domingo, 15 de novembro de 2009

Clério José Borges de Sant´Anna (1950)



Historiador, Escritor, Poeta Trovador Capixaba

Clério José Borges nasceu em 15 de setembro de 1950, em Aribiri, Vila Velha, ES. Formou-se Técnico de Contabilidade.

É Escrivão de Polícia Civil desde 28 de março de 1975, tendo recebido as Medalhas de Bronze, Prata e Ouro, por 30 anos de serviços prestados a Polícia Civil do Estado do Espírito Santo.

Fundou e foi o primeiro presidente da Academia de Letras e Artes da Serra, na cidade de mesmo nome, no Estado do Espírito Santo.

É também fundador e primeiro Presidente do CTC – Clube dos Trovadores Capixabas, entidade cultural fundada em 1º de Julho de 1980.

Membro do Clube Baiano da Trova, fundado por Rodolfo Coelho Cavalcante. Destacado ativista dos meios literários e trovistas, foi, inclusive, fundador da FEBET - Federação Brasileira de Entidades Trovistas, junto com o Escritor Paranaense Eno Theodoro Wanke e o Trovador Baiano, Rodolfo Coelho Cavalcante.

Detém diversas honrarias, entre elas a designação de Cavaleiro, concedida por sua Majestade Pascal I, III do Bósforo.

É membro da Real Ordem do Mérito de São Bartolomeu, concedida por Sua Majestade Theodore I. R. da Bithynia e Lydua, Duke de Umbros; Cavaleiro e Comendador Honorário da Ordem Ka-Huna do Poder Mental.

Já obteve inúmeras premiações em concursos de poesia.

Palestrador emérito sobre trovismo, já atuou em quase todo o território nacional.

Escreve contos infantis, que já foram publicados no jornal A Gazetinha.

Acadêmico imortal da Academia de Letras e Artes da Serra, ALEAS e da Academia de Letras Humberto de Campos de Vila Velha, ES.

Academico Correspondente da Academia Cachoeirense de Letras, de Cachoeiro de Itapemirim, ES e da Academia Petropolitana de Letras de Petrópolis, RJ.

Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas, ALCEAR

Sociedade de Cultura Latina, do Brasil (São Paulo), SCL.

Em 1987 foi eleito "Membre d´Honneur" do CLUB DES INTELLECTUELS FRANÇAIS, Paris, França.

Como jornalista, já trabalhou nos jornais A Tribuna e O Diário, de Vitória, ES.

Também atuou como professor nos Colégios: Agenor de Souza Lee, de Vila Velha; Comercial Brasil de Cobilândia; Instituto Educacional Rio Doce, de Santo Antônio; Colégio Clóvis Borges Miguel, da Serra e Instituto de Educação, da Praia de Santa Helena, em Vitória.

Foi Conselheiro Titular do Conselho Estadual de Cultura do Espírito Santo, durante cinco anos, de 04/01/1989 a 18/02/1993, onde foi eleito e atuou como Secretário e Vice-presidente do CEC-ES.

Após 18/02/1993 e até o ano 2000, passou a pertencer à Câmara de Literatura do referido Conselho, CEC-ES.

Editou o jornal alternativo Beija-flor e o Jornal dos Trovadores.

Organizou os "Seminários Nacionais da Trova", realizados anualmente em Julho, de 1981 ao ano 2000, no Espírito Santo.

Organizou os Congressos Brasileiros de Trovadores, em 2001 e 2002 em Domingos Martins;
Em 2003, no Distrito de Nova Almeida, Serra; Em 2005, novamente em Nova Almeida;

Em 2006 ajudou na organização do Congresso na Ilha de Paquetá, RJ e em 2007, organizou o Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores, na Serra Sede.

Desde 12 de Junho de 1996 é Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, fundado em 12 de junho de 1916.

Fundou em 1986, com Zedânove Tavares e Emanuel Barcellos, o Jornal de Vila Velha.

Morador da Serra, ES, desde 1979 e Cidadão Serrano desde 1994.

Desde 2004 é Senador da Cultura, pela Sociedade de Cultura Latina, do Brasil (São Paulo).

OBRAS EM PROSA

HISTÓRIA DA SERRA - Duas Edições do Livro que conta a história da Colonização da Cidade da Serra, no Estado do Espírito Santo.

POETAS E ESCRITORES DA SERRA - Trabalho de Pesquisa reunindo cerca de 130 Poetas e Escritores nascidos ou residente no Município da Serra, no Estado do Espírito Santo.

ORIGEM CAPIXABA DA TROVA - Livro que conta a história do Movimento em torno da Trova no Espírito Santo desde 1889.Lançado no dia 03 de Outubro de 2007, na Casa do Congo Mestre Antônio Rosa, na Serra Sede, um dia antes da abertura solene do V Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores, realizado na Serra Sede, de 04 a 07/10/2007.

LIVROS DE CLÉRIO JOSÉ BORGES

1 – “HISTÓRIA DA SERRA”. Livro que relata a colonização da Serra. A 1ª Edição (Capa azul) é de 1998. A 2ª Edição (Capa amarela) foi lançada em 2003, com 242 páginas.

2 - O TROVISMO CAPIXABA. Livro que relata a “História da Trova Capixaba”. Editora Codpoe, (RJ), em 1990, com 82 p. Capa do Artista Plástico Licurgo. Esgotado.

3 - ALVOR POÉTICO, Livro individual de Poesias e Trovas. João Scortecci Editora, (SP), em 1996, com 52 p.

4 - "TROVADORES 87", Antologia de Trovas organizada por Clério Borges e Antônio Soares. Edições Caravela, 1987 - 2º Volume. Com 124 p. Esgotado.

5 - "O MELHOR DOS MELHORES", Trovas de vários Trovadores. Lançado em 1987. Coleção Capixaba. Editora: Edições Caravela, RS. Esgotado.

6 - "TROVADORES BRASILEIROS DA ATUALIDADE", Obra lançada durante o V Seminário Nacional da Trova em 1985. Edições Caravela. Com 112 p. Esgotado.

7 - "TROVADORES DOS SEMINÁRIOS NACIONAIS DA TROVA", Antologia de Trovas, organizada por Clério e Santa Inéze da Rocha. Edições Caravela, 1985, com 64 p. Capa de Licurgo. Esgotado.

8 - "O VAMPIRO LOBISOMEM DE JACARAÍPE". Livro de Cordel com 8 páginas. Folclore Capixaba. Edição do CTC, de 2004 - 2005.

9 - "SERRA EM PROSA E VERSOS – POETAS E ESCRITORES DA SERRA". Livro lançado no dia 15/09/2006, na Câmara Municipal, com a presença de mais de 300 pessoas, durante a Sessão Solene do Dia do Historiador Serrano, proposta pelo Vereador João de Deus Corrêa, o Tio João.

10 – “HISTÓRIA DA TROVA - ORIGEM DA TROVA CAPIXABA”.

11 - "ORIGEM CAPIXABA DA TROVA" - Livro com 106 páginas, lançado na Casa do Congo "Mestre Antônio Rosa", no dia 03 de Outubro de 2007, um dia antes da solenidade de abertura do V Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores e da Sessão Solene comemorativa do Dia Municipal do Poeta Trovador, comemorado na Câmara Municipal da Serra.

Participou das antologias:
– Trovadores Brasileiros da Atualidade, 1985;
– Trovadores, 1986-87;
– Mil Trovas de Amor e Saudade, 1984;
– Trovas da Constituinte, 1987;
– Brasil Trovador, 1987;
– Trovas sobre o Mar, 1988;
– Anais do Primeiro Encontro Nacional de Trovadores de Petrópolis, 1989;
– Escritores e Escritoras do Século XXI, 1994.

Fonte:
http://www.clerioborges.com.br/biografia2008.html

Escola do Escritor em São Paulo


Chega a você a oportunidade de se tornar um escritor ou aperfeiçoar seus talentos literários. A Escola do Escritor, uma célula literária dos Parceiros do Livro, pode direcionar a realização desse sonho.

Se você é sócio da UBE, aproveite os descontos promocionais. Veja os cursos no site da Escola do Escritor.

CURSOS E PALESTRAS JÁ REALIZADOS PELA ESCOLA DO ESCRITOR

- Segredos para despertar a sua criatividade
Docente: Armando Alexandre dos Santos

- Oficina intensiva de poesia
Docente: Izacyl Guimarães Ferreira

- CINETEVÊ - A dramaturgia na tela do computador: oficina de criação e escrita para TV e cinema
Docente: Felipe Moreno

- A Relação Autor-Editora: caminhos para uma parceria de sucesso
Docente: Soraia Bini Cury

- O que é e como posso usar uma assessoria de imprensa? - noções de marketing editorial
Docente: Vanusa Santos

- A estrutura do conto e a criação do personagem
Docente: Betty Vidigal

- Escreva e Publique seu Livro
Docentes: João Scortecci e Maria Esther Mendes Perfetti

- Práticas Editoriais e o Livro Didático:
múltiplo interlocutores
Docente: Roberta Lombardi Martins

- O Direito Autoral na Cadeia de Produção Editorial
Docente: Sintia Mattar

ESCOLA DO ESCRITOR
R. Deputado Lacerda Franco, 165 - Pinheiros
CEP 05418-000 - São Paulo - SP
Tel/Fax: (11) 3034-2981
escola@escoladoescritor.com.br

Fonte:
União Brasileira dos Escritores

Notícias Em Tempo



União Brasileira dos Escritores (UBE)

Solenidade de Entrega do Troféu Juca Pato para Lygia Fagundes Telles

A União Brasileira de Escritores convida os associados para a solenidade de entrega do Troféu Juca Pato - Prêmio Intelectual à escritora Lygia Fagundes Telles, que acontecerá no dia 30 de novembro de 2009, às 18 horas, segunda-feira, no auditório da Faculdade de Direito da USP, Largo de São Francisco, 95, em São Paulo. Antonio Candido, eleito no ano anterior, fará a entrega do Troféu à laureada. O evento contará com o apoio da Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Direito da USP. Após a cerimônia será servido um coquetel aos convidados. Confirmar presença através do e-mail secretaria@ube.org.br

Izacyl Guimarães Ferreira lança sua Antologia Poética

No dia 07 de dezembro de 2009, segunda-feira, às 18 horas, na Livraria Asabeça, que fica na Rua Dep. Lacerda Franco 187, Pinheiros, CEP 05418-000, São Paulo, SP, telefone (11) 3031-3956, Izacyl Guimarães Ferreira estará lançando sua Antologia Poética, uma seleção feita por muitos amigos e críticos leitores, dos 16 livros que publicou entre 1953 e 2008. No dia 10 de dezembro de 2009, quinta-feira, às 17:30, o lançamento acontece na Academia Brasileira de Letras, na Av. Presidente Wilson 203, Castelo, CEP 20030-021, Rio de Janeiro, telefone (21) 3974-2500. A antologia tem selo Topbooks.

Jantar de Confraternização de Final de Ano

A União Brasileira de Escritores promoverá o seu tradicional jantar de confraternização de final de ano aos associados no dia 15 de dezembro de 2009, a partir das 19 horas, no Restaurante Bovinus, Av. Paulista, 735, no Club Homs, em São Paulo. O jantar é por adesão, no valor de R$ 29,80 por pessoa, que inclui pratos quentes, saladas e sobremesas. Bebidas serão cobradas separadamente. Os associados interessados, que também poderão levar amigos e familiares, deverão entrar em contato com a secretaria administrativa para fazer a reserva. E-mail: secretaria@ube.org.br . Tels.: (11) 3231-4447 e 3231-3669.

