quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Ademar Macedo (Trovadoresco n. 66)


Clique sobre a imagem ao lado para fazer o download do O Trovadoresco n. 66, do potiguar Ademar Macedo.

Trovas de Natal e Ano Novo
O Cantinho da Poesia
Trovas Potiguares
A Saudade em Quatro Versos

Você encontra neste número (e muito mais):

Nem só de presentes faz-se
o Natal, nem de comida.
Natal é aquele em que nasce
Jesus Cristo em nossa vida!
(A. A. de Assis/PR)

Podes ter em tua vida,
um Natal a cada dia,
se em cada dia é nascida
a luz da fé que te guia!
(Carolina Ramos/SP)

Deus-menino não reclama
mas a verdade é cruel...
no Natal quem leva a fama,
é sempre o papai-noel!
(Francisco José Pessoa/CE)

Da cidade da alegria,
desta Camboriú legal,
lhe desejo, em poesia,
um belo e Feliz Natal!
(Gislaine Canales/SC)

"Bem-vindo, dois mil e onze,”
que nos tragas bom agouro:
Dois mil e dez foi de bronze...
Que sejas um ano de ouro!...
(Hermoclydes S. Franco/RJ)

Menino Jesus Cristinho,
puro, simples, soberano,
ilumina o meu caminho
e os dias do Novo Ano!
(Lisete Johnson/RS)

Uma estrela fulgurante,
os Reis, a Belém conduz.
Maria, mais fulgurante,
deu à luz... a própria Luz!
(Wanda de Paula Mourthé/MG
)

Luiz Carlos Felipe (Contar histórias: como tudo começou?)


“É contando histórias, nossas próprias histórias, o que nos acontece e o sentido que damos ao que nos acontece, que nos damos a nós próprios uma identidade no tempo.” (Jorge Larrosa) Você sabe o que faz um “rapsodo”? Não? E um “griô” ? Também não? Não lhe são familiares os vocábulos “bardo”? “jogral” ? “menestrel” ? Nada. Você pode não acreditar, mas esses vocábulos exóticos denominavam em tempos e lugares diferentes as vozes ancestrais da longa família dos contadores de história.

Surgidos provavelmente no século VII a. C, os rapsodos eram poetas ou declamadores andarilhos que, na Grécia antiga, perambulavam de cidade em cidade divulgando fragmentos dos poemas épicos de Homero a “Ilíada” e a “Odisséia”. Não apresentavam suas próprias composições, especializando-se na declamação de obras de outros artistas. No noroeste da África, em Mali, os griôs (do francês “griot” que significa “feiticeiro”) preservavam os rituais antigos, as histórias orais do seu povo, atuando ora como poetas, cantores e músicos, ora como sacerdotes ou juízes, em pequenas desavenças entre as grandes famílias. Mas, há um porém, só pode ser um griô quem nasce em uma família de griôs!

Entre os celtas, galeses, irlandeses e escoceses, eram os “bardos” os guardiões da memória das linhagens das famílias importantes, das grandiosas cenas de batalhas, do elogio à vida virtuosa de reis e príncipes, muitas vezes apelando para a sátira. Viajantes incansáveis, era natural que suas histórias encantassem um público ansioso por novidades que brotavam da boca desses “viramundos”. Já na França, desde o século V, os jograis ganhavam a vida na base das caretas, mímicas, jogos, ditos engraçados e músicas divertindo todo tipo de público. No fim da Idade Média, o menestrel substituiu o jogral. Durante o séculos XIII e XIV, o menestrel exercia as funções de músico e cantor, viajando por aldeias, exercendo seu ofício em meio a uma platéia de fidalgos ou no meio do povaréu, a invenção da imprensa no século XV reduziu bastante o papel social dessas expressões artísticas. Mas falemos um pouco mais de um tempo anterior à invenção de Gutemberg.

Esses poetas viajantes em todo tempo e lugar encontraram quem os escutasse. Narrando os desafios de caçadas, vivenciando ritos como os da morte e do sepultamento; ou divulgando crenças em criaturas marítimas monstruosas, tesouros no fundo do mar e histórias de inacreditáveis náufragos. Não importa. Eles eram os portadores da tradição, esses contadores/cantadores bendiziam o casamento, mas revelavam as muitas traições e entre risos e espanto, a plateia aplaudia a descoberta de um mundo feito de palavras cujas cores e melodias ignorava. Em algumas sociedades tribais essa atividade não possuía uma finalidade exclusivamente artística; mas tinha um caráter funcional decisivo, pois os contadores de histórias funcionavam como memórias portáteis, uma vez que conservavam e transmitiam a história e o conhecimento acumulado pelas gerações, as crenças, os mitos, os costumes e valores a serem preservados por todos da comunidade.

Pode-se afirmar que como atividade artística, com normas e técnicas passíveis de serem transmitidas a todos, a prática de contar histórias se desenvolveu recentemente, sobretudo nos países nórdicos, anglo-saxões e posteriormente nos latino-americanos. Esta prática se estendeu e ainda hoje aparece reduzida a um tempo cronológico, “a hora do conto”, nas escolas e bibliotecas.

A narração oral é uma forma de comunicação que se alimenta da história e da ficção, integrando a palavra aos gestos. É nesta economia de recursos que está a força de sua expressão; o ouvinte forma com o contador de histórias as duas faces de uma unidade, pois ele deve recriar na sua imaginação o que lhe contam e com isto transformar a missão em recepção, conformando a mensagem.

