sexta-feira, 5 de junho de 2009

Artur de Azevedo (A "Não-me-toques!")

I

Passavam-se os anos, e Antonieta ia ficando para tia, - não que lhe faltassem candidatos, mas - infeliz moça! - naquela capital de província não havia um homem, um só, que ela considerasse digno de ser seu marido.

Ao Comendador Costa começavam a inquietar seriamente as exigências da filha, que repelira, já, com desdenhosos muxoxos, uma boa dúzia de pretendentes cobiçados pelas principais donzelas da cidade. Nenhuma destas se casou com rapaz que não fosse primeiramente enjeitado pela altiva Antonieta.

- Que diabo! dizia o comendador à sua mulher, D. Guilhermina, - estou vendo que será preciso encomendar-lhe um príncipe!

- Ou então, acrescentava D. Guilhermina, esperar que algum estrangeiro ilustre, de passagem nesta cidade..

- Está você bem aviada! Em quarenta anos que aqui estou, só dois estrangeiros ilustres cá têm vindo: o Agassiz e o Herman.

Entretanto, eram os pais os culpados daquele orgulho indomável. Suficientemente ricos tinham dado à filha uma educação de fidalga, habituando-a desde pequenina a ver imediatamente satisfeitos os seus mais custosos e extravagantes caprichos.

Bonita, rica, elegante, vestindo-se pelo último figurino, falando correntemente o francês e o inglês, tocando muito bem o piano, cantando que nem uma prima-dona, tinha Antonieta razões sobejas para se julgar um avis rara na sociedade em que vivia, e não encontrar em nenhuma classe homem que merecesse a honra insigne de acompanhá-la ao altar.

Uma grande viagem à Europa, empreendida pelo comendador em companhia da esposa e da filha, completara a obra. Ter estado em Paris constituía, naquela boa terra, um título de superioridade.

Ao cabo de algum tempo, ninguém mais se atrevia a erguer os olhos para a filha do Comendador Costa, contra a qual se estabeleceu pouco a pouco certa corrente de animadversão.

Começaram todos a notar-lhe defeitos parecidos com os das uvas de La Fontaine, e, como a qualquer indivíduo, macho ou fêmea, que estivesse em tal ou qual evidência, era difícil escapar ali a uma alcunha, em breve Antonieta se tornou conhecida pela "Não-me-toques".

II

Teria sido realmente amada? Não, mas apenas desejada, - tanto assim que todos os seus namorados se esqueceram dela...

Todos, menos o mais discreto, o mais humilde, o único talvez, que jamais se atrevera a revelar os seus sentimentos.

Chamava-se José Fernandes, e era o primeiro empregado da casa do Comendador Costa, onde entrara aos dez anos de idade, no mesmo dia em que chegara de Portugal.

Por esse tempo veio ao mundo Antonieta. Ele vira-a nascer, crescer, instruir-se, fazer-se altiva e bela. Quantas vezes a trouxera ao colo, quantas vezes a acalentara nos braços ou a embalara no berço! E, alguns anos depois, era ainda ele quem todas as manhãs a levava e todas as tardes ia buscá-la no colégio.

Quando Antonieta chegou aos quinze anos e ele aos vinte e cinco, "Seu José" (era assim que lhe chamavam) notou que a sua afeição por aquela menina se transformava, tomando um caráter estranho e indefinível; mas calou-se, e começou de então por diante a viver do seu sonho e do seu tormento Mais tarde, todas as vezes que aparecia um novo pretendente à mão da moça, ele assustava-se, tremia, tinha acessos de ciúmes, que lhe causavam febre, mas o pretendente era, como todos os outros, repelido, e ele exultava na solidão e no silêncio do seu platonismo.

Materialmente, Seu José sacrificara-se pelo seu amor. Era ele, como se costuma dizer (não sei com que propriedade) o "tombo" da casa comercial do Comendador Costa; entretanto, depois de tantos anos de dedicação e amizade, a sua situação era ainda a de um simples empregado; o patrão, ingrato e egoísta, pagava-lhe em consideração e elogios o que lhe devia em fortuna. Mais de uma vez apareceram a Seu José ocasiões de trocar aquele emprego por uma situação mais vantajosa; ele, porém, não tinha ânimo de deixar a casa onde ao seu lado Antonieta nascera e crescera.

