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terça-feira, 19 de julho de 2016

Folclore Japonês (Hakuja no Myojin, O Deus Serpente Branca)

Hakuja no Myojin é um dos mais antigos contos do folclore japonês, conta a história de Harada Kurando, que foi um dos principais vassalos do Senhor de Tsugaru. Ele era um espadachim notável e mestre de aulas de esgrima. Durante essa época, havia entre os vassalos outro mestre, Gundayu, que também ensinou esgrima, mas não era páreo para o famoso Harada, e consequentemente tinha ciúmes de seu adversário, o que acabou provocando um dramático conflito…

Um dia, para incentivar a arte da esgrima entre seus vassalos, o Daimio (Senhor Feudal) de Tsugaru, convocou todo o seu povo e ordenou-lhes para promover uma competição de esgrima em sua presença.

Após os vassalos mais jovens realizarem sua apresentação, o Daimio deu uma ordem para que Harada Kurando e Hira Gundayu competissem entre si. Para o vencedor, ele disse, iria entregar uma imagem de ouro da “Deusa de Kwannon”.

Ambos os homens vedados, deram o seu melhor, provocando grande excitação entre os presentes. Gundayu nunca tinha competido dessa forma antes, mas Harada era muito melhor. Ele ganhou o jogo, recebendo a imagem de ouro de Kwannon das mãos do próprio Daimio que entusiasmado aplaudia alto.

Gundayu deixou o local da competição, fervendo de ciúmes e jurando vingança. Acompanhado de quatro de seus fiéis amigos, que disseram, iriam ajudá-lo a atacar de surpresa Harada naquela mesma noite. Tendo organizado esse plano covarde, passaram a se esconder na estrada onde Harada deveria atravessar em seu retorno para casa.

Durante três horas eles ali permaneceram carregados de más intenções. Por fim, ao luar viram Harada aproximar-se cambaleando, pois, como era natural em tal ocasião, ele tinha com os amigos, se entregado livremente ao sakê.

Gundayu e seus quatro companheiros saltaram contra ele, Gundayu gritando: “Agora você vai ter que lutar até a morte”.

Harada tentou sacar sua espada, mas estava lento e com a cabeça girando devido à bebida. Gundayu não esperou, jogando-o ao chão e matando-o. Os cinco vilões, então vasculhando suas roupas, encontraram a estátua de ouro de Kwannon, e fugiram, para nunca mais aparecer nos domínios do Senhor de Tsugaru.

Quando o corpo de Harada foi encontrado gerou uma grande tristeza no povoado.

Yonosuke, filho de Harada, um garoto de dezesseis anos, jurou vingar a morte de seu pai, obtendo a permissão especial do Daimio para matar Gundayu da forma como escolhesse, pois o seu desaparecimento, era prova suficiente de que ele fosse o assassino.

Naquele mesmo dia, o jovem estabeleceu  sua caça a Gundayu. Ele vagou sobre o país durante cinco longos anos sem ter a menor pista de seu paradeiro, mas, ao final desse tempo, e com a orientação de Buda, ele localizou seu inimigo em “Gifu”, onde ele estava agindo como mestre de esgrima para o senhor feudal daquele lugar.

 O jovem Yonosuke descobriu que seria difícil conseguir cumprir sua missão, pois Gundayu quase nunca saía do castelo. Ele decidiu então mudar o seu nome para o de Ippai, e se candidatar a uma vaga na casa de Gundayu como “chugen” (atendente privado de um samurai).

Neste intento, Ippai (como Yonosuke agora era chamado) foi particularmente bem sucedido, pois como Gundayu tinha necessidade de tal atendimento, ele conseguiu o posto.

No dia 24 de junho, uma grande festa foi realizada na casa de Gundayu, sendo o quinto aniversário do seu serviço ao clã. Ele colocou a imagem de ouro roubada da Deusa Kwannon no Tokonoma (espécie de altar japonês, espaço elevado cerca de cinco centímetros acima do chão, onde as imagens e as flores são colocadas). Um jantar foi dado por Gundayu aos seus amigos, todos eles beberam tanto que adormeceram profundamente. No dia seguinte, a imagem de Kwannon tinha desaparecido.

Poucos dias depois Ippai ficou doente, e devido à pobreza, não foi capaz de comprar remédio adequado a sua doença, febril ele ia de mal a pior. Seus companheiros de serviço foram gentis com ele, mas eles não podiam fazer nada para melhorar sua condição. Ippai não parecia se importar, ele estava deitado em sua cama e parecia quase feliz por estar ficando cada vez mais fraco. Tudo o que ele pediu foi que um ramo de sua Omoto favorita (Rhodéa japonica) fosse mantida em um vaso próximo a sua cama, para que ele pudesse vê-lo continuamente, e este simples pedido foi naturalmente cumprido.

No outono, Ippai silenciosamente morreu e foi sepultado. Depois do funeral, quando os funcionários estavam limpando o quarto em que ele tinha morrido, notaram com espanto, que uma pequena cobra branca estava enrolada em volta do vaso que continha a Omoto. Eles tentaram removê-la, mas ela se enrolou apertado, por fim, eles jogaram o vaso na lagoa. Para sua surpresa, a água não teve efeito sobre a serpente, que continuou a agarrar-se ao vaso. Sentindo que havia algo estranho com a cobra, eles queriam enviá-la para longe. E, lançando uma rede, trouxeram o vaso com a cobra para tentar soltá-la, mais sem sucesso, lançaram mais uma vez o vaso em um córrego. Como da outra vez, fez pouca diferença, a cobra mudou um pouco sua posição, de modo a manter-se presa ao ramo da Omoto sem cair fora do vaso.

Por esta altura, houve grande consternação entre os servos, e a notícia se espalhou para as diferentes casas dentro dos portões do castelo. Alguns samurais desceram ao rio para ver, e encontraram a cobra branca ainda firmemente enrolada ao ramo sobre o vaso. Um dos samurais desembainhou sua espada e fez um corte na serpente, que soltou e fugiu.  Mas o vaso foi quebrado, e para o espanto de todos, a imagem do Kwannon caiu no córrego, juntamente com uma autorização do Senhor Feudal de Tsugaru para matar um homem, cujo nome foi deixado em branco.

O samurai que tinha quebrado o vaso e encontrou o tesouro perdido, parecia particularmente satisfeito, e apressou-se em dar a Gundayu a boa notícia, mas em vez de ficar feliz, ele demonstrou sinais de medo. Gundayu tornou-se pálido mortal quando ouviu a história da morte de Ippai e da aparência extraordinária da cobra branca misteriosa. Ele tremia quando percebeu que Ippai não era menos que Yonosuke, filho de Harada, cuja presença após o assassinato ele sempre temera.

Fiel ao espírito de um samurai, no entanto, Gundayu ‘se recompôs’, e professou grande prazer a pessoa que trouxe a imagem de Kwannon. Além disso, para celebrar a ocasião, ele deu uma grande festa naquela noite. Curiosamente, o samurai que tinha quebrado o vaso e recuperou a imagem tornou-se subitamente doente, e não pôde comparecer.

