quinta-feira, 30 de junho de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 259)

Domitila Borges Beltrame, da UBT São Paulo
(desenho com lápis e carvão, por J B Xavier)
Uma Trova Nacional

Desfeitas as esperanças
de alcançar felicidade,
vou vivendo de lembranças
e morrendo de saudade...
–JOÃO COSTA/RJ–

Uma Trova Potiguar

Olhos fundos; enfadonhos,
tez crestada, mão ferida...
Só você, pai, por meus sonhos,
foi capaz de dar a vida...!
–MANOEL CAVALCANTE/RN–

Uma Trova Premiada


2007 - UBT-Natal/RN
Tema: TEMPO - M/H.

Tempo – museu da lembrança,
que, entre relíquias saudosas,
tem nos sonhos de criança
as peças mais valiosas...
–EDMAR JAPIASSÚ MAIA/RJ–

Uma Trova de Ademar

Eu quero ver retratada,
por sobre os meus cacarecos,
a minha vida encenada
num teatro de bonecos.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Nesta guerra entre nações,
onde o mundo se desfaz,
por que, em vez de aviões,
não usam pombas da paz?
–JORGE MURAD/RJ–

Simplesmente Poesia

–MÁRIO QUINTANA/RS–
Os Poemas

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Estrofe do Dia

Nas paredes da casa que morei
só vi rato pardal e andorinha,
vi rachão na parede da cozinha
que com medo de cobra não entrei;
mesmo assim lá de fora eu avistei
a panela de mãe fazer coalhada
e num torno, sem pavio, pendurada
avistei uma velha lamparina
a coruja tornou-se a inquilina
dos escombros da casa abandonada.
–LUCAS CORREIA/CE–

Soneto do Dia

–EDMAR JAPIASSÚ MAIA/RJ–
Gota a Gota

Um pingo apenas, percorreu-me a face;
um pingo estranhamente caudaloso,
que, umedecendo o meu perfil nervoso,
mostrou-me um veio que no peito nasce...

A lembrança do tempo desditoso
permitiu à tristeza que afogasse
numa só gota, as rugas que encontrasse
em meu semblante austero, ainda ansioso...

Aquele pingo foi a gota d'água
que fez extravasar a intensa mágoa
há muito represada a contragosto...

E as lágrimas, vazadas do celeiro
de minha alma angustiada de guerreiro,
fluíram nas ruínas de meu rosto!

Fonte:
textos enviados pelo autor

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Paulo Bomfim (Antologia Poética)


BASTA DE SER O OUTRO

Basta de ser o outro... O herdeiro da terra,
O neto de seus avós!
Basta de ser
O que leu
E o que ouviu...
À terra devolvo
O cálcio, o ferro, o fósforo;
À nuvem devolvo a água rubra,
Aos mortos,
As angústias herdadas,
Aos vivos
Os gestos e as palavras recebidas...
Basta de ser o outro,
Colcha de retalhos alheios,
Cobrindo um frio verdadeiro.

SONETO L

No ramo a flor será sempre segredo
Moldando realidades no vazio,
Caminho de perfume, rosa e estio,
Crescendo além dos roseirais do medo.

História das raízes sem enredo...
Rolam frases de terra pelo rio,
As consoantes de luz tremem de frio
E as vogais orvalhadas morrem cedo.

No ramo a flor será sempre futuro,
Haste e corola nos confins do sonho,
Marcando de infinito a cor do muro...

Sempre a cor sobre a senda debruçada,
E o perfume crescendo onde reponho
O sentido da flor despetalada.

SONETO II

O livro que hoje escrevo foi escrito
Em outro plano estático e diverso,
Sei que morro no fim de cada verso
E renasço no início de outro mito.

Em cada letra tinta de infinito
Há um diálogo mudo que converso
Com nebulosas de meu universo
Onde nasceu a página que dito.

Sei que sou neste instante o que já fui,
E aquilo que recebo agora flui
De um campo superior onde me deito.

Durmo além, nessa plaga que recordo:
Só escrevo neste plano onde hoje acordo,
Aquilo que ainda sonho no outro leito.

SONETO IV

Não construo estes barcos, pois se fazem.
Cedro crescido em minha serrania,
Velas sugadas pela maresia,
E as âncoras, vocábulos que jazem

Em múltiplas jornadas que perfazem
Circuitos de hipocampos e euforia.
Sim, o leme nasceu em minha manhã fria
Da solidão das mãos que embora casem

No instante de criar, depois são fugas
Em corpos, em trajetos, em contactos,
Ou tripulantes percorrendo rugas.

Passam por mim as forças que se enfeixam
No cerne de estaleiros e do atos:
— Não construo estas naus, elas me deixam!

SONETO V

Alquimia do verbo. Em minha mente
Recriam-se palavras na hora vária,
A poesia se torna necessária
E as flores rememoram a semente.

É preciso que exista novamente
A aventura distante e temerária
De em ouro transformar a dor precária
E em nós deixar correr a lava ardente.

Que uma emoção profunda e mineral
Corra nos veios desta carne astral
E encontre em mim aquilo que procura.

Na paisagem que for, já sou nascido:
Nas formas criarei o elo perdido,
e, em lucidez, serei minha loucura.

A VIDA

Sonhei existir
Quando o universo circulava ainda
No sangue dos deuses.
Em mim criei a forma
E fui árvore,
Idealizei o mar
E fui peixe,
Aspirei a nuvem
E fui pássaro.
Na boca dos oráculos
Sou a palavra sagrada
Que brota da terra,
No corpo dos amantes
A semente que nasce do beijo.
Expirada pelos deuses
Trouxe o formato de seus corpos múltiplos;
Agora sou o ar divino
Formando realidade,
Impulso gerando impulso.
Retorno aos pulmões da noite
Com rostos, árvores e oceanos gravados em mim:
- Nos caminhos do sangue, toco-me de eternidade.

DESCOBERTA

Deixa que as coisas te interpretem,
Que o vento sinta tua pele,
Que as pedras meditem teus passos,
E as águas criem tua realidade.
Vive o mistério da terra,
O segredo da semente,
O caminho da seiva,
O milagre do fruto.
Deixa que as coisas meditem sobre ti,
Que ventos, pedras e águas recriem tua imagem;
Entende a mão que te colhe,
A lâmina que te despe
E sangra teu silêncio,
Reflete o mundo branco que te mastiga,
Transforma-te em carne, e em galeras de sangue
Regressa.
A vida terá partido, com bicos noturnos,
A casca da palavra.