Portanto, hoje, o contador de histórias urbano também se forma : é aquele que conhece as técnicas para narrá-las, é aquele que ama os textos e quer dizê-los, é aquele que, sobretudo, articula seu idioma de modo a produzir efeitos de melodia e de elaboração nova da frase, para com elas revelar a complexidade do mundo, as diferentes manifestações de cultura e poder expressá-las para seus ouvintes. Por essa razão, o contador de histórias tradicional é uma pessoa dos livros. Ou seja, no caso contemporâneo, atrás de toda narração de contos se encontra um perfil básico e essencial: um grande leitor.
–––––––––––––––––––––-
(*) Luiz Carlos Felipe, Professor de Literatura Infantojuvenil na Faculdade de Campina Grande do Sul (FACSUL) e Professor de Contos Contados e Desvelados no Instituto Aprender, (Joinville, SC).

Fonte:
Boletim Guatá – Cultura em Movimento. Agosto de 2010. http://www.guata.com.br/Tirando%20de%20letra/_1E100803TL_contar_historia_como_tudo_comecou_luis_carlos_felipe.html
Imagem = http://www.fetreli.com.br/historia2.htm

Machado de Assis (Curta História)


Sinopse
Curta História", de Machado de Assis, foi publicada originalmente em A Estação, no ano de 1886. Conta a história de Cecília, jovem de dezoito anos que ama incondicionalmente Juvêncio de Tal. Porém, em um belo dia, seu pai a leva para assistir a peça "Romeu e Julieta" e ela acaba se apaixonando perdidamente por Rossi, o ator que representa Romeu. Durante algum tempo, tudo o que passa em seu pensamento é Romeu, chegando até a se esquecer de Juvêncio. Porém, ela acaba percebendo que cada uma tem o Romeu que merece. Assim, casa-se com Juvêncio e acaba tendo dois filhos bonitos e inteligentes, que se parecem com ela.

O Conto

A leitora ainda há de lembrar-se do Rossi, o ator Rossi, que aqui nos deu tantas obras-primas do teatro inglês, francês e italiano. Era um homenzarrão, que uma noite era terrível como Otelo, outra noite meigo como Romeu. Não havia duas opiniões, quaisquer que fossem as restrições, assim pensava a leitora, assim pensava uma D. Cecília, que está hoje casada e com filhos.

Naquele tempo esta Cecília tinha dezoito anos e um namorado. A desproporção era grande; mas explica-se pelo ardor com que ela amava aquele único namorado, Juvêncio de Tal. Note-se que ele não era bonito, nem afável, era seco, andava com as pernas muito juntas, e com a cara no chão, procurando alguma cousa. A linguagem dele era tal qual a pessoa, também seca, e também andando com os olhos no chão, uma linguagem que, para ser de cozinheiro, só lhe faltava sal.

Não tinha idéias, não apanhava mesmo as dos outros; abria a boca, dizia isto ou aquilo, tornava a fechá-la, para abrir e repetir a operação. Muitas amigas de Cecília admiravam-se da paixão que este Juvêncio lhe inspirava;1 todas contavam que era um passatempo, e que o arcanjo que devia vir buscá-la para levá-la ao paraíso, estava ainda pregando as asas; acabando de as pregar, descia, tomava-a nos braços e sumia-se pelo céu acima.

Apareceu Rossi, revolucionou toda a cidade. O pai de Cecília prometeu à família que a levaria a ver o grande trágico. Cecília lia sempre os anúncios; e o resumo das peças que alguns jornais davam. Julieta e Romeu encantou-a, já pela notícia vaga que tinha da peça, já pelo resumo que leu em uma folha, e que a deixou curiosa e ansiosa. Pediu ao pai que comprasse bilhete, ele comprou-o e foram.

Juvêncio, que já tinha ido a uma representação, e que a achou insuportável (era Hamlet) iria a esta outra por causa de estar ao pé de Cecília, a quem ele amava deveras; mas por desgraça apanhou uma constipação, e ficou em casa para tomar um suadouro, disse ele. E aqui se vê a singeleza deste homem, que podia dizer enfaticamente — um sudorífico; — mas disse como a mãe lhe ensinou, como ele ouvia à gente de casa. Não sendo cousa de cuidado, não entristeceu muito a moça; mas sempre lhe ficou algum pesar de o não ver ao pé de si. Era melhor ouvir Romeu e olhar para ele...

Cecília era romanesca, e consolou-se depressa. Olhava para o pano, ansiosa de o ver erguer-se. Uma prima, que ia com ela, chamava-lhe a atenção para as toilettes elegantes, ou para as pessoas que iam entrando; mas Cecília dava a tudo isso um olhar distraído. Toda ela estava impaciente de ver subir o pano.

— Quando sobe o pano? perguntava ela ao pai.

— Descansa, que não tarda.

Subiu afinal o pano, e começou a peça. Cecília não sabia inglês nem italiano. Lera uma tradução da peça cinco vezes, e, apesar disso, levou-a para o teatro. Assistiu às primeiras cenas ansiosa. Entrou Romeu, elegante e belo, e toda ela comoveu-se; viu depois entrar a divina Julieta, mas as cenas eram diferentes, os dous não se falavam logo; ouviu-os, porém, falar no baile de máscaras, adivinhou o que sabia, bebeu de longe as palavras eternamente belas, que iam cair dos lábios de ambos.

Foi o segundo ato que as trouxe; foi aquela cena imortal da janela que comoveu até às entranhas a pessoa de Cecília. Ela ouvia as de Julieta, como se ela própria as dissesse; ouvia as de Romeu, como se Romeu falasse a ela própria. Era Romeu que a amava. Ela era Cecília ou Julieta, ou qualquer outro nome, que aqui importava menos que na peça. "Que importa um nome?" perguntava Julieta no drama; e Cecília com os olhos em Romeu parecia perguntar-lhe a mesma cousa. "Que importa que eu não seja a tua Julieta? Sou a tua Cecília; seria a tua Amélia, a tua Mariana; tu é que serias sempre e serás o meu Romeu."

