quarta-feira, 4 de abril de 2012

Sérgio Rivero (Leitura, discurso e ação)

La Liseuse de Jean
Honoré Fragonard (1732-1806)

Coloco o pequeno Francisco para dormir. Embalados, os dois, na rede da varanda, navegamos em navios diferentes. Meu filho, ainda sem a pesada carga da cultura, navega num barco onírico que trouxe com ele de algum lugar. Eu, viciado, entorpecido, massacrado pela linguagem, sinto-me a navegar num barco à deriva. Sim. Entre ser pai e não ser pai há muita diferença. Mistura de dor e delícia esse estado. Naquele momento de rede, barco sem porto, nesse momento em que dois navios começam suas mesmas viagens transversais, me vem uma frase síntese na cabeça: – Mostre a ele que na vida há algo em que acreditar… É lançado o desafio e uma onda gigantesca, repleta de espuma e natureza, lança minha embarçação de encontro aos rochedos.

Acreditar. Para mim, uma palavra rica nesse momento da vida.

Acabo de chegar(?) de uma viagem de 3 anos, uma viagem de 450 anos, uma viagem de 65 anos, uma viagem de 500 anos. Eu, Salvador, Carlos Vasconcelos Maia, Brasil.

Ao escrever pensa-se tanto, para se escolher uma única palavra…

Gabriel Garcia Marques, em entrevista, já dizia que a sua palavra é o tempo. Vai-se, assim, suponho, em busca de todos os seus significados, livro a livro, andarilho-lavrador, como que semeando, ao contrário, uma flor que, mesmo conhecida, germinará em semente, em surpresa.

Inicio com Francisco, meu filho, uma viagem que me amedronta muito pois, de fato, vou, unicamente, com a semente-palavra-acreditar. Não há flor, ainda, não há botão que, vejo, desabrocha... a não ser os dentes-de-leite do menino que rasgam dolorosamente suas gengivas e preenchem seu sorriso.

Volto.

Depois de três anos, defendida a dissertação de Mestrado, em março, quis deixá-la fechada, sem leitor, sem 'funcionar'. Determinei que a semente distinta, com o frescor da palavra recém renovada ficasse, lá, esquecida. Mas a terra tem seus mistérios. No mesmo caco da Rosa-Menina, que está na varanda e tem a idade de Francisco, brota e persiste uma planta sem nome. Na mistura que a terra processa e os olhos não vêem, foi colhida, recolhida e acolhida, com a dissertação, uma única palavra: exclusão. E 'exclusão' foi plantada sem que eu soubesse, novamente, como flor; e eis que, agora, a flor nasce sementificada. Acreditar. Exclusão.

Faço uma pergunta: – Acredito na exclusão? Ah, totalmente, respondo a mim mesmo. Acredito, desde 1960, quando ainda não era nascido, mas Vasconcelos Maia, escritor baiano, já havia escrito o conto O homem e as vitrines . 17 anos depois o escritor ainda acreditava em exclusão. Não só acreditava mas ruminava a certeza pois, ao reescrever o mesmo conto, agora entitulado É Natal! É Natal! , o personagem principal, o homem , passaria a ser nomeado o homem grisalho e magro , biotipo do autor naquele ano de 1977.

Nas duas versões, o personagem sai em busca de presentes de Natal para seus filhos mas dá-se conta, ao final da narrativa, que não tem dinheiro. Não há consciência política que lhe faça atribuir responsabilidades, a única saída é individualizada. Retira-se do cenário da cidade, como que, se ausente da Avenida Sete de Setembro, pudesse solucionar, por fim, a uma questão original.

Na primeira versão:

“Mentalmente, com um gozo muito grande, fez o rol dos Papais-Noéis dos filhos: a lambreta, o jipe, o carro de corrida, o cavalo, a boneca, a bola vermelha e preta. Também os preços de tudo vieram à sua lembrança. Deu meia volta, meteu a mão nos bolsos. Nos bolsos vazios. Foi andando, cabeça baixa, procurou outras ruas, sem lojas nem vitrines, sem luzes nem gente. Onde ninguém pudesse surpreender sua dor.”

E na segunda versão:

“Era véspera de Natal e ele ficou ali, parado, imóvel até a loja se fechar, vendo um a um os presentes serem retirados da exposição e entregues em vistosos embrulhos coloridos, a homens e mulheres excitados, de aspecto próspero, decerto bem empregados e bem remunerados. Deu meia volta, pôs-se a andar, a mão nos bolsos. Nos bolsos vazios. Procurou outras ruas sem lojas, luzes ou gente. Onde ninguém pudesse surpreender sua dor e sua miséria.”

Na segunda versão do conto é apresentada, de forma mais incisiva, a condição do personagem. A dor, reflexo da impossibilidade de presentear os filhos com os tão esperados presentes de Natal, está acompanhada da miséria, uma qualificação com significado paramétrico, coletivo.

Ao não querer que alguém surpreenda sua dor e miséria, o personagem em seu único movimento ativo, durante toda a narrativa, retira-se do cenário, assumindo, sem dúvida, sentimento de culpa, fracasso, como se 'não ter dinheiro' fosse um problema de sua inteira responsabilidade. A solução, para ele, é sair dali, esconder-se num lugar sem luzes, nem gente, nem vitrines… num lugar que, em suma, não é o espaço urbano. Vasconcelos Maia vai determinar, assim, que 'exclusão' é conceito absoluto. Não existe lugar na cidade para quem não é consumidor.

Acredito em exclusão, ainda, há mais tempo. Vem da fundação da cidade de Salvador, da sua sina fabricada; a implantação de Salvador como estaleiro, base de todo o processo mercantilista europeu (assim foi idealizado em Portugal), o resultado de uma imposição internacional imediatista que acabou por construir uma baianidade sem sedimentação prévia. A história dos homens, o que fez? Tratou de sedimentar esse fato até hoje e é claro que Salvador é metáfora para Brasil.

Segundo a historiadora Maria Alice Rezende de Carvalho, as cidades brasileiras foram “prefigurações exclusivas da autoridade colonial e concebidas como pastiches de uma racionalidade proveniente de outras latitudes”. Assim, originou-se uma arquitetura desprovida de “densidade estética e política em seu sentido mais amplo”. Não podemos construir algo que não tenha surgido de um desejo coletivo. Não podemos mudar, ativamente, o que não pensamos para nós; aquilo que, passivamente, aceitamos.

Acredito em exclusão, ainda mais, hoje. Ela graça, campeia; o abismo social entre os brasileiros é imenso. Volto à palavra 'acreditar'. Se uma das possibilidades do 'acreditar' vem pela crença religiosa – uma busca de salvação, sempre fora daqui, e portanto, muitas vezes desacreditada de nossa história e suas possibilidades – existe um outro caminho que coloca a palavra acreditar próxima de quem a criou – o Homem. E aqui, destaco a correspondência entre Umberto Eco e o Cardeal Carlo Maria Martini editada no livro, com o título em português, Em que crêem os que não crêem . Uma carta, em especial, a última escrita por Eco ao Cardeal, em janeiro de 1996.

A partir do questionamento se existem 'universais semânticos', ou seja, 'noções elementares comuns a toda espécie humana que podem ser expressas por todas as línguas', Eco enumera 'concepções universais acerca do constrangimento', isto é, entre todos os homens existem determinadas normas básicas de convivência que não podem ser negligenciadas: em síntese devemos, antes de tudo, respeitar o direito da corporalidade do outro, entre os quais o direito de falar e de pensar.

Nesse momento, entendo que a 'viagem transversal' que faço com meu filho, Francisco, pode tornar-se, de quando em vez, paralela se eu seguir à risca essa mensagem.

Segundo Eco, essa semântica é base para uma ética. Assim ele coloca, em primeiro plano, algo distante de nós, aquilo que vem sendo substituído, acredito, pelo que chamamos, hoje, de politicamente correto – 'moda' social tão permeada de massificação e rótulos. Eco fala simplesmente de 'humanidade'. Sim, isso que herdamos (de quem?), carregamos, sabemos que faz parte da nossa natureza – o que de melhor existe em nós – mas que teimamos em não seguir.

O sentimento ético é corporificado, permeia cada uma de nossas ações, ao lado de nossas leituras sobre o mundo, como um grilo falante emitindo, continuamente, bases verdadeiras em nossos ouvidos… mas nossos narizes não crescem, nossa anatomia envelhece mas não se constrange…

E retomo à questão da corporalidade do outro: Eco nos diz que a dimensão ética começa quando entra em cena o outro. E que dificuldade é entender que quando faço a leitura do outro estou fazendo, na verdade, a leitura de mim mesmo… mas parece que a dor é algo muito individualizado, distante, como se existissem mil palavras para dizer dor e mil outras para entendermos dor.

Acreditar, ética, exclusão.

Acreditar na ética, no que o homem tem de melhor, para combater toda espécie de exclusão.

A experiência com a leitura, essa prática de dividir com o outro a leitura de um mesmo texto, compartilhar o espaço da vida; mesmo sob o condicionamento da cultura e todas as suas vozes, desperta na gente, promotores da leitura, uma maior consciência ética. Talvez, por isso, o tema exclusão, em Vasconcelos Maia tenha me seduzido. Sem dúvida, o exercício de ler o mundo, com mais vagar, nos torne mais sensíveis às diferenças, mas, por outro lado, o desafio para o leitor que se forma em constante exercício, não é ler o mundo com mais perspicácia, não é indicar essa ou aquela leitura precisa, mais inusitada, mas é ler (e ler é sempre ler o outro) aproximando-se, sentindo-se capaz de sentir o que o outro sente, ou ainda, de uma maneira mais desafiante, sentindo a alegria que o outro for capaz de sentir, entendendo o que é.