Por volta das 10:00, depois de ter se despedido de seus convidados, Gundayu retirou-se para sua cama. No meio da noite, ele acordou com o que ele considerava ser um terrível pesadelo. Havia uma sensação de asfixia em sua garganta, ele se contorcia e tossia; ruídos borbulhantes procederam de sua boca de tal forma que ele despertou sua esposa, que em terror acendeu uma vela. Ela viu então uma cobra branca enrolada firmemente em volta da garganta de seu marido, seu rosto estava roxo, e seus olhos esbugalhados se destacaram dois centímetros de seu rosto.

Ela pediu ajuda, mas já era tarde demais. À medida que um jovem samurai veio correndo, seu mestre de esgrima, com o rosto desfigurado morreu.

No dia seguinte, houve uma investigação no castelo. Mensageiros foram enviados para o Senhor de Tsugaru para saber sobre a história do assassinato de Harada Kurando, pai de Yonosuke, ou ‘Ippai’, descobrindo que Gundayu, tinha estado a seu serviço.

Tendo verificado a verdade, o Senhor de Gifu, movido pelo seu zelo de pai, e comovido pela história de Yonosuke  no cumprimento das suas funções filiais, enviou de volta a estátua de ouro de Kwannon à família enlutada de Harada. E em homenagem, ele adorou a  cobra morta em um santuário erguido no sopé da Montanha  Kodayama.  O espírito ainda é conhecido como Hakuja  no Myojin,  “O Deus Serpente Branca”

Fonte 

domingo, 17 de julho de 2016

Folclore Japonês (Tamamo-no-Mae)

Tamamo-no-Mae era uma cortesã a serviços do Imperador Japonês Konoe. Ela era a mulher mais bonita e a mais inteligente no Japão. O corpo dela misteriosamente sempre cheirou bem e sua roupa nunca se sujou ou se enrugou. Tamamo-no-Mae não era apenas bonita, mas também era extremamente inteligente, tendo incrível conhecimento em todos os assuntos. Embora parecesse ter somente vinte anos, não havia nenhuma pergunta que ela não poderia responder. Ela respondeu todas as perguntas feitas a ela sobre música, religião ou astronomia. Por causa de sua beleza e inteligência, todos na Corte Imperial a adoravam, e o Imperador Konoe caiu profundamente de amor por ela.

Depois de um tempo, com Konoe dando atenção e carinho para a Tamamo-no-Mae, o Imperador misteriosamente adoeceu. Buscou respostas com muitos padres e filósofos, mas não teve sucesso com nenhum deles. Finalmente, um astrólogo, Abe no Yasuchika, disse ao Imperador que Tamamo-no-Mae era a causa da sua doença. O astrólogo explicou que aquela linda moça era na verdade uma raposa de nove caudas má (Kitsune), que estava tentando tomar o seu lugar no trono. Após o ocorrido, Tamamo-no-Mae desapareceu da corte. O Imperador requisitou Kazusa-no-suke e Miura-no-suke, os guerreiros mais poderosos na época, para caçar e matar a raposa. Depois de ter iludido os caçadores por um tempo, a raposa apareceu dentro de um sonho do Miura-no-suke. Mais uma vez sob a forma da linda Tamamo-no-Mae, a raposa profetizou que ele a mataria no dia seguinte, e implorou para poupar sua vida. Miura-no-suke recusou.

Cedo no dia seguinte, os caçadores encontraram a raposa na Planíce de Nasu, Miura-no-suke atirou e matou a criatura mágica com uma flechada. O corpo da raposa se transformou em Sessho-seki, ou Pedra Mortífera, que mata qualquer um que tiver contato com ela. O espírito da Tamamo-no-Mae se transformou em Hoji e assombrou a pedra. Aquela pedra na prefeitura japonesa de Nasu foi assombrada por Hoji, até que um padre budista chamado Genno, ter parado para descansar perto da pedra e foi ameaçado por Hoji. Genno executou alguns rituais espirituais, e implorou ao espírito considerar sua salvação espiritual, até que finalmente Hoji teve piedade e jurou nunca mais assombrar a pedra outra vez.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Folclore Japonês (Kintaro)

Kintaro é um herói do folclore japonês. Menino dotado de uma força prodigiosa crê-se que ele foi criado por uma feiticeira do Monte Ashigara. Kintaro tinha uma especial empatia com os animais da montanha, e mais tarde, depois de derrotar o demónio da floresta Shuten Doji, na região do Monte Oe, juntou-se às forças do Príncipe Minamoto-No-Yorimitsu, sob o novo nome de ‘Sakata Kintoke. É uma figura muito popular nos drama de Noh e Kabuki, e é um costume por um boneco de Kintaro no dia das crianças para que elas sejam fortes e corajosas como o tal. Kintaro tem a sua origem, provavelmente na pessoa de um homem real chamado Sakata Kintoki, que viveu no periodo Heian e provavelmente veio de uma cidade que hoje é a atual Minami-Ashigara, o qual serviu Minamoto-No-Yorimitsu e se tornou conhecido pelas suas proezas como guerreiro.

Lenda
Há várias histórias sobre a infância de Kintaro. Numa delas, ele foi criado por sua mãe, a princesa Yaegiri, filha de um homem rico chamado Shiman-Choja, na aldeia de Jizodo, perto do Monte Ashigara. Numa outra, sua mãe deu a luz onde é hoje a atual Sakata, de onde ela fora forçada a fugir devido à luta opondo o marido a seu tio. Então, ela finalmente se estabeleceu na floresta do Monte Ashigara para criar seu filho. A partir deste ponto a história se divide em duas versões, a mãe verdadeira de Kintaro o abandonou no mato ou ela morreu, e independente das duas versões ele foi encontrado pela feiticeira do monte e criado por ela. Outra versão diz que Kintaro foi criado por sua mãe, mas devido a aparência dela, foi apelidada de feiticeira do monte. Numa versão mais fantasiosa, a feiticeira do monte era a mãe verdadeira de Kintaro e ambos foram impregnados pelo trovão do Dragão Vermelho do Monte Ashigara.

Todas as lendas dizem que, apesar de ser uma criança, Kintaro era muito ativo e incansável, gordo e corado, vestindo apenas um babador com o kanji para “ouro” estampado. Seu único outro equipamento era uma machadinha. Como não havia outras crianças na floresta, Kintaro se afeiçoou aos animais do bosque. Era fenomenalmente forte, capaz de quebrar rochedos e arrancar árvores enraizadas. Os seus amigos animais serviam como mensageiros e montaria, algumas lendas dizem que ele até aprendeu a falar com os animais. Várias outras histórias contam que Kintaro lutava com demônios da montanha (Yokai), vencia ursos e ajudava os lenhadores locais a derrubar árvores. Já adulto, Kintaro trocou seu nome pelo de Sakata Kintoke. Foi pouco depois levado à presença de Minamoto-No-Yorimitsu, ao passar pela área ao redor do Monte Ooe. Impressionado com a enorme força de Kintaro, Minamoto o tomou como um membro de sua guarda pessoal e levou-o para Kyoto. Lá Kintoki estudou as Artes Marciais, eventualmente se tornando o chefe do Shiten’no, reconhecido por sua força e habilidades marciais. Ele finalmente voltou para sua mãe e levou-a para Kyoto junto com ele.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Folclore Japonês (A Fuga dos Gatos)

Era uma vez em um Japão distante, um gato de uma beleza estonteante, com o pelo suave e brilhante como a seda, e sábios olhos cor de esmeralda… Seu nome era Gon, o felino pertencia a um professor de música, que muito o amava, orgulhoso, acreditava que nada no mundo poderia separá-los.