A comoção foi grande. No fim do ato, a mãe notou-lhe que ela estivera muito agitada durante algumas cenas.

— Mas os artistas são bons! explicava ela.

— Isso é verdade, acudiu o pai, são bons a valer. Eu, que não entendo nada, parece que estou entendendo tudo...

Toda a peça foi para Cecília um sonho. Ela viveu, amou, morreu com os namorados de Verona. E a figura de Romeu vinha com ela, viva e suspirando as mesmas palavras deliciosas. A prima, à saída, cuidava só da saída. Olhava para os moços. Cecília não olhava para ninguém, deixara os olhos no teatro, os olhos e o coração...

No carro, em casa, ao despir-se para dormir, era Romeu que estava com ela; era Romeu que deixou a eternidade para vir encher-lhe os sonhos.

Com efeito, ela sonhou as mais lindas cenas do mundo, uma paisagem, uma baía, uma missa, um pedaço daqui, outro dali, tudo com Romeu, nenhuma vez com Juvêncio.

Nenhuma vez pobre Juvêncio! Nenhuma vez. A manhã veio com as suas cores vivas; o prestígio da noite passara um pouco, mas a comoção ficara ainda, a comoção da palavra divina. Nem se lembrou de mandar saber de Juvêncio; a mãe é que mandou lá, como boa mãe, porque este Juvêncio tinha certo número de apólices, que... Mandou saber; o rapaz estava bom; lá iria logo.
E veio, veio à tarde, sem as palavras de Romeu, sem as idéias, ao menos de toda a gente, vulgar, casmurro, quase sem maneiras; veio, e Cecília, que almoçara e jantara com Romeu, lera a peça ainda uma vez durante o dia, para saborear a música da véspera. Cecília apertou/lhe a mão comovida, tão-somente porque o amava. Isto quer dizer que todo amado vale um Romeu.

Casaram-se meses depois; têm agora dous filhos, parece que muito bonitos e inteligentes. Saem a ela.

Fontes:
Domínio Público
Imagem = http://veja.abril.com.br/blog/temporadas/pilotos-de-series/abc-desenvolve-adaptacao-de-romeu-julieta/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.56)


Trova do Dia

Os anjos tocam o sino,
esperando por Jesus.
Vai nascer o Deus Menino,
Para nos cobrir de LUZ.
MALU MOURÃO/CE

Trova Potiguar

Jesus, divina criança!
Seu Natal trouxe a pureza;
aos justos deu esperança,
aos maldosos, incerteza.
HÉLIO ALEXANDRE/RN

Uma Trova Premiada

2002 > Garibaldi/RS
Tema > Natal > M/H

O Natal já se insinua...
Na cidade que se agita,
são as crianças de rua
a consciência que grita!...
DOMITILLA BORGES BELTRAME/SP

Uma Poesia

Narcélio Lima/CE
ESTRELINHA DE NATAL.

Caia do céu estrelinha
Caia aqui no meu quintal
Seja minha companhia
Nesta noite de Natal

Caia logo estrelinha
Estrelinha aí do céu
Nos convide com magia
Para ver Papai Noel

E depois, minha estrelinha,
Ilumine os olhos meus
Traga toda alegria
Pra noite do menino Deus.

Uma Trova de Ademar

Que na noite de Natal
vivamos apenas isto:
um momento fraternal
e uma louvação a Cristo!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Natal... Repicam os sinos...
Banha-se o mundo de luz...
Há nos lábios dos meninos
o sorriso de Jesus!
COLBERT R. COELHO/MG

Estrofe do Dia

Ao teu próximo não queira
O que não queres pra ti
Pois não sairás daqui
Devendo dessa maneira,
Só se livra da viseira
Quem nunca deseja o mal,
Faz da paz o ideal
Assim diz o Nazareno;
Pra viver no amor pleno
Pois toda a vida é Natal.
PETRONILO FILHO/PB

Soneto do Dia

– Luiz Antonio Cardoso/SP –
NATAL

Belíssimas noites, na infância perdida,
agora ressurgem, cantando o natal !
E aquela criança, já tão esquecida,
retorna esperando, que o bem vença o mal.

Mas fica tristonha... percebe que a vida
perfaz um caminho, sombrio... fatal !
E num desespero, procura a saída
de um tempo moderno... já sem ideal.

Mas saiba, menino, viver é premente...
e a vida é possível, nutrindo a esperança
de um mundo mais justo... fraterno e luzente.

Deixemos de lado, tamanha ilusão:
Natal verdadeiro? Depende, criança,
da sua vontade... de ser um cristão!

Fonte:
Ademar Macedo

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Fernando Pessoa (13 junho 1888 – 30 novembro 1935)


Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
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Escritor português, nasceu a 13 de Junho de 1888, numa casa do Largo de São Carlos, em Lisboa. Aos cinco anos morreu-lhe o pai, vitimado pela tuberculose, e, no ano seguinte, o irmão, Jorge. Devido ao segundo casamento da mãe, em 1896, com o cônsul português em Durban, na África do Sul, viveu nesse país entre 1895 e 1905, aí seguindo, no Liceu de Durban, os estudos secundários.

Frequentou, durante um ano, uma escola comercial e a Durban High School e concluiu, ainda, o «Intermediate Examination in Arts», na Universidade do Cabo (onde obteve o «Queen Victoria Memorial Prize», pelo melhor ensaio de estilo inglês), com que terminou os seus estudos na África do Sul. No tempo em que viveu neste país, passou um ano de férias (entre 1901 e 1902), em Portugal, tendo residido em Lisboa e viajado para Tavira, para contactar com a família paterna, e para a Ilha Terceira, onde vivia a família materna. Já nesse tempo redigiu, sozinho, vários jornais, assinados com diferentes nomes.