Vamos ao livro, mais especificamente à literatura, campo de reflexão e de descoberta. Ali, vamos todo o tempo ler, como na vida, o confronto do sentimento ético – a reverência à corporalidade do outro – contra a dimensão invasiva que as relações humanas determinam cotidianamente.

Entre realidade e ficção uma tênue fronteira, depois, um único caminho.

Vale a minha leitura sobre o mundo, se consigo unir meu discurso e minha ação. Talvez aí eu tenha o que dizer a meu filho Francisco. Talvez assim eu possa lhe dizer em que acreditar.

Fonte:
Leia Brasil .

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 521)


Uma Trova de Ademar

A minha alma está doída,
sofro demais...Eu não minto!
Numa lágrima escondida
guardo a grande dor que sinto...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Por te amar a vida inteira
e assumir esta postura,
o meu amor é fronteira
entre a razão e a loucura!...
–CLENIO BORGES/RS–

Uma Trova Potiguar


Neste emadrugadecer
em silêncio sepulcral,
fiz o check-in do meu ser
pro reino do amor total!
–FRANCISCO MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Esperança - voam aves...
Galhos, cascas flutuando...
Colombo comanda as naves
cheias de nautas cantando.
–ADALBERTO DUTRA RESENDE/PR–

Uma Trova Premiada


2010 - Ribeirão Preto/SP
Tema - VIAGEM - M/H


Teu ciúme foi bobagem
e causou minha revolta.
Mas, cancelei a viagem
por amor... e estou de volta!
THEREZINHA BRIZOLLA/SP–

Simplesmente Poesia

Uma Décima...
–RAYMUNDO DE SALLES/BA–


Se tens o dom de escrever,
Escreve, não perde a hora,
Publica, que alguém vai ler
O que de tu’alma aflora.
Revela teu pensamento,
Põe todo teu sentimento:
O amor, a dor, a tristeza,
Irás fazer algum bem,
Podes não saber a quem,
Mas vais fazer, com certeza.

Estrofe do Dia

Cada estrofe é uma planilha
de um livro sagrado e santo,
que Deus põe em nossa mente
na voz de um doce acalanto,
como quem diz: meu poeta,
faça a setilha completa
pondo um verso em cada canto.
–PROF. GARCIA/RN–

Soneto do Dia

M a r i a
–THALMA TAVARES/SP–


A noite era de lua e a tristeza
sob o luar mais triste se fazia.
Estranhamente a dor punha beleza
nos olhos marejados de Maria.

Seus segredos me abria e com franqueza
contava-me, a chorar, por que sofria:
- Naquele amor espúrio, sem nobreza,
sua alma se perdera – ela dizia.

E eu que a adorava, que a queria tanto,
sofria ao vê-la desfazer-se em pranto,
sentindo a sua dor pedir-me abrigo.

Mas de repente grita alguém: - "Maria!"
E ela se vai, vibrando de alegria,
dizendo-me a sorrir: - "Adeus, amigo!".

J. G. de Araújo Jorge (A Cantiga Do Só) 3. A Enfermeira


No seu branco uniforme, hei-la que passa... É a imagem
do amor, do sacrifício... e é toda abnegação!
Eu a chamo: Nossa Senhora da Coragem,
de leito em leito, sempre, em peregrinação...

Vigia do sofrer. . . Chega, e à sua passagem
a dor é menos dor, e é menor a aflição...
Sobre a fronte febril seu gesto é como a aragem,
sua presença é luz e sombra, é proteção...

Misto de anjo a mulher, de santa a de heroina,
não sei de profissão que em si tanto resume
na glória de se dar nesse árduo e puro afã...

É a síntese complete da alma feminina,
pois traz no coração um pouco de cada uma:
- a amiga, a companheira, a mãe, a esposa, a irmã!

Fonte:
JORGE, J.G. de Araújo. Cantiga do Só. 2. ed. 1968.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 520)


Uma Trova de Ademar

Esses meus versos doridos,
o amor, a fé, tudo enfim;
são retratos coloridos
que eu mesmo tirei de mim...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Tanto a paixão nos deslumbra
e o seu ardor nos seduz,
que, em nosso quarto, a penumbra
é pontilhada de luz!…
– PEDRO MELLO/SP –

Uma Trova Potiguar


Não sou pobre, sou risonho,
tenho amor, paz e guarida.
Não tenho a vida que sonho,
mas tenho os sonhos da vida.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Não lamento a minha lida,
nem, pobre, choro os meus ais.
Quem tem um amor na vida,
tem tudo! Para que mais?
–ADELMAR TAVARES/PE–

Uma Trova Premiada


2002 - Belém/PA
Tema - FRUTO - Venc.


O fruto é um santo produto
do mais generoso amor.
Por isso é que antes do fruto
quis Deus que ele fosse flor!
–A. A. DE ASSIS/PR–

Simplesmente Poesia

Voar
–GISLAINE CANALES/SC–


Meu corpo chora,
mas minha alma
está sorrindo.
Meu corpo sofre,
mas minha alma
está feliz,
alheia à dor,
plena de amor,
querendo sair,
querendo voar,
voar para qualquer lugar...

Estrofe do Dia

Entre Deus e o Poeta,
vejo similaridade;
pelos genes de um amor,
gerando a paternidade;
mesma genealogia,
poeta, pai da Poesia,
Deus, pai da humanidade!!!
–LUIZ DUTRA/RN–

Soneto do Dia


M O T E :
(FRANCISCO MACEDO / NATAL / RN)
Mulher, Verbo Amar.


Mulher, obra-prima do Pai Criador,
Mulher, já nasceu – criação preferida,
Mulher, mãe, amante, alicerce da vida,
Mulher, sobretudo, um exemplo de amor...

G L O S A :
(CLARISSE BARATA SANCHES – GÓIS - PORTUGAL)


“Mulher, obra-prima do Pai Criador”
pra ser companheira de viva Esperança,
nas horas plangentes de mágoa e de dor,
a mãe de Jesus e do Mundo a bonança!

Deus fê-la precisa, qual Anjo do lar,
“Mulher, já nasceu – criação preferida,”
pra ser uma Graça de branco luar
e dar à família ternura sentida.

Mãe sendo Maria por Deus escolhida,
a ser, neste mundo, criança - Senhora.
“Mulher, mãe, amante, alicerce da vida,”
tratando dos filhos e até preceptora.

Cuidai sempre dela, qual filha de Deus,
“sem dias marcados”, com muito fervor,
Pois ela não esquece, jamais, filhos seus,
“mulher, sobretudo, um exemplo de amor…”

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 519)

Uma Trova de Ademar Nossa vida é uma viagem... Só para alguns vale a pena. E o “mano” ganhou passagem para uma vida Serena. –ADEMAR MACEDO/RN–  Uma Trova Potiguar Perdi-te, sim, por ciúme, mas inda guardo com zelo a fragrância do perfume de um fio do teu cabelo. –JOAMIR MEDEIROS/RN– ...E Suas Trovas Ficaram Na vida tudo se alcança, quando a Esperança se tem!... Porém se morre a Esperança, a vida morre também. –A. B. LOPES RIBEIRO/MG– Uma Trova Premiada 2011 - CTS-Caicó/RN Tema - PEGADA - 3º Lugar Sigo as pegadas, cansado, transcendo tempo e distância: Vejo o tempo empoeirado dos sonhos da minha infância... –JOSÉ VALDEZ C. MOURA/SP– Simplesmente Poesia M O T E : PROF. GARCIA/RN Morre a tarde!...E ao fim do dia, na imagem do sol poente, há tintas de nostalgia do fim da tarde da gente! G L O S A : FRANCISCO MACEDO/RN Morre a tarde!...E ao fim do dia, o sol perde o seu rubor... É o crepúsculo do dia, num suicídio sem dor. Momentos de nostalgia na imagem do sol poente, levando em sua agonia as incertezas da gente! No meu sonho fantasia quando a noite se propaga, há tintas de nostalgia que minha borracha apaga. Mas de uma coisa estou certo, neste meu viver dolente... Estou cada vez mais perto do fim da tarde da gente!
Estrofe do Dia Já não ouço a canção de Marcolino de Humberto, Zé Dantas e Zé Mocó, João do Vale cantando em Maceió eu lembro que vi quando menino; que saudade do Trio Nordestino, da voz de Lindú, cancioneira, Zé do Norte e a Mulher Rendeira, não ouvir tudo isso, é um tormento; precisamos fazer um movimento em defesa da música Brasileira. –RODRIGUES LIMA/SP – Soneto do Dia ANTERO DE QUENTAL/PORTUGAL Na Mão De Deus Na mão de Deus, na sua mão direita, Descansou afinal meu coração. Do palácio encantado da Ilusão Desci a passo e passo a escada estreita. Como as flores mortais, com que se enfeita A ignorância infantil, despôjo vão, Depus do Ideal e da Paixão A forma transitória e imperfeita. Como criança, em lôbrega jornada, Que a mãe leva ao colo agasalhada E atravessa, sorrindo vagamente, Selvas, mares, areias do deserto... Dorme o teu sono, coração liberto, Dorme na mão de Deus eternamente!