III

Um dia, tudo mudou de repente.

Sem dar ouvidos a Seu José, que lhe aconselhava o contrário, o Comendador Costa empenhou a sua casa numa grande especulação, cujos efeitos foram desastrosos, e, para não fechar a porta, viu-se obrigado a fazer uma concordata com os credores. Foi este o primeiro golpe atirado pelo destino contra a altivez da "Não-me-toques".

A casa ia de novo se levantando, e já estava quase livre dos seus compromissos de honra, quando o Comendador Costa, adoecendo gravemente, faleceu, deixando a família numa situação embaraçosa.

Um verdadeiro deus ex machina apareceu então na figura de Seu José que, reunindo as suadas economias que ajuntara durante trinta anos, e associando-se a D. Guilhermina, fundou a firma Viúva Costa & Fernandes, e salvou de uma ruína iminente a casa do seu finado patrão.

IV

O estabelecimento prosperava a olhos vistos e era apontado como uma prova eloqüente de quanto podem a inteligência, a boa fé e a força de vontade, quando o falecimento da viúva D. Guilhermina veio colocar a filha numa situação difícil...

Sozinha, sem pai nem mãe, nem amigos, aos trinta e dois anos de idade, sempre bela e arrogante em que pesasse a todos os seus dissabores, aonde iria a "Não-me-toques"?

Antonieta foi a primeira a pensar que o seu casamento com José Fernandes era um ato que as circunstâncias impunham...

Antes da sua orfandade, jamais semelhante coisa lhe passaria pela cabeça. Não que Seu José lhe repugnasse: bem sabia quanto esse homem era digno e honrado; estimava-o, porém, como a um tio, ou a um irmão mais velho, - e ela, que recusara a mão de tantos doutores, não podia afazer-se a idéia de se casar com ele.

Entretanto, esse casamento era necessário, era fatal. Demais, a "Não-me-toques" lembrava-se de que o pai, irritado contra os seus contínuos e impertinentes muxoxos, um dia lhe dissera:

- Nã0 sei o que supões que tu és, ou o que nós somos! Culpa tive eu em dar-te a educação que te dei! Sabes qual é o marido que te convinha? Seu José! Seria um continuador da minha casa e da minha raça!

Tratava-se por conseguinte, de homologar uma sentença paterna. A continuação da casa já estava confiada a Seu José: era preciso confiar-lhe também a continuação da raça.

Assim, pois, uma noite ela chamou-o e, com muita gravidade, pesando as palavras, mas friamente, como se se tratasse de uma simples operação comercial, lhe deu a entender que desejava ser sua mulher, e ele, que secretamente alimentava a esperança desse desenlace, confessou-lhe trêmulo, e com os olhos inundados de pranto, que esse tinha sido o sonho de toda a sua vida.

V

Casaram-se.

Nunca um marido amou tão apaixonadamente a sua esposa. Seu José levou à Antonieta um coração virgem de outra mulher que não fosse ela; fora das suas obrigações materiais, amá-la, adorá-la, idolatrá-la, tinha sempre sido e continuava a ser a única preocupação do seu espírito...

Entretanto, não era feliz; sentia que ela o não amava, que se entregara a ele apenas para satisfazer a uma conveniência doméstica: era apática; sem querer, fazia-lhe sentir a cada instante a superioridade terrível das suas prendas. Ninguém melhor que ele, tendo sido, aliás, até então, o único homem que lhe tocara, se convenceu de quanto era bem aplicada aquela ridícula alcunha de "Não-me-toques".

O pobre diabo tinha agora saudades do tempo em que a amava em silêncio, sem que ninguém o soubesse, sem que ela própria o suspeitasse.

VI

Antonieta aborrecia-se mortalmente naquele casarão onde nascera, e onde ninguém a visitava, porque o seu caráter a incompatibilizara com toda a gente.