Gon era bastante popular, todas as gatas do bairro se encantavam com sua beleza, faziam de tudo para lhe chamar a atenção mas, Gon não era nada fácil de agradar.

Porém, não muito longe da casa do músico, vivia uma senhorita que possuía uma bela gatinha nomeada Koma. Ela era uma gata rara… Koma piscava os olhos delicadamente, e comia elegantemente sua refeição, e ao terminar sempre lambia suavemente seu nariz rosa, sua senhora sorria e dizia: “Koma, minha querida Koma… o que faria sem você?”

Um dia estes dois felinos, saíram para um passeio à luz da noite. Durante sua caminhada, Gon avistou Koma, a elegante gata estava sentada com sua postura serena sob uma árvore de cerejeira em plena floração. Eles trocaram olhares e nesse pequeno momento, Gon se viu caído loucamente de amor pela bela Koma. Antes que tivesse tempo para pensar, o caprichoso Gon aproximou-se sedutoramente da gata, que também se encontrava cativa pelo bichano.

Passado um tempo juntos, disse Gon: “Venha comigo, vamos viver juntos!”, mas Koma baixou a cabeça, temendo as dificuldades em seu caminho. Respondeu: “Minha patroa me ama, eu nunca poderia deixá-la!”

Os dois, por não serem aceitos juntos por seus donos, se separaram. Alguns meses se passaram, o sentimento que Gon e Koma nutriam um pelo outro crescia cada vez mais. Os felinos, então incapazes de omitir o amor que sentiam, se encontraram novamente debaixo da cerejeira onde se conheceram. Determinados a ficarem juntos, decidiram partir, aventurando-se em um mundo desconhecido.the cat's elopement1

Durante todo o dia eles marcharam bravamente através da luz do sol, até que haviam deixado suas casas muito atrás de si. O sol começou a baixar e, ao fim da tarde, eles descobriram um imenso parque verde.

Os pequenos aventureiros estavam cansados da longa viagem. Já meio arrependidos de sua fuga, sentiam pesar seu pequeno coração por seus donos abandonados. Exaustos, pararam para descansar, acomodando-se sobre o gramado verde embaixo da sombra de uma enorme árvore. O jovem casal repousava mansamente quando, de repente, um ogro apareceu em sua frente na forma de um grande cachorro!

O cão se colocou ferozmente contra eles, mostrando todos os dentes, Koma gritou e, apavorada, subiu na árvore. Gon corajosamente se manteve firme, e arqueou as costas preparando-se para a batalha, pois sentia os olhos atentos de Koma sobre ele, dando-lhe força para que não fugisse da luta.

De seu poleiro na árvore alta, Koma observava tudo, e gritava com toda sua força, na esperança de que alguém iria ouvi-la e vir em sua ajuda. Felizmente, um servo da princesa, a quem o parque pertencia, estava passando por perto e espantou o cão feroz para longe, pegou então o trêmulo Gon em seus braços, e levou-o para sua senhora.

A pequena Koma foi deixada sozinha e, em cima do galho, deitou a cabeça caindo em prantos ao ver Gon sendo levado para longe, sem saber o que fazer.

A princesa adorou seu novo gatinho, ficou encantada com sua beleza e pelos generosos. Mas o carinho da jovem não consolava o pobre Gon. Mas o que ele poderia fazer? Não adiantava lutar contra o destino, pensou, lembrando-se da pequena koma sozinha. Ele só poderia sentar e esperar, até achar uma forma de fugir das imediações do Palácio.

A princesa era bondosa e gentil, todo mundo a amava, e teria levado uma vida mais feliz, se não fosse por uma serpente que constantemente perturbava seu sossego aparecendo em seus jardins. Seus servos tinham ordens para vigiá-la dia e noite, protegendo-a da cobra. Mas, certo dia, em um descuido, a serpente muito astuta, deslizou por eles adentrando o castelo.

A jovem princesa estava sentada em seu quarto, tocando seu instrumento musical favorito, quando sentiu algo deslizar sobre sua faixa. Apavorada, gritou e jogou-se para trás, Gon, que tinha se enrolado em um banquinho a seus pés, ao ouvir o grito da princesa, saltou rapidamente agarrando a perversa serpente pelo pescoço. Ele deu-lhe uma mordida e atirou-a no chão, a princesa nunca mais teria que se preocupar com sua inimiga. Então, ela o pegou em seus braços, e o acariciou alegremente em agradecimento.

Algumas dias se passaram, e a jovem, durante todo esse período, o encheu  com as mais raras iguarias e almofadas de seda, toda a atenção que ele jamais poderia sonhar em receber. E Gon teria sido muito feliz e satisfeito. Mas, o pequeno Gon tinha apenas um desejo, encontrar Koma novamente.

O tempo passou, e uma manhã quando Gon estava aquecendo-se ao sol. Ele olhou preguiçosamente para o mundo que se estendia diante dele, e avistou ao longe uma grande briga, um gato grande intimidando um menor. Gon saltou para cima arrepiando o pelo espesso e, valente como era, disparou naquela direção. Cheio de raiva afugentou o gatão brigão. Então, satisfeito com sua própria bravura, virou-se para confortar o pequeno, quando o seu coração quase explodiu de alegria ao descobrir que era Koma, sua amada Koma.

Koma, assustada, por um momento não o reconheceu, ele tinha crescido e se tornado grande e imponente. Mas, quando se aproximaram, ela reconheceu Gon, sua felicidade não conhecia limites. E eles esfregaram suas cabeças e seus narizes, enquanto seus ronronares poderiam ter sido ouvidos a uma milha de distância.

Pata na pata, Gon levou Koma até a princesa, demonstrando toda sua história de amor. Emocionada ao ver uma devoção tão sincera, caiu em lágrimas, prometendo que nunca mais deveriam estar separados. O casal apaixonado, dali em diante, viveria com ela em seu castelo sob seus cuidados e proteção.

Passado um tempo, a própria princesa se casou e teve filhos, e Gon e Koma tiveram muitos filhotes, todos eles viviam juntos e felizes, foram amigos até o fim de suas vidas.