OS DIAS MORTOS

Os dias mortos, sim, onde enterrá-los?
Que solo se abrirá para acolhê-los
Com seus pés indecisos, seus cabelos,
Seu galope de sôfregos cavalos!

Os dias mortos, sim, onde guardá-los?
Em que ossário reter seus pesadelos,
Seu tecido rompido de novelos,
Seus fios graves, relva além dos valos.

Tempo desintegrado, tempo solto,
Fátuo fogo de febre e de fuligem,
Canteiro de sereia em mar revolto.

Em nossa carne, sim, em nossos portos,
Quando o fim regressar à própria origem,
Repousarão também os dias mortos!

CIMENTO ARMADO

Batem estacas no terreno morto,
No terreno morto surge vida nova,
As goiabeiras do velho parque
E os roseirais abandonados,
Serão cortados
E derrubados

Um prédio novo de dez andares,
Frio e cinzento,
Terá seu corpo de cimento-armado
Enraizado no velho parque
de goiabeiras
De roseirais

Batem estacas no terreno morto.
Século vinte...
Vida de aço...
Cimento-armado!

Batem as estacas
Um prédio novo, de dez andares,
Terraços tristes,
Pássaros presos,
Rosas suspensas,
Flores da vida,
Rosas de dor.

Paulo Bomfim (1926)


Paulo Lébeis Bomfim nasceu no dia 30 de setembro de 1926 em São Paulo (SP). Abandonou o curso de Direito, que havia iniciado por volta de seus 20 anos, preferindo continuar trabalhando como colaborador dos jornais “Diário de São Paulo”, “Correio Paulistano” e “Diário de Notícias”. Seu primeiro livro, “Antônio Triste”, lançado em 1946, com prefácio de Guilherme de Almeida e ilustrações de Tarsila do Amaral, recebeu o Prêmio Olavo Bilac, concedido pela Academia Brasileira de Letras, em 1947.

Atuou como relações públicas da "Fundação Cásper Líbero" e fundador, com Clóvis Graciano, da Galeria Atrium. Produziu "Universidade na TV" juntamente com Heraldo Barbuy e Oswald de Andrade Filho; "Crônica da Cidade" e "Mappin Movietone". Apresentou na Rádio Gazeta, "Hora do Livro" e "Gazeta é Notícia". Entre 1971 e 1973 foi curador da Fundação Padre Anchieta, diretor técnico do Conselho Estadual de Cultura de São Paulo e representante do Brasil nas comemorações do cinqüentenário da Semana de Arte Moderna, em Portugal.

Publicou, em 1951, "Transfiguração". Em 1952, "Relógio de Sol". Lança as primeiras cantigas, musicadas por Dinorah de Carvalho, Camargo Guarnieri, Theodoro Nogueira, Sérgio Vasconcelos, Oswaldo Lacerda e outros.

Publica, em 1954, "Cantiga de Desencontro", "Poema do Silêncio", "Sinfonia Branca" e depois, em 1956, "Armorial", ilustrado por Clóvis Graciano. Em 1958, lança "Quinze Anos de Poesia" e "Poema da Descoberta". Publica a seguir "Sonetos"(1959), "O Colecionador de Minutos", "Ramo de Rumos" (1961), "Antologia Poética" (1962), "Sonetos da Vida e da Morte" (1963). "Tempo Reverso" (1964), "Canções" (1966), "Calendário" (1968), "Poemas Escolhidos" (1974), "Praia de Sonetos" (1981), com ilustrações de Celina Lima Verde, "Sonetos do Caminho" (1983), "Súdito da Noite" (1992), "50 Anos de Poesia" e "Sonetos" pela Universitária Editora de Lisboa. Em 2000 e 2001 publicou os livros de contos e crônicas “Aquele Menino” e “O Caminheiro”. Publicou, em 2004, “Tecido de lembranças” e, em 2006, quando o poeta completou 80 anos de idade, “Janeiros de meu São Paulo” e “O Colecionador de Contos”.

Suas obras foram traduzidas para o alemão, o francês, o inglês, o italiano e o castelhano. No dia 23 de maio de 1963, passou a ocupar a cadeira 35 da Academia Paulista de Letras tendo sido saudado por Ibrahim Nobre. Presidente do Conselho Estadual de Cultura e do Conselho Estadual de Honrarias e Mérito, na década de 70. O poeta é, ao completar 80 anos, o decano daquela Academia.

Em 1982, recebeu o título Personalidade do Ano, concedido pela União Brasileira de Escritores

Recebeu, em 1982, o Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano, concedido pela União Brasileira de Escritores.

Em 1993, foi agraciado com o Prêmio pelo Cinquentenário de Poesia, concedido pela União Brasileira de Escritores.

Fonte:
Jornal de Poesia

J. B. Xavier (O Pedágio)


À minha frente, a luz baça dos faróis se ia esmaecendo, vencida pela claridade do dia que surgia.

Confuso com a súbita claridade, percebi vagamente o incêndio avermelhado que o sol fazia ao levantar-se das colinas distantes.

As faixas brancas do asfalto, no entanto, tomavam toda a minha atenção, enquanto eu maldizia ter que percorrer esse trecho todos os dias.

A paisagem passava ao meu redor como uma névoa verde que se contorcia deformada pela velocidade. Absorto, eu já estava a uma hora no futuro, pensando em tudo o que me esperava no escritório.

Como eu começaria? Pior! por onde eu começaria?

Um ar gélido penetrava por alguma fresta do veículo, e me fez perceber o quanto a temperatura havia caído. Irritado, fui obrigado a parar e vestir um casaco, logicamente inadequado para aquela queda de temperatura.

A parada me irritou ainda mais, de maneira que quando cheguei ao pedágio, eu já me sentia sufocado pelo colarinho apertado que insistia em marcar minha pulsação, estrangulando-me a jugular.

-Bom dia - disse a moça num sorriso como há muito eu não via.

-Oi? - respondi - retirando o fone de ouvido, enquanto me irritava procurando trocados, por não ter comprado passes.

-É bonita a música que está ouvindo?

Pela primeira vez, a olhei nos olhos. " O que ela tem com isso?" - pensei irritado, mas aqueles olhos me fitaram diretamente, e o sorriso que o acompanhou desarmou meu espírito e ficará para sempre gravado em minha memória. Quis responder, mas não consegui lembrar de música alguma. Olhei para o walk-man no banco ao lado e ele estava chiando, porque há muito a seleção de músicas já havia acabado.

- É, sim, é bonitinha - respondi meio sem graça.

- É ótimo iniciar o dia ouvindo músicas - respondeu ela. O senhor passa sempre por aqui?