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Isabel Furini (Lançamento de Eu quero ser escritor - A crônica)

Em 27 de março, a partir das 19:00, o Instituto Memória - Editora&Projetos Culturais, lançou o livro "Eu quero ser escritor - A crônica", da escritora Isabel Furini. Ela orienta oficinas de criação literária no Solar do Rosário, e mantém o blog “Falando de Literatura” no Bonde News.

O evento abrangeu a exposição "O mundo dos sonhos" do artista plástico Carlos Zemek, no Palacete dos Leões, Av. João Gualberto, 530, Alto da Glória, Curitiba.

O objetivo da coleção "Eu quero ser escritor" é publicar obras que revelem alguns dos segredos da arte de escrever. É um livro com sugestões e dicas práticas para incentivar os novos autores. Escrever não é "dom" que chega do céu, é um exercício constante para aprimorar o próprio estilo, para encontrar a própria voz.

No final do livro exemplos de crônicas de diferentes modalidades escritas por autores convidados: professor Paulo Venturelli, jornalista Marília Kubota, Adélia Woellner (da Academia Paranaense de Letras) Silvia Maria Araújo (da Academia Feminina de Letras), José Feldman (ex-presidente da Academia de Letras do Brasil no Paraná), escritor José Domingos de Brito, jornalista Andreia Cibele, a pedagoga Luiza Guarezi, escritor Fernando Botto, jornalista Luana Gabriela da Silva, Carlos Zemek, artista plástico cuja crônica "No mundo dos sonhos" descreve um sonho que também está representado nos quadros e outros.
 
Contato: Isabel Furini (41) 8813-9276

Trova Ecológica 78 - Nemésio Prata Crisóstomo (CE)


Clarisse Barata Sanches (Quero Apertar-te a Mão – Um Soneto para Machado de Assis)


Oh! Flor do Céu! Oh! Flor cândida e pura!
Agora, ao ver -te linda no Senhor,
Tal como estejas viva, meu Amor,
Não sei por quê, mas sinto-te a ternura!

Fecho os meus olhos para ver-te a cor
Da tua face rosa que perdura
Dentro da minha alma, em amargura,
Que não crê que me deixes nesta dor!

Quero apertar-te a mão para aquecê-la,
A minha sei que Deus te deixa vê-la,
Mesmo que esteja erguida uma muralha…

Se a Fé move montanhas, quero crer
Que no País da luz te vou rever:
Perde-se a vida, ganha-se a batalha!
----------------------
Machado de Assis escreveu o primeiro e último verso.
Soneto inserido no livro “Um Soneto para Machado de Assis, em sua Homenagem. Editado no Brasil em 2008. Concorreram 924 autores e foram recebidos 1.388 sonetos. O livro contém 110 sonetos, estando este no nº 21.

Clarisse Barata Sanches – Góis - Portugal

Fonte:
Soneto enviado pela poetisa

J. G. de Araújo Jorge (A Cantiga Do Só) 1. Prefácio ; 2. A Cartilha

1. PREFÁCIO

JG de Araujo Jorge, assina este texto no prefácio da 2a edição - 1968 em edição aumentada com poemetos e trovas.

"Cantiga do Só é uma coletânea. Alguns dos seus poemas são anteriores a "A Sós..." e "Espera...", e deixaram de ser incluídos em "Harpa Submersa" porque necessitavam de pequenos retoques que só foram feitos posteriormente.

Há  neste livro um soneto de mais de vinte anos: "Gula". Escrevi-o sob encomenda, pare a revista "O Malho", já desaparecida, que o publicou numa série de sonetos sobre os pecados capitais.

Encontrei-o agora, na velha publicação, já meio amarelada, e resolvi aproveitá-lo.

Muitos dos poemas, dos escritos recentemente, tem merecido por parte dos ouvintes do meu programa literário, na Rádio Tupi, aos sábados, às 18,30 horas, reiterados pedidos de leitura e cópias.

" Mulher Grávida ", " Vermelho e Branco ", " Carta ao Futuro de Meu Filho ",  são,  por  exemplo,  alguns  dos trabalhos que mais me pedem pare apresentar no programas.

Agora, uma noticia final:

Quando me dispus a " limpar as gavetas " para  preparar  os   originais  deste " Cantiga do Só ", encontrei tanto material, que resolvi enfeixá-lo noutro volume. Deste modo, depois de sua publicação,  espero   lançar  uma  nova coletânea de versos líricos, cujo titulo será: "Quatro Damas ".

Os leitores já terão compreendido que há de encontrar em s uas  páginas, - pelo menos mais nitidamente, - quatro perfis de mulher... de diferentes épocas da minha vide...

Talvez o melhor titulo fosse: "Quatro Damas... e um Curinga... “

2. A CARTILHA
- "OVO, AVE, UVA, AVÔ."

E eu que tantas palavras procuro e carrego
me lembro destas primeiras que encontrei...
E da mão de minha mãe me levando
- como guia de cego -
sobre o velho caderno onde estudei...

(E ao lado delas
também ficaram
na minha lembrança,
aqueles rabiscos que fazia
brincando,
aquelas
garatujas que eram
como passos de criança
engatinhando... )

- "OVO, AVE, UVA, AVÔ."


( Ovo gorado, eis a vida!
Ave, - esperança perdida,
uva, um desejo constante,
- avô, minha infância distante ! )

Ficaram na minha memória
as primeiras palavras sem história
como uma tênue e apagada trilha...

E, de repente... Eis que a vida da sentido
aquelas primeiras palavras
que aprendi na velha cartilha…

Fonte:
JORGE, J.G. de Araújo. Cantiga do Só. 2. ed. 1968.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 518)

Uma Trova de Ademar 

Em tudo Deus se apresenta:
no sofrimento e na dor,
na música que acalenta
e até no cheiro da flor!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional 


Por excesso de vaidade,
de soberba, de altivez,
valores, como a igualdade
estão, hoje, em escassez.
–LISETE JOHNSON/RS–

Uma Trova Potiguar 


Sob os pingos do sereno
que banham meus pés, na estrada...
Cada gota é um triste aceno,
dando adeus à madrugada!
–EVA YANNI GARCIA/RN–

...E Suas Trovas Ficaram 


A fonte da minha vida
- o meu sonhar de criança -
não ficou toda perdida…
Vive um pouco na Esperança..
–ZALKIND PIATIGORSKY/RJ–

Uma Trova Premiada 


2011  -  Niterói/RJ
Tema  -  MEMÓRIA  -  Venc.


Quero apagar nossa história
mas não te esqueço um momento.
Como tirar da memória
quem não sai do pensamento?
–ARLINDO TADEU HAGEN/MG–

Simplesmente Poesia 


No Tempo que eu Fumava
–DAMIÃO METAMORFOSE/RN–


Não sei como eu resistia
quando eu era fumante.
O meu hálito fedia,
meu cheiro era irritante.

Não tinha desodorante,
e nenhum creme dental.
Balinha ou refrigerante...
Só piorava o meu mal!

Hoje eu posso respirar,
sentindo o cheiro do ar
que o meu cheiro não deixava.

Tenho mais felicidade...
E já não sinto nem saudade
do tempo que eu fumava!

Estrofe do Dia 

Eu nunca me desengano,
Pois, viver é dom divino;
Cumpre sempre o seu destino,
Todo e qualquer ser humano,
ninguém foge deste plano,
seja de azar ou de sorte
companheiro seja forte,
nesta meta a ser cumprida
pois quem vem para esta vida
Nasce grávido da morte.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Soneto do Dia 

Nossa Senhora da Saudade.
–NEWTON VIEIRA/MG–


Maria, a mente humana, nem de leve,
consegue imaginar a vossa dor,
nas horas infernais da Parasceve,
quando vistes, exangue, o Redentor...

E percebestes que Ele iria, em breve,
depois de tanto irradiar o Amor,
ser castigado como quem se atreve
a cometer um crime aterrador.

Naquele instante, ó Virgem doce e pura,
sofrestes, nos refolhos, a tortura
do gládio pelo Oráculo predito.

Sem vosso Cristo, fostes, em verdade,
também pregada à Cruz: a da Saudade,
cujo tamanho excede o do Infinito!...

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 517)

Uma Trova de Ademar 
Quando se está bem pertinho,
seja o momento qual for,
ternura, afeto e carinho
cabem bem demais no amor.
ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional 


Cuidado com a falsa imagem.
Beleza é vago argumento:
plantas de linda folhagem
na raiz têm seu sustento!
–Eliana Palma/PR–
 
Uma Trova Potiguar   
Contrastando a humanidade
nos seus gestos conjugais,
os pombos com lealdade
dormem juntos nos pombais.
–SEBASTIÃO SOARES/RN–

...E Suas Trovas Ficaram 

Portugal – jardim de encanto
que mil saudades semeias
nunca te vi ... E, no entanto,
tu corres nas minhas veias ...
–LUIZ OTÁVIO/RJ–

Uma Trova Premiada 

2012  -  Concepción/CHILE
Tema  -  IDENTIDADE  -  M/E

Eu, tal qual num dossiê,
confesso e juro...É verdade:
de tanto eu “viver você,”
perdi minha identidade...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Simplesmente Poesia 

M O T E :
ELEN DE NOVAIS/RJ

Em meu rosto, de mansinho,
a mão da terceira idade,
traça o mapa de um caminho
onde trafega a saudade.

G L O S A :

FRANCISCO MACEDO/RN

Em meu rosto, de mansinho,
os sulcos vão se espraiando,
e vejo neste caminho
minha velhice chegando.
Faz caricias no meu rosto
a mão da terceira idade,
amenizando o desgosto,
próprio da senilidade!
A mão, com luva de espinho
do timoneiro da vida,
traça o mapa de um caminho
feito de curva e descida!
Mapas de versos eu fiz
pra dirigibilidade...
- Vou caminhando, feliz,
onde trafega a saudade.