De regresso definitivo a Lisboa, em 1905, frequentou, por um período breve (1906-1907), o Curso Superior de Letras. Após uma tentativa falha de montar uma tipografia e editora, «Empresa Íbis — Tipográfica e Editora», dedicou-se, a partir de 1908, e a tempo parcial, à tradução de correspondência estrangeira de várias casas comerciais, sendo o restante tempo dedicado à escrita e ao estudo de filosofia (grega e alemã), ciências humanas e políticas, teosofia e literatura moderna, que assim acrescentava à sua formação cultural anglo-saxónica, determinante na sua personalidade.

Em 1920, ano em que a mãe, viúva, regressou a Portugal com os irmãos e em que Fernando Pessoa foi viver de novo com a família, iniciou uma relação sentimental com Ophélia Queiroz (interrompida nesse mesmo ano e retomada, para rápida e definitivamente terminar, em 1929) testemunhada pelas Cartas de Amor de Pessoa, organizadas e anotadas por David Mourão-Ferreira, e editadas em 1978. Em 1925, ocorreria a morte da mãe.

Fernando Pessoa viria a morrer uma década depois, a 30 de Novembro de 1935 no Hospital de S. Luís dos Franceses, onde foi internado com uma cólica hepática, causada provavelmente pelo consumo excessivo de álcool.

Levando uma vida relativamente apagada, movimentando-se num círculo restrito de amigos que frequentavam as tertúlias intelectuais dos cafés da capital, envolveu-se nas discussões literárias e até políticas da época. Colaborou na revista A Águia, da Renascença Portuguesa, com artigos de crítica literária sobre a nova poesia portuguesa, imbuídos de um sebastianismo animado pela crença no surgimento de um grande poeta nacional, o «super-Camões» (ele próprio?). Data de 1913 a publicação de «Impressões do Crepúsculo» (poema tomado como exemplo de uma nova corrente, o paulismo, designação advinda da primeira palavra do poema) e de 1914 o aparecimento dos seus três principais heterônimos, segundo indicação do próprio Fernando Pessoa, em carta dirigida a Adolfo Casais Monteiro, sobre a origem destes.

Em 1915, com Mário de Sá-Carneiro (seu dileto amigo, com o qual trocou intensa correspondência e cujas crises acompanhou de perto), Luís de Montalvor e outros poetas e artistas plásticos com os quais formou o grupo «Orpheu», lançou a revista Orpheu, marco do modernismo português, onde publicou, no primeiro número, Opiário e Ode Triunfal, de Campos, e O Marinheiro, de Pessoa ortónimo, e, no segundo, Chuva Oblíqua, de Fernando Pessoa ortónimo, e a Ode Marítima, de Campos.

Publicou, ainda em vida, Antinous (1918), 35 Sonnets (1918), e três séries de English Poems (publicados, em 1921, na editora Olisipo, fundada por si). Em 1934, concorreu com Mensagem a um prêmio da Secretaria de Propaganda Nacional, que conquistou na categoria B, devido à reduzida extensão do livro. Colaborou ainda nas revistas Exílio (1916), Portugal Futurista (1917), Contemporânea (1922-1926, de que foi co-diretor e onde publicou O Banqueiro Anarquista, conto de raciocínio e dedução, e o poema Mar Português), Athena (1924-1925, igualmente como co-diretor e onde foram publicadas algumas odes de Ricardo Reis e excertos de poemas de Alberto Caeiro) e Presença.

A sua obra, que permaneceu majoritariamente inédita, foi difundida e valorizada pelo grupo da Presença. A partir de 1943, Luís de Montalvor deu início à edição das obras completas de Fernando Pessoa, abrangendo os textos em poesia dos heterônimos e de Pessoa ortônimo.

Foram ainda sucessivamente editados escritos seus sobre temas de doutrina e crítica literárias, filosofia, política e páginas íntimas. Entre estes, contam-se a organização dos volumes poéticos de Poesias (de Fernando Pessoa), Poemas Dramáticos (de Fernando Pessoa), Poemas (de Alberto Caeiro), Poesias (de Álvaro de Campos), Odes (de Ricardo Reis), Poesias Inéditas (de Fernando Pessoa, dois volumes), Quadras ao Gosto Popular (de Fernando Pessoa), e os textos de prosa de Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, Textos Filosóficos, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, Da República (1910-1935) e Ultimatum e Páginas de Sociologia Política.

Do seu vasto espólio foram também retirados o Livro do Desassossego por Bernardo Soares e uma série de outros textos.

A questão humana dos heterônimos, tanto ou mais que a questão puramente literária, tem atraído as atenções gerais. Concebidos como individualidades distintas da do autor, este criou-lhes uma biografia e até um horóscopo próprios. Encontram-se ligados a alguns dos problemas centrais da sua obra: a unidade ou a pluralidade do eu, a sinceridade, a noção de realidade e a estranheza da existência. Traduzem, por assim dizer, a consciência da fragmentação do eu, reduzindo o eu «real» de Pessoa a um papel que não é maior que o de qualquer um dos seus heterônimos na existência literária do poeta. Assim questiona Pessoa o conceito metafísico de tradição romântica da unidade do sujeito e da sinceridade da expressão da sua emotividade através da linguagem. Enveredando por vários fingimentos, que aprofundam uma teia de polêmicas entre si, opondo-se e completando-se, os heterônimos são a mentalização de certas emoções e perspectivas, a sua representação irônica pela inteligência. Deles se destacam três: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.

Segundo a carta de Fernando Pessoa sobre a gênese dos seus heterônimos, Caeiro (1885-1915) é o Mestre, inclusive do próprio Pessoa ortônimo.