- Todos os dias - respondi prestando um pouco mais de atenção à moça – Você é nova aqui - perguntei?

- Sim. Comecei há alguns dias! Estou muito contente, porque esse posto fica num dos trechos mais bonitos da rodovia. Se o senhor passar quinze minutos mais cedo, verá um grande milagre da natureza nas curvas adiante - disse ela - enquanto me oferecia o troco, antes mesmo que eu lhe desse o dinheiro. - Em dias claros o sol parece sair de dentro da terra, e em dias chuvosos formam-se cascatas na encosta dos morros. É muito bonito.

- Eu conheço cada centímetro dessa rodovia - disse-lhe, num risinho irônico. - Há anos passo por aqui...

- Mas o senhor “curte” o trecho? - perguntou ela inocentemente enquanto pegava o dinheiro que eu lhe oferecia.

Eu ia responder qualquer coisa, mas um businaço atrás de mim, me assustou e me fez arrancar quase instantaneamente: Outro apressado, como eu.

Em poucos segundos eu estava novamente em velocidade. Mas a frase da moça mudou a minha vida.

No silêncio do carro, enquanto o vento zunia no espelho retrovisor, eu fiquei pensando na falta de sentido que minha vida estava tomando. Repentinamente fui colocado diante de mim mesmo por uma frase fortuita, casual.

Girei o retrovisor interno e olhei-me nos olhos. Vi um homem ansioso, correndo para atingir uma meta mal definida, que se esfumaçava sempre que eu pensava tê-la atingido. Vi um olhar vago, inquieto, onde havia resquícios de medo. Um medo insidioso, muito bem disfarçado, mas latente e presente, gerando inseguranças.

Mas acima de tudo, vi um homem solitário, envolvido demais na corrida desenfreada em busca do sucesso para ter tempo de cultivar amizades fortes. Apressado demais, ocupado demais, para ter tempo de confraternizar.

Minha desatenção à estrada me levou para a outra pista de rodagem e por pouco não causo um acidente. E se o acidente tivesse acontecido? De que teria valido toda essa correria?

Então, a consciência do efêmero da vida atingiu-me em cheio!

Como eu pude ter tanta certeza de que teria o tempo à frente disponível para todos os planos que tracei? Quem foi que me garantiu isso, a não ser minha própria mania de pensar que o Universo está sempre à minha disposição para me servir?

Meu pensamento foi então para minha esposa e filhos. Teria eu o direito de fazê-los esperar mais pela atenção que nunca vinha? Eu já não tinha conquistado o suficiente para estar alegre, ao invés de estar sempre tenso pelo que ainda me propunha conquistar?

A voz da menina do pedágio voltou aos meus ouvidos: “O senhor curte o trecho?”
No silêncio do carro eu finalmente a respondi: Não, eu não curtia o trecho!

Nos dias que se seguiram eu acatei o seu conselho e saí um pouco mais cedo. Sem a pressa habitual, pude observar o maravilhoso espetáculo que a natureza nos oferece todas as manhãs. Um espetáculo diferente a cada dia.

Como pude praguejar contra a chuva, quando era ela que limpava e tornava brilhantes as flores das copas da floresta; se, graças a ela, desfilavam diante de mim imensos mosaicos coloridos, de formas insondáveis? Como pude me irritar com o sol batendo em meu rosto, se era ele que arrancava cintilâncias de diamante do regato que corria ao longo da rodovia e me lembrava a toda hora que eu era parte de tudo aquilo?

Em que momento eu parei de me extasiar diante da vida? Quando aconteceu de eu não prestar mais atenção ao momento presente? Quando foi que eu deixei de "curtir os trechos" das minhas várias jornadas pela vida? Como pude permitir que isso acontecesse?

E o meu trabalho no escritório? Ora! Calma! Ele ainda está a mais de uma hora no futuro!

Fontes:
JB Xavier
Imagem = Caldeira Motors

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 258)

Trovador Izo Goldman (desenho a lápis e carvão por JB Xavier)
Uma Trova Nacional

Amanhece... De repente,
tomando o corpo da terra,
o sol beija, ardentemente,
o rosto bruto da serra...
–DIVENEI BOSELI/SP–

Uma Trova Potiguar

Há na mente da criança
um ideal tão fecundo,
que toda desesperança
torna-se lenda no mundo.
–PAULO ROBERTO/RN–

Uma Trova Premiada


2010 - Curitiba/PR
Tema: MADRUGADA - Venc.

Madrugada. A lua sonda
minha rede e, sem vacilo,
entregue à exaustão da ronda,
se deita, para um cochilo...
–DARLY OLIVEIRA BARROS/SP–

Uma Trova de Ademar

Amar – verbo transitivo
que ao coração de nós dois
será sempre um lenitivo
hoje, amanhã e depois...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Seria a vida enfadonha
sem as dúvidas que tive.
Quem tem certeza não sonha,
e que não sonha, não vive...
–ORLANDO BRITO/MA–

Simplesmente Poesia

–DALINHA CATUNDA/CE–
Décima Final

Um dia eu fui cativa
De beijos que eram só meus.
Depois dissestes adeus
Fiquei mais morta que viva.
O gosto de tua saliva
Deixava-me alucinada
Virou saudade e mais nada
Vagando dentro de mim
Se já chegamos ao fim
Fique de boca calada!

Estrofe do Dia

Quem preserva a cultura do sertão,
a quadrilha, o forró, o violeiro,
tá zelando o folclore brasileiro
que não vai ao programa do Faustão;
que a mídia não quer dar proteção
ao poeta que vive do repente,
tá tirando do solo essa semente
que precisa nascer nos arraiais;
quem preserva as raízes culturais
eterniza o valor da sua gente.
–MARIVALDO GONÇALVES/PE–

Soneto do Dia

–PROF. GARCIA/RN–
Obstinação

Quando eu vejo no espelho a crueldade,
que o tempo indiferente me causou,
começo a perceber, que na verdade,
minha infância tão linda já passou!

Até hoje carrego com saudade
tudo aquilo que o tempo me levou,
dos feitiços banais da mocidade
a lembrança foi tudo que restou!

