quinta-feira, 23 de abril de 2009

Projeto de Trovas Para Uma Vida Melhor (Resultado da 2a. Etapa)



2ª Etapa 1° Concurso

Tema: Sinceridade


GRUPO 1 NACIONAL


1° LUGAR

Quem em todos os momentos
age com sinceridade,
revela bons sentimentos
e preza o bem e a verdade.
Leonilda Yvonneti Spina (Londrina/PR)

2° LUGAR

Se existe sinceridade,
dói menos a aceitação
quando se diz a verdade,
seja qual for... a um irmão!
Alba Helena Corrêa (Niterói/RJ)

3° LUGAR

Quero dar-te, ó sepultura,
dois bens que os vermes não comem:
sinceridade e lisura,
dois tesouros num só homem!
Humberto Rodrigues Neto (Pirituba/SP)

MENÇÃO HONROSA

1.
Franqueza e sinceridade
são coisas bem diferentes:
uma é dizer a verdade.
outra é dizer o que sentes
Alba Christina (São Paulo/SP)

2.
Vendo tanta falsidade
presente na nossa fala,
já sinto a sinceridade
mais perto de quem se cala.
Josafá Sobreira da Silva (Rio de Janeiro/RJ)

3.
Mais vale a sinceridade
nas horas de nossa lida,
do que a ausência da verdade
na trajetória da vida.
Wilton Di Cali (São Paulo/SP)

4.
Prefira a sinceridade
e faça o bem nesta vida.
Quem usa de falsidade
torna a existência sofrida...,
Geraldo Lyra (Recife/PE)

5.
Toda criatura honesta
leva a vida sem maldade
e, em seus atos, manifesta
o dom da sinceridade.
Hélio Pedro Souza (Natal/RN)

MENÇÃO ESPECIAL

1.
Num arbítrio de questão,
é amigo de verdade
quem, de fato, dá razão
usando sinceridade.
Ruth Farah Nacif Lutterback (Cantagalo/RJ)

2.
Prefiro a meia verdade,
cuja metade eu componho,
à crua sinceridade
que, cruel... mata meu sonho!
Divenei Boseli (São Paulo/SP)

3.
Sinceridade faz lavra
muito mais bem sucedida
quando se planta a palavra
no solo fértil da vida.
Marcos Antônio de Andrade Medeiros (Natal/RN)

4.
Ao contrário da mentira,
é reta a sinceridade;
aquela desperta a ira,
esta, a credibilidade.
Lairton Trovão de Andrade (Pinhalão/PR)

5.
Melhor seria que os versos,
com as asas da verdade,
voassem pelo universo
a espalhar sinceridade.

Myrthes Mazza Masiero (São José dos Campos/SP)


GRUPO 2 NACIONAL

1° LUGAR

Acho que a sinceridade
permeia nosso viver.
Está em cada verdade
que não tememos dizer.
Márcia Sanchez Luz (Araras/SP)

2° LUGAR

Sinceridade eu diria,
com toda força e razão...
é a transparência do dia,
no trato com o teu irmão.
João Roberto Cônsoli (Belo Horizonte/MG)

3° LUGAR

Vamos todos dar as mãos
agir com sinceridade,
para sermos bons irmãos
em qualquer atividade.
Maria Diva Fontes Rico (São José dos Campos/SP)

MENÇÃO HONROSA

Quem passa o tempo vivendo
plantando apenas verdade,
todo dia vai colhendo,
a flor da sinceridade.
Jair Maciel De Figueiredo (Candelária/RN)

2.
Sinceridade não cala
ante um mal que se conhece:
amigo é aquele que fala,
perdoa e depois esquece.
Maria Cecilia Graner Fessel (Piracicaba/SP)

3.
Entre as humanas virtudes
destaco a sinceridade
que norteia as atitudes
dos amigos de verdade
Cyro Mascarenhas Rodrigues (Brasília/DF)

4.
Cultive a sinceridade
com amor e com carinho
pois ela traz amizade
e paz em nosso caminho
Wanda Duarte Da Silva (Ribeirão Preto/SP)

5.
Falar com sinceridade
é requisito maior
para se agir sem maldade,
por uma vida melhor.
Arnaldo Pereira Ribeiro (São Paulo/SP)

MENÇÃO ESPECIAL

1.

Se alguém tem sinceridade
no diálogo com os seus
há grande felicidade
e sintonia com Deus.
Barão de Jambeiro (Jambeiro/SP)

2.
O Homem com sabedoria,
amor e sinceridade,
vai alcançar cada dia
a luz da felicidade.
Dirce Montechiari (Nova Friburgo/RJ)

3.
A paz com sinceridade
não se faz por mutirão,
depende mais da vontade
só de cada cidadão!
Genilton Vaillant de Sá (Vitória/ES)

4.
Em contraposta à mentira,
somente a sinceridade;
mesmo quando também fira,
nada melhor que a verdade.
Diamantino Ferreira (Campos dos Goytacazes/RJ)

5.
Sinceridade é uma estrela
que embeleza o firmamento.
Precisamos sempre vê-la
no nosso comportamento.
Jair Pereira da Silva (Pilar do Sul/SP)

GRUPO INTERNACIONAL
Paises participantes: Portugal ; Canadá; México; USA; Colômbia; Espanha; Argentina; França; Peru; Japão; Suiça; Porto Rico.

1° LUGAR

Não pode existir verdade
em tudo que nós fazemos,
sem haver sinceridade
nos atos que cometemos!
Fernando Reis Costa (Coimbra/Portugal)

2° LUGAR

Com toda a sinceridade
te juro que não me irrito:
podes mentir-me à vontade
que eu finjo que te acredito…
Fernando Máximo (Avis/Portugal)

3° LUGAR

Usar de sinceridade
é para a vida um valor
que nos traz felicidade
e dá mais força ao amor.
Célia Maria da Cunha Sanches (Góis/ Portugal)

MENÇÃO HONROSA

Não poderão existir
um amor ou amizade,
se não se podem medir
com total sinceridade.
Elena Guede Alonso (San Juan/ Porto Rico)

MENÇÃO ESPECIAL

1
Diz-me com sinceridade
se teu amor me pertence,
diz-me em breve essa verdade,
pois meu ser fica em suspense.
Jamil William Piscoya Ayala (Ferreñafe /Region Lambayeque/Peru)

2
Eu louvo a sinceridade
que encerra grande virtude
de quem só diz a verdade
e os amigos não ilude.
Maria José Viegas da Conceição Fraqueza (Fuseta/Olhão/ Portugal)

3
A nossa sinceridade
não deve morrer à míngua...
Para termos a verdade
sempre na ponta da língua!
Judite Raquel das Neves Fernandes (Góis/ Portugal)

4.
Sinceridade te cala
se é um amigo quem a diz,
dói muito, como uma bala:
mas é Deus quem te bendiz!
Olga Maricela Treviño (Guadalupe, N.L/México)


