão especial do Novo Pentágono. O general Weider tinha um rosto bronzeado pelos raios de muitos sóis, e sua pequena boca, cheia de rugas, quase não aparecia. O deputado Brant tinha um rosto suave e olhos claros. Ele fumava um charuto denebiano com a segurança de alguém cujo patriotismo era tão notório que podia se permitir certas liberdades.

Shuman, alto, distinto, um típico programador de elite, encarou-os destemidamente.

- Cavalheiros - disse ele -, esse é Myron Aub.
- É aquele que tem um talento incomum, que você descobriu por acaso - disse Brant, sereno. - Ah. - Ele estudou o pequeno homem de cabeça oval e careca com uma curiosidade cordial.

Em resposta, o homenzinho torceu os dedos de suas mãos ansiosamente. Nunca tinha visto homens tão importantes em sua vida. Era um técnico envelhecido e sem importância, que há muito tempo tinha fracassado em todos os testes destinados a selecionar as pessoas talentosas da humanidade e se acomodara numa rotina de trabalhos não especializados. Tinha apenas um passatempo que, de pois de descoberto pelo grande programador, acarretara todo esse estardalhaço.

- Acho infantil esse clima de mistério - disse o general Weider.

- Vai deixar de achar em um minuto - disse Shuman. - Esse é o tipo de coisa que não pode vazar para qualquer um... Aub! Havia um pouco de autoritarismo na sua maneira de pronunciar esse nome monossilábico, mas, nesse caso, era o grande programador falando para um simples técnico. - Aub! Quanto é nove vezes sete?

Aub hesitou um pouco. Seus olhos pálidos brilharam, ligeiramente ansiosos.

- Sessenta e três - disse ele.

O deputado Brant levantou as sobrancelhas.

- Ele acertou?

- Veja você mesmo, deputado.

O deputado tirou seu computador de bolso, apertou as teclas duas vezes, olhou para a superfície na palma de sua mão e guardou-o.

- É esse o talento que você trouxe para nos mostrar? Um ilusionista?

- Mais que isso, senhor. Aub decorou algumas operações e com elas faz cálculos num papel.

- Um computador de papel? - disse o general. Ele parecia aflito.

- Não senhor - disse Shuman pacientemente. - Não é um computador de papel. É um simples pedaço de papel. General, o senhor faria a gentileza de sugerir um número?

- Dezessete - disse o general..

-E o senhor, deputado?.

- Vinte e três.

- Ótimo. Aub, multiplique esses números e, por favor, mostre a esses cavalheiros como você faz isso..

- Sim, programador - disse Aub, fazendo uma reverência com a cabeça. Tirou um bloco de um dos bolsos da camisa e do outro uma caneta de bico fino. Sua testa se enrugava enquanto desenhava meticulosamente no papel..

O general Weider interrompeu-o bruscamente..

- Deixe-me ver isso.

Aub entregou-lhe o papel..

- Bem, isso parece com o número dezessete - disse Weider..

O deputado Brant balançou a cabeça..

- Parece sim, mas eu acho que qualquer um pode copiar as figuras de um computador. Talvez até eu possa fazer um dezessete razoável, mesmo sem prática..

- Se vocês deixarem Aub continuar, cavalheiros - disse Shuman, sem se perturbar..

Aub continuou com as mãos um pouco trêmulas. Depois de algum tempo, disse em voz baixa:.

- A resposta é trezentos e noventa e um..

O deputado Brant checou de novo o computador. - Por Deus, é isso mesmo. Como ele adivinhou?

- Ele não adivinhou, deputado - disse Shuman. - Ele calculou o resultado nesse pedaço de papel..

- Conversa furada - disse o general, impaciente. - O computador é uma coisa, desenhos no papel são outra..

- Explique, Aub - pediu Shuman..

- Pois não, programador. Bem, eu escrevo dezessete, embaixo dele, escrevo vinte e três. Depois, digo comigo mesmo: sete vezes três.…

- Só que o problema é dezessete vezes vinte e três interrompeu-o o deputado, cortês..

- Sim, eu sei - disse o pequeno técnico, num tom sério. Mas eu começo por sete vezes três, porque é assim que funciona. Agora, sete vezes três são vinte e um..

- Como é que você sabe isso? - perguntou o deputado..

- É uma questão de memória. É sempre vinte e um no computador. Já conferi um monte de vezes..

- Isso não quer dizer que vai ser assim para sempre, não? disse o deputado..

- Talvez não - gaguejou Aub. - Não sou matemático. Mas as minhas respostas sempre estão certas..

- Continue..

- Sete vezes três é vinte e um, então eu escrevo vinte e um. Depois, um vezes três é três e, então, escrevo o três embaixo do dois de vinte e um.

- Por que embaixo do dois? - perguntou de pronto o deputado..

- Porque... - Aub olhou desesperado para o seu superior, como se estivesse pedindo ajuda. - É difícil de explicar..

- Se vocês aceitarem o seu trabalho por um momento, podemos deixar os detalhes para os matemáticos..

Brant se acalmou..

- Três mais dois é igual a cinco - disse Aub. - Então o vinte e um vira cinqüenta e um. Você deixa isso de lado um pouquinho e começa de novo. Você multiplica sete por dois, que é catorze e um por dois, que dá dois. Se você colocá-los assim, isso vai dar trinta e quatro. Agora coloque o trinta e quatro embaixo do cinqüenta e um dessa forma e faça a soma, então terá a resposta final, que é trezentos e noventa e um..

Houve um momento de silêncio..

- Não acredito nisso - disse o general Weider. - Ele vem com essa conversa furada e desenha os números, multiplica e soma dessa maneira, mas não acredito. Isso é muito complicado. Não passa de um truque..

- Não, senhor - disse Aub, ansioso. - Só parece complicado porque o senhor não está acostumado. Na verdade, as regras são muito simples e funcionam com qualquer número..

- Qualquer número, hein? - disse o general. - Então, vamos ver. - Pegou o seu computador (um modelo GI de estilo austero)e apertou-o ao acaso. - Escreva cinco sete três oito no papel. Isto é cinco mil, setecentos e trinta e oito..

- Sim, senhor - disse Aub, pegando uma folha em branco..

- Agora - mais toques no seu computador - sete dois três nove. Sete mil, duzentos e trinta e nove..

- Sim, senhor..

- Agora, multiplique esses dois números..

- Isso vai demorar um pouco - disse Aub, com uma voz trêmula..

- Fique à vontade - disse o general..

- Vá em frente, Aub - disse Shuman, incisivo..

Aub pôs-se a trabalhar, inclinando-se para baixo. Virou outra página e mais outra. O general pegou o relógio e viu as horas..

- Você já terminou o seu número de magia, técnico?.

- Estou terminando, senhor. Aqui está, senhor. Quarenta e um milhões, novecentos e trinta e sete mil, trezentos e oitenta e dois. Ele mostrou o resultado rabiscado no papel..

O general Weider sorriu amargamente. Ele pressionou o botão de multiplicação do seu computador e deixou os números rodopiarem até parar. Então ele olhou o resultado e gritou surpreso. - Grande Galáxia, esse cara está certo..

O Presidente da Federação Terrestre tinha adquirido uma expressão macilenta devido à longa permanência nos escritórios; nas audiências, ele permitia que uma expressão vagamente melancólica tomasse conta de suas feições. A guerra denebiana, depois de um breve começo de grande agitação e muita popularidade, tinha se restringido a uma sórdida questão de manobras e contramanobras, com o descontentamento crescendo continuamente na Terra. Provavelmente também estava crescendo em Deneb..

E agora, o deputado Brant, líder do importante Comitê de Apropriações Militares, estava alegre e entusiasmadamente desperdiçando a sua audiência falando barbaridades..

- Calcular sem um computador - disse o presidente, impaciente - é absolutamente impossível..

- Calcular - disse o deputado - é apenas um sistema de manipulação de dados. Uma máquina pode fazer isso, da mesma forma que a mente humana. Deixe-me dar-lhe um exemplo. E, usando as novas habilidades que tinha aprendido, desenvolveu somas e produtos até que o presidente, a despeito de sua desconfiança, se mostrou interessado. - Isso sempre funciona?.

- Sempre, Sr. Presidente. É infalível..

- É difícil de aprender?.

- Passei uma semana até pegar o macete. Acho que o senhor precisaria de menos tempo..

- Isso é um joguinho interessante - disse o presidente, depois de pensar um pouco. - Mas qual a sua utilidade?.

- Qual a utilidade de um bebê recém-nascido, Sr. Presidente? Por enquanto, não tem nenhuma utilidade, mas o senhor não vê, isso aponta o caminho que libertará a máquina. Pense bem Sr. Presidente. - O deputado se levantou e sua voz profunda automaticamente assumiu algumas das entonações que usava nos debates. - A guerra denebiana é uma guerra de computador contra computador. Os computadores deles produzem um escudo impenetrável de contramísseis contra os nossos mísseis, assim como os nossos fazem contra os deles. Quando modernizamos nossos computadores, eles também modernizam os deles, e há cinco anos existe um equilíbrio precário e inútil..

Agora temos em nossas mãos um método para ir além do computador, pular por sobre ele, ultrapassá-lo. Combinaremos a mecânica do computador com o pensamento humano; teremos o equivalente aos computadores inteligentes; bilhões deles. Não posso prever detalhadamente quais serão as conseqüências, mas elas serão incalculáveis. E, caso os denebianos se antecipem a nós nesse aspecto... o resultado pode ser uma catástrofe..

- O que podemos fazer? - disse o presidente, preocupado..

- Colocar o poder da administração em favor de um projeto secreto de computação humana. Chame-o de Projeto Número, se quiser. Posso me responsabilizar pelo meu comitê, mas vou precisar do apoio da administração..

- Mas até onde a computação humana pode ir?.

- Não há limites. De acordo com o programador Shuman, que me apresentou essa descoberta.…

- Já ouvi falar de Shuman, é claro..

- Sim. Bom, o Dr. Shuman me disse que, teoricamente, não há nada que um computador faça que não possa ser feito pela mente humana. O computador apenas processa um número finito de dados e opera um número finito de operações a partir deles. A mente humana pode reproduzir esse processo..

O presidente pensou um pouco..

- Se Shuman diz isso, estou inclinado a acreditar nele... em teoria. Mas, na prática, como alguém pode saber como um computador funciona?

Brant sorriu cordialmente..

- Sr. Presidente, eu fiz a mesma pergunta. Ao que parece, houve uma época em que os computadores eram projetados diretamente pelos seres humanos. Eram computadores simples; antecederam a época em que o uso racional dos computadores fez com que eles projetassem computadores mais avançados.

- Sim, sim. Continue.

- Aparentemente, o técnico Aub conseguiu, por puro lazer, reconstituir alguns desses velhos esquemas, estudou os detalhes do seu funcionamento e descobriu que podia copiá-lo. A multiplicação que acabei de fazer para o senhor é uma imitação do funcionamento de um computador.

- Surpreendente!

O deputado tossiu educadamente.