E por lembrar da infância tão querida,
nunca esqueço do amor de minha vida
que descobri na infância, certa vez;

pois este amor, tão lindo e tão sonhado,
inda vive comigo do meu lado,
a encher meu lar de paz e sensatez!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Ialmar Pio Schneider (Inverno e Saudades)


Sempre quando chega o inverno eu me transporto aos tempos de criança, andando de pés descalços sobre a geada que cobria os campos da minha terra. Hoje, distante, a saudade me visita e eu leio o soneto que fiz há alguns anos, lembrando aquele pedaço de chão onde ensaiei os primeiros passos e de que me afastei, por contingências da vida, mas do qual conservo as mais gratas recordações da infância. Diz assim:

“SONETO A SERTÃO-(Minha terra natal)

– Oh! terra onde nasci, berço de minha infância,
que sempre levarei dentro do coração,
batendo com ardor, em serena constância,
lembrando os tempos bons que já bem longe vão !…

Teu nome a recordar saudades e distância,
flores silvestres e quem sabe solidão,
há de permanecer tal suave fragrância
cá dentro de minh’alma, oh! saudosa Sertão !

Se assim Deus o quiser, em teu solo bendito
reviverei um dia o passado aos pedaços,
como o filho que volta ao lar: cansado, aflito…

Porém que, em retornando ao seu torrão natal,
lugar onde ensaiou os seus primeiros passos,
consegue um elixir pra curar o seu mal…”

No entanto, meus familiares já não residem mais lá. Estão espalhados pelo Paraná e Santa Catarina, também pelas citadas contingências da vida que os levaram à procura de melhores condições para enfrentar o dia-a-dia. Isto faz-me lembrar o romance Éramos Seis, de Maria José Dupré, que depois virou uma novela do SBT de grande audiência, protagonizada pela inigualável atriz Irene Ravache, entre outros não menos importantes atores. Só que nós éramos oito, os saudosos pai e a mãe (hoje falecidos), e seis irmãos (duas mulheres e quatro homens, um dos quais também falecido há pouco, meu saudoso mano Remi, para o qual escrevi umas palavras doridas aqui, quando do seu passamento, por assim dizer, prematuro, em consequência de cirurgia de vesícula mal-sucedida e hérnia, ao que me consta, tendo tido hemorragia e sua pressão baixado a zero. Tenho como um baque em minha vida esta perda, pois tratava-se de um irmão que também trilhava o caminho da poesia e se identificava comigo. Dir-se-ia fatalidade para justificar. Quem o sabe ?

Entrementes, os invernos foram se sucedendo, e agora fico recitando os versos do romântico Guilherme de Almeida:

“SAUDADE

– Só.
Para além da janela,
nem uma nuvem, nem uma folha amarela
manchando o dia de ouro em pó…
Mas, aqui dentro, quanta bruma,
quanta folha caindo, uma por uma,
dentro da vida de quem vive só !
Só – palavra fingida,
palavra inútil, pois quem sente
saudade, nunca está sozinho: e a gente
tem saudade de tudo nesta vida…
De tudo ! De uma espera
por uma tarde azul de primavera;
de um silêncio; da música de um pé
cantando pela escada;
de um véu erguido; de uma boca abandonada;
de um divã; de um adeus; de uma lágrima até !

No entanto, no momento,
tudo isso passa
na asa do vento,
como um simples novelo de fumaça…
E é só depois de velho, uma tarde esquecida,
que a gente se surpreende a resmungar:
“Foi tudo o que vivi de toda a minha vida !”
E começa a chorar…

Guilherme de Almeida”

Por outro lado, sabe-se que os invernos já não são os mesmos daqueles tempos, não obstante na serra gaúcha todos aguardem – residentes e turistas – a queda da neve que quase todos os anos acontece nesta época. Enquanto isto, os visitantes vão se deliciando com a gastronomia e os hotéis e pousadas ficam lotados, ainda mais que está para ocorrer o 31º Festival de Gramado – Cinema Latino e Brasileiro, a ser realizado de 18 a 23 de agosto.

Assim vou finalizando esta crônica em que mesclei inverno e saudade, ainda que me louvando no inigualável poeta romântico Guilherme de Almeida, para dizer do estado de minha alma no momento. Que tenhamos todos um salutar inverno do qual sintamos saudades amanhã !
Publicado em 12 de julho de 2003 – no Diário de Canoas.

Fontes:
Texto enviado pelo Autor
Imagem = geada em Canoas disponível em Metsul Meteorologia

Monteiro Lobato (Caçadas de Pedrino) XI – Inaugura-se a linha


A linha telefônica foi construída com todo o luxo, como é de costume nas obras do governo. Os postes foram até pintados! Era a mais curta linha do mundo: com cem metros de comprimento e dois postos apenas, um no terreiro da casa e outro no acampamento dos caçadores. Um poste foi pintado de verde, outro de amarelo. No dia da inauguração, porém, aconteceu um fato imprevisto: o rinoceronte não veio deitar-se à porteira na hora do costume. Nem apareceu no dia seguinte, nem durante toda a semana. Os caçadores tiveram de armar barracas e ficar ali esperando, pacientemente, que ele se resolvesse a voltar.

Por que isso? Porque ficava sem jeito inaugurarem a linha sem o rinoceronte atravessado na porteira. Sem rinoceronte poderiam entrar duma vez no terreiro e falar diretamente com a dona da casa. Mas precisavam justificar a construção da linha, e por isso resolveram esperar que o monstro voltasse.

Vendo as coisas assim encrencadas, Emília resolveu intervir. Foi à Figueira-Brava pedir ao rinoceronte que não desapontasse a gente do governo e continuasse a ir dormir na porteira. Não se sabe de que argumentos a boneca usou; o que se sabe é que no dia seguinte, exatamente às três da tarde, o rinoceronte veio de novo, pachorrentamente, deitar-se de atravessado na porteira.

Houve vivas de entusiasmo no acampamento dos caçadores. Podiam, enfim, inaugurar a linha.

Trlin, trlin... soou na varanda a campainha do aparelho.

— Vá atender — disse Dona Benta ao Visconde, que estava cochilando por ali.

— Eu atendo — gritou Cléu, que tinha muita prática em falar ao telefone. E numa vozinha muito clara e espevitada atendeu: — Alô! Quem fala?

— Fala aqui o detetive X B2, chefe do Departamento Nacional de Caça ao Rinoceronte — respondeu uma voz grossa. — E quem está falando aí?

— Aqui fala Cléu, por ordem da proprietária da casa, Dona Benta Encerrabodes de Oliveira, avó de Narizinho, Pedrinho e Rabicó. Que deseja Vossa Rinocerôncia?

— Desejo participar à dona da casa que a linha telefônica está concluída e que agora podemos discutir as operações necessárias à caçada do rinoceronte, tendo o gosto de fazer com que as nossas palavras passem bem por cima dele sem que o bruto perceba, ah! ah! ah!...

— Mas por que não discutiu isso durante a semana em que o rinoceronte andou sumido e a passagem pela porteira estava completamente franca? Acho que Vossa Rinocerôncia perdeu um tempo precioso.

