domingo, 17 de maio de 2009

Alfonso Reyes (17 Maio 1889 – Agosto 1959)


Alfonso Reyes nasceu em Monterrey (Estado de Nuevo Leon, México), em 17 de maio de 1889, era o filho do general Bernardo Reyes e Sra. Aurelia Ochoa Reyes. Fez seus primeiros estudos em escolas particulares, em Monterrey, no Liceu Francês de México, o Colégio Civil de Nuevo León, na Escola Nacional Preparatória e na Faculdade de Direito do México, onde obteve o título de advogado a 16 de julho de 1913.

Em 1909 ele fundou, com outros escritores mexicanos o "Ateneo de la Juventud". Lá, junto com Pedro Henríquez Ureña, Antonio Caso e José Vasconcelos se organizaram para ler os clássicos gregos. Em 1910 ele publicou seu primeiro livro "Questões Estéticas." Em Agosto de 1912, foi nomeado secretário da Escola Nacional de Estudos Avançados, que professavam a cadeira de "História da Língua Espanhola e Literatura", de abril a junho de 1913. Dia 17 deste mês foi nomeado segundo secretário da Missão Diplomática da França no México, que ocupou até outubro de 1914. Exilado em Espanha (1914-1924), após a morte do seu pai, general Bernardo Reyes, estudou na escola Menéndez Pidal e depois a estética de Benedeto Croce. Mais tarde publicou vários ensaios sobre a poesia do ciclo de ouro espanhol, incluindo: "Barroco" e "Góngora", além de ter sido um dos primeiros escritores a estudar Irmã Juana Inês de la Cruz. Desta época são "Cartones Madrid" (1917), o seu curto, mas magistral livro, "Visão de Anahuac" (1917), "O suicídio" (1917) e "O Caçador" (1921).

Em Espanha, foi dedicado à literatura e jornalismo, trabalhou no Centro de Estudos Históricos de Madrid sob a direção de Don Ramón Menéndez Pidal. Em 1919 ele foi nomeado secretário da comissão mexicana Francisco del Paso y Troncoso, também fez este ano a prosificação do poema Meu Cid. Em junho de 1920, foi nomeado segundo secretário da Missão Diplomática da Espanha, no México. Desde então e até fevereiro de 1939, quando ele retornou definitivamente para o México, ele ocupou vários cargos no serviço diplomático, Encarregado de Negócios em Espanha (1922-1924), Ministro da França (1924-1927), Embaixador da Argentina (1927-1930 e 1936-1937) e Brasil (1930-1936). Em Abril de 1939 foi o presidente da Casa de Espanha, no México, que mais tarde tornou-se no Colegio de México, e catedrático fundador do Colégio Nacional. Em 1945 ele ganhou o Prêmio Nacional de Literatura, no México. De 1924 para 1939 se tornou uma figura-chave da Espanha continental, como atesta o próprio Borges.

Sua obra clássica com o mundo não se limita a erudição, é mais uma reinvenção de metáforas poéticas, e mesmo políticas que definem novas perspectivas para articular a realidade do México, como o seu "Discurso de Virgílio" (1931). Em "Ifigenia cruel" (1924), poema dramático, no estilo do cinema clássico, o mito contado por Eurípedes se reinventa e se transforma em uma reflexão sobre a identidade e o passado, uma alegoria de sua própria vida pessoal e também a do México diante de sua própria revolução. O poeta faleceu em agosto de 1959.

(tradução do espanhol por José Feldman)
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Reyes no Brasil

As décadas de 20 e 30 foram conturbadas em toda a América Latina. Os países da região passaram por conflituosos processos de afirmação de suas respectivas identidades nacionais, com farta produção cultural e delicados momentos políticos. O escritor, jornalista e diplomata mexicano Alfonso Reyes é uma personalidade emblemática desse período latino-americano, que viveu ativamente os dilemas de uma época tanto em seu país de origem quanto no Brasil e na Argentina, onde se estabeleceu em função da atividade diplomática.

Reyes foi uma testemunha privilegiada de um momento cultural singular nos países latinos (americanos e europeus). Ele é uma personalidade de suma importância para a integração cultural entre os países da América e as relações políticas entre as diversas nações

A estada de Reyes no Brasil fez parte de um processo até então inédito de aproximação entre Brasil e México, num período em que fatores como a distância geográfica, as dificuldades econômicas e o próprio isolamento político-cultural dificultavam o intercâmbio entre os países da região. Nesses anos, a ação diplomática constituía muitas vezes a única possibilidade de aproximação.

Reyes manteve também uma relação próxima com os pintores Emiliano Di Cavalcanti e Cícero Dias, e com os escritores Graça Aranha, Aníbal Machado, Murilo Mendes, Ribeiro Couto e Alceu Amoroso Lima. A proximidade com a elite cultural do país rendeu ao escritor a condecoração da “Grande Cruz do Cruzeiro do Sul”, honraria máxima concedida pelo governo brasileiro a um estrangeiro.

Em 1927, quando passou pelo Rio de Janeiro rumo a Buenos Aires, Alfonso Reyes deixou-se seduzir por sua exuberante paisagem. Numa carta ao jovem poeta Carlos Pellicer, que havia estado no País como membro da comitiva de José Vasconcelos, cinco anos antes, Reyes se refere aos seus versos, nos quais as marcas do Brasil são memoráveis.

No Rio de Janeiro Reyes não pôde encontrar — nem apreciar — o peso simbólico de uma arquitetura rica e diversificada, como a da Cidade do México, que refletisse o passar do tempo exatamente como o domínio da Geografia pela História e a preservação da História como prova de tal domínio. Durante seus primeiros tempos de Brasil, em vez de expressar o mesmo entusiasmo de Vasconcelos, Alfonso Reyes foi parco e reticente em suas impressões. Recém chegado da efervescente Buenos Aires, onde havia sido embaixador, e depois de haver vivido muitos anos na Europa, o mexicano teve que se adaptar ao País, e só quando se acostumou ao seu novo ambiente é que pôde ir paulatinamente se envolvendo em aspectos mais profundos da cultura brasileira.

Alfonso Reyes desembarcou no Rio de Janeiro no dia 16 de março de 1930 para assumir o posto de embaixador plenipotenciário do México no Brasil. É interessante analisar a relação de Reyes com o Brasil, pois a partir dela podemos refletir sobre essa espécie de choque ou oposição entre elementos em certa maneira díspares — as forças da natureza e a ação da cultura, o desfrute e o trabalho, o êxtase e a reflexão crítica — que o escritor parece haver sentido.

Reyes sempre procurou inserir-se em sua vida cultural. Em primeiro lugar, dedicou-se a um novo tipo de exercício intelectual: analisar a cultura ibérica em suas duas manifestações lingüísticas —o português e o espanhol— e analisá-la considerando a sua bifurcação inevitável no que se poderia definir como duas Américas distintas, a hispânica e a portuguesa (parentes, mas não irmãs). No que se refere ao primeiro tema, o das línguas, Reyes manifestou um profundo interesse na sua discussão.

Quanto ao segundo tema, o das duas Américas, é necessário considerar o trabalho paciente e tenaz de aproximação que o embaixador soube realizar. Para desempenhar muitas de suas funções diplomáticas, Reyes teve que mergulhar na cultura brasileira, que era nova e desconhecida para ele. Isso significou, entre outras coisas, que teve que buscar compreender e ter paciência para descobrir quais eram os monumentos de cultura dentro de uma paisagem cuja exuberância natural não guardava grandes edifícios que preservassem a tradição ibérica e tampouco escondia ruínas de imponentes civilizações passadas. A constatação de que realmente havia vida intelectual no Brasil e de que a suposta oposição entre vida inteligente e prazer contemplativo podia transformar-se em convivência criadora parece tê-lo tirado, pelo menos em parte, de seu pessimismo inicial.

Como diplomata e escritor, Reyes tinha que se dedicar à interlocução. Se no começo sentia que não havia ninguém que valesse a pena conhecer, aprendeu a construir uma vida intelectual e social importante, da qual participavam não só brasileiros como estrangeiros. À medida que se envolvia nas atividades culturais e políticas do País, Reyes se deu conta de que seu panorama cultural e político era muito mais complexo do que havia pensado e que, por trás do que parecia uma falta de interesse com relação ao exterior, havia um importante movimento nacional de produção cultural e artística. Mais que isso, havia uma preocupação generalizada entre os intelectuais e artistas com os quais passou a conviver em compreender e explicar seu próprio país, o povo brasileiro e sua cultura.

À parte sua intervenção em missões diplomáticas proeminentes, a participação de Reyes na vida cultural e política da capital brasileira foi efetivamente prolífica. O embaixador esteve presente em uma série de eventos culturais importantes junto à comunidade intelectual brasileira e soube contribuir para estimular a discussão de políticas de aproximação entre o Brasil e os países hispano-americanos. Nesse sentido, é importante destacar que Reyes se relacionou com intelectuais, jornalistas, professores e estudantes vinculados a organizações, grupos e partidos políticos dos mais variados matizes ideológicos.

Em 1933, por exemplo, o então estudante Carlos Lacerda (futuro opositor de Vargas, de Kubitschek, e um dos principais articuladores civis do golpe militar de 31 de março de 1964) convidou-o com insistência a dar conferências na associação de estudantes de que participava. A associação planejava nada mais nada menos que criar uma nova base espiritual capaz de apoiar e desenvolver outras concepções dos problemas do País. Lacerda sugeria que Reyes falasse sobre o México e completava o seu convite anunciando: "Isso é um começo. Para continuar, precisamos de auxílio. Esse auxílio é, por exemplo, a sua palavra sempre esperada e sempre aceita e admirada".

Um ano antes, em 1932, a poeta Cecília Meireles, integrante de um grupo de professores preocupados com a renovação educacional do País, foi enfática em sua admiração por Reyes. Segundo ela, o Brasil precisava estabelecer um intercâmbio espiritual e expandir suas relações com os povos do continente. Sua juventude buscava o universalismo e, para alcançá-lo, necessitava de um guia. Este guia era Alfonso Reyes.

É importante destacar que o campo de interesses do embaixador mexicano era suficientemente amplo para abrigar amigavelmente jovens como Lacerda e poetas como Manuel Bandeira e Ribeiro Couto que, a exemplo de Cecília Meireles, sentiam-se ligados ao mexicano não apenas pelo seu trabalho com as palavras, mas também pelo interesse por temas literários e culturais relacionados à América Latina. A consulta à correspondência do autor comprova que a questão do intercâmbio cultural foi tema constante em suas cartas a Bandeira e a Couto.

Reyes investiu muito trabalho e tempo nas tarefas de difusão e conseguiu um resultado importante nesse campo, com a edição de seu correio literário Monterrey. Com essa publicação, além de divulgar aspectos da literatura e da cultura mexicanas entre os brasileiros, pôde tornar públicas suas próprias preocupações intelectuais e literárias. Em Monterrey, os temas mexicanos se faziam acompanhar pela análise de questões referentes à América Latina e a temas e autores relacionados à literatura ocidental.

