domingo, 12 de abril de 2009

Tennesse Williams (1911 – 1983)



Thomas Lanier "Tennesse" Williams nasceu no Columbus, Mississippi, em 26 de Março de 1911, o primeiro filho e segunda criança de Cornelius Coffin e Edwina Dakin Williams. Sua mãe, filha de um pastor, seu pai, um vendedor de sapato.
A família viveu por vários anos no Clarksdale, Mississippi, antes de mudar para St. Louis em 1918. A família de Tennessee Williams era muito problemática, o que lhe serviu de inspiração para muitos de seus textos

Ainda criança ele teve difteria e ficou um ano fora da escola, tornando-se um menino introspectivo e que passava todo o tempo só em volta dos livros. Segundo ele mesmo declarou em uma entrevista concedida na década de 70: "Descobri na escrita uma fuga de um mundo real no qual me sentia profundamente desconfortável".

Em 1929, ele entrou a Universidade de Missouri.

Em 1931 ele começou a trabalhar para uma Companhia de sapato em St. Louis.

Aos 26 anos ele escolheu o nome de Tennessee em função dos dois anos felizes que passou em Nashville.

Seu primeiro conto publicado saiu em uma revista de histórias fantásticas quando ele terminava o segundo grau. Sua primeira peça teatral foi "Cairo! Xangai! Bombaim!", uma comédia sobre dois marinheiros, montada em um pequeno teatro de Memphis.

Em 1938 ele ganhou um concurso de teatro na Califórnia e embolsou o prêmio de 100 dólares. A parti daí conseguiu uma bolsa de mil dólares e se mudou para Nova Iorque. Acabou indo parar em Hollywood como roteirista da MGM, mas a companhia não gostou do seu trabalho.

O drama The Glass Menagerie, no Brasil intitulado À Margem da Vida, uma de suas obras mais importantes, é lançado em 1944, em Chicago, às vésperas do Natal, tornando-se imediatamente um grande sucesso e lhe garantindo a conquista de dois prêmios.

A peça seguinte, em 1947, foi "Um Bonde Chamado Desejo" que o consagrou e com a qual ele ganhou o Prêmio Pulitzer.

Como dramaturgo, foi uma das figuras mais representativas no teatro contemporâneo de seu país. O teatro de Williams é sólido, muito localizado dentro de seu tempo. Para os americanos, o trabalho deste autor representa uma projeção da consciência " americana"; é uma mistura de estilos literários e teatrais, de teorias que de alguma maneira configuraram seu país.

Um dos dramaturgos que levaram a cena as perguntas de repressão sexual, racial e social nos Estados Unidos de um modo mais fundo e mais violento. Foi o autor teatral mais influente no pós-guerra.

Seus dramas transmitem sempre uma impressão pessimista, sendo freqüente a presença de personagens psicopatas, incapazes de encontrar o seu lugar na sociedade. Muitos dos enredos situam-se nos estados do sul dos EUA, numa atmosfera dominada pela violência e pelos instintos primários. De um ponto de vista formal, o seu teatro encontra-se vinculado ao realismo psicológico. Partindo do equilíbrio entre teatro plástico e teatro para ver e sentir, Williams acompanhava a ação com elementos sensitivos, como a música, a luz e toda uma simbologia da cor.

Tennessee Williams começou a escrever nos anos em que começou a fluir a psicanálise de acordo com o estilo americano; até então, as teorias de Freud se expandiam maciçamente. Agora os criminosos e vilões desapareceram para dar lugar ao neurótico e perverso.

Tennessee Williams foi revelado para o grande público do teatro americano (leia-se Broadway) a 31 de março de 1945, quando estreou com imenso sucesso de público e crítica a sua (The Glass Menagerie) À Margem da Vida. Estava com 34 anos, o que para ele significava sucesso tardio e arduamente conquistado.

Procurando enredos nas violências e nas atmosferas do americano, ele escreveu muitos textos, entre esses se destacam:
Um Bonde Chamado Desejo, de 1947,
A Rosa Tatuada de 1950
e Gata em Teto de Zinco Quente, de 1955.

Muito dos seus trabalhos foram levados ao cinema , Williams tinha muitas diferenças com as produtoras, com a tendência clara aos fins felizes de Hollywood,enormidades contrastaram com os fracassos e derrotas que o autor reservou para os seus personagens.

Tennesse Williams morreu em um hotel de Nova Iorque, próximo a completar os 73 anos, em 24 de fevereiro de 1983.

Tennessee Williams no Cinema

Depois de Shakespeare, Williams foi o dramaturgo mais adaptado para o cinema. Apesar de muitas dessas adaptações não terem correspondido à expressividade das peças de Williams, o clima psicológico dos temas foi o suficiente para a valorização dos filmes.

Filmografia:
The Glass Menagerie (“À Margem da Vida”/ “Algemas de Cristal”). Foi dirigido por Irving Rapper, em 1950, tendo no elenco Gertrude Lawrence, Kirk Douglas e Jane Wyman, é considerado um filme autobiográfico e foi o primeiro grande sucesso de Williams no cinema.

A Streetcar Named Desire (“Uma Rua Chamada Pecado”, cuja tradução em livro, no Brasil, seguiu o original inglês, “Um Bonde Chamado Desejo”), dirigido por Elia Kazan, em 1951. Kazan já dirigira a peça na Broadway, em 1947, e a seu pedido Williams escreveu o roteiro do filme. Ambos escolheram Marlon Brando para o papel principal. Vivien Leigh, que interpretara a peça em Londres, sob a direção de Laurence Olivier, substituiu Jessica Tandy, que interpretara Blanche Dubois na peça da Broadway. O filme enfrentou problemas com a censura, em especial da igreja católica, na época, devido à cena em que Brando está com a camisa rasgada, sob as escadas, gritando pela esposa. Vivien Leigh recebeu o Oscar de atriz por esse filme, assim como Karl Malden e Kim Hunter receberam o Oscar de coadjuvantes. Brando foi indicado ao Oscar de ator, mas perdeu para Humphrey Bogart em The African Queen (“Uma Aventura na África”). Foi indicado ao Oscar de filme de 1951, perdendo para An American in Paris (“Sinfonia em Paris”), e Elia Kazan, indicado ao Oscar de direção, perdeu para George Stevens, com o filme A Place in the Sun (“Um Lugar ao Sol”).

The Rose Tattoo (“A Rosa Tatuada”) foi dirigido por Daniel Mann, em 1955, e teve Anna Magnani e Burt Lancaster como intérpretes. William, arrebatado pelo talento de Magnani, escreveu a peça para ela, e vendeu seus direitos a preço irrisório para Hal Nallis, apenas para exigir duas coisas: ele mesmo escreveria o roteiro e Magnani seria a intérprete. A atriz ganhou o Oscar de 1955 com tal interpretação. Marisa Pavan foi indicada ao Oscar de atriz coadjuvante pelo mesmo filme, perdendo para Jo

Van Fleet em East of Eden (“Vidas Amargas”), e o filme foi indicado ao Oscar, perdendo para Marty (“Marty”).

Baby Doll (“Boneca de Carne”) foi dirigido por Elia Kazan, em 1956. A obra nasceu da união de duas peças curtas que Kazan encomendara a Williams, The Unsatisfactory Supper e Twenty-Seven Wagons Loads of Cotton. Com Carrol Baker, Karl Malden e Eli Wallach, o filme causou escândalo na época. Carrol Baker foi indicada ao Oscar de atriz, perdendo para Ingrid Bergman em Anastasia (“Anastácia, a Princesa Esquecida”), e Mildred Dunnock ao de atriz coadjuvante, tendo perdido para Dorothy Malone em Written on the Wind (“Palavras ao Vento”).

Cat on a Hot Tin Roof (“Gata em Teto de Zinco Quente”), dirigido por Richard Brooks, em 1958, com Elizabeth Taylor, Paul Newman e Burl Ives. Foi indicado ao Oscar de filme e diretor, mas os ganhadores foram Gigi (“Gigi”) e Vincente Minnelli. Newman e Taylor também foram indicados ao Oscar, mas foram derrotados por David Niven, em
Separate Tables (“Vidas Separadas”) e Susan Hayward, em I Want to Live (“Quero Viver”).

Suddenly, Last Summer (“De Repente, no Último Verão”) foi dirigido por Joseph L. Mankiewicz, em 1959. O roteiro foi desenvolvido por Williams e Gore Vidal, e no elenco estão Elizabeth Taylor, Katharine Hepburn e Montgomery Clift. Taylor foi indicada ao Oscar de atriz, o qual foi ganho por Simone Signoret em Room at the Top (“Almas em Leilão”).

The Fugitive Kind (“Vidas em Fuga”), dirigido por Sidney Lumet, em 1960, foi na verdade a sua primeira peça, Orpheus Descending, um fracasso que fora apresentada em 1940. Williams queria Brando e Magnani com intérpretes, mas assim que se viram, os dois atores se odiaram instantaneamente[3].

The Roman Spring of Mrs. Stone (“Em Roma, na Primavera”) foi dirigido por José Quintero, em 1961, tendo Vivien Leigh e Warren Beatty como intérpretes.

Summer and Smoke (“Anjo de Pedra”), dirigido por Peter Glenville, em 1961, com Geraldine Page, numa versão bastante criticada e discutida[4]. Geraldine Page e Una Merkel foram indicadas ao Oscar de atriz e atriz coadjuvante, respectivamente, porém as ganhadoras foram Sophia Loren, em La Ciociara (“Duas Mulheres”), como atriz, e Rita Moreno em West Side Story (“Amor, Sublime Amor”), como coadjuvante.

Sweet Bird of Youth (“Doce Pássaro da Juventude”), dirigido por Richard Brooks, em 1962, teve Paul Newman, Geraldine Page, Shirley Knight e Ed Begley como intérpretes, este último agraciado com o Oscar de ator coadjuvante de 1962. Page e Shirley Knight foram indicadas como atriz e coadjuvante, mas as ganhadoras foram Anne Bancroft e Patty Duke, ambas em The Miracle Worker (“O Milagre de Anne Sullivan”).

Períod of Adjustement (“Marcha Nupcial”) foi dirigido por George Roy Hill em 1962.

The Night of the Iguana (“A Noite do Iguana”), dirigido por John Huston, em 1964, com Elizabeth Taylor, Ava Gardner, Deborah Kerr, Sue Lyon, foi filmado no México, a 100 quilômetros de Acapulco. Já tinha sido um sucesso na Broadway, com Bette Davis.
This Property is Condemned (“Esta Mulher é Proibida”) foi dirigido por Sidney Pollack em 1966, e tinha Robert Redford no elenco.

Boom (“O Homem que veio de Longe”) foi dirigido por Joseph Losey, em 1968, com Elizabeth Taylor e Richard Burton.

Last of the Mobile Hots-shots foi dirigido por Sidney Lumet em 1970, com Lynn Redgrave e James Coburn.

Noir et Blanc foi dirigido por Claire Denis em 1985.

The Glass Menagerie (“À Margem da Vida”) foi a refilmagem dirigida por Paul Newman, em 1987, com Joanne Woodward, John Malkovich e Karen Allen.