Fonte:
Com o título original “The Cat’s Elopement”, o conto de fadas japonês foi recolhido do livro “Japanische Marchen und Sagen” 1885 de David Brauns, traduzido por Andrew Lang. O conto foi incluído em “O Livro Rosa das Fadas” de 1897, que contém um total de quarenta e um contos japoneses, entre outros.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Folclore Japonês (Kaguya Hime)

Há muito, muito tempo, existia um velhinho e uma velhinha, que viviam juntos numa casa no meio da floresta. Eles eram muito pobres e solitários, pois não tinham filhos para criar. O velhinho era conhecido pelo nome de Cortador de Bambus, pois, todos os dias, ele saía cedo para cortar bambus na floresta. Os dois faziam cestas e chapéus para vender e ganhar algum dinheiro.

Um belo dia, enquanto estava na floresta, o velhinho avistou um broto de bambu, que brilhava, com uma luz muito intensa. Ele ficou espantado, pois, em anos e anos de trabalho, nunca havia visto algo como aquilo. Muito curioso, ele cortou o bambu e mal pôde acreditar no que viu. “Uma menina, uma menina! Tão pequena e tão linda, só pode ser um presente de Deus!”.

Ele levou a pequena menina na palma de uma de suas mãos para casa. Ao ver a menina, a velhinha também ficou muito contente e eles resolveram que o nome dela seria Kaguya Hime (Princesa Radiante).

A partir daquele dia, o velhinho passou a encontrar outros bambus brilhantes na floresta. Mas, ao invés de uma menina, eles continham moedas de ouro. Assim, a vida do casal melhorou e eles não precisavam mais produzir cestos para sobreviver. Eles creditaram o milagre à chegada de sua linda filha.

Kaguya Hime crescia muito rápido e a cada dia parecia mais bonita. Em apenas três meses, ela já tinha o tamanho de uma criança de oito anos. Ninguém poderia acreditar que uma pessoa tão bonita pertencesse a este mundo.

Logo os comentários sobre a beleza da Kaguya Hime se espalharam e vinham jovens de todos os cantos do país para conhecê-la. Todos queriam se casar com Kaguya, mas ela não queria se casar com ninguém. “Quero ficar ao lado de vocês dois”, dizia a jovem para seus pais. Mas cinco jovens nobres, de posições importantes, foram mais persistentes. Eles acamparam em frente à casa de Kaguya Hime e pediam uma chance a ela.

Preocupado, o velhinho chamou Kaguya e disse: “Minha filha, eu gostaria muito de ter você sempre por perto, mas acho justo que se case. Escolha um dentre os cinco rapazes que estão acampados aqui”. Assim, a linda jovem decidiu. “Eu me casarei com aquele que me trouxer o objeto mágico que pedirei”

Um colar feito com os olhos de um dragão, um vaso feito com pedras dos deuses que nunca se quebra, um manto de pele de animal forrado de ouro, um galho que faz crescer pedras preciosas, um leque que brilha como a luz do sol e uma concha que a andorinha põe junto com seus ovos. Estes foram os objetos que Kaguya Hime pediu.

O velhinho levou os pedidos de Kaguya aos pretendentes acampados. Ele sabia que seria muito difícil conseguirem obter tais objetos. Qual não foi sua surpresa quando, ao final de alguns meses, todos os pretendentes trouxeram os presentes para Kaguya. Mas, quando eles foram obrigados a entregá-los a jovem, todos admitiram que os presentes eram falsos, pois conseguir os verdadeiros era uma missão muito difícil. E assim, nenhum deles obteve êxito.

Quatro primaveras haviam se passado desde que Kaguya fora encontrada no broto de bambu. Mas ela ficava mais triste a cada dia. Noite após noite, Kaguya Hime olhava para a lua, suspirando. Preocupado, o velhinho um dia perguntou: “Por que está tão triste minha filha?”. “Eu gostaria de ficar aqui para sempre, mas logo devo retornar”, disse a jovem.” “Retornar, mas para onde? O seu lugar é aqui conosco, nunca deixaremos você partir”, disse o pai aflito.” “Este não é o meu reino, eu sou uma princesa de Reino da Lua e, na próxima lua cheia, eles virão me buscar”.

Muito assustados com a reveladora confissão de Kaguya Hime, os velhinhos decidiram pedir ajuda ao príncipe do reino onde viviam. O príncipe ajudou e enviou muitos guardas para vigiarem a casa do casal. Um verdadeiro exército foi formado.

No dia seguinte, a temida noite de lua cheia chegou. A casa estava tão vigiada que parecia impossível alguém conseguir levar Kaguya Hime. De repente, uma enorme luz surgiu no céu, como se milhares luas estivessem presentes ao mesmo tempo.

A luz era tão intensa que ninguém conseguiu enxergar a carruagem que descia, guiada por um grande cavalo alado e muitas pessoas bem vestidas. Depois de algum tempo, quando a luz diminuiu, a carruagem já estava voando, em direção à lua. Kaguya Hime não estava mais presente, ela fora junto com a comitiva.

Os velhinhos ficaram muito tristes, inconformados. Voltaram ao quarto de Kaguya e encontraram um potinho, presente da filha querida. Ela havia deixado um pó mágico, que garantiria a vida eterna para os dois.

Mas, sem sua filha amada, os velhinhos não queriam viver para sempre. Eles recolheram todos os pertences de Kaguya e levaram para o monte mais alto do Japão. Lá, queimaram tudo, junto com o pó mágico deixado pela jovem. Uma fumacinha branca subiu ao céu naquele dia.

A montanha era o Monte Fuji. Dizem que até hoje é possível ver a fumacinha subindo e subindo.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Folclore Japonês (Issum Boshi)

Há muito, muito tempo, existia um casal que rezava sempre por um filho. Um dia, o pedido foi atendido e nasceu um menino, tão pequeno quanto um polegar. Chamaram-no de Issum Boshi. Apesar de ser muito pequeno, Issum era esperto e saudável e o casal agradeceu a prece atendida.

Após alguns anos, Issum Boshi continuava do mesmo tamanho. Um dia, ele chegou perto de seus pais e disse: 

“Papai, mamãe, eu quero trabalhar e estudar, vou à capital”. 

Seus pais não gostaram muito da idéia, parecia perigosa demais para um pequeno garotinho. Mesmo preocupados, acabaram concordando e deram-lhe uma agulha de costura para servir de espada.

Depois de se despedir de seus pais, Issum partiu, seguindo pelo rio ao lado de sua casa. Ele utilizava um owan (é uma pequena tigela) como barco e um hashi como remo. Após uma longa e cansativa viagem, ele chegou à capital, que era grande e cheia de gente. Issum andava com cuidado, ele temia ser atropelado pelas pessoas que iam e vinham apressadas.

Ele caminhou por um local calmo e avistou um grande castelo. 

“Aqui deve morar alguém muito importante, quem sabe esta pessoa não pode me dar um emprego”. 

Ele chamou alto por alguém e, quando um nobre senhor apareceu, não viu Issum. 

“Ei, cuidado, assim você vai pisar em cima de mim”. 