- Se posso fazer mais uma observação, Sr. Presidente... quanto mais pudermos desenvolver essa coisa, mais poderemos desviar nosso esforço federal da produção de computadores e de sua manutenção. Assim que o cérebro humano assumir o poder, nossas melhores energias poderão ser canalizadas para procurar a paz, e a influência da guerra nos homens comuns será menor. Isso será mais vantajoso para o partido no poder, é claro.

- Ah - disse o presidente. - Entendo o que você quer dizer. Bem, sente-se, deputado, sente-se. Preciso de algum tempo para pensar. Enquanto isso mostre-me esse truque da multiplicação de novo. Deixe ver se eu consigo pegar o macete. O programador Shuman não tentou apressar o assunto. Loesser era conservador, muito conservador, e gostava de lidar com os computadores da mesma forma como seu pai e seu avo. Mesmo assim, ele controlava o monopólio de computadores do oeste europeu; se conseguisse entusiasmá-lo com o Projeto Número, um passo muito grande seria dado.

Mas Loesser continuava com um pé atrás

- Não sei se gosto da idéia de afrouxarmos as nossas rédeas sobre os computadores. A mente humana é uma coisa caprichosa. O computador sempre nos dará a mesma resposta para o mesmo problema. Qual a garantia que temos de que com a mente humana será assim?

- A mente humana, Loesser, apenas manipula os fatos. Não importa se a mente humana ou a máquina faz isso. Elas são apenas instrumentos.

- Sim, sim. Acompanhei sua engenhosa demonstração de que a mente humana pode imitar o computador, mas isso me parece um pouco vago. Aceito a teoria, mas que razão n6s temos para achar que a teoria será confirmada na prática?

- Acho que temos uma razão, senhor. Afinal de contas, os computadores não existiram sempre. O homem das cavernas, com suas trirremes, machados de pedra e estradas de ferro, não tinha computadores .

- E provavelmente não sabia calcular.

- Você sabe muito bem que sim. Até a construção de uma estrada de ferro ou de um zigurate requeria algum tipo de cálculo, e, como nós sabemos, isso foi feito sem computadores.

- Você está sugerindo que eles calculavam da mesma maneira que você me mostrou?

- Provavelmente não. Afinal de contas, esse método, que, a propósito, chamamos de "grafítico", da velha palavra européia graphos, que quer dizer "escrita"... esse método foi desenvolvido a partir dos próprios computadores, portanto não pode ter sido usado pelos primitivos. Ainda assim, o homem das cavernas deve ter tido algum método, não?

- Artes perdidas! Se você está falando de artes perdidas…

- Não, não é isso. Não sou um entusiasta das artes perdidas, embora não afirme que não exista nenhuma. Afinal, o homem comia cereais antes de aprender a fazer culturas hidropônicas, e se os primitivos comiam cereais, eles deviam cultivá-los no solo. De que outra forma poderiam ter conseguido?

- Não sei, mas só acreditarei em terra cultivada quando vir algum grão crescer no chão. Também só acreditarei que se faz fogo esfregando uma pedra na outra no dia em que me mostrarem que isso é possível.

Shuman tentou ser conciliador.

- Bem, vamos nos ater aos graníticos. Isto tudo faz parte do processo de eterificação. O transporte por meio de pesados equipamentos está sendo substituído por transferência direta de massa. Os instrumentos de comunicação se tornam cada vez mais leves e mais eficientes. Por causa disso, compare seu computador de bolso com aquelas engenhocas pesadas de mil anos atrás. Então, por que não dar também o Ultimo e definitivo passo, e abolir os computadores? Vamos, senhor, o Projeto Número é inevitável; ele está progredindo rapidamente. Mas queremos sua ajuda. Se o patriotismo não for suficiente para engajá-lo, pense na aventura intelectual que está em jogo.

- Que progresso? - disse Loesser com ceticismo. - O que você pode fazer além de multiplicar? Pode integrar uma operação transcendental?

- Dentro em breve, senhor, Dentro em breve. No mês passado, aprendi a dividir. Posso determinar, e corretamente, quocientes inteiros e quocientes decimais.

- Quocientes decimais? De quantas casas?

O programador Shuman tentou manter um tom natural.

- Qualquer número!

Loesser ficou de queixo caído.

- Sem um computador?

- Faça um problema.

- Divida vinte e sete por treze. Em seis casas.

Cinco minutos depois, Shuman disse:

- Dois, vírgula, zero sete meia nove dois três.

Loesser conferiu.

- Isso é realmente fantástico. A multiplicação não me impressionou muito porque, afinal, isso envolvia números inteiros e acho que uma hábil manipulação pode conseguir isso. Mas decimais...

- E isso não é tudo. Há uma nova pesquisa em curso que até agora é ultra-secreta e que, falando sinceramente, não posso revelar. Mesmo assim... estamos perto de aprender a fazer uma raiz quadrada.

- Raiz quadrada?

- Ainda tem algumas coisas pendentes e não conseguimos acertar na mosca, mas o técnico Aub, o homem que inventou essa ciência e que tem uma incrível sensibilidade para a coisa, assegura que está prestes a resolver o problema. E ele é apenas um técnico. Um homem como o senhor, um matemático talentoso e tarimbado, não encontraria tanta dificuldade.

- Raiz quadrada - resmungou Loesser, encantado.

- Raiz cúbica também. E então? Está conosco?

Loesser levantou a mão rapidamente.

- Pode contar comigo.

O general Weider marchava de um lado para o outro da sala e se dirigia aos ouvintes à sua frente como se fosse um professor ranzinza diante de uma turma de estudantes indóceis. Pouco lhe importava se eram os cientistas civis que coordenavam o Projeto Número. O general era um líder em todos os lugares e assim se comportava em todos os momentos de sua vida.

- Nenhum problema com as raízes quadradas, então - disse ele. - Eu mesmo não sei como fazê-las, mas já estão concluídas. Mesmo assim, não vamos interromper o projeto só porque já solucionamos os problemas que alguns de vocês consideram essenciais. Vocês podem fazer o que quiserem com os grafíticos depois que a guerra acabar, mas, nesse exato momento, temos problemas específicos que precisam ser solucionados.

Num canto distante, o técnico Aub ouvia aflito. É claro que há muito tempo deixara de ser um técnico, tendo sido dispensado de suas tarefas e convocado a participar do projeto, com um título pomposo e um ótimo salário. Mas é claro que as diferenças sociais permaneciam e os líderes científicos, altamente classificados, jamais o aceitariam em seu meio ou o tratariam em pé de igualdade.

E Aub tampouco desejava isso. Sentia-se tão incomodado entre eles como eles se sentiam incomodados na sua presença.

- Nós só temos uma meta, cavalheiros - estava dizendo o general. - Substituir os computadores. Uma nave que possa viajar pelo espaço sem um computador a bordo pode ser construída em um quinto de tempo e por um décimo dos custos de uma nave computadorizada. Poderíamos ter frotas especiais cinco ou dez vezes maiores do que as de Deneb se eliminássemos os computadores. E até vejo mais além disso. Talvez agora pareça loucura ou um simples sonho. Mas no futuro eu posso ver mísseis tripulados .

Houve um instantâneo murmúrio por parte da platéia.

O general prosseguiu:

- No momento, nosso problema principal é que a inteligência dos mísseis é limitada. O computador que os controla não pode alterar o rumo programado e, por essa razão, eles sempre acabam sendo detidos por antimísseis. Poucos mísseis, se é que algum consegue chegar a seu objetivo, e a guerra de mísseis está prestes a acabar; felizmente, tanto para o inimigo, como para nós.
Por outro lado, um míssil com um ou dois homens dentro, controlando o vôo com graníticos, seria mais leve, mais ágil e mais inteligente. Isso nos daria uma vantagem que pode significar a vitória. Além disso, cavalheiros, as necessidades da guerra nos obrigam a lembrar de uma coisa. Um homem é mais descartável do que um computador. Mísseis tripulados podem ser lançados em maior número e sob circunstâncias que nenhum general empreenderia se usasse mísseis computadorizados.

Ele discorreu sobre muito mais coisas, mas o técnico Aub não esperou. O técnico Aub, na intimidade dos seus aposentos, elaborou cuidadosamente sua carta de despedida. Ela dizia o que se segue: "Quando comecei a estudar o que agora chamam de graníticos, isso não passava de um passatempo. Nada mais do que um agradável passatempo, um exercício para a cabeça.

Quando o Projeto Número começou, achava que as pessoas fossem mais esclarecidas do que eu e que os graníticos poderiam ser usados para ajudar a humanidade, apoiando a modernização dos instrumentos necessários à transferência de massas. Mas agora vejo que ele só será usado para a morte e a destruição.

Não posso suportar a responsabilidade de ter inventado os grafíticos.

Depois, virou contra si o foco do despolarizador de proteínas e morreu instantaneamente.
Eles se reuniram em torno do túmulo do pequeno técnico para prestar-lhe honra por sua notável descoberta.

O programador Shuman fez uma reverência com a cabeça, junto com os outros, mas continuou imóvel. O técnico tinha dado sua contribuição e não era mais necessário. Ele podia ter começado os graníticos, mas agora que o projeto já estava em andamento, iria se desenvolver automaticamente até triunfar, tornando os mísseis tripulados uma realidade, juntamente com tantas outras coisas.

Nove vezes sete, pensou Shuman com orgulho, sessenta e três. Não precisava mais que um computador lhe dissesse isso. Sua própria cabeça era um computador. E isso lhe dava uma fantástica sensação de poder.

Fonte:
ASIMOV, Isaac. Sonhos de Robô. Rio de Janeiro, Ed. Record, 1991. p. 320/330
http://sobral.tripod.com/poder/poder.html

Isaac Asimov (Alguns de Seus Livros)

Eu, Robô – O Livro e o Filme

O Livro foi lançado em 1950.
O Filme estreou em 2004.

Em um cenário futurista surge o detetive Del Spooner (Will Smith) e logo percebemos que algo o incomoda no ambiente que o envolve: robôs dividem espaços com seres humanos nas ruas daquela cidade, se encarregando das chamadas tarefas mais pesadas do dia a dia social - são lixeiros, entregadores, trabalhadores domésticos.

Spooner é um policial atormentado por um trauma recente que amplifica sua desconfiança em relação aos robôs. Para ele, a qualquer momento uma dessas máquinas irá comprovar sua tese de que não se pode confiar em robôs. Para todas as outras pessoas, essa é uma tese paranóica, já que todos os humanóides (robôs com forma similar à humana) saem das linhas de produção da poderosa companhia U.S. Robots programados com as três leis da robótica:

Este é o código criado pelo cientista Alfred Lanning (James Cromwell) que, segundo a garantia da U.S. Robots e a crença geral da população, determina total proteção contra a famosa "síndrome de Frankenstein", pela qual a criatura tende a voltar-se contra seu criador.