Fontes:
http://www.geocities.com/aylacave/biotw.html
http://biografias.netsaber.com.br/ver_biografia_c_1176.html
http://www.infoescola.com/biografias/tennessee-williams/
http://pt.wikipedia.org/

sábado, 11 de abril de 2009

Aniversário do Falecimento de Joaquim Manuel de Macedo

Joaquim Manuel de Macedo (A Harpa Quebrada)



I
"Minha harpa, saudemos o instante da morte,
Que é lúcida aurora de eterna vitória;
O túmulo pra os vates é trono de glória,
E a vida é o jugo do inferno e da sorte.
O jugo quebremos, ao trono subamos;
E belo o triunfo, min´harpa morramos!"
E, como pelo canto enternecida,
Da harpa dedilhada uma das cordas
Rebentando soou como um gemido.

II
"O vate é proscrito que vaga na terra,
Bem poucos lhe entendem o estranho falar;
Qual rocha batida das vagas do mar,
Suporta dos homens tormentos e guerra;
Dos vates a pátria no céu achar vamos,
Deixemos o exílio, minh´arpa morramos!"
E a nova corda estala; outro gemido
Que sai dos seios da harpa, e é dado às brisas.

III
"A morte é o sono que a dor sucedeu,
Do qual se desperta no Éden do Senhor;
E d'alma um arroubo em ânsias de amor,
E o túmulo é a porta dos átrios do céu.
A morte é o sono, minh'harpa durmamos
O céu nos espera, minh'harpa morramos!"
E outra corda rebenta, e sobre as ondas
Longo soa também outro gemido,
Que triste esvaecendo aos poucos morre.

IV
"Min´harpa, não gemas, que o mundo é traidor,
Asila a perfídia do grêmio fatal.
Não vale as saudades de um peito leal,
Nem ternos suspiros de uma harpa de amor;
Não gemas, exulta, que ao céu subir vamos;
Ávida é sinistra. Min´harpa, morramos!"
Inda uma corda estala, e geme ainda,
Como profunda queixa, que exalada
Do lúgubre cantor responde ao hino.

V
"Esposa querida, minh´arpa, vem cá!
A hora enfim soa no nosso himeneu;
A pira é a lua, que fulge no céu;
O tálamo virgem nas ondas será;
A pira flameja! Esposa, corramos!
Aos gozos! a glória! miin´harpa, morramos!
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Joaquim Manuel de Macedo (O Passeio Público)



(Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro, 2 vols., 1852-1853.)

Fazei de conta que vos achais agora comigo no aprazível terraço do Passeio Público do Rio de Janeiro.

O dia foi calmoso. Em compensação, porém, a tarde é bela e fresca. O sol derrama sobre a terra seus últimos raios. Anuncia-se a hora do crepúsculo. A viração festeja docemente as verdes folhas das árvores que sussurram com um leve ruído.

Imaginai tudo isso. Embalar-vos-ei com uma ficção que já tem sido e será mil vezes uma verdade.

Sentemo-nos nestes bancos de mármore e de azulejos. Voltemos as costas para o mar. O espetáculo dessa natureza opulenta, grandiosa, sublime, absorver-nos-ia em uma contemplação insaciável. Cerremos por algum tempo os olhos à majestade das obras de Deus. A hora do crepúsculo é suave, melancólica e propícia aos sonhos do futuro e às recordações do passado.

Deixemos o futuro a Deus no céu e aos poetas na terra.

Lembremos antes o passado, e, ligados pelo mesmo pensamento, vamos buscar no último quartel do século décimo oitavo o princípio da história deste jardim público.

Suponhamos ainda e finalmente que por unanimidade de votos me escolhestes para vosso orador: foi uma eleição inteiramente livre, sem cabala, sem fósforos, sem intervenção da polícia, sem duplicatas, sem anulações de votos fatais, um verdadeiro milagre constitucional. Tenho consciência da pureza do meu mandato.

Falo em nome de todos vós.

O célebre Luís de Vasconcelos e Sousa, que no dia 5 de abril de 1779 substituíra o marquês de Lavradio no governo do Brasil, via com a mais profunda mágoa começar o seu vice-reinado debaixo de maus auspícios.

Moço ainda e, portanto, ainda sem aquele prestígio de uma longa experiência que se assinala nas rugas da fronte e nos cabelos grisalhos, que aliás nem sempre são companheiros da sabedoria e da prudência, viera suceder a um administrador provecto, hábil e feliz, que deixava o seu nome recomendado à memória do povo pelos serviços que prestara à agricultura, pela proteção que dera às letras nascentes no Rio de Janeiro, e pelos cuidados com que se empenhara em prover às despesas, à polícia e ao desenvolvimento e asseio da cidade capital da grande colônia portuguesa da América.

A lembrança do marquês de Lavradio fazia já não pouco difícil a posição do novo vice-rei, e ainda como para torná-la mais embaraçada, sobrevieram logo dois lamentáveis sucessos, uma calamidade e um flagelo inesperados, que encheram de desgosto a população.

Alguns meses apenas tinham passado da chegada de Luís de Vasconcelos ao Rio de Janeiro, quando, em conseqüência de chuvas aturadas e violentas, romperam-se aquedutos das fontes públicas, deixando os habitantes da cidade em luta com a carestia d’água, que somente de longe se podia trazer.

Então o pretinho que passava pela rua gritando - Ii! - fazia pagar por um preço relativamente fabuloso o pote d’água que levava à cabeça, e isso era um tormento para os pobres e um motivo de lamentações para os ricos. Se não compreendeis bem a significação desse grito dos vendedores d’água, que ainda se ouvia no Rio de janeiro em uma época muito recente, eu vô-lo explico. Logo depois da fundação da cidade de São Sebastião, eram os índios ou gentios que vendiam água aos colonos e a anunciavam na sua língua, bradando: - Ig! Ig! - palavra que foi corrompida mais tarde pelos africanos escravos.

Mas, ainda pior do que a ruína dos aquedutos, aconteceu imediatamente que se desenvolvesse uma terrível epidemia que espalhou o terror e o luto no seio da bela Sebastianópolis. Era uma febre de caráter maligno, acompanhada de afecções cerebrais e da medula, e que, quando não terminava com a morte dos doentes, deixava a estes um legado cruel de paralisias e de deformidade.

Chamou-se então a essa epidemia - zamperini ou zamparina, como dizia o povo, que foi quem assim a denominou.
[...]

Assim, em 1779, chamou à epidemia que ceifava a população zamperini porque então se penteavam os cabelos e se usavam diversos objetos e vestidos à Zamperini, que foi aquela célebre cantora veneziana que chegou a Lisboa em 1770, levada pelo notário apostólico da nunciatura, e a quem no teatro na rua dos Condes iam todos aplaudir, notavelmente o padre Macedo, que lhe dirigiu sonetos e odes como quaisquer outro pecador inspirado o faria.
[...]

A cidade do Rio de Janeiro estava, pois, em uma situação duplamente dolorosa. Mas, se alguém então desanimou não foi por certo Luís de Vasconcelos, que deu prontas e enérgicas providências para o abastecimento d’água, assim como tomou medidas higiênicas para combater a zamperini, mandou socorrer os enfermos pobres, e ainda teve tempo e força para ordenar o começo dessa série de obras importantes que perpetuaram o seu nome.

Luís de Vasconcelos reunia a grandes qualidades de administrador maneiras tão afáveis, tanta cortesia e bondade, que soube depressa conquistar as simpatias do povo. Em breve estas simpatias se transformaram em mais bem fundada estima e consideração; porque o ativo e infatigável vice-rei empreendeu grandes trabalhos em proveito da cidade, e para levá-los a cabo soube cercar-se de todos os homens esclarecidos e capazes de coadjuvá-lo que encontrou no Rio de Janeiro.

Um de seus prediletos era o mestre Valentim.

Observar-me-eis que eu não disse ainda quem era o mestre Valentim. Tendes razão.

Valentim da Fonseca e Silva era filho de um fidalgo português e de uma rapariga do Brasil, e teve o seu berço ou no Rio de Janeiro ou mais provavelmente na província de Minas Gerais, onde seu pai era contratador de diamantes. Foi levado por ele para Portugal, donde voltou órfão e ainda jovem, repelido pelos parentes, e trazendo por herança única o vício minhoto que sempre conservou na fala. Aprendeu no Rio de Janeiro a arte torêutica, e foi um arquiteto e um entalhador de primeira ordem. As igrejas do Carmo e da Cruz, a capela-mor de São Francisco de Paula e o chafariz do largo do Paço documentam o seu merecimento ainda hoje.

Devemos agradecer aos parentes do pai de Valentim o ímpeto de vaidade com que empurraram para o Brasil aquele pobre menino, que entre nós se fez um grande homem e que honrou a pátria com seu imenso talento.

O mestre Valentim queixava-se de que Luís de Vasconcelos, que se dizia tão seu amigo e que tantos tributos pedia à sua capacidade artística, desse-lhe sempre mais elogios do que dinheiro; parece, porém, que não há muito fundamento nas queixas do artista, a quem jamais sobrava o ouro; amando muito o belo sexo e tendo especial predileção por estrangeiras, pagava uma fingida e interesseira gratidão por preço tanto mais elevado quanto era maior a impressão que causava o seu rosto feio e exterior pouco simpático.

Mas Luís de Vasconcelos tinha em grande estima o mestre Valentim; aprazia-se com as suas originalidades e com a sua fraqueza de artista e confiava muito na sua probidade e inteligência, fazendo-se até às vezes acompanhar por ele, quando saía a examinar o andamento das obras que estava mandando executar.

Fontes:
Academia Brasileira de Letras
Imagem = http://www.vitruvius.com.br

Joaquim Manuel de Macedo (O Sarau)



(A Moreninha, capítulo 16, 1844)

Um sarau é o bocado mais delicioso que temos, de telhados abaixo. Em um sarau todo mundo tem que fazer. O diplomata ajusta, com um copo de champanha na mão, os mais intrincados negócios; todos murmuram, e não há quem deixe de ser murmurado. O velho lembra-se dos minuetes e das cantigas de seu tempo, e o moço goza de todo os regalos de sua época; as moças são no sarau como as estrelas no céu; estão no seu elemento: aqui uma, cantando suave cavatina, eleva-se vaidosa nas asas dos aplausos, por entre os quais surde, às vezes, um bravíssimo inopidado, que solta de lá da sala do jogo o parceiro que acaba de ganhar a sua partida no écarté, mesmo na ocasião em que a moça se espicha completamente, desafinando um sustenido; daí a pouco vão as outras, pelos braços de seus pares, se deslizando pela sala e marchando em seu passeio, mais a compasso que qualquer de nossos batalhões da Guarda Nacional, ao mesmo tempo que conversam sempre sobre objetos inocentes que movem olhaduras e risadinhas apreciáveis. Outras criticam de uma gorducha vovó, que ensaca nos bolsos meia bandeja de doces que veio para o chá, e que ela levava aos pequenos que, diz, lhe ficaram em casa. Ali vê-se um ataviado dandy que dirige mil finezas a uma senhora idosa, tendo os olhos pregados na sinhá, que senta-se ao lado. Finalmente, no sarau não é essencial ter cabeça nem boca, porque, para alguns, é regra, durante ele, pensar pelos pés e falar pelos olhos.

E o mais é que nós estamos num sarau. Inúmeros batéis conduziram da corte para a ilha de ... senhoras e senhores, recomendáveis por caráter e qualidades; alegre, numerosa e escolhida sociedade enche a grande casa, que brilha e mostra em toda parte borbulhar o prazer e o bom gosto.