GRUPO 3: ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA E ENSINO MÉDIO

1° LUGAR

Nem sempre a sinceridade
causa o bem que deveria.
Há casos em que a verdade
tem sabor de grosseria.
Hugo Paes Bezerra (Maceió/Alagoas)

2° LUGAR

Se houver a sinceridade
saberemos nos amar
dizendo sempre a verdade
para o mundo melhorar.
Andréia de Fátima (EE. “Dr. Cerqueira César” [Paraibuna/SP])

3° LUGAR

Uso de sinceridade
com amigos e meus pais
Não é só questão de idade
da vida quero bem mais!
Patrícia Camilla de Souza Moraes (Colégio Agnes Eskine [Recife/PE])

MENÇÃO HONROSA

1.
Sempre com sinceridade
procuro me conduzir
Acho que já tenho idade
de saber por onde ir.
Bruna Marina de Souza Moraes (Colégio Agnes Eskine [Recife/PE])

2.
Viver é ter uma vida
sem estresse e sem maldade.
Ela deve ser vivida
com muita sinceridade.
Josiléa de Oliveira (EE. “Dr. Cerqueira César” [Paraibuna/SP])

3.
O amor é um grande bem
que nasce no coração.
Sinceridade também
faz parte dessa emoção.
Daniela Santos Dias (EE. “Dr. Cerqueira César” [Paraibuna/SP])

4.
Amigos eu sempre tive
amigos que quero ter.
sinceridade se vive
praticando o bem viver.
Gabriel Vinicius de Souza Garcia (EE. “Dr. Cerqueira César” [Paraibuna/SP])

5.
Sinceridade é tão rara
mas não pode magoar.
É preciso dar a cara
e até saber perdoar.
André Luiz Santos (EE. “Dr. Cerqueira César” [Paraibuna/SP])

MENÇÃO ESPECIAL

1.
Venci um torneio com
sinceridade e razão.
Aprendi a achar o tom
na paciência e emoção.
Letícia Maria Martins Sakamoto (EE. “Dr. Cerqueira César” [Paraibuna/SP])

2.
Eu não tenho paciência
mas tenho a felicidade;
vivo com a convivência
de sua sinceridade.
Débora Evelim Silva de Souza (EE. “Cel. Eduardo José de Camargo” [Paraibuna/SP])

3.
Se não formos verdadeiros
não teremos a verdade;
todos os bons companheiros,
vivem com sinceridade.
David Silva do Amaral (EE. “Dr. Cerqueira César” [Paraibuna/SP])

4.
Sinceridade não é
só pensar, mas o agir;
é ter na verdade, fé
e ao amigo não trair.
Fabrício Batista de Lima (EE. “Cel. Eduardo José de Camargo” [Paraibuna/SP])

5.
Amo com sinceridade
vivo com muita alegria.
Amo este pais – verdade
sou alegre dia-a-dia.
João Pedro Castilho Braz (EE. “Cel. Eduardo José de Camargo” [Paraibuna/SP])

COMISSÃO JULGADORA:
Adamo Pasquarelli (SP); Cláudio De Morais – (SP); Maria Aparecida Stinglin – (PR); Mariléa Mendes Hipólito -(SP); Ademar Macedo (RN); Delcy Rodrigues Canales (RS); Francisco Garcia (RN); José Valdez Castro Moura (SP); Arlindo Tadeu (MG); Cidinha Frigeri (PR); Gislaine Canales (SC); Luiz Antonio Cardoso (SP); Zélia Maria Carvalho De Figueiredo (RN); Myrthes Mazza Masiero (SP)
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Fonte:
Maria Inez Fontes Rico. UBT-Paraibuna/SP

quarta-feira, 22 de abril de 2009

II Jornada Internacional de Mulheres Escritoras - Abril 2009

Montagem = José Feldman

II Jornada Internacional de Mulheres Escritoras - Abril 2009

ENCONTRO LITERÁRIO DE MULHERES IBERO-AMERICANAS / I ENCONTRO DE REDES DE ESCRITORAS

Para o evento a entrada será gratuita, basta contatar a organização para obter o convite.

I ENCONTRO LITERÁRIO DE MULHERES IBERO-AMERICANAS
I ENCONTRO DE REDES DE ESCRITORAS
“A IGUALDADE NÃO É UMA UTOPIA”
São José do Rio Preto - São Paulo - Brasil
23, 24 e 25 de Abril de 2009

Acontecerá em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, o evento II Jornada Internacional de Mulheres Escritoras, nos dias 23, 24 e 25 de abril de 2009.

O objetivo desse acontecimento é reunir mulheres escritoras de diferentes localidades, de variados estilos literários, de todas as classes sociais, em torno de um mesmo propósito: comunicar-se, expor e intercambiar seus pensamentos, conhecimentos e sentimentos por meio de seus textos.

A criação e elaboração desse projeto estão a cargo de Isabel Ortega, gestora cultural, rio-pretense residente na Espanha, que ao trazer para essa cidade um evento dessa envergadura, almeja inserir na agenda cultural dessa cidade mais um acontecimento de nível internacional a exemplo do Festival Internacional de Teatro.

ENCONTRO DE REDES

1. REBRA - Rede de Escritoras Brasileiras (3.040 associadas) Brasil - Joyce Cavalcante, fundadora e presidente
2. RELAT - Rede de Escritoras Latino-americanas Argentina - Patrícia Suárez, membro da Relat
3. REI - Rede de Escritoras Indígenas - Brasil - Eliane Potiguara, fundadora e coordenadora
4. ANIDE - Asociación Nicaragüense de Escritoras - Nicarágua - Isolda Furtado - presidente executiva
5. LAC - Red de Mujeres Rurales de América Latina e del Caribe - Brasil - Maria Vanete Almeida, fundadora
6. AEH - Asociación de Mujeres Escritoras de Honduras - Honduras - Waldina Mejía, fundadora e presidente

PAISES PARTICIPANTES
Argentina – Brasil – Chile - Costa Rica – Espanha Honduras - México – Peru – Portugal - França

NOMES CONFIRMADOS
Os nomes já confirmados são: SILVIA PLAGER (Argentina) – NILZA AMARAL (Brasil) – ANA MARIA MARTINS (Brasil) - LYGIA FAGUNDES TELLES (Brasil) - ROSALIE GALLO Y SÁNCHES (Brasil- São José do Rio Preto) - “PIA BARROS”(Chile) - PIEDAD BONNET (Colômbia) - FERNANDO VARELLA MATEO (Editora Lengua de Trapo –Espanha) - DOMINIQUE KOOP (França) - AMADA PAREDONES (Jornalista – México) - WALDINA MEJÍA (Nicarágua) GLORIA DÁVILA (Peru).