Estrofe do Dia 
Escritor, trovador e sonetista,
literato, professor, menestrel,
também douto em conceitos de Cordel.
No mundo dos poetas, um classista
querendo que um poeta fosse artista.
Para mim, Chico foi sempre exemplar;
mais um amigo que a morte quis levar,
mas não leva da gente o seu legado
que o fez um poeta graduado
bem ao nível de seu mano Ademar.
–TARCÍSIO FERNANDES/RN–

Soneto do Dia 

Revendo o Mito
–JAIME PINA DA SILVEIRA/SP–


A tradição nos diz que um fruto foi culpado
(e é o que nos dizem as Sagradas Escrituras)
de o velho Adão (com Eva) o Éden ter deixado,
incentivado por grotescas criaturas...

Não! não seria a maçã! (o pomo dourado!)
Nem conteria propriedades tão obscuras
que o primogênito guiassem ao pecado
ou permitissem que Eva ousasse tais loucuras!

Esse "pecado" foi por Baco sugerido...
que Eva levasse ao seu amor, lá no seu ninho,
um bago de uva nas salivas espremido...

Foi porque Adão, ao degustar esse "carinho"
e o doce néctar desse suco ter sorvido,
se vangloriasse de ter inventado o vinho!...

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 516)

Uma Trova de Ademar

A morte nos põe à prova
e nos faz um sofredor..
Não dá pra dizer em trova
o tamanho dessa dor!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional

Namorando a natureza,
como quando era menino,
sigo a trilha na certeza
de encontrar novo destino.
–AGOSTINHO RODRIGUES/RJ–

Uma Trova Potiguar

Meus olhos choram, por fim,
no instante, em que a dor, me invade,
encravando, dentro em mim,
o suplício da saudade !
–FABIANO WANDERLEY/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Ante a inclemência dos fados
da vida em cada revés...
Consolo dos desgraçados!
- Esperança é o que tu és!...
–HONÓRIO SANTANA/BA–

Uma Trova Premiada

2009 : Cantagalo/RJ
Tema : SERTÃO : 14º Lugar

No sertão, sol causticante,
meu pai, de enxada nas mãos,
foi morrendo a cada instante
por mim e por meus irmãos!
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Simplesmente Poesia

Adeus Francisco Macedo
–LUIZ DUTRA/RN–

Morremos como nascemos
partimos como chegamos
pra vida nada trazemos
da vida nada levamos!!!
Mais um poeta a vida encerra
recebeu da morte o véu
por perder chorou a terra
por ganhar sorriu o céu!!!
Mais tarde melhor seria
mas ele partiu mais cedo,
mais triste fica a poesia
sem as rimas de Macedo!!!
Para o coração do irmão
porém o certo seria:
não parasse o coração
de quem fizesse poesia!!!
Pra família de Francisco
para o poeta Ademar;
ficaram dor e saudade
e pranto pra derramar;
perde Ademar o irmão seu
e muito, muito perdeu
nossa lira potiguar!!!
Adeus Francisco, adeus,
adeus, até qualquer dia;
nos caminhos da poesia
ou nas estradas de Deus;
mando um abraço para os seus;
pra nós ficou a saudade,
que é dor que dói de verdade;
ficou a esperança que,
vamos encontrar você
nos saraus da eternidade!!!

Estrofe do Dia

Nas Trovas de Ademar,
nos Sonetos de Francisco
mergulho sem correr risco
sem medo de me afogar;
todo dia neste mar
de poesias ecléticas,
tomando um banho de éticas
simplesmente na autoria
de quem manda poesia
para as Mensagens Poéticas.
–JÚNIOR ADELINO/PB–

Soneto do Dia

Quanto Tempo nos Resta?
–JOSÉ ANTONIO JACOB/MG–

Nossa vida é uma história mal contada,
Uma vaga novela incompreendida...
Para alguns é um feliz conto de fada,
Para outros uma lenda indefinida...

Vivemos, de alvorada em alvorada,
(Que tempo ainda nos resta nessa vida?)
A dar sorrisos largos na chegada
E a lamentar a perda na partida.

Que bom matar o tempo numa rede,
Se ele nos desse a viva eternidade
De um quadro pendurado na parede...

E, enquanto a vida passa e o tempo avança,
Quanta tristeza vai numa saudade,
Quanta alegria vem numa esperança!

domingo, 1 de abril de 2012

Hermoclydes S. Franco (Abril - Flores de Maringá em Trovas)

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 515)

Uma Trova de Ademar

Uma Trova Nacional

Caminho com galhardia
rumo a um futuro risonho
amparado na poesia
que vai dourando meu sonho.
–ADAMO PASQUARELLI/SP–

Uma Trova Potiguar


Se foi feitiço ou segredo,
pra mim não adianta, é tarde!
Quando alguém ama com medo,
esculpe um amor covarde!
–MANOEL CAVALCANTE/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Na vida, a única certeza,
é a morte com seus critérios...
A enfrentarei com grandeza,
mergulhando em seus mistérios.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Uma Trova Premiada


2010 : Ribeirão Preto/SP
Tema : VERDE : 1º Lugar


Muda o mundo... tudo muda!
Mas no campo do saber,
há quem todo o tempo estuda,
mas é “verde”- de morrer!
–NILTON MANOEL/SP–

Simplesmente Poesia

Diálogo
–JEANETTE MONTEIRO DE CNOP/RJ–


Num banco de Jardim,
em meio a crianças que brincam
e sonhos que nascem,
silenciosamente conversam
nossas mãos.
Por testemunha,
uma inconstante estrelinha,
perdida lá longe,
brilhando por detrás
de duas folhas entrelaçadas
de coqueiros próximos
(também de mãos dadas)
numa tarde calma...

Estrofe do Dia

O Deus que tudo faz e que jamais erra,
que fez a terra, o mar, e que fez a luz,
e os meus pais com a aquiescência de Jesus
fizeram Chico Macedo aqui na terra;
um amante da paz que é contrário a guerra
símbolo vivo do amor e do perdão
que já nasceu sem um pingo de ambição,
um pecador, que pra mim não tem pecado;
Muito obrigado senhor, muito obrigado...
Por ter-me dado Macedo como irmão!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

Tributo a Ademar...
–FRANCISCO MACEDO/RN–


A vida de Ademar é um sarau,
sem nenhuma poesia repetida,
razão desta homenagem merecida
desde o primeiro ao último degrau

Suas duas muletas são a nau
pelos mares revoltos desta vida,
para vencer qualquer uma corrida
sempre ao lado do bem, vencendo o mau.

Mesmo útero materno concebeu,
já nascemos, poetas, ele e eu.
Vigésimo e vigésimo primeiro.

Nas três vezes venceu a própria morte,
obrigado, meu Deus, por ter a sorte,
der tê-lo como irmão e companheiro!

Isabel Furini (Conselhos para Jovens Escritores)


Escritores iniciantes são como sementes jogadas em um jardim. Quais crescerão? Isso ninguém sabe. Quem será o autor iniciante hoje, mas reconhecido em 2030 ou 2045?

O caminho do escritor é, como dizia, Hemingway, um caminho solitário. O escritor é individualista, precisa de introspecção para encontrar sua própria voz, mas também precisa ser curioso, pesquisar, percorrer rotas externas.

Solicitei a escritores, editores e poetas, conselhos para os iniciantes. Claudio Daniel, poeta, jornalista e doutorando em Literatura Portuguesa pela USP, só disse o seguinte: "meu conselho é leitura, leitura, leitura, leitura e leitura".

Uma visão semelhante é a do escritor e também professor universitário Miguel Sanches Neto: "Que nunca deixem de ler muita literatura, pois não há outro caminho para a construção de um estilo, de uma voz, de uma visão do mundo, do que lendo a literatura que nos antecedeu. Escrever deve ser sempre um subproduto da leitura, uma forma de unir nosso nome a uma tradição, nem que seja negando-a".

Plínio Martins, escritor e diretor da Edusp, disse: "Leia. Leia muito. Quanto mais uma pessoa lê, melhor ela domina sua linguagem e torna-se capaz de transmitir melhor suas próprias ideias. É importante também ter cuidado ao analisar sua própria produção criticamente. Vale a pena pedir opinião de terceiros ou até mesmo um parecer de outros autores que já tenham publicado obras similares".

Paulo Tadeu, jornalista, dono da editora Matrix e escritor de livros infantis: "Meu conselho é escrever sobre o que se gosta, e ler muito. Esse amor pela palavra escrita vai gerar frutos uma hora ou outra".

Patrícia Vence Castilla, dona a editora Ruínas Circulares, de Buenos Aires deu algumas sugestões: "Leitura, muitíssima leitura contemporânea de autores consagrados de cada país. Capacitação. Aproximar-se das oficinas literárias que contam com bons coordenadores, de preferência escritores, porque penso que nenhum artista ― escultor, artista plástico, ator etc. ― jamais duvidaria em procurar um mestre para ser orientado no ofício escolhido. Então, para escrever bem, a primeira coisa a fazer, segundo o meu critério, seria capacitar-se".

Para o escritor e jornalista José Castello "Toda grande ficção precisa despertar, antes de tudo, um sentimento de estranheza. Aquela sensação que nos leva a dizer: 'Nunca li uma coisa assim!', ou 'De onde esse autor tirou isso?'. A literatura é o terreno do singular. Sempre que alguma coisa se repete, nos decepcionamos um pouco. Portanto, não dá para dizer que isso, ou aquilo, me impressiona mais. Eu me impressiono mais com o susto, o espanto de encontrar uma coisa que eu não pensava que pudesse existir".

