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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Coelho Neto (Mano) Parte 9

A MEMÓRIA
Dantes não havia homem mais rico do que eu, e o meu tesouro chamava-se – memória.

O que eu tinha ali acumulado o com que ordem! Desde a infância a ajuntar por dia...

E tanto era eu desejar como ser logo atendido.

No dia último dos dez do meu martírio quando me convenci que morrias, não sei que se passou em mim.

Foi como se reduzissem a cinzas todo o meu tesouro.

Falando ou escrevendo esquecem-me as expressões, faltam-me os termos. Só tu ficaste, tu só, tudo mais se esvaiu.

Assenhoreaste-te da casa das relíquias e nela imperas, solitário e dono.

E, agora, se recorro à memória por um nome, é o teu que, de pronto, me responde; se procuro recompor uma imagem, é a tua que se me afigura; se atento a um som remoto, ouço-te voz; se insisto em recordar uma cena, vejo te, e como? Infante, menino, adolescente ou jovem, como te perdi? Brincando, estudando, na arena, no trabalho, à mesa, na alegria da família, forte, feliz em suma? Não! Vejo-te sempre na hora extrema, estendido no leito arfando encarado em mim, com o crucifixo ao peito, entre as mãos gélidas, diluindo o derradeiro olhar em lágrimas.

Que alivio seria para mim perder o que me resta da memória!...

Mas não! Perder esse pouco, que é tudo. seria esquecer-te, nunca mais sentir-te, proceder com a tua lembrança como faz o túmulo com o teu corpo.

Não! Pereça tudo! Esqueça eu tudo, contanto que fiques no fundo da memória, tu, como fica a esperança no coração do mais desventurado.

RECORDANDO
Fica-me em caminho a casa em que nascente. Vejo-a diariamente e, olhando-a, lembro-me da manhã de alvoroço quando dissipaste o silêncio daquele lar com a alegra do teu primeiro choro.

Como me ecoou no coração a tua voz deserta: sons apenas, vazios; espaços em que deviam, com o tempo, desabrochar palavras, flores que não se trazem do céu, por serem efêmeras, próprias da terra.

Lembro-me de ti ao colo de tua mãe, tão pequenino e tão chegado ao seio como se fosses o seu próprio coração.

No breve instante que dura a minha passagem por esse oriente toda a tua vida passa-me pela alma, atravessa-a de golpe, cinde-a com a velocidade da luz.

Quantos sonhos ali entretecemos com idéias felizes, desenrolando infindavelmente o novelo de ouro das nossas esperanças!

Sete irmãozinhos teus já nos haviam deixado sós. Sete vezes, chorando, foram levar os enjeitadinhos da vida à roda lúgubre dos que, expostos na terra, são recolhidos no céu.

Sete vezes havíamos perdido os bens que Deus nos dera.

Temendo que te acontecesse o mesmo redobrávamos, à noite, a vigilância para que a Morte, ladra dos nossos amores, não nos entrasse pelo sono furtando-te também.

Se te aquietavas serenamente desconfiávamos da tranqüilidade; se te agitavas temíamos que fosse de febre. E tanto desvelávamos em volta do teu berço que despertavas assustado aos gritos.

Que alegria quando te ouvíamos chorar!

E tua mãe, sorrindo, dava-te logo o seio e, inclinada sobre ti, mais do que o leite, o que te oferecia era a própria alma. Tais eram as cenas de amor, iluminuras da minha felicidade.

Aconselharam-me a mudar-me para casa mas desafogada, que tivesse jardim onde respirasses ar livre, pudesses gozar o sol, passar as manhãs entre árvores.

Achei perto o que desejava. Casa ampla, terreno vasto, arvoredo e flores. Ali sim! Acordavas com o canto dos passarinhos.

Eras pequenino, de colo, quando me apartei de ti. Durante sete dilatados meses, errando por brenhas, correndo o mar e rios, parando em vilas sertanejas e em cidades, acompanhei o dealbar da tua vida pelas cartas de tua mãe.

Em uma anunciou-me ela os teus primeiros passos; em outra o teu primeiro dente; em outra a tua primeira palavra. E eu via-te no meu pensamento, sentia-te dentro de mim.

Quando regressei contavas um ano e três meses.

Ao entrar em casa, vendo-te formoso, com os cabelos em cachos, os dentinhos alvos à flor do sorriso, como se acabasse de mamar e trouxesse ainda a boca cheia de leite, olhando-me espantadamente, com a inocência a brilhar dentro dos olhos, fui-me direito a ti de braços estendidos.

Refugiste arisco para junto de tua mãe, com um beicinho de choro, que me fez sorrir.

Não me conhecias. Era natural. Pouco a pouco porém, fui conquistando a tua confiança e já na tarde desse venturoso dia éramos amigos íntimos.