É nesse ambiente que se passa Eu, Robô, superprodução dos estúdios da Fox norte-americana inspirada em um livro de contos homônimo do escritor russo-americano Isaac Asimov (1920-1992, criador original das chamadas leis da robótica) que chega às telas brasileiras nesta quinta-feira, 5 de agosto. O filme explora as possíveis contradições que podem subverter a razão das leis da robótica e que permitam que os robôs venham a se transformar em uma ameaça à humanidade.

Eu, Robô - dirigido por Alex Proyas (de Cidade das Sombras e O Corvo) - trabalha seu roteiro passando da discussão filosófica sobre a possibilidade de o ser humano criar uma máquina que possa desenvolver inteligência suficiente para tornar-se completamente autônoma para a ação policial tão cara à produções cinematográficas de Hollywood.

A trama (desde sua origem, nos contos de Asimov, e também no próprio roteiro do filme, de Jeff Vintar e Akiva Goldsman) traz elementos que são referências de histórias que alimentam o universo da cultura ocidental como: Frankenstein (a criatura que se volta contra o criador) e Pinóquio (a criatura que quer ser gente) na literatura; Blade Runner (a luta pela sobrevivência dos andróides e a procura por seu criador), 2001 - Uma Odisséia no Espaço (a máquina que assume o controle em lugar do homem) e Inteligência Artificial (a humanização de um andróide), no cinema; e outras até mais prosaicas, como a série de TV Ciborg (que retrata o implante de próteses biônicas em um ser humano) e o desenho animado Os Jetsons (quem não se recorda da arrumadeira da família, com seu corpo de metal vestindo avental e touca de doméstica?).

Evidente que como toda boa superprodução dos Estados Unidos, um herói (Spooner) - que em um primeiro momento é considerado um outsider - vai se defrontar com dramas provocados pelo inesperado (não para ele), onde o desenvolvimento da inteligência artificial foge ao controle do criador, a ponto de essa "consciência eletrônica" poder reinterpretar da forma que lhe parece mais adequada as regras estabelecidas nas leis da robótica.

Os efeitos especiais são um capítulo à parte. Mas como a excelência nesta área vem estabelecendo novos parâmetros a cada produção desde o primeiro episódio da série Matrix, esses efeitos acabam sendo diluídos na trama de forma a serem praticamente acessórios. É claro que sem o uso desses efeitos, a trama pareceria muito menos verossímil. Vale lembrar ainda que o robô que se torna centro da trama, Sonny, é representado pelo ator Alan Tudyk, sobre cuja atuação é montada uma "maquiagem eletrônica" para que o exemplar se encaixe no desenho padrão dos modelos NS-5 (Assistente Doméstico Automático) produzidos pela U.S. Robots.

Durante a trama, é interessante observar a evolução de Sonny, um robô "único", desenhado e criado pelo doutor Alfred Lanning - principal pesquisador e um dos fundadores da U.S. Robots - para ser especial. Ele demonstra emoções, sentimentos e tem a capacidade especial de sonhar (capacidade que vai até se transformar em um dom premonitório, como se verá ao final do filme).

ROBBIE
Destaques para Robbie, publicado originalmente com o título "Strange Playfellow", a primeira história sobre robôs escrita por Asimov, na qual as Três Leis da Robótica são explicitamente apresentadas pela primeira vez.

– George, eu disse! Quer largar esse jornal e olhar para mim?
O jornal caiu ao chão e Weston virou o rosto cansado para fitar a mulher.
– O que é, querida?
– Você sabe o que é, George. Trata-se de Glória e daquela máquina terrível.
– Que máquina terrível?
– Ora, não finja que não sabe de que estou falando. É aquele robô que Glória chama de Robbie. Ele não a deixa por um só instante.
– Bem, por que haveria de deixar? Não deve deixá-la. E, certamente, não é uma máquina terrível. É o melhor robô que se pode comprar e pode ter absoluta certeza de que me custou meio ano de ordenado. Valeu a pena, porém; ele é muito mais inteligente do que a metade de meus empregados do escritório.
Fez menção de pegar novamente o jornal, mas sua esposa foi mais rápida, apanhando-o primeiro. – Escute, George. Não admito que minha filha seja entregue a uma máquina... e não me interessa o quanto ela seja inteligente. Não tem alma. Ninguém sabe o que pode estar pensando. Uma criança não foi feita para ser guardada por um objeto de metal.
Weston franziu a testa.
– Desde quando você decidiu isso? Há dois anos que ele está com Glória e só agora você se preocupa.
– No início, era diferente. Uma novidade; tirava-me uma carga dos ombros e... era uma coisa elegante. Mas agora, não sei... Os vizinhos...
– Ora, o que têm os vizinhos a ver com o assunto? Ouça: pode-se ter infinitamente mais confiança em um robô do que em uma ama-seca humana. Na realidade Robbie foi construído exclusivamente com uma finalidade: fazer companhia a uma criança pequena. Toda a sua “mentalidade” foi criada com esse único objetivo. Ele não pode deixar de ser fiel, carinhoso e bom. É uma máquina – feita assim. O que é bem mais do que pode dizer a respeito dos seres humanos.
– Mas poderia acontecer algo errado. Algum... algum... – a Sra. Weston era um tanto ignorante a respeito dos órgãos internos de um robô – ... alguma pecinha poderá soltar-se e aquela coisa horrível ficar maluca e... e...
Interrompeu-se, não conseguindo dizer em voz alta um pensamento tão óbvio.
– Tolice – negou Weston, com um involuntário estremecimento nervoso. –Isso é completamente ridículo. Na época em que compramos Robbie, tivemos uma longa conversa sobre a Primeira Lei da Robótica. Você sabe que é impossível a um robô fazer mal a um ser humano; que muito antes de acontecer o bastante para alterar a Primeira Lei, o robô se tornaria completamente inoperante. Trata-se de uma impossibilidade matemática. Além disso, eu chamo um engenheiro da U.S. Robôs duas vezes por ano e ele faz uma revisão completa no pobre aparelho. Ora, não há maior possibilidade de acontecer algo errado com Robbie do que eu ou você ficarmos birutas de uma hora para outra. Na verdade, as probabilidades são consideravelmente menores, e além disso, como é que você vai tirá-lo de Glória?
Fez um novo gesto inútil para apoderar-se do jornal, mas a mulher atirou raivosamente o Times para a outra sala.
– É justamente isso, George! Ela não brinca com mais ninguém. Há dúzias de meninos e meninas com quem poderia fazer amizade, mas ela se recusa. Nem mesmo chega perto deles, a menos que eu a obrigue. Uma menina não deve crescer assim. Você quer que ela seja normal, não quer? Quer que ela seja capaz de representar o seu papel na sociedade.
– Você está com medo de fantasma, Grace. Finja que Robbie é um cachorro. Já vi centenas de crianças que gostam mais de um cachorro do que do próprio pai.
– Um cachorro é diferente, George. Precisamos livrar-nos daquela coisa horrível! Você pode vendê-lo de volta à companhia. Já indaguei a respeito e sei que pode.
– Indagou? Ora, escute aqui, Grace, não vamos bancar idiotas. Ficaremos com o robô até Glória crescer um pouco mais, e não quero que se volte a tocar no assunto.
E saiu da sala, amuado.
O Homem Bicentenário
Lançamento 1976

Isaac Asimov considera esta novela a melhor história de robô que ele escreveu até hoje e "comparável aos meus maiores êxitos em qualquer outro gênero literário". Os críticos também concordam com esta opinião. Destinada a figurar em uma antologia que publicou em 1976 para festejar o segundo século da independência dos Estados Unidos, Asimov partiu do título para, aos poucos, criar os pormenores da trama. Estava combinado para 7.500 palavras, mas o autor se deixou empolgar e acabou tendo o dobro. O homem bicentenário, de forma premonitória, toca em problemas que certamente já se colocam nos altos escalões da pesquisa científica. Aqui, Andrew, o robô perfeito, extremamente inteligente, angustiantemente persegue as fragilidades humanas e se torna personagem desta que é uma obra-prima da ficção científica.

Despertar dos Deuses
Lançamento 1972

Que peripécias viverá a humanidade no futuro? Num mundo que sobreviveu a tremenda crise ecológica e que tem fome de energia? Quais os problemas que enfrentará? Do contato da Terra com um desconhecido Universo paralelo surgem terríveis enigmas imprevistos. Como evitar a catástrofe, que virá com a subversão das leis da natureza, se, contra a estupidez humana, os próprios deuses disputam em vão?

Da Terra, à beira da tragédia, somos levados por Isaac Asimov ao estranho e misterioso Universo paralelo, onde seres dotados de inteligência se conduzem de acordo com um padrão de vida completamente estranho ao nosso. E dali somos transferidos ao mundo Selenita, com a sua colônia humana já estabelecida e já desenvolvendo novas formas de convivência social. A essas situações fascinantes se acrescenta a emoção das paixões conflitantes de personagens inesquecíveis desenhados com invulgar maestria literária. Protagonistas de episódios cuja sucessão alucinante não esconde uma meditação profunda, em verdade projetada no futuro a partir da experiência crucial de nossa era.

Fim da Eternidade
Lançamento 1955

Qual seria a nossa atitude se descobríssemos que nossa individualidade como seres humanos poderia ser totalmente anulada por um sistema social maior, dominado pela máquina? E qual seria a atitude sensata e válida a ser tomada se tivéssemos que escolher entre a nossa existência, tal como a desejamos, e a continuidade do mundo de que dependemos, mas que é contrário às nossas aspirações?

Eternidade é uma organização dedicada a cuidar da humanidade, que se move em um tempo paralelo, medindo o tempo em séculos, pulando de um século a outro, entrando e saindo de nosso tempo real, para efetuar microtrocas (TMN: Troca Mínima Necessária, que provoca o RMD: Resultado Máximo Desejado) que suavizem o curso dos acontecimentos e criem o bem total. O processamento de pequenas mudanças no Tempo era a forma ideal de se recuperar o equilíbrio perdido.

Para isso escolhe-se uma das infinitas realidades possíveis, e faz-se os ajustes para que esta produza, mas a escolha do consenso sempre é uma escolha que elimina o extraordinário, que cria proteção e segurança à espécie humana, etc..., e por sua vez elimina as genialidades que provocam saltos na ciência humana.

Eternidade se estende pelos séculos dos séculos de forma infinita, e há uma série de séculos, que vão do ano 70.000 ao 150.000.

Esta é uma das melhores novelas de Asimov. O protagonista é Andrew Harlan, um executor encarregado de realizar as trocas que modificarão a realidade.

Asimov nos descreve uma sociedade estruturada, encarregada de dirigir os destinos da humanidade, e uma força em desacordo com o sistema instaurado que pretende mudar definitivamente essa organização, eliminando a Eternidade.
Viagem Fantástica
Lançamento 1966

O Doutor Benes, científico especialista em miniaturização, vai ao lado ocidental. Resolve o Princípio da Incerteza, pelo que diz: “quanto mais se reduz um objeto, menos tempo se permanece”. Eles – é assim como chamam os Soviéticos –, atentam contra sua vida. Um carro lançado choca contra o carro de Benes; quando o transportam à base, provoca-lhe um coágulo no cérebro, e a única forma de eliminá-lo é desde dentro do cérebro. As Forças Dissuasórias de Miniaturização Combinada (FDMC) bolam um plano para salvá-lo. Miniaturizarão um submarino com cinco tripulantes, o introduzirão em sua corrente sangüínea através da artéria carótida, subirão ao cérebro, eliminarão o coágulo e serão extraídos depois – aparentemente muito simples.