A Jornada é um evento de mulheres escritoras, jornalistas, crítico-literária, mulheres que se dedicam à escrever e à comunicar. Especialistas na arte de cristalizar idéias e desenvolver a imaginação expressas em versos, narrativas, contos, dramaturgia, pesquisas, romances e todas as formas de composições literárias.

A originalidade está em uma Jornada que congrega mulheres escritoras, oferecendo-lhes um espaço para reflexão, discussão e intercâmbio, viabilizados pelo diálogo e pelo conhecimento de realidades e vivências entre escritoras de classes diversificadas e de lugares distintos do Brasil e do exterior.

Uma tribuna aberta para conhecer, mais de perto, mulheres que escrevem a memória histórica de sua gente, que poderão interagir com o público de jovens universitárias, com mulheres do campo, representantes dos setores representativos da sociedade local e regional.

Uma contribuição para aproximar escritoras já conhecidas da mídia e as ainda não tão conhecidas, mulheres premiadas e com muito sucesso no exterior, a seus atuais e futuros leitores, por meio de suas palestras e debates.

A Jornada tem a parceria do Sesc, Serviço Social do Comércio, Prefeitura de São José do Rio Preto, UNESP, Universidade estadual Sao Paulo, apoio de Rebra, Rede de Escritoras brasileiras, Academia Riopretense de Letras.

Os livros se farão presentes, mas os objetivos do projeto são: a interação e comunicação e a integração social das mulheres, escritoras, leitoras e futuras escritoras.

O espaço existirá com o intuito de: romper silêncios, criar possibilidades para novas perspectivas, pensar como agente transformador por uma sociedade mais dialogante e comunicativa. Indicar a necessidade de priorizar critérios de justiça e eqüidade social. Posto que:
“A igualdade não é uma utopia.”

Proposta

Reunir em São José do Rio Preto, estado de São Paulo, Brasil, mulheres escritoras de países de Ibero - América, com a finalidade de apresentarem seus trabalhos literários umas às outras e ao público presente.

• Encontros e intercâmbios de experiências entre mulheres escritoras do Brasil, de países ibero - americanos e de países convidados, visando criar mecanismos de efetiva comunicação através das redes de escritoras, editoras, tradutoras, pesquisadoras, jornalistas, educadoras, leitoras e futuras escritoras.

• Entender como escritoras às mulheres que escrevem, que são as jornalistas, pesquisadoras, críticos literários e culturais, pedagogas, etc.

• Conferências, teleconferências, mesas redondas e debates sobre temas relacionados com o universo literário feminino e temas pertinentes a todas as mulheres e homens dentro do âmbito literário, social, cultural e trabalhos de pesquisa.

• Promover eventos paralelos, conferências, vivências e mesas redondas nos auditórios da UNESP-IBILCE (campus S. J. Rio Preto). Com a participação da comunidade acadêmica na qualidade de convidada especial nas mesas redondas e outras atividades, recebendo certificado de participação no evento.

• Promover o primeiro “Encontro de Redes”, Abrindo caminho ao diálogo através da linguagem cultural dos países Ibero-americanos, fomentando os possíveis encontros e intercâmbios, nacionais e internacionais das mulheres e suas diversidades culturais e sociais.

O evento da Jornada, tem uma proposta firme, que é do intercambio cultural literário. Não cogitamos o evento dentro de um modelo comercial, ainda.

Cada escritora participante, poderá: trazer alguns de seus livros que podem ser vendidos pela equipe do evento, na área de convivência do Sesc, fazer lançamento de livros, no Sesc e no Shopping da Cidade. Cada participação tem 40 minutos.
Cada escritora convidada, deverá enviar o seu CV resumido, uma foto de alta resolução.

A Jornada este ano cria o Prêmio Lygia Fagundes Telles, a qual fará a abertura do evento, na quinta feira, às 10hs, no SESC

O evento recebe apoio do SESC, da UNESP-IBILCE, e principalmente do governo municipal através das Secretarias da Cultura, do Turismo, da Educação e da Mulher.

Há também equipes de apoio técnico e administrativo formado por membros da comunidade local para divulgação e suporte e, o Instituto Práxis: Alternativa de Sustentabilidade que presta consultoria e faz a produção do evento.

Estão apoiando o evento a REBRA - Rede de Escritoras Brasileiras, e a UBE, União Brasileira de Escritores.

Paralelamente ao evento acontecerá o encontro de Redes, com a participação das seguintes redes: REBRA - Rede de Escritoras Brasileiras, RELAT - Rede de Escritoras Latino-americanas, REI - Rede de Escritoras Indígenas, ANIDE - Asociación Nicaragüense de Escritoras.

Fontes:
Isabel Ortega (Riopretense que reside em Madrid) – Diretora e idealizadora do evento.
Ana Paula Dias Rodrigues

Anayde Beiriz (Carta de Amor)



A carta é de 4 de julho de 1926.

“(...) O amor que não se sente capaz de um sacrifício não é amor; será, quando muito, desejo grosseiro, expressão bestial dos instintos, incontinência desvairada dos sentido, que morre com o objetivar-te, sem lograr atingir aquela atura onde a vida se torna um enlevo, um doce arrebatamento, a transfiguração estética da realidade... E eu não quero amar, não quero ser amada assim... Porque quando tudo estivesse findo, quando o desejo morresse, em nós só ficaria o tédio; nem a saudade faria reviver em nossos corações a lembrança dos dias findos, dos dias de volúpia de gozo efêmero, que na nossa febre de amor sensual tínhamos sonhado eternos.

Mas não me julgues por isto diferente das outras mulheres; há, em todas nós, o mesmo instinto, a mesma animalidade primitiva, desenfreada, numas, pela grosseria e desregramento dos apetites; contida, nobremente, em outras, pelas forças vitoriosas da inteligência, da vontade, superiormente dirigida pela delicadeza inata dos sentimento ou pelo poder selético e dignificador da cultura.

Não amamos num homem apenas a plástica ou o espírito: amamos o todo. Sim, meu Hery, nós, as mulheres, não temos meio termo no amor; não amamos as linhas, as formas, o espírito ou essa alguma coisa de indefinível que arrasta vocês, homens, para um ente cuja posse é para vocês um sonho ou raia às lides do impossível. Não, meu Hery, não é assim que as mulheres amam. Amam na plenitude do ser e nesse sentimento concentram, por vezes, todas as forças da sua individualidade física ou moral.

É pois assim que eu te amo, querido; e porque te amo, sinto-me capaz de esperar e de pedir-te que sejas paciente. O tempo passa lento, mas passa...

...E porque ele passa, e porque a noite já vai alta, é-me preciso terminar.

Adeus. Beija-te longamente, Anayde”
–––––––––––––––––
Uma das cartas de Anayde Beiriz a Heriberto Paiva é bastante revelador da personalidade ao mesmo tempo romântico e ousada da professora paraibana.