E tu, tomando-lhe pela mão, levaste-me a percorrer o teu pequenino paraíso, a chácara em que te criaste, entre árvores, uma das quais a ameixieira, foi a tua ama mais solícita, dando-te os frutos dos seus galhos e agasalhando-te à sua sombra, onde brincavas, e, quanta vez! dormias.

Desde então até o dia triste se nos separamos foi por ausências breves.

Cuidava eu, na minha confiança, que assim seria sempre até que me soasse a hora de sair na viagem infinita.

S foste tu que partiste!

Eu deixei-te pequenino, quando não sentias ainda a minha falta: deixei-te, mas regressei. Tu me deixaste cheio das tuas raízes, já me havias tomado todo o coração... e não voltas, não voltarás nunca mais!

Passo diariamente perto da casa em que nasceste, olhando-a, porém, logo me lembro do túmulo em que jazes. Tu, não: teu corpo criado por nós, a nossa parte humana, que a divina foi por Deus reavida e lá está com Ele, longe de nós, longe da terra, tão longe!

Longe, todavia está o sol e aclara-nos; longe estão os demais astros, e vemo-los. Só tu não nos dás sinal de ti a não ser pela saudade em que te transformaste e que não nos deixa, tão viva em nós que eu, às vezes, tenho medo de que te estejamos a prender conosco, privando-te do Paraíso, encarcerado, como te trazemos, em nossos corações.

Mas se deles saíres que nos ficará neste mundo, perdida a única consolação que nos resta, que é a tua, lembrança?

Vive, vive em nós, no mais íntimo da nossa alma: vive na saudade como antes vivias, em esperança, no mais profundo do nosso amor.

VISITA
A súbitas, sem causa, constringe-se-me o coração. Enche-se-me o peito de ânsia. Trava-se-me a respiração em angústia asfixiante.

Abre-se-me um hiato na existência como se fendem abismos na terra quando a convulsionam cataclismos.

Deve ser assim o morrer, o instante em que a alma, soltos os liames que a retém ao corpo, emerge em surto demandando o espaço para ascender ao céu, liberta.

O que se passa em mim em tais momentos lembra-se essas bolhas de ar que afluem na profundeza dos lagos e, mal chegam à tona, dissolvem-se integrando-se na atmosfera.

Sinto que alguma coisa se desprende do meu ser, como se desprende uma pétala da flor.

Arrasam-se-me os olhos de água e o coração, em sobressalto, precipita as pancadas.

És tu que passas por mim. És tu que me fazes vibrar de comoção. És tu que me atravessas instantaneamente a memória como um pássaro, em vôo de frecha, corta, alígero, o espaço.

Pássaros...! E que são as saudades senão aves de arribação? Ao invés, porém das andorinhas, que, a maneira dos heliantos, andam sempre procurando o sol e, as primeiras brumas, reunidas em caravanas, partem, céus em flora, em busca de climas tropicais, elas emigram no estio e é justamente no inverno que nos chegam.

Coração alegre não lhes serve: gostam de fazer os ninhos à sombra da melancolia e aí vivem e procriam.

No mais rigoroso da tristeza, quando as lágrimas são mais copiosas, levantam-se em revoadas e escurecem e entristecem ainda mais o que, já de si, é lúgubre: o coração magoado.

Se no momento, tais evocações excruciam-me, deixam-me depois a alma aliviada, como certos bálsamos que, no instante em que são aplicados às feridas, exacerbam-lhes as dores para as lenirem depois!

E por que assim se converte a angústia em conforto? Porque, por ela, me convenço da tua sobrevivência.

Se tornas, posto que só em espírito, é porque existes.

O nada não se levanta, não atende, não se manifesta. E tu surges, vens a mim, anuncias-te presente, ainda que invisível.

Caminhando ao longo do silvedo eis que nos chega um aroma. Senti-lo e logo saber que flor o exala é tudo um instante. E a flor ? Onde? Escondida na balsa, oculta nas frontes ou refolhada nos aningais do lago, algures, invisível, mas presente.

É o que se dá quando meu coração se retranse de saudade. Entristeço-me, logo, porém, consolo-me sentindo-te.

Melhor seria que eu te visse, que vivesses conosco. Mas o maior tormento, depois que te partiste, era imaginarmos que te havíamos perdido para o sempre. Não!

Estás longe, mas existes, não desapareceste porque o essencial de ti a parte eterna do que foste, vive.

O que lá está, na terra, é o casulo: a borboleta voa livre, na luz, e, de quando em quando, saudosa, baixa do céu à terra e pousa de leve em nossos corações.
–––––––
continua…

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Coelho Neto (Mano) Parte 8

O QUE RESTA

Leva a tempestade o ninho e a ave, órfã e desabrigada, esvoaça tonta e aflita. Vai de árvore a árvore, salta de ramo em ramo ansiosa; eleva-se no ar, libra-se em pairo, torna ao chão, olha, pesquisa e, do que foi, nem a mais tênue achega encontra.