A crítica internacional é unânime em considerar Viagem Fantástica uma das melhores novelas de ficção científica jamais escritas. A densidade da ação mantém um clima de suspense constante e, pela primeira vez, alguém concebeu uma viagem onde o ambiente é o corpo humano.

As possibilidades infinitas da ciência moderna e o clima de otimismo que cercam as constantes descobertas parecem ultrapassar todas as barreiras do possível.

Tripulação
Pete Lawrence Duval - neurocirurgião.
Cora Peterson - ajudante do Doutor Duval.
Max Michels - especialista em circulação sanguínea e cartógrafo da nave.
Capitão Wiliam Owens - piloto do submarino.
Charlie Grant - agente do serviço secreto, herói e chefe da expedição.

Enigmas dos Viúvos Negros
Lançamento 1990

Enigmas dos Viúvos Negros é uma coletânea de doze histórias de mistério, escrita por Isaac Asimov, sobre as aventuras pelos caminhos do raciocínio de sete intelectuais, que formam o Clube dos Viúvos Negros. Uma vez por mês esses aventureiros cerebrais se encontram para jantar, conversar e solucionar enigmas, tudo isso regado a bons vinhos, no Restaurante Milano, onde são sempre servidos por Henry, cuja habilidade vai bem além da de um mero garçom.

Os Viúvos Negros recebem um convidado em cada um desses jantares que, depois da refeição, é submetido a uma bateria de perguntas sobre o modo como justifica sua existência. Mas o convidado quase sempre está enfrentando algum tipo de dificuldade, ou tem um problema que não consegue resolver, ou ainda está envolvido num mistério.

Em Enigmas dos Viúvos Negros, traições, desaparecimentos e mistérios são o prato principal de cada novo jantar.
Nêmesis
Lançamento 1989

Nêmesis não faz parte do Ciclo de Trantor. É um livro que também trata da conquista do Universo, mas não tem nada à ver nem com o Império, nem com os Robôs.

O ano é 2236. A Terra e suas cem colônias espaciais estão superpovoadas, decadentes, ultrapassadas. À dois anos-luz de distância, escondida por uma nuvem de poeira, está Nêmesis, a estrela mais próxima do Sol, em torno da qual gira o planeta Megas, com o satélite natural Eritro e o artificial Rotor.
Quando Nêmesis foi descoberta, os rotorianos a consideraram como a última esperança da raça humana, ponto de partida para uma nova civilização. E foi sob a liderança do comissário Janus Pitt, homem de forte personalidade, que eles viajaram secretamente para o sistema nemético com o objetivo de fundar uma sociedade mais forte, mais pura e mais organizada que aquela que haviam deixado para trás.

Mas Marlene, uma jovem rotoriana dotada de uma incomum habilidade de interpretar, pelos indícios do corpo, as mais bem guardadas emoções humanas, descobre que a promissora estrela é, na verdade, uma terrível ameaça para a Terra. Pitt está a par de todo o segredo, mas se recusa a prevenir os terráqueos; e Marlene sabe que se não agir rápido, o desastre será inevitável.

O cair da noite
Lançamento 1969

No planeta Kalgash sempre é de dia. Seus seis sóis – Onos, Trey, Petru, Dovim, Tano e Shita – fazem com que o céu esteja sempre azul. Essa falta de escuridão provoca aos habitantes de Kalgash a Síndrome da Escuridão, pânico de não ter luz.

Os protagonistas da história são Siferra 89, uma arqueóloga da Universidade de Saro, que descobre debaixo das ruínas do que se supõe ser um assentamento antigo, restos de cidades; Beenay 25, astrônomo que descobre um erro na Teoria da Gravitação Universal de Athor 77, seu mestre, já que os sóis não seguem as órbitas previstas. Talvez por haver um sétimo Sol?

Mondior 71, sumo sacerdote e Folum 66, sua voz, líderes dos Apóstolos da Chama, predizem que depois de um Ano de Graça, 2049 anos de Kalgash, os deuses comprovarão a bondade da humanidade, e se não passarem na prova, destruirão a Terra, enviando Chamas Celestiais. Segundo o Livro das Revelações, isso acontecerá logo; concretamente em 19 de theptar. Thermon 762 é um periodista do diário Crônica que investigará a notícia do Fim do Mundo. Mas, o que aconteceria se a Escuridão chegasse a Kalgash?
Fundação
Lançamento 1975

A trilogia Fundação mostra a evolução de uma crise histórica num imenso Império Galáctico humano. O homem povoa os planetas da Galáxia, a capital localizada em Trantor, centro de todas as intrigas, símbolo da decadência imperial. Graças à psicohistória, uma ciência que estuda os fatos históricos à luz da matemática, Hari Seldon prevê o desaparecimento do Império e o retorno à barbárie. Tem então a idéia de criar duas Fundações situadas em cada extremo da Galáxia, para reduzir o tempo de barbárie a um milênio.

Seldon acaba sendo detido e julgado como traidor, entretanto consegue convencer seus juízes de que deseja apenas preservar o saber do Império através de uma fundação enciclopédica. A partir de então começa a trama real da história que se entrelaça de tal forma que prende o leitor até suas últimas páginas.

Fundação, talvez um dos livros mais conhecidos da ficção científica, está formado realmente por cinco histórias, que narram o início da andadura do planeta Terminus, onde se inicia o projeto da Fundação para acordar o período de barbárie, que continuará com a queda do Primeiro Império Galáctico.

1º : Os psicohistoriadores

A chegada de Gaal Dornick a Trantor, matemático convidado por Hari Seldon para colaborar no projeto da psicohistória, permite explicar a Asimov o projeto da Fundação, como o estabelecimento de uma Fundação em um planeta distante permitirá reduzir o período de anarquia entre a queda inevitável do Primeiro Império e a chegada do Segundo Império.

2º: Os enciclopedistas

Estabelecidos já em Terminus, e transcorridos 50 anos, os membros do projeto Fundação chegam à primeira crise de Seldon. As crises poderiam definir-se como momentos de tensão, por motivos internos ou externos, que habitualmente exigem uma mudança ou uma ação. Além disso, toda crise tem um prego para sustentá-la e levar a Fundação na direção adequada. Aparece a figura de Salvor Hardin, um dos primeiros alcaides de Terminus, que encontra a solução para a crise.

3º: Os alcaides

Terminus estendeu sua influência mediante uma combinação de religião amparada baixo a superioridade científica. Anacreonte, um dos planetas mais próximos, tenta dominar Terminus, ou seja, é uma crise exterior resolvida pelo alcaide Salvor Hardin.

4º: Os comerciantes

A Fundação continua estendendo-se pela Galáxia, com uma combinação de comércio e religião, mas começam a surgir as dificuldades. Assim requere-se uma nova mudança, que como todas as mudanças produz resistência.

5º: Os príncipes comerciantes

A influência de Terminus foi aumentando. Começa a abandonar-se a religião, e o comércio é o meio de conseguir o poder e dominar o resto do Universo.

Segunda Fundação

Formada por dois relatos. Com personagens diferentes, ambas se centralizam no mesmo: a busca da Segunda Fundação para sua eliminação.

O Mulo inicia a busca

O Mulo convertido no Primeiro Cidadão da União de Mundos não abandonou sua intenção inicial de localizar a Segunda Fundação; estendeu rapidamente seu domínio pela Galáxia, mas continua temendo a única força que realmente pode vencê-lo: a Segunda Fundação. Aqui nos relatam o encontro entre essas duas forças.

A busca da Fundação

O Mulo envelheceu e morreu. Voltaram ao poder os governantes da Primeira Fundação, encontrando-se com um Império maior, mas a Primeira Fundação não abandonou seu plano de localizar e destruir a Segunda Fundação. Por outro lado, a subida ao poder do Mulo demonstrou que a Fundação não é invencível e Kalgan declara-lhes guerra.

Fundação II
Lançamento 1982

A Primeira Fundação conservou e depois propagou as ciências físicas; a outra, a Segunda Fundação, oculta aos olhos de todos – secreta mesmo –, controlava cada vez mais o desenvolvimento psicohistórico da Galáxia, rumo ao Segundo Império, com o auxílio do domínio da mente – a ciência mental. Mas a psicohistória é uma ciência estatística – e a margem de erro acabou aparecendo.

Um mutante, o Mulo, surgiu do nada, com poderes mentais numa Galáxia que não os tinha, exceto pela clandestina Segunda Fundação. Os exércitos desistiam de combatê-lo e se tornavam submissos.

A Primeira Fundação, que aos poucos ia substituindo e reconstruindo o Império, foi desbaratada. O Plano de Seldon voltou a ser apenas um sonho teórico. Por uma mulher, Bayta Darell e pela Segunda Fundação, o Mulo foi detido. Mas, com este movimento, a Primeira Fundação descobriu a existência da Segunda, e seus membros, fortemente independentes, imperialistas e individualistas, não querem uma Galáxia controlada por marioneteiros telepáticos; destruíram tudo que puderam descobrir da Segunda Fundação. Passados quase 500 anos depois do estabelecimento da Primeira Fundação, parece que nada a impedirá de fundar o Segundo Império Galáctico... Nada?
A Fundação e a Terra
Lançamento 1986

Golan Trevize, Conselheiro da Primeira Fundação, vê-se diante de uma tarefa assustadora: decidir qual será o futuro da Galáxia. Rejeitando a possibilidade de um Império Galáctico baseado na tecnologia da Primeira Fundação e também a de um Império baseado nos poderes mentais da Segunda Fundação, Trevize escolhe Gaia. O planeta Gaia é um super organismo, um aglomerado de seres que encontra sua força na unidade mental. Se toda a Humanidade se fundir com Gaia, o resultado será um supra-superorganismo dedicado ao bem comum, uma entidade que Trevize chama de Galáxia Viva.

Qual, porém, a razão pela qual Trevize foi levado a optar por Gaia em vez de uma das Fundações? Estará relacionada de alguma forma à história do planeta de origem da raça humana, que os antigos chamavam de Terra? Trevize não descansará enquanto não conhecer a resposta. Descobrindo que todas as informações a respeito da Terra desapareceram misteriosamente da Biblioteca Galáctica de Trantor, parte de Gaia em busca do planeta "perdido". Enquanto ele e seus companheiros, o historiador Janov Pelorat e a linda mulher de Gaia, chamada Bliss, viajam de planeta em planeta, enfrentam uma odisséia da qual depende o destino do Império... e da própria Humanidade.