— Menina — respondeu, meio ofendido, o detetive X B2 —, não se meta no que não é da sua conta. O governo sabe o que faz. Quero falar com a dona da casa.

Cléu tapou com a mão o bocal do telefone e voltou-se para Dona Benta.

— Ele quer falar com a senhora mesma.

Mas a velha não estava pelos autos. Considerava aquela gente uma súcia de idiotas, um verdadeiro bando de exploradores.

— Diga-lhe que não me aborreça. Estou muito velha para andar servindo de instrumento a piratas.

Cléu deu o recado, com outras palavras para não ofender o governo, e então o detetive X B2 explicou que necessitava da autorização de Dona Benta para construir outra linha...

— Segunda linha telefônica? — indagou Cléu, admirada.

— Não, menina abelhuda. Agora será uma linha de transporte aéreo, que nos permita levar para aí as nossas armas e bagagens. Só assim poderemos assestar o canhão-revólver e a metralhadora na escadinha da varanda, de modo a abrir fogo de barragem contra o inimigo, sem dano para os vidros das vidraças de Dona Benta.

— E foi só para pedir tal licença que os senhores levaram tanto tempo construindo esta linha telefônica? — perguntou Cléu, admiradíssima.

— Não discuta os nossos processos, menina impertinente — disse com cara feia o detetive X B2. — O governo sabe o que faz, torno a dizer.

Cléu tapou de novo a boca do aparelho, enquanto consultava Dona Benta.

— Ele pede licença para construir uma nova linha — uma linha de cabos aéreos, como aquela do Pão de Açúcar...

Dona Benta respondeu que fizessem como entendessem e não a incomodassem mais.

Pedrinho estava assombrado da esperteza daqueles homens. Iam construir uma linha de cabos só para levar ao terreiro um canhãozinho e uma metralhadora!... Muitos rinocerontes já haviam sido caçados desde que o mundo é mundo, mas nenhum seria caçado tão caro e com tanta ciência como aquele. Apesar de nunca saídos daqui, tais homens bem que podiam mudar-se para a África, a fim de ensinar aos negros do Uganda como é que se caçam feras...

Tanto tempo levou a construção da linha de cabos aéreos que o rinoceronte se foi familiarizando não só com as pessoas do sítio, como ainda com o pelotão de caçadores. Várias vezes chegou até o acampamento onde farejava com curiosidade o canhão-revólver e a metralhadora, sem saber para que serviam. Numa dessas vezes ajudou os construtores da linha a arrancarem um poste que fora fincado torto, trabalhando tal qual um elefante manso da índia.

Emília tornara-se amiga íntima do animalão. Ia sempre à Figueira-Brava vê-lo pastar arbustos, e com ele entretinha-se horas a ouvir casos da vida africana. Era um rinoceronte de boa paz, já velho, com a ferocidade nativa quebrada por longos anos de cativeiro no circo. Só queria uma coisa: sossego. Por isso fugira do circo e viera esconder-se ali, no silêncio do capoeirão dos Taquaruçus.

— Eles querem matar você — disse-lhe Emília certa manhã. — Trouxeram para esse fim um canhão-revólver e uma metralhadora.

O rinoceronte arrepiou-se todo. Jamais supusera que a atividade daqueles homens e toda a trapalhada das linhas, que andavam assentando, tivessem por fim dar cabo da sua vida.

— Mas por quê? — indagou, em tom magoado. — Que mal fiz eu a essa gente?

— Nenhum, mas você é o que os homens chamam “caça” — e o que é caça deve ser caçado. Quando os homens encontram no seu caminho uma lebre, uma preazinha, um inambu, um pato selvagem ou o que seja, ficam logo assanhadíssimos para matá-lo — só por isso, porque é caça. Mas você não tenha medo que não será caçado. Hei de dar um jeito.

— Que jeito?

— Não sei ainda. Vou ver. Mas não se incomode. Sou jeitosíssima! Dou um jeito de afugentar os homens e você ficará morando toda a vida neste sítio. Já temos em nosso bandinho um quadrúpede, o Marquês de Rabicó, que é leitão, conhece?

— Não tenho a honra.

— Pois é um senhor muito importante, apesar da sua covardia e gulodice (Emília não teve a coragem de contar que Rabicó era seu marido). Tem quatro pés, como você, mas nem um pingo de chifre. Com mais um companheiro, e este de formidável chifre na testa, havemos de pintar o sete pelo mundo...

Emília estava radiante com a idéia de ver o rinoceronte incorporado à família de Dona Benta. Tia Nastácia é que iria ficar tonta de susto...

— E que tenho de fazer nesse bando? — perguntou o rinoceronte, comovido com o oferecimento.

— Nada, por enquanto. Mais tarde, veremos. O pelotão dos caçadores já está com a linha aérea pronta. Breve farão o transporte do canhão-revólver, da metralhadora e do resto. Vão assestar essas armas na escadinha da varanda.

— Devo então continuar a deitar-me na porteira, não é?

— Está claro. Para que eles possam utilizar-se da linha de cabos aéreos é indispensável que você esteja atravessado na porteira.

O rinoceronte não entendia aquilo.

— Mas por que já não transportaram esse tal canhão no tempo que passei sem ir deitar-me à porteira?

— Não sei — respondeu Emília, que de fato não sabia. — Dona Benta também não sabe, nem Cléu, que foi quem conversou com o detetive X B2 pelo telefone, nem Narizinho, nem Pedrinho, nem o Visconde, nem Rabicó — ninguém sabe. Diz Cléu que são “coisas do governo”, um puro mistério.

O rinoceronte ficou pensativo. Devia ser uma bem estranha criatura esse tal governo, que fazia coisas acima do entendimento até da Emília!

Às três da tarde apareceu o animalão no terreiro, indo deitar-se no seu lugarzinho do costume. Grande alegria entre os caçadores. Podiam, afinal, fazer o transporte das armas e bagagens, e também de si próprios, utilizando-se da linha de cabos aéreos, e em seguida dar começo ao ataque à fera. Um entusiasmadíssimo telegrama foi passado para o Rio, nestes termos: “Trabalhos linha aérea brilhantemente concluídos ponto iniciaremos hoje transporte armas e bagagens ponto vitória segura ponto saúde e fraternidade”.

Os jornais publicaram a notícia com grandes elogios aos heróicos caçadores do rinoceronte, que tão bravamente arrostavam os maiores perigos a fim de limpar o solo da pátria daquele perigosíssimo animal. O detetive X B2 foi chamado “impertérrito”, e outros lindos adjetivos que a imprensa só usa para homens de pulso e tremendos heróis do mais alto calibre. Choveram telegramas de parabéns pela beleza dos trabalhos realizados.