Nasceu em Lisboa e aí morreu, tuberculoso, em 1915, embora a maior parte da sua vida tenha decorrido numa quinta no Ribatejo, onde foram escritos quase todos os seus poemas, os do livro O Guardador de Rebanhos, os de O Pastor Amoroso e os Poemas Inconjuntos, sendo os do último período da sua vida escritos em Lisboa, quando se encontrava já gravemente doente (daí, segundo Pessoa, a «novidade um pouco estranha ao caráter geral da obra»). Sem profissão e pouco instruído (teria apenas a instrução primária), e, por isso, «escrevendo mal o português», órfão desde muito cedo, vivia de pequenos rendimentos, com uma tia-avó. Caeiro era, segundo ele próprio, «o único poeta da natureza», procurando viver a exterioridade das sensações e recusando a metafísica, caracterizando-se pelo seu panteísmo e sensacionismo que, de modo diferente, Álvaro de Campos e Ricardo Reis iriam assimilar.

Ricardo Reis nasceu no Porto, em 1887. Foi educado num colégio de jesuítas, recebeu uma educação clássica (latina) e estudou, por vontade própria, o helenismo (sendo Horácio o seu modelo literário). Essa formação clássica reflete-se, quer a nível formal (odes à maneira clássica), quer a nível dos temas por si tratados e da própria linguagem utilizada, com um purismo que Pessoa considerava exagerado. Médico, não exercia, no entanto, a profissão. De convicções monárquicas, emigrou para o Brasil após a implantação da República. Pagão intelectual, lúcido e consciente, refletia uma moral estoico-epicurista, misto de altivez resignada e gozo dos prazeres que o não comprometessem na sua liberdade interior, e que é a resposta possível do homem à dureza ou ao desprezo dos deuses e à efemeridade da vida.

Álvaro de Campos, nascido em Tavira em 1890, era um homem viajado. Depois de uma educação vulgar de liceu formou-se em engenharia mecânica e naval na Escócia e, numas férias, fez uma viagem ao Oriente, de que resultou o poema Opiário. Viveu depois em Lisboa, sem exercer a sua profissão. Dedicou-se à literatura, intervindo em polêmicas literárias e políticas. É da sua autoria o Ultimatum, publicado no Portugal Futurista, manifesto contra os literatos instalados da época. Apesar dos pontos de contacto entre ambos, travou com Pessoa ortônimo uma polêmica aberta. Protótipo do vanguardismo modernista, é o cantor da energia bruta e da velocidade, da vertigem agressiva do progresso, de que a Ode Triunfal é um dos melhores exemplos, evoluindo depois no sentido de um tédio, de um desencanto e de um cansaço da vida, progressivos e auto-ironicos.

De entre outros, de menor expressão, destaca-se ainda o semi-heterônimo Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros que sempre viveu sozinho em Lisboa e revela, no seu Livro do Desassossego, uma lucidez extrema na análise e na capacidade de exploração da alma humana.

Quanto a Fernando Pessoa ortônimo, segue, formalmente, os modelos da poesia tradicional portuguesa, em textos de grande suavidade rítmica e musical. Poeta introvertido e meditativo, anti-sentimental, reflete inquietações e estranhezas que questionam os limites da realidade da sua existência e do mundo. O poema Mensagem, exaltação sebastiânica que se cruza com um certo desalento, numa expectativa ansiosa de ressurgimento nacional, revela uma faceta esotérica e mística do poeta, manifestada também nas suas incursões pelas ciências ocultas e pelo rosa-crucianismo.

Figura cimeira da literatura portuguesa e da poesia europeia do século XX, se o seu virtuosismo é, sobretudo inicialmente, uma forma de abalar a sociedade e a literatura burguesas decrépitas (nomeadamente através dos seus «ismos»: paulismo, interseccionismo, sensacionalismo), ele fundamenta a resposta revolucionária à concepção romântica, sentimentalmente metafísica, da literatura. O apagamento da sua vida pessoal não obviou ao exercício ativo da crítica e da polêmica em vida, e sobretudo a uma grande influência na literatura portuguesa do século XX.

Segundo o Professor Linhares Filho, as duas principais características da sua modernidade seriam: a consciência do fazer artístico e a prevalência do apolíneo sobre o dionisíaco, no elaborar-se poético.

Sensacionalista, o ortônimo nos mostra como sentir a paisagem, pois, para ele, todo objetivo é uma sensação nossa, toda arte é conversão da sensação em objeto, toda arte é conversão da sensação em sensação.

O próprio Pessoa apresenta cinco condições ou qualidades para entender os símbolos do ortônimo: a simpatia, a intuição, a inteligência, a compreensão e a graça. Depois conclui que:


"Todo estado de alma é uma paisagem.
Uma tristeza é um lago morto dentro de nós.
Assim, tendo nós, ao mesmo tempo, consciência do exterior
e do nosso espírito, e sendo nosso espírito uma paisagem,
temos ao mesmo tempo consciência de duas paisagens."

Como se vê, um espírito tão rico e até paradoxal como o de Pessoa não podia se resumir numa só personalidade. Daí o surgimento de muitos heterônimos, principalmente o de Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos.

Existe presentemente, em Lisboa, a Casa Fernando Pessoa, instalada na última morada do autor.

Fonte:
Colaboração de Carlos Leite Ribeiro (Portal CEN), com pesquisa extraída de http://www.astormentas.com e http://nescritas.nletras.com

Alcenor Candeira Filho (Antologia Poética)


SOS

sempre
sós
como ondas:
ontem hoje após.

sempre
sós
somos:
eu e tu e vós...

quanto
sobra
são
sombras
em torno de nós.

sombras,
só,
quando
e onde:
SÓS! SÓS! SÓS! SÓS!

somos

nós
sonhos
enquanto não pós.