Diego Sabádo

Diego Sabádo, escritor paraense, lançará 6 escritos sobre o 'Eu' e uns poucos poemas, na VIII Feira Pan-Amazônica do Livro, Feira do Livro - Hangar, no Estande dos Escritores Paraenses, no dia 14 de novembro de 2009, sábado, às 10 horas, R$ 20,00. Diego é membro da União Brasileira de Escritores, filósofo e teatrólogo. A obra aborda de forma poética, a temática filosófica da subjetividade e da individualidade.

Antologia ENCONTRO PONTUAL

Estão abertas as inscrições para a Antologia de Poesias, Contos e Crônicas ENCONTRO PONTUAL especial para a 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo – 2010. Serão 50 vagas ou até 250 páginas ou data limite de 31 de maio de 2010, o que completar ou atingir primeiro. Inscrições http://www.scortecci.com.br/formulario.php?id=189

Finalista na categoria Contos e Crônicas do Prêmio Jabuti 2009

Lucília Junqueira de Almeida Prado (autora da Scortecci) acaba de ter a obra de nome Cheiro de Terra - Contos Fazendeiros, selecionada entre os 10 (dez) Melhores do Ano de 2009, categoria Contos e Crônicas, do Prêmio Jabuti, mais badalado prêmio literário brasileiro, organizado anualmente pela Câmara Brasileira do Livro.

CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO (CBL)

Vencedores dos melhores livros do ano

“Gostaria de mencionar a CBL que consolidou este prêmio como Oscar literário”. Com estas palavras, Moacyr Scliar, autor do romance “Manual da Paixão Solitária” (Cia. das letras), agradeceu no palco da Sala São Paulo a conquista do Prêmio Jabuti de melhor livro do ano de ficção, anunciado no fim da cerimônia.

O Prêmio Jabuti de melhor livro do ano de não-ficção ficou com a obra “Monteiro Lobato: Livro a Livro” (Unesp/Imprensa Oficial), de Marisa Lajolo e João Luís Ceccantini. Após receber a premiação, Lajolo destacou a importância da láurea e o reconhecimento dado à pesquisa acadêmica – a obra trata do trabalho do grande autor brasileiro, realizando discussões sobre linguagem e práticas editorias. Este prêmio foi entregue pelo presidente da Reed Exhibitions Alcantara Machado, Juan Pablo De Vera.

Na cerimônia, foi feita ainda a entrega do 51ª Prêmio Jabuti aos três ganhadores (primeiro, segundo e terceiro lugares) em cada uma das 21 categorias do concurso — confira a lista completa no site http://www.cbl.org.br/jabuti/telas/resultado/

Fontes:
Câmara Brasileira do Livro (CBL)
União Brasileira dos Escritores (UBE)

Gilmar Cardoso (A Verdadeira Origem do Carneiro no Buraco)


Esta história começou já se vai quase um século. Eu mesmo confesso que desconhecia a verdadeira origem do prato típico do Município de Campo Mourão-PR, até colidir meu carro em outro onde viajavam dois nobres anciãos: o Tenente Soares e seu fiel escudeiro Benevides, ambos na casa dos seus noventa anos, bem vividos, diga-se de passagem. Isto aconteceu no ano passado no litoral do Estado de Santa Catarina, durante as férias mais controvertidas que já tive.

Quebrei vários ossos, mas não corri risco de morte, ao contrário dos velhinhos. Ficamos os três em uma só enfermaria, e como não podia ser de outra forma, conversávamos, ou seja, entre os “ais” de dor, falávamos sobre os mais diversos assuntos, até mesmo sobre o Carneiro no Buraco e a história de que ambos presenciaram a primeira vez que essa iguaria foi consumida.

Abre aspas: Viajava nossa caravana em busca da Água da Fonte de São João Maria de Jesus, que segundo se sabia, ficava cerca de doze léguas a oeste do povoado de Campos do Mourão num lugarejo batizado por Pinhalão. – disse o oficial. Vínhamos da já frondosa Guarapuava, a qual era matrona de toda essa região, cujo percurso fazíamos em lombos de mulas. Se me lembro bem, o Zizinho e o Cacique vinham a pé. Um burro forte carregava a cozinha, que era composta dos víveres, uma chaleira de ferro para esquentar a água do chimarrão, talheres de pau, e um tacho de cobre com tampa. A água carregávamos nas cabaças.

Estávamos já há muitos dias andando por uma estrada conhecida como Caminho Pisado, uma antiga via que possuía cerca de oito palmos de largura, uma profundidade de 0,40cm e forrado por gramíneas que impediam o crescimento do mato. Esse histórico ramal era popularmente conhecido como caminho das tropas ou Peabiru; e naquele tempo ainda era bem delineado.

Nossas provisões estavam no fim, assim como a pólvora. Sem comida e sem jeito para caçar, a situação começou a ficar insustentável. Mas Deus nunca havia sido tão generoso para conosco como naquele dia.

Num final de tarde, Zizinho e o Cacique afastaram-se um pouco do acampamento para ver se encontravam alguns frutos que se pudesse amenizar a fome. Mas adivinha o que encontraram? Dois carneiros gordos!

Um deles eles conseguiram pegar. E como bons mateiros que eram, o trouxeram destripado ao acampamento. O animal pesou cerca de 30 quilos, depois de limpo e cortado em pedaços. — Não deixa o animal balir, meu pai dizia que dá azar e é sinal de que o próximo a morrer é você! — ouvia-se por ali como influência da cultura popular.

O japonês, nosso mestre-cuca, ativou o fogo, juntou tudo o que restava da dispensa: tomate, cebola, batata doce, batata salsa, chuchu, abobrinha, cenoura, vagem, pimentão, mandioca e maçã; e foi logo botando tudo para cozinhar no tacho de cobre com tampa.

Chegava o crepúsculo daquele dia distante. Estávamos todos ansiosos para saborear o cozido, que naquele instante começava a ferver. Mas a alegria do pobre dura pouco, e não demorou mais um minuto que ouvimos tiros, seguidos por berros: “ladrões de carneiro, vou cobri-los de chumbo!”

Mais do que depressa Zizinho, Cacique e o Japonês trataram de se livrar dos vestígios do animal roubado. A opção foi o buraco deixado pelo tronco de um pé de jaracatiá apodrecido. Nele colocaram o tacho, juntamente com o material incandescente: brasas vivas do nó de pinho; e depois o cobriram com a terra de um cupinzeiro abandonado que havia nas imediações. Além disso, cobriram também a terra removida com folhas para não gerar nenhuma suspeita de que ali havia um jantar sendo preparado.

De repente apareceu no acampamento um homem baixinho, tez clara e nariz afilado. Trazia às costas uma enorme espingarda, cuja boca do cano ainda saía um pouco de fumaça. Fedia mais que as mulas.

De véspera, olhou para uma botija que havia sobre os arreios, e foi logo perguntando se era vinho. Eu disse que era e ele poderia bebê-lo todo se pudesse.

Nem precisei insistir. Não demorou nem meia hora e o baixinho estava mais bêbado que gambá de alambique. Falando mole ele dizia que os carneiros não sobreviveriam mesmo naquelas condições. A bicharada iria comê-los mais dia, menos dia.

Não demos o braço a torcer nos entregando de que havíamos surrupiado o animal, talvez fosse uma estratégia do tal baixinho.

Escureceu profundamente. A fome aumentava e nosso convidado não ia embora.

Lá pela meia noite ele adormeceu. Podíamos até desenterrar o tacho se quiséssemos, pois naquelas condições o homem da espingarda não iria perceber, já que dormia sua total embriaguez.

Num verdadeiro ritual, aos poucos fomos retirando as folhas que estavam sobre o buraco em que havíamos colocado o tacho, até o descobrir totalmente. Enquanto isso os outros estavam a acender um novo fogo que de fato serviria para terminar de cozinhar o carneiro, nossa única opção do jantar daquele dia.

Mas tão grande fora a surpresa quando o japonês retirou a tampa do tacho, o carneiro estava totalmente cozido, tenro, macio e delicioso!

Não sabíamos, mas naquela noite nascia uma iguaria exótica. Nossa viagem terminou e por muitas outras vezes cozinhamos carneiros daquele modo, só que juntando a ele outros temperos, tais como: pimenta do reino, alho, ajinomoto, cebolinha, salsinha, vinagre de vinho, óleo e sal.

Certa ocasião, na década de 60, eu estava em São Paulo e como você já percebeu, gosto de contar histórias e contei essa passagem a um grupo de americanos. Alguns anos depois fiquei sabendo que eram eles cineastas e que até utilizaram minha receita num daqueles filmes de bang-bang.

Naquele instante percebi que Benevides estava muito quieto e o chamei por várias vezes. Ele não respondeu. Havia morrido enquanto seu companheiro me contava a história.

No dia seguinte o Tenente já não tinha mais forças, falava entre longas pausas já com voz sumida. Mas antes que desse o último suspiro, chamou-me para perto de si e disse: “você pode ter duvidado da história que lhe contei, mas se quiser saber certeza, pergunte ao falecido Nereu e o finado Deodato, eles também estavam lá”. Fecha aspas.

Essa foi a história que o valente tropeiro militar Tenente Soares me contou, antes de ter o corpo encomendado por um padre coadjutor de Guarapuava, da Congregação do Verbo Divino, que lhe aspergiu água benta sob o “olhar” vigilante da imagem de São José, que adornava o oratório daquele hospital. Ao longe soou um berrante...

Fonte:
Conto de abertura do livro "Enquanto conto, encanto o conto" - contos, lendas e rumores, Organizado pela Fundaçao Cultural de Campo Mourao.1ª. ed. Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná, 2004. v. 5000. 100 p.
Imagem = montagem de José Feldman

sábado, 14 de novembro de 2009

Jean-Pierre Bayard (História das Lendas) Parte VII



CAPÍTULO II

D. JUAN

Possuir pelo espírito ou possuir pelo corpo são os dois desejos insaciáveis e eternos do homem. Fausto luta com os problemas do conhecimento. D. Juan procura enlaçar a beleza e se inebria no furor sensual. Mas esse “benfeitor inesgotável de todas as mulheres”, como é denominado por A. Saurès, persegue um ideal inacessível; luta com Deus e submete-se finalmente à sua lei comungando no Amor supremo.

D. Juan representa nossa tentação, nosso desejo repudiado; herói da força de sedução, essa criatura audaciosa, nobre e cavalheiresca, cínica é odiada mas secretamente admirada. É que sob os andrajos D. Juan permanece um grande Senhor; não é um espadachim e sua paixão, que poderia ter sido vil, o aureola.

Seu instinto de revolta faz com que entre em conflito com instituições existentes. D. Juan nasceu num clima quente e sensual, no estrondear das frutas maduras e odorantes, mas sob o controle da inquisição aos dogmas rigorosos que proscreviam a liberdade do amor:

L’oeuvre de la chair ne désireras
Qu’en mariage seulement.(2)

Apesar de Bernard Shaw ser de opinião que D. Juan continua “um crente fervoroso num inferno último e de que se arrisca à excomunhão, é que o inferno lhe parece tão distante que o arrependimento pode ser diferido até o momento em que se tiver saciado de prazeres” (Man and superman) o povo não pode admitir a excomunhão desse homem excepcional. D. Juan reconcilia-se com Deus; e depois da lenda de D. Juan Tenório — que morre excomungado — aparece D. Juan Mañara.

1. — Os dois D. Juan

Depois de haver sido o símbolo da força maligna anti-social; o individualista D. Juan Tenório transforma-se na figura idealista de D. Juan Mañara, vítima das realidades físicas de nossa sociedade. Escravo do nosso mundo, verá seus erros perdoados por saber arrepender-se; é o símbolo do sofrimento e da luta.