“Mas quem é você?”, perguntou o nobre. 

“Sou Issum Boshi, gostaria muito de trabalhar aqui.”

O nobre olhou para Issum e gostou do pequeno menino, ele parecia esperto e confiável. “Acho que você pode cuidar da princesa, minha filha.” Assim, Issum passou a morar no castelo. Ele virava as páginas dos livros, carregava tintas de caneta e era adorado pela princesa. Ele também treinava a arte da espada, pois um dia, Issum gostaria de ser um samurai.

Quando chegou a primavera, a princesa resolveu visitar o templo Kyoumizu. Seu pai ficou muito preocupado, pois havia rumores de que um horroroso Oni estava andando nas redondezas e seqüestrando belas garotas. O nobre senhor pediu que alguns de seus samurais acompanhassem a princesa e Issum.

Eles chegaram bem ao templo Kyoumizu e a princesa fez suas orações. Mas na volta, ouviram gritos e gritos e, de repente, um enorme Oni apareceu e impediu o grupo de andar. Os samurais olharam para o Oni, fugiram assustados e deixaram a princesa e Issum sozinhos.

“Prepare-se, vou lutar contra você e defender a princesa”, disse Issum enquanto pegava sua agulha-espada. 

“Há, há, há, um ser minúsculo como você não pode me fazer mal algum”. 

Logo após dizer isso, o Oni pegou Issum e o engoliu. Quando chegou no estômago, Issum começou a espeta-lo e espeta-lo. O Oni não aguentou de dor e tossiu, jogando Issum para fora, que aproveitou o momento e furou os olhos do Oni.

Gemendo de dor, o monstro fugiu correndo em direção à floresta. Na pressa, derrubou um pequeno objeto, era um martelo mágico. A princesa pegou o martelo e disse: 

“Issum, este é um objeto mágico, ele realiza os desejos das pessoas. Você tem algum desejo? Quer jóias e ouro?”. 

“Sim, tenho um desejo, mas não é este. Eu gostaria muito de crescer”, falou Issum. 

Assim, a linda princesa pegou o martelo e bateu na cabeça de Issum, que cresceu, cresceu, cresceu e se tornou um lindo jovem. Eles voltaram ao castelo do nobre senhor e se casaram. Issum chamou seus pais para viverem juntos no capital. E todos viveram felizes, por muito tempo.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Folclore Sem Fronteiras (Japão: A Princesa e o Dragão)



Há muitos séculos, vivia, em uma pequena aldeia montanhosa, um velhinho e sua esposa. Certa ocasião, os dois foram a um santuário agradecer a Zenchi no Mikoto', o Deus da Graça Divina, pelo dom da longevidade da qual eles foram contemplados. Na volta, quando caminhavam para casa, viram no rio um cesto sendo levado pela correnteza. Curiosos, pegaram uma vara de pesca abandonada e puxaram o cesto para a margem do rio.
         O casal levou um tremendo susto, porque no cesto havia uma criancinha sorridente. Como o casal não tinha filhos, interpretou que aquela graciosa menina era um presente do céu, já que durante as orações de agradecimento no santuário, haviam comentado que se tivessem filhos, a felicidade do casal estava completa.
         Assim, levaram a criança para casa e a trataram com muito carinho. O tempo passou e a criança transformou-se numa linda moça. Ela era tão bonita que todos a chamavam de Hime (Princesa).
         Na vizinhança, moravam dois irmãos que gostavam dela desde o tempo em que eram crianças. O irmão mais velho era esperto e muito ativo; o mais novo, amável e muito pacato.
         Um dia, quando o senhor feudal visitou a aldeia durante o Festival da Colheita, vendo a moça dançar, gostou muito dela e a requisitou para morar no castelo como uma das suas concubinas.
         Os aldeões ficaram satisfeitos, pois a sua ida para o castelo do senhor representava prosperidade futura da aldeia, pois ela poderia interceder junto ao senhor feudal para fazer melhorias. Porém, duas pessoas da aldeia não gostaram. Eram os irmãos que amavam a garota. Desgostoso de tudo, o mais velho foi até o penhasco e saltou para dentro do lago. Logo a seguir, o irmão mais novo. Nesse exato momento um dragão surgiu na superfície do lago e os aldeões pensaram que ele se transformara num dragão. Na verdade, o dragão era o pai dos irmãos, Ryuoo, o Rei dos Dragões.
         Certo ano, na região, houve uma longa estiagem. O campo agrícola estava completamente seco e o grande lago, quase seco. Diante disso, o senhor feudal ordenou que os aldeões fizessem campos de arroz no lago semi-seco. Assim, os lavradores começaram a remover a terra do fundo do lago. Porém, nessa noite, todos os lavradores tiveram o mesmo sonho: a bela Hime apareceu a cada um deles e fez um pedido dizendo para preservar o lago como está.
         Mas ninguém deu ouvido ao pedido e continuaram cavando a terra para o plantio, pois estavam desesperados. Se a seca continuasse, todos morreriam de fome.
         O fundo do lago foi todo revirado pelos homens da aldeia. Então, Ryuoo ficou irritado e a água foi aumentando, aumentando, até causar uma inundação. As águas carregaram as mudas de arroz para superfície, levando-as para o campo tradicional e arrastando os corpos dos irmãos que estavam mortos no fundo do lago.
         Hime vendo Ryuoo foi conversar com ele:
         - Por favor, Rei dos Dragões, use seus poderes para trazer os dois irmãos à vida.
         - Esses dois eram meus filhos, mas nada posso fazer, pois eles sacrificaram a vida por vontade própria. Somente outro sacrifício pode reverter essa situação.
         - Eu amei os dois. Ajude-os em troca de meu sacrifício. Para dizer a verdade, trago em meu ventre um bebê do irmão mais velho, disse Hime chorando.
         - Lembre-se, você, que é tão linda, se entrega sua vida em sacrifício, jamais poderá retornar à forma humana. Será para sempre um dragão feio.
         Hime concordou em se transformar em dragão e viver para sempre no fundo do lago com seu amado que, após voltar à vida, preferiu a forma de dragão. O irmão mais novo adquiriu novamente forma humana e retornou à aldeia com o bebê de Hime e de seu mano.
         Quinze anos depois, o bebê havia se transformado em uma linda garota. Por isso, como a mãe, todos da aldeia a chamavam de Hime (princesa).
         Um dia olhando para o lago, seu tio disse:
         - Fomos salvos por sua mãe 15 anos atrás. Ela era bonita como você. Aceitou ser transformada em dragão para salvar a minha vida e a de seu pai. Eu prometi que retornaria ao lago quando você completasse 15 anos. E hoje é o dia do meu retorno.
         Dizendo isso, o irmão mais novo mergulhou no lago e nunca mais voltou.
         Atualmente o lago é chamado de Lago Tazawa, cujo nome faz referência à plantação de arroz.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Folclore Japonês (Tanabata)


Através do céu estrelado de uma noite de verão, é possível avistar duas estrelas, em lados opostos: Altair e Vega. Dizem que estas duas estrelas foram, há muito tempo, um homem e uma mulher, que agora só se encontram um vez por ano, no sétimo dia do sétimo mês, 7 de julho. A lenda a seguir é a história dos dois.