O marido, avisado e solícito, bem o percebeu. Admitiu um bom sócio na sua casa comercial, que prosperava sempre, e levou Antonieta à Europa, atordoando-a com o bulício das primeiras capitais do Velho Mundo.

De volta, ao cabo de um ano, construiu uma bela casa no bairro mais elegante da cidade, encheu-a de mobílias e adornos trazidos de Paris, e inaugurou-a com um baile para o qual convidou as famílias mais distintas.

Começou então uma nova existência para Antonieta, que, não obstante aproximar-se da medonha casa dos quarenta, era sempre formosa, com o seu porte de rainha e o seu colo opulento, de uma brandura de cisne.

As suas salas, profundamente iluminadas, abriam-se quase todas as noites para grandes e pequenas recepções: eram festas sobre festas.

Agora já lhe não chamavam a "Não-me-toques"; ela tornara-se acessível, amável, insinuante, com um sorriso sempre novo e espontâneo para cada visita.

Fizeram-lhe a corte, e ela, outrora impassível diante dos galanteios, escutava-os agora com prazer.

Um galã, mais atrevido que os outros, aproveitou o momento psicológico e conseguiu uma entrevista - Esse primeiro amante foi prontamente substituído. Seguiu-se outro, mais outro, seguiram-se muitos...

VII

E quando Seu José, desesperado, fez saltar os miolos com uma bala, deixou esta frase escrita num pedaço de papel:

"Enquanto foi solteira, achava minha mulher que nenhum homem era digno de ser seu marido; depois de casada (por conveniência) achou que todos eles eram dignos de ser seus amantes. Mato-me."

(Correio da Manhã, 12 de outubro de 1902)

Fontes:
Domínio Público

Humberto de Campos (O Filósofo)

O Pensador (Auguste Rodin)
Educado no Colégio Caraça, o coronel Venâncio Figueira, fazendeiro em Uberaba, havia se contaminado, pouco a pouco, de filosofia e de latim, de modo a preocupar-se, mais do que o necessário, com os graves problemas da vida. Manuseador quotidiano de certos autores profanos, ele se punha, às vezes, a pensar, no alpendre da sua casa de fazenda:

- Sim, senhor! Esses filósofos têm razão! Este mundo é tão desigual, tão cheio de injustiças, de irregularidades clamorosas, que qualquer mortal, encarregado de fazê-lo, o teria feito melhor!

E acentuava, melancólico:

- Este mundo está muito mal feito!...

À noite, porém, reunida a família na sala de jantar, o velho fazendeiro arreganhava os óculos no nariz, tomava a "Bíblia", chegava para mais perto o lampião de querosene, e punha-se a ler, pausado, o "Livro de Jó". E começava, de novo, a meditar, diante destas palavras do capitulo 38:

"4. Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência.

"25 - Quem abriu para a inundação um leito, e um caminho para os relâmpagos e trovões?

"41 - Quem prepara aos corvos o seu alimento, quando os seus filhotes implumes gritam a Deus, e andam vagueando por não terem de comer?"

Certo dia, dominado pelas idéias reacionárias bebidas em autores modernos, passeava o coronel pelo pátio da fazenda, quando, ao ver as andorinhas que voejavam por cima do gado, voltou novamente a raciocinar:

- É isso mesmo, não há duvida! O mundo é muito mal arranjado. Aqui está, por exemplo; este boi. Porque, tendo ele chifres, patas, orelhas, e sendo tão forte, há de viver sempre na terra, a arrastar-se pelo solo, quando aquela andorinha, que não tem nada disso, se locomove, rápida, ligeira, dominando os ares?

Nesse momento, porém, uma andorinha que lhe passava por cima, deixou escapar alguma cousa que lhe fazia sobrecarga, e que foi cair, certeira, na cabeça descoberta do coronel. Este levou a mão instintivamente à calva, e, olhando os dedos brancos daquela indignidade, caiu de joelhos, clamando, arrependido:

- Perdoai-me, Senhor, perdoai-me! O mundo está muito bem organizado! O que nele há, o que nele vive, o que nele existe, foi feito com perfeição, com acerto, com sabedoria!