Prosper Mérimée mostrou em Les âmes du Purgatoire (As almas do Purgatório) que as duas lendas eram contadas da mesma forma; entretanto, Tenório foi levado pela estátua de pedra enquanto que o Mañara salvou-se. A Igreja manda um epílogo moralista e quanto mais perverso é o personagem, mais a conversão será retumbante. Bemard Shaw denomina-a “moral monástica”. Albert Camus admite que esse refúgio em Deus “é o confinamento de uma vida totalmente penetrada de absurdidade”; “o prazer termina aqui em ascese”,

No decorrer de sua longa existência D. Juan se purificou.

Romântico, persegue a imagem de uma beleza feminina, é um amante místico que vai do desencantamento ao desespero. É um Werther que, pelas suas preocupações intelectuais, liga-se a Fausto.

2. — D. Juan e Fausto

D. Juan e Fausto são dois revoltados que se insurgem contra os princípios da sociedade e da Igreja. Esses orgulhosos — serão excomungados — porque ultrapassam os limites impostos por Deus. A aproximação desses dois peregrinos, de um absoluto inacessível, foi materializada por Nicolas Vogt no seu poema Les ruines des-bords du Rhin (As ruínas das margens do Reno). O paralelo foi admiravelmente tratado por Micheline Sauvage em Le cas Don Juan (Le Seuil, 1953), onde “Fausto é a inteligência de Don Juan, Don Juan o erotismo de Fausto”; Albert Camus: Le mythe de Sisyphe (O mito de Sisifo) é de opinião que Fausto não sabia alegrar a sua alma enquanto que a vida cumulava D. Juan, que sabia organizar sua saciedade.

3. — Os personagens históricos

Essa criação imortal começa com D. Juan Tenório. Tirso de Molina, que foi o primeiro a divulgar o tipo em, aproximadamente, 1627, deve ter conhecido obras literárias anteriores. Uma crônica de Sevilha fixa Tenório matando o Comendador cuja filha havia raptado e a armadilha dos frades franciscanos; este teria sido mandado por uma estátua subitamente animada. Fez-se de Tenório o filho do almirante Alonso Jofre Tenório, contemporâneo de Pedro, o Cruel.

Conhecemos melhor D. Miguel Mañara. Nascido em Sevilha no dia 3 de março de 1627, casou-se no dia 31 de agosto de 1648, após uma juventude dissipada; ao falecer sua esposa, em 1662, ingressou na confraria “la Hermandad de la Caridad”; no cargo de irmão maior, faleceu em 1679 em odor de santidade; quiseram beatificá-lo.

Barres: Du sang, de la volupté et de la mort (Do sangue, da volúpia e da morte), Théophile Goutier (Voyage en Espagne, XIV), t’Serstevens (Le nouvel itinéraire espagnol, Segep, 1951), nos descrevem a última morada desse personagem lendário. A partir do quadro de Valdês Leal, Montherlant (revista N. R. F. de janeiro de 1953) vê na vida de D. Juan uma contínua blasfêmia; o que contrariaria os propósitos do Padre jesuíta Jean de Cardenas, amigo de D. Juan Mañara. Lorenzi de Bradi estabeleceu a origem corsa desse erradio do amor, cujo tio habitava ainda em Calvi, em 1643; foi dessa forma que pelos Cinarca, Napoleão foi parente dos D. Miguel.

4. — Origem literária

Se Georges Gendarme de Bévotte escreveu um livro notável, La Légende de Don Juan (Hachette, 1906 e 1910), Lorenzi de Bradi (Don Juan - 1930), pensa no sedutor com Zeus, “esse deus devasso, incestuoso, adúltero”, Plutão o raptor de almas e de corpos ou Prometeu.

A silhueta do personagem não é nova: aparece no Amadis de Gaula (1492), nas comédias de Calderón e principalmente nas de Lope de Vega, aproximadamente em 1598.

Tirso de Molina (1627), porém, extrai desse contemporâneo do Cid e de D. Quixote o máximo de força. Seu herói vindicativo tem respostas breves; sua atitude é digna e de uma calma intrépida diante da estátua animada; essa grandeza o reabilita. O aspecto singelo desse drama dá-lhe um sabor extraordinário. No Le truand béatifié (O truão beatificado), de Cervantes, Cristobal de Lugo morre em odor de santidade; com Mira de Amescua: L’esclave du démon (O escravo do demônio), D. Gil vende sua alma ao diabo a fim de possuir uma freira: enlaça apenas um esqueleto e seu pavor o reconduz a Deus.

5. — Os outros temas do assunto

Esse drama religioso, no qual a doutrina de Lutero e da predestinação suscita a dúvida, comporta também o tema do convite de um morto à mesa de um vivo. O assunto se encontra em peças escritas nos colégios de jesuítas alemães nos séculos XVII e XVIII: um libertino, o conde Leôncio, esbarrando com uma cabeça de morto, convida-a para jantar; o misterioso hóspede aceita o convite e leva o anfitrião para o inferno. Bévotte observa que a lenda teria nascido na Itália, o que é confirmado por Simone Brouwer. As estátuas animadas são freqüentemente usadas: Aristóteles nota o assassínio de Mitis pela estátua da vitória (Poética, XI, 6), Crisóstomo e Pausânias (Voyage en Grèce, 6, XI - Viagem à Grécia) observam que um invejoso é esmagado pela estátua erguida ao atleta Teógenes de Tasos; o escultor Pigmalião enamora-se de sua estátua que será animada por Vênus.

Eckhardt (Corpus historiarum, Leipzig, 1723) menciona o texto de um cronista do século X referido por Gauthier de Coinsi em sua Chronique rimée des miracles de la Vierge (Crônica animada dos milagres da Virgem): “Du Clerc qui mis l’anel au doi Nostre Dame”. Notemos ainda Cicognini com La statue de l’honneur (A estátua do homem). Shakespeare e o Conte d’hiver (Conto de inverno) e a Vênus d’Ille de Prosper Mérimée.

6. — De Tirso de Molina a Molière

Depois da obra humana de Tirso de Molina, a peça espanhola é traduzida conforme o gosto italiano, por Cicognini, Giliberto; cenas burlescas e até vulgares foram acrescentadas por Biancolelli. Dorimon interpreta Le festin de Pierre, em Lião (1658), Villiers no palácio de Borgonha, em 1659. Ao título Le convié de Pierre, preferiu-se algumas vezes Le festin de Pierre, sendo Pedro o prenome do Comendador que deu origem ao contra-senso atual. Molière imagina, no Palais Royal, em 15 de fevereiro de 1665, essa notável peça que só será impressa em 1682. Seu ateísmo revolta os bons costumes e a peça é condenada. Com dois novos personagens, Sganarelle — mordomo jovial e de bom senso — e dona Elvira — vítima inocente — D. Juan é um cético de idéias engenhosas. Calculista, perversa, hipócrita e facciosa, essa peça é na realidade uma pintura dos costumes da época.

7. — Superabundância literária

Cada autor retomaria esse tema, a fim de nele se introduzir, em folhetos impressos. Depois de Rosimond (1669), La Fontaine trata do personagem ao escrever Joconde ou l’infidélité des femmes (Joconda ou a infidelidade das mulheres). D. Juan passa para o teatro de fantoches, nas feiras de Saint-Laurent e Saint-Germain e o Almanach forain de 1777, organiza uma lista.

Cokain introduz D. Juan na Inglaterra e Shadwell transforma-o em um monstro: La libertine. (1676) (A libertina). Byron escreve um longo poema inacabado no qual o herói se deixa conduzir pelo destino. Em Clarisse Harlowe, de Richardson (1751), Lovelace é uma criatura complicada que tem o gênio do mal. Choderlos de Laclos aproveita essa mesma segurança diabólica no prazer da corrupção: Les liaisons dangereuses (Ligações perigosas - 1782), mas nessa luz cruel onde todos os recursos da astúcia são orquestrados, Valmont aparece mais perverso do que D. Juan.

O abade italiano Lorenzo da Ponte introduz episódios da sua vida em Don Giovanni; Mozart aproveita esse texto, enquanto que Balzac cria L’elixir de longue vie (O elixir da longa vida).

Do personagem humano de Puchkin (1830), Musset faz apenas um ente quimérico (Les marrons du feu, 1829, Namouna, 1832; Une matinée de Don Juan). Em 1833, Lélia, de George Sand, ataca D. Juan que é por ela reabilitado em 1839. Mérimée (Les âmes du Purgatoire, 1834 - As almas do Purgatório), Blaze (Le souper chez de commander - 1834), inspiram-se em Mañara, enquanto que La chute d’un ange (A queda de um anjo), de Alexandre Dumas, é um drama desconcertante. D. Juan continua demoníaco em Albertus, (1831), Comédie de la mort, (1838) de Th. Gautier.

Se a maioria dos dramas é pueril, Baudelaire compõe um poema surpreendente, Don Juan aux enfers (D. Juan nos infernos), que evoca talvez Delacroix (1846, Les fleurs du mal - As flores do mal). Depois dessa síntese vigorosa, D. Juan é novamente desiludido com Lenau (1851), Tolstói (1860). Flaubert lembrou-se dele numa peça inacabada (Une nuit de Don Juan), enquanto que Barbey d’Aurevilly, fê-lo contar “seu mais belo amor” nos Diaboliques (Diabólicos); Henri Bataille também evocou esse personagem na velhice (L’homme à la rose - O homem da rosa). Richepin obriga o sedutor entediado a amar apenas mulheres bonitas: Mille et quatre, inconnue (Mil e quatro, desconhecida). H. de Régnier, Ed. Rostand trazem poucas inovações. Bemard Shaw produz uma obra de fé sobre esse motivo: Man and superman (1901-1903) (Homem e super-homem); Miguel Mañara de O. V. de Milosz é humano e comovente; foi escrito depois de Les sept solitudes (As sete solitudes) Scenes pour Don Juan et l’amoureuse initiation (Cenas para D. Juan e a amorosa iniciação). L’homme de cendres (1949) (0 homem feito de cinza) de André Obey é também Le fruit de Don Juan (1934) (O fruto de D. Juan) e do Trompeur de Séville (1937) (O impostor de Sevilha); mas após esse homem da negação, eis o “assassínio do amor” por Delteil (Grasset, 1930); é um fraco vencido pela mulher. Depois deste estilo imperioso e colorido, Claude-André Puget propõe-se dois fins em Echec à Don Juan (1941 e 1953), (Malogro de D. Juan), obra brilhante e cavalheiresca. Para t’Serstevens, La légende de Don Juan (1924 e 1946) (A lenda de D. Juan), ele é o judeu errante do amor. Esta vibração da carne encerra-se com êxtase, enquanto que para Fernand Fleuret: Les derniers plaisirs, (1924) (Os últimos prazeres), Mañara morre como um libertino.

8. — Os representantes de D. Juan

Além dos personagens históricos de Tenório — e Mañara, muitos outros sedutores tornaram-se representantes desse herói. Ocorre-nos imediatamente a lembrança de Alexandre com o seu harém de trezentas e sessenta e cinco mulheres, renovado todos os anos ou a de Júlio César, o sedutor inescrupuloso. Mencionemos ainda Henrique II de Montmorency, Nero, Francisco I, Luís XIV, Henrique IV (Le Vert Galant). Temos ainda Lauzun, o duque de Richelieu e a vida galante da Regência. Depois de Lázaro vêm as vidas tumultuosas de Santo Inácio de Loiola, de Calderón ou do terrível espadachim Lope de Vega. Sade, por sua obscenidade doentia, sua perversão sexual dificilmente se assemelha a esse voluptuoso que não pagava as mulheres como o fazia Casanova; D. Juan não teria admitido as astúcias de Charpillon que se assemelham às da Conchita imaginadas por Louys: La femme et le pantin (A mulher e o títere). Nicolas Rétif La Bretonne também se assemelha mais a Casanova do que a D. Juan.