Fontes:
http://www.meiotom.art.br/
Imagem = http://www.aceav.pt/

Anayde Beiriz (1905 – 1930)



Anayde Beiriz (João Pessoa, 18 de fevereiro de 1905 — Recife, 22 de outubro de 1930) foi uma professora e poetisa brasileira.

O seu nome está ligado à História da Paraíba, devido à tragédia em que foi envolvida, juntamente com o advogado e jornalista João Duarte Dantas, com quem mantinha um relacionamento amoroso.

Poetisa e professora, ela escandalizou a sociedade retrógrada da Paraíba com o seu vanguardismo: usava pintura, cabelos curtos, saía às ruas sozinha, fumava, não queria casar nem ter filhos, escrevia versos que causavam impacto na intelectualidade paraibana e escrevia para os jornais.

Anayde Beiriz nasceu em 1905 em João Pessoa. Diplomou-se pela Escola Normal em 1922, com apenas 17 anos, destacando-se como primeira aluna da turma. Passou, assim, a lecionar, alfabetizando os pescadores da então vila de Cabedelo. Além de normalista, era poeta e amante das artes. Logo que se formou, passou a lecionar na colônia de pescadores perto de sua cidade natal. Em 1925, ganhou um concurso de beleza. Circulava também nos meios intelectuais, onde declarava-se publicamente a favor da liberdade e da autonomia feminina. Chamavam a atenção os seus olhos de cor negra, que lhe valeram o apelido, em seu círculo de amizades, de "a pantera dos olhos dormentes".

Sendo uma mulher emancipada para os costumes do seu tempo, Anayde perturbou a sociedade conservadora da Paraíba, nos anos 30. Ousou exprimir uma sensibilidade que chocou o modelo de moralidade prevalente: sua maneira de se vestir (o uso dos decotes), o corte dos cabelos, "à la garçonne", que eram pintados, as suas idéias políticas (quando as mulheres não tinham sequer o direito ao voto) e a maneira de vivenciar o amor livre causaram escândalo.

Em 1928, iniciou seu romance com o deputado João Dantas, que era adversário de João Pessoa, candidato à presidência da Paraíba. Em 1930, o Brasil sofreu reviravoltas importantes. A chamada política do "café com leite" centralizava o poder entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais. O bloco político, do qual a Paraíba fazia parte, interveio nas disputas políticas, que se tornaram violentas e as questões pessoais se misturaram às questões da vida pública.

A ligação amorosa entre João Dantas e Anayde Beiriz não era bem vista pela hipocrisia social, uma vez que não eram casados. Prato feito para os inimigos políticos de João Dantas, que sob as ordens de João Pessoa, arrombaram a casa, apropriaram-se da correspondência erótica do casal e publicaram-na nos jornais da cidade. Sensual e libertária, Anayde foi duramente exposta à sociedade paraibana. O que era uma invasão de cunho político, mobilizou todo o Brasil ao ganhar o contorno de uma grande paixão, vivida às escondidas.

No dia 26 de julho, João Dantas, furioso com a publicação de suas cartas de amor, correu pela cidade atrás do mandante e ao encontrá-lo disse: "Sou João Duarte Dantas, a quem tanto injuriaste e ofendeste". Matou com três tiros João Pessoa e logo em seguida foi preso. Este ocorrido serviu de pivô para uma convulsão nacional que sucumbiu na Revolução de 30. A morte de João Pessoa comoveu todo o Brasil, pois ele nesta época já era muito famoso, ao ter concorrido à presidência como vice de Getúlio Vargas. Em outubro daquele ano o movimento revolucionário foi deflagrado e Anayde passou a ser perseguida e apontada na rua como "a prostituta do bandido que matou o presidente."

Ela abandona sua casa e vai morar em um abrigo na cidade de recife. Lá passa a visitar João Dantas, preso imediatamente após o crime. Este é achado morto nos primeiros dias da Revolução, supostamente por suicídio, mas em circunstâncias pouco claras. A própria Anayde é encontrada morta em 22 de outubro daquele ano, supostamente por envenenamento, sendo enterrada como indigente no cemitério de Santo Amaro, e sua memória foi renegada durante anos pelos paraibanos. Sua imagem só se tronou emblemática quando foi elegida como uma das personagens míticas da história do Brasil, pelo movimento feminista. Mas, até hoje, sua memória causa desconforto naquela região.

Quase todas as cartas do diário deixam explícitas que a grande paixão de Anayde não foi o advogado João Dantas, mas o médico paraibano, que foi morar no Rio de Janeiro, e a quem ela chamava de “Hery”. Já o nome “Panthera dos olhos dormentes” era como amigos de Anayde já a chamavam antes dela conhecer Heriberto. Eles justificavam a designação porque diziam que, em seus contos, Anayde sempre colocava uma mancha de sangue e porque ela gostava de tudo que era vermelho. Tanto que, em carta, cujo teor completo está no livro de Marcus Aranha, Anayde revelou a Heriberto Paiva: “Crêem eles que eu sou trágica, que gosto desse amor que queima, dessa paixão que devora, dessa febre amorosa que mata...”.

Heriberto passou a chamá-la também de “pantera”, desde que ela lhe escreveu: “A pantera é bem humana, não é verdade, amor? Mansa, dócil, amorosa, em se tratando de ti; mas, para os outros. Eu queria poder esmagá-los, a todos... Contudo, gostei desse título de fera que eles me deram; escrevi um conto com esse nome e enviei-o para a ‘Tribuna do Pará’. Creio que brevemente será publicado”.

Hoje, a sua história, tematizada no teatro, no cinema e na literatura, instiga a pensar sobre a intersecção entre os fatos da vida privada e da vida pública, no contexto da história nacional. A encenação da vida de Anayde Beiriz nos chama a atenção para as "dobras do lado de dentro" da história oficial, isto é, a dimensão do intimismo no contexto da experiência pública. Ficou conhecida como a "Paraíba masculina, mulher-macho sim senhor".

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/
Mariana Várzea. em http://www.meiotom.art.br/
http://crazymann.kit.net/
http://www.memorialpernambuco.com.br/

Cultura na Cultura

Veja o local dos eventos, pois alguns são realizados em outras cidades e estados.
A Livraria Cultura participa da programação do ano França no Brasil com uma série de eventos. No dia da abertura oficial das comemorações, 22 de abril, a designer Sheila Dryzun lança os livros ‘O Pequeno Príncipe me disse’, inspirado no clássico de Antoine de Saint-Exupéry, que reúne impressões sobre a obra do autor, recolhidas em 37 depoimentos de personalidades brasileiras, entre elas Rita Lee, Luana Piovani e Luis Fernando Veríssimo, e a biografia do autor francês, registrada em ‘Antoine de Saint-Exupéry: a história de uma história’. Dryzun também inaugura uma mostra de fotos e filme inédito sobre vida do escritor de um dos livros mais traduzidos no mundo no espaço de exposições da Cultura do Conjunto Nacional. François d´Agay, sobrinho de Saint-Exupéry, virá ao país especialmente para prestigiar o evento e participar de bate-papo sobre a vida deu seu tio e a relação com ele no mesmo dia.