Era uma vez um homem, chamado Mikeram. Um dia, quando voltada do trabalho e andava perto de um lago, avistou uma manto preso a uma árvore. Era feito de tecidos finos, muito bonito e brilhante. “Que lindo manto! Deve valer uma fortuna”, pensou o rapaz. Ele pegou o manto e guardou consigo.

“Com licença senhor”, ouviu alguém dizer enquanto se preparava para ir embora. “O senhor viu o meu manto, ele estava aqui, sobre esta árvore?” Mikeram mentiu, “não, não vi nada parecido com um manto aqui”. “Ai, como voltarei agora para o meu reino, acima das nuvens, sem meu manto eu não consigo.”, disse a jovem mulher.

Ela se chamava Tanabata. Mikeram apaixonou-se pela linda mulher à primeira vista e tinha medo que, ao devolver o manto, ela partisse para longe. “Venha comigo, você pode ficar na minha casa enquanto não encontra seu manto sagrado”.

Eles se casaram e viveram juntos por alguns anos. Mas Tanabata olhava para as estrelas todas as noites, ela tinha muita saudade de seu reino. Todos os dias Mikeram saía para trabalhar e Tanabata ficava em casa, com os passarinhos. Um belo dia, ela viu um passarinho bicando algo no telhado e logo percebeu que era o seu manto.

“Então foi Mikeram que pegou meu manto, ele sabia o tempo todo”. Preparou-se para partir, vestiu seu manto e ia subindo, quando ouviu Mikeram gritando. “Você encontrou seu manto, me perdoe, não vá, eu te amo”. Tanabata gritou, “Se realmente me ama, faça mil pares de chinelos e enterre-os perto de um broto de bambu. Assim nós nos encontraremos novamente, eu estarei esperando”. E partiu voando.

Assim, dia após dia e noite após noite, Mikeram produziu chinelos e mais chinelos. Quando finalmente conseguiu juntar mil pares, correu para um broto de bambu e os enterrou. De repente, o bambu cresceu e cresceu. Sem perder tempo, Mikeram subiu até as nuvens. Mas, quando chegou perto do topo, percebeu que não havia mais árvore para subir e ainda faltava um pouco para chegarão topo. Na verdade, ele havia errado na conta, construíra somente 999 pares de chinelo.

“Tanabata, Tanabata, me ajude a subir, sou eu, Mikeram”. Tanabata ouviu os gritos do marido e correu para ajuda-lo. Quando ele finalmente conseguir subir, os dois se abraçaram. Mas de repente, ouviram um grito, “quem é você?”, perguntou o pai de Tanaba a Mikeram.

“Ele é meu marido e eu o amo”, disse Tanabata. O pai não gostou nada de Mikeram, ele era de outro reino e não servia para sua linda filha. “Para ficar aqui, meu rapaz, você terá que cumprir algumas tarefas. Está vendo aquelas cestas, eu quero que você plante todas as sementes que estão nelas”. “Sim, senhor, farei isso.”, respondeu timidamente Mikeram.

Havia milhares de sementes e ao final de três dias, Mikeram plantara todas. “Mas, o que significa isso? Você plantou as sementes no campo errado”, disse o pai, enfurecido. “Você terá que plantar todas novamente e rápido”, ordenou. Pobre Mikeram, levaria anos para achar todas as sementes e planta-las novamente.

Felizmente, Tanabata teve uma grande idéia: chamou seus pássaros de estimação e pediu para que eles achassem e replantassem todas sementes, juntos com outros pássaros amigos. Assim, o céu ficou coberto de pássaros, que cumpriram a tarefa.

O pai de Tanabata mal pode acreditar no que viu. Logo pensou em outra tarefa difícil para Mikeram: ele deveria cuidar da plantação de melancias por três dias e três noites, sem comer ou beber nada. “Tome muito cuidado, Mikeram, melancias são frutas sagradas no meu reino”, advertiu Tanabata, “não coma uma sequer.”

Após dois longos e cansativos dias, Mikeram estava exausto, como muita fome e sede. Ele não resistiu e abriu uma das milhares de melancia. De repente, uma enorme quantidade de água jorrou da melancia, como um rio turbulento, arrastando Mikeram para longe, muito longe do reino das estrelas e de Tanabata.

A partir deste dia, Tanabata e Mikeram se encontram somente uma vez por ano, no dia 7 de julho. Nesta data, o pai de Tanabata convoca todos os pássaros do reino para formar uma grande ponte, que leva Mikeram a Tanabata.
(autor desconhecido)
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O Festival Tanabata, ou Festival das Estrelas, combina tradição chinesa com crenças japonesas. Tanabata celebra o encontro de dois amantes míticos simbolizados pelas estrelas: Kengyu (a estrela Altair) e Shokujo (Vega). Estão separados pela Via Láctea, mas reúnem-se uma vez por ano, nos princípios de Julho. Muito famoso, o Festival Tanabata efetua-se de 6 a 8 de Agosto em Sendai, no distrito de Miyagi. Cada família local ergue um poste de bambu, profusamente decorado com tiras de papel colorido. As decorações mais elaboradas são colocadas ao longo das ruas do comércio. Dos tetos dos centros comerciais pendem centenas de decorações em papel, cada uma com mais de dez metros de altura. Na véspera do Festival Tanabata de Sendai, os organizadores montam uma fantástica exibição de mais de 10 mil peças de fogo de artifício para os dois milhões de turistas que assistem. O Tohoku Shinkansen (comboio rápido) leva-os de Tóquio a Sendai em pouco mais de duas horas
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Fonte:
Imagem = http://painandpower.blogger.com

sábado, 5 de setembro de 2009

Ryunosuke Akutagawa (Rashômon)



Era o entardecer. Um servo de baixa condição esperava, sob o Rashômon (Portal de entrada sul da antiga capital imperial, Kyoto), que a chuva passasse.

Sob o grande portal não havia mais ninguém. Somente um grilo pousado na enorme coluna circular, que tinha partes descascadas em seu vermelho laqueado. Uma vez que o Rashômon se situava na Avenida Suzaku, era de esperar que houvesse mais pessoas, com seus chapéus cônicos ou alongados, abrigando-se da chuva. Entretanto, além deste homem não havia mais ninguém.

Isso porque, nos últimos dois ou três anos, Kyôto sofrera seguidas calamidades, como terremotos, redemoinhos, incêndios e fome. Assim, era enorme a desolação da capital. Rezam as antigas crônicas que naquele tempo se destruiam estátuas de Buda e objetos de culto budista, que eram empilhados na beira da estrada para se vender como lenha a madeira ainda laqueada ou folheada a ouro e prata. Se até a capital se encontrava nessas condições, da conservação do Rashômon, então, nem sequer se cogitava. Assim, tirando partido do abandono em que este se encontrava , raposas e texugos começaram a se abrigar no portal. E também ladrões. Até que, passado um tempo, vieram também a depor no Rashômon cadáveres não identificados. Ao cair da noite, tal era o pavor que ninguém mais ousava se aproximar.