Prelúdio da Fundação
Lançamento 1988

O ano é 12.020 da Era Galáctica e Cleon I ocupa o instável trono imperial em Trantor, capital do Império Galáctico. Quarenta bilhões de pessoas compõem uma civilização de imensa complexidade tecnológica e cultural, formando uma malha de relações tão intricadamente tecida que a retirada de um único fio pode desfazer toda essa estrutura complexa. O imperador está inquieto, pois sabe que há muitas pessoas interessadas em sua queda e que a única saída para continuar detendo o controle do Império está nas mãos de um jovem matemático...

Ao desembarcar em Trantor, o heliconiano Hari Seldon, protagonista da história, não tem a menor consciência das conspirações políticas em curso. Mas, ao apresentar na Convenção Decenal uma monografia sobre a psicohistória, sua notável teoria da previsão, ele sela seu destino e determina o futuro da humanidade. Tendo em mãos o poder profético tão ambicionado pelo imperador, o matemático se transforma de uma hora para a outra, no homem mais procurado do Império.

Seldon vê-se obrigado a fugir, e a lutar desesperadamente para evitar que sua teoria caia em mãos erradas, enquanto forja sua poderosa arma para o futuro: uma força que se tornará conhecida

Crônicas da Fundação
Lançamento 1993

Aos 21 anos, Isaac Asimov começou a escrever sua série da Fundação, sem ter ainda consciência de que aquela obra viria a ser considerada uma pedra angular da Ficção Científica. Quase cinco décadas se passaram até que ele viesse a concluir o brilhante épico. Crônicas da Fundação, escrito pouco antes de sua morte, é o último e inesquecível presente do mestre à sua legião de admiradores.

Em uma narrativa fascinante de perigo, intriga e suspense, Asimov relata a segunda metade da vida do herói Hari Seldon em sua luta para aperfeiçoar a revolucionária teoria da psicohistória e firmar o meio através do qual estaria assegurada a sobrevivência da humanidade: a Fundação. Afinal, ele e seu fiel bando de seguidores sabem que o poderoso Império Galáctico está se desmoronando e sua inevitável destruição irá devastar toda a Galáxia...

A Fundação e o Império
Este livro está formado por dois relatos; o primeiro nos apresenta as últimas coletâneas do Império, que, mesmo em decadência, mantém um poder formidável contra uma Fundação que começa a se estender pela Galáxia.

O General

Um general forte e inteligente tenta dominar os planetas que se separaram do Império, pondo Terminus contra eles. Por sorte contavam com "a mão morta de Seldon", que lhes ajuda a resolver a crise.
O mulo
Aqui o protagonista é um mutante com poderes mentais que permitem-lhe dominar mentes alheias. Ele consegue tomar o poder, um fato que não está previsto na psicohistória, que só pode prever mudanças sociais produzidas por massas humanas, e não atuações individuais. A crise prevista era de relação entre o centro e a periferia da Fundação.

O Mulo toma o poder em Terminus e, detectando um segundo poder mental, dedica-se a buscar a Segunda Fundação, que encarrega-se de velar pelo bom funcionamento do plano. Com um científico da Primeira Fundação – Ebiling Mis –, este descobre a situação da Segunda Fundação.

Poeira de Estrelas
Lançamento 1951

A narrativa inicia-se numa Terra ainda radioativa e insalubre. A época refere-se a um período primitivo da expansão do Império Galáctico, quando apenas 50 mundos constituem a sua unidade.
Em Poeira de Estrelas, Isaac Asimov se lança no fascinante e misterioso espaço cósmico, confundindo ficção e realidade futura, numa antecipação do que a era em que vivemos já denuncia para os cientistas e tecnólogos de hoje.

As correntes do Espaço
Lançamento 1952

A humanidade disseminou-se em alguns milhares de mundos habitáveis, formando-se pequenos reinados que lutam entre si. O planeta Florina, baixo o domínio de Sark, é um desses mundos, mas também tem um problema: seu Sol vai explodir e o único homem que sabe disso perdeu a memória.

Alguns habitantes de Florina trabalham para Sark recolhendo o Kirt, um “algodão” extremamente duro e resistente, usado para fins industriais ou para artículos de luxo. Isso converte Florina numa peça desejada também por Trantor, que evoluiu da República Trantoriana à Confederação Trantoriana e agora é o Império Trantoriano, e está próximo de formar o Império Galáctico.

Florina vem a ser o único lugar onde se obtém o Kirt, pois não se consegue duplicar sua qualidade em nenhum outro planeta, por isso suportam-se certos abusos por parte de Sark, a fim de garantir o comércio.

Os robôs
Lançamento 1957

O planeta Solaria poderia eliminar a Terra e transformá-la em duas partes iguais, e provavelmente o faria. Solaria era poderosa e ávida de poder.

Mais de duzentos anos se passaram para que desenvolvesse a arma derradeira - um maciço exército de robôs que poderia destruir a Terra e governar o Universo em questão de dias. Mas, em vista dos fatos, isto teria que esperar.

Um dos mais eminentes cientistas de Solaria foi encontrado brutalmente assassinado e só um Terrestre, Elijah Baley, poderia desvendar o desconcertante e sombrio mistério. E assim, mesmo contrariados, os Solarianos pediram o auxílio de um Terrestre.

Os Robôs do Amanhecer
Lançamento 1983

O protagonista é Elijah Baley. No planeta do amanhecer, robôs e seres humanos coexistem pacificamente até que o robô Jander é “assassinado”, ou melhor, desativado, em Aurora. Jander era um andróide, um robô de formas humanas - uma das mais sofisticadas e avançadas manifestações de inteligência artificial jamais concebidas.

Só um homem no planeta teria os meios, o motivo e a oportunidade de cometer o crime: Hans Fastolfe.

Hans contrata Elijah Baley para provar que ele não é o criminoso, o que faz Elijah ir ao Planeta Aurora.
A importância dessa inocência, é que o professor Fastolfe defende a liberdade de todos os humanos, para estender-se pela Galáxia, frente à oposição do doutor Kelden Amadiro, que quer que só os Espaciais possam conquistar o Universo e impedir que os terrestres saiam da Terra.

Armado unicamente de seu instinto, sua às vezes estranha lógica e as três imutáveis Leis da Robótica, Baley dispõe-se a revelar o mistério...
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Fontes:
Império de Isaac Asimov. Disponível em
http://www.universia.com.br/materia/materia.jsp?materia=4682

Império de Isaac Asimov. Disponível em http://anglopor8a09.vilabol.uol.%20com.br/index.htm

Isaac Asimov (Seus Personagens - Curiosidades)

Hari Seldon
Hari Seldon nasceu em Helicon, setor de Arturo, em 11988 do Império Galáctico - o mesmo ano que o imperador Cleon I - ou se preferirem em 79 antes da E.F. (Era Fundacional). Seu pai era um cultivador de tabaco em plantas hidropônicas; licenciou-se em Matemática, e em Helicon começa a desenhar a teoria da psicohistória. Podemos definir a psicohistória como o ramo da Matemática que se ocupa das reações de conglomerações humanas ante determinados estímulos sociais e econômicos.

No ano de 12020 chega a Trantor, onde expõe suas idéias no Congresso de Matemáticos, o que faz com que certas forças se fixem nele, e ele tem que fugir por Trantor, o que lhe ajuda a compreender a diversidade humana e que voltará com uma esposa, Dors Venabili; um filho, Raych; e um amigo, Yugo Amaryl, graças aos esforços do qual, se fixaram nas bases da psicohistória.

Tornou-se professor do Departamento de Matemática da Universidade de Streling, aonde chegou a diretor, e no ano 12028 foi nomeado Primeiro Ministro do Império, cargo que ocupou até o assassinato de Cleon I, em 12038, devido à uma conspiração.

Voltou à Universidade, onde pôde dedicar-se à psicohistória e à família, especialmente à sua neta Wanda, que demonstrou algumas qualidades excepcionais que permitiram a aceleração do projeto da Fundação, com o fim de que o período de barbárie, que transcorria entre a queda inevitável do Primeiro Império e a chegada do Segundo Império, diminuísse de 30.000 anos à somente 1.000 anos.

Nos últimos anos de sua vida percebeu claramente a decadência do Primeiro Império Galáctico, o que se fez eco, e ele acabou ficando conhecido como “corvo” Seldon.

Faleceu no ano 12069 em Trantor; sozinho, mas com a tranqüilidade de saber que tanto a Primeira Fundação, em Terminus, como a Segunda, no oposto extremo da galáxia, seguiriam seu caminho e facilitariam a chegada do Segundo Império.

U.S. Robôs

A U.S. Robôs é a companhia proprietária das patentes do cérebro positrônico, que permite a criação dos robôs positrônicos, o que, na prática, lhe dá um total monopólio na criação de robôs.

Se falarmos da U.S. Robôs temos que falar de Susan Calvin. Nascida nos Estados Unidos, não se casou nem teve filhos. Há quem diz que seus filhos eram seus robôs, especialmente Lenny. Durante toda a sua vida foi robopsicológa; começou muito jovem, sua primeira tese foi “Aspectos práticos da robótica”. Seu trabalho consistia em cuidar da parte psicológica dos cérebros positrônicos, e do funcionamento correto das Três Leis da Robótica. Dada a sua experiência, ocupou-se da maioria dos problemas que surgiam na operatividade dos robôs.

Defensora dos robôs, nos que via reflexadas todas as virtudes, era a teórica da U.S, assim como Mike Powell e George Donovan eram os comprovadores de campo, e os primeiros em viajar pelo espaço sideral. Conhecida por seu caráter frio, muitos achavam que amava mais os robôs do que os seus congêneres humanos.

Apesar de toda a sua apartação à ciência e a necessidade de robôs para a conquista espacial, a companhia criada por Robertson sempre teve o problema do desprezo pelos seres mecânicos.

Andrew Martin

A história de Andrew Martin é excepcional em muitos aspectos. Durante toda a sua vida ele procurou ser reconhecido como alguém comum. Começou sendo mordomo, depois artista, comprou sua liberdade e se dedicou à história dos robôs, sendo depois especialista neles.

Pleiteou durante décadas com o governo a fim de obter este reconhecimento, que obteve próximo a sua morte. Quando faleceu, mesmo que muitos dissessem que ele havia se suicidado, ele conseguiu morrer como um ser livre.

R. Daneel Olivaw

O Robô Daneel Olivaw teve uma longa existência. Criado pelo doutor Hans Fastolfe, no início da conquista espacial, trabalhou junto ao detetive de polícia Elijah Baley na solução de diversos casos, foi um ator determinante na emigração da humanidade ao espaço, e influenciou decisivamente em Baley para promover a segunda emigração ao espaço, até o ponto de um planeta ter o seu nome.

Graças a sua intuição e as capacidades mentais que o robô Giskard Reventlov transmitiu-lhe, pôde estabelecer a Lei Zero nas Três Leis da Robótica, o que permitiu-lhe interferir de forma ativa no curso da humanidade sem estar preso às Três Leis.

Chegou à Primeiro Ministro do Império, na época de Cleon I, conhecendo Hari Seldon, a quem ajudou e influenciou, para que desenvolvesse a psicohistória com uma finalidade prática, a fim de diminuir o tempo do caos da passagem do Primeiro ao Segundo Império.