22 de Abril

18h30 – Palestra
Tema Antoine de Saint-Exupéry - A história de uma história
Palestrante Sheila Dryzun e François d´Agay
Local Livraria Cultura Conjunto Nacional (São Paulo)

18h30 – Noite de Autógrafos
Livro O PEQUENO PRÍNCIPE ME DISSE
Autor Sheila Dryzun
Local Livraria Cultura Conjunto Nacional (São Paulo)

18h30 – Noite de Autógrafos
Livro ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY
Autor Sheila Dryzun
Local Livraria Cultura Conjunto Nacional (São Paulo)

19h00 – Noite de Autógrafos
Livro CONVERSAS E VERSOS.COM.MARIA
Autor Maria José Barboni de Godoy
Local Livraria Cultura Bourbon Shopping Pompéia (São Paulo)

Em cada pincelada, um poema. Em cada verso, uma pintura. É assim, mesclando duas formas de expressão que Maria José Barboni de Godoy mergulha no autoconhecimento com foco nas experiências vividas, trazidas no livro ‘Conversas&Versos.com.Maria’, que será autografado nesta noite na Livraria Cultura. Na obra, o leitor capta em cada página os sentimentos da autora, expressos de maneira peculiar.

19h00 – Cinema
Tema Cineclube Cultura - "Arca russa"
Local Livraria Cultura Paço Alfândega (Recife)

Nesta noite, será exibido o filme ‘Arca russa’, obra filmada em um único plano-sequência, sem cortes, que dura 97 minutos e atravessa 35 salas de um dos maiores museus do mundo, o Hermitage, em São Petersburgo, transformando a tela de cinema em um quadro vivo por onde desfilam personagens importantes da história da Rússia; Pedro, o Grande; Catarina, a Grande; Catarina II, Nicolau e Alexandra.

19h30 – Palestra
Tema Hollywood CEO – Napoleão
Palestrante Ricardo Jordão Magalhães
Local Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (São Paulo)

Nesta quarta-feira, com base no filme ‘Napoleão’, Ricardo Jordão Magalhães estará na Livraria Cultura para uma palestra em que falará sobre liderança, tomada de decisão, comunicação e coragem. Por meio da história de Napoleão Bonaparte, o palestrante mostrará o que ele pode ensinar aos gerentes da era moderna sobre como engajar funcionários, mostrando que o papel do líder é influenciar as pessoas a se moverem em uma direção particular para atingir metas, missões e estratégias de empresa.

23 de abril

19h00 Noite de Autógrafos
Livro 154 SONETOS DE WILLIAM SHAKESPEARE
Autor Thereza Cristina Rocque da Motta
Local Livraria Cultura Conjunto Nacional (São Paulo)

A edição comemora os 400 anos do lançamento da primeira edição dos sonetos em 1609, no aniversário do Bardo, dia 23 de abril, também dia de São Jorge, patrono da Inglaterra. A tradução feita de forma livre, visa captar o sentido dos sonetos de Shakespeare, independente de sua métrica e forma, mantendo o conteúdo em primeiro lugar. A tradução completa dos sonetos veio em continuação ao trabalho iniciado em 2006 com a publicação de ‘44 Sonetos Escolhidos’, em que Thereza Christina Motta procurou aproximar a fala de Shakespeare ao linguajar em português moderno, mas guardando a expressão poética.

19h30 – Palestra
Tema Dia mundial do livro - Começar a escrever
Palestrantes Marcelo Carneiro, Nelson de Oliveira e Marcia Tiburi
Local Livraria Cultura Bourbon Shopping Pompéia (São Paulo)

24 de Abril

19h00 – Noite de Autógrafos
Livro É DO DENDÊ!
Autor Valéria Gomes Costa
Local Livraria Cultura Paço Alfândega (Recife)

25 de Abril

14h 30
Tema: Ópera e literatura - "A dama das camélias"
Palestrantes: Cláudio Picollo, Sonia Albano de Lima e Espaço Cultural Via das Artes
Local: Livraria Cultura Shopping Center Iguatemi - Av. Iguatemi, 777 - Lojas 04 e 05 - Piso 1 - Vila Brandina (Campinas)

A Livraria Cultura, em parceria com o Centro Universitário UNISAL e o Espaço Cultural Via das Artes, promove o projeto ‘Ópera e literatura’. No evento, os professores Cláudio Picollo e Sonia Albano de Lima apresentarão a obra ‘A dama das camélias’, e o Espaço Cultural Via das Artes promove um pocket show com o mesmo tema.

27 de abril

19h30 – Palestra
Tema: O centenário de Euclides da Cunha - A epopéia de Canudos
Palestrantes Antonio Hohlfeldt, Antonio Sanseverino,Luis Augusto Fischer, Marcia Ivana de Lima e Silva e Maria Regina Bettiol (mediação)
Local Livraria Cultura Bourbon Shopping Country (Porto Alegre)

Em 15 de agosto de 1909, uma das maiores promessas da literatura brasileira teve a vida interrompida por uma tragédia. Neste dia morria, no Rio de Janeiro, Euclides da Cunha. Escritor, funcionário público, repórter de guerra, poeta, sociólogo, cronista, engenheiro e viajante, escreveu a obra clássica ‘Os sertões’, que lhe rendeu fama internacional. Nesta segunda-feira, a Livraria Cultura recebe Antonio Hohlfeldt, Antonio Sanseverino,Luis Augusto Fischer, Marcia Ivana de Lima e Silva e Maria Regina Bettiol para uma palestra sobre o centenário do autor que, ao embrenhar-se na epopéia de Canudos, no arraial liderado por Antônio Conselheiro, rompe com antigas idéias sobre a região e redescobre um Brasil diferente da representação usual que dele se fazia em sua época. Os palestrantes irão revisitar o tema do livro sob, apresentando não apenas os aspectos tratados pelo autor como a geologia, botânica, zoologia e hidrografia, os costumes e a religiosidade sertaneja da região, mas sublinhando também a teoria literária.

28 de Abril

19h
Livro: NIETZSCHE E A AURORA DE UMA NOVA ÉTICA
Autor: Vânia Dutra de Azeredo
Local: Livraria Cultura Shopping Center Iguatemi - Av. Iguatemi, 777 - Lojas 04 e 05 - Piso 1 - Vila Brandina (Campinas)
Nesta terça-feira, a Livraria Cultura recebe a pesquisadora da PUC-Campinas, professora Dra.Vânia Dutra de Azeredo, para uma sessão de autógrafos do livro ‘Nietzsche e a aurora de uma nova ética’. Na obra, a autora propõe uma visão de conjunto da obra do filósofo alemão, partindo do pressuposto de que o móvel condutor das análises de Nietzsche está determinado pela afirmação incondicional da vida. É nessa afirmação que julga encontrar elementos para sustentar a hipótese da presença de uma ética no conjunto de sua obra afirmativa, que se inicia com “Assim falava Zaratustra”.