Entre todas essas elegantes e agradáveis moças, que com aturado empenho se esforçam para ver qual delas vence em graça, encantos e donaires, certo sobrepuja a travessa Moreninha, princesa daquela festa.

Hábil menina é ela! nunca seu amor-próprio presidiu com tanto estudo tributo seu toucador e, contudo, dir-se-ia que o gênio da simplicidade a penteara e vestira. Enquanto as outras moças haviam esgotado a paciência de seus cabeleireiros, posto em tributo toda a habilidade das modistas da Rua do Ouvidor e coberto seus colos com as mais ricas e preciosas jóias, D. Carolina dividiu seus cabelos em duas tranças, que deixou cair pelas costas: não quis ornar o pescoço com seu adereço de brilhantes, nem com seu lindo colar de esmeraldas; vestiu um finíssimo, mas simples vestido de garça, que até pecava contra a moda reinante, por não ser sobejamente comprido. E vindo assim aparecer na sala, arrebatou todas as vistas e atenções.

Porém, se um atento observador a estudasse, descobriria que ela adrede se mostrava assim, para ostentar as longas e ondeadas madeixas negras, em belo contraste com a alvura do seu vestido branco, para mostrar, todo nu, o elevado colo de alabastro, que tanto a aformoseia, e que seu pecado contra a moda reinante não era senão um meio sutil de que aproveitara para deixar ver o pezinho mais bem feito e mais pequeno que se pode imaginar.

Sobre ela estão conversando agora mesmo Fabrício e Leopoldo. Terminam sem dúvida a sua prática. Não importa; vamos ouvi-los.

- Está na verdade encantadora!... repetiu pela quarta vez aquele.

- Dança com ela? perguntou Leopoldo.

- Não, já estava engajada para doze quadrilhas.

- Oh! la vai ter com ela o nosso Augusto. Vamos apreciá-lo.

Os dois estudantes aproximaram-se de Augusto, que acabava de rogar à linda Moreninha a mercê da terceira quadrilha.

- Leva de tábua, disse Fabrício ao ouvido de Leopoldo... é a mesma que eu lhe havia pedido.

Mas a jovenzinha pensou um momento antes de responder ao pretendente; olhou para Fabrício e com particular mover de lábios pareceu mostrar-se descontente; depois riu-se e respondeu a Augusto:

- Com muito prazer.

- Mas, minha senhora, disse Fabrício, vermelho de despeito e aturdido com um beliscão que lhe dera Leopoldo; há cinco minutos já estava engajada até a duodécima.

- É verdade, tornou D. Carolina; e agora só acabo de ratificar uma promessa: o Sr. Augusto poderá dizer se ontem pediu-me ou não a terceira contradança?

- Juro... balbuciou Augusto.

- Basta! acudiu Fabrício interrompendo-o; é inútil qualquer juramento de homem, depois das palavras de uma senhora.

Fabrício e Leopoldo retiraram-se; D. Carolina, que tinha iludido o primeiro, vendo brilhar o prazer na face de Augusto, e temendo que daquela ocorrência tirasse este alguma explicação lisonjeira demais, quis aplicar um corretivo e, erguendo-se, tomou o braço de Augusto. Aproveitando o passeio, disse:

- Agradeço-lhe a condescendência com que ia tomar parte na minha mentira... foi necessário que eu praticasse assim; quero antes dançar com alguém, do que com aquele seu amigo.

- Ofendeu-lhe, minha senhora?

- Certo que não, mas... diz-me coisas que não quero saber.

- Então... que diz ele?...

- Fala tantas vezes em amor...

- Meu Deus! é um crime que eu tenho estado bem perto de cometer!

- Pois bem, foi esta a única razão.

- Mas eu temo perder a minha contradança... alguns momentos mais e eu serei réu como Fabrício.

- A culpa será de seus lábios.

- Antes dos seus olhos, minha senhora.

- Cuidado, Sr. Augusto! lembre-se da contradança!

- Pois será preciso dizer que a detesto?...

- Basta não dizer que me ama.

- É não dizer o que sinto, eu... não sei mentir.

- Ainda há pouco ia jurar falso...

- Nas palavras de um anjo ou de uma...

- Acabe.

- Tentaçãozinha.

- Perdeu a terceira contradança.

- Misericórdia! eu não falei em amor!...

Neste momento a orquestra assinalou o começo do sarau. É preciso antecipar que nos não vamos dar ao trabalho de descrever este; é um sarau, como todos os outros, basta dizer o seguinte:

Os velhos lembraram-se do passado, os moços aproveitaram o presente, ninguém cuidou do futuro. Os solteiros fizeram por lembrar-se do casamento, os casados trabalharam por esquecer-se dele. Os homens jogaram, falaram em política e reqüestaram as moças; as senhoras ouviram finezas, trataram de modas e criticaram desapiedadamente umas das outras. As filhas deram carreirinhas ao som da música, as mães, já idosas, receberam cumprimentos por amor daquelas, as avós, por não ter que fazer nem que ouvir, levaram todo o tempo a endireitar as toucas e a comer doces. Tudo esteve debaixo destas regras gerais, só resta dar conta das seguintes particularidades:

D. Carolina sempre dançou a terceira contradança com Augusto, mas, para isso, foi preciso que a Sra. D. Ana empenhasse todo o seu valimento; a tirana princezinha da festa esteve realmente desapiedada; não quis passear com o estudante.

A interessante D. Violante fez o diabo a quatro: tomou doze sorvetes, comeu pão-de-ló, como nenhuma, tocou em todos os doces, obrigou alguns moços a tomá-la por par e até dançou uma valsa de corrupio.

Augusto apaixonou-se por seis senhoras com quem dançou; o rapaz é incorrigível. E assim tudo o mais.

Agora são quatro horas da manhã; o sarau está terminado, os convidados vão retirando-se e nós, entrando na toilette, vamos ouvir quatro belas conhecidas nossas, que conversam com ardor e fogo.
[...]

Fontes:
Academia Brasileira de Letras
Imagem = http://saraupontoorg.blogspot.com

Joaquim Manuel de Macedo (A Moreninha)



A moreninha é um romance do escritor brasileiro Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882), publicado em 1844. Esse livro faz parte da fase do romantismo no Brasil, e tem grande sucesso ainda nos dias de hoje.

Teve duas adaptações para o cinema e duas para telenovela.

Resumo

Augusto, Leopoldo e Fabrício estavam conversando, quando Filipe chegou e os convidou para passar um fim de semana na casa de sua avó que ficava na Ilha de Paquetá. Todos ficaram empolgados, menos Augusto. Filipe comentou a respeito de suas primas e de sua irmã, que provavelmente estariam na ilha. Foi quando surgiu uma discussão que deu origem a um aposta; Filipe desafiou Augusto dizendo que se ele não se apaixonasse por uma das moças ali presentes, no prazo de um mês, seria obrigado a escrever um romance sobre sua história. Passaram-se quatro dias, Augusto recebeu uma carta, que lhe foi entregue por seu empregado Rafael, a mando de Fabrício. A carta dizia que o namoro de Fabrício com D.Joaninha não estava indo muito bem, pois ela era muito exigente. Ela fazia-lhe pedidos absurdos como escrever quatro cartas por semana , passar quatro vazes ao dia em frente à sua casa e nos bailes ele teria que usar um lenço amarrado em seu pescoço , da mesma cor da fita rosa presa a seus cabelos.

Terminando a leitura, Augusto começou a rir porque era ele quem sempre aconselhava Fabrício em seus namoros. Na manhã de sábado, chegou à ilha e encontrou seus amigos, que estavam a sua espera. Entrando na casa, se dirigiu à sala e se apresentou, em seguida foi procurar um lugar para sentar-se perto das moças. Foi então que ele se deparou com D.Violante, que lhe ofereceu um assento. Ela falou por várias horas sobre suas doenças, e perguntou o que ele achava. Augusto já irritado de ouvir tantas reclamações, disse que ela sofria apenas de hemorróidas. D.Violante se irritou, afirmando que os médicos da atualidade não sabem o que falam. Fabrício chegou interrompendo a conversa e chamou Augusto para um diálogo em particular. Os dois começaram a discutir sobre a carta, pois Augusto disse que não pretendia ajudá-lo em seu namoro com D.Joaninha. Fabrício então declarou guerra a Augusto. Logo após a discussão, chegou Filipe chamando-os para o jantar.

Na mesa, após todos terem se servido, Fabrício começou a falar em tom alto, dizendo que Augusto era inconstante no amor. Ele, por sua vez, não respondeu as provocações, mas, na tentativa de se defender, acabou agravando ainda mais a sua situação perante todos. Após o jantar, foram todos passear no jardim e Augusto foi isolado por todas as moças. Apenas D.Ana aceitou passear com ele. Augusto quis dar explicações à D.Ana, mas preferiu ir a um lugar mais reservado. Ela sugeriu então que fossem até uma gruta, onde sentaram num banco de relva. Começaram a conversar e Augusto contou sobre seus antigos amores e entre eles do mais especial, que foi aos treze anos, quando viajando com seus pais conheceu uma linda garotinha de oito anos, com quem brincou muito na praia, quando um pobre menino pediu-lhes ajuda. Eles foram levados a uma cabana onde estava um velho moribundo a beira da morte. Sua mulher e seus filhos estavam chorando.

As crianças comovidas deram todo o dinheiro que possuíam à mulher do pobre velho. O velho agradeceu e pediu de cada um deles um objeto de valor. O menino deu-lhe um camafeu de ouro que foi envolvido numa fita verde e a menina deu-lhe um botão de esmeralda que foi envolvido numa fita branca, transformando-os em breves. O camafeu ficou com a menina e a esmeralda com o menino. Depois trocados os breves, o velho os abençoou e disse que no futuro eles se reconheceriam pelos breves e se casariam. Foram embora e a menina saiu correndo de encontro a seus pais sem ter revelado o seu nome, e a partir daquele momento nunca mais se viram. Acabada a história Augusto levantou-se para tomar água. Ao pegar um copo de prata foi interrompido por D.Ana que resolveu lhe contar a história da gruta, que era a lenda de uma moça que se apaixonara por um índio que não a amava e de tanto ela chorar, deu origem a uma fonte, cuja água era encantada.

Disse também que quem bebesse daquela água teria o poder de adivinhar os sentimentos alheios e não sairia da ilha sem se apaixonar por alguém. D.Ana explicou também que a moça cantava uma canção muito bela, quando de repente eles escutaram uma linda voz. Augusto perguntou a D.Ana de onde vinha aquela melodia e ela explicou que era Carolina que cantava sobre a pedra de gruta e ele ficou encantado. Logo após o passeio, foram todos até a sala para tomar café e a Moreninha derramou o café de Fabrício sobre Augusto. Ele foi se trocar no gabinete masculino quando Filipe entrou e sugeriu que ele fosse se trocar no gabinete feminino, para que pudesse ver como era. Augusto aceitou e enquanto se trocava, ouviu vozes das moças que iam em direção ao gabinete. Ficou apavorado, pegou rapidamente as roupas e se enfiou debaixo de uma cama. As moça entraram, sentaram-se e começaram a conversar sobre assuntos particulares.