A ausência do Brasil em sua publicação poderia servir para relativizar a imagem que se costuma associar a Alfonso Reyes como o construtor de uma sólida ponte cultural e literária entre o México e o Brasil. Nesse sentido, se é certo que o diplomata se preocupou em consolidar uma imagem positiva da cultura mexicana entre os brasileiros, e o intelectual, em estabelecer um círculo importante, conformado por muitas personalidades de peso no mundo da cultura e das artes, pareceria que o escritor se esqueceu de refletir sobre a produção literária brasileira e de oferecer sua pequena publicação às tarefas de intercâmbio. Penso que é necessário analisar a relação de Reyes com o Brasil, considerando que ela se plasmou de maneiras distintas, devido exatamente ao exercício de cada um dos papéis que teve que desempenhar no País: diplomata, intelectual e literato (crítico e escritor). Assim, poderíamos entender por que, paralelamente ao cumprimento de suas tarefas diplomáticas, Reyes pôde cultivar em Monterrey um espaço particular, destinado aos seus interesses culturais e à reflexão de temas especificamente relacionados à sua própria trajetória literária. Por isso, difundiu sua revista entre os brasileiros, mas não falou sobre eles.

Vivendo a dicotomia permanente de ser um escritor dedicado à política, com o passar do tempo Reyes teve que defender sua posição entre os protagonistas do mundo literário mexicano, ainda que a distância. O projeto de regressar ao México depois da carreira diplomática explica, de certa forma, por que Reyes decidiu não incluir em sua revista a discussão de questões que não estivessem intimamente relacionadas com o México, ou, quando muito, com a América Hispânica. Vários anos depois de Vasconcelos haver defendido políticas de integração cultural para a América Latina, Reyes decidiu não ultrapassar as fronteiras lingüísticas e culturais entre o México e o Brasil em seu veículo editorial. Diplomata de prestígio, interlocutor atento e difusor cultural competente, Reyes soube separar todos esses interesses e pôde fazer de Monterrey uma espécie de passaporte intelectual de regresso ao seu país.

Isso não quer dizer, porém, que o Brasil não haja influenciado sua produção especificamente literária. Ao contrário, as marcas do Brasil se registraram de maneira rica e incisiva na obra que escreveu durante sua permanência no País. Poderíamos dividi-la, grosso modo, em crônicas de circunstância e pequenas ficções, algumas dispersas e outras reunidas em História natural das laranjeiras e em Quince presencias, além de vários poemas reunidos pelo autor em sua Constancia poética.

É importante observar que o autor foi incorporando aos seus poemas brasileiros os elementos embriagantes da paisagem tropical e uma certa imagem de sensualidade e erotismo, mesclada a temas populares e folclóricos. Talvez a fusão de todos estes elementos expresse mais sua experiência de vida no Brasil que a própria evolução de sua produção literária. No entanto, estes poemas "brasileiros" contribuem indubitavelmente para dar cor e sabor ao seu disciplinado labor poético.

Em 1934, Reyes foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Na ocasião, o escritor declarou o profundo carinho que o unia ao país: “Amo o Brasil com firme afeto, além, muito além das relações que afortunadamente unem nossos dois Estados”.

Reconhecido americanista, Reyes realizou no Brasil conferências importantes. De sua produção desses anos caberia destacar pelo menos quatro volumes de prosa e poesia: ‘Testimonio de Juan Peña’, ‘Tren de ondas’, ‘Romances del Río de Enero’ e ‘Minuta’, assim como as páginas agrupadas sob o título de ‘História natural das Laranjeiras’

Em 1938, Reyes voltou definitivamente ao México. A partir da reintegração à terra que abandonara havia mais de vinte anos, seus contatos com o Brasil se limitariam às cartas —cada vez mais escassas, para tristeza de Reyes— e à publicação (e republicação) em jornais, livros e revistas mexicanos, dos textos que escreveu sobre a cultura, a economia, a história e o cotidiano do Brasil.

Fontes:
http://www.umacoisaeoutra.com.br/literatura/hispanicos.htm
http://www.revistafator.com.br/ver_noticia.php?not=33488
http://www.antoniomiranda.com.br/
– Revista Brasileira de História. São Paulo: USP. v.23 n.45, julho 2003

Jien (17 Maio 1155 – 28 Outubro 1225)

(tradução: José Feldman)

Jien (17 de maio de 1155, em Kyoto –28 de outubro de 1225 em Omi (agora Shiga)) poeta japonês, historiador, e monge budista .

Jien nasceu na família de Fujiwara de aristocratas poderosos. Ele se juntou cedo a um monastério budista da seita de Tendai, primeiro levando o nome budista Dokaie, e mudando depois a Jien.

Ele começou a estudar e escrever história japonesa, o seu propósito era iluminar as pessoas que acham difícil de entender as vicissitudes de vida. Sua obra-prima, completada cerca de 1220, era humildemente intitulada, Gukanshô que traduz como Apontamentos de um Bobo. Nisto ele tentou analisar os fatos de história japonesa.

O Gukanshô tinha uma visão pessimista do Período Feudal, e alegou que era um período de declínio religioso e via a desintegração da civilização. Jien sustentou que mudanças na estrutura feudal eram necessárias e defendeu o direito do Poder Shogun .

Fonte:
http://en.wikipedia.org/wiki/Jien

Manoel de Barros (O Livro das Ignorãças)

artigo de Teotônio Marques Filho

INTRODUÇÃO

Não existe, ainda uma biografia sistematizada de Manoel de Barros, sendo os dados biográficos encontrados dispersos em artigos, poucos livros e alguns ensaios. Do que se sabe, algo pode ser dito da seguinte maneira: Manoel de Barros nasceu em 1916, em Cuiabá, Mato Grosso, onde vive atualmente. Ainda na sua infância, mudou-se para Corumbá, também no Mato Grosso, ficando, assim, bem próximo ao Pantanal. Aos oito anos de idade, foi mandado ao Rio de Janeiro, para estudar em um colégio de padres, e, na adolescência, foi a Bolívia e, em seguida, aos Estados Unidos, onde entrou em contato com a vanguarda artística da época. Volta ao Rio, ingressa no curso de Direito, no qual se forma, e inicia sua meteórica carreira na advocacia, que não dura muito. Simpatizante das idéias comunistas, tem seu primeiro livro de sonetos tomado pela polícia da época e nunca mais o tem de volta, tornando-se um livro perdido. Casa-se por volta dos 30 anos de idade e retorna a Cuiabá com sua esposa, com quem tem três filhos, vivendo até hoje. Seus primeiros livros são publicados em decorrência de prêmios recebidos, sendo que, posteriormente a editora Civilização Brasileira, tendo então como editor Ênio da Silveira, resolve publicar seus livros, que hoje são publicados pela editora Record

Sua vida inteira dedicada à poesia rendeu-lhe 14 livros, dando-se a estréia com Poemas concebidos sem pecado, de 1937. A segunda publicação só viria cinco anos mais tarde com Face imóvel, já marcando a boa distância de tempo entre as publicação que viriam depois, já que só quatorze anos mais tarde, em 1956, surgiria seu terceiro trabalho, intitulado simplesmente de Poesias. Destacam-se, ainda, na obra do poeta, livros como Gramática expositiva do chão (1966), livro de pré-coisas (1985), O guardador de águas (1989), O livro das ignorãças (1993) e livro sobre nada (1996), sempre tendo na simplicidade seu ponto de apoio e sua característica principal.

UM PASSEIO PELAS QUESTÕES DO POETA

Um simples olhar sobre alguns títulos dos livros de Manoel de Barros já nos revela algo sobre a sua poesia: o trabalho com a metalinguagem, ou seja, com o falar do próprio fazer poético, do próprio processo de criação. Os títulos já citados, assim como outros (Matéria de Poesia, de 1970, por exemplo), trazem sempre algum termo que nos lança diretamente a questão do fazer poético, do falar da própria poesia ou sobre o livro. Outros títulos, mais relacionados com a música, também esclarecem esse tom metalingüístico: Arranjos para assobio, de 1980, e concerto a céu aberto para solos de ave, 1991. Nota–se, também, Compêndio para uso dos pássaros, de 1960, já que "compêndio" significa a síntese das teses de uma determinada doutrina. Em entrevista a André Luís de Barros, quando perguntado sobre como nasceu seu interesse pelo trabalho com a linguagem reponde:

Sempre tive uma preocupação com a palavra, com as frases. No colégio interno , os padres me deram o Padre Antônio Vieira para ler. Ele era um grande frasista, se preocupava com a ressonância verbal interna das frases. Em linguagem, ele muitas vezes não era tão católico assim. Depois que comecei a ler o Vieira não parei mais de prestar atenção nas frases. Sou um fazedor de frases. O que tem é o verso? É uma frase, uma unidade rítmica, que tem como característica ser ilógica. O ilogismo é muito importante para o verso. (Entrevista concebida a André Luís de Barros. Jornal do Brasil. (Caderno Idéias) ).

Assim, percebemos claramente que, para esse poeta, o trabalho com a própria linguagem é um projeto consciente e uma preocupação constante, surgindo em toda a sua obra poética. Seu projeto, no entanto, não é de uma língua grandiosa, rebuscada, mas de uma língua simples, rasteira, "pobre", sem ser, contudo, simplória ou simplista (o que é bem diferente de "simples"). Sua linguagem toca o chão, roça o solo das palavras, tirando delas o que elas têm de terra, de mais natural, digamos assim.

Esse trabalho com a simplicidade, com as coisas rateiras do chão, também se configura como um projeto. A preocupação de falar sobre o fazer poético, como dito anteriormente, está ao lado da procura por essa "pobreza" dos temas, "pobreza no sentido de que aquilo que Manoel de Barros escolhe para tratar na sua poesia é sempre algo "pequeno", "ínfimo", geralmente descartado pela maioria dos poetas. Na sua poesia, têm lugar privilegiado e seguro os insetos (formigas, principalmente), os pássaros (beija-flor, bem-te-vi, rolinha, andorinha), bichos que rastejam (sapos, lagartos, caranguejos), lembrando as "coisas rasteiras" que ele elege como tema. Em entrevista a Lúcia Castello Branco e Luís Henrique Barbosa, Manoel fala justamente dessas "coisas rasteiras", dessa "pobreza" que o encanta:

Penso que trago em mim uma pobreza ancestral que me eleva para as coisas rateiras. Disse uma vez: só as coisas rateiras me celestam. Procede que a pobreza é bíblica, procede que o ordinário é sagrado – e a desgrandeza é de DEUS. Com o canto do Sol e das Aves o nosso Francisco fertilizava a sua fé. (...) quero fertilizar os meus cantos com as pobres coisas do chão. Sendo que não sou eu que cristianizo as ordinariedades, mas a minha linguagem.
(Entrevista concedida a Lúcia Castello Branco e Luís Henrique Barbosa. In: CASTELLO BRANCO, Lúcia (org.) Coisa de Louco. Belo Horizonte: Casa Freud, SCE, PBH, 1998. P. 184)

Para o poeta, tratar dessas coisas rateiras o aproxima de uma origem, o lança ao início das coisas, a um tempo mítico, bíblico, primitivo. Essa busca, é também, uma busca pelo tempo anterior à linguagem, em que nada existia além das coisas. Aí é que está o mítico de sua poesia, o primitivo, já que num tempo primordial não há uma linguagem, há simplesmente as coisas. Manoel de Barros parece querer alcançar a coisa em si, em seu estado bruto, em seu estado de coisa mesmo. Como o poeta diz em um poema do Livro sobre nada:

As coisas tinham para nós uma desutilidade poética.
Nos fundos do quintal era muito riquíssimo o nosso dessaber.
A gente inventou um truque pra fabricar brinquedos com palavras.
(BARROS, Manoel de. Livro sobre nada. Rio de Janeiro: Record, 1996. P. 11. (Destaques meus) )

Vemos claramente, nesses versos, o privilégio das coisas, ao invés das palavras e da linguagem. As palavras são transformadas em brinquedos, ou seja, em coisas que se podem manusear. Para isso, entretanto, tem de se utilizar da linguagem, pois não é possível fugir a ela. Por isso, já que na poesia se tem de passar pela linguagem para se chegar à coisa, que a linguagem seja, então, pelo menos, mais próxima à coisa – daí uma linguagem simples, sem rodeios, que fala diretamente das coisas, sem muito intermédio. Como dizem Lúcia Castello Branco e Luís Henrique Barbosa, há, na poesia de Manoel de Barros, "a encenação da busca de uma língua adâmica, que esteja mais próximas às coisas". Ou seja, o poeta quer chegar a uma língua das origens, de Adão, de um tempo mais remoto possível.