Outros profissionais da área do livro assinalaram caminhos diferentes. Isso me fez lembrar das palavras de Borges, que falou que sempre havia lido, nunca existiu uma época em que ele não lesse. E não falava só de livros, logicamente, mas de realizar uma leitura do mundo. O bebê lê alegria ou a tristeza no rosto materno. Crianças aprendem a ler a linguagem dos olhares e dos gestos. Escutei dizer que o jovem fala o que vive e os velhos vivem do que falam, fabulam, renovam biografias, enfim, reestruturam o passado para manter uma autoimagem positiva.

Alguns entrevistados falaram um pouco desse caminho de descobertas. Perguntei ao jornalista e escritor, autor de Meu nome não é Johnny, Guilherme Fiúza, quais conselhos poderia dar para os novos escritores que desejam escrever biografias. Ele respondeu: "Acho que não tenho autoridade para tal. De qualquer forma, arriscaria dizer a eles que tão importante quanto a vida do biografado é o olhar do autor sobre ela".

Já Wanderlino Teixeira, escritor e poeta, membro da Academia Niteroiense de Letras, aconselhou: "estar atentos ao que os rodeia, não se fiem apenas na inspiração. Escrever é trabalho de carpintaria".

Roberto Araújo, do Conselho editorial da Editora Europa, deu sua visão: "Livros não surgem por mágica. O conteúdo, que é sempre o que efetivamente interessa, tem que ser trabalhado cuidadosamente na cabeça do autor. O conselho mais prático que posso dar é que um livro é sempre fruto de um trabalho disciplinado. Algumas horas por dia devem ser separadas exclusivamente para este trabalho. E repetidos todos os dias. A verdade é que a concentração sempre demora. Para ela chegar ao ponto é necessário reler os capítulos anteriores, refletir sobre a nova cena, elaborá-la na cabeça e então partir para a escrita. Não há regras rígidas, já que este é um trabalho artístico, mas eu tenho a forte convicção que sem disciplina não é possível escolher com sabedoria as milhares de palavras que compõem um livro. Também acho inútil o uso de álcool ou qualquer tipo de droga. Com a consciência alterada, as palavras parecem ter uma força que não será compreendido por mais ninguém a não ser o autor. Se a intenção for publicar, o trabalho fica todo perdido. O certo é que é preciso garra e determinação. Nada está acima em termos de realização intelectual do que escrever e publicar um livro. É um esforço que vale a pena".

Depois escutamos os conselhos de Reinaldo Polito, autor de livros de oratória que já venderam mais de 1.000.000 de exemplares: "Minha sugestão, portanto, aos jovens escritores é que estudem muito bem essa arte. Aprendam os pilares básicos de como escrever livros. Comecem publicando textos menores em blogs e sites. Abram suas obras para a crítica de amigos, conhecidos e até desconhecidos. Aprendam que é melhor receber críticas antes de publicar definitivamente seus livros. Saibam que depois de publicados os livros não lhe pertencerão mais. Serão de propriedade dos leitores. Conheço pessoas que escreveram sem se preocupar com pesquisas, sem se aprofundar nos temas que abordaram, sem analisar as características de suas personagens. Foram tão criticadas que se sentiram desestimuladas a continuar. Escrever é uma arte que se aprende fazendo. Quanto mais a pessoa escrever mais competente se tornará. Tem de saber também que depois que o livro estiver pronto não será fácil publicar, que depois de publicado também não será fácil vender. Entretanto, o prazer de escrever irá compensar todos esses desafios. Vale a pena".

Quando a jornalista Luana Gabriela me pediu "dicas" para os novos escritores eu fiquei pensando que é muito mais fácil perguntar do que responder, mas falei:

Escrever um livro é uma tarefa empolgante. Se for de ficção, o autor deve desenvolver o enredo passo a passo, alguns mestres do oriente falam que qualquer arte deve ser iniciada com cuidado, com leveza, como quem caminha pisando sobre papel de arroz. Acontece que o caminho do escritor é longo ― e não é tão charmoso como as pessoas pensam. Escrever é um trabalho solitário. Então, a primeira dica é ter disciplina, escrever diariamente, ainda que seja uma página. E no mínimo uma vez na semana reler as páginas escritas procurando aprimorar o texto. Outra "dica" é estar sempre atento aos detalhes, caminhar pela rua, ouvir as pessoas. Observar gestos, atitudes, comportamentos e tomar notas daquilo que foi mais interessante. E depois, ao escrever um conto, um romance, analisar se algumas dessas notas podem servir para completar a construção de nossos personagens ou do cenário. Escrever é também aprimorar a leitura do mundo.

Isabel Furini
São Paulo, 31/3/2011

Fonte:
Digestivo Cultural

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 514)


Uma Trova de Ademar

Da Bebida fiquei farto,
bebendo, perdi quem amo;
hoje bebo no meu quarto
as lágrimas que eu derramo.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Amigo é aquele artesão
que, sem receios, lapida
com o cinzel do perdão
as pedras brutas... da vida!
–SÉRGIO FERREIRA DA SILVA/SP–

Uma Trova Potiguar


Linda criança se expande,
nos aconchegos do lar;
só faz pena é ficar grande
para sofrer e pecar.
JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Se o meu tempo está marcado
e da saudade eu disponho,
invento alguém ao meu lado,
cerro meus olhos e sonho…
–MILTON NUNES LOUREIRO/RJ–

Uma Trova Premiada


2011 : UBT-Natal/RN
Tema : SORTE : M/H


Teu futuro não desvende
num trevo de quatro folhas,
pois a sorte só depende
de tuas próprias escolhas!..
–DOMITILLA B. BELTRAME/SP–

Simplesmente Poesia

Canção
–CECÍLIA MEIRELLES/RJ–


Nunca eu tivera querido
dizer palavra tão louca:
bateu-me o vento na boca,
e depois no teu ouvido.
Levou somente a palavra
deixou ficar o sentido.

O sentido está guardado
no rosto com que te miro,
neste perdido suspiro
que te segue alucinado,
no meu sorriso suspenso
como um beijo malogrado.

Nunca ninguém viu ninguém
que o amor pusesse tão triste.
Essa tristeza não viste,
e eu sei que ela se vê bem...
Só que aquele mesmo vento
fechou teus olhos, também...

Estrofe do Dia

Para o físico, o arco íris
nasce do sol, com certeza;
para o poeta, entretanto
ele nasce é da beleza
de um poema cor de luz,
desenhado por Jesus
na tela da natureza.
LUIZ DUTRA/RN–

Soneto do Dia

Último Fantasma.
–CASTRO ALVES/BA–


Quem és tu, quem és tu, vulto gracioso,
Que te elevas da noite na orvalhada?
Tens a face nas sombras mergulhada...
Sobre as névoas te libras vaporoso ...

Baixas do céu num vôo harmonioso!...
Quem és tu, bela e branca desposada?
Da laranjeira em flor a flor nevada
Cerca-te a fronte, ó ser misterioso! ...

Onde nos vimos nós? És doutra esfera ?
És o ser que eu busquei do sul ao norte. . .
Por quem meu peito em sonhos desespera?

Quem és tu? Quem és tu? - És minha sorte!
És talvez o ideal que est'alma espera!
És a glória talvez! Talvez a morte!

sábado, 31 de março de 2012

J. G. De Araújo Jorge (Vozes Femininas)


Para o observador desavisado, a impressão é a de que no Brasil de nossos dias, apenas um nome de mulher se impõe entre os grandes poetas, o de Cecília Meireles. Na verdade, ultimamente, a crítica brasileira tem esquecido injustamente muitos valores expressivos da nossa poesia feminina.

Ainda agora, ao lançar, inteiramente refundida, a terceira edição de “Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou”, volume I, poesia brasileira, contendo quatrocentos sonetos de todos os tempos e escolas, relendo suas provas comprovei essa realidade, diante de peças líricas da maior beleza e emoção, assinadas por nossas poetisas. E figuram no volume, entre outras, mais antigas, ou mais recentes: Amélia Tomás, Ana Amélia, Beatrix dos Reis Carvalho, Benedita de Melo, Carmem Cinira, Colombina (Ylde Schloembach), Corina Rebuá, Cíntia Castelo Branco, Francisca Júlia, Heli Menegali, Gilka Machado, Henriqueta Lisboa, Ilka Sanches, Itacy de Souza Teles, Lilinha Fernandes, Maria Eugênia Celso, Maria José Giglio, Maria José Aranha de Resende, Maria Sabina, Maria Teresa de Andrade Cunha, Nísia Nóbrega, Seleneh de Medeiros, Vivência Jambo da Costa, Vicentina de Carvalho, e mais algumas, todo um grupo de nomes, no mesmo plano em que se encontram nossos melhores poetas.

Nas exíguas proporções de nossa crônica, gostaríamos de destacar quatro vozes líricas, de diapasões diferentes, inexplicavelmente silenciadas ou desconhecidas do grande público. Uma, já desaparecida; três delas, ainda em nosso convívio, muito embora seus cantos se percam na azoada vida contemporânea, onde música e ruído se confundem, onde poesia e charada se identificam.