Fonte:
Informativo da Livraria Cultura

terça-feira, 21 de abril de 2009

Hilda Hilst (Aniversário de Nascimento)

Fonte:
Fotomontagem = José Feldman

Hilda Hilst (Tô Só)

Guto Maia (Mulher Só)
Vamo brincá de ficá bestando e fazê um cafuné no outro e sonhá que a gente enricô e fomos todos morar nos Alpes Suíços e tamo lá só enchendo a cara e só zoiando? Vamo brincá que o Brasil deu certo e que todo mundo tá mijando a céu aberto, num festival de povão e dotô? Vamo brincá que a peste passô, que o HIV foi bombardeado com beagacês, e que tá todo mundo de novo namorando? Vamo brincá de morrê, porque a gente não morre mais e tamo sentindo saudade até de adoecê? E há escola e comida pra todos e há dentes na boca das gentes e dentes a mais, até nos pentes? E que os humanos não comem mais os animais, e há leões lambendo os pés dos bebês e leoas babás? E que a alma é de uma terceira matéria, uma quântica quimera, e alguém lá no céu descobriu que a gente não vai mais pro beleléu? E que não há mais carros, só asas e barcos, e que a poesia viceja e grassa como grama (como diz o abade), e é porreta ser poeta no Planeta? Vamo brincá

de teta
de azul
de berimbau
de doutora em letras?

E de luar? Que é aquilo de vestir um véu todo irisado e rodar, rodar...
Vamo brincá de pinel? Que é isso de ficá loco e cortá a garganta dos otro?
Vamo brincá de ninho? E de poesia de amor?

nave
ave
moinho
e tudo mais serei
para que seja leve
meu passo
em vosso caminho.*

Vamo brincá de autista? Que é isso de se fechá no mundão de gente e nunca mais ser cronista? Bom-dia, leitor. Tô brincando de ilha.

Fontes:
* Trovas de muito amor para um amado senhor - SP: Anhambi, 1959
http://www.angelfire.com/ri/casadosol/toso.html
Pintura = http://www.overmundo.com.br/

Hilda Hilst (Poesias Avulsas)



CANTARES DOS SEM NOME E DAS PARTIDAS

Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.

Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.
Que este amor só me veja de partida.
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POEMAS AOS HOMENS DO NOSSO TEMPO

Amada vida, minha morte demora.
Dizer que coisa ao homem,
Propor que viagem? Reis, ministros
E todos vós, políticos,
Que palavra além de ouro e treva
Fica em vossos ouvidos?
Além de vossa RAPACIDADE
O que sabeis
Da alma dos homens?
Ouro, conquista, lucro, logro
E os nossos ossos
E o sangue das gentes
E a vida dos homens
Entre os vossos dentes.

***********

Ao teu encontro, Homem do meu tempo,
E à espera de que tu prevaleças
À rosácea de fogo, ao ódio, às guerras,
Te cantarei infinitamente à espera de que um dia te conheças
E convides o poeta e a todos esses amantes da palavra, e os outros,
Alquimistas, a se sentarem contigo à tua mesa.
As coisas serão simples e redondas, justas. Te cantarei
Minha própria rudeza e o difícil de antes,
Aparências, o amor dilacerado dos homens
Meu próprio amor que é o teu
O mistério dos rios, da terra, da semente.
Te cantarei Aquele que me fez poeta e que me prometeu

Compaixão e ternura e paz na Terra
Se ainda encontrasse em ti, o que te deu.
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ÁRIAS PEQUENAS. PARA BANDOLIM

Antes que o mundo acabe, Túlio,
Deita-te e prova
Esse milagre do gosto
Que se fez na minha boca
Enquanto o mundo grita
Belicoso. E ao meu lado
Te fazes árabe, me faço israelita
E nos cobrimos de beijos
E de flores

Antes que o mundo se acabe
Antes que acabe em nós
Nosso desejo.
=========================

TROVAS DE MUITO AMOR PARA UM AMADO SENHOR

Nave
Ave
Moinho
E tudo mais serei
Para que seja leve
Meu passo
Em vosso caminho.
(I)
* * *
Dizeis que tenho vaidades.
E que no vosso entender
Mulheres de pouca idade
Que não se queiram perder

É preciso que não tenham
Tantas e tais veleidades.

Senhor, se a mim me acrescento
Flores e renda, cetins,
Se solto o cabelo ao vento
É bem por vós, não por mim.

Tenho dois olhos contentes
E a boca fresca e rosada.
E a vaidade só consente
Vaidades, se desejada.

E além de vós
Não desejo nada.
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Anatol Rosenfeld (Hilda Hilst: Poeta, Narradora, Dramaturga)



É raro encontrar no Brasil e no mundo escritores, ainda mais neste tempo de especializações, que experimentam cultivar os três gêneros fundamentais de literatura — a poesia lírica, a dramaturgia e a prosa narrativa — alcançando resultados notáveis nos três campos. A este grupo pequeno pertence Hilda Hilst que, de início exclusivamente dedicada à poesia e mais conhecida como poeta — convém evitar o termo poetisa carregado de associações patriarcais — invadiu mais recentemente o terreno da dramaturgia e apresenta agora o primeiro volume de ficção narrativa. Ao lado de necessidades subjetivas, são sem dúvida também problemas de ordem objetiva que a levaram a estender a sua arte, de forma significativa, a domínios literários além daqueles da poesia. É preciso somente mencionar o fato de que uma visão antinômica da realidade se exprime de modo mais radical e aguçado no diálogo da obra dramática, no dia-logos, isto é, no espírito dividido de um gênero que surge depois de rompida a unidade espiritual da origem; unidade todavia que ainda assim subjaz à divisão já que de outro modo o próprio diálogo se tornaria impossível. Não será difícil mostrar que também as pesquisas na esfera da prosa ficcional, tal como praticadas nas obras deste volume, quase todas distantes dos padrões do conto, obedecem a imposições objetivas.

Hilda Hilst nasceu a 21 de abril de 1930 em Jaú, Estado de São Paulo. O pai, Apolônio de Almeida Prado Hilst, fazendeiro e poeta, era filho de Eduardo Hilst, imigrante que veio da Alsácia-Lorena ao Brasil, e de Maria do Carmo Ferraz de Almeida Prado. A mãe, Bedecilda Vaz Cardoso, era filha de portugueses. Hilda estudou durante oito anos como interna no Colégio de Freiras Santa Marcelina, em São Paulo, ambiente evocado na sua dramaturgia (A Possessa, Rato no Muro), na narrativa O Unicórnio, deste volume, e também na poesia:

Os amantes no quarto
Os ratos no muro
A menina
Nos longos corredores do colégio.