E levantando-se, limpando a mão:

- Imagine-se que fosse um boi....

Fonte:
Domínio Público

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Centro Paranaense Feminino de Cultura - Agenda Junho/09



“SEGUNDA NO CENTRO”
Cultura - Informação - Lazer
Coordenação: Céres De Ferrante

08 de Junho
Lançamento do Livro: A Pedra do Caminho - Histórias de viver e reciclar
Escritora: Maria Thereza Brito de Lacerda
Apresentação: Profª Fernanda Shroreder -
Um novo modelo consciencial

15 de Junho – 16hs
BLOOMSDAY: “A influência de James Joyce”
Palestra dialógica com os mestres em letras: Ivan Justen Santana e William Crosué Teca.

29 de Junho
Reverenciando o escritor Paranaense
Poeta Silveira Neto
Apresentação: Profª Nilcéa Romanowski
Música : Piano Flavius Meschke
Tenor: Alberto Morgado

Sempre às 15:00 horas
Local: Auditório Leonor Castellano
Rua Visconde de Rio Branco, n° 1717, centro.
Curitiba/Paraná - Fone: 41. 3232 8123

Fonte:
Andrea Motta

Programa Nacional de Troca de Livros

A escalada dos números da Estante não é novidade. Todos crescem exponencialmente sem parar, desde o lançamento, há 3 anos. Livros, sebos, livreiros virtuais, leitores, leitores vendedores, vendas, acessos, buscas.

Também não é novidade que além de números, chegam também histórias muito interessantes. Pessoas que encontraram livros de familiares escritos há décadas, livros esgotados imprescindíveis às suas teses de doutorado, ou mesmo livros seminovos ainda em edição por uma fração do preço das livrarias convencionais. Chegam histórias também de sebos recém-inaugurados, fundados por livreiros virtuais que começaram suas atividades na Estante e viram seus negócios darem tão certo que se motivaram a abrirem uma loja física.

"Então, Estante, tem alguma novidade?" Sem dúvida, temos sim! Vamos a ela então! Esta semana estamos lançando um serviço inédito no país: o Programa Nacional de Troca de Livros.

Você leva nos sebos os seus livros seminovos e ganha créditos para adquirir seu próximo livro. E a avaliação é justa, nada de 1 real por livro! Na troca por livros do acervo do sebo, seu livro vale 25% do preço atual nas livrarias convencionais.

O programa marca uma inovação no mercado editorial - interligando sebos e leitores em um fluxo virtuoso de troca de livros seminovos. A aquisição do próximo livro se torna muito mais acessível, uma vez que o livro que se acabou de ler pode ser usado como forma de pagamento.

Mas não é só. A inovação vai além disso! O programa marca também uma inovação no comércio brasileiro:

Em alguns sebos você pode também fazer a troca por um vale-compras virtual. Seus créditos são remetidos pelo sebo a uma carteira virtual, administrada pelo Pagamento Digital e vinculada ao seu email. Você pode então usá-los para adquirir livros aqui na Estante, nos mais de 400 sebos Brasil afora que aceitam o Pagamento Digital! Nessa modalidade de troca seu livro vale 20% do preço das livrarias.

A relação dos já mais de 100 sebos participantes, bem como o regulamento completo do programa, você confere neste link: http://www.estantevirtual.com.br/programadetrocas

Fonte:
André Garcia da Estante Virtual. EDIÇÃO Nº 24 - 03 DE JUNHO DE 2009 - PROGRAMA NACIONAL DE TROCA DE LIVROS

Membro da Academia Sorocabana de Letras toma posse como Sócio Efetivo do IHGGS



Sócio Correspondente da Academia Sorocabana de Letras em Tatuí, o escritor Renato Ferreira de Camargo, toma posse domingo, dia 7, como sócio efetivo do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico. Em solenidade que se desenvolverá sob a direção do presidente daquela instituição cultural, prof. Adilson Cezar, às 10 horas, na Casa de Aluísio de Almeida, à Rua Dr. Ruy Barbosa, 84, no Além Ponte, o novo associado do IHGGS fará o elogio de seu Patrono naquela casa, Antonio Moreira da Silva.