Quem se lembra de Carmem Cinira? Carioca, falecida com menos de trinta anos, em 1933, seus versos eram publicados por jornais e revistas na última década de sua vida. De uma poesia simples, comunicativa, encontrou no soneto uma de suas formas preferidas de expressão. Selecionei de Carmem Cinira três sonetos para a antologia, um deles, realmente antológico, copiado nos cadernos de poesia, obrigatoriamente incluído em qualquer seleção no gênero. É o intitulado.

INCANSÁVEL

Velho sonho de amor que me fascina,
causa das mágoas que me têm pungido
e que, entanto, conservo na retina
como a fonte de um bem inatingido...

Flana velada, cântico em surdina
de uma alma triste, um coração ferido,
nem pode haver linguagem que defina
o que eu tenho, em silêncio padecido!

Mas, ainda que mal recompensado
meu amor há de sempre desculpar-te
humilde, carinhoso, devotado...

Bendito seja o dia em que te vi,
pois não há maior glória do que amar-te
nem melhor gozo que sofrer por ti!


Citemos agora o nome de uma das maiores poetisas brasileiras de todos os tempos: Gilka Machado. De uma poesia sensorial, de ritmos quentes, pletórica de imagens, Gilka dá continuidade à melhor tradição de nossa sensibilidade e de nossa etnia. Permanece entretanto em silêncio, um injustificado silêncio que nos priva de seus versos tão cheios de belezas. E aqui fica uma pergunta aos nossos editores: porque não reeditar a obra de Gilka Machado, ou pelo menos um volume de suas poesias escolhidas?

Certos antolhos críticos, estreitas convenções estéticas vêm sufocando o que de melhor existe em nossas letras. Gilka Machado é uma vítima dessa “segregação”. Vou escolher ao acaso, um dos quatro sonetos que incluí na antologia:

SONÊTO

Sob o céu, sobre o mar, dentre um profundo
silêncio de ermo, em meio às rochas nuas,
aninhamos na noite, como duas
aves, ébrios de nós, longe do mundo.

Em teus olhos de treva ardiam luas;
errava um cheiro, não sei onde oriundo;
e minhas mãos, de tuas mãos no fundo,
tinham desejos de morrer nas tuas.

Sangrando luz, pendida a trança flava,
uma estrela do além se despenhava...
- Sorriste olhando-a, entristeci-me ao vê-la...

Com a alma em fogo, pela noite fria,
em vertigens de amor eu me sentia
rolar no abismo como aquela estrela.


Destaquemos em seguida, aquela que poderíamos chamar de a nossa Virginia Vitorino: Benedita de Melo. Exímia sonetista, com um verso musical, tal como a grande poetisa portuguesa, Benedita de Melo possui apenas um livro publicado: “Luz da Minha Vida”. E é realmente a sua luz, pois a poetisa cega encontra na poesia seu iluminado mundo interior. Sua lírica vem valorizada pela capacidade de fixar conflitos psicológicos e situações do cotidiano. Um dos mais belos momentos de inspiração é este

VERGONHA

- “Menina!” Disse alguém, no grande instante
em que era dividido em dois um ser...
E essa palavra, pelo mundo avante,
foi meu santo orgulho de viver...

Ser menina. Ser moça. Ser constante.
Ser caráter. Ser honra. Ser dever.
Por mais tropeços que encontrasse adiante
nunca me entristeci de ser mulher.

Mas veio o Amor. Veio a traição ferina
e todo o orgulho meu de ser menina,
roubou-o a sorte, malfadada e crua;

e veio a dor, e veio a mágoa, o tédio,
e a vergonha escaldante e sem remédio
de ter sido mulher para ser tua.


Finalmente, uma outra poetisa de que poucos terão ouvido falar. E a razão é a mesma: possui também apenas um livro publicado. Uma coleção de poemas e sonetos líricos: “Primavera, Escuta...”

Conhecia-a há anos, muito mocinha, em Friburgo. Sei que se casou, que reside em São Paulo, que é uma dona-de-casa feliz, às voltas com todos os problemas rotineiros de um lar. Telefonou-me faz algum tempo, quando lancei a primeira edição da antologia, para agradecer-me o fato de “tê-la incluído entre tantos poetas consagrados”. Mas não fiz favor. Maria Teresa de Andrade Cunha, este o seu nome de solteira, o seu nome literário, disse-me também que não tem mais tempo para a poesia. Não acredito. Estou certo de que apenas recolhe o canto, até nova surpresa. É uma poetisa como as demais, neo-romântica, de expressão moderna. Se poesia é emoção e simplicidade, Maria Teresa faz poesia, e da mais pura. Vamos ouvi-la, numa homenagem à sua arte e à de Friburgo daquele tempo, com o seu soneto:

QUERIA QUE CHEGASSES

Festiva, em frente, se ergue a serrania
tocada de um dourado cambiante;
queria que chegasses neste instante;
nem sabes como está bonito o dia!

Anda no ar transparente uma alegria
uma alegria imensa, delirante...
Como está perto o azul do céu distante!
Que perfume e que luz, na tarde fria!

Queria que chegasses de surpresa.
É tão maravilhosa a natureza,
juncando esse caminho, há tanta flor!

...Sairíamos juntos, devagar...
Sem destino, sem pressa de voltar
de mãos dadas, felizes, meu amor!


Fonte:
JORGE, J. G. de Araújo. No mundo da poesia. Edição do autor, 1969.

A. A. de Assis (Revista Virtual de Trovas “Trovia”, n. 148 – abril de 2012)


Inesquecíveis
Espremam o coração
deste vate trovador,
e vocês conhecerão
o doce suco do amor!
Francisco Macedo


Tu gostas do que não gosto,
e eu sofro por ser assim...
Vou ver se de mim desgosto,
para gostares de mim!

 Luiz Otávio

Filhos... mistério profundo
que a vida assim justifica:
os frutos correm o mundo,
mas a raiz... sempre fica!
Milton Nunes Loureiro

Quem, superando a fadiga,
luta com fé e com garra,
tem na vida de formiga
a alegria da cigarra.

 Nádia Huguenin

Sobre mulher não discutam;
seus impulsos não se medem:
as mais fracas também lutam,
as mais fortes também cedem.
 
Nydia Iaggi Martins

Sonho um mundo de homens puros,
sem fronteiras, sem entraves,
onde as casas não têm muros,
onde as portas não têm chaves.
Orlando Brito
Adeus, Francisco Macedo, / querido poeta e irmão... /
Partiste, porém sem medo, / cheio de trovas na mão! (aaa)

Brincantes

Bem muito longe do inverno,
a nudez é tão normal,
que se alguém passar de terno
vão pensar que é carnaval...
Elisabeth Souza Cruz – RJ

Tenho medo de mulher
com marido e mesmo sem...
-- da solteira porque quer...
-- da casada porque tem...
 
Izo Goldman – SP

Quando vovó faz faxina,
vovô teme o seu capricho,
pois ela tudo examina:
não tem uso? Vai pro lixo!
Jotão Silva – RJ

Tem dois nomes a magreza
nesta vida pouco séria:
quando é de rico, é beleza;
quando é de pobre, é miséria.
 
Milton S. de Souza – RS

A trova nos apresenta
detalhes que nos comovem:
os menores de sessenta
são chamados de “ala jovem”...
Osvaldo Reis – PR

Vagando por sobre a cama,
fantasma do falecido
viu, surpreso, o seu pijama
a vestir outro marido!
 
Renato Alves – RJ

Se nas revistas reparas,
verás que é questão de gosto:
alguns preferem ver Caras,
outros preferem o oposto...
 
Rodolpho Abbud – RJ

Confuso, o dono do empório
não anda bom da veneta:
na orelha um supositório,
mas nem sinal da caneta!
Sérgio Ferreira da Silva – SP
Líricas e filosóficas

Se a justiça, um dia, enfim,
a todos der vez e voz,
Deus dirá que agora, sim,
mora no meio de nós!
A. A. de Assis – PR

Num triste e cruel enredo
escrito por poderosos,
a Terra treme com medo
das mãos dos gananciosos.
Ademar Macedo – RN

Xadrez? Tenha paciência!...
Amor, não quero jogar;
opto pela transparência
que brilha no teu olhar.
 
Agostinho Rodrigues – RJ

O orvalho, do céu liberto,
de uma flor se fez amante,
e em seu regaço entreaberto
pôs um límpido brilhante!
 
Amaryllis Schloenbach – SP

Nos jardins, bela e vaidosa,
enfeita-se a natureza:
recende o aroma de rosa
e põe brincos-de-princesa!
Angélica Vilella Santos – SP

Quantas trovas já fizemos
agarradinhos na cama...
Cada uma que relemos
traz saudade... e nos inflama!
Arnaldo Ari – RJ

O mar da vida parece
que às vezes quer me afogar,
mas Deus, que nunca me esquece,
atira a boia no mar!
 
Carolina Ramos – SP

Vivei sempre a hora errada:
quando criança, mocinha;
aos quinze, mulher casada;
e aos quarenta, já sozinha.
 
Cida Vilhena – PB

Na chama deste desejo,
que é paraíso e é cruz,
Qual mariposa me vejo
a consumir-me na luz.
Conceição de Assis – MG

En el polen de tu beso
nace la flor del amor;
mi corazón está preso
en tu fuego abrasador.
Cristina Fervier – Argentina

Com movimentos velozes,
expressam seu linguajar...
Os dedos das mãos são vozes
de quem não pode falar...
Darly O. Barros – SP

Não me negues teu retrato,
que isso é tola precaução,
pois já o tenho, de fato,
gravado no coração!
 