Dolorida, ainda que tudo se lhe balde, revoa em volta da árvore em que teve o pouso e a prole, até que, de todo desanimada, abala, fugindo ao sítio da desventura.

Longe, porém, em verdes silvas, cantando aqui, ali palhiço e folhas, tece outro ninho, reinstala-se em tépido aconchego e dorme até que rompe a madrugada, e ei-la desperta, pronta para voar de novo, cantar ao sol, feliz.

Teu nome!

Anda de boca em boca como, de ramo em ramo, voa e revoa a ave desditosa. Ouço, a todo o instante, o doce nome ao qual dantes respondias. Mas o ninho em que ele vivia foi-se levado pela tempestade, caiu da árvore do amor, desfez-se em pó no chão.

Debalde soas, pobre nome! Não és mais que som. Andas nas falas, voas nos suspiros, sinto-te nas lágrimas.

Isso, porém, que monta se não assentas, porque o corpo, que era o teu pousadouro, desapareceu para sempre.

O desespero da ave cessa desde que ela refaz o ninho em outro sítio. Teu nome, esse... ai! de nós! nunca mais se firmará na vida, andará de boca em boca, de lembrança em lembrança em nossa saudade, como a ave, de ramo em ramo, nas árvores da floresta, mas sem poder fazer de novo o ninho, reinstalar-se e adormecer, para sair com a luz da manhã, reentrar na vida alegremente, ao sol.

Pobre nome! E é tudo que resta do que se foi na tormenta.

CONSOLAÇÃO

Já entrando no gabinete, detive-me, porém, à porta, comovido com aquele culto suave vendo-a escolher no ramo que, todas as manhã, lhe é levado pelo florista, as mais belas rosas, de preferência os botões com que ornamenta o retrato do filho amado, posto entre o grande tinteiro de bronze e a caixa dos cigarros.

Deixei-me estar quieto como se assistisse a uma cerimônia religiosa. E outra coisa não era aquele ofício de saudade, diante da mesa que fora o altar em que ele estivera exposto toda uma noite, entre as colunas flamejantes dos ciriais, com um crucifixo sobre o peito, e cercado de flores.

Com que enlevo ela colocava uma a uma no vaso, as rosas escolhidas!

Inclinava a cabeça para contemplá-las, a ver se estavam bem. Endireitava uma, chegava outra mais ao centro, punha os botões às bordas para que desabrochassem livremente, sem empeço.

Por fim, tomou o retrato delicadamente, a mãos ambas, chegou-o aos lábios e reteve-o, muito tempo num beijo. Depô-lo no lugar próprio e pôs-se a falar baixinho.

De repente, em ímpeto de desespero, ajoelhando-se, com os braços estendidos sobre a mesa, de mãos postas, suplicava... O que? E, por entre lágrimas, agitada por soluços, a voz saía-lhe humilde, entrecortada e aflita.

Que diria a pobre mãe naquela ascese dolorosa?

Adiantei-me pé ante pé. O alto tapete abafava-me o rumor dos passos e assim, sem ser sentido, pude chegar até junto dela, e ouvi-la.

Rezava. A Deus? Não, ao espírito do filho. Rezava diante da imagem da sua grande, infinita saudade, pedindo-lhe o milagre da sua presença, um aceno, que fosse, do Além, para consolo da sua alma vazia.

Senti com ela, e, docemente, para não assustá-la, chamei-a.

Apesar da meiguice com que a tirei do arroubo, sobressaltou-se, estremecendo assustada. Ajudei-a a levantar-se, passei-lhe um braço pela cinta e, beijando-a na fronte, disse-lhe compadecido:

- Falavas-lhe? - Ela fitou-me com os olhos rasos de água. - Também eu converso com ele, disse-lhe - não como tu, dirigindo-me ao seu retrato - converso com ele dentro de mim: são as nossas almas que se falam. Tu queres o absurdo.

- Como absurdo?

- Sim. Queres que uma sombra te ouça; que o nada te responda. É absurdo. O retrato é um simples cartão de visita, lembra-nos a sua passagem, só isto; ele, ele mesmo, paira em volta de nós como a luz, envolve-nos como o ambiente, penetra-nos como o ar que respiramos.

Eu sinto-o. Juro-te que o sinto e o que talvez te pareça indiferença, é tranqüilidade que tenho pela certeza em que estou firmado de que o não perdi de mim.

- Também eu o sinto - suspirou ela; - mas quisera vê-lo, ainda que fosse por um segundo. Que ele me aparecesse em um relâmpago e eu não sofreria mais. Por que não havemos nós de ver os nossos mortos? Quando conseguiremos passar da sombra para a claridade do Além! Deus devia ser bom para as mães...