Autor de extensa e importante produção historiográfica e memorialística, inclusive a obra didática Tatuí – Capital da Música, publicada em 2006 pela editora Nova América, Renato Ferreira de Camargo é bacharel em Comunicação Social (Relações Públicas e Jornalismo) e Direito e sócio fundador do IHGG de Itapetininga.

Seu patrono no IHGGS, o jornalista Antonio Moreira, como o próprio escritor informa, no verbete que a ele dedica em seu livro Ilustres Cidadãos (Tatuí, 2006), nasceu em Sorocaba, em 1851. Em 1867, com apenas 16 anos, fundou em nossa cidade o Clube Palestra, em reunião do qual fez, naquele mesmo ano, a leitura de um Manifesto Republicano e Abolicionista, por ela redigido.

Participou, ao lado de Barata Ribeiro, Ubaldino do Amaral, Costa Abreu Ésquilo do Amaral e Paula Gomes do Recreio Instrutivo de Sorocaba, voltado para o debate de teses sobre História, Filosofia e Política.

Depois de colaborar nos jornais O Araçoyaba (1866), O Sorocabano (1870) e Ypanema (1872), fixou residência em Itapetininga, fundando ali O Município (1873/76), primeiro jornal da vizinha cidade. Em 1890, foi eleito deputado à Constituinte Republicana.

Pobre e esquecido faleceu em Curitiba em 1920.

Fonte:
artigo de Geraldo Bonadio para o Acontece em Sorocaba, de Douglas Lara

Festival Artimanhas Poéticas 2009 nos dias 12 e 13 de Junho


Real Gabinete Português de Leitura, do Rio de Janeiro será palco de palestras, debates e lançamentos

O festival literário Artimanhas Poéticas será realizado nos dias 12 e 13 de junho, no Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro (RJ), com curadoria do poeta Claudio Daniel.

O evento contará com a participação de críticos literários, como Luiz Costa Lima, poetas jovens e consagrados, como Paulo Henriques Britto, Virna Teixeira, Sérgio Cohn, Richard Price e o português Luís Serguilha, entre outros, e editores de revistas.

O festival incluirá palestras, debates, recitais, lançamentos, performances musicais e de poesia sonora.

Programação

Dia 12 de junho, sexta-feira:

14h
Palestra: A crítica literária reflete a criação poética contemporânea?
Com Luiz Costa Lima

16h
Debate: As revistas definem o momento literário?
Com Claudio Daniel, André Vallias, Márcio-André, Sérgio Cohn

Lançamento: revistas Confraria, Errática e Zunái.

18h
Recital:

Camila Vardarac, Virna Teixeira, Leonardo Gandolfi, Lígia Dabul, Luiz Roberto Guedes, Luís Serguilha, Rodrigo de Souza Leão, Izabela Leal

Dia 13 de junho, sábado:

14h
Debate: Como está a poesia brasileira hoje?
Com Claudio Daniel e Paulo Henriques Britto

15h
Lançamentos de livros de poesia (títulos do selo Arqueria, da Lumme, Azougue e de outras editoras).

16h
Recital:

Claudio Daniel, Diana de Hollanda, Thiago Ponce de Moraes, Gabriela Marcondes, Ismar Tirelli, Pablo Araújo, Victor Paes, Ronaldo Ferrito

17h
Show de Tavinho Paes e Arnaldo Brandão.

17h30
Performance poético-polifônica para voz, violino e processamento eletrônico,

com Márcio-André.

Mostra de videopoesia de Gabriela Marcondes.

19h
Palestra de Richard Price, com participação de Virna Teixeira.
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Datas: 12 e 13 de Junho


Local: Real Gabinete Português de Leitura, rua Luís de Camões, 30 - Centro - Rio de Janeiro - RJ.

Apoio: Laboratório de Criação Poética e Real Gabinete Português de Leitura.