Criou alternativas à caminho da Fundação, e foi para a Lua, a fim de influenciar o menos possível os acontecimentos, já que continuava afetado pelas Três Leis da Robótica. Os últimos dados de que se dispõe indicam que tinha mais de 20.000 anos.

OBRAS LEVADAS AO CINEMA E À TELEVISÃO

O homem bicentenário foi estreado em Dezembro de 1999. Baseado na novela O homem bicentenário, nos relata a vida de Andrew Martin, o robô que quer ser humano.

Em 1995 rodou-se na TV "The android affaire", baseado em uma história de Asimov e dirigido por Richard Kleter.

"O cair da noite" foi levado ao cinema em 1988 e dirigido por Paul Mayersberg, e o personagem de Aton está interpretado por David Birney. O cair da noite é uma das melhores novelas de Asimov, que transcorre em um planeta em que nunca se põe o Sol, a verdade é que ele tem cinco sóis. Baseado na novela "Bodas de aço", e titulada "Robôs", foi dirigida em 1988 por Doug Smith e Kim Takal, com Elijah Baley interpretado por Stephen Rowe e Brent Barrett no papel de R. Daneel.

"O pequeno menino feio", filho do tempo, titulado originalmente "O menino feio" foi produzido para a televisão em 1979.

"Mentiroso", um relato da série "Eu, robô", com o título "O robô mentiroso", foi produzido na Espanha em 1966, e dirigido por Antonio de Lara.

"As cavernas de Aço" foi dirigido para a TV em 1964, seguindo a novela "Bodas de Aço" com um bom elenco de atores.

"Eu, robô", foi levado ao cinema em 2004, tendo Will Smith ( como o Detetive Spooner) e Alan Tudyk (o robô Sonny).

Colaborações e atuações

Isaac Asimov também colaborou em outros filmes como assessor e roteirista. Em "Anos Luz" ocupou-se da revisão da tradução inglesa.

Uma de suas colaborações mais conhecidas foi em "Star Trek: O filme", com qualidade de consultor especial científico. Dirigida em 1979 por Robert Wise, e com William Shatner como Almirante e Capitão James T. Kirk e Leonard Nimoy no clássico papel de Comandante Spock.

Atuou em "O Magnífico Major" - de 1977 -, série de televisão dirigida por Nick de Noia, como artista convidado. Estreou o filme "Lance Preto", que tem certa inspiração na novela "O cair da noite".
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Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Isaac_Asimov
Império de Isaac Asimov. Disponível em
http://anglopor8a09.vilabol.uol. com.br/index.htm

quarta-feira, 12 de março de 2008

Edgar Allan Poe (1809 - 1849)

Este famoso escritor americano se celebrizou, no século XIX, por suas histórias mórbidas e fantásticas. Edgar Allan Poe nasceu em Boston, em 19 de janeiro de 1809, filho de pais atores,

Edgar Allan Poe nasceu no seio de uma família escocesa-irlandesa, filho do actor David Poe Jr., que abandonou a família em 1810, e da actriz Elizabeth Arnold Hopkins Poe, que morreu de tuberculose em 1811. As crianças foram recolhidas por pessoas da família e Edgar acabou encontrando abrigo na casa de um tio rico, Francis Allan e o seu marido John Allan, um mercador de tabaco bem sucedido de Richmond, que nunca o adotou legalmente, mas lhe deu o seu sobrenome (muitas vezes erroneamente escrito "Allen"). No entanto, as dificuldades do início da vida provocaram um permanente pessimismo e um espírito macabro que o acompanharam até sua morte.

Poe estudou na Inglaterra durante sua juventude, mas logo voltou aos Estados Unidos, onde frequentou as Universidades de Charlotteville e Virginia. Porém, não conseguiu se enquadrar nos rígidos padrões da época e acabou expulso da Universidade de Virginia. Por ter um espírito aventureiro e rebelde, foi para a Grécia lutar contra os turcos. Na sequência de desentendimentos com o seu padrasto, relacionados com as dívidas de jogo, Poe alistou-se nas forças armadas, sob o nome Edgar A. Perry, em 1827. Alistou-se no Batalhão de Artilharia e acabou conseguindo uma indicação para a Academia Militar de West Point. No entanto, nessa época, sua cabeça estava voltada para a poesia e após publicar o seu primeiro livro de poemas , Tamerlane and other poems, by a Bostonian decidiu abandonar a carreira militar. Em 1833, ganha o prêmio do jornal Philadelphia Saturday Visitor com o seu conto Manuscript found in a bottle. O diretor do jornal, com pena da miséria e da depressão em que o escritor vivia, consegue-lhe um emprego no Southern Literacy , onde ele fica pouco tempo pois se tornara num alcoólatra.

O casamento com sua prima Virgínia, de apenas13 anos, faz Edgar ficar mais confiante. Ele começa a trabalhar em diversos jornais em Nova Iorque e Filadélfia. Em 1837, Poe mudou-se para Nova Iorque, onde passaria quinze meses aparentemente improdutivos, antes de se mudar para Filadélfia, e pouco depois publicar The Narrative of Arthur Gordon Pym. No verão de 1839, tornou-se editor assistente da Burton's Gentleman's Magazine, onde publicou um grande número de artigos, histórias e críticas. Nesse mesmo ano, foi publicada, em dois volumes, a sua colecção Tales of the Grotesque and Arabesque (traduzido para o francês por Baudelaire como "Histoires Extraordinaires" e para o português como Histórias Extraodinárias), que, apesar do insucesso financeiro, é apontada como um marco da literatura norte-americana.

Em 1840, publica sua primeira coleção de contos, Tales of grotesque and arabesque e Os crimes da rua Morgue, apresentando a figura do detective Dupin, antecessor de Sherlock Holmes.

Durante este período, Virginia Clemm sofre de tuberculose, que a tornaria inválida e acabaria por levá-la à morte. A doença da mulher acabou por levar Poe ao consumo excessivo de álcool e, algum tempo depois, este deixou a Burton's Gentleman's Magazine para procurar um novo emprego. Regressou a Nova Iorque, onde trabalhou brevemente no Evening Mirror, antes de se tornar editor do Brodway Journal. Se relaciona com Frances Osgood, para tentar esquecer sua dor familiar. Em 1847, com a morte de sua mulher, Poe se afunda num estado de profundo desespero e passa a viver em constante embriaguez e abuso de ópio. Aos 40 anos, numa taberna, em Baltimore, Edgar Allan Poe passa mal sofrendo de delirium tremens em virtude do consumo exagerado de ópio. Acaba assim falecendo três dias depois num hospital. Era sete de outubro de 1849.

Poe escreveu novelas, contos e poemas, exercendo larga influência em autores fundamentais como Baudelaire, Maupassant e Dostoievski. Admite-se hoje que a culminância de seu talento dá-se no gênero conto. Suas histórias curtas podem ser classificadas tematicamente em dois grupos principais:
a) contos de horror ou “góticos”.
b) contos analíticos, de raciocínio ou policiais. Escreveu também contos de humor e contos que anteciparam o que hoje se chama “ficção científica”.

Os contos de horror ou “góticos” apresentam invariavelmente personagens doentias, obsessivas, fascinadas pela morte, vocacionadas para o crime, dominadas por maldições hereditárias, seres que oscilam entre a lucidez e a loucura, vivendo numa espécie de transe, como espectros assustadores de um terrível pesadelo. Muitos destes relatos ainda causam calafrios nos leitores modernos. Entre eles destacam-se O gato preto, Ligéia, O coração delator, A queda da casa de Usher, O poço e o pêndulo, Berenice e O barril de Amontillado.

Os contos analíticos, de raciocínio ou policiais entre os quais figuram os antológicos Assassinato de Maria Roget, Os crimes da Rua Morgue e A carta roubada, ao contrário dos contos de horror, primam pela lógica rigorosa e pela dedução intelectual que permitem o desvendamento de crimes misteriosos. É o início do que se convencionou chamar de literatura policial.

Poe não foi apenas um notável contista. Foi também o primeiro grande teórico do gênero, ressaltando no conto três elementos básicos: a estrutura centrada num efeito único, o valor dominante do clímax (o desfecho do conto) e o despojamento da expressão. Aliás, a linguagem das histórias curtas de Poe é elevada, porém direta, apresentando diálogos de grande força dramática que conduzem o leitor por um mundo labiríntico e asfixiante.

Enquanto os demais autores se concentravam no terror externo, no terror visual se valendo apenas de aspectos ambientais, Poe se concentrava no terror psicológico, vindo do interiorde seus personagens.

Estes sofriam de um terror avassalador, fruto de suas próprias fobias e pesadelos, que quase sempre eram um retrato do próprio Poe que sempre teve sua vida regida por um cruel e terrível destino. Não há conto algum de Poe narrado em terceira pessoa e é sempre "ele" que vê, que sente, que ouve e que vive o mais profundo e escandente terror. São relatos em que o delírio do personagem se mistura de tal maneira à realidade que não se consegue mais diferenciar se o perigo é concreto ou se trata apenas de ilusões produzidas por uma mente atormentada.

Numa época em que começava a se desenvolver o espiritismo na América do Norte, Poe se valhe desses argumentos e povoa suas obras com novas sensações e angústias onde reencarnação, hipnotismo ou mesmerismo eram quase sempre presentes. Mas em todos os contos, ou em quase todos, sempre há um mergulho, em certas profundezas da alma humana, em certos estados mórbidos da mente, em recônditos desvãos do subconciente. Por isso mesmo a psicanálise lança-se com afã ao estudo da obra de Poe, porque nela encontram exemplos em grande quantidade para ilustrar suas demonstrações. Independentemente, porém, desses aspectos, o que há nela é um talento narrativo impressionante e impressivo, uma força criadora monumental e uma realização artística invejável, que explicam o ascendente enorme que até os nossos dias exercem os contos de terror de Edgar Allan Poe.

Fontes:
http://www.beatrix.pro.br/literatura/poe.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Edgar_Allan_Poe

Edgar Allan Poe (O Gato Preto)

Não espero nem peço que se dê crédito à história sumamente extraordinária e, no entanto, bastante doméstica que vou narrar. Louco seria eu se esperasse tal coisa, tratando-se de um caso que os meus próprios sentidos se negam a aceitar. Não obstante, não estou louco e, com toda a certeza, não sonho. Mas amanhã posso morrer e, por isso, gostaria, hoje, de aliviar o meu espírito. Meu propósito imediato é apresentar ao mundo, clara e sucintamente, mas sem comentários, uma série de simples acontecimentos domésticos. Devido a suas conseqüências, tais acontecimentos me aterrorizaram, torturaram e instruíram.

No entanto, não tentarei esclarecê-los. Em mim, quase não produziram outra coisa senão horror - mas, em muitas pessoas, talvez lhes pareçam menos terríveis que grotesco. Talvez, mais tarde, haja alguma inteligência que reduza o meu fantasma a algo comum - uma inteligência mais serena, mais lógica e muito menos excitável do que, a minha, que perceba, nas circunstâncias a que me refiro com terror, nada mais do que uma sucessão comum de causas e efeitos muito naturais.