- Deus é bom.

- Bom...! - disse meneando tristemente com a cabeça. - Bom... Bom e nega-nos o pequenino consolo que lhe pedimos com tantas lágrimas. Não mo quer mostrar durante a vigília, mostre-mo durante o sono, num sonho.

Quando dormimos desprendemo-nos do corpo, a alma faz como um pássaro que se ala do ramo onde tem o ninho. Pois bem, no sono, por que não mo deixa ver enquanto durmo? Seria um sonho, um sonho feliz. Nem isso. Por que?

- Por que? Ai! de nós, aí! da vida se conseguíssemos desvendar o segredo da Morte. O azul é o azul da alma. Quando viajamos que fazemos nós no largo oceano - atravessamos a cortina diáfana, vencendo-a, deixando-a atrás? Não, porque ela sempre se nos opõe, ao longe. E por que a temos diante dos olhos sustamos a marcha? Não: prosseguimos com a certeza de topar em porto onde tomemos pé.

Ninguém se deixa ficar no oceano, à matroca - procura um rumo, norteia-se, toma um destino, rompe o azul. É preciso ter coragem e bússola para andar nos mares; é preciso ter crença e fé para levar a alma além da dúvida. Desesperos são temporais e é justamente nos temporais que se conhecem os mareantes.

Se, no furor da tormenta, com os ventos desencadeados e o mar grosso, a tripulação descorçoa e abandona o governo do navio, não serão, decerto, as vagas que o hão de salvar do soçobro. É preciso ter fé, e tu duvidas.

- Eu quisera ver, ter uma prova, por menor que fosse.

- Não as tens porque as buscas materialmente. No escuro não poderás achar o perdido; procura com luz e a Luz, para pesquisas tais, e a fé. Espera, continua a esperar, espera sempre e um dia, talvez, quem sabe...!

Como pensas? Concentrando-te, isto é: encerrando-te em ti mesma. É em nos mesmos que encontramos os nossos mortos. Eles vêm a nos, como a luz; nós não podemos ir a eles.

Achas que Deus não é bom porque cerra, em impenetrável sigilo, o segredo da Morte. Engano teu. Que seria a vida, senão horrenda tortura, se tal mistério não existisse? Fosse o Além o Nada, o inferno ou o Paraíso... Se fosse o Nada, todos viveriam a lamentar o perecimento, a destruição definitiva; se fosse o inferno, que dor saberem todos que os aguardava o tormento; se fosse o Paraíso, não haveria felicidade na terra porque, comparando a via contingente e sofredora com a delicia da existência paradisíaca, tudo fariam para desertar este mundo precário, com ânsia do outro, de eternidade feliz. E os berços, que se aureolam de sorrisos, cercar-se-iam de lamentações, porque viver seria tanto como penar.

Achas que Deus não é bom, porque não consente que o vejas. O nosso egoísmo é que nos agrava o sofrimento. Tu, em verdade, não choras o filho que deixou de viver, que está livre de todos os males que nos torturam: choras o filho que perdeste, o bem que te foi levado, o amor que te falta. Choras sobre ti mesma e julgas chorar sobre o seu túmulo.

- E isto basta-te? consola-te?

- Sim, basta-me, consola-me como me basta, para consolação de tudo quanto tenho sofrido, a certeza, em que estou, de que Deus existe. E se tu invocas o espírito do morto é porque estás certas de que ele não desapareceu com a morte, não se desfez como o corpo e agora, mais do que quando convivia conosco, triunfal, puro e eterno, tão puro como o teu amor, em que ele se encarnou, e eterno, tão puro como a Essência a que regressou.

- E achas que faço mal em trazê-lo assim enfeitado de flores?

- Mal? Por que mal? É um culto e todos os cultos, quando neles há sentimento, como nesse em que pões toda a alma, são belos e dignos de respeito.

Falo-te assim para que não chores tanto. Flores são carinhos; lágrimas são tormentos e, se ainda o chamas de filho e o queres venturoso, porque o hás de perturbar, entristecendo-o com tantas lágrimas?

Flores, sim quantas queiras. O que a morte podia levar, levou. O que nos resta ficará conosco eternamente, a saudade, e chorá-lo é devolver ao coração as lágrimas que dele tiramos.

SOMBRAS

Que resulta da nossa aliança com a luz? Sombra, nada mais.

Alegria é luz e assim como na maior claridade as sombras tornam-se mais negras, mais a tristeza se agrava se dela, em volta, a alegria exulta,

O silêncio é alivio: calma. Na quietude em que me refugio chego a não acreditar na tua morte porque te sinto em mim, comigo, como se vivo foras.

À noite as sombras não aparecem; todas se recolhem aos corpos que as expuseram. De dia, porém, destacam-se, prolongam-se com a terra.