Corvos começaram então a se juntar em bandos, vindos não se sabia de onde. Durante o dia, inumeráveis, eles descreviam círculos e grasnavam ao redor da alta cumeeria. No crepúsculo, quando o sol se avermelhava sobre o portal, facilmente podiam ser divisados, como grãos de gergelim dispersos no ar. Vinham, obviamente, alimentar-se da carne dos mortos abandonados na galeria... se bem que, naquele dia, não se avistasse nenhum deles, talvez devido ao adiantado da hora. Mas podia-se notar seus excrementos pontilhados de branco sobre os degraus de pedra quase em ruínas, em cujas fendas crescia capim. Acocorado no último dos sete degraus, sobre o pano surrado de sua vestimenta azul-escura, o servo olhava a chuva distraído, sentindo-se incomodado com a enorme espinha que lhe aparecera na face direita.

Escreveu o autor anteriormente: “Um servo de baixa condição esperava a chuva passar”. Mas, mesmo que a chuva passasse, o servo não teria, na verdade, nada a fazer. Normalmente, é claro, deveria retornar à casa de seu senhor. Acontece que fora dispensado havia quatro ou cinco dias. Como também se escreveu antes, a cidade de Kyôto, por essa época, se encontrava em acentuado estado de decadência. E o fato de ter sido dispensado pelo senhor, a quem servia durante longos anos, não passava de uma pequena conseqüência dessa decadência geral. Seria, portanto, mais adequado dizer “um servo de baixa condição, preso pela chuva, estava desnorteado, sem saber para onde ir” do que “um servo de baixa condição esperava a chuva passar”. Além do mais, o tempo chuvoso contribuía sensivelmente para a disposição de espírito desse homem da era Heian. A chuva que começara a cair depois das quatro horas da tarde parecia que não ia mais parar. Assim, havia algum tempo, o servo ouvia, com ar ausente, o barulho da chuva que caía na Avenida Suzaku ruminando pensamentos desconexos, procurando resolver, antes de mais nada, a questão de sua sobrevivência, questão que ele sabia ser insolúvel.

A chuva, envolvendo o portal, trazia a massa do som até das gotas mais longínquas. A escuridão aos poucos fazia abaixar o céu; quem levantasse os olhos veria o telhado do Rashômon, que se projetava em diagonal, sustentando nuvens pesadas e sombrias.

Quando se tenta resolver uma questão insolúvel, não há tempo para escolher os meios. Se demorasse muito na escolha, o servo certamente terminaria morrendo de fome ao pé de um muro de barro ou à beira de uma estrada. E certamente seria trazido até o portal e abandonado como um cão. “Se não escolher...” Seu pensamento, depois de muitos rodeios, finalmente empacou neste ponto. Entretanto, este “se” continuava sendo, afinal de contas, o mesmo “se”. Mesmo admitindo não haver escolha de meios, ele não tinha coragem suficiente para aceitar de forma positiva a resposta inevitável à questão: “A única saída é tornar-me ladrão”.

Depois de um forte espirro, o servo se ergueu preguiçosamente. Em Kyôto, onde as tardes são frias, a temperatura baixara a ponto de fazê-lo desejar um braseiro. Na escuridão, o vento soprava implacável por entre as colunas do portal. Até o grilo pousado na coluna laqueada de vermelho já havia desaparecido.

Encolhendo-se todo e erguendo a gola da vestimenta azul-escura que envergava sobre a roupa amarela, correu os olhos em volta do portal. Procurava um lugar onde pudesse passar a noite tranqüilo, longe de olhares estranhos e ao abrigo do vento e da chuva. Então, por sorte, descobriu uma escada larga, também laqueada de vermelho, que conduzia a uma galeria sobre o Rashômon. Lá em cima, o máximo que ele poderia encontrar seriam cadáveres. O servo, assim, cuidando para que a espada presa à sua cintura não se soltasse da bainha, pousou no primeiro degrau o pé calçado de sandália de palha.

Subiu então, daí a alguns minutos, a meia altura da ampla escada que conduzia à galeria do Rashômon. Um homem, o corpo encolhido como um gato, sustendo a respiração, espreitava o que se passava ali em cima. A luz que vinha da galeria tocava levemente sua face direita. Era uma face com uma espinha vermelha e purulenta em meio a uma barba rala. O servo, desde o início, tinha a certeza de que ali no alto só haveria cadáveres. Todavia, depois de subir dois ou três degraus, pareceu-lhe notar alguém que se movimentava. Logo isto se confirmou, pois uma claridade turva e amarelada se refletia, oscilante, nos vãos do teto cobertos de teias de aranha. Não podia tratar-se de uma pessoa comum quem, numa noite de chuva como aquela, portasse um luzeiro no interior daquela galeria do Rashômon.

Fonte:
Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Ryūnosuke Akutagawa (1892 – 1927)


Ryūnosuke Akutagawa (1 março, 1892 - 24 julho, 1927) foi um escritor japonês ativo no Japão durante o período Taishō. Ele é considerado o "Pai do conto japonês", e é famoso por seu estilo e suas histórias ricas em detalhes que exploram o lado negro da natureza humana.

Anos iniciais

Ryūnosuke Akutagawa nasceu no distrito Kyōbashi de Tóquio, a terceira criança e único filho de Toshizō Niihara e Fuku Niihara (nascida Akutagawa). Ele recebeu o nome de "Ryūnosuke" ("Filho Dragão") porque supostamente ele nasceu noAno do Dragão, no mês do Dragão, no Dia do Dragão, e na Hora do Dragão. Sua mãe enlouqueceu logo após seu nascimento, e ele foi adotado e criado por seu tio materno, Akutagawa Dōshō, de quem ele recebeu o nome de família Akutagawa. Ele mostrou interesse por literatura chinesa clássica desde a mais tenra idade, bem como pelos trabalhos de Mori Ōgai e Natsume Sōseki, ambos populares durante sua infância.

Ele entrou na Primeira Escola Superior em 1910, tornando-se colega de Kan Kikuchi, Kume Masao, Yamamoto Yūzō e Tsuchiya Bunmei, todos os quais futuramente tornar-se-iam autores famosos. Ele começou a escrever ao entrar na Universidade Imperial de Tóquio em 1913, onde estudou literatura inglesa.

Quando ainda estudante ele propôs casamento à uma amiga de infância, Yayoi Yoshida, mas sua família dotiva não aprovou a união. Em 1916 ele contraiu núpcias com Fumi Tsukamoto, com quem casou em 1918. Tiveram três filhos: Hiroshi Akutagawa (1920-1981) foi um ator famoso, Takashi Akutagawa (1922-1945) foi morto quando um recruta estudante na Birmânia, e Yasushi Akutagawa (1925-1989) um compositor famoso.