9. — Conclusão

D. Juan encarna a paixão humana, pertence a todos os países, a todas as épocas. Está na base de nossa literatura: é o René de Chateaubriand, o Steerforth de David Copperfield, L’egoiste (O egoísta) de Meredith, o Woodstock de W. Scott; aparece ainda na obra de Montherlant, Stendhal, Maupassant. Esse sedento de ideais integra-se na concepção de cada autor; é uma criação viva.

À satisfação física quer acrescentar a do espírito. Esse carrasco de corações, cortês e cavalheiresco, buscando a posse suprema, o amor absoluto, tende à santidade. Mas não deixou de ser essa criatura inconstante, cujos desejos insaciáveis e inesgotável curiosidade, permitiram-lhe mil e três aventuras, verdadeiras conquistas e não simples mercancias. Iluminado, peregrino do êxtase, judeu errante da volúpia, aventureiro que sonda corações e entranhas, traz no seu vício uma elegância nativa para transformar-se nesse frade arrependido.

Ao seu lado a estátua é altiva e marcial; o mordomo conselheiro, tímido, hesitante entre seus escrúpulos e seu interesse; Dona Enviar — ou Dona Ana — é pura.

O drama de D. Juan com seu espírito revoltado denuncia uma crise literária e religiosa. Mito de riqueza incomparável, é um universo com a condição do homem, sua dualidade, seu drama da carne e do espírito. Ainda por muito tempo nos encantará.
-------------
continua...
-------------
Fonte:
BAYARD, Jean-Pierre. História das Lendas. (Tradução: Jeanne Marillier). Ed. Ridendo Castigat Mores

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Trova LXIX (Neide Rocha Portugal - Bandeirantes/PR)

Fonte:
Montagem do quadro e da trova sobre as imagens obtidas nos blogs http://aventurasdavidacomum.blogspot.com/ e http://vidadebebado.blogspot.com/

Antonio Brás Constante (Como Nasce Uma Nova Crônica?)



Como nasce uma nova crônica? Muitas vezes, é necessária apenas uma conversa casual com um colega de serviço, durante uma breve subida de elevador. Claro que isso dependeria primeiramente do tipo de assunto discutido, pois teria que ser algo interessante. Outro fator determinante é o de que ao menos um dos presentes precisará ser algum tipo de aprendiz de escritor, ou coisa parecida (Guima: valeu pela idéia e pelo papo).

Essas conversas tendem a ser rápidas, e para virarem um texto têm que ter em seu conteúdo frases mais profundas do que os costumeiros: “bom dia”, “será que chove hoje?”, ou “o sexto-andar para mim, por favor”. Nestes encontros pode-se falar de qualquer assunto (geralmente corriqueiro), como por exemplo: os jogos de futebol, as musas que encantam nossos olhos, as mudanças de estação, quedas em geral (de cabelos, de aviões, de crianças, etc), ou diálogos feitos por ministros de grandes estatais de petróleo, quando estes resolvem tecer comentários “informais”, falando sobre possíveis descobertas de gigantescas jazidas do chamado “ouro negro” em território nacional, enaltecendo que tal fato tornaria seu país um dos primeiros produtores de petróleo do mundo.

Podemos imaginar que não faltarão aqueles que perceberiam comentários liberados desta forma, sobre descobertas de mega-jazidas, como não sendo informações inocentes e sem propósito, frutos de uma exacerbada empolgação pela possibilidade de ter sido encontrado algo que traria benefícios a toda nação, gerando divisas, movimentando a economia, etc. Mas quem poderá garantir que eles estão errados em suas suspeitas?

Se levarmos em conta a teoria da conspiração, inerente a todo ser humano que sobe em elevadores ou não, e que resolve não falar de futebol ou de belas musas, mas sim de comentários sobre descobertas mirabolantes, as idéias começam a voar mais longe do que padres atados a balões, atravessando as paredes dessas gaiolas de aço, presas por cabos cheios de graxa, passando a criar suposições fantásticas, onde tais atitudes poderiam ter um cunho mais financeiro do que patriota, já que o resultado imediato de pronunciamentos assim, seria a valorização de determinadas ações no mercado financeiro.

A imaginação é realmente algo incrível, pois consegue transformar lampejos que viajam por conexões neurais em cenários hipotéticos, onde homens engravatados e cheios de dinheiro reúnem-se para beber uísque importado, falar sobre futebol e musas inspiradoras, mas também aproveitam o encontro para planejar formas de manipular positivamente o preço de suas ações. Tudo feito com muita discrição, sorrisos e tapinhas nas costas.

Enfim, o que são meras suposições passageiras baseadas em vagas teorias, se não apenas fictícios universos paralelos, distantes deste nosso incrível e belo mundo perfeito, cujo máximo de realidade advindo destas elocubrações, não passa de um punhado de frases soltas em um pedaço de log ou de papel, moldadas pelas mãos de um pretenso escritor, que não bebe uísque, mas anda de elevador.

Fontes:
http://www.recantodasletras.com.br/autores/abrasc
Imagem = http://formulados.com.br

Martins Pena (1815 – 1848)



Martins Pena (Luís Carlos M. P.), teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 5 de novembro de 1815, e faleceu em Lisboa, Portugal, em 7 de dezembro de 1848. É o patrono da Cadeira n. 29, DA Academia Brasileira de Letras, por escolha do fundador Artur Azevedo.

Era filho de João Martins Pena e Francisca de Paula Julieta Pena. Órfão de pai com um ano de idade e de mãe aos dez, foi destinado pelos tutores à vida comercial. Completou o curso do comércio em 1835. Cedendo à vocação, passou a freqüentar a Academia de Belas Artes, onde estudou arquitetura, estatuária, desenho e música; simultaneamente estudava línguas, história, literatura e teatro. Em 1838, entrou para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, onde exerceu cargos, até chegar ao posto de adido à Legação do Brasil em Londres. Doente de tuberculose, e fugindo ao frio de Londres, veio a falecer em Lisboa, em trânsito para o Brasil.

De 1846 a 1847, fez crítica teatral como folhetinista do Jornal do Commercio. Seus textos foram reunidos em Folhetins. A semana lírica. Mas foi como teatrólogo a sua maior contribuição à literatura brasileira, em cuja história figura como o fundador da comédia de costumes. Desde O juiz de paz da roça, comédia em um ato, representada pela primeira vez, em 4 de outubro de 1838, no Teatro de São Pedro, até A barriga de meu tio, comédia burlesca em três atos, representada no mesmo teatro em 17 de dezembro de 1846, escreveu aproximadamente 30 peças, quase tantas obras quantos anos de idade, pois o autor tinha apenas 33 anos quando faleceu. O caráter geral de todas as suas peças é o da comédia de costumes. Dotado de singular veia cômica, escreveu comédias e farsas que encontraram, na metade do século XIX, um ambiente receptivo que favoreceu a sua popularidade. Envolvem sobretudo a gente da roça e do povo comum das cidades. Sua galeria de tipos, constituindo um retrato realista do Brasil na época, compreende: funcionários, meirinhos, juízes, malandros, matutos, estrangeiros, falsos cultos, profissionais da intriga social, em torno de casos de família, casamentos, heranças, dotes, dívidas, festas da roça e das cidades. Foi, assim, Martins Pena, quem imprimiu ao teatro brasileiro o cunho nacional, apontando os rumos e a tradição a serem explorados pelos teatrólogos que se seguiriam. A sua arte cênica ainda hoje é representada com êxito.

Algumas obras:
O juiz de paz da roça, comédia em 1 ato (representada em 1838);
A família e a festa na roça, comédia em 1 ato (representada em 1840);
O Judas em sábado de aleluia, comédia em 1 ato (representada em 1844);
O namorador ou A noite de São João, comédia em 1 ato (1845);
O noviço, comédia em 3 atos (1845);
O caixeiro da taverna, comédia em 1 ato (1845);
Quem casa quer casa, provérbio em 1 ato (1845); e diversas outras comédias e dramas.

SOBRE SUAS OBRAS

Embora tivesse escrito alguns dramas (todos de péssima qualidade), Martins Pena destacou-se por suas comédias, através das quais fundou o teatro nacional. A origem destas obras resulta de uma curiosa característica da época: normalmente após a apresentação de um drama, os espectadores assistiam a uma breve farsa, provinda da dramaturgia portuguesa, e cuja função era desopilar as emoções excessivas causadas pela peça principal. Favorecido pelo interesse de João Caetano, o mais famoso ator e encenador do período, Martins Pena percebeu que podia dar ao gênero um caráter brasileiro, introduzindo tipos, situações e costumes facilmente identificáveis pelo público do Rio de Janeiro.

Na verdade, a comédia de costumes (em geral, de um ato apenas) era a única espécie teatral que se adaptava às circunstâncias históricas do Brasil, na primeira metade do século XIX. A exemplo de Manuel Antônio de Almeida, uma espécie de seu discípulo no romance, Martins Pena intuiu que nem o drama, nem a tragédia se ajustariam ao universo que propunha retratar. Porque as elites imperiais, fossem as urbanas ou as do campo, careciam de maior complexidade social e humana, não permitindo a criação de textos psicológicos mais densos. Também as classes médias eram pobres em caracteres e dimensão histórica. Restavam apenas os escravos, estes sim participantes de um drama real e pungente. Só que quando apareciam representados nos palcos o eram unicamente como moleques de recados, amas de leite, etc. Ou seja, não havia outro caminho para o jovem teatrólogo senão a utilização do riso para registrar a sua época.

No conjunto, as comédias são superficiais e ingênuas, os tipos humanos são esboçados de forma primária e as tramas pecam, às vezes, pela falta de coerência e verossimilhança. Mesmo assim, estas peças apresentam tal vivacidade nas situações e no registro dos costumes e tamanha espontaneidade nos diálogos que ainda hoje ainda podem ser lidas ou assistidas com prazer.

TEMAS E SITUAÇÕES PRINCIPAIS

Algumas comédias são sátiras aos costumes rurais, revelando os hábitos curiosos, a fala simples e a extrema candura que delimitam os seres da roça. Estes são criaturas broncas e rústicas, ainda mais quando comparadas aos homens da capital, requintados e espertos. Porém os caipiras têm, com freqüência, melhor índole que os tipos da Corte. Até os pequenos corruptos, como o juiz de O juiz de paz na roça, não deixam de possuir uma certa inocência simpática.

Já as peças que focalizam a vida urbana efetivam, como observou Amália Costa, uma “leitura” irônica dos problemas da época: o casamento por interesse, a carestia, a exploração do sentimento religioso, a desonestidade dos comerciantes, a corrupção das autoridades públicas, o contrabando de escravos, a exploração do país por estrangeiros e o autoritarismo patriarcal, manifesto tanto na escolha de marido para as filhas quanto de profissão para os filhos.

Um tema dominante tanto nas comédias da roça quanto nas urbanas é o do amor contrariado. A maior parte das tramas cômicas gira em torno de jovens cujos desígnios amorosos ainda não se cumpriram. Como bem analisou Sábato Magaldi, tudo se origina do fato de os pais preferirem pretendentes velhos e ricos para seus filhos. Estes, ao contrário, crêem no amor sincero e desinteressado. Contudo, jamais um sopro trágico percorre tais paixões irrealizadas porque todas elas serão resolvidas positivamente, em clima da mais completa farsa, no final das peças. As situações são muitas parecidas (amor impossível pela má-fé de vilões – desmascaramento cômico dos empecilhos – final feliz). Pode-se afirmar que o casamento(ou pelo menos o namoro sério) constitui o epílogo mais comum destas comédias.