Não é à toa que a poesia de Manoel seja feita basicamente de versos soltos, ou de "frases", como ele próprio prefere. O poeta chama a si mesmo de um bom "fazedor de frases", caracterizando seu trabalho como algo mais fragmentado, sem uma continuidade de sentido, sem um "enredo", sem uma "história" que se conta a partir dos versos. Muitas vezes, seus poemas são frases soltas, sem articulação com a frase anterior ou com a seguinte. Isso também é uma forma de aproximar sua poesia de algo primitivo, original, já que a impressão deixada pela leitura é de algo caótico, sem uma ordem estabelecida pelas frases lançadas no espaço da página. Essa desarticulação da linguagem é um trabalho pensado, como diz o próprio poeta:

(...) poesia pra mim é a loucura das palavras, é o delírio verbal, a ressonância das letras e o ilogismo. Sempre achei que atrás da voz dos poetas moram crianças, bêbados, psicóticos. Sem eles a linguagem seria mesmal. (...) Prefiro escrever o desanormal.

Desarticulando a linguagem, aproximando-a da linguagem desarticulada das crianças, dos bêbados e dos loucos, o poeta consegue alcançar o ilogismo que procura, a não-lógica de uma linguagem que escapa à mesmice e à utilidade. Para ele, a linguagem não deve servir a um sentido pronto, mas deve enlouquecer o sentido, desarticular a língua que utilizamos todos os dias, confundir a nossa lógica, que encarcera a língua em apenas uma possibilidade de expressão. A tarefa da poesia é justamente tirar a língua de seu lugar comum e dar-lhe outros sentidos, conceder-lhe outras possibilidades das quais não dispomos no nosso dia-a-dia.

É isso o que veremos em O livro das ignorãças, livro em que o poeta prossegue nesse projeto de se aproximar das coisas chãs, das coisas que rastejam e se aproximam da natureza, ou que fazem parte dela.

O Livro das Ignorãças

O livro das ignorãças é dividido em três partes ("Uma didática de invenção", "Os deslimites da palavra" e "Mundo pequeno"), sendo que cada uma delas tem suas próprias características, o que, no entanto, não impede que vejamos também algumas recorrências e um prosseguimento de questões privilegiadas do autor.

Em "Uma didática da invenção", surgem várias daquelas questões já apontadas anteriormente, evidenciando a preocupação de Manoel de Barros quanto as idéias específicas de poesia. Assim, já no primeiro poema do livro, temos a idéia do desaprender, da necessidade que o poeta vê de a poesia enlouquecer a língua, tirando-a dos lugares comuns em que se encontra:

"Desaprender oito horas por dia ensina os princípios."

Invertendo completamente a lógica tradicional, esse verso vê o aprendizado das coisas não no ato de aprender, mas no ato de desaprender. Atente-se para o termo "princípios", que aponta para a questão da origem de que se falou antes. Desaprender, segundo o poeta, permite-nos alcançar os princípios, as origens, o momento anterior às palavras, em que só existem as coisas. Essa mesma idéia parece reger O livro das ignorãças, já que ela é recorrente em vários poemas e também na obra inteira do poeta. No poema de número XVI, há um verso que diz dessa idéia de que só as frases opacas e obscuras, que fogem da linguagem comum, é que interessam, pois são iluminadas:

Há certas frases que se iluminam pelo opaco.

Esse trabalho para "desacostumar as palavras", como diz o próprio poeta, dando-lhe significações novas, inusitadas, antes não concebidas, atravessa todo o livro, resultando em versos que, muitas vezes, nos causam espanto, tal a desconstrução da linguagem, tal o "desacostumamento" da língua que eles acabam por fazer. Já que "desacostumar as palavras" é o trabalho da poesia, e do poeta, Manoel de Barros não hesita em agir assim a todo instante, transformando a sua poesia num jogo de sensações, numa inversão das características dos objetos e num lugar de imagens inesperadas. São vários os exemplos dessas inversões e desse jogo com imagens e sensações:

Como pegar na voz de um peixe (I)
E um sapo engole as auroras. (IV)
Eu escuto a cor dos passarinho. (VII)
Hoje eu desenho o cheiro das árvores. (IX)
Não tem altura o silêncio das pedras. (X)

Poderíamos continuar enumerando ad infinitum exemplos como esse, já que eles elucidam muito da estética de Manoel de Barros. Esses versos alcançam exatamente a sua proposta de poesia, desvestindo as palavras de seus sentidos corriqueiros, de seus significados gastos. Não é à toa a referência, em vários momentos, à linguagem das crianças, já que elas ainda não aprenderam a totalidade da língua. Lembremos o que diz o poeta em entrevista já citada: "atrás da voz dos poetas moram crianças, bêbados, psicóticos". A criança, por não Ter ainda tanto contato com a língua, não perdeu a capacidade de brincar com as palavras, o que as torna poetas sem que elas saibam. Se a poesia é enlouquecer as palavra, fazendo-as delirar, as crianças fazem poesia ao falar, como mostra o poema de número VII:

No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a
criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona
para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele
delira.

Mudar a função das palavras está dentro do conceito de poesia desse poeta, pois é assim que elas podem delirar, enlouquecer, tirar a língua da lógica. A figura da criança surge novamente em outros poemas, sempre ligada a essa idéia de ilogismo que a poesia deve buscar. Mais do que o ilogismo, os versos abaixo trazem a questão de coisas que sequer têm nome, sendo estas as preferidas pelas crianças:

As coisas que não têm nome são mais pronunciadas por crianças. (VI)

Ora, como pronunciar nomes que nem existem? É justamente aí, como já viu anteriormente, que reside a poesia de Barros, já que ele busca exatamente aquilo que ainda não recebeu nomes, que ainda não foi aprisionado por definições, por conceitos. Daí sua idéia de chegar às coisas, sem intermédio da língua, tentando tocar na coisa mesma, em sua origem, sem palavras se interpondo entre o poeta e a matéria de sua poesia. Muitas vezes, Manoel fala mesmo de ser as coisas, que ultrapassa o simples tocar as coisas, ou, ultrapassando mais ainda, o falar das coisas. O poema de número IX trata desse ser a coisa:

Para entrar em estado de árvore é preciso partir de
um torpor animal de lagarto às três horas da tarde,
no mês de agosto.
Em dois anos a inércia e o mato vão crescer em
nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até o mato
sair na voz.

Esse poema é quase um ensinamento de como se tornar uma coisa, nesse caso uma árvore. O processo de ser uma árvore só se completa quando os galhos nascem do próprio corpo, saindo da voz. Isso não é apenas falar da coisa ou tocar a coisa, mas tornar-se a coisa, ser a coisa em seu estado mesmo.

Em O livro das ignorãças, também há a proposta de, além de tornar-se coisa, "desacostumar as coisas", assim como se deve "desacostumar as palavras". Do mesmo modo que se deve livrar as palavras de seu estado normal, fazendo-as delirar, há também a necessidade de livrar as coisas de sua utilidade usual, tirando-as do uso que elas têm no dia-a-dia. É o que o poeta chama de "desinventar objetos" (poema II):

Desinventar objetos. O pente, por exemplo.
Dar ao pente funções de não pentear. Até que
ele fique à disposição de ser uma begônia. Ou uma gravanha.
Usar algumas palavras que ainda não tenham idioma.

Percebe-se que essa necessidade de desacostumar as coisas caminha junto com a de desacostumar as palavras. O último verso, que fala das palavras, vem logo depois dos versos que tratam das coisas, sendo que todos dizem sobre o mesmo ponto: desinventar coisas e palavras, tornado-os novos, sem sentido pronto, sem definição. Não definir é deixar soltar as palavras e as coisas, é deixá-las simplesmente ser, sem que haja nomes para aprisioná-las num mundo de conceitos, que se tornam cada vez mais gastos e pobres.

Essa idéia da não-definição é muito bem trabalhado no belo poema de número XIX, em que se pensa no empobrecimento de uma bela imagem originado por uma definição utilizada para conceituá-la.

O rio que fazia uma volta atrás de nossa cara era a
imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás
de casa.
Passou um homem depois e disse: Essa volta que o
rio faz por trás de sua casa se chama enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que
fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.

A substituição de uma bela imagem criada a partir de um rio foi completamente empobrecida por uma definição geográfica. A poesia da imagem foi rompida pela precisão e redução de um conceito, que nada diz sobre a coisa em si. Assim, percebe-se que a poesia nada tem a ver com definições, levando ser vista com olhos menos pragmáticos, menos reduzidos pela prática e pela precisão a que o mundo nos obriga. É o que mostra a poema de número XIII:

As coisas não querem mais ser vistas por pessoas
razoáveis:
Elas desejam ser olhadas de azul –
Que nem uma criança que você olha de ave.

É justamente o olhar de pessoas razoáveis – entenda-se, por pessoas razoáveis, pessoas comuns – que acabam com a poesia das coisas. O olhar comum sobre as coisas não consegue ver nelas qualquer poesia, acabando por enxergar apenas definições e palavras com seus sentidos convencionais, pobres.

Assim, na primeira parte de O livro das ignorãças, há um trajeto claro de fugir à linguagem comum e alcançar uma língua adâmica, original que se aproxime mais da coisa em seu estado bruto, que chegue à "coisidade" da coisa, ao é da coisa, em seu âmago de coisa mesmo.

A Segunda parte, "Os deslimites da palavra", não foge a esse projeto de linguagem. Nessa parte, o poeta inventa uma lenda e escreve a partir dela: um tal canoeiro Apuleio, que teria passado três dias e três noites navegando sobre as águas de uma enchente ocorrida em 1922, sem comer nem dormir, registra em um caderno, a partir dessa experiência, amontoados de frases desconexas. Tempos depois, o poeta encontra esse caderno e tenta "desarrumar as frases", de modo que elas se tornem poesia, apesar de, em si, elas já serem poesia, pois, como diz o poeta, "nesse caderno, o canoeiro voou fora da asa", provocou "uma ruptura com a normalidade", ou seja, escreveu fora da língua comum, fazendo poesia.