Desde a infância, tomaram-se patentes a docilidade e o sentido humano de meu caráter. A ternura de meu coração era tão evidente, que me tomava alvo dos gracejos de meus companheiros. Gostava, especialmente, de animais, e meus pais me permitiam possuir grande variedade deles. Passava com eles quase todo o meu tempo, e jamais me sentia tão feliz como quando lhes dava de comer ou os acariciava. Com os anos, aumentou esta peculiaridade de meu caráter e, quando me tomei adulto, fiz dela uma das minhas principais fontes de prazer. Aos que já sentiram afeto por um cão fiel e sagaz, não preciso dar-me ao trabalho de explicar a natureza ou a intensidade da satisfação que se pode ter com isso. Há algo, no amor desinteressado, e capaz de sacrifícios, de um animal, que toca diretamente o coração daqueles que tiveram ocasiões freqüentes de comprovar a amizade mesquinha e a frágil fidelidade de um simples homem.

Casei cedo, e tive a sorte de encontrar em minha mulher disposição semelhante à minha. Notando o meu amor pelos animais domésticos, não perdia a oportunidade de arranjar as espécies mais agradáveis de bichos. Tínhamos pássaros, peixes dourados, um cão, coelhos, um macaquinho e um gato.

Este último era um animal extraordinariamente grande e belo, todo negro e de espantosa sagacidade. Ao referir-se à sua inteligência, minha mulher, que, no íntimo de seu coração, era um tanto supersticiosa, fazia freqüentes alusões à antiga crença popular de que todos os gatos pretos são feiticeiras disfarçadas. Não que ela se referisse seriamente a isso: menciono o fato apenas porque aconteceu lembrar-me disso neste momento.

Pluto - assim se chamava o gato - era o meu preferido, com o qual eu mais me distraía. Só eu o alimentava, e ele me seguia sempre pela casa. Tinha dificuldade, mesmo, em impedir que me acompanhasse pela rua.

Nossa amizade durou, desse modo, vários anos, durante os quais não só o meu caráter como o meu temperamento - enrubesço ao confessá-lo - sofreram, devido ao demônio da intemperança, uma modificação radical para pior. Tomava-me, dia a dia, mais taciturno, mais irritadiço, mais indiferente aos sentimentos dos outros. Sofria ao empregar linguagem desabrida ao dirigir-me à minha mulher. No fim, cheguei mesmo a tratá-la com violência. Meus animais, certamente, sentiam a mudança operada em meu caráter. Não apenas não lhes dava atenção alguma, como, ainda, os maltratava. Quanto a Pluto, porém, ainda despertava em mim consideração suficiente que me impedia de maltratá-lo, ao passo que não sentia escrúpulo algum em maltratar os coelhos, o macaco e mesmo o cão, quando, por acaso ou afeto, cruzavam em meu caminho. Meu mal, porém, ia tomando conta de mim - que outro mal pode se comparar ao álcool? - e, no fim, até Pluto, que começava agora a envelhecer e, por conseguinte, se tomara um tanto rabugento, até mesmo Pluto começou a sentir os efeitos de meu mau humor.

Certa noite, ao voltar a casa, muito embriagado, de uma de minhas andanças pela cidade, tive a impressão de que o gato evitava a minha presença. Apanhei-o, e ele, assustado ante a minha violência, me feriu a mão, levemente, com os dentes. Uma fúria demoníaca apoderou-se, instantaneamente, de mim. Já não sabia mais o que estava fazendo. Dir-se-ia que, súbito, minha alma abandonara o corpo, e uma perversidade mais do que diabólica, causada pela genebra, fez vibrar todas as fibras de meu ser.Tirei do bolso um canivete, abri-o, agarrei o pobre animal pela garganta e, friamente, arranquei de sua órbita um dos olhos! Enrubesço, estremeço, abraso-me de vergonha, ao referir-me, aqui, a essa abominável atrocidade.

Quando, com a chegada da manhã, voltei à razão - dissipados já os vapores de minha orgia noturna, experimentei, pelo crime que praticara, um sentimento que era um misto de horror e remorso; mas não passou de um sentimento superficial e equívoco, pois minha alma permaneceu impassível. Mergulhei novamente em excessos, afogando logo no vinho a lembrança do que acontecera.

Entrementes, o gato se restabeleceu, lentamente. A órbita do olho perdido apresentava, é certo, um aspecto horrendo, mas não parecia mais sofrer qualquer dor. Passeava pela casa como de costume, mas, como bem se poderia esperar, fugia, tomado de extremo terror, à minha aproximação. Restava-me ainda o bastante de meu antigo coração para que, a princípio, sofresse com aquela evidente aversão por parte de um animal que, antes, me amara tanto. Mas esse sentimento logo se transformou em irritação. E, então, como para perder-me final e irremissivelmente, surgiu o espírito da perversidade. Desse espírito, a filosofia não toma conhecimento. Não obstante, tão certo como existe minha alma, creio que a perversidade é um dos impulsos primitivos do coração humano - uma das faculdades, ou sentimentos primários, que dirigem o caráter do homem. Quem não se viu, centenas de vezes, a cometer ações vis ou estúpidas, pela única razão de que sabia que não devia cometê-las? Acaso não sentimos uma inclinação constante mesmo quando estamos no melhor do nosso juízo, para violar aquilo que é lei, simplesmente porque a compreendemos como tal? Esse espírito de perversidade, digo eu, foi a causa de minha queda final. O vivo e insondável desejo da alma de atormentar-se a si mesma, de violentar sua própria natureza, de fazer o mal pelo próprio mal, foi o que me levou a continuar e, afinal, a levar a cabo o suplício que infligira ao inofensivo animal. Uma manhã, a sangue frio, meti-lhe um nó corredio em torno do pescoço e enforquei-o no galho de uma árvore. Fi-lo com os olhos cheios de lágrimas, com o coração transbordante do mais amargo remorso. Enforquei-o porque sabia que ele me amara, e porque reconhecia que não me dera motivo algum para que me voltasse contra ele. Enforquei-o porque sabia que estava cometendo um pecado _ um pecado mortal que comprometia a minha alma imortal, afastando-a, se é que isso era possível, da misericórdia infinita de um Deus infinitamente misericordioso e infinitamente terrível.

Na noite do dia em que foi cometida essa ação tão cruel, fui despertado pelo grito de "fogo!". As cortinas de minha cama estavam em chamas. Toda a casa ardia. Foi com grande dificuldade que minha mulher, uma criada e eu conseguimos escapar do incêndio. A destruição foi completa. Todos os meus bens terrenos foram tragados pelo fogo, e, desde então, me entreguei ao desespero.

Não pretendo estabelecer relação alguma entre causa e efeito - entre o desastre e a atrocidade por mim cometida. Mas estou descrevendo uma seqüência de fatos, e não desejo omitir nenhum dos elos dessa cadeia de acontecimentos. No dia seguinte ao do incêndio, visitei as ruínas. As paredes, com exceção de uma apenas, tinham desmoronado. Essa única exceção era constituída por um fino tabique interior, situado no meio da casa, junto ao qual se achava a cabeceira de minha cama. O reboco havia, aí, em grande parte, resistido à ação do fogo - coisa que atribuí ao fato de ter sido ele construído recentemente. Densa multidão se reunira em torno dessa parede, e muitas pessoas examinavam, com particular atenção e minuciosidade, uma parte dela, As palavras "estranho!", "singular!", bem como outras expressões semelhantes, despertaram-me a curiosidade. Aproximei-me e vi, como se gravada em baixo-relevo sobre a superfície branca, a figura de um gato gigantesco. A imagem era de uma exatidão verdadeiramente maravilhosa. Havia uma corda em tomo do pescoço do animal.

Logo que vi tal aparição, pois não poderia considerar aquilo como sendo outra coisa, o assombro e terror que se me apoderaram foram extremos. Mas, finalmente, a reflexão veio em meu auxílio. O gato, lembrei-me, fora enforcado num jardim existente junto à casa. Aos gritos de alarma, o jardim fora imediatamente invadido pela multidão. Alguém deve ter retirado o animal da árvore, lançando-o, através de uma janela aberta, para dentro do meu quarto. Isso foi feito, provavelmente, com a intenção de despertar-me. A queda das outras paredes havia comprimido a vítima de minha crueldade no gesso recentemente colocado sobre a parede que permanecera de pé. A cal do muro, com as chamas e o amoníaco desprendido da carcaça, produzira a imagem tal qual eu agora a via.

Embora isso satisfizesse prontamente minha razão, não conseguia fazer o mesmo, de maneira completa, com minha consciência, pois o surpreendente fato que acabo de descrever não deixou de causar-me, apesar de tudo, profunda impressão. Durante meses, não pude livrar-me do fantasma do gato e, nesse espaço de tempo, nasceu em meu espírito uma espécie de sentimento que parecia remorso, embora não o fosse. Cheguei, mesmo, a lamentar a perda do animal e a procurar, nos sórdidos lugares que então freqüentava, outro bichano da mesma espécie e de aparência semelhante que pudesse substituí-lo.

Uma noite, em que me achava sentado, meio aturdido, num antro mais do que infame, tive a atenção despertada, subitamente, por um objeto negro que jazia no alto de um dos enormes barris, de genebra ou rum, que constituíam quase que o único mobiliário do recinto. Fazia já alguns minutos que olhava fixamente o alto do barril, e o que então me surpreendeu foi não ter visto antes o que havia sobre o mesmo. Aproximei-me e toquei-o com a mão. Era um gato preto, enorme - tão grande quanto Pluto _ e que, sob todos os aspectos, salvo um, se assemelhava a ele. Pluto não tinha um único pêlo branco em todo o corpo - e o bichano que ali estava possuía uma mancha larga e branca, embora de forma indefinida, a cobrir-lhe quase toda a região do peito.

Ao acariciar-lhe o dorso, ergueu-se imediatamente, ronronando com força e esfregando-se em minha mão, como se a minha atenção lhe causasse prazer. Era, pois, o animal que eu procurava. Apressei-me em propor ao dono a sua aquisição, mas este não manifestou interesse algum pelo felino. Não o conhecia; jamais o vira antes.

Continuei a acariciá-lo e, quando me dispunha a voltar para casa, o animal demonstrou disposição de acompanhar-me. Permiti que o fizesse - detendo-me, de vez em quando, no caminho, para acariciá-lo. Ao chegar, sentiu-se imediatamente à vontade, como se pertencesse a casa, tomando-se, logo, um dos bichanos preferidos de minha mulher.

De minha parte, passei a sentir logo aversão por ele. Acontecia, pois, justamente o contrário do que eu esperava. Mas a verdade é que - não sei como nem por quê - seu evidente amor por mim me desgostava e aborrecia. Lentamente, tais sentimentos de desgosto e fastio se converteram no mais amargo ódio. Evitava o animal. Uma sensação de vergonha, bem como a lembrança da crueldade que praticara, impediam-me de maltratá-lo fisicamente. Durante algumas semanas, não lhe bati nem pratiquei contra ele qualquer violência; mas, aos poucos, muito gradativamente, passei a sentir por ele inenarrável horror, fugindo, em silêncio, de sua odiosa presença, como se fugisse de uma peste.