Após sua graduação ele ensinou por um curto período na Escola de Engenharia Naval em Yokosuka, Kanagawa como um instrutor de língua inglesa, antes de decidir dedicar-se exclusivamente à escrita.

Carreira literária

Em 1914, Akutagawa e seu amigos da escola reviveram o jornal literário Shinshichō ("Novas Correntes de Pensamento"), publicando traduções de William Butler Yeats e Anatole France junto com seus próprios trabalhos.

Akutagawa publicou seu primeiro conto Rashōmon no ano seguinte na revista literária Teikoku Bungaku ("Literatura Imperial"), quando ainda um estudante. A história, baseada num conto do século XII, com um profundo drama psicológico, foi em grande parte descartado pelo mundo literário, com exceção do famoso autor Natsume Sōseki. Encorajado por este apoio, Akutagawa considerou-se a partir de então discípulo de Sōseki, e começou a visitar o autor nas suas reuniões do seu círculo literário que ocorria toda quinta-feira. Foi também nesta época que ele começou a escrever haiku sob o haigo (nome literário) Gaki.

Estas reuniões o levaram a escrever Hana ("O Nariz", 1916), que foi publicado no Shinshicho, e novamente louvado por Sōseki. Akutagawa seguiu com uma série de contos ambientados no Japão do período Heian, período Edo e início do período Meiji, e baseavam-se nos temas da feiura do egoísmo e do valor da arte. Estas histórias reinterpretavam trabalhos clássicos e incidentes modernos de um ponto de vista moderno.

Exemplos destas histórias incluem: Gesaku zanmai ("Uma Vida Devotada a Gesaku", 1917) e Kareno-shō ("Colheita de um Campo Definhado", 1918), Jigoku hen ("Tela do Inferno", 1918); Hokōnin no shi ("A Morte de um Cristão", 1918) e Butōkai ("O Baile", 1920).

Akutagawa foi um forte oponente do naturalismo, que havia dominado a ficção japonesa no início do século XX. Ele continuou a inspirar-se em contos antigos, dando-lhes uma interpretação complexa moderna, mas, entretanto, o sucesso de histórias como Mikan ("Mexirica", 1919) e Aki ("Outono", 1920) o levaram a escrever cada vez mais utilizando uma ambientação moderna.

Em 1921, no auge de sua popularidade, Akutagawa interrompeu sua carreira literária para passar quatro meses na China, como reporter para o Mainichi Shinbun de Osaka. Esta viagem foi estressante e ele sofreu de várias doenças, das quais sua saúde nunca recuperar-se-ia. Logo após o seu retorno ele publicaria seu conto mais famoso, Yabu no naka ("Dentro do Bosque", 1922).

Anos finais

A fase final da carreira literária de Akutagawa foi marcada pela deterioração de sua saúde física e mental. Uma boa parte do seu trabalho desta época é claramente autobiográfico, partes mesmo tomadas diretamente de seus diários. Seus trabalhos durante este período, especialmente o Daidōji Shinsuke no hansei ("A Juventude de Daidōji Shinsuke", 1925) e o Tenkibo ("Registro de Morte", 1926) são introspectivas e refletem sua depressão e crescente impaciência com o deterioramento de seu estado mental.

Apesar de sua condição enfraquecida ele travou um debate espirituoso com o famoso autor Jun'ichirō Tanizaki. Akutagawa atacou Tanizaki sugerindo que o lirismo era mais importante que a estrutura numa história.

Os últimos trabalhos de Akutagawa: Kappa (1927), uma sátira baseada numa criatura do folclore japonês, Haguruma ("Roda Dentada", 1927), uma história de terror baseada numa mente sensível que perde gradualmente o senso de realidade, Aru ahō no isshō ("A Vida de um Idiota"), e o Bungeiteki na, amari ni bungeiteki na ("Literário, Literário Demais", 1927) revelam muito sobre o seu etado psicológico final.

No fim de sua vida Akutagawa começou a sofrer de alucinações visuais e nervosismo devido ao medo de que ele houvesse herdado a loucura de sua mãe. Ele tentou o suicídio em 1927, junto com um amigo de sua esposa, mas a tentativa não teve sucesso. Por fim ele suicidou-se tomando uma overdose de Veronal a 24 de julho desse mesmo ano. Suas últimas palavras no seu testamento diziam que ele sentiu uma "vaga ansiedade" (Bon'yaritoshita fuan, "vaga ansiedade" ). Contava com apenas 35 anos de idade.

Legado

Akutagawa não escreveu nenhum livro extenso, concentrando-se nos contos dos quais ele escreveu mais de 150 durante sua curta vida. Akira Kurosawa dirigiu o filme Rashōmon (1950) baseado nas histórias de Akutagawa; a maior parte da ação no filme era na realidade uma adaptação do conto Dentro do Bosque.

Em 1935, o grande amigo de Akutagawa, Kan Kikuchi, estabeleceu o prêmio literário de mais prestígio do Japão, o Prêmio Akutagawa, em sua honra. O prêmio é conferido anualmente a escritores iniciantes de potencial.


Trabalhos
1914
Rōnen (Velhice)
Rashōmon
1916
Hana (O Nariz)
Imogayu (Mingau de Mandioca)
Hankechi (O Lenço)
Tabako to Akuma (Tabaco e o Demônio)
1917
Ogata Ryosai Oboe gaki (Dr. Ogata Ryosai: Memorandum)
Gesakuzanmai (A sorte na escrita de novelas populares)
1918
Kumo no Ito (A Teia de Aranha)
Jigokuhen (Tela d’ Inferno)
Kareno shou (Comentário sobre o campo desolado para Bashou)
Jashūmon
Hōkyōnin no Shi (O Mártir)
1919
Majutsu (Mágica)
Ryū (Dragão)
1920
Butou Kai (O Baile)
Aki (Outono)
Nankin no Kirisuto (Cristo em Nanquin)
Toshishun (Tu Tze-chun)
Aguni no Kami (Espírito de Aguni)
1921
YamaShigi (O Ridículo)
Shanhai Yuki (Relato da viagem a Xangai)
1922
Yabu no Naka (Dentro de um Bosque)
Shogun (O general)
Torokko (Um caminhão)
1923
Yasukichi no Techou kara (Do livro de Yasukichi)
1924
Ikkai no Tsuchi (Um punhado de terra)
1925
Daidoji Shinsuke no Hansei (Daidoji Shinsuke: os anos iniciais)
Shuju no Kotoba (Aforismos de um pigmeu)
1926
Tenkibo (Registro de Morte)
1927
Genkaku Sanbō (Quarto de Genkaku)
Kappa
Bungeiteki na, amarini Bungeiteki na (Literário, Literário Demais)
Haguruma (Roda Dentada)
Aru Ahō no Isshō (A vida de um idiota)
Saihō no Hito (O homem do oeste)

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/
http://www.colegioweb.com.br/biografias/akutagawa-ryunosuke
http://www.infopedia.pt/