O rapaz ouviu toda a conversa e quase não resistiu ao ver as pernas bem torneadas de Gabriela na sua frente. De repente ouviram um grito e Joaninha disse que a voz parecia com a de sua prima D.Carolina. Todos saíram correndo para ver o que estava acontecendo e Augusto aproveitou para terminar de se trocar e saiu do gabinete para ver a causa daquele grito. O grito era da Moreninha que viu sua ama D. Paula caída no chão, devido a alguns goles de vinho que tomou junto do alemão Kleberc. D.Carolina não queria acreditar que sua ama estivesse bêbada e levaram-na para o quarto. A Moreninha estava desesperada quando Augusto, Filipe, Leopoldo e Fabrício entraram no quarto e percebendo a embriaguez da velha senhora começaram a dar diagnósticos absurdos. D.Carolina só acreditou em Augusto e não aceitou o verdadeiro motivo do mau estar de sua ama. Todos saíram do quarto e se dirigiram até o salão de jogos. Augusto foi conversar com D.Ana e perguntou sobre o paradeiro da Moreninha. D.Ana disse que ela estava no quarto cuidando de sua ama.

Augusto foi até até o aposento e chegando na porta viu uma cena inesquecível; ela lavava com suas delicadas mãos os pés de sua ama e ele comovido se ofereceu para ajudá-la. Depois disso Augusto sugeriu que a deixasse repousar pois no dia seguinte estaria bem. D.Carolina foi se trocar para em seguida ir ao Sarau, colocou um vestido muito bonito mas fora dos padrões normais, pois mostrava parte de suas pernas. Todos queriam dançar com ela e Fabrício pediu-lhe a terceira dança, mas a garota mentiu dizendo que iria dançar com Augusto. Ele por sua vez dançou com todas as moças e jurou-lhes amor eterno, inclusive para a Moreninha. No fim da festa Augusto encontrou um bilhete que estava em seu paletó, dizendo para ir à gruta no horário marcado e logo após encontrou outro no qual dizia que aquilo era uma armadilha.

No dia seguinte, Augusto foi até a gruta no horário marcado e encontrou as quatro jovens e antes que elas pudessem falar, foram surpreendidas pelo rapaz que contou cada uma o que ouvira no gabinete. As moças ficaram revoltadas e depois de irem embora Augusto foi surpreendido pela Moreninha que começou a contar a conversa dele com D.Ana. Mas primeiro ela tomou um copo da fonte e foi por este motivo que Augusto ficou mais impressionado pois lembrou-se da lenda da fonte encantada, e logo depois do susto, declarou-se a ela. Depois de acabadas as comemorações, as pessoas voltaram para suas casas. Augusto não se cansava de contar sobre D.Carolina para Leopoldo, que sempre dizia que aquilo era amor. Os rapazes acharam conveniente visitar D.Ana, Augusto se encarregou dessa tarefa no domingo. D. Ana foi recebê-lo e contou-lhe que D.Carolina estava triste até saber se sua vinda para a ilha. Durante o almoço Augusto viu um lenço na mão de D.Carolina e adivinhou que ela o tinha bordado e após muita conversa D.Carolina resolveu ensiná-lo a bordar. Depois do almoço, Filipe e Augusto foram jogar baralho, quando ouviram o chamado da Moreninha para a primeira aula de bordado.

A lição acabou ao meio dia e Augusto achou prudente ir embora, despediu-se de todos e combinou com D.Carolina, que no domingo seguinte voltaria e traria o lenço já terminado. No domingo seguinte, Augusto voltou até a ilha e levou o lenço totalmente pronto, para que sua mestra pudesse o ver, ela não acreditou que ele fizera um trabalho tão bem feito e começou a chorar, dizendo que ele tinha outra mestra. Augusto tentou explicar-se de todas as maneiras possíveis, e disse que o lenço fora comprado de uma velha senhora. Depois de muita insistência a Moreninha aceitou a situação, pois D.Ana disse-lhe que sua atitude era infantil. Depois do incidente Augusto chamou a Moreninha para um passeio e percebeu que ela estava um pouco nervosa, foi então, que ele perguntou-lhe se havia um amor em sua vida, ela respondeu com a mesma pergunta e Augusto disse que o grande amor de sua vida era ela. A Moreninha ficou imóvel e disse que o seu amor poderia ser ele.

Augusto voltou para sua casa e foi proibido de voltar à ilha por seu pai pois seus estudos estavam sendo prejudicados. D.Carolina não era mais a mesma desde a partida de Augusto que agora estava em depressão. Seu pai, vendo que estava prestes a perder seu filho, achou melhor que Augusto voltasse à ilha e pedisse a mão da Moreninha em casamento. Chegando próximo à ilha, viram a Moreninha cantando sobre a pedra, e ela ao vê-los ignorou-os. D.Ana foi recebê-los e o pai de Augusto explicou a situação se seu filho. Eles foram até a sala e de repente a Moreninha apareceu com seu vestido branco chamando a atenção de todos, foi então que o pai de Augusto fez o pedido diretamente a Moreninha, pois seu filho não tinha coragem o suficiente. A moça ficou assustada e disse que daria a resposta mas tarde na gruta mas D.Ana disse ao pai de Augusto que não se preocupasse, pois a resposta seria sim. Augusto, ansioso, foi até a gruta e chegando lá encontrou a Moreninha, os dois conversaram e ela perguntou se ele ainda amava a menina da praia.

Ele disse que não pois seu amor pertencia somente a ela. Ela disse que não poderia se casar pois ele já estava comprometido com outra pessoa. Irritado, ao sair da gruta foi surpreendido quando ela lhe mostrou o breve verde. Augusto não agüentou a emoção e pegando o breve ajoelhou-se aos pés da Moreninha, começando a desenrolar o breve reconhecendo o seu camafeu. O pai de Augusto e D.Ana entraram na gruta e não entenderam o que estava acontecendo, acharam que os dois estavam malucos e Augusto dizia que encontrara sua mulher e a Moreninha por sua vez dizia que eles eram velhos conhecidos. Logo após Filipe, Leopoldo e Fabrício viram a alegria do novo casal, mas Filipe foi logo dizendo que já se passaram um mês, Augusto perdera a aposta e deveria escrever um romance. Augusto surpreende a todos dizendo que o romance já estava pronto e se intitulava A Moreninha.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org
Capa do Livro = http://www.vestibular.brasilescola.com

Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882)



Nasceu em Itaboraí, RJ, em 24 de junho de 1820, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 11 de abril de 1882.

Era filho do casal Severino de Macedo Carvalho e Benigna Catarina da Conceição. Formado em Medicina pela Faculdade do Rio de Janeiro, em 1844, clinicou algum tempo no interior do estado do Rio e no mesmo ano de formatura estreou na literatura com a publicação daquele que viria a ser seu romance mais conhecido, "A Moreninha", que lhe deu fama e fortuna imediatas.

Além de médico, Macedo foi jornalista, professor de Geografia e História do Brasil no Colégio Pedro II, e sócio fundador, secretário e orador do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, desde 1845. Em 1849, fundou, juntamente com Gonçalves Dias e Araújo Porto-Alegre, a revista Guanabara, que publicou grande parte do seu poema-romance A nebulosa — considerado por críticos como um dos melhores do Romantismo. Foi membro do Conselho Diretor da Instrução Pública da Corte (1866).

Voltou ao Rio, abandonou a medicina e foi professor de História e Geografia do Brasil no Colégio Pedro II. Era muito ligado à Família Imperial, tendo sido professor dos filhos da princesa Isabel.

Macedo também atuou decisivamente na política, tendo militado no Partido Liberal, servindo-o com lealdade e firmeza de princípios, como o provam seus discursos parlamentares, conforme relatos da época. Durante a sua militância política foi deputado provincial (1850, 1853, 1854-59) e deputado geral (1864-1868 e 1873-1881). Nos últimos anos de vida padeceu de problemas mentais, morrendo pouco antes de completar 62 anos.

Nas letras, Joaquim Manuel de Macedo foi romancista, poeta, cronista literário e dramaturgo. Sua obra é extensa e fez grande sucesso na época. Havia, entre os críticos, o argumento de que ele abusou sentimentalismo muito ao gosto popular, daí seu enorme sucesso de público. Os críticos, entretanto, não negam que Macedo foi cronista aberto e analítico do Rio de Janeiro do final do Império.

Sua grande importância literária está no fato de ser considerado um dos fundadores do romance no Brasil e, certamente, um dos principais responsáveis pela criação do teatro no Brasil. "A Moreninha" certamente foi a primeira obra da Literatura Brasileira a alcançar êxito de público e é um dos marcos do Romantismo no Brasil.

Lançado em 1844, "A Moreninha" é tido como o primeiro romance publicado no país, embora tenha sido precedido por "O Filho do Pescador", de Teixeira e Sousa, que, entretanto, é tido como uma obra menor, desenvolvida a partir de um enredo pouco articulado e confuso.

"A Moreninha" constituiu-se numa pequena revolução literária no Brasil imperial, inaugurando o romance brasileiro, e é até hoje é reeditado com relativo sucesso e ainda é lido com prazer. Estudiosos da obra macediana observam que a protagonista do romance, Carolina, é uma clara alusão à personalidade e ao comportamento de Maria Catarina de Abreu Sodré, sua esposa e prima-irmã do poeta Álvares de Azevedo.

Em sua obra, Joaquim Manuel de Macedo descreve com linguagem simples e raro senso de observação os usos e costumes da sociedade carioca de seu tempo, e a vida familiar e privada daquela época, quando o país ainda estava nas primeiras décadas de sua independência: as cenas triviais da rua, os preconceitos sociais, as festas, a economia doméstica, os saraus familiares, as conversas de comadre, as pequenas e grandes intrigas, os ciúmes mesquinhos, os namoros até certo ponto ingênuos de estudantes e donzelas, que quase sempre acabavam em casamento feliz.

Na sua obra teatral, Macedo preocupou-se antes com a pintura realista do ambiente social, cultural, político e econômico da sua época do que com o universo psicológico dos seus personagens. Seus dramas, escritos em verso, são artificiais e afetados, suas comédias, porém, são importantes documentos dos costumes da sociedade carioca da época.

Joaquim Manuel de Macedo é o patrono da cadeira número 20 da Academia Brasileira de Letras (ABL), por escolha do fundador Salvador de Mendonça.

Macedo, que faleceu no Rio de Janeiro em 11 de abril de 1882, foi o escritor mais lido durante o final da década de 40 e início da de 50.

Isso se deu devido ao esquema usado por ele na composição dos romances. Ele atendia à expectativa do leitor burguês pois descrevia em uma linguagem simples, os costumes da sociedade carioca. Eram tramas fáceis, pequenas intrigas de amor, que sempre tinham finais felizes.

Os seus personagens eram o estudante conquistador, a moça apaixonada e namoradeira, o galã irresistível e outros tipos com quem o público leitor pudesse se identificar. Além de "A Moreninha" Macedo escreveu ainda outros 17 romances, 16 peças de teatro e um livro de contos.

Romances
A Moreninha (1844)
O moço loiro (1845]])
Os dois amores (1848)
Rosa (1849)
Vicentina (1853)
O forasteiro (1855)
Os romances da semana (1861)
Rio do Quarto (1869)
A luneta mágica (1869)
As Vítimas-algozes (1869)
As mulheres de mantilha (1870-1871).