O resultado do encontro entre as frases do canoeiro, que escreveu fora da normalidade, com o poeta, que também só escreve fora do comum, é uma desarrumação completa dos padrões, um "desacostumamento" radical. Como diz o poema 2.1, primeiro do segundo dia de enchente:

Não oblitero moscas com palavras.
Uma espécie de canto me ocasiona.
Respeito as oralidades.
Eu escrevo o rumar das palavras.
Não sou sandeu de gramáticas.

Novamente, o que se tem é a questão da supremacia da coisa sobre a palavra: "Não oblitero moscas com palavras." Usar palavras para falar das moscas é uma rasura das moscas, um apagamento, já que se deve chegar à mosca mesmo, e não somente falar dela. A referência às "oralidades" também é uma fuga à normalidade da língua, já que a fala, a língua oral, apresenta uma série de desvios em relação à linguagem padrão, daí o poeta/canoeiro dizer que não é tolo (sandeu) de ficar seguindo gramáticas, de respeitar a língua imposta por elas. Por isso, o que ele escreve não são as palavras, mas o seu rumor: apenas o som, não o sentido. Escrever apenas o rumor das palavras, sem dar-lhes significado, as aproxima de coisas, de objetos que podem ser quase tocados.

O próprio nome dessa Segunda parte do livro já aponta para essas idéias, pois o poeta escreve além dos limites da palavra, ele atinge seus delimites, ele toca o que está fora da linguagem, o que se situa além das fronteiras que a língua nos impõe. Não se deixar submeter pelos limites da língua é o que faz o poeta/canoeiro ao longo de toda essa parte. Um passeio pelos poemas nos mostra isso de forma evidente:

Ontem choveu no futuro. (1.1)
Estas águas não têm lado de lá. (1.1)
Os nomes já vêm com unha? (1.2)
A chuva atravessou um pato pelo meio (1.6)
A chuva deformou a cor das horas. (1.6)
Um besouro se agita no sangue do poente. (2.4)
O acaso me ampliou para formiga. (2.7)
Uma sabiá me aleluia. (3.6)

O efeito de versos como esses é um grande estranhamento, pois eles fazem a língua delirar em todos os sentidos. A sintaxe delira, os termos mudam de categorias, substantivos ganham qualidades inusitadas, gerando um sentido completamente novo, totalmente "desacostumado".

A questão da origem, de que já se falou anteriormente, surge de maneira marcante. A enchente que leva o canoeiro a navegar três dias seguinte remete evidentemente ao dilúvio bíblico, texto que trata das origens, por excelência. As imagens de origem são semeadas ao longo dessa Segunda parte, sendo as principais o ovo, a água (elemento sempre ligado à origem), o limo (espécie de lama, de lodo, ambiente úmido que sempre remete a uma origem), assim como bichos que lembram as coisas do chão, que se ligam diretamente a um universo mais primitivo, mais telúrico, muitas vezes aquático – lagarto, formiga, coruja, peixe, besouro, vaga-lume, osga (espécie de réptil), aranha, rã, cágado. Todos esses bichos são diretamente ligados a um mesmo universo mais remoto, às vezes "sujo", viscoso, ou, no mínimo, obscuro, das trevas, silencioso. Essa idéia do "sujo" também surge mais explicitamente, não só na Segunda como também na primeira parte do livro, já que os ambientes úmidos, primitivos, pantanosos têm uma aparência (e só aparência) de imundície, sendo lugares orgânicos por excelência.

A terceira parte, "Mundo pequeno", traz as mesmas questões eleitas por Manoel de Barros, sendo que o primeiro poema já rompe com a gramática da língua, conforme já vimos em outros poemas. Nos versos seguintes, os substantivos transformam-se em verbos:

Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter os ocasos.

Coisa, rã e árvore, que, gramaticalmente, são substantivos, tornam-se verbos, mostrando um desrespeito do poeta pelas regras gramaticais. O verso final aponta para essa inversão de categorias, representada pela figura do velho que, com sua flauta, inverte os ocasos, assim como o poeta inverte a língua.

A busca pela coisa é, mais uma vez, objeto de poesia, propositalmente no poema que encerra o livro (XIV), antes do "Auto-retrato falado": "Todas as minhas palavras já estavam consagradas de pedras". Esse verso parece apontar para um fim de trajeto, em que as palavras foram sendo desvestidas de seus significados até chegarem ao estado de coisa, de pedra. Os versos seguintes a esse elucidam ainda mais essa idéia:

Não era mais a denúncia das palavras que me
importava mas a parte selvagem delas, os seus
refolhos, as suas entraduras.
Foi então que comecei a lecionar andorinhas.


A busca do poeta é pela "parte selvagem" das palavras, pelas suas reentrâncias, o que a aproxima de uma árvore, de uma pedra, de um bicho. No fim, não se lecionam palavras, mas andorinhas, ou seja, ao invés de o poeta mostrar as coisas através de palavras, ele as mostra através delas mesmas, alcançando, como já se disse, a "coisidade" da coisa, a coisa em si mesma.

Essas idéias se repetem, mais uma vez, com a imagem da árvore, tão presente na poesia de Barros, fazendo com que as pessoas se transfigurem em árvores: "Bernardo é quase árvore." (XII), "Estou atravessando um período de árvore." (XIII), ou o já citado "Ele me árvore." (I).

A recusa a definições ressurge, como no poema III, em que se fala de um vaqueiro, de um "peão de campo:"

Gostava de desnomear:
Para de falar barranco dizia: lugar onde avestruz esbarra.
Rede era vasilha de dormir.
Traços de letras que um dia encontrou nas pedras de
uma gruta, chamou: desenhos de uma voz.
Penso que fosse um escorço de poeta.

O peão do poema faz poesia sem que saiba. A sua recusa em definir, em conceituar, ou, mais do que recusa, a sua ignorância dos conceitos, faz dele um poeta, no sentido que Manoel de Barros dá à poesia. Ao contrário do homem que chamou de "enseada" a imagem do rio que passa por detrás da casa, o peão não conceitua, ele cria imagens a partir das próprias coisas, não a partir de conceitos, criando, assim, belas imagens poéticas.

Esse é o percurso da poesia de Manoel de Barros: da palavra à coisa, do ser à natureza, do agora ao original, dá página à pedra. O peão do poema pode ser visto como um duplo do poeta, como uma extensão sua, já que é dessa maneira que o poeta tenta fazer poesia: partindo das coisas, dos bichos, das pedras, de um universo primeiro, situado nas origens: Assim é que o poeta pode "voar fora da casa", pode alcançar os deslimites da palavra, o além da linguagem, o cerne das coisas – sua matéria é, enfim, o que escapa à expressão por meio de palavras.

CONCLUSÃO

A busca de uma língua ainda não maculada pela civilização e a procura por uma maneira de expressão que nos reingresse a um universo primitivo é justamente o projeto de Manoel de Barros com sua poesia. Essa é também a diretriz que alinhava todas as cinco obras, seja em relação às temáticas, seja em relação à linguagem. Manoel de Barros, assim, colabora substancialmente para refletirmos também sobre os inícios do povo brasileiro, ainda que na sua poesia não haja uma referência explícita a essa temática. Mas sua poesia, possuidora de um verbo primitivo, arcaico, coloca-nos a possibilidade do resgate, mesmo que na linguagem, de uma origem rica e necessária.

Fonte:
http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=resumos/docs/ignoracas

Lise Lyng Falkenberg (17 Maio 1962)

(tradução: José Feldman)
Lise Lyng Falkenberg (nasceu em 17 de maio de 1962, em Odense, Dinamarca) é escritora dinamarquesa principalmente de ficção e trabalhos de estudos literários.

Desde sua estréia em 1983 foi publicada uma dúzia de seus livros como também centenas de artigos, composições e revisões em filmes, peças teatrais, literatura, arte e música. Ela tem um doutorado em literatura e estudos culturais e mora atualmente na cidade de Odense, Dinamarca onde ela trabalha tanto como escritora como jornalista freelance internacional.

Dois de seus livros foram escritos diretamente para o mercado no idioma inglês, isto é:

- The Monkees - baseado em uma falsa imagem do seriado da Tv Americana da banda pop The Monkwees
- Twisted Tales of Thanatos, uma coleção de contos escrita no gênero realístico mágico.

Desde 2005 Lise trabalhou com a banda de rock britânico Slade, especialmente com seu baterista Don Powell e assim montou blogs relatando a carreira do Slade como também muitos artigos e entrevistas em revistas e documentos. Atualmente Lise e Don Powell estão escrevendo sua biografia.

Fonte:
http://en.wikipedia.org/wiki/Lise_Lyng_Falkenberg

Virginie Loveling (17 Maio 1836 - 1 Dezembro 1923)

(tradução: José Feldman)
Virginie (Marie) Loveling (17 de maio de 1836, na Bélgica - 1 de dezembro de 1923, na Bélgica) era uma escritora belga de poesia, romances, composições e histórias de crianças. Ela também escreveu com o pseudônimo W.E.C Walter.

Virginie Loveling nasceu em Nevele, Bélgica, e era a irmã mais jovem de Rosalie Loveling, também escritora, com quem ela co-escreveu parte do trabalho dela. Depois da morte do pai Herman Loveling, a família se mudou para Ghent onde as irmãs frequentaram Circulos de Oradores Franceses, principalmente de intelectuais anti-eclesiásticos antes de voltar eventualmente a Nevele.

Junto com a sua irmã ela escreveu poesia realística e descritiva com uma tom meio romântico. Elas também publicaram duas coleções de ensaios sobre a vida nas comunidades rurais como também a burguesia da cidade.

Depois da morte de sua irmã em 1875, ela criou histórias para crianças como também romances e ensaios que pintam um quadro pungente da epoca. Com um notável ângulo intelectual e psicológico, eles tratam - para aquela época - assuntos controversos como a hereditariedade, educação, religião e os direitos de mulheres. Ela também foi coa-autora de Levensleer' (1912), um humorismo dos discursos de língua francesa dos burgueses de Ghent com o seu sobrinho Cyriel Buysse .

Reconhecimento oficial na literatura holandesa com o romance ' Een dure eed'( Um Juramento Caro).

Virginie Loveling morreu em 1923-12-01 em Nevele.