SOMBRAS ENTRE RUÍNAS

Sombras e mais sombras
de sombrios olhares
num mundo de ruínas
andam lentamente.

Estão sempre mudas
tristes e cansadas.
E nem sonham mais
com um mundo que seja
menos miserável.

A voz que, aqui,
ali ou acolá,
de quando em vez
se levanta e quebra
a monotonia
grave do silêncio,
logo se esmaece
no deserto imenso.

E só ardentes preces,
ditas em segredo,
dia e noite sobem,
sobem para um céu
mais longe que perto.

DIANTE DA PORTA DA VIDA MORTA

Diante da porta
da vida morta,
devo sorrir
ou devo chorar?

Há deste lado
belas estrelas
que um dia talvez
possa alcançar.
Belas estrelas,
mas que me assombram
e fazem mal
ao meu olhar.
Por trás da porta
da vida morta,
em meio a um branco
transcendental,
o que haverá?
o que haverá?

Belas estrelas
dos meus assombros,
por gentileza
dizei-me vós:
diante da porta
da vida morta
devo sorrir
ou devo chorar?

PRÓXIMO
Para Ana Lúcia

estou bem próximo
de onde me encontro.
o espaço é belo
e brando o tempo.

aqui agora
olho e escuto
e cheiro e toco
e degluto
porque tudo
está perto
e posso fazê-lo
suavemente
sem ânsia
infinita
do impossível
a distância.

estou bem perto
do que me cerca.
é belo o espaço
e afável o tempo.

mas além do sonho
mais à luz da razão
o pensamento
vai para bem distante
daqui neste momento
- incompreensivelmente.
------

Alcenor Candeira Filho (1947)


Alcenor Rodrigues Candeira Filho

Nasceu em Parnaíba (PI), em 10 de fevereiro de 1947.

Poeta, cronista, ensaísta e professor. Bacharel em Direito, procurador do INSS. Atual Secretario de Educação de Parnaiba.

Esteve à frente de movimentos culturais de sua terra natal, através do jornal Inovação, juntamente com outros jovens intelectuais. Poeta, cronista, ensaísta, conferencista, crítico, historiador literário, diplomado em direito, professor, advogado, membro de diversas entidades culturais.

Embora tenha nascido e vivido em cidades ensolaradas (Parnaíba e Rio de Janeiro), Alcenor Candeira Filho faz uma poesia muitas vezes marcada por toques soturnos, indagações existenciais, deixando a alma vagar “em grandes trevas”. É nesses temas sombrios que o poeta mais se manifesta como cantor de si mesmo. Quando se afasta desse eu poético é para entregar-se ao prazer do exercício de uma poesia asséptica que ele próprio designa como “exercícios de metalinguagem”. Então, como em outras ares em que mergulhe, há sempre o fluxo do ritmo, da musicalidade, do domínio da arte poética como construção técnica. Seu livros mais recente, Seleta em verso e prosa, como diz o título, reúne uma coleção de artigos e poemas que bem o apresentam como prosador amante de sua cidade, mestre de história e técnica literária além de poeta de plena intimidade com a poesia de língua portuguesa, daquela dos primeiros romanceiros até à síntese da práxis.” BENJAMIM SANTOS (Extraído do jornal Bembém, 32, agosto 2010)

Pertence à:
Academia Parnaibana de Letras
União dos Escritores do Brasil (UBE-PI).
Academia Piauiense de Letras, cadeira n. 19.

Bibliografia:
Sombra Entre Ruínas, 1975;
Rosas e Pedras, 1976;
Das Formas de Influência na Criação Poética, 1980;
Aspectos da Literatura Piauiense, 1993;
A Insônia da Cidade, 1991;
Literatura Piauiense no Vestibular, 1995;
Redação no Vestibular, 1996,
Memorial da Cidade Amiga, 1998.
O Crime da Praça da Graça ( 2008).

Fonte:
http://proparnaiba.com/artes/escritores-do-1-salipa-alcenor-candeira-filho.html?quicktabs_1=0

Ialmar Pio Schneider (Livro de Sonetos I)


MÁGOAS E QUEIXAS

Fazer versos é fácil - dir-me-eis -
se lerdes minhas páginas singelas
e simplesmente reparardes nelas
mágoas que nem de longe conheceis....

Se assim pensardes, nunca entendereis
da própria alma as fatídicas procelas
surgindo à noite, não em tardes belas,
e sois felizes porque não sofreis...

Se, no entanto, sentirdes a tristeza
transparecendo aqui nas entrelinhas
destes versos, que os leva a correnteza

a transbordar em zonas ribeirinhas,
é possível que tendes, com certeza,
queixas amargas iguais às minhas !

AMOR PROIBIDO

Pobre Rubião que quis o amor proibido,
o louco afeto que não era seu,
e sem desabafar num só gemido
nos mares da loucura pereceu.

Sofia há de lembrar o seu pedido,
que sem saber por que não atendeu,
e o distante cruzeiro enaltecido
continuará brilhando lá no céu,

como chamando a cativante bela,
que calma se aproxime da janela
e que venha fazer-lhe companhia.

E o vento, desfolhando as lindas flores,
há de chorar incompreensões de amores
por uma voz pungente de elegia!

SONETO A UMA MUSA

Tento ainda escrever mas, tristemente,
meu coração soluça e não esquece
a musa que enfatiza a minha prece
e sinto que estou mal, estou doente.

Por que será que foste a grande ausente
na vida do poeta que padece,
(oh! fada que percorres minha messe)
e me fazes sofrer inutilmente?!...