O tema multívoco dos ratos, aliás, ressurge numa das peças (Aves da Noite) e também na ficção narrativa, fato digno de nota por revelar a persistência dos motivos que se mantêm através da obra poética, dramática e narrativa de Hilda Hilst.

Depois de terminar o curso clássico na Escola Mackenzie, a poeta estudou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Formada, a jovem bacharel exerceu durante alguns meses a advocacia, profissão que, segundo confessa, a deixou "apavorada". Esse pavor se manifesta ainda na peça Auto da barca de Camiri, na qual se lê, a respeito do amor, que "essa asa na lei / não está prevista".

Hilda Hilst publicou seu primeiro livro de poesias aos vinte anos (Presságio, 1950), seguindo-se em rápida seqüência obras como Balada de Alzira (1951), Balada do Festival (1955) e outras, entre elas Trovas de Muito Amor para um Amado Senhor (1960). Uma seleção da sua obra poética madura encontra-se reunida em Poesia 1959/1967. O seu teatro, constituído de oito peças, permanece lamentavelmente inédito, embora O Verdugo tenha conquistado o Prêmio Anchieta de 1969. Algumas das peças foram encenadas pela Escola de Arte Dramática de São Paulo e por vários grupos amadores, devendo-se esperar que também o teatro profissional, mais cedo ou mais tarde, descubra o valor desta obra cênica, marcante pela qualidade literária e por introduzir uma voz inteiramente nova e original na dramaturgia brasileira moderna, raramente beneficiada pela colaboração criativa dos poetas.

Em 1957 e 1961 Hilda Hilst fez viagens maiores pela Europa, demorando-se na França, Itália e Grécia. Casou-se em 1968 com o escultor Dante Casarini.

Desde cedo seu interesse quase exclusivo se dirigiu para a criação poética. Nesta paixão foi estimulada pelo poeta e jornalista João Ricardo Barros Penteado, ao passo que deve a Alfredo Mesquita, fundador e durante longos anos diretor da Escola de arte Dramática de São Paulo, o incentivo para invadir o campo da literatura teatral. Entre os amigos a quem, por razões afetivas ou intelectuais, se sente ou sentia ligada, salientam-se Sergio Milliet, o escritor gaúcho Caio Fernando Abreu, Lygia Fagundes Telles, Bráulio Pedroso, José L. Mora Fuentes, Joy Kostakis e o poeta português Carlos Maria Araújo a quem dedicou, por ocasião da sua morte precoce, as sete estanças dos Pequenos Funerais Cantantes.

Dorme o amigo no seu corpo de terra.
E dentro dele a crisálida amanhece:
Ouro primeiro, larva, depois asa
Hás de romper a pedra, pastor e companheiro.

O tema da crisálida, do estado intermediário, latente, do vir-a-ser e da "irrupção" e transcendência é fundamental na obra de Hilda Hilst, tanto na poesia e dramaturgia como também na prosa narrativa do presente volume.

Com Gilberto Amado e Carlos Drummond de Andrade manteve, durante certo tempo, correspondência amiga; mas foi sobretudo Jorge de Lima, ao lado de Fernando Pessoa e Cecília Meireles, quem, entre os poetas de língua portuguesa, mais de perto a tocou. A epígrafe que escolheu para os Sete Cantos do Poeta para o Anjo (1962) é de Jorge de Lima:

Nunca fui senão uma coisa híbrida
Metade céu, metade terra...

O tema, reiterado nos Sete Cantos — "desde sempre caminho entre dois mundos" — e em outros poemas:

Tão grande ambivalência
Concedida aos homens
Terá sido dos deuses
Complacência?

—esse tema, intimamente ligado aos acima mencionados, irá ser a verdadeira substância das cinco narrativas de Fluxo-Floema.

A experiência poética de Hilda Hilst é ampla. Ao lado dos poetas lembrados, ama, ou pelo menos amava durante certa fase, a poesia de Höelderlin, Rilke, John Donne, Eliot, René Char, Saint-John Perse. alguns deles afinam, em maior ou menor grau, com as tendências místicas e metafísicas de Hilda Hilst, tendências que se situam, aproximadamente, na linha da tradição platônica e gnóstico-teosófica e que se manifestam também — e particularmente — nas elocubrações físico-geométricas da sua poesia e dramaturgia. Matemática e mística, por paradoxal que possa parecer, são terrenos que facilmente se avizinham, sobretudo na literatura contemporânea. Não surpreende que Hilda Hilst mostre, no campo da dramaturgia, pouco interesse por Bertold Brecht — embora goste de sua Mãe Coragem — e que prefira uma obra mística como O Dibuk, de An-Ski. Isso explica também sua inclinação por Ionesco e, sobretudo, por Beckett que, ao lado de Kafka e Camus, veio a ser, mormente como o narrador de Molloy, uma influência fundamental na sua ficção narrativa.

Experiência decisiva, não só de ordem literária e sim "existencial" (se é possível separar o que é inseparável para quem, como Hilda Hilst, a criação literária é uma atividade absolutamente vital) foi a leitura de Nikos Kazantzakis. Certamente a impressionaram profundamente, talvez em demasia para quem não afina tanto com o autor grego, a busca esotérica e por vezes excêntrica de verdade última, de unidade cósmica, ao lado da exaltação romântica da vitalidade e do vigor primevos. Hilda Hilst confessa que a leitura da Carta a El Greco chegou a "mudar a minha vida". É, com efeito, depois desta experiência — fundamentalmente mística — que se retirou de São Paulo, fugindo das "invasões cotidianas" e da multiplicidade de "contatos agressivos", para viver com o marido na sua fazenda perto de Campinas.

A poeta chegou à dramaturgia porque queria "falar com os outros"; a obra poética "não batia no outro". Era um desejo de comunicação (é difícil evitar o termo que, desde que deu o nome a uma teoria, faz de imediato pensar em canais) e a obra poética não lhe parecia satisfazer esse desejo, pelo menos não na medida almejada. Há, em Hilda Hilst, uma recusa do outro e, ao mesmo tempo, a vontade de se "despejar" nele, de nele encontrar algo de si mesma, já que sem esta identidade "nuclear" nào existiria o diálogo na sua acepção verdadeira. Pelo mesmo motivo chegou à ficção narrativa, depois do desengano — certamente provisório — que lhe causou a atitude cautelosa do teatro profissional.