Sátiras políticas
A carteira do meu tio (1855)
Memórias do sobrinho do meu tio (1867-1868) Durante o período colonial, a prosa inexistiu. Nessa ausência de tradição, os autores românticos partiram do nada e fizeram suas primeiras tentativas mais consistentes.

O marco inicial do romance brasileiro se dá a partir das obras de Teixeira e Sousa – O filho do pescador (1843) – e Joaquim Manuel de Macedo – A Moreninha (1844) –, a obra de Macedo se destaca dada a sua qualidade estética superior e o grande sucesso entre os contemporâneos.

Dramas
O cego (1845)
Cobé (1849)
Lusbela (1863)

Comédias
O fantasma branco (1856)
O primo da Califórnia (1858)
Luxo e vaidade (1860)
A torre em concurso (1863)
Cincinato quebra-louças (1873)

Poesia
A nebulosa (1857)

Fontes
http://www.mundocultural.com.br/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_Manuel_de_Macedo

Rivkah Cohen (Meus Poemas)



À Ave Amiga

Voa!
Alcança as alturas!

Jamais te sinta só,
pelo contrário,
finja que o céu é teu..
MAS CUIDADO!
Existe quem se arvore
ser o dono verdadeiro
e desse, fuja,
ele te fará mal!
Saibas
ter receio!
Esse
é o maior segredo
que posso te passar!
Se assim fizeres,
muito viverás,
sem se sentir angustiado
ao ver que para os reles
és alvo
e sempre serás..

Nos teus passeios,
conhecerás outras espécimes,
sobrevoarás planaltos,
planícies tratadas
e por tratar,
verás o vento
penteando o milharal,
o sol
incidindo nas escarpas,
dourando
terra e mar..
É de uma beleza sem igual!

Voa, viva,
mas sempre sabendo
onde estás..
Para quando estiveres sofrendo
ou ferida,
saibas ao ninho, retornar.
Atingem mais
os que se encontram perdidos
na vida
ou em si mesmos..
Portanto, ave amiga,
saiba sempre onde estás!

Agora... Voa, vá!
––––––––––––––––

A Vida

Nem ouso olhar
à paisagem que pretendes enfocar..
Conheço cada árvore caída,
como foi,
em que dia..
Sei
porque tem pedaços queimados
e outros
que mesmo machucados,
conseguiram esverdear, florir.
Já vi os troncos
e que em alguns,
ao lado,
cresce capim..
Não são momentos sem sonhos
ou que me descuidei,
que pensei comum,
me esqueci.
Não,
é como disse uns segundos antes..
A vida,
ela
é mesmo assim..!
––––––––––––––––––––-

Aproveitando a Chuva

Já que fora de mim
o mundo chora,
fecho-me
em minha história
e choro
esta saudade sem fim.

Assim vou levando a vida
na ausência tua..
Ora
fingindo alegria,
ora...
aproveitando a chuva.
––––––––––––––––––––––-

Caminho da Luz

A mão sempre na mesma posição!
Nunca estendida
numa atitude altruísta,
de compreensão.
Que caminhos
pensamos para nossas vidas?
Desde a era primitiva,
é o ataque
dos que se "acham" desenvolvidos
e em contra-partida
a submissão
dos que "acham" que não podem revidar.
Quando na verdade,
para essa atitude, nem precisa de ajuda,
basta deixar
o lado involuído comandar,
basta ter a cabeça
para só separar as orelhas
e jamais usá-la para pensar!
Por que não fazermos
o Caminho da Evolução?
Temos que ter um projeto,
mesmo que seja preciso refazer o trajeto,
pois viemos da LUZ
e em busca dessa LUZ que devemos caminhar!
–––––––––––––––––––-

A Caminhada

Caminhar não é só estar ao lado,
é comungar,
é ser alado
para voar, se precisar.

Não é só estar presente,
é ter a mão pronta para ajudar

Caminhar
é o amparar
em todos os momentos,
principalmente,
quando entra o sofrimento
para um dos lados.

Caminhar
é tão difícil,
que já se vê com sacrifício,
pessoas de braços dados.

Caminhar...
É não ver
só seu machucado,
é doer em você,
o que dói no ser amado.

Caminhar...
É saber entender,
é saber amar,
é saber ceder.

Caminhar,
é saber que um dia contei
e sempre contarei
com você.
––––––––––––––––––––––––-

Cortina do Tempo

Não!
Não era o vento
brincando com meu curto cabelo,
este silêncio fingindo alegria,
esta sensação
horrível de solidão e desprezo..

Queria o calor de uma união!
Viajar na magia,
me envolver nas palavras!
Sentir no ar
a emoção,
o carinho, o zelo
e uma vez querida
e devidamente alada,
fechar
a cortina do tempo..!
––––––––––––––––––––

Elos do Passado

O fato de ter idéia
de como se manifesta,
não desvenda o caminho até lá..
Se quem está preso,
se porta em desalinho,
pois já tentou com desvelo
e não conseguiu se desatar!

Elos do passado..
sabe-se lá
onde ficam arquivados
e do que necessitam para emergir,
aflorar!

Hoje
me deixe de lado,
preciso ficar sozinha..
Estou presa
entre as coisas minhas
e mesmo sabendo que não deva,
posso me perder por lá..
Hoje
é como se o sinal para o presente
estivesse fechado
e mesmo com o olhar voltado ao passado,
é premente que eu consiga retornar!
Pode demorar alguns dias,
mas afirmo que serei eu mesma
e me encontrarão inteira
quando tudo terminar..
–––––––––––––––––––––––––––––––-
Sobre a Autora
Nasceu em maio de 1948, em Israel. Fez Ciências Sociais. Casada, mãe de quatro filhos e três netos. Reside em Brasília. Membro da Academia Virtual Brasileira de Letras e dos Autores Nota 10.
–––––––––––––––––––––––
Fonte:
http://www.rivkah.com.br/

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Aniversário do Falecimento de Cora Coralina

Cora Coralina (Teia de Poesias)

MEU DESTINO

Nas palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.
Não te procurei, não me procurastes –
íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos
Passavas com o fardo da vida...
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado
com a pedra branca
da cabeça de um peixe.
E, desde então, caminhamos
juntos pela vida...
=======================

O CÂNTICO DA TERRA

Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.

Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranqüila ao teu esforço.
Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.

Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.

E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranqüilo dormirás.

Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.
=====================

VELHO SOBRADO

Um montão disforme. Taipas e pedras,
abraçadas a grossas aroeiras,
toscamente esquadriadas.
Folhas de janelas.
Pedaços de batentes.
Almofadados de portas.
Vidraças estilhaçadas.
Ferragens retorcidas.

Abandono. Silêncio. Desordem.
Ausência, sobretudo.
O avanço vegetal acoberta o quadro.
Carrapateiras cacheadas.
São-caetano com seu verde planejamento,
pendurado de frutinhas ouro-rosa.
Uma bucha de cordoalha enfolhada,
berrante de flores amarelas
cingindo tudo.
Dá guarda, perfilado, um pé de mamão-macho.
No alto, instala-se, dominadora,
uma jovem gameleira, dona do futuro.
Cortina vulgar de decência urbana
defende a nudez dolorosa das ruínas do sobrado
— um muro.

Fechado. Largado.
O velho sobrado colonial
de cinco sacadas,
de ferro forjado,
cede.

Bem que podia ser conservado,
bem que devia ser retocado,
tão alto, tão nobre-senhorial.
O sobradão dos Vieiras
cai aos pedaços,
abandonado.
Parede hoje. Parede amanhã.
Caliça, telhas e pedras
se amontoando com estrondo.
Famílias alarmadas se mudando.
Assustados - passantes e vizinhos.
Aos poucos, a " fortaleza " desabando.

Quem se lembra?
Quem se esquece?

Padre Vicente José Vieira.
D. Irena Manso Serradourada.
D. Virgínia Vieira
- grande dama de outros tempos.
Flor de distinção e nobreza
na heráldica da cidade.
Benjamim Vieira,
Rodolfo Luz Vieira,
Ludugero,
Angela,
Débora, Maria...
tão distante a gente do sobrado...

Bailes e saraus antigos.
Cortesia. Sociedade goiana.
Senhoras e cavalheiros...
-tão desusados...
O Passado...

A escadaria de patamares
vai subindo... subindo...
Portas no alto.
À direita. À esquerda.
Se abrindo, familiares.

Salas. Antigos canapés.
Cadeiras em ordem.
Pelas paredes forradas de papel,
desenho de querubins, segurando
cornucópia e laços.
Retratos de antepassados,
solenes, empertigados.
Gente de dantes.

Grandes espelhos de cristal,
emoldurados de veludo negro.
Velhas credências torneadas
sustentando
jarrões pesados.
Antigas flores
de que ninguém mais fala!
Rosa cheirosa de Alexandria.
Sempre-viva. Cravinas.
Damas-entre-verdes.
Jasmim-do-cabo. Resedá.
Um aroma esquecido
- manjerona.
=======================

O PASSADO

O salão da frente recende a cravo.
Um grupo de gente moça
se reúne ali.
"Clube Literário Goiano".
Rosa Godinho.
Luzia de Oliveira.
Leodegária de Jesus,
a presidência.

Nós, gente menor,
sentadas, convencidas, formais.
Respondendo à chamada.
Ouvindo atentas a leitura da ata.
Pedindo a palavra.
Levantando idéias geniais.

Encerrada a sessão com seriedade,
passávamos à tertúlia.
O velho harmônio, uma flauta, um bandolim.
Músicas antigas. Recitativos.
Declamavam-se monólogos.
Dialogávamos em rimas e risos.

D. Virgínia. Benjamim.
Rodolfo. Ludugero.
Veros anfitriões.
Sangrias. Doces. Licor de rosa.
Distinção. Agrado.

O Passado...

Homens sem pressa,
talvez cansados,
descem com leva
madeirões pesados,
lavrados por escravos
em rudes simetrias,
do tempo das acutas.
Inclemência.
Caem pedaços na calçada.
Passantes cautelosos
desviam-se com prudência.
Que importa a eles o sobrado?

Gente que passa indiferente,
olha de longe,
na dobra das esquinas,
as traves que despencam.
-Que vale para eles o sobrado?

Quem vê nas velhas sacadas
de ferro forjado
as sombras debruçadas?
Quem é que está ouvindo
o clamor, o adeus, o chamado?...
Que importa a marca dos retratos na parede?
Que importam as salas destelhadas,
e o pudor das alcovas devassadas...
Que importam?

E vão fugindo do sobrado,
aos poucos,
os quadros do Passado.
====================

ANTIGUIDADES

Quando eu era menina
bem pequena,
em nossa casa,
certos dias da semana
se fazia um bolo,
assado na panela
com um testo de borralho em cima.

Era um bolo econômico,
como tudo, antigamente.
Pesado, grosso, pastoso.
(Por sinal que muito ruim.)

Eu era menina em crescimento.
Gulosa,
abria os olhos para aquele bolo
que me parecia tão bom
e tão gostoso.

A gente mandona lá de casa
cortava aquele bolo
com importância.
Com atenção. Seriamente.
Eu presente.
Com vontade de comer o bolo todo.