No entanto, minha velha companheira,
eu te levo comigo na desdita,
e há de ser a esperança derradeira

de seguir versejando amargas penas,
porque em sonhos te vejo tão bonita,
e pra mim tal conforto basta, apenas...

SONETO A CANOAS

Altaneira cidade do progresso
rumo ao destino imenso te projetas;
das indústrias, fenomenal complexo,
exemplo de trabalho em tuas metas !

E irás rompendo curvas pelas retas
do amanhã promissor e do sucesso,
a fim de proclamarem os poetas
que em teu avanço não terás regresso...

Jovem ainda, contas com o vigor
de teus filhos natos e adotivos,
cada qual dedicado ao seu labor

para te verem mais engrandecida
em teus empreendimentos e atrativos;
e onde transcorra normalmente a vida.

SONETO MÍSTICO

Estou sentindo um sopro realmente...
É a hora em que refrescas minha fronte
e sou Tua flor, erguida em alto monte,
a quem deste um aroma permanente.

O dia em que eu tombar murcho no chão
recolhe para Ti todo o perfume
para que eterno queime no Teu lume
incensando Tua plácida mansão.

Não o deixes perder-se em treva densa,
mas faze que ele sempre a Ti pertença
co’a glória de servir-Te e que somente

um dia - não sei quando - em Teu louvor,
retorne finalmente à mesma flor
p’ra que unidos os guardes eternamente.

CONSOLAÇÃO

Os meus versos não servem mais pra nada;
quero jogá-los fora, pobres versos,
foram meus companheiros de jornada
nos momentos felizes ou adversos !

Muitos escritos pela madrugada,
tristes soluços na paixão imersos
parecem uma história inacabada
com fragmentos avulsos e dispersos...

Entretanto, por que jogá-los fora ?
se nasceram do fundo de minh’alma
e já não servem pra mais nada, agora ?!

São versos pobres, versos, enfim, tristes,
mas fazem que eu mantenha a minha calma
e me dizem que tu neles existes...

SAUDOSISTA

Tu me acusas de eu ser um saudosista
a viver relembrando amores idos...
como queres que assim deles desista
se foram, afinal, apetecidos ?

E viverão comigo enquanto exista
saudade dos momentos bem vividos,
representando sonhos de conquista
oh! como poderão ser esquecidos ?!

É meu dever querer-te sempre mais,
mas os direitos devem ser iguais
para que nunca Amor haja conflito.

A acusação que sai da tua boca
só te transtorna, tu pareces louca !
Aquilo que houve outrora está prescrito...

SONETO AO SOL

Nesta tarde sem chuva até parece
que a claridade abraça nossa Terra,
o sol risonho aos poucos se descerra
e alegremente brilha e resplandece...

Oh! Rei dos Astros, quanta luz encerra
tua mensagem pura como a prece,
minh alma consternada te agradece
a paz que trazes afastando a guerra !

Fugindo ao teu calor, buscando as águas,
a Humanidade olvida suas mágoas
e vai achar sossego à beira-mar...

Fazes crescer a planta com carinho
que produz folha, flor e até o espinho;
e as folhagens enfeitando o Lar.
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Sobre o poeta:
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Arnoldo Pimentel Filho (Antologia Poética)


ALÉM DO MAR

Vou além do mar
Além do céu azul
Além do infinito
Além do meu sul

Vou saborear uma fruta fresca
Uma água limpa
Uma música viva
Além da minha cerca

Vou caminhar pro meu dia feliz
Sem lembrar o que fiz
No meu passado sem graça
Sem sombra na praça

Vou esquecer
Meu sol na praia
Vou zarpar
Antes que a noite caia

Vou pescar
Vou viver
Conquistar meu castelo
Antes do amanhecer

CAMINHO TRAÇADO

Vou traçar meu caminho
Num destino incerto
Partir num caminhão
Num vão
De espaço aberto

Fugir como uma pipa
Sem ter onde chegar
Buscar o sentimento puro
A paisagem esquecida
Um sorriso de brisa

Lançar-me ao frescor da montanha
Praticar rapel
Ilhar-me no meu céu
Sem fundo
Sem mundo

Vislumbrar meu corpo
Sereno e sem graça
No banco da praça
Silêncio vívido
No horizonte do meu mar

GAIVOTAS

Não adianta aprisionar
Deixar de sorrir
Deixar de sentir
Deixar de amar
Não adianta
Olhar as gaivotas
Pelo quadrado da janela
Se não puder zarpar
Escutar o badalar dos sinos
Se não souber ouvir
Se não souber rezar
Não adianta se afligir
Se seus braços não vão partir

FONTE ENCANTADA

Eu te amo
Você é o cristal
Que enfeita
Minha sala
O sonho que nasceu
Na fonte encantada
Onde saboriei
Sua seiva adocicada
Você é o seio
Que alimenta minha placidez
Noite estrelada
Que inspira minha madrugada
Você é doce
Meiga como uma flor
Lira suavemente dedilhada
Princesa singelamente amada

CORPO MORTO

Sente sombras no quarto
Sente vultos do passado
Paredes balanço
Tempo se esgotando
Sente um aperto no peito
Alucinações abrindo a janela
Sente todo arrependimento
Todo sofrimento
Sente gotas de suor descendo pelo rosto
Rosto pálido
Quadro feito por estar só
Garganta apertada pelo nó
Sente asas no seu corpo
Sente felicidade
Liberdade
E sai voando pela janela
Livre e solto
Cai no passeio já morto

TEMPO SEM VENTO

Já não sei dizer se sou
Bálsamo
Flor
Ou fruto
Se meu perfume
Cabe dentro da minha solidão
Se meu violão entristecido
Ainda sabe os acordes
Da sua canção
Já não sei dizer
Em que tempo estou
Não sei dizer se sou estrela
Ou lua
Ou uma janela sem vidros
Por onde
O vento da saudade entrou