Fonte:
http://en.wikipedia.org/

Sorocaba em Destaque


Movimento Médico Paulista do Cafezinho Literário homenageia o Prof. Dr. Edgard Steffen no 21 de maio

O MMCL festejará em Sorocaba sua 100a tertúlia literária no dia 21 (5a feira) às 20h00 na Sociedade dos Médicos. Dr. Sérgio Borges Bálsamo, Diretor Cultural, está à testa da organização da festa, durante a qual o Prof. Dr. Edgard Steffen receberá especial homenagem, visto que não pôde se deslocar a Santos onde foi realizado o II Congresso Paulista Comunitário de Letras (1 a 3 de maio) comemorando o quarto aniversário do MMCL. Quase 200 pessoas compareceram ao enclave e mais onze pessoas foram homenageadas.
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Mário Cândido autografa livro sobre a prevenção de doenças

O médico Mário Cândido de Oliveira Gomes, doutor em Medicina pela PUCSP e ex-professor da Faculdade de Medicina de Sorocaba participa de noite de autógrafos, dia 22, sexta-feira, na Fundec (Rua Brigadeiro Tobias, 73). Na ocasião, quando estará fazendo o lançamento do livro Doenças, conhecer para prevenir.
A obra, em dois volumes que totalizam quase 1.000 páginas, foi publicada pela editora Ottoni, de Itu.
Membro efetivo fundador da Academia Sorocabana de Letras, na qual é titular da Cadeira nº7, que tem como Patrono o poeta santista Martins Fontes, Mário Cândido de Oliveira Gomes é, provavelmente, o profissional com mais longa atuação em nosso país em divulgação científica na área da Medicina.
Sua coluna sobre as características de das mais diversas doenças, sua forma de transmissão e as providências necessárias a evitá-las vem sendo publicada, de maneira praticamente ininterrupta, em diferentes jornais sorocabanos, há mais de quarenta anos.
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Fonte:
Douglas Lara. http://www.sorocaba.com.br/acontece

sábado, 16 de maio de 2009

Trova II


Fonte:
Portal CáEstamosNós

Ralf Gunter Rotstein (Poeta da Chuva)

SÉCULO XXI

Tantas correntes! Tantos desvarios!
Tão poucas consciências descontentes
E, em tão imensa multidão, as gentes
Riem de dias cada vez mais frios!

Riem felizes, tiritando os dentes,
Riem felizes, não ouvindo os chios
Que aguardam essas águas concorrentes
Que passam por lugares tão sombrios!

E todos, deslizando, vão em paz,
Cada vez com mais frio e cada vez,
Para aquecer-se, se abraçando mais.

Vão todos: e se sai alguém da terna
Turba, dando braçadas para trás,
Levam-no, sorridentes, pela perna.
G G G G G G G G G G

SINFONIA

Em meio à tempestade, o som de algum trovão
Meus ouvidos alcança e, como a voz de um santo,
O corpo me arrepia e me inunda de encanto
E sublime prazer o pasmo coração.

Faz crescer minha mágoa e, enquanto as gotas vão
Por meus poros entrando, encontra em mim um canto
Que jamais recebeu e nem sonhou ter tanto
Sincero acolhimento ou tal consolação.

A chuva, ao meu redor, é intensa sinfonia
E vejo que não mais do que um novo instrumento
Ao vir-me abençoar ela de mim queria.

Tristezas que somar às que já tenho invento.
Já não sou nada mais: sou nota e melodia;
Sou os santos trovões e os sussurros do vento.
G G G G G G G G G G
Ralf Gunter Rotstein, o Poeta da Chuva, nasceu na cidade do Rio de Janeiro – RJ e mora em Curitiba–PR desde pequeno. Também desde cedo teve interesse crescente pela poesia e passou logo a exercitá-la. Publicou seu primeiro livro, Um Dia de Chuva, em 2008, pelo Instituto Memória. Seu segundo livro, Sonhos Pluviais será publicado em 2009 pelo Projeto Cultural Abrali. Em 2008 tornou-se membro do Centro de Letras do Paraná e associado da Academia Paranaense de Poesia e freqüenta as reuniões de ambos, sendo também membro do Projeto Cultural Abrali.
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Fonte:
Andréa Motta. http://simultaneidades.blogspot.com

Ronald De Carvalho (Caravelas da Poesia)


O MERCADOR DE PRATA, DE OURO E ESMERALDA

Cheira a mar! cheira a mar!
As redes pesadas batem como asas,
As redes úmidas palpitam no crepúsculo.
A praia lisa é uma cintilação de escamas.
Pulam raias negras no ouro da areia molhada,]
O aço das tainhas faísca em mãos de ébano e bronze.]
Músculos, barbatanas, vozes e estrondos, tudo se mistura,
Tudo se mistura no criar da espuma que ferve nas pedras.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

EPIGRAMA

Enche o teu copo, bebe o teu vinho,
enquanto a taça não cai das tuas mãos...
Há salteadores amáveis pelo teu caminho.
Repara como é doce o teu vizinho,
repara como é suave o olhar do teu vizinho,
e como são longas, discretas, as suas mãos...
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

UMA NOITE EM LOS ANDES

"Naquela noite de Los
Andes eu amei como nunca o Brasil.

De repente,
Um cheiro de Bogari, um cheiro de varanda
carioca balançou no ar...

Vinha não sei de onde o murmúrio de um
córrego tranqüilo,
escorregando como um lagarto pela terra
molhada.

A sombra vestia uma frescura de folhas
úmidas.

Um vagalume grosso correu no mato.
Queimou-se no sereno.

Eu fiquei olhando uma porção de cousas
doces maternais...

Eu fiquei olhando, longo tempo o céu da
noite chilena as quatro estrelas de um
cruzeiro pendurado fora do lugar..."
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

SABEDORIA

Enquanto disputam os doutores gravemente
sobre a natureza
do bem e do mal, do erro e da verdade,
do consciente e do inconsciente;
enquanto disputam os doutores sutilíssimos,
aproveita o momento!

Faze da tua realidade
uma obra de beleza

Só uma vez amadurece,
efêmero imprudente,
o cacho de uvas que o acaso te oferece...
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨


BRASIL
A Fernando Haroldo

Nesta hora de sol puro
palmas paradas
pedras polidas
claridades
faíscas
cintilações

Eu ouço o canto enorme do Brasil!
(...)

Eu ouço todo o Brasil cantando, zumbindo, gritando,
[vociferando!
Redes que se balançam,
sereias que apitam,
usinas que rangem, martelam, arfam, estridulam, ululam e
[roncam,
tubos que explodem,
guindastes que giram,
rodas que batem,
trilhos que trepidam,
rumor de coxilhas e planaltos, campainhas, relinchos, aboiados
[e mugidos,
repiques de sinos, estouros de foguetes, Ouro-Preto, Bahia,
[Congonhas, Sabará,
vaias de Bolsas empinando números como papagaios,
tumulto de ruas que saracoteiam sob arranha-céus,
vozes de todas as raças que a maresia dos portos joga no sertão!

Nesta hora de sol puro eu ouço o Brasil.
Todas as tuas conversas, pátria morena, correm pelo ar...
a conversa dos fazendeiros nos cafezais,
a conversa dos mineiros nas galerias de ouro,
a conversa dos operários nos fornos de aço,
a conversa dos garimpeiros, peneirando as bateias
a conversa dos coronéis nas varandas das roças...

Mas o que eu ouço, antes de tudo, nesta hora de sol puro
palmas paradas
pedras polidas
claridades
brilhos
faíscas
cintilações

é o canto dos teus berços, Brasil, de todos esses teus berços,
[onde dorme, com a boca escorrendo leite,
[moreno, confiante,
o homem de amanhã!
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

Ronald de Carvalho (16 Maio 1893 – 15 Fevereiro 1935)

Ronald de Carvalho (Rio de Janeiro, 16 de maio de 1893 — Rio de Janeiro, 15 de fevereiro de 1935), foi um poeta e político brasileiro.

Filho do engenheiro naval Artur Augusto de Carvalho e de Alice Paula e Silva Figueiredo de Carvalho, Ronald de Carvalho nasce na cidade do Rio de Janeiro - RJ no dia 16 de maio de 1893.

No ano de 1899 inicia o curso secundário no Colégio Abílio (Rio de Janeiro), formando-se em 1907. No ano seguinte, ingressa no curso de Direito da Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais, formando-se bacharel no ano de 1912. Nessa época já colaborava com a revista A Época e com o jornal "Diário de Notícias", de Rui Barbosa.

Em 1913 vai para Paris estudar Filosofia e Sociologia. Nessa cidade faz sua estréia literária com a publicação da obra "Luz gloriosa", que mostra uma a forte influência de Charles Baudelaire e Paul Verlaine.

No ano de 1914 começa a exercer atividades diplomáticas e estabelece-se em Lisboa - Portugal. Conhece então os membros do grupo modernista desse país e, em 1915, já integrado a esse grupo, participa do lançamento da revista "Orpheu", marco inicial do modernismo português.

De volta ao Brasil, publica, em 1919, a obra "Poemas e Sonetos" que revela um certo contato com a estética parnasiana.

A experiência de fincar o marco inicial modernismo em Portugal parece ter agradado a Ronald de Carvalho, pois em 1922 participa ativamente da SAM (Semana de Arte Moderna), marco inicial do Modernismo no Brasil.

Na noite de 15 de fevereiro, segundo dia da SAM, Ronald de Carvalho causa o maior escândalo ao declamar o poema "Os Sapos", de autoria de Manuel Bandeira. Isso ocorre porque o poema satiriza violentamente a poesia e, sobretudo os poetas parnasianos, que são comparados a sapos coachando.

Depois da sua participação explosiva na SAM, Ronald dá novos rumos sua poesia: ainda em 1922 publica "Epigramas irônicos e sentimentais"; dois anos depois, é vez de "Toda a América". Nesta última obra percebe-se que o poeta está sob forte influência de Walt Whitman, pois seus versos agora são amplos e com ritmo livre.

Em 1924, dirigiu a Seção dos Negócios Políticos e Diplomáticos na Europa. Durante a gestão de Félix Pacheco, esteve no México, como hóspede de honra daquele governo.

Em 1926, foi oficial de gabinete do ministro Otávio Mangabeira. Exerceu cargos diplomáticos de relevância, servindo na Embaixada de Paris, com o embaixador Sousa Dantas, por dois anos, e depois em Haia (Países Baixos).

Foi secretário da Presidência da República, cargo que ocupava quando morreu. Em concurso realizado pelo Diário de Notícias, em 1935, foi eleito Príncipe dos Prosadores Brasileiros, em substituição a Coelho Neto. Colaborou, com destaque, em O Jornal. Casou com Leilah Accioly de Carvalho, com quem teve quatro filhos.

Ronaldo de Carvalho falece a 15 de fevereiro de 1935, no Rio de Janeiro, vítima de um acidente de automóvel, ocorrido em 19 de janeiro

No campo da literatura, além de poesia, Ronald de Carvalho dedicou-se aos ensaios, à crítica literária, e aos estudos de história da literatura.

Obras
Luz Gloriosa (1913)
Pequena História da Literatura Brasileira (1919)
Poemas e Sonetos (1919)
Epigramas Irônicos e Sentimentais (1922... )
Espelho de Ariel (1923), crítica literária
Toda a América (1926)

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/
http://www.mundocultural.com.br/

Mehmet Murat İldan (16 Maio 1965)

(tradução José Feldman)

Dramaturgo e novelista contemporâneo turco, Mehmet Murat Ildan nasceu no dia 16 de maio, em Elazig, na parte Oriental da Turquia. Devido a ocupação do pai dele, continuou os estudos em Ankara. Em 1982, o diploma de escola secundária, obtendo o primeiro lugar no Ankara Private Yenisehir College . Ele passou um ano na Escola Preparatória Inglesa em Ankara (na Universidade Técnica do Oriente Médio - METU). Então em 1983, fez cursos do Departamento de Eletrônica como um estudante de tempo integral em Gaziantep METU Campus.

Em 1988, obteve grau de bacharelado em Economia com "Certificado de Honra" (na METU). No mesmo ano, obteve também uma Bolsa de estudos do Ministério de Educação do Governo turco para mestre e doutores em Economia da União Européia. Em 1989, ele passou 8 meses em um Curso de francês Intensivo, em Vichy, na França. Em 1990, fez cursos na área de finanças como um estudante de tempo integral na Universidade Louis-Pasteur (ULP) na Estrasburgo-França. No mesmo ano, ocupou cursos avançados em inglês durante 6 meses, ao Centro de Cambridge para Idiomas em Cambridge - a Inglaterra.