Era só olhos e boca e desejo
daquele bolo inteiro.
Minha irmã mais velha
governava. Regrava.
Me dava uma fatia,
tão fina, tão delgada...
E fatias iguais às outras manas.
E que ninguém pedisse mais!
E o bolo inteiro,
quase intangível,
se guardava bem guardado,
com cuidado,
num armário, alto, fechado,
impossível.

Era aquilo, uma coisa de respeito.
Não pra ser comido
assim, sem mais nem menos.
Destinava-se às visitas da noite,
certas ou imprevistas.
Detestadas da meninada.

Criança, no meu tempo de criança,
não valia mesmo nada.
A gente grande da casa
usava e abusava
de pretensos direitos
de educação.

Por dá-cá-aquela-palha,
ralhos e beliscão.
Palmatória e chineladas
não faltavam.
Quando não,
sentada no canto de castigo
fazendo trancinhas,
amarrando abrolhos.
"Tomando propósito".
Expressão muito corrente e pedagógica.

Aquela gente antiga,
passadiça, era assim:
severa, ralhadeira.

Não poupava as crianças.
Mas, as visitas...
- Valha-me Deus !...
As visitas...
Como eram queridas,
recebidas, estimadas,
conceituadas, agradadas !

Era gente superenjoada.
Solene, empertigada.
De velhas conversar
que davam sono.
Antiguidades...

Até os nomes, que não se percam:
D. Aninha com Seu Quinquim.
D. Milécia, sempre às voltas
com receitas de bolo, assuntos
de licores e pudins.
D. Benedita com sua filha Lili.
D. Benedita - alta, magrinha.
Lili - baixota, gordinha.
Puxava de uma perna e fazia crochê.
E, diziam dela línguas viperinas:
"- Lili é a bengala de D. Benedita".
Mestre Quina, D. Luisalves,
Saninha de Bili, Sá Mônica.
Gente do Cônego Padre Pio.

D. Joaquina Amâncio...
Dessa então me lembro bem.
Era amiga do peito de minha bisavó.
Aparecia em nossa casa
quando o relógio dos frades
tinha já marcado 9 horas
e a corneta do quartel, tocado silêncio.
E só se ia quando o galo cantava.

O pessoal da casa,
como era de bom-tom,
se revezava fazendo sala.
Rendidos de sono, davam o fora.
No fim, só ficava mesmo, firme,
minha bisavó.

D. Joaquina era uma velha
grossa, rombuda, aparatosa.
Esquisita.
Demorona.
Cega de um olho.
Gostava de flores e de vestido novo.
Tinha seu dinheiro de contado.
Grossas contas de ouro
no pescoço.

Anéis pelos dedos.
Bichas nas orelhas.
Pitava na palha.
Cheirava rapé.
E era de Paracatu.
O sobrinho que a acompanhava,
enquanto a tia conversava
contando "causos" infindáveis,
dormia estirado
no banco da varanda.
Eu fazia força de ficar acordada
esperando a descida certa
do bolo
encerrado no armário alto.
E quando este aparecia,
vencida pelo sono já dormia.
E sonhava com o imenso armário
cheio de grandes bolos
ao meu alcance.

De manhã cedo
quando acordava,
estremunhada,
com a boca amarga,
- ai de mim -
via com tristeza,
sobre a mesa:
xícaras sujas de café,
pontas queimadas de cigarro.
O prato vazio, onde esteve o bolo,
e um cheiro enjoado de rapé.
=========================

A GLEBA ME TRANSFIGURA

Sinto que sou abelha no seu artesanato.
Meus versos tem cheiro de mato, dos bois e dos currais.
Eu vivo no terreiro dos sítios e das fazendas primitivas.
(...)
Minha identificação profunda e amorosa
com a terra e com os que nela trabalham.
A gleba me transfigura. Dentro da gleba,
ouvindo o mugido da vacada, o mééé dos bezerros.
O roncar e focinhar dos porcos o cantar dos galos,
o cacarejar das poedeiras, o latir do cães,
eu me identifico.
Sou arvore, sou tronco, sou raiz, sou folha,
sou graveto sou mato, sou paiol
e sou a velha tulha de barro.

pela minha voz cantam todos os pássaros,
piam as cobras
e coaxam as rãs, mugem todas as boiadas que
vão pelas estradas.
Sou espiga e o grão que retornam a terra.
Minha pena (esferográfica) é a enxada que vai cavando,
é o arado milenário que sulca.
Meus versos tem relances de enxada, gume de foice
e o peso do machado.
Cheiro de currais e gosto de terra.
(...)
Amo aterra de um velho amor consagrado.
Através de gerações de avós rústicos, encartados
nas minas e na terra latifundiária, sesmeiros.
A gleba está dentro de mim. Eu sou a terra.
(...)
Em mim a planta renasce e flosrece, sementeia e sobrevive.
Sou a espiga e o grão fecundo que retorna à terra.
Minha pena é enxada do plantador, é o arado que vai sulcando.
Para a colheita das gerações.
Eu sou o velho paiol e a velha tulha roceira.
Eu sou a terra milenária, eu venho de milênios
Eu sou a mulher mais antiga do mundo, plantada
e fecundada no ventre escuro da terra.
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POEMA DO MILHO

Milho...
Punhado plantado nos quintais.
Talhões fechados pelas roças.
Entremeado nas lavouras,
Baliza marcante nas divisas.
Milho verde. Milho seco.
Bem granado, cor de ouro.
Alvo. Às vezes vareia,
- espiga roxa, vermelha, salpintada.

Milho virado, maduro, onde o feijão enrama
Milho quebrado, debulhado
na festa das colheitas anuais.

Bandeira de milho levada para os montes
largada pelas roças:
Bandeiras esquecidas na fartura.
Respiga descuidada
dos pássaros e dos bichos.

Milho empaiolado.
abastança tranqüila
do rato,
do caruncho.
do cupim.
Palha de milho para o colchão.
Jogada pelos pastos.
Mascada pelo gado.
Trançada em fundos de cadeiras.

Queimada nas coivaras.
Leve mortalha de cigarros.
Balaio de milho trocado com o vizinho
no tempo da planta.
"- Não se planta, nos sítios, semente da mesma terra".

Ventos rondando, redemoinhando.
Ventos de outubro.

Tempo mudado. Revôo de saúva.
Trovão surdo, tropeiro.
Na vazante do brejo, no lameiro,
o sapo-fole, o sapo-ferreiro, o sapo-cachorro.
Acauã de madrugada
marcando o tempo, chamando chuva.
Roça nova encoivarada,
começo de brotação.
Roça velha destocada.
Palhada batida, riscada de arado.
Barrufo de chuva.
Cheiro de terra; cheiro de mato,
Terra molhada, Terra saroia.
Noite chuvada, relampeada.
Dia sombrio. Tempo mudado, dando sinais.
Observatório: lua virada. Lua pendida...
Circo amarelo, distanciado,
marcando chuva.
Calendário, Astronomia do lavrador.

planta de milho na lua-nova.
Sistema velho colonial.
Planta de enxada.
Seis grãos na cova,
quatro na regra, dois de quebra.
Terra arrastada com o pé,
pisada, incalcada, mode os bichos.

Lanceado certo-cabo-da-enxada...
Vai, vem... sobe, desce...
terra molhada, terra saroia...
Seis grãos na cova; quatro na regra, dois de quebra
Sobe. Desce...
Camisa de riscado, calça de mescla
Vai, vem...
golpeando a terra, o plantador.

Na sombra da moita,
na volta do toco - o ancorote d'água:

Cavador de milho, que está fazendo?
A que milênios vem você plantando.
Capanga de grãos dourados a tiracolo.
Crente da Terra, Sacerdote da terra.
Pai da terra.
Filho da terra.
Ascendente da terra.
Descendente da terra.
Ele; mesmo; terra.

Planta com fé religiosa.
Planta sozinho, silencioso.
Cava e planta.
Gestos pretéritos, imemoriais...
Oferta remota; patriarcal.
Liturgia milenária.
Ritual de paz.
Em qualquer parte da Terra
um homem estará sempre plantando,
recriando a Vida.
Recomeçando o Mundo.

Milho plantado; dormindo no chão, aconchegados
seis grãos na cova.
Quatro na regra, dois de quebra.
Vida inerte que a terra vai multiplicar

Evém a perseguìção:
o bichinho anônimo que espia, pressente.
A formiga-cortadeira - quenquém.
A ratinha do chão, exploradeira.
A rosca vigilante na rodilha,
O passo-preto vagabundo, galhofeiro,
vaiando, sorrindo...
aos gritos arrancando, mal aponta.
O cupim clandestino
roendo, minando,
só de ruindade.

E o milho realiza o milagre genético de nascer:
Germina. Vence os inimigos,
Aponta aos milhares.
- Seis grãos na cova.
- Quatro na regra, dois de quebra,
Um canudinho enrolado.
Amarelo-pálido,
frágil, dourado, se levanta.
Cria sustância.
Passa a verde.
Liberta-se. Enraíza,
Abre folhas espaldeiradas.
Encorpa. Encana. Disciplina,
com os poderes de Deus.

Jesus e São João
desceram de noite na roça,
botaram a bênção no milho,
E veio com eles
uma chuva maneira, criadeira, fininha,
uma chuva velhinha,
de cabelos brancos,
abençoando
a infância do milho.

O mato vem vindo junto,
Sementeira.

As pragas todas, conluiadas.
Carrapicho. Amargoso. Picão.
Marianinha. Caruru-de-espinho.
Pé-de-galinha. Colchão.
Alcança, não alcança.
Competição.
Pac... Pac... Pac...
a enxada canta.
Bota o mato abaixo.
arrasta uma terrinha para o pé da planta.
"...- Carpa bem feita vale por duas..."
Quando pode. Quando não... sarobeia.
Chega terra O milho avoa.

Cresce na vista dos olhos.
Aumenta de dia. Pula de noite.
Verde Entonado, disciplinado, sadio.

Agora...
A lagarta da folha,
lagarta rendeira...
Quem é que vê?
Faz a renda da folha no quieto da noite.
Dorme de dia no olho da planta,
Gorda; Barriguda. Cheia.
Expurgo: nada... força da lua..,
Chovendo acaba - a Deus querê.

"O mio tá bonito..."
"-Vai sê bão o tempo pras lavoras todas."
"-O mio tá marcando..."
Condieionando o futuro:
"- O roçado de seu Féli tá qui fais gosto...
Um refrigério"
"- O mio lá tá verde qui chega a s'tar azur..."
- Conversam vizinhos e compadres.

Milho crescendo, garfando,
esporando nas defesas...

Milho embandeirado.
Embalado pelo vento.

"Do chão ao pendão, 60 dias vão".

Passou aguaceiro, pé-de-vento.
"- O milho acamou..." "- Perdido?"... Nada...
Ele arriba com os poderes de Deus..."
E arribou mesmo; garboso, empertigado, vertical

No cenário vegetal
um engraçado boneco de frangalhos
sobreleva, vigilante.
Alegria verde dos periquitos gritadores...
Bandos em seqüência... Evolução...
Pouso... retrocesso.

Manobras em conjunto.
Desfeita formação.
Roedores grazinando, se fartando,
foliando, vaiando
os ingênuos espantalhos.

"Jesus e São João
andaram de noite passeando na lavoura
e botaram a bênção no milho".
Fala assim gente de roça e fala certo.
Pois não está lá na taipa do rancho
o quadro deles, passeando dentro dos trigais?
Analogias... Coerências.