Martins Pena não teve seguidores diretos, exceção talvez a Artur Azevedo. Contudo, o teatro de costumes, um teatro semipopular, sem grandes pretensões estéticas, continuou existindo como única veia autêntica do palco nacional, no século passado.

O NOVIÇO

Uma das poucas peças de Martins Pena em três atos, O noviço gira em torno da pérfida ação de Ambrósio que se casa por interesse com Florência, rica viúva, mãe da jovem Emília, do menino Juca e tutora do sobrinho Carlos, este o personagem principal da peça O vilão Ambrósio já havia convencido a mulher a colocar Carlos (o noviço) em um seminário. Agora quer também internar Emília em um convento, pois ela se encontra em idade de casar e teria de receber um dote significativo da mãe. Igual destino aguarda o menino que deve se tornar frade. Assim, Ambrósio ficaria com toda a fortuna de Florência.

Carlos, no entanto, foge do convento e esconde-se na casa da tia, já que quer fazer carreira militar e, sobretudo, desposar a prima Emília, por quem está apaixonado. O acaso o ajuda na luta contra Ambrósio: vinda do Ceará, surge Rosa, a primeira mulher do vilão e da qual ele não se separara oficialmente. Rosa conta a Carlos que o seu marido desaparecera com todo o dinheiro que ela possuía.

O problema imediato de Carlos, porém, é livrar-se do Mestre dos Noviços que está atrás dele para reconduzi-lo ao convento. Em cena hilariante, aproveita-se da ingenuidade da mulher e troca de roupa com ela. Esta, em seguida, é encontrada pela autoridade religiosa com a batina do rapaz. Confundida com o noviço fugido, é remetida imediatamente ao seminário. Enquanto isso, Carlos, vestido de mulher, começa a ameaçar Ambrósio com a história de sua bigamia. Após inúmeras peripécias, o vilão é desmascarado diante da própria Florência, e os jovens Carlos e Emília ficam livres para o mútuo envolvimento amoroso.

OS DOIS OU O INGLÊS MAQUINISTA

Mariquinha e seu primo Felício se amam, mas como este é pobre não há possibilidade de casamento. A moça é cortejada por outros dois homens: Negreiro, um traficante de escravos, e Gainer, um inglês espertalhão. A crítica operada contra os dois personagens – ambos desejosos de obter a fortuna pessoal da jovem mediante o casamento – parece transcender à banalidade das tramas de Martins Pena. Funciona como metáfora da própria realidade nacional, dominada no plano econômico pelos traficantes e pelo capital inglês. À chegada do pai de Mariquinha, a quem todos julgavam morto, soma-se o conflito entre o inglês e o traficante (outra metáfora da história do Brasil da época?), permitindo a revelação dos caracteres degradados dos dois pretendentes. Assim, Mariquinha e o primo Felício podem efetivar a relação amorosa, como se o brasileiro simbolicamente tomasse posse da riqueza da nação.

Fontes:
http://www.biblio.com.br/
http://educaterra.terra.com.br/

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Sinclair Pozza Casemiro (Peregrinação)

Expedição pelo Caminho de Peabiru
Peregrinação no Caminho de Peabiru

Vejo a pedra que rola
Querendo ganhar o mundo
Sendo que foi feita pra ficar.
Vejo o barro que se prende nas rodas de um móvel,
Nos pés calçados ou não do caminhante, traindo seu destino de ficar.
Não sei se sabem que estão buscando além do que podem
E do que lhes foi destinado.
Mas sei que a pedra acaba indo longe
Nas construções, nas estradas asfaltadas…
O barro se espalha e se vai…
Sou peregrina que anda
Nos quilômetros deste chão de tantas cores,
De tantas formas, cheiros e marcas,
E estou presa na sua extensão, passo a passo.
Mas, como as pedras e o barro,
Meus sonhos se vão
Construindo e edificando longe…
Se espalhando feito pó na imensidão do possível.
=========================

TROVAS

Busca-se ainda o Caminho,
vive-se a doce ilusão
de um mundo feito carinho,
que ao fraco não negue o pão.

Pediram-me lá uma trova
Preciso, pois, de emoção,
Mas vive tão só e sem novas
Meu pobre e infeliz coração!
=====================

Sinclair Pozza Casemiro


Possui graduação em Letras Anglo Portuguesa pela Universidade Estadual de Maringá [UEM] (1976), mestrado em Letras pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho [UNESP] (1995), doutorado em Letras, Área de Filologia e Lingüistica Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho [UNESP] (2001) e pós-doutorado em Letras pela Universidade de São Paulo [USP].

Coordenadora de Pesquisa do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre o Caminho de Peabiru na COMCAM – NECAPECAM, com sede em Campo Mourão, pesquisadora pelo CNPq da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão - FECILCAM

Foi diretora e vice-diretora da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão, FECILCAM, Brasil.

É Professora da Comunidade dos Municípios de Campo Mourão, COMCAM

Prêmios e títulos

- 2004 Certificado, Secretaria de Estado da Ciência,Tecnologia e Ensino Superior do Paraná.
- 2003 Honra ao Mérito, FECILCAM.
- 2003 Certificado, FECILCAM - Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão.
- 2003 Certificado de Honra ao Mérito, Conselho Departamental da FECILCAM - Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão.
- 2003 Certificado, Coordenação do Curso de Letras, Universidade Paranaense - UNIPAR.
- 2003 Certificado, Universidade Estadual de Londrina. - UEL
- 2003 Palmas para Elas - Mulher Especial, Fundação Cultural de Campo Mourão.
- 2002 Menção Honrosa - Mulheres Destaque 2002, Secretaria Especial de Cultura do Município de Campo Mourão.
- 1998 Cidadã Benemérita de Campo Mourão, Prefeitura Municipal de Campo Mourão.
- 1994 Certificado, Departamento de Linguística da Faculdade de Ciências e Letras de Assis.
- 1994 Certificado, Auditório da FECILCAM e FUNDACAM.
- 1992 Certificado, Departamento de Letras do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes.
- 1991 Certificado, UNIFRAN.
- 1991 Certificado, Departamento de Letras da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Guarapuava.

Entidades a que pertence

– Cadeira n.14 da Academia Mourãoense de Letras.

– Delegada municipal por Campo Mourão da União Brasileira dos Trovadores/PR

– Coordenadora de pesquisas do NECAPECAM - Núcleo de Estudos e Pesquisas Sobre o Caminho de Peabiru na região de Campo Mourão (COMCAM), sua equipe realiza um trabalho de resgate da história da trilha indígena conhecida pelo topônimo “Caminhos de Peabiru” . Trata-se de uma rede pré-colombiana de caminhos indígenas, cuja extensão, pelos estudos que se vêm realizando, é bastante polêmica. Para Rosana Bond, estudiosa do tema, ela pode chegar a mais de três mil quilômetros, ligando o Oceano Atlântico ao Pacífico (São Vicente ao Peru). Há historiadores que contestam essa hipótese e o NECAPECAM se debruça sobre as mais diferentes hipóteses para melhor conhecer a história dessa milenar rota. Algumas das conclusões a que chegaram os seus pesquisadores são as de que, baseando-se nas pesquisas arqueológicas de Igor Chmyz, da década de 1970, na região da COMCAM, onde se realizam as peregrinações, o Peabiru foi construído pelos Itararés (do grupo Macro-GÊ); e, baseando-se nos depoimentos de descendentes do povo guarani, suas trilhas foram utilizadas, entre outras formas, pela nação guarani em sua migração em busca da Terra Sem Mal.

Produção bibliográfica

Artigos publicados em periódicos

– Estudos sobre o Caminho de Peabiru na COMCAM. Compêndio sobre o Caminho de Peabiru na COMCAM, Campo Mourão, v. 2, p. 10-25, 2005.
– Estudos Literários de Campo Mourão. Compêndio da Academia Mouraoense de Letras, Campo Mourão, v. 1500, p. 147-160, 2004.
– A lingua portuguesa como disciplina. X CELLIP, Londrina, 2003.
– Linguagem-lingua-fala-discurso-letras. III SIC- Semana de Iniciação Científica, Campo Mourão, v. III, p. 109-118, 2002.

Livros publicados/organizados

– (Organizadora). 2º Compêndio da Academia Mourãoense de Letras Vida & Liberdade - O Caminho De Peabiru A Terra Sem Mal E Os Guaranis. 1. ed. Campo Mourão: UNESPAR/FECILCAM, 2006. v. 1. 172 p.

- Causos do Coração do Paraná – por entre as beiras do Ivaí e do Piquiri. Editora Sisgraf, 2005.

– Pequeno Vocabulário comentado de usos lingüísticos no Projeto Caminhos de Peabiru da COMCAM. 1ª. ed. Campo Mourão: UNESPAR/FECILCAM - Campo Mourão, 2005. v. 500. 30 p.

– (Organizadora). Compêndio do Simpósio Caminho de Peabiru. 1. ed. CAmpo Mourão: UNESPAR/FECILCAM, 2005. v. 500. 272 p.

– Pequeno Vocabulário comentado de usos lingüísticos no Projeto Caminho de Peabiru da COMCAM. 2ª. ed. Campo Mourão: UNESPAR/FECILCAM - Campo Mourão, 2005. v. 500. 45 p.

– (Organizadora) . Caminho de Peabiru projeto de resgate -Compêndio sobre o Caminho de Peabiru na COMCAM Micro-Região 12 do Paraná.O Silêncio E As Vozes Sobre O Caminho De Peabiru Nos Discursos Da História Da Comcam- Micro Região 12. 1. ed. Campo Mourão: NECAPECAM, 2005. v. 1. 209 p.

– Enquanto conto, encanto o conto - lendas, contos e rumores de Campo Mourão. 1ª. ed. Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná, 2004. v. 5000. 100 p.

– (Organizadora). Compêndio da Academia Mourãoense de Letras. 1ª. ed. Campo Mourão: UNESPAR/FECILCAM, 2004. v. 1. 182 p.

– (Organizadora). IV Semana de Iniciação Científica. 1. ed. Campo Mourão: FECILCAM-Campo Mourão, 2003. v. 1. 540 p.

– Caminhos In versos. 3ª. ed. Curitiba: Francisco Pinheiro, 2002. v. 1000. 110 p.

– Um olhar sobre a língua...Portuguesa? A formação do Professor como desafio. 1ª. ed. Campo Mourão: Unespar, 2001. v. 800. 101 p.

– Novos Conteúdos Para O Curso De Letras Na Terminalidade De Formação Do Professor De Língua Materna.. 1. ed. Assis: UNESP, 2001. v. 1. 281 p.

– Amigos da Poesia. 1ª. ed. Campo Mourão: Kromoset, 2000. v. 600. 80 p.

– Caminhos In versos. 1ª. ed. Curitiba: Francisco Pinheiro, 1997. v. 1000. 110 p.

– Emprego Dos Verbos Ter E Haver. 1. ed. Assis: Universidade Estadual Paulista/Assis-SP, 1991. v. 1. 84 p.

– A Informática E A Estatística Na Língüística. 1. ed. Assis: Universidade Estadual Paulista"Julio De Mesquita Filho", 1991. v. 1. 34 p.