Às três da tarde, logo que o rinoceronte se atravessou na porteira, a linha de cabos foi posta a funcionar. Primeiro passou, pendurado em carretilhas, o canhão-revólver. Depois a metralhadora. Depois passaram as munições, a bagagem, as violas e, por fim, os caçadores.

Dona Benta viu, com má cara, toda aquela gente encher o terreiro. Já andava enjoada deles, e quando Tia Nastácia falou em lhes oferecer um café com bolinhos, não consentiu.

— Nada de comedorias — disse ela. — Do contrário esses heróis nunca mais me abandonam o sítio.

— É isso mesmo, sinhá — tornou a preta. — O meu cafezinho parece que tem visgo.

Enquanto os homens descansavam, um tanto desapontados de não aparecer o café com bolinhos, Emília foi secretamente à caixa das munições e trocou a pólvora que lá havia por farinha de mandioca. Em seguida, mandou pelo Visconde um recado muito comprido ao rinoceronte, o qual terminava assim: “... e quando eu soltar um assobio, você levanta-se e dá uma investida de rinoceronte selvagem contra esses homens”.

— E se o rinoceronte errar e investir também contra algum de nós? — objetou com muita sabedoria o Visconde. — Porque aqui da casa ele só conhece você.

Emília refletiu um bocado. Depois:

— Diga-lhe para só chifrar os que não tiverem uma rodela de casca de laranja no peito.

Enquanto o Visconde dava o recado, Emília foi ao pomar com uma faca e trouxe meia dúzia de rodelas de casca de laranja, que colocou no peito de cada morador da casa sem perder tempo em explicar para que era. Só Tia Nastácia insistiu em saber as razões.

— Ah, não quer? — disse Emília. — Sua alma sua palma. Depois não se queixe — e deixou-a sem rodela no peito.

Nisto soou a voz do detetive X B2, dirigida aos seus homens.

— Tudo pronto? — indagava ele.

— Tudo pronto! — responderam os perguntados.

— Então, fogo!

— Parem! Parem! Não ainda! — berrou Tia Nastácia lá de dentro. — Estou procurando algodão para botar nos meus ouvidos e nos de Dona Benta. Onde já se viu dar tiro de peça na escadinha da varanda sem a gente estar com um bom chumaço de algodão nos ouvidos? Credo!

Os artilheiros esperaram que os ouvidos das duas velhas ficassem perfeitamente enchumaçados. Depois, ouvindo de novo a ordem de “Fogo!”, fecharam os olhos e bateram na espoleta.

A decepção foi completa. Em vez dum terrível Bum! que atroasse os ares, o que saiu do canhãozinho foi pirão de farinha de mandioca. O grande tiro falhara da maneira mais vergonhosa. Nesse momento Emília, imitando Pedrinho, meteu dois dedos na boca e tirou um assobio agudíssimo.

O rinoceronte ouviu lá longe. Levantou-se de cara feia e veio, que nem uma avalancha de carne, contra os seus perseguidores.

Soou um berro de pânico misturado com a ordem do detetive X B2 de “salve-se quem puder”. Todos puderam, porque todos se salvaram, como veados, pelos fundos do quintal, imperterritamente. Naquela velocidade, em menos de uma hora estariam no Rio de Janeiro.

Ao alcançar a escadinha, o rinoceronte não encontrou um só inimigo, isto é, uma só pessoa sem rodela de casca de laranja no peito. Minto. Encontrou uma: Tia Nastácia, e ao vê-la sem rodela pensou que fosse cozinheira da gente do governo. Abaixou a cabeça e investiu. A pobre preta mal teve tempo de trancar-se na despensa, onde fez, no escuro, mais pelo-sinais do que em todo o resto de sua vida.

— Toma! — gritou a diabinha da Emília. — Quis ser muito sabida, não é? Pois toma…
––––––––––––-
continua ... XII – Rinoceronte familiar
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Caçadas de Pedrinho/Hans Staden. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. III. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

terça-feira, 28 de junho de 2011

José Tavares de Lima (Vozes do Coração) Parte VI – final


A mulher cresce e domina
seu desejo, seu temor;
porém volta a ser menina
quando vive um grande amor!

Aos fariseus não parece,
mas quem crê sabe e sustenta:
- quanto mais humilde a prece,
mais alta a Deus se apresenta!

Aquela canção que outrora
encheu nosso amor de encanto,
depois que te foste embora
serve de fundo ao meu pranto! ...

Busco-a com toda ansiedade
porém o destino estreito
não deixa a felicidade
ter espaço no meu peito! ...

Cada vez mais terno e amigo,
na verdade o nosso amor
tem muito do vinho antigo
que o tempo apura o sabor!

Chegaste... E a tua chegada
me trouxe o deslumbramento
de uma estrela inesperada
surgindo em céu nevoento!...

Cheia de graça e feitiço
ela diz: "Vê se me esquece";
sem saber que para isso
em vão já fiz muita prece!...

Desconfia precavido,
até de quem te aconselha,
que há muito lobo escondido
sob o disfarce de ovelha!

Desfez-se o sonho... Partiste ...
Fiquei num desgosto infindo ...
Mas o que me fez mais triste
foi que partiste... sorrindo...

De volta à minha cidade,
na emoção que me domina,
posso ver uma saudade
me acenando em cada esquina !...

Enquanto entre alguns se expande
a descrença a fé me alcança;
porque esta Pátria tão grande
cabe na minha esperança!

Eu tento, sem pranto ou queixa
tua ausência suportar..
Mas a saudade não deixa
que eu te lembre sem chorar!

Mesmo que a vida aos meus passos,
seja um caminho sem glória,
eu não percebo os fracassos
porque só penso em vitória!

Meu coração se afigura
um triste barco no mar,
carregado de ternura...
mas sem porto onde ancorar!

Não choro a mágoa, a desdita,
que trazem tristeza a tantos,
porque a vida ainda é bonita
mesmo com seus desencantos!

Não volto, orgulhoso, digo,
quando que eu volte ela insiste...
Mas, saudade, ao teu castigo
orgulho nenhum resiste! ...

Na vida sou barco ousado
cheio de sonhos e planos,
que sempre acaba encalhado
na praia dos desenganos!

No verde imenso, a cascata
de brancura cristalina,
lembra um caminho de prata
unindo o vale à colina !

Num mundo injusto é mister
que esta justiça se faça:
sem a graça da mulher
nada mais teria graça.