Milho embandeirado
bonecando em gestação.
- Senhor!... Como a roça cheira bem!
Flor de milho, travessa e festiva.
Flor feminina, esvoaçante, faceira.
Flor masculina - lúbrica, desgraciosa.

Bonecas de milho túrgidas,
negaceando, se mostrando vaidosas.
Túnicas, sobretúnicas...
saias, sobre-saias...
Anáguas... camisas verdes.
Cabelos verdes...
- Cabeleiras soltas, lavadas, despenteadas...
- O milharal é desfile de beleza vegetal.

Cabeleiras vermelhas, bastas, onduladas.
Cabelos prateados, verde-gaio.
Cabelos roxos, lisos, encrespados.
Destrançados.
Cabelos compridos, curtos,
queimados, despenteados.
Xampu de chuvas...
Flagrâncias novas no milharal.
- Senhor, como a roça cheira bem!...

As bandeiras altaneiras
vão se abrindo em formação.
Pendões ao vento.
Extravasão da libido vegetal.
procissão fálica, pagã.
Um sentido genésico domina o milharal.
Flor masculina erótica, libidinosa,
polinizando, fecundando
a florada adolescente das bonecas:

Boneca de milho, vestida de palha...
Sete cenários defendem o grão
Gordas, esguias, delgadas; alongadas
Cheias, fecundadas.
Cabelos soltos excitantes.
Vestidas de palha.
Sete cenários defendem o grão,
Bonecas verdes, vestidas de noiva
Afrodisíacas, nupciais...

De permeio algumas virgens loucas...
Descuidadas. Desprovidas.
Espigas falhadas. Fanadas. Macheadas.

Cabelos verdes. Cabelos brancos.
Vermelho-amarelo-roxo, requeimado...
E o pólen dos pendões fertilizando...
Uma fragrância quente, sexual
invade num espasmo o milharal.
A boneca fecundada vira espiga.
Amortece a grande exaltação.
Já não importam as verdes cabeleiras rebeladas
A espiga cheia salta da haste.
O pendão fálico vira ressecado, esmorecido,
No sagrado rito da fecundação.

Tons maduros de amarelo.
Tudo se volta para a terra-mãe.
O tronco seco é um suporte, agora,
onde o feijão verde trança, enrama, enflora.

Montes de milho novo, esquecidos,
marcando claros no verde que domina a roça.
Bandeiras perdidas na fartura das colheitas.
Bandeiras largadas, restolhadas.
E os bandos de passo-pretos galhofeiros
gritam e cantam na respiga das palhadas.

"Não andeis a respigar" - diz o preceito bíblico
O grão que cai é o direito da terra.
A espiga perdida - pertence às aves
que têm seus ninhos e filhotes a cuidar.
Basta para ti, lavrador,
o monte alto e a tulha cheia.
Deixa a respiga para os que não plantam nem colhem
- O pobrezinho que passa.
- Os bichos da terra e os pássaros do céu.
Fonte:
Jornal de Poesia. http://www.jornaldepoesia.jor.br

Cora Coralina (1889 – 1985)


Pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, (Cidade de Goiás, 20 de agosto de 1889 — Goiânia, 10 de abril de 1985) foi uma poetisa e contista brasileira.

Mulher simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás.

Filha de Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, desembargador nomeado por D. Pedro II, e de Jacinta Luísa do Couto Brandão, Ana nasceu e foi criada às margens do rio Vermelho, em casa comprada por sua família no século XIX, quando seu avô ainda era uma criança. Estima-se que essa casa foi construída em meados do século XVIII, tendo sido uma das primeiras edificações da antiga Vila Boa de Goiá.

Começou a escrever os seus primeiros textos aos quatorze anos de idade, publicando-os nos jornais locais apesar da pouca escolaridade, uma vez que cursou somente as primeiras quatro séries, com Mestra Silvina. Publicou nessa fase o seu primeiro conto, Tragédia na Roça.

Casou-se em 1910 com o advogado Cantídio Tolentino Bretas, com quem se mudou, no ano seguinte, para o interior de São Paulo. Viveria no estado de São Paulo por quarenta e cinco anos, inicialmente nas cidades de Avaré e Jaboticabal, e depois na cidade de São Paulo, para onde se mudaria em 1924. Ao chegar à capital, teve que permanecer algumas semanas trancada num hotel em frente à Estação da Luz, uma vez que os revolucionários de 1924 haviam parado a cidade. Em 1930, presenciou a chegada de Getúlio Vargas à esquina da rua Direita com a praça do Patriarca. Um de seus filhos participou da Revolução Constitucionalista de 1932.

Com a morte do marido, passou a vender livros. Posteriormente mudou-se para Penápolis, no interior do estado, onde passou a produzir e vender lingüiça caseira e banha de porco. Mudou-se em seguida para Andradina, até que, em 1956, retornou para Goiás.

Ao completar cinquenta anos de idade, a poetisa relata ter passado por uma profunda transformação interior, a qual definiria mais tarde como "a perda do medo". Nesta fase, deixou de atender pelo nome de batismo e assumiu o pseudônimo que escolhera para si muitos anos atrás.

Durante esses anos, Cora não deixou de escrever poemas relacionados com a sua história pessoal, com a cidade em que nascera e com ambiente em que fora criada. Ela chegou ainda a gravar um LP declamando algumas de suas poesias. Lançado pela gravadora Paulinas COMEP, o disco ainda pode ser encontrado hoje em formato CD.

Cora Carolina morreu em Goiânia. A sua casa na Cidade de Goiás foi transformada num museu em homenagem à sua história de vida e produção literária.

Os elementos folclóricos que faziam parte do cotidiano de Ana serviram de inspiração para que aquela frágil mulher se tornasse a dona de uma voz inigualável e sua poesia atingisse um nível de qualidade literária jamais alcançado até aí por nenhum outro poeta do Centro-Oeste brasileiro.

Senhora de poderosas palavras, Ana escrevia com simplicidade e seu desconhecimento acerca das regras da gramática contribuiu para que sua produção artística priorizasse a mensagem ao invés da forma. Preocupada em entender o mundo no qual estava inserida, e ainda compreender o real papel que deveria representar, Ana parte em busca de respostas no seu cotidiano, vivendo cada minuto na complexa atmosfera da Cidade de Goiás, que permitiu a ela a descoberta de como a simplicidade pode ser o melhor caminho para atingir a mais alta riqueza de espírito.

Foi ao ter sua poesia conhecida por Carlos Drummond de Andrade que Ana, já conhecida como Cora Coralina, passou a ser admirada por todo o Brasil.

Seu primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás, foi publicado pela Editora José Olympio em 1965, quando a poetisa já contabilizava 75 anos. Reúne os poemas que consagraram o estilo da autora e a transformaram em uma das maiores poetisas de Língua Portuguesa do século XX.

Onze anos mais tarde, em 1976, compôs Meu Livro de Cordel. Finalmente, em 1983 lançou Vintém de Cobre - Meias Confissões de Aninha (Ed. Global).

Cora Coralina foi eleita intelectual do ano e contemplada com o Prêmio Juca Pato da União Brasileira dos Escritores em 1983. Dois anos mais tarde, veio a falecer.

Obras
Estórias da Casa Velha da Ponte,
Meu Livro de Cordel,
Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais,
O Tesouro da Casa Velha e Villa Boa de Goyaz;
os infantis
A Moeda de Ouro que o Pato Engoliu,
Prato Azul-pombinho,
Poema do Milho,
Os Meninos Verdes
As Cocadas

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/
http://www.globaleditora.com.br/
http://www.jornaldepoesia.jor.br/

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Manoel de Andrade (relançamento do livro "Poemas para a liberdade")

Clique sobre a imagem para uma melhor visualização
Escrituras Editora
e Espaço Cultural Alberto Massuda
convidam para o lançamento do livro
POEMAS PARA A LIBERDADE
de Manoel de Andrade
4ª feira, 15 de abril de 2009
a partir das 20 horas,
no Espaço Cultural Alberto Massuda
Rua Trajano Reis, 453
Centro Histórico - Curitiba - Fone (41)3076-7202
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Até então inédito no Brasil, o sucesso editorial de Poemas para a liberdade foi tão considerável quanto seu alcance “político”. A obra estreou em 1970, na Bolívia. A 2a edição, colombiana, esgotou-se em poucas semanas nas livrarias de Cali e Bogotá. A 3a edição, lançada em San Diego, em 1971, espalhou-se pela Califórnia e pelo sudoeste dos EUA, levada pelos estudantes e intelectuais chicanos. Suas primeiras edições panfletárias, lançadas em 1970 em Cuzco e Arequipa, espalharam-se pelo meio estudantil do Peru e percorreram a América nas mochilas de estudantes latino-americanos. Seus poemas foram publicados em jornais, revistas, opúsculos, cartazes e panfletos.

Catarinense radicado no Paraná, onde se formou em Direito, o autor Manoel de Andrade deixou o Brasil em março de 1969, perseguido pela panfletagem de seu poema “Saudação a Che Guevara”, em uma época em que sua poesia começava a ser conhecida nacionalmente por meio de jornais e publicações como a Revista Civilização Brasileira. Expulso da Bolívia em fins de 1969, onde chegou em setembro para se integrar ao movimento guerrilheiro comandado por Inti Peredo, preso e expulso do Peru e da Colômbia em 1970, seus Poemas para la Libertad tiveram uma trajetória política e uma aventura literária que dificilmente outro livro tenha tido. Como falam da luta armada e cantam a saga guerrilheira em uma América Latina então controlada por ditaduras militares, cruzaram clandestinamente certas fronteiras, como uma mala com 200 exemplares da edição boliviana, que chegou a Guayaquil por via fluvial, trazida do Peru por contrabandistas equatorianos.

Poemas para a liberdade consta de vários catálogos da literatura latino-americana e seus poemas, de várias antologias, como Poesia Latinoamericana – Antología Bilingüe, publicada em 1998 pela Epsilon Editores de México., em que o autor partilha suas páginas com consagrados poetas, como Mario Benedetti, Juan Gelman e Jaime Sabines. A capa do livro foi inspirada em cartaz anunciando recital do autor em 1970, na Universidad de Los Andes, Bogotá.

Fontes:
– Nei Garcez.
http://www.escrituras.com.br/

Manoel de Andrade (Poemas)



Véspera

Quatorze de março
mil novecentos e sessenta e nove.
É preciso…
é imprescindível denunciar o compasso ameaçador destas horas,
descrever esta porta estreita que atravesso,
esta noite que me escorre numa ampulheta de pressentimentos.

Um desespero impessoal e sinistro paira sobre as horas…
O ano se curva sob um tempo que me esmaga
porque esmaga a pátria inteira…

Nossas canções silenciadas
nossos sonhos escondidos
nossas vidas patrulhadas
nossos punhos algemados
nossas almas devassadas.

Pelos ecos rastreados dos meus versos
chegam os pretorianos do regime.
Alguém já foi detido, interrogado, ameaçado
e por isso é necessário antecipar a madrugada.

E eis porque esse canto já nasce amordaçado
porque surge no limiar do pânico.
Meu testemunho é hoje um grito clandestino
meus versos não conhecem a luz da liberdade
nascem iluminados pelo archote da esperança
para se esconderem na silenciosa penumbra das gavetas.