PESCADOR DE SONHOS

Tudo passou na hora que desbotou
Na hora que deixou de ser
Quando a maresia trouxe o outro lado da cor
O outro lado da dor

Tudo passou na hora que tinha que partir
Partir para o nevoeiro
Partir pra solidão do mar
Partir sem saber se iria voltar

Iria apenas partir
Não importava se iria ou não pescar
Importava sim
Poder se descobrir

Não importava se a dor que sentia era feita de flor
Ou se amargas lembranças iriam voltar
Só queria mesmo era partir para o mar

Só queria olhar para o horizonte e se entregar
Viver uma aventura para se esquecer de amar
Não importava se iria encontrar um marlim
Ou apenas sorrir para as estrelas ao invés de chorar
Ao invés de querer desistir de sonhar

Talves fosse mesmo outro velho em busca do mar
Ou apenas um jovem velho que não soube amar
Que naõ soube pescar na beira da praia
Que nem mesmo saboreou uma raia

A lua secou
Secou sem lágrimas para desabrochar
Secou sem poder olhar os olhos que queria abraçar
Secou sem seus encantos poder mostrar
Sem ver o sol que queria amar

Tudo acabou
Acabou no momento que a flor sem orvalho suspirou
Na noite que seu mar secou
Nos olhos que ao olhar serenou
Na única noite que amou

Talvez fosse mesmo um velho jovem que estava partindo
Ou um velho que viveu sua breve vida sorrindo
Mas que se esqueceu de tentar naufragar
De se agarrar a tênue vida que a solidão nos dá
Que se esqueceu de lembrar que para viver
Era preciso brincar
De sonhar
De viver para amar

DECLARAÇÃO DE AMOR

Eu te amo
Muito mais que possa imaginar
Muito mais que as estrelas do mar
Em todas as formas que há de amar

Preciso fazer você feliz
Então não tenha medo, me entregue seu coração
Assim serei o cobertor colorido
Que aquecerá seu corpo e sua vida nas noites de tristeza

Somos carentes de amor
Precisamos tanto nos sentir amados
Vamos juntos buscar os caminhos da felicidade
E vivermos nossos sonhos na terra distante do amor

Você é a luz da minha vida
Farol da minha embarcação
Todos os meus sonhos serão possíveis com você ao meu lado
Pois você é o sangue que pulsa minhas veias

Quero sentir nossos abraços entrelaçados
Acariciar seus cabelos soltos e travessos
Beijar seus lábios que adoçam minha alma
Sorver o pólen do seu coração

Eu te amo mais que tudo
Por você daria minha vida
Apenas para te ver feliz
Mesmo que fosse longe dos seus braços

LUA DESOLADA

Nuvem que passa
Lua que ficou apagada
Só e desolada
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Sobre o poeta:
mais poemas de Arnoldo:
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Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.55)


Trova do Dia

Causador da minha insônia,
motivo do meu sorriso,
sem nenhuma cerimônia...
me transporta ao paraíso!
VÂNIA MARIA SOUZA ENNES/PR

Trova Potiguar

Uma pessoa egoísta
quer para si todo o bem.
O que chama de conquista
é o que roubou de alguém.
HELIODORO MORAIS/RN

Uma Trova Premiada

1998 > Sete Lagoas/MG
Tema > UNIVERSO > 1º Lugar.

Ao ver tanta mesquinhez
e tão nobres ideais,
tenho a impressão que Deus fez
universos desiguais!
CÉLIA GUIMARÃES SANTANA/MG

Uma Poesia

– Efigênia Coutinho/SC –
PALAVRAS NUAS

Quem sonha acorda, discorda
Vem frase de língua a falar...
Soltas ao vento, em horda.

Neuma dentro do sonho,
O balancim com andor a vagar...
Imagens dum tempo bisonho.

Ritmo limiar com intenção,
Que as portas de palavras a olvidar.
Sejam abertas com precisão.

Breve pausa sem fachada,
Somente vai o tempo enganar.
Pois ele não tem retomada.

Há ventos ruidosos nos ares,
Revirando tempos a passar...
Não faz vincos similares.

É o tempo duma palavra nua,
Entre dois corpos a sina lavrar...
A vida que em mil cores continua.

Uma Trova de Ademar

A minha fé não se abala
e eu sinto uma força estranha,
toda vez que alguém me fala
sobre o sermão da montanha!...
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Meu Deus como o Tempo passa!...
- Nós, às vezes, exclamamos...
Mas por sorte ou por desgraça,
fica o tempo... e nós passamos...
LUIZ OTÁVIO/RJ

Estrofe do Dia

A esperança não morre,
simplesmente ela descansa...
Quem precisa, ela socorre
é questão de confiança!
Incluí na minha agenda
visitar toda fazenda
onde se planta esperança.
JUCA DE MAGNÓLIA/RN

Soneto do Dia

– Gilmar Leite/PE –
O JARDIM DE UMA POETISA
(À poetisa Rachel Rabelo)

Os teus versos têm cores madrigais,
o perfume que exala nas campinas,
o frescor das gotículas cristalinas
dando os beijos nas flores aromais.

As palavras têm tons angelicais
na candura de estrofes bem divinas,
onde o riso mais puro das meninas
são teus versos com luzes matinais.

Os sonetos que brotam do teu peito
são os lírios do sonho mais perfeito,
exalando das pétalas teu perfume.

Ao andar no jardim dos teus poemas,
encontramos essências de alfazemas
com fulgores dum lindo vaga-lume.

Fonte:
Ademar Macedo