Diversos textos em jornais de notícias/revistas
----------------------
Mais informações sobre
Caminho de Peabiru pode ser obtido em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/11/o-caminho-de-peabiru.html
Terra sem Mal em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/04/lenda-indgena-em-busca-da-terra-sem-mal.html
-----------------------
Fontes:
Currículo Lattes.
Dados adicionais e atualizados fornecidos pela Escritora.
SARTORI, Rubens Luiz. Compêndio da Academia Mourãense de Letras.2004.

O Caminho de Peabiru

A pintura representa Sumé (Pai Tumé ou
São Tomé) descerrando mata adentro o
Caminho de Peabiru.

São milenárias a Rota do Estanho (Ilhas Britânicas - Cassitérides, talvez as atuais Scilly - do primeiro milênio de nossa era; a Rota da Seda, que tornou esse produto conhecido pelos gregos no III século antes de Cristo, indo ao Pamir, até a Torre de Pedra, onde se realizavam os mercados fornecidos pelos negociantes chineses; a Rota do Lapis-Lazuli, do terceiro milênio; a Rota da Prata, pela qual os Tírios iam procurar na Espanha a prata e outros metais com os "navios de Tarsis", de que fala a Bíblia, e tantas outras.

As civilizações se fizeram pelas rotas. Por elas se aculturaram povos, se enriqueceram nações, se conquistaram mundos. Nem todas as rotas, porém, permanecem vivas. Algumas, sim, permanecem, pelo menos na memória de suas gentes. Outras, resgatadas, continuam guiando seus povos a caminho de novos sonhos, novas riquezas, adaptadas aos novos tempos.

O Caminho de Peabiru era uma “estrada” milenar, transcontinental que ligava o oceano Atlântico ao Pacífico, atravessando a América do Sul, unindo quatro países. No Brasil, passava por Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e depois seguia para Paraguai, Bolívia e Peru, cortando mata, rios, cataratas, pântanos e cordilheiras.

O caminho, no Brasil, começava em São Vicente ou Cananéia, no litoral paulista, cruzava o Estado do Paraná de Leste a Oeste, penetrava no chaco paraguaio, atravessava a Bolívia, ultrapassava a Cordilheira dos Andes e alcançava, finalmente, o sul do Peru e a costa do Pacífico. Este era o chamado tronco principal, mas havia vários ramais. Um deles cruzava o rio Paranapanema, na divisa entre São Paulo e Paraná, onde segundo a historiadora Rosana Bond, baixava o sul quase em linha reta, passando pelas atuais cidades paranaenses de Peabiru e Campo Mourão. Outro ramal dava no litoral de Santa Catarina e outro, ainda, provavelmente, no Rio Grande do Sul; ao todo tinha aproximadamente 3 mil km de extensão, possuía oito palmos de largura (cerca de 1,40 metros) e aproximadamente 0,40 centímetros de profundidade. Para evitar o efeito erosivo da chuva, a trilha era forrada com vários tipos de grama, que também impediam que a via fosse tomada por ervas daninhas. O professor Moysés Bertoni, pesquisador da cultura dos índios guaranis, afirma que a grama foi plantada apenas em alguns trechos, mas as sementes que grudavam nos pés e nas pernas dos viajantes acabaram estendendo o revestimento aos demais trechos.

Segundo o professor Moysés Bertoni, o Peabiru é algo fantástico por seu tamanho, sua função e suas características, diz; ainda que até hoje a civilização moderna não conseguiu construir nenhuma rodovia ou ferrovia ligando os dois oceanos de ponta a ponta.

A verdadeira história do Peabiru, segundo estudiosos ainda é um mistério, uma das teorias mais aceitas é que o caminho é a menor e melhor rota entre os oceanos Atlântico e Pacífico, tendo um importante papel no intercâmbio cultural e na troca de produtos entres as nações indígenas. Dizem ainda que foi aberto pelos guaranis em busca constante de uma mitológica "Terra sem Mal", aconselhados pelos seus deuses - base da religião guarani. Esse território mágico seria a morada dos ancestrais, descrito como o lugar onde as roças cresciam sem serem plantadas e onde a morte era desconhecida. Segundo o professor Samuel Guimarães da Costa, o Paraná seria esse "Nirvana" indígena e o Peabiru uma espécie de caminho santo que percorria o paraíso perdido, (para os índios, o Paraná se chamava Guairá, que em tupi-guarani quer dizer "terra da eterna juventude)”.

Existem mais duas hipóteses para a criação do Peabiru: a de São Tomé e/ou Pay Sumé, apóstolo de Cristo, e a da civilização Inca.

Uma das mais importantes heranças indígenas encontradas pelos colonizadores ao chegar ao Brasil foi, sem dúvida, o Peabirú, uma estrada de mais de 2.500 quilômetros - e com inúmeras rotas secundárias - que ligava o alto dos Andes até o litoral sul brasileiro.

O Peabirú era uma valeta de 1,40 metro de largura e 40 centímetros de profundidade, forrado por uma gramínea que impedia erosões. Os primeiros relatos sobre o caminho datam de 1516 e são envoltos em mistérios e lendas.

Entre eles, a de que o Peabirú fazia parte da Estrada do Sol, construída durante o Império Inca. O seu formato mais largo em relação às outras trilhas existentes em território brasileiro na época reforça a tese dos defensores dessa teoria.

Já os jesuítas acreditavam que ele havia sido construído por São Tomé. Especulações à parte, o fato é que o caminho, ladeado por muitas aldeias de índios guaranis, foi amplamente usado por diversos conquistadores, em diferentes períodos da colonização.

O trecho inicial do Peabirú, chamado de trilha dos tupiniquins, era o único meio conhecido na época de cruzar a Serra do Mar. Passou a ser muito utilizado também pelos jesuítas, principalmente por José de Anchieta, quando estes colocaram em prática o trabalho de catequização dos índios. Por isso, a trilha foi rebatizada como "Caminho do Padre José".

Importância Histórica

Segundo a escritora Rosana Bond, autora do livro “O Caminho de Peabiru” o caminho possui grande importância histórica, pois entre outras coisas serviu para as andanças e até grandes migrações de povos indígenas e, mais tarde, para a descoberta de riquezas, criação de missões religiosas, comércio, fundação de povoados e cidades.

Segundo as crônicas coloniais, os relatos do Padre Montoya e os historiadores Sérgio Buarque de Hollanda, Jaime Cortesão e Eduardo Bueno, o Peabiru é o principal caminho para a penetração da região sul do Brasil e do Paraguai.

Pelo Peabiru transitaram além dos indígenas, São Tomé e/ou Pay Sumé, Incas, ou seja, os possíveis criadores da trilha, também outros desbravadores ainda que considerado somente o período pós-Cabralino: soldados sacerdotes, aventureiros, os artifícies de nossa América, pessoas que construíram a história da região sul do Brasil.

Aleixo Garcia um português que utilizou o Peabiru, foi o primeiro europeu a fazer contato com os Incas, e a penetrar o interior do Brasil e do Paraguai em busca de um acesso às riquezas desse povo, no ano de 1524, a partir do litoral de Santa Catarina e, rumando para oeste, seguindo o caminho traçado pelos índios, chegou à região de Assunção, no Paraguai. Depois de diversas peripécias e confrontos com inúmeras tribos uma pequena parte de sua expedição retornou com peças de ouro e prata tomadas dos Incas.

Segundo o historiador Eduardo Bueno, depois da jornada de Aleixo Garcia, o Peabiru se tornou um caminho bastante conhecido e muito percorrido. Por ele seguiria, em 1531, a malfadada expedição de Pero Lobo, um dos capitães de Martim Afonso de Sousa.

Também pelo Peabiru passaram Alvar Nuñes Cabeza de Vaca em 1541 e Ulrich Schmidel em 1553, jesuítas como Pedro Lozano e Ruiz de Montoya também o percorreram em suas missões de catequese aos guaranis. Um século mais tarde, seria também pela via do Peabiru que Raposo Tavares e outros bandeirantes paulistas seguiriam para realizar seus devastadores ataques às missões do Guairá, no atual estado do Paraná.

Segundo Jaime Cortesão, foi pelo Peabiru que a civilização européia adentrou a oeste e subiu aos Andes. E para expressar a velocidade da penetração, basta assinalar que o gado, introduzido em 1502 em Cananéia, aparecia já em 1513 na Corte Incaica. Esta rapidez na disseminação de um elemento cultural prova quanto eram rápidas e ativas as comunicações através do continente.

Ainda no século XVI, o Peabiru foi o caminho usado para a fundação de Assunção, no Paraguai, para a criação de três ou quatro cidades espanholas no atual Estado do Paraná, para a implantação de 15 reduções jesuítas e até para a descoberta da maior mina de prata do mundo em Potosi, Bolívia.

Cortesão relata que, se julgamos tal caminho merecedor de tantas referências, é porque não somente foi o mais importante da face atlântica da América Latina, mas também o maior varadouro cultural e civilizador .

Depois de 1630, quando os bandeirantes entraram no Paraná e destruíram as cidades espanholas e as missões dos jesuítas, o Peabiru foi praticamente abandonado. O caminho ainda conseguiu retomar vida no século XIX, quando serviu, mais uma vez, para entrada de uma nova leva de homens brancos, os colonizadores pioneiros do interior do Paraná.

É notória a importância que o Caminho de Peabiru possui seja pelo traçado que cortava o continente, seja pelas personagens que por ele transitavam, pois é através dele que a verdadeira história e cultura de nossos antepassados são transmitidas nos dias de hoje, apesar da colonização européia que, utilizando do Peabiru adentrou na nossa região a fim de explorar o povo e a grandiosa riqueza natural aqui encontrada. O Peabiru é um caminho de importância inquestionável e deve ser resgatado para que as raízes do nosso povo sejam mantidas vivas entre o maior número de cidadãos e não apenas na memória de poucos estudiosos.

Fontes:
http://www.caminhodepeabiru.com.br/
http://zuboski.blogspot.com/

Paulo Vieira Pinheiro (Devaneios Poéticos)




No futuro bem próximo me vejo leve,
assim como quem passou,
assim como quem se foi.
Livre de laços.
=======================

Tanto tempo que nem sei

Parei pela dor.
Constato que poderia, sim, mas não deu.
Juntando tudo que lembro fui, mas não fiz.
Voltando tudo sei que poderia ter sido mais, mas não fui.
Nesse rascunho escrevo o que quero
e em pouca vez isto fiz.
Um sucesso é tudo.
Que horas são?
==========================
Momentos de insensatez

Bom dia minha querida!
Como você dormiu? bem?
O dia se faz largo.
O sol se enfeitou e todos os pássaros que cantam cantam para você.
Antes que o café esfrie venha ver uma coisa.
Sim... deixa pra depois.
Dormes como um bichinho.
=================
Veneta

Quando te comecei pensava no que darias.
Não sabia ao certo qual rumo tomarias.
Rubra tinta multicores sentidos desfia e
assim sendo das veias minhas tinto destino és.

Do novelo arranco um fio que cria
Aponto ao longo do vão contido da página
Digo a que vim e a que viria
Se não me barro a passagem de meu dia

Pensei em cantar uns versos antigos
Daqueles que a memória se esforça em vão
Dizer alegres cantares que contam
Histórias e glórias da alma em canção
====================

Xadrez

Minha alegria não se dá por solucionar problemas.
Hoje estou de malas prontas.
Vou para o paraíso dos sonhos.
Dentro em breve estarei encontrando o ar que quero.
Daqui há pouquinho pisarei miudinho em alvas sombras.
Reverei minhas matas e sentirei o seu cheiro.
Odor tão intenso que me vem à boca.
Um amor que na serra me espera abraçarei.
Contaremos inúmeras estrelas, sem medos.
Curiangos valentes se lançarão em vôos abruptos.
Cintilantes estrelas por testemunhas.
Para quê mais?
Os nossos exageros que brotaram e o peso do sei não nos abateu.
O som do coração, em êxtase sóbrio, nos convida a aquietar.
================
Universo das Palavras
Exercício 21042008-1.