É apenas por conveniência que os textos do presente volume (Fluxo-Floema — SP: Perspectiva, 1970) foram chamados de "ficção" ou "prosa narrativa". Para Hegel o gênero épico-narrativo é o mais objetivo. A ele se contrapõe, dialeticamente, a antítese subjetiva do gênero lírico, sendo o dramático a síntese, visto reunir, segundo Hegel, a objetividade épica e a subjetividade lírica. Semelhante diferenciação perde o sentido em face dos textos em prosa de Hilda Hilst, já que neles todos os g6eneros se fundem. Eles são épicos no seu fluxo narrativo que às vezes parece ter a objetividade de um protocolo, de um registro de fala jorrando, associativa, e transcrita do gravador; mas são, ao mesmo tempo, nas cinco partes — Fluxo, Osmo, O Unicórnio, Lázaro e Floema — a manifestação subjetiva, expressiva, torturada, amorosa, venenosa, ácida, humorística e licenciosa de um Eu lírico que extravasa avassaladoramente os seus "adentros", clamando com "garganta agônica", do "limbo do lamento", tateando e sangrando, em busca de transcendência e transfiguração. Entretanto, este Eu ao mesmo tempo se desdobra e triplica, assumindo máscaras várias, de modo que o monólogo lírico se transforma em diálogo dramático, em pergunta, resposta, dúvida, afirmação, réplica, comunhào e oposição dos fragmentos de um Eu dividido e tripartido, múltiplo, em conflito consigo mesmo. Contudo, as vozes (que não se manifestam no pretérito da narrativa, mas amalgamando as formas do presente lírico e dramático) submergem na corrente de uma linguagem de espantosa invenção, de barroca criatividade, vozes quase indistintas, visto a autora cuidar de não diferenciá-las pelos símbolos tipográficos corriqueiros. Deste modo se fundem de novo, quase irreconhecíveis, no Eu lírico, portador do rasante turbilhão verbal que, lançado contra pedras e obstáculos, forma redemoinhos de "floema" engasgado, detendo-se, gago, a língua se tornando objeto de si mesma, se autocomentando, se autocriticando e autoflagelando, chegando até à autodestruição, para depois recompor-se e prosseguir, levada pelo impulso da maré verbal.

Os textos, em conjunto, visam a enunciar a totalidade do homem através da sua multiplicidade — e essa visão prismática ou caleidoscópica forçosamente teria que recorrer a todos os gêneros para exprimir-se na sua plenitude. "Porque vê a mim como adãoeva, dúplice sim, tríplice sim, multifário, multífido, multífluo, multisciente, multívio, multíssono..."

Em cada um dos textos há três "personagens", melhor três máscaras que se destacam: Ruiska, Ruisis, Rukah (desdobrado em anão), cada qual se fragmentando e todos UM, Ruiska, que vive entre o poço e a clarabóia, lunar e solar ("Fluxo"); Osmo, Mirtza e Kaysa: Osmo telúrico-lunar, sem que na sua escuridão lhe falte lucidez e aspiração à luz ("Osmo"); os dois irmãos, a lésbica e o pederasta, cada qual com a sua parte feminina e masculina, e o Eu que vira unicórnio, não sem que haja referência meio envergonhada à Metamorfose de Kafka e aos rinocerontes de Ionesco ("O Unicórnio"); Marta, Maria e Lázaro — esse "solarizado", vontade de ressurreição, de transmutação, rompendo o casulo ("Lázaro"). ". . .como explicar (lê-se em "Fluxo") à crisálida que ela é casulo agora e depois alvorada. . . como explicar o vir-a-ser de um ser que só se sabe no Agora, ai como explicar o Depois de um ser que só se sabe no instante?" E ao fim, em "Floema", Koyo, Haydum e Kanah: Koyo na sua luta com Haydum — relação religiosa selvagem como o amor; Haydum, o "outro", que, como diz Hilda Hilst, não sabe o que procura, que busca sem cessar e a este os homens dão, talvez impropriamente, o nome de Deus. Estranho Deus teosófico que faz do homem cobaia, que o trata a porretadas como se fosse cão sarnento, enquanto ao homem cabe salvar este Deus, que, como consta de uma das peças, é o lobo do homem como o homem é o lobo de Deus.

Na linguagem nobre e austera de sua poesia Hilda Hilst não poderia dizer toda a gama do ente humano, tal como o concebe, nem seria capaz de, no palco, "despejar-se" com a fúria e a glória do verbo, com a "merdafestança" da linguagem, sobretudo também com a esplêndida liberdade, com a inocência despudorada com que invade o poço e as vísceras do homem, purificando-os com "dedos lunares" para elevar o escatológico ao escatológico, visto nesta obra mesmo as trevas e o "porco" — "sou porco com vontade de ter asas", diz Ruiska — se carregarem de sentido religioso. Nos poemas se lê:

Ser terra
E cantar livremente
O que é finitude
E o que perdura.
Unir numa só fonte
O que soube ser vale
Sendo altura.

Ou então:

Sou tantas
Tantos vivem em mim e pródiga descerro-me
Pródiga me faço larva e asa.

Mas só agora consegue cantar livremente. Larvas e asas, porcos, aves, serpentes e unicórnios — tudo se funde na multiplicidade do homem: semelhante visão forçosamente resulta num universo em que ressalta o grotesco-fantástico, o grotesco-burlesco, o grotesco-terrorífico e o grotesco-obsceno, unidos nesta obra única na literatura brasileira.

Rouah, o demônio, o maldito de "Lázaro", é irmão gêmeo de Jesus e, sendo nosso irmão, merece, também ele, respeito. O anão de "Fluxo", que vem do "intestino, da cloaca do universo, do cone sombrio da lua", diz a Ruiska, o porco com "vontade enorme de limpar o mundo": "Mas se eu ainda nào sei das minhas vísceras, se ainda não sei dos mistérios do meu próprio tubo, como é que vou falar dos ares de lá? . . . é justo falar do de cima se o de baixo nem sabe onde colocar os pés?"

Os textos, no seu todo, com a audácia da sua linguagem em que o sagrado se reveste de atributos diabólicos e o monstruoso, de cores celestes, são uma celebração ritual levada ao desvario e ao paroxismo; ritual destinado a convocar a plenitude múltipla do homem em toda a sua imanência para, ao mesmo tempo, transcendê-la e fazer vislumbrar "os ares de lá". No próprio elemento verbal, levando a língua, no fluxo e refluxo da maré e da ressaca, tanto a tropeçar, com passos ébrios e pesados, como a dançar, com "graça nos pés" e "leveza nos andares", Hilda Hilst encarna e ao mesmo tempo supera "o limite da carne" que "pesa sobre nós". "O pensamento discursivo e lento" (de que se queixa num poema) naufraga na corrente vertiginosa de uma linguagem conotativa de cujo ventre fecundo nasce, lembrando quadros de Bosch e Brueghel, o mundo casto e impudico, real e supra-real, profundamente natural e terreno e, ao mesmo tempo, alucinatório e fantasmagórico, das narrativas de Hilda Hilst.

Entre a verdade e os infernos
Dez passos de claridade
Dez passos de escuridão
.
São Paulo, 1970.

Fonte:
http://www.angelfire.com/ri/casadosol/criticaar.html