No apogeu meridiano, não suportando a claridade fúlgida, acolhem-se ao de que saíram, como se concentra na dor um coração ferido se, em torno dele, há expansões de vivida alegria.

Felizmente, porém, o sol pouco se demora no zênite e logo que declina projetam-se, de novo, as sombras, até que todas se fundem em uma única, que é a noite.

Isolo-me, não porque aborreça a vida e inveje a felicidade alheia, mas para forrar-me no alvoroço da alegria.

Que o coração adormeça tranqüilamente, no silêncio, e sonhe, como quem dorme.


Sonhando, anda que em vigília, - porque recordar é sonhar de olhos abertos - vê o que foi, reconstitui, um a um, os dias venturosos até aquele que ficou eterno na memória, como jazem imóveis sobre as horas que não soam mais os ponteiros de um relógio cuja máquina parou.

O PIANO

Seis meses já haviam passado e, todavia, ninguém ousava abrir o piano. Mais do que escrúpulo havia medo.

Como que se temia o instrumento: negro, alongado a um canto da sala, em forma de altar, tendo sempre em cima um vaso de flores.

Rondávamo-lo sem ânimo de o tocar. De quando em quando uma das meninas folheava um álbum, de preferência o colecionado por ele, com as peças de sua predileção. Marejavam-se os olhos e, em silêncio, tornavam os volumes aos seus lugares, na estante.

E o piano permanecia mudo.

Um dia, porém, com receio de que as cordas se estragassem, abrimo-lo e a enervação metálica do instrumento rebrilhou ao sol.

Levantada a tampa do teclado, como um lábio que se arregaçasse em riso irônico, o fio das teclas apareceu ebúrneo.

Acercamo-nos todos do piano, olhando-o como se o víssemos pela primeira vez e dele esperássemos pressagamente revelação de segredo sombrio. Um momento ali ficamos, tácitos e quedos.

A mãe foi a primeira a afastar-se; as meninas seguiram-na às surdas, como se temessem, com o rumor dos passos, despertar o mistério. Bem sabiam elas que o instrumento havia de as fazer sofrer e a mim, e a todos, à própria casa que ele, dantes, alegrava com as suas melodias.

Seria pelo som? Se por tal fosse por que não nos comoveriam as vozes de tantos outros pianos que soam na vizinhança e só a daquele nos havia de entristecer?

É que as outras são vozes alheias, de outros lares. Nunca soaram para ele, nunca ele as despertara fazendo-as traduzir o que trazia na memória.

Ali passava ele horas e horas recordando trechos ou, entre nós, recolhido em êxtase, ouvia a mãe repassar as melodias que tanto amava.

E como as sentia! Com que enlevo, verdadeiramente religioso, ficava a ouvi-las, quieto, imóvel, sonhando. Enfim...

Um dia - era necessário que a casa retomasse o rumo na serenidade, reentrando na vida costumeira - abriram o piano e as cordas, que dormiam, despertaram.

Um frêmito percorreu todas a casa, a própria luz tornou-se tíbia e pálida, como acontece com a das lâmpadas de vigília quando entra na alcova o sol, e todos os olhos velaram-se de lágrimas.

Foi como se ele houvesse tornado: sentimo-lo presente.

E o instrumento gemia, soluçava. A própria musica, tão alegre outrora, vinha em pranto.

Seria o instrumento que a modificava ou os nossos corações? Eles, decerto.

O mesmo seria trasfegarmos de fonte a vasos que contivessem ou houvessem contido essência a água pura que logo se infundiria em aroma.

A música, impregnando-se de saudade, recordava e, com tal transporte, já não ouvíamos o instrumento, senão a ele, a voz dele e víamo-lo, sentíamo-lo, tínhamo-lo conosco e, a cada nota que vibrava, o coração respondia com uma lágrima, mandada aos olhos.

Ó arte misteriosa, arte etérea e evocadora! De que força superior dispões para que ressuscites mortos e exsurjas do túmulo, redivivos, os que se foram; as vozes, que se calaram; o corpo, porque o sentimos; o espírito, porque o percebemos no encantamento sonoro! Será a música sortilega como os conjuros dos nigromantes, que têm poder de trazer da Morte as presas sepulcrais?

O certo é que a música realizou o milagre que os nossos corações deprecavam.

Ele veio por ela, acudiu à invocação dos sons, desceu do Além e pairou sobre nós.

E toda a casa ficou, um momento, em alvoroço como a granja da parábola, de onde desertara o filho pródigo, quando os seareiros, avistando-o na estrada, largaram o serviço e correram alvissareiramente a dar a boa nova aos pais e aos irmãos do que tornava.