O mundo é enganoso e vão,
porém não deixo de crer
na esperança - esta ilusão
que ajuda a gente a viver!

Para o tormento em que vivo
desde o teu adeus confesso
que só tem um lenitivo:
o teu mais breve regresso!

Partiste... E o pranto que invade
o meu peito dolorido
tem suspiros de saudade,
tem tristezas de gemido! ...

Quem diz, na sua cegueira,
que reza em vão, desconhece
que Deus tem sua maneira
de atender à nossa prece...

Quem já venceu nos ensina
que a vitória é mais de quem,
mesmo por entre a neblina,
descobre um sol mais além! ...

Quem sofre mas, constrangido
retém a lágrima, ignora
que o tormento é mais dorido
no peito de quem não chora.

Quem sonha as mágoas olvida,
não perde a fé, nem fraqueja,
porque o sonho adoça a vida
por mais amarga que seja....

Riu-me um dia... Desde então,
com seu jeitinho suave,
entrou no meu coração
e deu sumiço na chave!...

Se a luta é penosa, inglória,
não percas a confiança,
que o segredo da vitória
está na perseverança!

Seja um minuto somente,
a ser feliz não me furto;
pois, dos caminhos da gente,
o da ventura é o mais curto!

Se o pranto fosse alegria,
se fosse festa a desdita,
a minha vida seria
uma risada infinita!...

Ser teu príncipe, não digo...
Tais honras nunca sonhei;
mas, nos momentos contigo,
tenho venturas de rei!

Se te aflige um desencanto
recorre à ilusão e sonha,
que a quem sonha não dói tanto
uma verdade tristonha !

Tão forte amor nos enlaça,
e de forma tão perfeita,
que a cada dia que passa
nossa união mais se estreita!

Tendo a graça como tema
e o encanto que o amor requer,
Deus escreveu um poema
que nós chamamos: - Mulher.

Tua ausência me faz ver
a vida tão sem motivo,
que eu vou teimando em viver
mas sem saber porque vivo!...

Vazia de explicação
foi a tua despedida,
mas encheu de solidão
as horas de minha vida!

Volta logo, antes que a espera
transforme, longa demais
meus sonhos de primavera
em suspiros outonais! ...

Vou sair de teu caminho...
Percebi que não compensa
dar tanto amor e carinho
em troca de indiferença

Fonte:
Colaboração de Darlene A. A. Silva
LIMA, José Tavares de. Vozes do Coração.

Ialmar Pio Schneider (Soneto a Canoas)

Município criado em 27 de junho de 1939

Altaneira cidade do progresso
rumo ao destino imenso te projetas;
das indústrias, fenomenal complexo,
exemplo de trabalho em tuas metas !

E irás rompendo curvas pelas retas
do amanhã promissor e do sucesso,
a fim de proclamarem os poetas
que em teu avanço não terás regresso...

Jovem ainda, contas com o vigor
de teus filhos natos e adotivos,
cada qual dedicado ao seu labor

para te verem mais engrandecida
em teus empreendimentos e atrativos;
e onde transcorra normalmente a vida.

Fontes:
Soneto enviado pelo autor
Imagem obtida em http://cathy.spaceblog.com.br

Canoas (Rio Grande do Sul)


Etimologia

Durante a construção da estrada de ferro que ligava Porto Alegre a São Leopoldo, inaugurada em 1874, uma timbaúva (Enterolobium contortisiliquum) foi aproveitada na antiga fazenda de Gravataí para construir embarcações. O lugar passou a ser chamado de Capão das Canoas, e deu origem ao nome do povoado. Ela também é a árvore símbolo do município

História de Canoas


A área onde hoje se localiza o município de Canoas era habitada pelos índios Tapes, quando em 1725 chegaram à região os tropeiros lagunistas e com eles o povoador e conquistador Francisco Pinto Bandeira. Em 1733 ele ocupou as terras e criou a Fazenda Gravataí, que foi herdada por Rafael Pinto Bandeira e mais tarde por Josefa Eufália de Azevedo (A Brigadeira). Posteriormente essas terras foram repartidas e vendidas.

Em 1871 a construção da estrada de ferro que ligaria São Leopoldo a Porto Alegre tem início. O primeiro trecho da ferrovia foi inaugurado em 1874 e na atual área de Canoas foi construída uma estação. O povoamento da região tem início em torno desta estação férrea, que ficava no centro da Fazenda Gravataí.

Os homens da guarda da estação utilizaram uma grande árvore na construção de uma canoa para o serviço da sede, situada às margens do rio dos Sinos. Outras canoas foram feitas com árvores do mato que havia no local que, por esse motivo, ficou conhecido como Capão das Canoas, o que originou o nome da estação, do povoado e, posteriormente, do município.
Estação férrea de Canoas em 1874.

O major Vicente Ferrer da Silva Freire, proprietário da Fazenda Gravataí na ocasião, aproveitou a viação férrea para transformar suas terras em um lote de chácaras de veraneio, que ele pôs à venda. Ponto de referência obrigatório, o local passou a ser designado como Capão das Canoas. Logo, as grandes fazendas foram perdendo espaço para as pequenas propriedades, chácaras e granjas.

Em 1908, Canoas foi elevada a Capela Curada. No mesmo ano vieram os irmãos Lassalistas e criaram uma escola agrícola, de ensino primário e de ensino secundário no centro da cidade. Em 1937, foi criada o 3º Regimento de Aviação Militar (RAV), hoje o 5º Comando Aéreo Regional (V Comar), isto foi decisivo para que ocorresse a emancipação do município. Victor Hugo Ludwig levou ao general Flores da Cunha, interventor federal no estado, as razões da emancipação.

A emancipação de Canoas ocorreria somente em 27 de junho de 1939. No dia 20 de março de 1992, a cidade perdeu seu 2º Distrito que, emancipado, se tornou o município de Nova Santa Rita.

A partir dos anos 1970, a economia e a população cresceram muito rapidamente. Pouco tempo depois a cidade já era grande, e hoje é a segunda maior economia do estado.

GEOGRAFIA

A geografia de Canoas é bem diversificada. A paisagem dominante é a da zona urbana, mas em alguns pontos isolados do município podem-se encontrar florestas, grandes bosques e um cenário parecido com os semidesertos.

O solo é pobre devido ao alto desgastamento e ao alto nível de poluição, por isso apenas plantas nativas sobrevivem, sendo que as demais plantas precisam de um tipo especial de terra. Canoas é banhada por dois rios, o rio dos Sinos e o rio Gravataí, além de estar na zona do Delta do Jacuí. O município também é banhado por diversos arroios e lagos, alguns poluídos e outros intactos. Na agricultura é dado o incentivo à produção de hortifrutigranjeiros, mas também são produzidos leite, lã, ovos e mel no município.