Sem dúvida, o que aumentou o meu horror pelo animal foi a descoberta, na manhã do dia seguinte ao que o levei para casa, que, como Pluto, também havia sido privado de um dos olhos. Tal circunstância, porém, apenas contribuiu para que minha mulher sentisse por ele maior carinho, pois, como já disse, era dotada, em alto grau, dessa ternura de sentimentos que constituíra, em outros tempos, um de meus traços principais, bem como fonte de muitos de meus prazeres mais simples e puros.

No entanto, a preferência que o animal demonstrava pela minha pessoa parecia aumentar em razão direta da aversão que sentia por ele. Seguia-me os passos com uma pertinácia que dificilmente poderia fazer com que o leitor compreendesse. Sempre que me sentava, enrodilhava-se embaixo de minha cadeira, ou me saltava ao colo, cobrindo-me com suas odiosas carícias. Se me levantava para andar, metia-se-me entre as pernas e quase me derrubava, ou então, cravando suas longas e afiadas garras em minha roupa, subia por ela até o meu peito. Nessas ocasiões, embora tivesse ímpetos de matá-lo de um golpe, abstinha-me de fazê-lo devido, em parte, à lembrança de meu crime anterior, mas, sobretudo apresso-me a confessá-lo , pelo pavor extremo que o animal me despertava. Esse pavor não era exatamente um pavor de mal físico e, contudo, não saberia defini-lo de outra maneira. Quase me envergonha confessar – sim, mesmo nesta cela de criminoso –, quase me envergonha confessar que o terror e o pânico que o animal me inspirava eram aumentados por uma das mais puras fantasias que se possa imaginar. Minha mulher, mais de uma vez, me chamara a atenção para o aspecto da mancha branca a que já me referi, e que constituía a única diferença visível entre aquele estranho animal e o outro, que eu enforcara. O leitor, decerto, se lembrará de que aquele sinal, embora grande, tinha, a princípio, uma forma bastante indefinida. Mas, lentamente, de maneira quase imperceptível – que a minha imaginação, durante muito tempo, lutou por rejeitar como fantasiosa -, adquirira, por fim, uma nitidez rigorosa de contornos. Era, agora, a imagem de um objeto cuja menção me faz tremer... E, sobretudo por isso, eu o encarava como a um monstro de horror e repugnância, do qual eu, se tivesse coragem, me teria livrado. Era agora, confesso, a imagem de uma coisa odiosa, abominável: a imagem da forca! Oh, lúgubre e terrível máquina de horror e de crime, de agonia e de morte!

Na verdade, naquele momento eu era um miserável, um ser que ia além da própria miséria da humanidade. Era uma besta-fera, cujo irmão fora por mim desdenhosamente destruído... uma besta-fera que se engendrara em mim, homem feito à imagem do Deus Altíssimo. Oh, grande e insuportável infortúnio! Ai de mim! Nem de dia, nem de noite, conheceria jamais a bênção do descanso! Durante o dia, o animal não me deixava a sós um único momento; e, à noite, despertava de hora em hora, tomado do indescritível terror de sentir o hálito quente da coisa sobre o meu rosto, e o seu enorme peso , encarnação de um pesadelo que não podia afastar de mim pousado eternamente sobre o meu coração!

Sob a pressão de tais tormentos, sucumbiu o pouco que restava em mim de bom. Pensamentos maus converteram-se em meus únicos companheiros, os mais sombrios e os mais perversos dos pensamentos. Minha rabugice habitual se transformou em ódio por todas as coisas e por toda a humanidade e enquanto eu, agora, me entregava cegamente a súbitos, freqüentes e irreprimíveis acessos de cólera, minha mulher - pobre dela! - não se queixava nunca convertendo-se na mais paciente e sofredora das vítimas.

Um dia, acompanhou-me, para ajudar-me numa das tarefas domésticas, até o porão do velho edifício em que nossa pobreza nos obrigava a morar, O gato seguiu-nos e, quase fazendo-me rolar escada abaixo, me exasperou a ponto de perder o juízo. Apanhando uma machadinha e esquecendo o terror pueril que até então contivera minha mão, dirigi ao animal um golpe que teria sido mortal, se atingisse o alvo. Mas minha mulher segurou-me o braço, detendo o golpe. Tomado, então, de fúria demoníaca, livrei o braço do obstáculo que o detinha e cravei-lhe a machadinha no cérebro. Minha mulher caiu morta instantaneamente, sem lançar um gemido.

Realizado o terrível assassínio, procurei, movido por súbita resolução, esconder o corpo. Sabia que não poderia retirá-lo da casa, nem de dia nem de noite, sem correr o risco de ser visto pelos vizinhos.

Ocorreram-me vários planos. Pensei, por um instante, em cortar o corpo em pequenos pedaços e destruí-los por meio do fogo. Resolvi, depois, cavar uma fossa no chão da adega. Em seguida, pensei em atirá-lo ao poço do quintal. Mudei de idéia e decidi metê-lo num caixote, como se fosse uma mercadoria, na forma habitual, fazendo com que um carregador o retirasse da casa. Finalmente, tive uma idéia que me pareceu muito mais prática: resolvi emparedá-lo na adega, como faziam os monges da Idade Média com as suas vítimas.

Aquela adega se prestava muito bem para tal propósito. As paredes não haviam sido construídas com muito cuidado e, pouco antes, haviam sido cobertas, em toda a sua extensão, com um reboco que a umidade impedira de endurecer. Ademais, havia uma saliência numa das paredes, produzida por alguma chaminé ou lareira, que fora tapada para que se assemelhasse ao resto da adega. Não duvidei de que poderia facilmente retirar os tijolos naquele lugar, introduzir o corpo e recolocá-los do mesmo modo, sem que nenhum olhar pudesse descobrir nada que despertasse suspeita. E não me enganei em meus cálculos. Por meio de uma alavanca, desloquei facilmente os tijolos e tendo depositado o corpo, com cuidado, de encontro à parede interior. Segurei-o nessa posição, até poder recolocar, sem grande esforço, os tijolos em seu lugar, tal como estavam anteriormente. Arranjei cimento, cal e areia e, com toda a precaução possível, preparei uma argamassa que não se podia distinguir da anterior, cobrindo com ela, escrupulosamente, a nova parede. Ao terminar, senti-me satisfeito, pois tudo correra bem. A parede não apresentava o menor sinal de ter sido rebocada. Limpei o chão com o maior cuidado e, lançando o olhar em tomo, disse, de mim para comigo: "Pelo menos aqui, o meu trabalho não foi em vão".

O passo seguinte foi procurar o animal que havia sido a causa de tão grande desgraça, pois resolvera, finalmente, matá-lo. Se, naquele momento, tivesse podido encontrá-lo, não haveria dúvida quanto à sua sorte: mas parece que o esperto animal se alarmara ante a violência de minha cólera, e procurava não aparecer diante de mim enquanto me encontrasse naquele estado de espírito. Impossível descrever ou imaginar o profundo e abençoado alívio que me causava a ausência de tão detestável felino. Não apareceu também durante a noite _ e, assim, pela primeira vez, desde sua entrada em casa, consegui dormir tranqüila e profundamente. Sim, dormi mesmo com o peso daquele assassínio sobre a minha alma.

Transcorreram o segundo e o terceiro dia, e o meu algoz não apareceu. Pude respirar, novamente, como homem livre. O monstro, aterrorizado fugira para sempre de casa. Não tomaria a vê-lo! Minha felicidade era infinita! A culpa de minha tenebrosa ação pouco me inquietava. Foram feitas algumas investigações, mas respondi prontamente a todas as perguntas. Procedeu-se, também, a uma vistoria em minha casa, mas, naturalmente, nada podia ser descoberto. Eu considerava já como coisa certa a minha felicidade futura.

No quarto dia após o assassinato, uma caravana policial chegou, inesperadamente, a casa, e realizou, de novo, rigorosa investigação. Seguro, no entanto, de que ninguém descobriria jamais o lugar em que eu ocultara o cadáver, não experimentei a menor perturbação. Os policiais pediram-me que os acompanhasse em sua busca. Não deixaram de esquadrinhar um canto sequer da casa. Por fim, pela terceira ou quarta vez, desceram novamente ao porão. Não me alterei o mínimo que fosse. Meu coração batia calmamente, como o de um inocente. Andei por todo o porão, de ponta a ponta. Com os braços cruzados sobre o peito, caminhava, calmamente, de um lado para outro. A polícia estava inteiramente satisfeita e preparava-se para sair. O júbilo que me inundava o coração era forte demais para que pudesse contê-lo. Ardia de desejo de dizer uma palavra, uma única palavra, à guisa de triunfo, e também para tomar duplamente evidente a minha inocência.

- Senhores – disse, por fim, quando os policiais já subiam a escada –, é para mim motivo de grande satisfação haver desfeito qualquer suspeita. Desejo a todos os senhores ótima saúde e um pouco mais de cortesia. Diga-se de passagem, senhores, que esta é uma casa muito bem construída... (Quase não sabia o que dizia, em meu insopitável desejo de falar com naturalidade.) Poderia, mesmo, dizer que é uma casa excelentemente construída. Estas paredes – os senhores já se vão? – , estas paredes são de grande solidez.

Nessa altura, movido por pura e frenética fanfarronada, bati com força, com a bengala que tinha na mão, justamente na parte da parede atrás da qual se achava o corpo da esposa de meu coração.

Que Deus me guarde e livre das garras de Satanás! Mal o eco das batidas mergulhou no silêncio, uma voz me respondeu do fundo da tumba, primeiro com um choro entrecortado e abafado, como os soluços de uma criança; depois, de repente, com um grito prolongado, estridente, contínuo, completamente anormal e inumano. Um uivo, um grito agudo, metade de horror, metade de triunfo, como somente poderia ter surgido do inferno, da garganta dos condenados, em sua agonia, e dos demônios exultantes com a sua condenação.

Quanto aos meus pensamentos, é loucura falar. Sentindo-me desfalecer, cambaleei até à parede oposta. Durante um instante, o grupo de policiais deteve-se na escada, imobilizado pelo terror. Decorrido um momento, doze braços vigorosos atacaram a parede, que caiu por terra. O cadáver, já em adiantado estado de decomposição, e coberto de sangue coagulado, apareceu, ereto, aos olhos dos presentes.

Sobre sua cabeça, com a boca vermelha dilatada e o único olho chamejante, achava-se pousado o animal odioso, cuja astúcia me levou ao assassínio e cuja voz reveladora me entregava ao carrasco. Eu havia emparedado o monstro dentro da tumba!

Fonte:
Edgar Allan Poe. Histórias Extraordinárias. (Tradução de Brenno Silveira e outros). São Paulo: Nova Cultural, 1993. p.41-51.