Para ir aprendi a falar,
para ficar aprendi a escrever.
Bem idas e benvindas, estadas imperfeitas.

Degraus de palavras ascendem em mim.

O primeiro me diz quem sou.
O segundo me diz onde estou.
O terceiro me diz com quem,
certamente com alguém ou ninguém.

Outros, porem, há.
Aquele de raro barro.
Uns de pedra firme.
Aqueloutro etéreo tropeço.

Em pouca página,
muitas palavras.
Uma poesia que corrói,
uma construção de idéias.

Construir degraus,
por mais caros que sejam,
encerra penares benfazejos.
Traços de alegrias que chegam.

Fazer em um segundo
um pensar tão fecundo...
momento que não voltará...
instante único em vida tanta.

Um brusco mudar.
O intenso me ensinou a calar e
calando tive tempo de aprender.
Sofro essa sede tanta.
Minha boca seca seca imagens tantas.
Calar se tornou o normal.
Escrever se tornou letal.
Sentenças de vida e de morte em grupos de letras
fazem de mim o deus que sou.
Tontas vidas, vidas... vidas?
Embrulho de gentes.
Rejeitos nascentes.
Fluxos escorrem nos meio-fios de aço.
A chuva corre e o lixo escorre...
Todos os meus sentidos fendidos, torcidos, meio vivos, meio mortos.
Onde estou agora? Onde estarei nessa hora?
De certo não nasci para só vir ver, tenho ânsia de ser.
Preso neste mundo de quatro paredes, com céus sem sóis,
aspiro mais escrever do que ser lido.
===================================

Esperanças
Exercício 21042008-3

Há braços
Há maços
Há traços
De amor
De mora
De hora
Corola de honor.

Que trazes
Mais ases
Mais ares
De cor
De fora
Agora
Seja o que for
=========================

Cintilar
Estudo 080608-1

Noite sem lua clara de estrelas
Faz viajar em mil pensamentos.
Calo agora a te contemplar
Esperança de alma noturna

A beleza certa e tamanha
Cresce a cada vislumbre ao céu
Sou eu quem a admiro silente
Ou ela quem se expõe a meu olhar

Cintilam olhos feito estrelas
As olho com elas a me fitar
Visões de um espaço imenso

Contido num instante tão breve
Que encanta em nosso descobrir
Nos procuramos e nos achamos
-----------

Fonte:
O Autor
Imagem obtida na internet.

Erros Mais Comuns da Lingua Portuguesa (Parte V)



81 – A tese “onde”… Onde só pode ser usado para lugar: A casa onde ele mora. / Veja o jardim onde as crianças brincam. Nos demais casos, use em que: A tese em que ele defende essa idéia. / O livro em que… / A faixa em que ele canta… / Na entrevista em que…

82 – Já “foi comunicado” da decisão. Uma decisão é comunicada, mas ninguém “é comunicado” de alguma coisa. Assim: Já foi informado (cientificado, avisado) da decisão. Outra forma errada: A diretoria “comunicou” os empregados da decisão. Opções corretas: A diretoria comunicou a decisão aos empregados. / A decisão foi comunicada aos empregados.

83 – Venha “por” a roupa. Pôr, verbo, tem acento diferencial: Venha pôr a roupa. O mesmo ocorre com pôde (passado): Não pôde vir. Veja outros: fôrma, pêlo e pêlos (cabelo, cabelos), pára (verbo parar), péla (bola ou verbo pelar), pélo (verbo pelar), pólo e pólos. Perderam o sinal, no entanto: Ele, toda, ovo, selo, almoço, etc.

84 – “Inflingiu” o regulamento. Infringir é que significa transgredir: Infringiu o regulamento. Infligir (e não “inflingir”) significa impor: Infligiu séria punição ao réu.

85 – A modelo “pousou” o dia todo. Modelo posa (de pose). Quem pousa é ave, avião, viajante, etc. Não confunda também iminente (prestes a acontecer) com eminente (ilustre). Nem tráfico (contrabando) com tráfego (trânsito).

86 – Espero que “viagem” hoje. Viagem, com g, é o substantivo: Minha viagem. A forma verbal é viajem (de viajar): Espero que viajem hoje. Evite também “comprimentar” alguém: de cumprimento (saudação), só pode resultar cumprimentar. Comprimento é extensão. Igualmente: Comprido (extenso) e cumprido (concretizado).

87 – O pai “sequer” foi avisado. Sequer deve ser usado com negativa: O pai nem sequer foi avisado. / Não disse sequer o que pretendia. / Partiu sem sequer nos avisar.

88 – Comprou uma TV “a cores”. Veja o correto: Comprou uma TV em cores (não se diz TV “a” preto e branco). Da mesma forma: Transmissão em cores, desenho em cores.

89 – “Causou-me” estranheza as palavras. Use o certo: Causaram-me estranheza as palavras. Cuidado, pois é comum o erro de concordância quando o verbo está antes do sujeito. Veja outro exemplo: Foram iniciadas esta noite as obras (e não “foi iniciado” esta noite as obras).

90 – A realidade das pessoas “podem” mudar. Cuidado: palavra próxima ao verbo não deve influir na concordância. Por isso : A realidade das pessoas pode mudar. / A troca de agressões entre os funcionários foi punida (e não “foram punidas”).

91 – O fato passou “desapercebido”. Na verdade, o fato passou despercebido, não foi notado. Desapercebido significa desprevenido.

92 – “Haja visto” seu empenho… A expressão é haja vista e não varia: Haja vista seu empenho. / Haja vista seus esforços. / Haja vista suas críticas.

93 – A moça “que ele gosta”. Como se gosta de, o certo é: A moça de que ele gosta. Igualmente: O dinheiro de que dispõe, o filme a que assistiu (e não que assistiu), a prova de que participou, o amigo a que se referiu, etc.

94 – É hora “dele” chegar. Não se deve fazer a contração da preposição com artigo ou pronome, nos casos seguidos de infinitivo: É hora de ele chegar. / Apesar de o amigo tê-lo convidado… / Depois de esses fatos terem ocorrido…

95 – Vou “consigo”. Consigo só tem valor reflexivo (pensou consigo mesmo) e não pode substituir com você, com o senhor. Portanto: Vou com você, vou com o senhor. Igualmente: Isto é para o senhor (e não “para si”).

96 – Já “é” 8 horas. Horas e as demais palavras que definem tempo variam: Já são 8 horas. / Já é (e não “são”) 1 hora, já é meio-dia, já é meia-noite.

97 – A festa começa às 8 “hrs.”. As abreviaturas do sistema métrico decimal não têm plural nem ponto. Assim: 8 h, 2 km (e não “kms.”), 5 m, 10 kg.

98 – “Dado” os índices das pesquisas… A concordância é normal: Dados os índices das pesquisas… / Dado o resultado… / Dadas as suas idéias…

99 – Ficou “sobre” a mira do assaltante. Sob é que significa debaixo de: Ficou sob a mira do assaltante. / Escondeu-se sob a cama. Sobre equivale a em cima de ou a respeito de: Estava sobre o telhado. / Falou sobre a inflação. E lembre-se: O animal ou o piano têm cauda e o doce, calda. Da mesma forma, alguém traz alguma coisa e alguém vai para trás.

100 – “Ao meu ver”. Não existe artigo nessas expressões: A meu ver, a seu ver, a nosso ver.

Fonte:
http://www.culturatura.com.br/

Seminário Cultura e Educação, em Piracicaba



Fonte:
Branca Tirollo, presidente da ALB/Piracicaba.

Jean-Pierre Bayard (História das Lendas) Parte VI



SEGUNDA PARTE

ESTUDO DAS LENDAS

CAPÍTULO I

FAUSTO ou o homem que vende sua alma aos poderes do mal

Esse personagem imortal de Goethe — às vezes de Marlowe — soube, depois de velho, reconquistar a juventude, acumular bens, governar seu espírito com uma compreensão, quase divina.

O homem contrai desta forma uma aliança sobrenatural a fim de se alçar a um nível superior e, abandonando seu arcabouço original, projeta-se num outro ente espiritual.

Este conhecimento é tributário da dualidade da alma humana; e Mefistófeles endossa nossa dívida e nossos defeitos. Satanás se incumbe de nossos crimes e de nossas baixezas; é a válvula que permite ao homem, se libertar. Mas, depois de haver vendido seu bem mais precioso, o homem tenta zombar do Espírito do mal e almeja finalmente o espírito supremo da Bondade.

1. — A presença do diabo

Desde a criação do Mundo o diabo tenta nos corromper; ele é a origem da maldição celeste; evoca o assassínio de Abel, provoca o dilúvio e a destruição de Sodoma. Se quer tentar Jesus incita tempestades e violenta as virgens.

As concepções demonológicas encontram-se entre os povos mais diversos: árabes, babilônios, assírios, bem como no pensamento hebraico, na religião persa, na doutrina cristã, na filosofia grega. Tiveram lugar dominante na vida e nos escritos.

Mas o cristianismo, com o fito de despertar a atenção do público cansado de dissertações filosóficas de mistérios, criou o personagem literário do diabo. Não é mais uma divindade inatingível mas apenas um ser ridicularizado, válvula indispensável para o rigor do catolicismo e da justiça divina. É assim que aparece em Le jeu des Vierges sages et des Vierges folles (O jogo das virgens ajuizadas e das virgens loucas) em La premiere joie de Marie (A primeira alegria de Maria) etc. Cohen busca esse rasto maravilhoso no seu Théâtre français au Moyen Age (O teatro francês na Idade Média).

2. — As duas formas de lenda

Fausto reflete a geração em que evolui; a conclusão difere conforme o gosto do autor ou o interesse da religião. Esse homem que vendeu sua alma morre amaldiçoado, abandonado pelo céu: é o drama de Marlowe e dos protestantes. Em compensação, esse homem orgulhoso que se perverteu para satisfazer sua curiosidade natural e que logo em seguida se revoltou contra Satanás receberá o perdão. Surge então o drama cristão de Goethe.

3. — Origem da lenda

A primeira forma da lenda parece ser oriunda da Ásia, com La légende de Théophile (A lenda de Teófilo), de que Eutiquiano, sacristão da igreja de Adana, teria sido testemunha ocular.

Teófilo, vidama — administrador — muito estimado, é injustamente destituído de seu cargo. A fim de reencontrar seu posto, pediu auxílio a um mágico. Satanás concluiu o pacto. Apesar do êxito, Teófilo, arrependido, reza durante quarenta dias e quarenta noites implorando à Virgem Maria a restituição do ato satânico. Teófilo confessa publicamente o seu ato e morre. Essa lenda foi muito apreciada na Idade Média: Saint-Bernard, Voragine, Rutebeuf utilizaram-na. No tímpano do portal norte da Igreja de Notre-Dame de Paris acha-se representado esse milagre; na mesma ocasião, Viollet-le-Duc põe em cena o artista Biscornet assinando um pacto com o demônio a fim de completar sua obra (Serralheria das portas de Notre-Dame de Paris).

4. — Outras formas da lenda

Em 1220, Cesário d’Heisterbach escreveu Histoire de Militarius (História de Militarius) que, depois de uma vida de deboche, vende-se ao diabo e, finalmente, obtém o perdão da Virgem. Com a Légende du chevalier qui donna sa femme au diable (Lenda do cavaleiro que deu a mulher ao diabo) de origem picarda (século XIV), a virgem, tomando o lugar da mulher caluniada, põe em fuga Satanás.