Ele obteve o grau de Mestre de Artes em Economias da Universidade de Essex, na Inglaterra em 1991. Em 1994, enquanto fazia o doutorado, fez o serviço militar na Turquia. Em 1997, foi premiado como Doutor de grau de Filosofia em Economias pela Universidade de Essex..

CARREIRA LITERÁRIA

A carreira literária dele começara em 1993 com um livro de poesia chamada Bright Candles (Velas Luminosas); foi escrito em inglês na Inglaterra e publicou na Turquia em 1995. Em 1997, um poema deste livro foi publicado na antologia de poesias Georgian Blue Poetry Anthology . Entre os anos 1993 - 1998, não escreveu nada; escreveu apenas alguns artigos políticos num jornal turco. Em 1998, escreveu histórias durante 6 meses. Em 1999, ele abandonou a ocupação de economia. Ele trabalhou como um tradutor no Turkish Daily News somente durante um dia. Do ano 2000 em diante, se dedicou a literatura, tornando-se um escritor profissional.

Publicou 7 peças teatrais e 25 histórias. Os romances " Diário do Antiquário Arago", " Rosas debaixo de Paris " e “As Primeiras Tristezas do Jovem Werther ” e seu livro "Amantes da Ilha de Samos", também foram publicados. Duas de suas peças teatrais , Galileo Galilei & o Diário de Emmanuel Arago, foram aceitos para o repertório do Turkish State National Theatre. Também, a peça "Olhos Mágicos", a "Profecia do Mendigo" e o "Diário de Emmanuel Arago" foram incluídos no repertório no repertório do Istanbul City Theatre. Seis de suas peças foram traduzidas para o inglês por Yurdanur Salman, lingüista famoso em Istanbul. Sua peça "Os Olhos Mágicos" foi publicada na revista literária Absinthe - New European Writing, nos Estados UNidos. O escritor é sócio da "Associação de Dramaturgos" em Istanbul; "Associação de Autores Turcos (AA)" em Ankara; Associação Profissional de Trabalhos Científicos e Literários", em Istanbul; e " International P.E.N, Turkish P.E.N Association" em Istanbul.

PRÊMIOS

Sua peça "Olhos Mágicos" adquiririu o "Melhor Prêmio de Peça Teatral" em Istanbul Kadiköy Municipality National Playwriting Competition, em 2000. A mesma peça ganhou o " Melhor Prêmio de Enredo" em Istanbul Maltepe University 2004 Interuniversity Theatre Competition. Outra peça, "a Profecia do Mendigo", se tornou um finalista em " AQT 2005 Vancouver Canada International Playwriting Competition. Sua história "A Mosca Doméstica" obteve o segundo melhor lugar em Samim Kocagöz National Story Competition. Suas histórias: a Arca de Noé, Ponte Férroviária, Perseguição e Raça Infinita foram consideradas dignas de louvor e publicadas em " ZOKEV Ahmet Naim Çiladir National Story Competition

Trabalhos Publicados

Peças de Teatro
– Ghosts of Forest, 2000
– Sakyamuni, 2000
– Eyes of Magic, 2000
– Galileo Galilei, 2001
– Beggar's Prophecy, 2001.
– Mohandas Karamchand Gandhi, 2002.
– William Shakespeare, 2002.

Outros:
– Antiquary Arago's Diary, 2005 (novela).
– Roses underneath Paris, 2006 (novela).
– Lovers of Samos Island, 2006 (romance)
– The First Sorrows of Young Werther, 2007 (novela).

Fonte:
http://muratildan.webs.com/cv.htm

Julián Gustems (Era uma vez)


Era uma vez uma princesa muito feia.

Era uma vez um príncipe muito formoso.

A princesa era esperta como a fome.

O príncipe era grosseiro como um urso.

Vocês pensaram que o príncipe e a princesa se conheceram e se amaram. Pensaram que uma princesa tão esperta pudesse conquistar um príncipe tão grosseiro. Vocês pensaram, também, que uma bela e difícil história de amor impediu a bela união. Poderão pensar também que os dois estavam feitos um para o outro. Que a beleza do príncipe compensaria a feiúra da princesa. Ou que a feiúra da princesa se refletiria na beleza do príncipe. Também pensaram que o casamento de semelhantes príncipes ia ser o acontecimento do século, e que a imprensa, o rádio, a televisão iriam brigar pela notícia. Porque se comentava que assim seria. Pois não se deu assim. O formoso príncipe, ao que parece, não é tão idiota para unir seu destino a uma princesa tão pouca favorecida. Não que ela, tão esperta, não houvesse pressentido que um marido tão formoso fosse permanecer casado por mais de dois dias.

Que triste destino se a princesa e o príncipe se enamorassem!

Não seria mais normal que a princesa fosse bela e o príncipe feio?

Por que sou um escritor tão afastado da normalidade? Que me custaria fazer feliz um casal de príncipes tão notáveis? Uns dizem que sou vingativo e que não tenho coração. Porém não creio que assim seja. Na verdade, me sobra sinceridade. E sou realis¬ta. E é por isso que tenho deixado que os príncipes andem aos trancos, sem se encontrarem.

Fonte:
Conto extraído do livro Un poco de locura y otros temas, Barcelona, Espanha, 1997, em tradução de Nilto Maciel.
http://www.jornaldepoesia.jor.br/juliangustems1.html

Nilto Maciel (Pode me chamar de anjo mau)



– Vamos, Gabriel, que a assembléia já deve ter começado.

– Sim, vamos logo, Rafael.

E saíram, quase a correr.

No salão, todos se voltaram para a porta principal, ao perceberem a chegada dos retardatários. Os da mesa também reprovaram, com olhos duros, o atraso dos dois congressistas, que sentaram-se nas últimas cadeiras e se puseram a ouvir o orador.

– Estranho! – murmurou Rafael.

– O orador ou o ambiente?

– Tudo. Você não percebeu nada, Gabriel? Para mim entramos pela porta errada, ou estou ficando louco.

O orador se inflamava, a platéia aplaudia, ficava de pé, enquanto Gabriel e Rafael cochichavam, sentados.

– Se isto não for a assembléia dos anjos maus, dou minha cara a bofete – dizia Rafael.

– Que anjos maus, que nada! Vamos ouvir a fala do orador.

Rafael irritava-se cada vez mais e só faltava gritar. Haviam sido enganados, sim senhor, ludibriados.

– Cala a boca – aconselhava Gabriel.

– Como calar a boca, seu idiota? Não vê a cara de todos, os gestos, as feições dessa gente? Ou está cego? Repare bem: são anjos maus. Sim, são diabos. Não tenho a menor dúvida.

– Que importam as feições, os gestos, as aparências, meu caro Rafael?

– Você se esquece de que o Belo independe dos nossos sentidos. Se analisarmos a fundo uma forma que à primeira vista nos parece bela ou feia, veremos quão débeis somos, quão pobre é nossa percepção. Seremos capazes então de encontrar a Verdade e descobrir o Belo naquilo que nos pareceu Feio, e vice-versa.

– Então está a concordar comigo: esses anjos são maus para você, que os vê apenas pelos sentidos, superficialmente...

Rafael sorriu, deu uma palmadinha na coxa do companheiro.

– Eu já esperava por essa conclusão sua. Porém cabe a mim mesmo concluir meu pensamento. Antes, quero dar meus parabéns a você. Muito inteligente! Seu raciocínio está corretíssimo.

Gabriel franziu a testa e olhou espantado para seu interlocutor.

– Dá-se que você inverteu tudo. Quem está se deixando levar pelas aparências não sou eu. Você ainda os vê como anjos bons porque não tem senso crítico ou se contaminou da primeira impressão ou da “certeza” trazida de casa de que estávamos entre anjos bons.

Entusiasmado com as próprias palavras, Rafael gesticulava, elevava o tom da voz, como se fosse ele quem devesse ser ouvido pela platéia. E já quase todos os congressistas se mostravam irritados, a reclamar, pedir silêncio. O próprio presidente da mesa interrompeu o orador e quis saber o que ocorria.

Rafael levantou-se e, cheio de gestos, pôs-se a bradar:

– Fomos enganados, vocês nos ludibriaram.

– Queira explicar-se, companheiro – pediu o presidente.

– Pois digo que caímos na arapuca e estamos entre os malditos anjos maus.

A platéia toda se agitou, aos gritos, apupos, vaias.

O presidente pediu calma. Desejava explicar aos presentes e especialmente aos retardatários um mal-entendido.

– Todos sabem, exceção talvez desses dois jovens, da realização deste congresso de anjos maus, como diz a propaganda oficial. Mas quem somos e o que fazemos? Somos aqueles que durante séculos e séculos vimos combatendo os tais anjos bons, os chamados anjos da guarda ou anjos custódios. Combatemos esses lobos vestidos de cordeiros e, até a sua total destruição, nossa luta permanecerá. Sim, temos garras em vez de mãos e braços fortes em vez de asinhas. Inventamos e usamos armas as mais terríveis. Porque a necessidade da guerra impôs-nos essa fisionomia e esse modo de agir. Somos os derrubadores de impérios e, por isso, anjos maus. E eles, os anjos bons, os de asinhas e rostos infantis, o que são? Andorinhas a voar no espaço da metafísica e aves de rapina que bicam e matam às escondidas seus semelhantes.

Rafael, caído na cadeira, espumava de ódio e viam-se as garras por detrás de suas asas apontadas para o pescoço de Gabriel, que aplaudia o presidente, cheio de sorrisos.

– Na essência, Rafael, não nos enganamos. Pode me chamar de anjo mau.