CULTURA

A cultura vem se desenvolvendo a pouco tempo na cidade. As atividades culturais ocorrem principalmente no sábado e no domingo. Cada bairro, com exceção da Ilha das Garças, tem seu próprio monumento ou uma praça simbólica, às vezes feitas até por moradores locais. O movimento cultural mais popular do município é a festa de Nossa Senhora do Caravaggio quando se reúnem milhares de fiéis nas ruas para comemorar o dia da santa.

Outros acontecimentos do município também atraem muitos visitantes, como o Carnaval, o Encontro dos corais, a Feira do Livro, o Festival de Ginástica e Dança

A Fundação Cultural de Canoas foi criada para preservar e promover a cultura no município e resgatar a cultura do povo canoense. Com a criação da Trensurb, a perda da identidade histórica do município era iminente por isso no dia foi 20 de novembro de 1984 ela foi criada. O prédio foi cedido em conseqüência de um contrato entre a Prefeitura Municipal e o Trensurb. A partir desta data começaram as atividades nas áreas de Literatura, Artes Plásticas, Teatro e Cinema, Folclore, Música e Dança. Na nova Lei Orgânica, a prefeitura cedeu verbas para que um capítulo importante do município não fosse perdido. Mas em 15 de abril de 2009 foi extinta dando lugar a Associação Cultural de Canoas-ASCCAN que tem por finalidade preservar e promover a fruição cultural através do apoio de associados, comunidade e parcerias com o público e privado. Hoje a ASCCAN realiza cursos de pintura e desenho, aulas de violão, guitarra, cavaquinho, danças entre outras atividades. O município promove Concurso de Literatura, que têm como objetivo premiar autores do município de outras regiões do Brasil e dos países que falam a língua portuguesa. O concurso abrange temas como conto, crônicas e poesias. Também ocorre a Feira do Livro.

Canoas também dispõe de algumas bibliotecas para pesquisas, sendo três as mais importantes: Biblioteca Pública Municipal João Palma da Silva (localizada em novo endereço desde maio de 2009, Rua Ipiranga, 105), Biblioteca Martinho Lutero (Ulbra) e a Biblioteca da Unilasalle. Existem no município nove CTGs, que incentivam a prática das tradições do Rio Grande do Sul no município. Os principais centros de tradições são o CTG Brasão do Rio Grande, a GPF Aldebarã, o CTG Mata Nativa, a DTG Morada de Guapos, a DTG Periquitos Amadores do Chasque, a GAG Piazitos do Sul, o CCT Rancho Crioulo, o CTG Raízes da Tradição e o CTG Sentinela do Rio Grande.

O teatro ainda vem se desenvolvendo lentamente, apesar de Canoas abrigar a AGTB (Associação Gaúcha de Teatro de Bonecos). A Fundação Cultural promove a Amostra de Cine-Vídeo de Canoas, com o objetivo de estimular o talento e a criatividade de profissionais e amadores que produzem cinema e vídeo no município. Dos filmes da última edição da amostra podem-se citar a Casa do Poeta de Canoas, de Maria Riggo; Os Donos da Ladeira, de Cláudio Piedras; Summertime, de Cláudio Piedras; Não Tem Preço, de Marcos Vinícius Cardoso Ribeiro; Siglas do Golpe, de Antônio Jesus Pfeil e Perturbação, de Cláudia Ávila.

O município oferece vários museus, que abrangem diversas áreas e assuntos, para pesquisa e visualização. Na semana nacional do museu o evento atrai um grande número de pessoas ao Museu Municipal do município e a atração mais procurada é a História do município. O público também se interessa pelo município desde sua urbanização até os dias atuais. Eis alguns museus presentes no município: Museu do Automóvel da ULBRA, Museu da Tecnologia da ULBRA, Museu de Ciências Naturais (Unilasalle), Museu e Arquivo Histórico La Salle, Museu Dr. Sezefredo Azambuja Vieira (Museu Histórico de Canoas)

O projeto Canta Brasil, no Mathias Velho, promove a dança e a música para jovens do bairro e sem nenhum custo. O projeto cultural já está sendo reconhecido na região.

O Carnaval de Canoas é um evento bastante conhecido na região e a partir de 2008 será um evento oficial e com o apoio da prefeitura.[22] O carnaval sempre atrai um grande número de pessoas do município. Canoas município possui ainda um sambódromo, localizado no Parque Esportivo Eduardo Gomes, onde as escolas do município se reúnem para o desfile. São onze as escolas de samba que participam do desfile no município: Acadêmicos da Grande Rio Branco, Acadêmicos de Niterói, Estado Maior da Rio Branco, Guardiões do Bom Sucesso, Imperatriz da Grande Niterói, Império da Mathias, Nenê da Harmonia, Nossas Raízes, Os Tártaros, Rosa Dourada e a Unidos do Guajuviras.

Canoas possui um número razoável de áreas de lazer para oferecer a seus habitantes. O município possui grandes parques e muitas praças (cerca de 113), mas nos bairros mais pobres ainda existe uma necessidade muito grande de locais que proporcionem lazer a sua população. O feriado municipal de Canoas é em Janeiro e é comemorada a Nossa Senhora dos Navegantes.

Entre os principais centros de lazer do município, estão os seguintes: Parque Municipal Getúlio Vargas (Capão do Corvo), Parque Esportivo Eduardo Gomes (Parcão), Canoas Country Club (somente para associados), Centro Olímpico Municipal e outros diversos. No interior do Parque Getúlio Vargas se localiza o Jardim Zoológico Municipal de Canoas (Minizôo).

Hino de Canoas

Em 24 de junho de 1965, a Lei Municipal 986 oficializou o hino composto por Wilson Dantur e Pedro Reinaldo Klein como o Hino do Município de Canoas.

Brava gente, canoense
Sob o sol tu surgirás
Pela grandeza do teu esforço
Só vitórias nos darás.

Teu escudo é a ordem
Tua força a união
O teu lema é o progresso
Pela grandeza da nação.

(Estribilho)
Canoas minha terra
Município de valor
Coração que dentro encerra
Tanta bravura tanto amor.

O teu povo, altaneiro
Vem cumprindo a sua missão
No caminho de luta e glória
Vem honrando a tradição.

São Luís, padroeiro
Deste povo varonil
Abençoai e protegei
Este pedaço do Brasil.

Fontes:
Wikipedia
Prefeitura de Canoas