Diamantino Ferreira – RJ

Vou perder-me além dos dias,
no teu perfume e calor,
vou curar minhas sangrias.
com muitos beijos de amor.
 
Dirce Montechiari – RJ

Nesta vida rotineira,
tua saudade em minha alma
é cantiga de goteira
em noite de chuva calma!
Domitilla B. Beltrame – SP

Coração deixado vago
lamenta ter que informar:
fizeram-lhe tanto estrago,
que não dá mais pra morar.
Dorothy J. Moretti – SP

Utopias!... Por vivê-las
e a elas me aprisionar,
quando desejo as estrelas,
deixo meu sonho voar!
 
Edmar Japiassú Maia – RJ
Do jeito que o tempo faz,
correndo sem piedade,
uma decisão me apraz:
nunca mais contar idade.
 
Euclymar Porto – RJ

Este silêncio, tão mudo,
que o nosso olhar escondia...
nos fez sentir quase tudo
de tudo o que eu já sentia!
Eva Yanni Garcia – RN

Sou sertanejo e não nego,
crestei meus pés neste chão.
Nestas marcas que carrego,
carrego o próprio sertão!
 
Francisco Garcia – RN

Tem São Francisco a pobreza
mais pobre do que ninguém...
Mas... quem me dera a riqueza
de ser pobre assim também!
Gasparini Filho – SP

Pedi perdão ao Senhor
por minhas horas vazias,
pelas horas sem amor,
e Ele as encheu de alegrias!
 
Gislaine Canales – SC

Gosto da trova da roça
com cheiro de mato e flor.
Seu recado me remoça,
como um abraço de amor.
 
Humberto Del Maestro – ES

Heresia é não amar;
é deixar, no coração,
lentamente se apagar
o fogo d’uma paixão!
 
J. B. Xavier – São Paulo

Numa espera doce e mansa,
qual zelosa tecelã,
bordo rendas de esperança
pra enfeitar nosso amanhã!
Jeanette De Cnop – PR

Meu coração não se cansa,
meu coração não se farta,
e repleto de esperança
meu coração não se infarta.
 
J.J. Germano – RJ

Ou na cidade ou na roça,
com arte, engenho ou suor,
cada qual faça o que possa,
e o mundo será melhor!
 
Jorge Fregadolli – PR

Quando a gente se endivida
com o empréstimo da idade,
quantos, no Banco da Vida,
são os juros da saudade!
 
José Fabiano – MG

Nas minhas tardes de criança,
brincadeiras de corrida.
Hoje danço em outra dança,
danço no circo da vida.
José Feldman – PR

A inspiração, que nos toca
como o sol da primavera,
foge quando a gente invoca,
vem quando menos se espera.
 
José Lucas de Barros – RN

O tempo passa de depressa,
mas quem diz que eu envelheço?
– cada olhar é uma promessa!
– cada espera... um recomeço!
José Ouverney – SP

Nos garimpos desta vida,
que o destino abandonou,
eu sou bateia esquecida
que nem cascalho pegou.
José Valdez – SP

Por excesso de vaidade,
de soberba, de altivez,
valores, como a igualdade,
estão hoje em escassez.

 Lisete Johnson – RS

Nas horas tristes, sombrias,
a esperança é a companheira
que afugenta as nostalgias
e nos ergue... a vida inteira!
 
Lucília Decarli – PR

Tu, velho manto bordado,
foste muito mais feliz!
Sentiste as mãos, no passado,
daquela que não me quis.
 
Luiz Antonio Cardoso – SP

Nessa vereda que é a vida,
vou de tropeço em tropeço,
pois cada nova subida
é sempre um novo começo.
 
Luiz Carlos Abritta – MG

Debruçada sobre o berço
do seu querido filhinho
busca a mãe, rezando o terço,
indicar-lhe um bom caminho.
 
Luiz Hélio Friedrich – PR
Se alguém publicar uma trova sua, mande pelo menos um “oi”. Senão pode parecer que você não gosta que divulguem seus trabalhos.


Se insone um dia já estive,
pra ver você ao meu lado,
quero que o sono me prive,
porém que eu sonhe acordado.
 
Marcos Medeiros – RN

Ao encantar-lhes a vida,
calando as dores secretas,
a Lua... ninguém duvida...
é o talismã dos Poetas!...
 
Maria Lua – RJ

Eu já fui um beija-flor
em outras vidas passadas:
era segredo em louvor
às flores desamparadas.
 
Mª Luíza Walendowsky – SC

A vida me faz cobrança
pelas chances que me deu ...
Mas meus mitos de criança,
roubou-me, e não devolveu...
 
Maria Nascimento – RJ

A vida é tênue fumaça,
é uma linha de retrós...
Dizem que é o tempo que passa,
mas quem passa somos nós!
 
Ma. Thereza Cavalheiro – SP

Eu trago, junto do peito,
silente, a lembrar, constante,
o teu retrato, que estreito,
feito uma joia galante.
Maurício Friedrich – PR

As pessoas nunca morrem,
simplesmente elas encantam;
vivem sempre, e nos socorrem,
com as obras que aqui plantam.

 Ney Garcez – PR

No circo da vida explode
o que a vida sempre dá:
um é pipoca se pode;
outro apenas piruá!
Nilton Manoel – SP
Prestigiar quem muito faz pela trova
é também um modo de trabalhar pela trova.



Viajei pelo mundo inteiro
e nunca mais pude achar
o que no instante primeiro
encontrei em seu olhar.
 
Olga Agulhon – PR

Esta saudade tão rude,
que faz minha alma deserta,
vem desde o tempo em que pude,
mas não fiz a escolha certa!
 
Pedro Mello – SP

Não interrogue o amanhã,
pois ele pertence a Deus,
que acorda a cada manhã
a vida e os milagres seus!…
Sônia Ditzel Martelo – PR

Bravura é viver sorrindo,
embora seja evidente
que a vida é dor insistindo
em ser mais forte que a gente.
 
Thalma Tavares – SP

Sei que viver é lutar,
mas luto em desigualdade.
Eu sou concha e a vida é o mar
em noite e tempestade.
Therezinha Brisolla – SP

Pobre velhice! Em seu jeito
de solitário cismar,
tem serenatas no peito...
sem ter para quem cantar.
 
Vanda Fagundes Queiroz – PR

Almejo trilhas sem fim,
ornamentadas de rosas...
Mãe, vais à frente de mim,
cultivando as mais formosas!
 
Wagner Lopes – MG

"Volta, amor!" – Esse é o chamado
da saudade, ao ver-te ausente –
"Em memória do passado,
eu te peço este presente."
Wanda Mourthé – MG


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Trova Ecológica 77 - Wagner Marques Lopes (MG)

Vera Lúcia de Souza Lima (Cartas: verdades tristonhas, mentiras risonhas)


Longe vai o tempo em que um moleque de recados, uma ama cúmplice ou um criado fiel se prestavam aos serviços de pombo-correio. Hoje, quando telefones e celulares sofisticados estão disponíveis para conversas, encontros e declarações ao pé do ouvido, a internet, um recurso tecnológico desprovido de romantismo e glamour, paradoxalmente, trouxe de volta o hábito requintado de escrever cartas.

Mas convenhamos, são as cartas tradicionais, dentro de envelopes, com destinatário, remetente e, de preferência manuscritas, que despertam maior fascínio.

Povoando canções, narrativas de ficção, filmes e peças teatrais, alimentam nosso imaginário tanto mais quanto maiores forem os indícios de que se trata de uma carta de amor ainda que ridícula, pois como afirma Fernando Pessoa “Todas as cartas de amor são ridículas”.

Do ponto de vista literário, as cartas, que pertencem ao gênero ensaístico foram batizadas pelos franceses com um nome especial: écriture intime, tendo sido acolhidas com grande entusiasmo pelas mulheres, as quais, confinadas aos espaços domésticos, adequaram-se com perfeição a esse estilo de escrita do eu, que lhes viabilizava a comunicação com o mundo exterior, sem exigir-lhes o apagamento das características pessoais, as marcas do seu mundo privado.

O tom menor, íntimo, descontraído, a liberdade de expor, de discutir sentimentos e idéias, a flexibilidade de poder deslizar de um assunto a outro, e, dessa forma, deixar fluir, consciente ou inconscientemente, comentários, sonhos, frustrações, desejos, passíveis de serem elaborados nos diálogos com o interlocutor ausente, atraíram para o gênero, cientistas, artistas, estadistas e intelectuais vários.

Assim, Freud, Jung, Van Gogh, Joaquim Nabuco, Hanna Arendt, Franz Kafka, Rainer Maria Rilke, Mário de Sá Carneiro, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Fernando Sabino, Clarice Lispector, Vinicius de Moraes, Caio Fernando Abreu entre outros, se encarregaram de construir com sua extensa correspondência, um vasto acervo epistolar.

Reunidas em livro, muitas vezes depois de um exaustivo trabalho de pesquisa, as cartas constituem uma literatura especialmente instigante. Nelas, os leitores buscam vislumbrar aspectos biográficos inusitados e a revelação, quem sabe, do lado mais humano de figuras de renome. Nelas, os leitores encontram depoimentos e retratos de uma época pontuada pelos diversos acontecimentos relatados.

Delas, os leitores extraem narratividade. Sim, porque as cartas na sua organização em seqüência contam histórias várias, entretecidas nas conversas entre emissores e destinatários, que a escrita dramatiza e pereniza.

Antigas cartas medievais, escritas em latim, encerram a tragédia do grande e sofrido amor de Abelardo e Heloísa, amor condenado à sublimação mística.