E quando a mais triste das mães se assentou ao piano, abriu o álbum que ele lhe dera e começou a executar débil, tremulamente e chorando, foi ele quem mais atentamente a ouviu, porque todos nós o sentimos, não aqui, ali, mas em nós mesmos, como todos vêem e sentem a luz ou o perfume em uma sala, se nela há sol ou flores vivas.

Ó arte miraculosa! E nós que temíamos ouvir-te! Nós que tanto tempo evitamos o altar da ressurreição, de onde ele saiu nos sons, como se evola o aroma nas espiras de fumo dos incensórios, vindo a nós, envolvendo-nos, visitando-nos com a sua presença imaterial, enchendo com ela o grande vazio da nossa saudade, imenso, sem termo como o infinito.

Já agora que importam as lágrimas! sabemos como atraí-lo. Ele adorava a música, buscava-a onde ela soasse. Por que não o havemos de chamar aos nossos corações com a voz harmoniosa?

E o piano, outrora temido, é hoje o nosso companheiro e confidente.

Abrimo-lo, e, em contraste com o sepulcro, que não nos restitui o que, avaramente, guarda, ele, com a vibração das suas cordas, traz-nos o espírito adorado, atrai-o do Além e fá-lo vir até nós, conviver conosco, senão em corpo carnal, na essência que dele se acha integrada em Deus, da qual conservamos a lembrança na memória do coração, que é a saudade.
–––––––

continua…

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Coelho Neto (Mano) Parte 7


ESPERANÇA

Será crível que ainda resistas ou dar-se-á que haja fantasmas de ilusões?

Serás tu mesmo que ficaste à flor do túmulo, flutuando na morte, e que assim me apareces como sombra do que já não existe?

Serás tu mesma, Esperança, que vens a mim do fundo da noite perpétua?

Contam-se estrelas no céu, mortas há milênios, cuja luz, entretanto, ainda nos deslumbra e guia.

Serás tu como tais astros?

Se és, em verdade, a Esperança, por que me martirizas, tu, que sempre nos socorres como incentivo; tu, que nos manténs as forças para que prossigamos e, na tarde da desdita, promete-nos a manhã da felicidade?

Se és tu, benéfica, porque te fazes cruel acordando-me a alma no coração com o timbre da sua voz, com o rumor dos seus passos como se o trouxesses do além em visita à minha saudade?

A tais ruídos ilusórios, que se levantam no silêncio, encolho-me em mim mesmo, atento, e ouço-te que me dizes em segredo: “Ei-lo aí”.

Volto-me comovido, certo de que o vou encontrar, e só, então, me convenço de que fui vítima do teu sortilégio, quem quer que sejas, tu, que me trazes em tormentos de enganos.

Porque zombas de mim?

Não! Não podes ser tu, Esperança. Tu morreste com ele, foste com ele enterrada, desapareceste para todo o sempre com a sua mocidade.

E como me rondas anunciando-me a sua presença, como se fosse possível realizar o milagre dos milagres de arrancar do poder da morte a presa que ela arrebatou?

Não! Não podes ser tu, deve ser o teu espectro que me obsidia, porque tu, Esperança, ainda que sejas mentirosa, as tuas mentiras têm sempre um fundo de verdade - são como as teias de aranha que, parecendo soltas no ar, prendem-se por fios tênues a ramos ou folhas de árvores, ou como as miragens que espelham visualidades no horizonte, mentiras que, entretanto, são projeções do real.

Mas como podes tu reproduzir a morte, tirar vida da sepultura, ressuscitar o que jaz na terra?

Não! Não és a Esperança, deves ser alguma advérsia.

Vou caminhando descuidado. De repente ouço-te a voz tão perto como se saísse de mim próprio. Escuto e dizes-me que ele ainda vive, que o vou encontrar adiante, em ponto que costumava freqüentar.

Aguardo-o, busco-o na multidão, procuro-o em certos grupos e avisto-o. É ele! É o seu corpo senhoril, é o seu andar garboso. Reconheço-lhe o trajo.

Adianto-me com o coração contente e os olhos rasos de água e a ilusão, de súbito, desfaz-se.

Só, então percebo o logro, lembrando-me da impossibilidade do seu retorno, porque ao destino para onde ele partiu vai-se por uma ponte estreita, que só dá passagem a um por um, e a fila não se interrompe como o curso dos rios.

E como poderá ele regressar se, até hoje, desde que começou na vida a marcha para o abismo, nenhum outro conseguiu ainda remontar a correnteza perene?

Se sei que mentes por que hei de dar ouvidos ao que me dizes? Se estou certo de que é falso tudo quanto me segredas, como me deixo enganar, ainda contando com o que me prometes?

Por que hás de insistir na tortura? Por que assopras o cineral se não há nele centelha que reanime o lume?

Que nos enganes com a vida, compreende-se a vida existe; mas que nos tentes iludir com a morte, é crueldade.