Fontes
http://www.jornaldepoesia.jor.br/nilto6.html
Imagem = http://acertodecontas.blog.br/

Eunice Arruda (Divagações ao Sabor das Ondas)


PROPÓSITO

Viver pouco mas
viver muito
Ser todo o pensamento
Toda a esperança
Toda a alegria
ou angústia — mas ser

Nunca morrer
enquanto viver
G G G G G G G G G G

OUTRA DÚVIDA

Não sei se é
amor

ou

minha vida que pede
socorro

De Invenções do Desespero (1973)
G G G G G G G G G G

ERRO

Edifiquei minha
casa sobre a
areia

Todo dia recomeço

De As Pessoas, As Palavras (1976)
G G G G G G G G G G

OBSERVANDO

sim

as horas de trégua

Quando se afiam
as facas
G G G G G G G G G G

UM DIA

um dia eu
morrerei
de sol, de
vida acumulada
na convulsão
das ruas

um dia eu
morrerei e
não
podia:

há poemas
escorregando de meus dedos
e um vinho não
provado

De Os Momentos (1981)
G G G G G G G G G G

DEUS E O DOMINGO

Eu ia ser feliz
domingo
naquele tempo bastava pouco
Não sabia que no
domingo
é fácil chover
e muito difícil viver
Ah, eu ia ser feliz
Mas
domingo Deus descansa
e a gente sofre mais

De O Chão Batido (1963)
G G G G G G G G G G

ENGANO

afinal
construímos prédios
casas jardins rosas
desabrocharam
trêmulas, afinal fomos
submissos às ocupações do dia
às estações do ano
à rotação da terra

Pensávamos ser esta a nossa pátria
G G G G G G G G G G

RISCO

Um poema livre
da gramática, do som
das palavras
livre
de traços

Um poema irmão
de outros poemas
que bebem a correnteza
e brilham
pedras ao sol

Um poema
sem o gosto
de minha boca
livre da marca
de dentes em seu dorso
Um poema nascido
nas esquinas nos muros
com palavras pobres
com palavras podres
e
que de tão livre

traga em si a decisão
de ser escrito ou não

De Risco (1998)
G G G G G G G G G G

GEOGRAFIA

estar em
algum lugar

sempre

deixar o
corpo
posto
em algum lugar

porto
onde voltar

(do livro “OS MOMENTOS” – l981)
G G G G G G G G G G

TRANSFORMAÇÃO

Anjo
dá guarda

Eu estou atravessando

Também me empresta
de tuas asas
o vôo

Que eu chegue a nenhum lugar
G G G G G G G G G G

TAREFA

cabe agora
morrer o corpo

dia a
dia ir

me desacostumando
do rosto
que eu chamava
meu

(do livro “RISCO” – 1988)
G G G G G G G G G G

SACIEDADE BIOGRÁFICA

Tenho andado sem pés
voado sem asas
Sou um sonho espalhado

Os rios recebem minhas cartas
com freqüência
facas me apontam o coração

O que poderia dizer
(os pássaros já cantaram)
o que poderia amar
(os amantes se suicidaram)

Os assassinos conhecem o meu nome

(do livro “RISCO” – l988)
G G G G G G G G G G

NOTÍCIAS

As crianças morrem

Em piscinas
lagoas
no centro da cidade
O corte na testa
barrigas inchadas
costas afundadas

As crianças
elas também nos abandonam

(do livro “MUDANÇA DE LUA” – l986)
G G G G G G G G G G

UM VISITANTE

Quem escreve
é
um visitante

Chega nas horas da noite
e toma o lugar do
sono
Chega à mesa do almoço
come a minha fome

Escreve
o que eu nem supunha
Assina o meu nome

(Mudança de lua, 1986)
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Fontes
– Carlos Machado. Poesia.net – numero 172 ano 4 – São Paulo, 19 julho 2006. Disponível em http://www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet172.htm
– Jornal de Poesia. http://www.jornaldepoesia.jor.br/ea.html
– Blog da Eunice Arruda. http://poetaeunicearruda.blogspot.com/

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Trova I

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Fontes:
XAVIER, Francisco Cândido. Humorismo no Além.
Montagem em cima da imagem da http://picasaweb.google.com/

August Strindberg (O Sonho)



Drama

Em abril de 1907, O Sonho foi encenado pela primeira vez.

A peça começou a ser escrita no outono de 1901, quando Strindberg casou-se com Harried Bosse. Pouco tempo depois Harried o abandonou, levando consigo o sonho da felicidade matrimonial. Sofrendo sozinho por quarenta dias, Strindberg concluiu que a vida é uma ilusão na qual se é incapaz de realizar os sonhos. A peça foi concluída no final desse mesmo ano.

O título, A Dream Play, traduzido como O Sonho também pode ser entendido como “Uma Peça de Sonho” ou “Uma peça que sonhei”, isto é, o drama que o autor idealizou. Strindberg, inclusive, refere-se à obra como “minha peça mais querida, filha de minha melhor dor”.

O tema inicial da peça girava em torno da história de um homem que esperava por sua noiva num teatro. A espera era em vão, pois ela nunca chegaria. O foco, porém, passou para o que antes era apenas um “sub-enredo”: a personagem principal agora era a filha de Indra, que veio à terra para compartilhar as agonias da existência humana.

O Sonho é talvez o primeiro drama a conter o universo onírico como realidade, como gênero em si. Peças tradicionais já haviam incorporado cenas ilustrando sonhos ou pesadelos, mas nenhuma se baseou inteiramente nisso. Deste modo, Strindberg abandonou a percepção convencional de tempo e espaço. Segundo suas próprias palavras, “o autor atentou para a figura inconseqüente do sonho. Tudo pode acontecer, tudo é possível e provável. Tempo e lugar não existem; numa base insignificante de realidade, a imaginação gira, modelando novos padrões; há a mistura de memórias, experiências, livres fantasias, incongrutitudes e improvisações. As personagens se duplicam, se multiplicam, se separam, evaporam, condensam, dispersam, reúnem. Mas uma percepção governa sobre todas elas : para o sonhador não há segredos, escrúpulos, leis. O sonho não absolve ou justifica condenações, somente as relata. Tal como no sonho é mais freqüente o sofrimento que a felicidade, esse conto bruxuleante é acompanhado de uma dose de melancolia e compaixão por todos os seres humanos.” À frente de seu tempo, Strindberg baseava-se em filosofias orientais para justificar sua crença de que o mundo é apenas ilusão.

Estreando “O sonho” no teatro, o autor fez algumas anotações em seu diário. De acordo com elas, “o amor é um pecado e sua dor é o melhor inferno que existe. Se o mundo existe, existe através do pecado (do amor, das relações carnais, de Maya), e por isso é apenas um sonho, uma ilusão. Assim se justifica a minha peça do sonho (“my dream play”) ser uma fotografia da vida. Esse mundo, o sonho, é um fantasma cuja destruição é a missão dos ascetas (aqueles que negaram a carne e vivem do espírito). Mas tal missão entra em conflito com o instinto do amor, que oscila entre a sensualidade e o sofrimento trazido pelo remorso (a culpa cristã que também se instalou nos ascetas). Isso me parece a resposta para o enigma da vida... Todo dia eu leio o Budismo.”.

Fonte:
http://www.opalco.com.br

August Strindberg (22 Janeiro 1849 – 14 Maio 1912)


Johan August Strindberg (22 de janeiro de 1849 - 14 de maio de 1912), pintor, escritor e dramaturgo sueco, é autor, entre outros, de O Pelicano. Figura ao lado de Henrik Ibsen, Søren Kierkegaard e Hans Christian Andersen como o maior escritor escandinavo. É um dos pais do teatro moderno. Seus trabalhos são classificados como pertencentes os movimentos literários Naturalismo e Expressionismo.

August Strindberg nasceu em Estocolmo, em 22 de janeiro de 1849, terceiro filho do mercador Carl Strindberg e sua ex-empregada doméstica, Ulrika Norling. Sua infância foi pobre e sua mãe morreu quando ele tinha treze anos. Era um garoto sensível e, ao mesmo tempo rebelde, nunca tendo se ajustado nas escolas que frequentou.

Frequentou a Universidade de Uppsala. Estudou na Universidade de Uppsala, de onde saiu após um semestre. Nessa época, acometido de uma forte depressão, decidiu matar-se em seu pequeno apartamento ingerindo uma pílula de ópio. Não morreu e acordou numa profusão de memórias infantis, de onde obteve em apenas algumas horas sua primeira peça. Foi nomeado em 1874 bibliotecário da Real Biblioteca de Estocolmo o que lhe permitiu assegurar o seu futuro econômico e tentou a vida também como jornalista.

As suas primeiras peças teatrais denotam influências de Ibsen e Kierkegaard e aí transparece uma personalidade amarga e torturada: O Livre Pensador (1869), Hermion (1869), O Mestre Olof (1872), A Viagem de Pedro Afortunado (1882) e A Mulher do Cavaleiro Bent (1882). Sua primeira peça importante, Mestre Olof, de 1872, é um drama sobre a revolta contra as convenções sociais e todos os tipos de poder.

O Quarto Vermelho (1879), uma novela, foi sua estréia no mundo literário, como o primeiro romance naturalista da literatura sueca, com a ajuda de sua primeira esposa, com quem se casou em 1877, a Baronesa Siri von Essen, que estava grávida de sete meses. Este filho, porém, não vingou, mas o casal teve mais três filhos: Karin, Greta e o menino Hans.

As alucinações, visões e neuroses que tem no decorrer da vida não prejudicam sua criatividade, mas dificultam seus relacionamentos.

Casa-se e divorcia-se três vezes. O fracasso do seu primeiro matrimônio com Siri von Essen (1877-1891) deu à sua obra um tom misógino, que está patente, em especial nos contos de Esposos (1884). Revela rancor contra as mulheres em várias peças, especialmente em O Pai (1887), Camaradas (1897) e Senhorita Júlia (1899).

Em 1886, Strindberg termina sua novela biográfica, O Filho de um Empregado (The Son of a Servant). Nessa época, Strindberg escreveu "Miss Julie", enquanto vivia na Dinamarca. Essa peça foi encenada em 1889, com sua esposa no papel principal, o que "coincidentemente" acabou com o casamento dos dois após 12 anos de convivência. Escreveu também "Em Defesa de um Louco", em que descreve seu primeiro casamento.

Strindberg muda-se para a Europa Central, vivendo em diversas cidades, convivendo com seus amigos Edvard Munch e Gaughin e acabando por conhecer Frieda Uhl, uma jovem austríaca com quem veio a se casar e divorciar em apenas um ano.

Começa, então, seu período chamado Inferno, em que se interessa por ocultismo e alquimia e lê o filósofo Swedenborg. Nesse período escreve as novelas "Inferno" e "Lendas". O Inferno não dura muito e Strindberg volta para a Suécia em 1897 onde termina, em 1898, a peça "Para Damasco", precursora do teatro expressionista, que influencia inúmeros dramaturgos alemães. Nessa época, iniciou um diário, o "Diário Oculto", que manteve até 1908 e é uma das melhores fontes para se entender o autor e seu trabalho.

No Diário, ele descreve sua relação com sua terceira esposa, Harried Bosse, com quem teve um filho, descasou-se e tornou-se seu amante. Desse divórcio resultou, em parte, sua obra prima expressionista: a peça "O Sonho" (A Dream Play), escrita em 1901.

Finalmente, livrou-se de Bosse e de seu diário oculto e mudou-se para um apartamento onde teve um período muito produtivo, do ponto de vista artístico, tendo escrito as peças "Páscoa" e "A Dança da Morte", esta última uma obra primas do simbolismo.

Morreu de câncer em Maio de 1912 e em seu túmulo há a singela expressão latina O CRUX AVE SPES UNICA (Salve Ó Cruz, Nossa única Esperança)

Fontes
http://www.algosobre.com.br/
http://pt.wikipedia.org/
http://www.opalco.com.br/

Ondjaki (A libélula)

[palavras para o dr. carvalho]

se destas pedras uma
anunciasse
o que a faz silêncio:
aqui, muito perto,
[...] isso se abriria, como ferida
em que terias de mergulhar
Paul Celan, A Força da Luz

Um som fluido abandonava a casa, roçava na poeira das trepadeiras no jardim, influenciava as mangas e os mamões no seu processo de maturação, arrepiava uma libélula inebriada que ali adormecera, fazia o sol abrandar e chegava, ainda forte, ainda nítido, ao ouvido da mulher. Depois disto, um sorriso.