Mais informações: http://artimamhas.blogspot.com/


Fonte:
Colaboração de Regina Santos

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Trova XV

Branquinho da Fonseca (Caravelas da Poesia)


NAUFRÁGIO

A rua cheia de luar
Lembrava uma noiva morta
Deitada no chão, à porta
De quem a não soube amar.

Já não passava ninguém...
Era um mundo abandonado...
E à janela, eu, tão Além,
Subia ressuscitado...

Vi-me o corpo morto, em cruz,
Debruçado lá no Fundo...
E a alma como uma luz
Dispersa em volta do mundo...

Mas, à tona do mar morto,
Um resto de caravela
Subia... E chegava ao porto
Com a aragem da janela.

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ARQUIPÉLAGO DAS SEREIAS

Ó nau Catrineta
Em que andei no mar
Por caminhos de ir,
Nunca de voltar!
Veio a tempestade
Perder-se do mundo,
Fez-se o céu infindo,
Fez-se o mar sem fundo!
Ai como era grande
O mundo e a vida
Se a nau, tendo estrela,
Vogava perdida!
E que lindas eram
Lá em Portugal
Aquelas meninas
No seu laranjal!
E o cavalo branco
Também lá o via
Que tão belo e alado
Nenhum outro havia!
Mundo que não era,
Terras nunca vistas!
Tive eu de perder-me
Pra que tu existas.
Ó nau Catrineta
Perdida no mar,
Não te percas ainda,
Vem-me cá buscar!
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CASTANHEIROS, IRMÃOS...

Ó castanheiros de folhas de ouro,
Carregados de ouriços que são ninhos
Onde as castanhas dormem como noivos!

Troncos abertos,

Casas abertas,
Ao vosso abrigo
Dormem os pobres,
Pegam no sono,
Passam as noites
Quando cai neve!

Peitos vazios,
Escancarados,
Sem nada dentro,
Nem coração!
Dais lume, calor
E dais sustento para a mesa,
E dais o mais que eu não sei!...

Ó castanheiros de folhas de ouro,
Apenas sou vosso irmão
Em que a terra vos criou
E criou-me a mim também;
Em que vós ergueis os braços
Suplicantes para os céus
E eu também levanto os meus...

Ah! Castanheiros, mas eu
Grito e vós ficais calados!
Seremos, por isto só,
Irmãos? Seremos? Não sei:
Vós tendes roupas de rei,
Eu tenho roupas de Job;
Vós só gritais quando o vento
Vos abre a boca e fustiga:
Então ergueis um clamor...
— Não calo nunca no peito
A dor do meu sofrimento
E nunca chego a dize-la,
Nem há ninguém que me diga.

Ó castanheiros de folha de ouro,
Não,
Eu não sou vosso irmão!...
–––––––––––––––––––––––––––

Branquinho da Fonseca (1905 – 1974)

Antes seja afastado do que já alcancei que o seja daquilo para que vou. A posse é um declínio.
Antes um pássaro a voar que dois na mão. Dois pássaros na mão são o que já não falta. Um pássaro a voar: é ir com os olhos a voar com ele; ir sobre os montes, sobre os rios, sobre os mares; dar a volta ao mundo e continuar; é ter um motivo de viver — é não ter chegado ainda.
(As Viagens – Branquinho da Fonseca)

Filho de D. Clotilde Branquinho e do escritor Tomás da Fonseca, Antônio José Branquinho da Fonseca nasceu em Mortágua, Portugal, no dia 4 de maio de 1905.

Depois de cursar os primeiros anos do Liceu em Lisboa, parte para Coimbra, onde termina os seus estudos secundários. Em seguida matricula-se na Faculdade de Direito. Ainda como estudante participa da fundação da revista "Triplico" (1924 - 1925), que teve 9 números publicados.

Em 1926 passa a exercer a função de Conservador no Museu Biblioteca Conde de Castro Guimarães - Cascais. Ainda nesse ano faz sua estréia literária com a obra "Poemas". No ano seguinte, mais precisamente no dia 10 de março, quando ainda era estudante de Direito, funda, juntamente com Adolfo Casais Monteiro, José Régio e João Gaspar Simões, a revista Presença, que é considerada o marco inicial da segunda fase do modernismo português.