Que posso eu esperar de onde tudo é nada?

E, todavia, espero. Não me conformo com a idéia de que ele não tornará mais, nunca mais! ao meu afeto.

Espero em vão, bem sei! mas bendigo-te, Esperança, bendigo-te porque manténs a ilusão em minha alma.

Se a Saudade não tivesse, para nutrir-se, o alimento que lhe atiras, devorava-nos o coração.

Bendita sejas, pois, Esperança, doce e triste alívio de desventurados.

ROSÁRIO

Como tal ou qual a quem se houvesse rebentado um colar de preço e se pusesse a procurar as pérolas uma a uma por frinchas e taliscas, assim vivemos nos reunindo recordações a ver se recompomos no fio da memória, todos os episódios da sua existência efêmera, desde a hora feliz do seu nascimento, a pérola menor, até a cruz do doloroso instante.

Cada vez que, a um de nós, ocorre um fato ajuntamo-lo às lembranças.

Uma pérola, porém a maior, rolou no abismo e não há como reavê-la. As outras mesmas, que recolhemos, quando as tentamos engranzar logo se dissolvem em lágrimas.

Toda a riqueza que se perdeu, por mais que a busquemos ajuntar, foge-nos em bagas de pranto, pérolas que nos caíram no coração, com as quais, se não refazemos o colar de outrora, formamos o rosário em que rezamos por ele a oração da saudade.

VIVER

Viver! Eu sei que a alma chora
E a vida é só dor ingrata.
Pranto, que a não alivia,
Olhos, que o estão a verter...
Sofra o coração, em hora!
Sofra! Mas viva! Mas bata
Cheio, ao menos, da alegria
De viver, de viver! 

Raimundo Correia

Rugem os ventos, estalam raios, o navio, desarvorado, guina, embica, empina-se, trambolha; entra-lhe o mar a golfos pelas bordas, afreima-se a maruja e, na profundeza, a máquina trabalha.

Não cessa e, quanto mais se enfuria a tormenta, mais se esforçam, os que asseguram o movimento, em manter a fornalha acesa, a caldeira em força, as juntas bem lubrificadas para que nada impeça a propulsão.

Em cima, é a grita espavorida; são preces, ordens, correrias; um que acode ao leme; outro que marinha lesto enxárcia acima. Este, calafeta abertas; aquele, entaipa escotilhas.

E já se desligam os cabos que suspendem aos turcos os barcos de salvamento, cuida-se a palamenta, trazem-se salva-vidas e tudo e apresta para a possibilidade iminente do naufrágio.

E a máquina retroa no bojo do navio.

Aos embates da madria toda a construção abala-se. A hélice, umas vezes aprofunda-se, outras vezes, no levantar da popa, gira rápida no vácuo e toda a nave estremece, range convulsamente sacudida.

Remergulha. Faz-se tão rasa com o oceano crespo que parece ir em soçobro. Surge a ímpeto, arfando; eleva-se mostrando a quilha, torna de chapa ao abismo, bate estrondosamente e, com o choque, demora um instante a pique no côncavo das vagas. Um vagalhão sustem-na, põe-na a flux.

Ei-la a escorrer dos flancos cachoeira mar espumarento, ginga às tontas, cambaleia ringindo e o terror cresce entre os homens e os escarcéus cada vez mais se enfurecem, tudo é desespero. E a máquina trabalha.

Assim também procede o coração na angústia.

Sofra o coração, embora!
Sofra! Mas viva ! Mas bata
Cheio, ao menos, da alegria
De viver, de viver!

A alegria de viver! Isso não torna ao coração. As máquinas de aço e bronze, se conseguem vencer os temporais, quando os navios chegam ao porto são examinadas peça por peça e, nem por serem de metais fortíssimos, deixam de trazer mossa.

Entram, porém, os artífices com o trabalho e, onde encontram falhas, reparam; onde descobrem eiva, corrigem; se um êmbolo ou mancal sofreu dano, logo o substituem e a máquina, refeita, torna ao seu oficio, íntegra como dantes e nela nem sal das ondas se conserva porque tudo é limpado, lixado e ajustado.

O coração, esse... quando chega ao porto de bonança, serenando, é que mais sofre.

Amaina-se o temporal, limpam-se os ares, abre-se o céu em luz, abranda-se em brisa o vendaval, tudo torna à calma do bom tempo, o coração quebrado, esse... quem o conserta? 

Que artífice é capaz de substituir nele as peças que a tormenta inutilizou?

Move-se, vive e bate... mas como vive. Ai! dele... Bate. De que lhe serve bater?

Ao sair do estaleiro o navio corre ao mar e a hélice contra as águas e revolve-as e, cada volta em que gira, leva-a para diante.