Mais próximo de La légende de Théophile está o texto brabantês La légende du chevalier voué au démon et sauvé par sainte Gertrude (1612) (Lenda do cavaleiro ao demônio e salvo por Santa Gertrude) (G. de Rébreviett) e La farse de Munyer (A farsa de Munyer).

Dessa forma, nessa espécie de imaginaria popular — assaz rica em textos semelhantes — a Virgem intercede em favor de homens orgulhosos, perdulários e jogadores.

5. — A lenda de Cipriano

Santa Justina, virgem de Antioquia, é atormentada por Cipriano que se dá à magia; mas Cipriano constata que “o crucificado é maior do que todos os diabos” converte-se e torna-se bispo. Voragine acentua dessa forma o poder esotérico do sinal da cruz. Calderón recolhe a lenda para seu Magicien predigieux (1637) (O mágico prodigioso). O pacto foi também suprimido em São Cristóvão ou Santa Teodora.

Em Saint Basile, évêque (São Basilio, bispo), Voragine confunde o amor com o desejo de se elevar; Urádio, um jovem escravo, que se vende ao demônio para poder esposar a filha do seu patrão, São Basilio conseguirá recuperar a célula demoníaca. Achille Jubinal, depois de Jehan de Saint-Quentin, narra em seus Contes, dits et fabliaux, várias lendas semelhantes (Le dit du chevalier et de l’escuier - Os ditos do cavaleiro e do escudeiro), Le dit du pauvre chevalier (O dito do pobre cavaleiro), Le dit des II chevaliers (O dito dos II cavaleiros). Mira de Amescua: L’esclave du démon (Escravo do demônio) associa D. Juan e Fausto. O eremita D. Gil sucumbe à tentação; dá sua alma a Satanás para poder abraçar uma freira que não passa de um esqueleto. O pavor restitui seu pensamento a Deus e São Miguel triunfará sobre Satanás.

Moreto: Tomber pour se relever (Cair para se reerguer), Calderón: Joseph des Femmes (José das Mulheres), Molina: Le damné pour manque de confiance (O maldito por falta de confiança), pensam ainda na doutrina luterana. Thomas Mann, no Doutor Fausto narra vários contos semelhantes (capítulo XIII).

6. — O ensinamento da lenda

Assim sendo, para atingir um fim ardentemente desejado um infeliz vende sua alma ao diabo, seja por intermédio de um judeu, seja por evocação direta graças a fórmulas mágicas. O pacto é escrito com sangue, marca indelével que o torna indissolúvel por um período de sete anos. A vítima arrependida é arrancada a Satanás por meio de uma intervenção celeste. Esta luta é de quarenta dias — prazo da redenção. Substitui-se a Virgem pela santa da região para que a autenticidade seja incontestável. Teófilo busca a dignidade e as honrarias; os cavaleiros se ocupam de riquezas; Urádio pensa no amor; e Fausto, na juventude e no gênio.

A Igreja reformada serve-se da lenda de Fausto para combater o ensinamento do catolicismo.

O inferno triunfa nas literaturas alemã, inglesa, escandinava e holandesa.

7. — O pacto satânico e a crendice popular

Fortemente instrumentada, a crença popular é de que toda inteligência superior é alimentada por um trato desonesto. Procura-se solapar o poder da Igreja católica. O poder temporal do Papa Silvestre II é oriundo da colaboração do diabo que fez com que um pastor de Auvergne fosse elevado às mais altas dignidades: é o “homem dos três R” por ter assumido postos em Reims, Ravenne e Roma. Abelardo, precursor do racionalismo moderno, tem a exigência de Fausto; esse herói da crítica e da independência é derrotado por São Bernardo, conservador da ordem. Apolônio de Tiano, Sião, o Mágico e os papas desde João XIII até Paulo II período ativo da Reforma — são assim caluniados por espíritos invejosos do seu poder. Alfred Neumann, ao escrever O diabo, sob o nome de Necker, servidor de Luís XI, mostra claramente a opinião do povo que pretende ver no êxito de um homem surpreendente um poder oculto.

8. — O personagem histórico

Fausto, nascido nos últimos anos do século XV, talvez em Kundling, perto de Bretten, teria morrido em 1543 ou, conforme o médico Bégardi, em 1539. E. Faligan na sua Histoire de la légende de Faust (História da lenda de Fausto) cita escritos históricos que provam a sua existência; Fausto, em 1507, era professor, em 1509, bacharel em teologia e recebido na Faculdade de Heidelberg. Esse indivíduo preguiçoso, ladrão e dado à embriaguez, discípulo de Lutero, tem uma vida movimentada. Toma como cunhado o próprio Diabo e chama o seu cão de Prestigiar. Prematuramente envelhecido pelos excessos, sua morte impressiona a imaginação popular. Sua vida estranha e sua morte cruel — talvez crapulosa — deram origem a uma lenda.

9. — Nascimento da lenda

Em 4 de setembro de 1587, Johan Spies publica em Francforte L’histoire du docteur Faust (História do doutor Fausto) (autor anônimo). Depois da evolução psicológica dessa alma transviada, as suas aventuras extraordinárias são relegadas, desordenadamente, para o fim do livro.

A edição de Widmann em 1599, acentua o caráter teológico: é a contribuição protestante. L’histoire de Wagner (A história de Wagner) é a repetição da de Fausto. Fredericus Scotus Tolet publica em 1593 uma vida de Fausto na qual ele viaja como sendo Cristóvão Colombo. Marlowe escreve uma farsa trágica, violenta e sem igual, a Tragique histoire du docteur Faust (A trágica história do doutor Fausto) (Londres, 1604). É uma obra profundamente humana na qual o autor conclui que o inferno está em nós mesmos. Com o teatro de fantoches — os “puppenspiele” — Fausto perde seu conteúdo ideológico para tornar-se o impostor; o elemento trágico passa a residir apenas no destino do herói, ficando a parte cômica com Hanswurst ou Kasperle, Polichinelo alemão.

Essas numerosas representações inspiram Dreher e Schütz e depois, Geisselbrecht.

10. — O drama de Goethe

Em 1773 Goethe inspira-se no teatro de fantoches. Devolve a essa lenda protestante sua nobreza primitiva: Fausto tornar-se-á um Abelardo alemão. Símbolo da vida humana, esse drama é o do saber, o da paixão. Mas Fausto aspira a uma verdade superior: será salvo apesar de seus erros. Mefistófeles é a antítese das boas qualidades do sábio. Esse desdobramento de personalidade é mais notável em L’étrange cas du docteur Jeckyll (O estranho caso do doutor Jeckyll) com Stevenson que identificou o vício e a virtude. Essa cumplicidade demoníaca reteve a atenção de Goethe, e o mal — força consciente — seria o reativo do bem. Satanás torna-se então o servidor de Deus. “O diabo é um companheiro que, provocando o homem, fá-lo também agir.” Aliás, o prólogo de Fausto assemelha-se à conversação entre Deus e Satanás (Job, I, 6; II, 3) que é encontrada no ensaio de Abraão (Job, 17, 1812).

Não será esse o licor da imortalidade que foi apresentado pelo médico dos Deuses ao Vichnu por ocasião de um dos seus avatares?

Além do valor esotérico desse drama, eis que aparece a heroína Margarida, uma das mais belas almas humanas. Mas nessa luta de amor pueril, sem escrúpulos e sem remorsos, a lei da fatalidade esmaga a inocência. Se Fausto não houvesse soçobrado na desvairada noite de Walpurgis, teria representado o amor imortal.

Goethe, entre setenta e seis e oitenta e dois anos escreveu o segundo Fausto, soma de saber e conhecimento. Nesse poema metafísico, de simbolismo muitas vezes obscuro, Fausto — a ciência — casa-se com Helena, mulher perfeita, de beleza antiga e plástica, símbolo da iniciação. Euforion é a alma no último grau da encarnação, libertada de suas correntes materiais.

Dois grandes filmes foram inspirados nesses temas equivalentes, um de Marcel Carné, Les visiteurs du soir (Os visitantes da noite) e o outro de René Clair, La Beauté du diable (A beleza do diabo).

11. Sucessão literária

Fausto enamorado, faz lembrar D. Juan, e Grabbe desenvolve essa comparação analisada por Micheline Sauvage: Le cas de Don Juan (O caso de D. Juan) (Le Seuil, 1953). Mas Fausto, romântico. como Chamisso e Lenau, suicida-se. Intelectual puro para Lessing, é um orgulhoso revoltado para Lenz, Muller, Klinger. O Fausto de Heine desapareceu; sua ação é muito confusa conforme Soden, Klingemann e Stolte.

Herói de todas as dúvidas e de todos os conflitos humanos, o Fausto de Turguenief é alvo do amor culpável. Mac Orlan o faz viver entre rufiões e raparigas e uma prostituta endossa essa terrível dívida (Margarida da noite). Em compensação, Mon Faust (Meu Fausto) de Paul Valéry, é uma criatura que esgotou tudo o que a vida pode dar. Mefistófeles é desviado pelas transformações do mundo moderno. Essa fresca sensualidade aparece na comédia satírica, Lust; depois de La demoiselle de Cristal (A jovem de Cristal), vem Le Solitaire (O solitário) que é o drama da negação de nossa civilização; sonho intelectual de M. Teste ou de Leonardo da Vinci, cada homem integrou-se de uma parcela diabólica. As duas peças estão inacabadas; se Lust deixa supor o triunfo do amor, observamos o pensamento trágico já assinalado por Rhumbs (Rumbas), Variétés (Variedades), Analectas (Analetos).

Thomas Mann escreveu a tragédia de um músico obcecado: O doutor Fausto. Livro de uma extraordinária densidade e anotações perturbadoras, o Diabo aparece durante a Idade Média. Lembramo-nos de Paganini cuja virtude era classificada entre a dos personagens diabólicos e que não pode ser enterrado religiosamente (as tribulações de seu cadáver duraram cinquenta e sete anos). Ferchault observa, porém, os músicos inspirados por esse tema. São eles, Schumann, Berlioz, Gounod, Liszt, Wagner e outros. Stravinsky orquestrou L’histoire du soldat (A história do soldado) de Ramuz — na qual um desertor vende a sua alma — num verdadeiro milagre de realização instrumental sonora. Bellaigue se filia aos pintores: Étude artistique et littéraire sur Faust (1883) (Estudo artístico e literário sobre Fausto). Depois de Ary Scheffer haver pintado Margaridas, as melodias de Berlioz transpareceram em Delacroix.

Não poderíamos deixar passar em silêncio La merveilleuse histoire de Pierre Schlemihl (A maravilhosa história de Pierre Schlemihl) na qual Chamisso aponta um pacto particular; um homem vende a sua sombra pela bolsa de Fortunato. A tentação é feita em dois estágios; o diabo, humilde como nos tempos medievais, compra apenas a sombra na esperança de recuperar a alma quando a desgraça se consumar. As sombras aparecem também na obra de Mac Orlan (Père Barbançon) na qual a sombra de Encolpe instiga uma luta sorrateira; se bem que o pacto não apareça, a atmosfera diabólica é a mesma.

12. — Conclusão

Esta lenda de origem satânica nasceu com L’histoire de Théophile. Pelo poder da prece, o homem foge ao jugo do mal. O protestantismo consagra o triunfo do inferno. Fausto denuncia uma crise literária e moral, é um universo resumido. O drama de Fausto continua a ser, assim, o drama humano por excelência.
-------------
continua...
-------------
Fonte:
BAYARD, Jean-Pierre. História das Lendas. (Tradução: Jeanne Marillier). Ed. Ridendo Castigat Mores