Na aparelhagem o som acontecia contínuo, ininterrupto. O doutor solidificara este hábito domingueiro: sentar-se no fresco da sua varanda ouvindo durante extensos momentos a voz de Adriana Calcanhoto. Ora dormitava, ora lia, ora escrevia, ora se quedava simplesmente de olhos rasgados contemplando as nuvens gordas azularem o céu. Para ele não se tratava de beatificar um domingo, mas sim a própria paz. Aliás, «domingo» era, para o doutor, uma palavra muito interna. Fosse um poço.

Pressentindo isto - que o doutor se apresentava em pleno estado de domingo -, a mulher hesitou. Encostou a testa ao ferro do portão e quis acreditar no impossível: que não tinha sede. A testa latejava; os olhos se queriam, de facto, fechar, olvidar o mundo, cessar a prestação dos serviços visuais. O frio do portão trouxe-lhe agrado aos dedos, ao coração também. E a música invadia-lhe os poros. Então, aí sim, ela dividiu uma sensação com o doutor. Ele, no mesmo instante pensava: esta voz, sim, pode ser dividida. A voz de Adriana, empurrando a tarde: “será que a gente é louca, ou lúcida... quando quer que tudo vire música...”

No intervalo de voz, a libélula decidiu acordar, mover-se em zum-zum aberto, e aterrisar junto aos apontamentos do doutor. Rabiscos, memórias recusadas, esquebras de horas mais sensíveis que escusava aceitar como suas. “Eu perco o chão, eu não acho as palavras” - e a libélula conseguiu acordá-lo. Há anos que acertara as contas com os animais e se apaziguara numa relação equilibrada com eles. Mantinha uma relação ainda conflituosa com as baratas e os sardões, mas já não era homem para matar. Em vez disso, usava sorrir. Não raras vezes, pela manhã, sentia saudades de ver correr olongos como vira lá longe, na infância, na província do Namibe; também por vezes, na praia, encontrando cavalos suados se detinha, de olhos a quererem fechar, saboreando o odor forte a pêlo de cavalo suado. Se feliz ou em vésperas de viajar, sonhava com borboletas brancas ou ligeiramente amarelas, e não procurava interpretar o sonhado. Há anos que fizeras as pazes com os animais, incluindo a espécie dengosa dos gatos, à qual ele mesmo infligira uma baixa mortal. Os gatos, essencialmente os gatos, reaproximaram-no dos bichos.

Foi depois da libélula que reparou na mulher encostada ao seu portão, de olhos fechados, pareceu-lhe, a ouvir a música de Adriana,

“Tenho por princípios nunca fechar portas, mas... como mantê-las abertas, o tempo todo...”

Descruzou as pernas; lentamente as desceu da outra cadeira, enfiou as sandálias. Andando, mirava o ar tranquilo da libélula caminhando sobre as suas letras, sobre o cheiro da sua tinta 971 violet. Era tinta um tanto pegajosa, exigia mesmo um ritmo acelerado de escrita pois, em contacto com o ar, era veloz em solidificar. Mas a libélula não é um inseto curioso, o doutor sabia, ela não chegaria ao frasco, não beberia. Um degrau, dois. Está junto ao portão e a mulher, ao contrário do que ele desejava, não abriu os olhos. Mas falou.

- Desculpe interrompê-lo...

Nem foi susto nem foi coisa de se descrever. Simplesmente o doutor não contava com aquela noção de proximidade. Ela sentira-o?

- Reconheço o cheiro da tinta... O senhor escreve com uma pena?

- Não... Isto é... Sim, é uma espécie de pena...

O portão estava destrancado. Ele fez menção de o abrir, ela abriu os olhos, afastou-se ligeiramente das grades.

- Desculpe interrompê-lo, mas estou com muita sede - ela, talvez esperando que o doutor, num qualquer comentário, revelasse se desculpava ou não a intromissão, se se sentira incomodado ao ponto de alterar o seu humor.

O portão foi aberto pela mão certeira do doutor, enquanto a outra executava um gesto afável que a elucidou. Aquele homem não era facilmente perturbável. “Lá mesmo esqueci que o destino, sempre me quis só...”

- Água ou refrigerante? - o doutor.

- Água, por favor.

A mulher viu a libélula ali parada. Tinha a cor demasiado viva para estar morta ou embalsamada, mas era totalmente imune ao vento que balançava as folhas de papel. Aproximou-se da mesa sem se sentar - a mulher. Por curiosidade olhou as letras sobre o branco, não no intuito de ler a composição, mas pelo hábito de apreciação da estética ortográfica masculina. Era, viu depois, uma «espécie de pena», como lhe dissera o doutor, a que havia produzido aqueles gatafunhos encantadores. Não resistiu e chegou a mão perto: parecia cristal.

- É de vidro. Vidro mesmo. Não é bonita?

- Muito... É uma pena muito especial.

A água, num copo normal, chegou-lhe às mãos. O doutor entretanto pousou o jarro semigasto num lado longínquo da mesa, sem perturbar a libélula. Fez menção para que a mulher se sentasse.

- Obrigado... O senhor deve estranhar, não?

- Estranhar?

- Pedirem-lhe água... Já ninguém toca às campainhas para pedir água, não é?

- É... A senhora não é de cá, pois não?

- Não.

A mulher serviu-se novamente. Bebia devagar, como convinha.

- Contava uma avó minha que, certa ocasião, em Silva Porto, um senhor lhe entrou pela casa a dentro cheio de sede e lhe pediu água. Minha avó voltou à sala com um jarro de água muito fresca e assistiu-o beber três copos de água de seguida, sem parar.

- Foi?

- Foi. O senhor só teve tempo de lhe devolver o jarro, pois o copo partiu-se enquanto ele tombava no chão. Morreu ali mesmo, sabe? Desde então a minha avó vivia a contar esta estória, de resto, verdadeira, pois foi-me confirmada pelo meu avô.

- Não me assuste...

- Não foi para assustá-la, desculpe.

- E o que lhe disse o seu avô?

- Sabe, o meu avô era um homem de invulgar humor e sensibilidade. Em criança confirmou-me toda a estória e por fim disse-me: esse homem nem agradeceu a água à tua avó.

A mulher pousou o copo, respirou fundo.

- Sabe porquê que pedi água aqui na sua casa?

- Não.

- Por causa da música... Esta voz tão doce.

- Adriana.

- Como?

- Adriana Calcanhoto, cantora brasileira.

- É poeta?

- Também.

- Não... O senhor. O senhor é poeta?

- Ahn, eu! Não, sou médico. E a senhora?

- Eu estou cá de férias.

A libélula progrediu no terreno, finalmente mexeu-se, mas andando.

Nas expressões de ambos era visível o espanto, como duas crianças que atentas e boquiabertas assistissem, de repente, ao movimento gracioso de uma pedra. A libélula caminhou em direção ao objeto. Num breve sacudir de asas saltou e voltou a estar quieta - uma guerreira demarcando o território conquistado. “E a greve entre as estrelas só para mim”, a cantora progride na varanda, na tarde.

O objeto era uma redoma de vidro, certamente cara, que protegia uma pedra minúscula, cinzenta, banal. Uma pedra pequenina, era o máximo que se poderia dizer. Nem graciosa, nem curiosa, nem mesmo exótica ou atraente. Era uma pedra brutalmente vulgar. A instalação, contudo, valorizava a pedra.

- Julgo que o valor dessa pedra não pode ser medido pela sua aparência. É assim?

- É muito assim, sim.

- Mas esta redoma parece muito bem trabalhada...

O doutor, num gesto resoluto, abanou a libélula. (Uma surpresa para a mulher e para a libélula). O inseto voltou a pousar sobre as letras. A pedra e a sua redoma foram arremessadas ao chão. A mulher não teve tempo de invocar um susto. O objeto bateu ruidosamente no chão por duas vezes e, após rolar alguns centímetros, terminou a digressão. O doutor pegou no objeto e voltou a pousá-lo sobre a mesa, ao pé das letras, dos papéis, da libélula. O inseto, num breve aspergir de asas, realcançou o seu posto.

- Esta redoma é muito boa para proteger objetos valiosos.

A mulher voltou a sentir sede mas não quis incomodar.

- Uma oferta?

- Sim, uma oferta muito especial, muito sincera.

- Os médicos recebem muitas ofertas?

- Algumas, é uma maneira das pessoas expressarem carinho e gratidão.

E calou-se.

A mulher não queria partir mas julgou estar a forçar o momento. O doutor mantivera-se calado por mais de cinco minutos. À mulher pareceu justo que fosse sua a iniciativa de partir. A música parecia terminar e, a voz, era uma voz difícil de recordar no ouvido da memória.

- Adriana, disse?

- Adriana Calcanhoto. Brasileira.

- Muito obrigada pela água.

- De nada. Já sabe, beba sempre devagar...

- E agradeço antes de morrer!

O doutor quase sorriu. Os lábios contorceram-se; apenas uma tentação de sorriso. Talvez, só talvez.

O portão foi aberto. A mulher, pegando propositadamente nas grades reconheceu a sensação daquela frieza na pele.

- Sabe, foi num domingo. Fui chamado à frente de combate e ninguém queria operar o homem: tinha uma espécie de explosivo preso à perna. Era uma operação muito delicada, ainda hoje penso nisso, não deve ter sido coragem... Tive que fazer tudo muito devagar, enquanto o homem sofria com as dores, e ambos tínhamos que ser pacientes. Quase no fim, o soldado disse-me: deixa-me morrer, estou muito cansado já. Eu respondi: já te deixo morrer, mas deixa-me salvar-te primeiro.

- Ele morreu?

- Não. A operação correu bem. Ele, no fim, quis dar-me uma prenda. E não tinha nada. Descalçou a bota e disse: agora já sei porquê que a filha da puta desta pedra anda a me incomodar há dois dias. Toma lá, doutor, só pra não esquecermos esta nossa conversa de hoje. Você ficas com a pedra, eu fico com a cicatriz.

O portão fechou-se. A sede tinha passado. A mulher foi caminhando lentamente pelo passeio. Ouviu passos e a música recomeçou. “Minha música quer estar além do gosto, não quer ter rosto, não quer ser cultura.”

Entre duas folhas acastanhadas - numa janela de poeira - a mulher viu: a libélula, parada, ondulava o corpo. Fosse uma dança. Sob as suas patas, a pedra brutalmente vulgar repousava - entre a memória do homem e a redoma inquebrantável de vidro.
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ONDJAKI nasceu em Luanda, em 1977. Interessa-se pela interpretação teatral e pela pintura (duas exposições individuais, em Angola e no Brasil). Já em Lisboa, fez teatro amador durante dois anos e um curso profissional de interpretação teatral. No ano 2000 recebeu uma menção honrosa no prêmio António Jacinto (Angola) pelo livro de poesia actu sanguíneu. Participou em antologias internacionais (Brasil e Uruguai) e também numa antologia portuguesa. É membro da União dos Escritores Angolanos. É licenciado em Sociologia. Publicou "Actu Sanguíneu" (poesia, 200), "Momentos de aqui", (contos, 2001), "O Assobiador" (novela, 2002), "Há Prendisajens com o Xão" (poesia, 2003), "Bom Dia Camaradas" (romance, 2003), "Ynari, a menina das cinco tranças" (infanto-juvenil, 2003) e "Quantas Madrugadas Tem a Noite" (romance, 2004).

Fontes:
http://www.bestiario.com.br
Imagem =
http://www.baixaki.com.br