Escrevo numa página velada pelo tempo
e num distante amanhecer
é que o meu canto irá florescer.

Escrevo num horizonte longínquo e libertário
e num tempo a ser anunciado pelo hino dos sobreviventes.
Escrevo para um dia em que os crimes destes anos puderem ser contados
para o dia em que o banco dos réus estiver ocupado pelos torturadores

Contudo, nesta hora, neste agora
o tempo se reparte pra quem parte
e um coração se parte nos corações que ficam…
O amanhecer caminha para desterrar os nossos gestos
para separar nossas mãos e nossos olhos
e nesta eternidade para pressentir o que me espera
já não há mais tempo para dizer quanto quisera.

Tudo é uma amarga despedida nesta longa madrugada
e neste descompassado palpitar,
contemplo meus livros perfilados de tristeza
retratos silenciosos de tantas utopias,
bússolas, faróis, retalhos da beleza.
Aceno a Cervantes, a Lorca, a Maiakovski
mas só Whitman seguirá comigo
nas suas páginas de relva
e no seu canto democrático.
Contemplo ainda os pedaços do meu mundo
nos amigos do penúltimo momento
nas lágrimas de um benquerer
na infância de minha filha
e nesse beijo de adeus em sua inocência adormecida.

Nesta agonia…
neste abismo de incertezas…
abre-se o itinerário clandestino dos meus passos.
De todos os caminhos
resta-me uma rota de fuga, outras fronteiras e um destino.
Das trincheiras escavadas e dos meus sonhos,
restou uma bandeira escondida no sacrário da alma
e no coração…
um passaporte chamado… liberdade.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

VELEIRO

Mar afora, mar adentro
lá vai singrando um veleiro
quem dera ser passageiro
pra correr nas mãos do vento.

Mar adentro, mar afora
como navega ligeiro
cruzando este golfo inteiro
nas cores vivas da aurora.

Onde vais assim tão cedo
rumo à Ilha do Arvoredo
levando meu coração…?

Vou navegando contigo
meus olhos te seguem, amigo,
perdidos na imensidão.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

Hiroshima

Hiroshima, Hiroshima
rosa rubra do oriente
fragrância de cerejeira
céu de anil no sol nascente.

Farol de luz no estuário
remanso dos vendavais
porto e escala dos juncos
roteiro dos samurais.

Verão de quarenta e cinco
no dia seis de agosto.
Clareando as águas do delta
a aurora beija o teu rosto.

Surge o Sol, se abre o dia
na luz e no movimento.
Tudo era paz e alegria
e nenhum pressentimento.

Teus colibris revoavam
no fresco azul dos teus ares
eram os casais, eram os ninhos
carícias, trino e cantares.

O arroz na água e na espiga
talo e seiva a palpitar
os rosais desabrochando
e os girassóis a girar.

Vidas…teu rosto eram vidas
nos campos e nos quintais
nos jardins, na verde relva
na algazarra dos pardais.

Folguedos, danças, cantigas
tua infância sem receios
teus escolares em flor
correndo pelos recreios.

As horas cruzavam o dia
os pais e os filhos na praça
o povo cruzava as ruas
cruzava o céu a desgraça.

De repente nos teus ares
a Águia do Norte, o Falcão
e num segundo, em teus lares,
gritos, fogo, turbilhão.

O beijo carbonizando
a luz devorando o dia
a carne viva queimando
na instantânea agonia.

No céu… um avião se afasta
na voz… a missão cumprida
no chão… a dor que se arrasta
e a cidade destruída.

Quem eras tu, Hiroshima
naquele dia distante…?
Eras sonhos e esperanças
incendiados num instante…

Quantos projetos de vida
mil sonhos acalentados
quantas mil juras de amor
nos lábios dos namorados.

Eras filhote no ninho
eras fruto no pomar
canteiro de brancas rosas
e toda a vida a cantar.

Eras mãe, eras criança
e no útero eras semente
ontem eras a esperança
e agora o braseiro ardente

Por que Hiroshima, por quê…?
o punhal de fogo, a explosão…?
Por que cem mil corações
ardendo sem compaixão…?

Tua inocência cremada
na fogueira do delírio.
Tua imagem retratada
na estampa do martírio.

Teu sangue vive na história
nas cicatrizes ardentes
nas lágrimas, na memória
na dor dos sobreviventes.

Quem previu tua agonia ?
Quem explodiu tua paz ?
Quem tatuou nos teus lábios
as palavras: nunca mais!?

Comandantes, comandados…
quem são os donos da guerra…?
e em que tribunal se julgam,
os genocídios da Terra…?

Por tanta dor, rogo a Deus
na minha prece tardia
que guarde no seu amor
os mártires daquele dia.

Hiroshima, flor da vida,
semente, ressurreição.
Fênix, face renascida.
PAZ, santuário, canção.
--------------
Fontes:
ANDRADE, Manoel de. Cantares. São Paulo: Escrituras, 2007.
ANDRADE, Manoel de. Poemas para a liberdade. São Paulo: Escrituras, 2009.

Manoel de Andrade (1940)


Manoel de Andrade nasceu em 1940, em Rio Negrinho, SC.

Graduado em Direito no Paraná, começa a publicar seus versos na imprensa curitibana em 1962.

Em 1965, recebe o 1º prêmio no Concurso de Poesia Moderna promovido pelo Centro de Letras do Paraná. Ainda em 1965, participa da Noite da Poesia Paranaense, no Teatro Guaíra.

Em 1966, a Revista FORMA publica seu premiado “Poema Brabo”.

Em 1968, sua “Canção para os homens sem face” é publicada pela Revista Civilização Brasileira e, ainda naquele ano, junto com Dalton Trevisan e Jamil Snege, é apontado pela imprensa local, como um dos três destaques literários no Paraná. Na época, foi chamado de “poeta maior” pelo jornalista Aroldo Murá Haygert e, posteriormente, destacado pelo crítico Wilson Martins pela sua “grande poesia”.

Manoel de Andrade fugiu do Brasil em março de 1969, pela repercussão da panfletagem de seus poemas políticos. Atravessou 15 países da América publicando livros, promovendo debates, dando palestras e declamando seus versos em teatros, universidades e sindicatos.

Seu primeiro livro, Poemas para la libertad é publicado em junho de 1970 na Bolívia e, em janeiro de 1971, Canción de amor a América y otros poemas é editado na Nicarágua e El Salvador. Em fevereiro daquele ano, Francisco Julião, exilado no México, abre seu primeiro recital de poesia na capital mexicana e, em seguida participa, em Tampico, das comemorações do 37º aniversário de morte de Augusto Cesar Sandino.

Em março, viaja à Califórnia, para palestras e recitais nas universidades de San Diego, Los Angeles, Berkeley e São Francisco.

Em agosto é convidado pela Universidade Central do Equador a apresentar um ciclo de palestras sobre problemas centro-americanos. Em 1972 retorna anonimamente ao Brasil.

Afastado 30 anos da literatura, participa, em 2002, da coletânea paranaense Próximas Palavras. Volta a publicar em 2007, com o lançamento de seu livro de Cantares, publicado pela Escrituras Editora.

Fonte:
http://www.escrituras.com.br/

Eventos Culturais no Rio Grande do Sul



Terça, dia 14 de Abril
Dois Anos de Reinações
24º Encontro da Reinações – Confraria da Leitura de Textos Infantis e Juvenis. Segundo Caio Riter, já são dois anos ininterruptos de encontros provando que a Confraria está dando certo. Neste encontro especial, os confrades estarão debatendo o livro O JARDIM SECRETO, com coordenação de DIANA CORSO.
É dia 14, das 19h às 20h30, na Letras & Cia – Rua Osvaldo Aranha, 444, Bairro Bom Fim, POA.
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Itinerário de Formação Literária
Aulas individuais com o poeta, músico, contista, cronista, ensaísta e professor de literatura Ricardo Silvestrin.
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Prêmio OFF FLIP abre inscrições para contos e poesias
Estão abertas até 5 de maio as inscrições para a quarta edição do Prêmio OFF FLIP de Literatura. O Prêmio terá uma bolsa de criação literária de R$ 5 mil patrocinada pela FLIPORTO.
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Instituto Cultural Brasileiro Norte-Americano
Inaugura complexo de cultura em Porto Alegre - A sede central do Cultural, localizada na Rua Riachuelo, 1257, no Centro Histórico, passou por uma série de reformas para atender a programação de cultura.
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Projeto "SARAU" no Estação Cultura de Canoas
A Literatura Gaúcha, como um todo, e a Canoense, em particular, possui um número expressivo de autores (consagrados ou não) que buscam um espaço para apresentar seus trabalhos. Aos autores poucos são os espaços oferecidos para a interação com seu público leitor e ao público leitor poucas são as oportunidades de contato com o autor canoense e muitas vezes desconhecem a existência de autores locais. O Estação Cultura, com a finalidade de promover essa aproximação, apresentar a cultura contemporânea aos seus freqüentadores e oferecer à cidade de Canoas, um local aconchegante para estreitar laços entre os autores locais e seu público leitor, apresenta o Projeto “SARAU” que será apresentado na segunda terça-feira do mês pelo irreverente Gilson Goulart e coordenação de Neida Rocha e a partir de uma efeméride, apresentará um convidado mensalmente.

14 de Abril de 2009 - 19h30min, Temática: Dia Da Mentira. Convidada: Maria Dos Santos Rigo (Presidente da Casa do Poeta de Canoas). Coordenação: Neida Rocha (0**51) 9942-3898.
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Vagas Abertas Para Oficina De Criação Literária Da Uniritter
A Oficina de Criação Literária UniRitter foi instituída em 2007 com o objetivo de fomentar a criação literária entre a comunidade em geral.
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Oficina Do Subtexto E Laboratório De Leituras
Estão abertas as inscrições para novas turmas de oficinas ministradas pela escritora e jornalista Cíntia Moscovich. No trimestre que se inicia no dia 13 de abril, serão oferecidos:

Terças-Feiras
– Oficina de Literatura com Valesca de Assis

Desbloqueio para a escrita criativa é o tema da oficina com a escritora gaúcha - A escritora Valesca de Assis vai ministrar em 12 encontros, às terças-feiras, das 14 às 17h, das 14h às 17h.

Inicio: 17 de Abril
Curso de Armindo Trevisan em quatro Encontros

O Espaço Charles Kiefer de Oficinas Literárias oferece a oficina Quatro Encontros Sobre Poesia, com o escritor Armindo Trevisan. Esta oficina vai ocorrer a partir do dia 17 de abril (17/04).

Segundas-Feiras, desde 13 de Abril
Oficina de Crônica com Ivette Brandalise
Palavraria – Livraria-Café informa: Abertas as inscrições para Oficina de Crônica com Ivette Brandalise.
Às segundas-feiras, a partir de 13 de abril de 2009, das 16 às 18h.

Sábados
Poesia Bomba na Bamboletras!
Sábados Poéticos na BAMBOLETRAS - Para quem gosta de poesia, e ainda mais de aproveitar bons descontos para a compra de livros, a Livraria Bamboletras continuará realizando em 2009 os seus tradicionais sábados poéticos.

Fontes:
Neida Rocha
Imagem = http://inema.com.br