- “Como o Senhor é justo e misericordioso! A odiosa traição de teu tio me fez crescer na virtude, quando me privou desta parte do meu corpo, que era a sede de minha libertinagem e a fonte única dos meus desejos” declara Abelardo. Convicto de que é justiça e benefício o que lhe aconteceu, tenta persuadir Heloísa a aceitar a renúncia e a vida monástica.

Ela, insubmissa, tomada por Eros, nega, indignada, as circunstâncias da sua conversão, afirmando que foi a determinação de Abelardo e não a vocação divina, que a levou a tomar o hábito monástico.-“Mas em mim esses aguilhões da carne se excitam mais pelos ardores de uma juventude ávida de prazeres e pela experiência que tive das mais inebriantes volúpias”, protesta Heloísa.

Abelardo, ídolo intelectual do seu tempo, mestre, poeta e músico, aos trinta e oito anos encontra em Heloísa, dezessete anos, sua aluna, sensível, inteligente e belíssima, o arrebatamento intelectual e o sensual. Separados, unidos por um casamento secreto e novamente separados em função de muitos preconceitos, são atingidos pela castração física de Abelardo, a mando do tio e preceptor de Heloísa, o cônego Fulbert.

Recentes cartas pós-modernas, escritas em linguagem coloquial, encenam uma outra tragédia contemporânea. Não o amor impossível de dois jovens, mas a vida de um jovem escritor, tornada impossível pela ação do vírus da Aids.

“-Pois é amiga. Aconteceu – estou com Aids – ou pelo menos sou HIV+,” informa Caio Fernando Abreu à sua amiga Lídia Magliani no livro Cartas (2002). “Te escrevo da minha suíte do hospital Emílio Ribas onde estou internado há uma semana” contextualiza com ironia.

Fraternas cartas, publicadas recentemente, dramatizam os vários momentos e as várias modulações de um sentimento, talvez o mais sublime de todos os sentimentos humanos: a amizade. “Depois de ler fico pensando que realmente doce é a companhia dos amigos”, diz Fernando Sabino, autor de Cartas na mesa, registro de sua correspondência, endereçada aos outros três cavaleiros mineiros do Apocalipse: Hélio Pellegrino, (Pellegruventz), Otto Lara Rezende (Pagé), Paulo Mendes Campos, (Nicodemus). È o desejo de sempre trocar, de conversar, de partilhar, de ver com os amigos a vida passar, que anima o comovente furor epistolográfico do escritor mineiro, o qual de 1943 a 1992, escreve muitas cartas, enviadas dos diversos lugares onde residiu: Juiz de Fora, Rio, New York, Frankfurt, Paris, Roma, Londres, Rio novamente. Nelas está sempre presente o apelo da amizade.

“Sinto que vocês estão se afastando de mim, Hélio, e eu não queria que isso acontecesse. Já não estou presente quando vocês se encontram aí, percebo que o tempo está me empurrando para frente com força demais, e isso é terrível. Eu queria ficar com vocês, Hélio, e estou cada vez mais longe (creio que será bom prevenir que enquanto escrevo esta carta estou com os olhos molhados)”.

Sob o fio condutor – a relação entre os amigos – a prosa que flui, ágil e saborosa, fragmentando-se ao final de cada carta, para depois fluir e novamente fragmentar-se, traz temas envolventes: reflexões filosóficas, análises de situações políticas, visões culturais de outros países, referências e informações sobre figuras do meio literário.

Diz Fernando: “Clarice chegou, viu e venceu, mas em termos: com exceção de mim, que sou suspeito, ainda não conquistou para o seu novo livro os leitores que merece”.

Trepidantes, as cartas reunidas no volume Querido Poeta – Correspondência de Vinicius de Moraes, organização de Ruy Castro. Agrupadas por décadas, elas dramatizam os movimentos de um escritor pleno, a vida vivida intensamente, nos acordes de uma lira muito singular, personalíssima.

O poeta e diplomata envia e recebe cartas, ao escrevê-las, expõe com coragem, angústia e medo, sua relação consigo próprio e com o mundo, relação que se constrói com base no amor e na entrega total aos objetos desse amor: mulheres (muitas), esposas, namoradas, filhos, mãe e pai, irmãs, amigos (muitos).

Assim, numa carta à filha Susana de Moraes se queixa: “Filhinha, meu amor, o seu velho está aqui no auge de tristeza, longe de vocês e da namorada dele (Lucinha Proença)... Esses dois meses que tenho de esperar pela vinda de Lucinha parecem dois anos, de tal forma os minutos se arrastam, pesam, fazem valer cada segundo”.

Noutra, comunga com o amigo Antonio Maria:... ”Você, meu Maria, que, além de meu amigo, é meu parente, e como eu gosta da noite, teria adorado esse começo de primavera, que de primaveral aliás só mostrou poucos dias”.

Pelo viés das cartas é possível flagrar o poeta envolvido com a poesia, a sua e a dos outros. Declara, a propósito de um poema recebido de Bandeira: “Seu ‘Epitalâmio’ nos deixou comovidíssimos, não só pela ternura do poema em si, como porque foi assim como a nossa certidão de casamento... E mostra que um poeta deve ser realmente um conhecedor de almas, um ‘expert’ no ser humano, um fisiognomista que não precisa de Husserl nem da escola alemã para intuir o essencial do comportamento de um semblante.... “Estou escrevendo minha nova peça, Uma rosa nas trevas, d’après o verso de Mallarmé. Danadamente difícil”.

Pelo viés das cartas é possível entender melhor que malgrado a poesia, o poeta é um homem que assume as preocupações prosaicas de todos os mortais. “Esta remoção, do ponto de vista financeiro, é um bom safa onça e vai me permitir pagar uma série de dívidas chatas aqui e aí. Pois a merda era grande, Braga”.

Com a ousadia que caracterizou sua vida, o querido poeta não hesita na sua correspondência em abrir seu coração, desnudar-se e avaliar-se a si próprio e a sua geração, fato que fica evidente numa carta endereçada a Ribeiro Couto: “Eu vim numa geração posterior, angustiada, errada em sua formação e que teve que descobrir tudo por si mesma, deixando, em sangue, seus melhores pedaços pela estrada. Mas não há de ser nada. A etapa foi vencida e agora só me resta congratular-me comigo mesmo de ter sobrevivido a tanto sofrimento ( por vezes tão inútil) e poder agora apreciar devidamente o meu passado, os meus amigos, o que ficou de bom de tudo isso”...

Nas cartas visitadas, as descobertas, as surpresas, as revelações. Nas malhas da letra pessoal, um universo paralelo, um eu que se estrutura e se constrói à sombra de uma persona social. Onde a verdade do ser?
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Vera Lúcia de Souza Lima é Doutora em Literatura Brasileira pela UFRJ e professora do Departamento de Letras da PUC-Rio.

Fonte:

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 513)

Uma Trova de Ademar

Uma Trova Nacional

A solidão mais secreta
ganha forma de Poesia,
quando a pena do poeta
encontra a folha vazia...
–EDMAR JAPIASSÚ MAIA/RJ–

Uma Trova Potiguar


Busquei no universo um dia,
uma resposta eficaz;
que transformasse a POESIA
num hino de amor e paz!!!
–PROF. GARCIA/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Fazer versos é mania
que qualquer um pode ter;
mas os versos com POESIA
nem todos podem fazer!
–ARCHIMINO LAPAGESSE/SC–

Uma Trova Premiada


2007 - Bandeirantes/PR
Tema - DESVELO - M/E.


Desvelo é aquele cuidado
com que o poeta, a seu jeito,
passa uma noite acordado
buscando um verso perfeito.
–ARLINDO TADEU HAGEN/MG–

Simplesmente Poesia

Doze de Março 2012.
JOSÉ LUCAS/RN (Em agradecimentos)


Hoje colhi mais um ano
no canteiro da existência,
sem mágoa e sem desengano,
porque o Mestre Soberano
não usa a palavra ausência.
Quando tiveram ciência
deste novo amanhecer,
amigos de mil paragens
mandaram tantas mensagens,
que nunca vou merecer!
Nem é preciso dizer
da alegria e da emoção
que, encontrando a porta aberta,
me invadiram, sem alerta,
alma, vida e coração.
Ainda existe um mundo irmão
onde o dom do amor habita,
nutrindo a fraternidade
e abençoando a amizade;
por isso a vida é bonita!
Feliz é quem acredita
que é possível ser feliz,
na vida, em qualquer idade,
pois, mesmo a longevidade,
tem sonhos primaveris.
E assim, as vozes gentis,
portadoras da emoção
de pessoas tão amadas,
hoje ficaram gravadas,
pra sempre, em meu coração!

Estrofe do Dia

Quem carrega, como nós,
o vírus da poesia,
tem no sangue uma plaqueta
que se altera todo dia,
aumentando a quantidade
e pondo mais qualidade
nos versos que a gente cria...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

Poeta
–DOROTHY JANSSON MORETTI/SP–


Nunca lhe falta a sensibilidade,
a sutileza, o dom de transferir
às palavras toda a expressividade
na alegria ou na mágoa de sentir.

O poeta é assim, é versatilidade...
Seja o que for que intente traduzir,
mergulha em vida, em sonho, em realidade,
faz de uma noite a aurora reflorir.

Transcende as dores de um mundo sofrido,
pisa os mistérios do desconhecido,
traz as estrelas para o nosso chão.

E quem o escuta, exclama, fascinado:
“Era assim que eu queria ter cantado,
se soubesse escrever minha canção!”