A revista Presença foi dirigida por Branquinho da Fonseca até o ano 1930. Quando a revista estava no seu 27º número, Branquinho da Fonseca, por considerar haver imposição de limites à liberdade criativa, abandona a direção, que fica a cargo de Adolfo Casais Monteiro. Ainda Nesse ano Branquinho da Fonseca Licencia-se em Direito e, junto com Miguel Torga, funda a revista Sinal, que teve apenas um número publicado.

Falece em Lisboa no dia 16 de maio de 1974.

A enciclopédia Barsa define Branquinho da Fonseca como "um dos fundadores e principais colaboradores da revista Presença, porta-voz do modernismo no país".

Os primeiros textos de Branquinho da Fonseca foram assinados com o pseudônimo António Madeira. Abaixo temos algumas de suas obras mais importantes:

Poesia
Poemas - 1926;
Mar Coalhado - 1932;
Teatro
Posição de Guerra - 1928;
Teatro I - 1939.

Contos
Zonas - 1931;
Caminhos Magnéticos - 1938;
Bandeira Preta - 1956.

Romances
Porta de Minerva - 1947;
Mar Santo - 1952.

Fonte:
Mundo Cultural

Apollon Mayakov (1821 – 1897)



Apollon Nikolayevich Maykov (Moscou, 4 de junho de 1821, – São Petersburgo, 20 de março de 1897) foi um poeta russo.

Ele nasceu no seio de uma família artística, cujo pai, Nikolay Apollonovich Maykov, era um pintor e um acadêmico. Em 1834 a família se mudou para Petersburgo. Em 1837-1841 Maykov estudou direito na Universidade de São Petersburgo. No princípio ele foi atraído pela pintura, mas ele dedicou sua vida a poesia. As primeiras publicações dele apareceram em 1840 no Almanaque de Odessa.

Depois que Nicholas I deu para Maykov recursos para o primeiro livro em 1842, ele viajou ao estrangeiro, para a Itália, França, Saxônia, e Áustria. Maykov voltou a Petersburg em 1844 e começou a trabalhar como assistente de bibliotecário no Museu de Rumyantsev. Ele freqüentemente se encontrou com outros literatos famosos, como Belinsky, Nekrasov, e Turgueniev.

A poesia lírica dele freqüentemente invoca imagens de aldeias russas, natureza, e a história russa. O amor dele pela Grécia antiga e Roma que ele estudou muito em sua vida também é refletido nos trabalhos dele. Ele passou quatro anos traduzindo a epopéia O Conto da Campanha de Igor em poesia russa moderna (terminou em 1870). Ele traduziu o folclore de Belarus, Grécia, Serbia, Espanha, e outros países, como também os trabalhos de Heine, Adam Mickiewicz, Goethe, etc. Muitos dos poemas de Maykov foram utilizados na música por Rimsky-Korsakov e Tchaikovsky.

D. S. Mirsky chamava Maykov " o poeta mais representativo da época" mas somou:

Máykov era ligeiramente " poético " e ligeiramente realístico; ligeiramente tendencioso, e nunca emocional. Imagens sempre são o tema principal nos seus poemas. Alguns deles (sempre sujeito à restrição que ele nunca teve estilo e nenhuma dicção) são descobertas felizes, como os poemas curtos e muito famosos sobre fonte e chuva. Mas os poemas mais realísticos dele são deteriorados através de sentimentalidade, e os poemas mais poéticos "desesperadamente inadequados. Poucas das suas tentativas mais ambiciosas tiveram êxito.

Ele também escreveu alguma prosa que não ganhou nenhum reconhecimento significante. Depois de 1880, Maykov não escreveu quase nada novo, passando o tempo dele corrigindo as criações anteriores em preparação para a publicação de sua coletânea de trabalhos. Nos últimos anos da sua vida, ele era o presidente do comitê para censura onde ele serviu desde 1852.

Fonte:
D.S. Mirsky, A History of Russian Literature: From Its Beginnings to 1900, Northwestern University Press: 1999,
Tradução do texto: José Feldman