O coração, inclinado sobre o abismo, bate em vão, porque toda a sua força perde-se no vácuo, como a da hélice, quando o navio mergulha no côncavo das vagas.

O navio prossegue, singra mar em fora, vai a novos rumos, a novas praias. O coração, de que lhe serve bater se não sai do vazio da saudade?

Mas é preciso viver... Pois seja! Que o coração faça o seu ofício:

Sofra! Mas viva! Mas bata
Cheio, ao menos, da alegria
De viver, de viver!

––––––––
Continua…

Fonte:
http://leituradiaria.com

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Mário de Andrade (Resumo: Amar, Verbo Intransitivo)

Este romance é definido pelo autor como Idílio (s. m. Pequena composição poética, campestre ou pastoril; amor simples e terno; sonho; devaneio.) e abusa das técnicas modernas, usando uma linguagem coloquial, perto do falar brasileiro (por exemplo, começando frases por pronomes oblíquos), sem capítulos definidos, prosa telegráfica, expressionismo, construído através de flashes, resgatando o passado ou fixando o presente. Publicado em 1927, o Idílio causou impacto. Desafiou preconceitos, inovou na técnica narrativa.
Sem nenhum prêambulo, Souza Costa e Elza surgem no livro. Souza Costa é o pai de uma típica família burguesa paulista do início do século. Elza, uma alemã que tinha por profissão iniciar sexualmente os jovens. Professora de amor. Souza Costa contrata os "serviços" de Elza (que por todo o livro é tratada por Fräulein - senhora em alemão) com o intuito de que seu filho inicie sua vida sexual de forma limpa, asséptica, sem se "sujar" com prostitutas e aproveitadoras. Ela afirma naturalmente que é uma profissional, séria, e que não gostaria de ser tomada como aventureira. Oficialmente, Fräulein seria a professora de alemão e piano da família Souza Costa. Carlos aparece brincando com as irmã, ainda muito "menino".

Fräulein se ressente por não prender a atenção de Carlos no início, ele era muito disperso, mas gradualmente vai envolvendo-o na sua sedução. Eles tinham todas as tardes aulas de alemão e cada vez mais Carlos se esforçava para aprender (o alemão?!) e aguardava ansioso as aulas. Fräulein, em momentos de devaneios, criticava os modos dos latinos, se sentia uma raça superior, admirava e lia incessantemente os clássicos alemães, Goethe, Schiller e Wagner. Compreendia o expressionismo mas voltava à Goethe e Schiller.

A esposa de Souza Costa, vendo as intimidades do filho para com ela, resolve falar com Elza e pedir para que deixem a família. Fräulein esclarece seu propósito de forma incrivelmente natural, e após uma conversa com o marido, a mãe decide que é melhor para seu filho que ela continuasse com suas lições. O livro é permeado de digressões. Mário de Andrade freqüentemente justifica alguns pontos (antes que o critiquem), analisa fatos, alude à psicologia, à música e até mesmo à Castro Alves e Gonçalves Dias. Mário compara a vida dos extrangeiros nos trópicos, entre Fräulein e um copeiro japonês. Mostra a dicotomia de pensamento de Fräulein entre o homem-da-vida (prático, interessado no dinheiro do serviço) simbolizado por Bismarck - responsável pela unificação da Alemanha em 1870 à ferro e fogo e Wagner, retratando o homem-do-sonho. O homem-do-sonho representa seus desejos, suas vontades, voltar a terra natal, casar e levar uma vida normal. Mas quem vence em Fräulein é o homem-da-vida, que permite que ela continue o serviço sem se questionar. Carlos após ter tido "a"aula mestra, começa a viciar-se em "estudar".

Certamente a didática de Fräulein era muito boa. Era tempo para Fräulein se despedir, tendo este trabalho concluído. Ela sabia que os afastamentos eram sempre seguidos de muitos protestos e gritos. Souza Costa surpreende Carlos com Fräulein (tudo já armado) e utiliza-se deste pretexto para separá-los. Carlos reage defende Fräulein, mas mesmo ele fica aturdido diante do argumento do pai: e se ele tivesse um filho? Ainda relutante, ele deixa-a ir. Depois de algumas semanas apático, Carlos volta a viver normal. O livro acaba, mas continua. Escreve Mário de Andrade - "E o idílio de Fräulein realmente acaba aqui. O idílio dos dois. O livro está acabado. Fim. (...) O idílio acabou. Porém se quiserem seguir Carlos mais um poucadinho, voltemos para a avenida Higienópolis. Eu volto." Após se recuperar, Carlos avista acidentalmente Fräulein, já em um novo trabalho, e apenas saudou-a com a cabeça. A vida continua para Carlos. Fräulein ainda iria seguir com 2 ou mais trabalhos para voltar à sua terra.

Fonte:
http://www.coladaweb.com/resumos/intransitivo.htm