domingo, 13 de maio de 2012

Kideniro Teixeira (1908–2008 )


O poeta Kideniro Flaviano Teixeira nasceu em Águas Belas, município de Ipueiras, no Ceará, em 16 de agosto de 1908. Faleceu em Fortaleza, a 18 de agosto de 2008.

Morou por longos anos em Manaus, AM. Naquela cidade diplomou-se em Direito, advogou, foi jornalista em A Tarde e professor na Escola Técnica Federal e no Colégio D. Bosco.

Posteriormente, retornou ao Ceará, onde passou a atuar como Promotor de Justiça.

Residia na cidade de Santa Quitéria, em seu Estado natal.

Após prolongado silêncio, que esteve a trabalhar de modo obscuro e sem que ninguém o pressentisse, eis que, para a surpresa de todos e alegria da numerosa falange dos seus amigos e admiradores, KIDENIRO FLAVIANO TEIXEIRA surge diante de nós, a ostentar as primícias de sua nobre inteligência, encerradas num relicário de beleza e deslumbramento. Intitula-se MANDACARUS o novo manancial que temos sobre a mesa, onde (...) deixou as pinceladas fortes e incisivas de sua tenacidade forte e intelectiva. Realmente em MANDACARUS, de 114 páginas, encontra-se contínuo desfilar de rimas e de ritmos tudo isto em meio a surpreendentes surtos de imaginação, o que toma o volume referto de encanto e sonoridade. Delineou aspectos de nossa terra e paisagens do Inferno Verde, onde o ilustre poeta permaneceu por algum tempo, não se podendo afirmar, em meio a tantos poemas de incontestável beleza, qual o mais formoso e surpreendente.(...) Pelo que aí fica, podemos aquilatar que MANDACARUS é livro dos mais radiosos dos últimos tempos (...). Nossas felicitações a Kideniro (...), cujo livro nos deixou a impressão, não de um feixe de mandacarus, mas de um roseiral esplendente capaz de a todos embevecer.
CARLYLE MARTINS, Tribuna do Ceará, 30/07/1977

Ao completar 100 anos, estava lúcido e em atividade literária, tendo antecipado que finalizava mais um livro de poesia, que se intitularia CARDOS-SANTOS.

Obra poética publicada:
LANTERNA AZUL (1944),
MANDACARU (1976) e
ILUMINURAS DA TARDE (2000).

Fonte:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/amazonas/kideniro_teixeira.html

Trova de Dia das Mães - Sinésio Cabral (Fortaleza/CE)

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 553)


Uma Trova de Ademar

Mãe é um ser tão profundo,
mãe é palavra tão bela,
que não há outra no mundo
que possa rimar com ela.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Oh! minha mãe, quando eu falho,
tua lágrima rolada,
é qual pérola de orvalho
sobre a rosa machucada!...
–DOMITILLA B. BELTRAME/SP–

Uma Trova Potiguar


Frases de eterna pureza,
mamãe sempre me revela;
porém as de mais beleza
eu leio nos olhos dela.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Uma Trova Premiada


1990 - São Paulo/SP
Tema: RIMA - M/H


Mãe – palavra que aproxima
criador e criatura;
tão singular que só rima
com a palavra... Ternura!
–ANTONIO JURACI SIQUEIRA/PA–

...E Suas Trovas Ficaram


Palavra Mãe, não tem rima,
porque nada existe igual,
ela é fruto e obra-prima
do arquiteto universal.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Uma Poesia


Mãe tem uma alma sensata
e um coração que não finge,
grosseria não lhe atinge
ingratidão não lhe mata;
filho ruim e filha ingrata
trata tudo com amor,
seu conselho é um primor
onde a paz se consolida;
toda mãe é parecida
com a Mãe do Salvador.
–GERALDO AMÂNCIO/CE–

Soneto do Dia

..À Nobília, Minha Mãe
–FRANCISCO MACEDO/RN–


Dominando as palavras e os fonemas,
as regras e também todos acentos,
pela arte, eu as transformo em sentimentos,
com os quais vou fazer os meus poemas.

Unir versos, escolas e sistemas,
falar sobre mamãe e seus momentos,
resgatar sua vida e sofrimentos
da mulher, minha mãe, ternura extrema.

Na homenagem, que presto, como filho,
ela foi para mim, com muito brilho...
Quase santa... Uma mãe, quase divina!

Um símbolo do amor, maternidade,
vinte e um filhos legou à humanidade,
Nobília, minha Mãe, minha Heroína.

Trovas em Homenagem às Mães


Com que suave ternura
tece a canária o seu ninho!
- Mãe é assim, dengosa e pura,
a nossa e a do passarinho...
A. A. de Assis

Mãe é ternura infinita
e ainda que a alma lhe doa,
ante um filho não hesita,
enxuga o pranto e...perdoa!
Carolina Ramos

Quando a mãe beija seu filho
- tesouro herdado de Deus -
quanto fulgor! Quanto brilho
espelha nos olhos seus!
Diamantino Ferreira

Tricotando o sapatinho,
a mamãe pára um momento
e acaricia o pezinho,
no seu ventre, em movimento...
Domitilla Borges Beltrame

Se "Mãe" não tem com que rime,
não desistas, trovador...
Troca a palavra sublime
pelo sinônimo "Amor"!
Dorothy J. Moretti

Lampadário de bonança,
luzente, formoso e terno,
nada supera a esperança
que existe no olhar materno!
Elen De Novais Felix

Minha mãe, foram teus braços,
refúgio dos meus segredos,
onde deitei meus cansaços
e adormeceram meus medos!
Ercy M. Marques Faria

Deus, em toda sua glória,
com tanta grandeza e brilho,
pra completar sua história,
quis ter mãe e quis ser filho!
Gislaine Canales

Ser mãe é trabalho insano
que tal carinho irradia
e te faz, por todo o ano,
ser a mãe de cada dia!...
Hermoclydes S.franco

Minha mãe partiu e agora
na saudade que me envolve,
eu sou criança que implora:
-Por favor, Senhor...devolve...
Izo Goldman

Minha Mãe. Minha alegria.
Meu amor. Minha santinha.
Deu-me tudo o que eu queria
mas levou tudo o que eu tinha.
José Gilberto Gaspar

Vou ser mãe...ela murmura...
e o seu ventre, com nobreza,
aos poucos, forma a figura
de um templo da natureza...
Marina Bruna

Louvo as mães, o sol caindo,
vão à igreja, levam velas,
à Virgem sempre pedindo
pelos filhos...não por elas.
Moacyr Figueiredo

Te amando, mãe, desde o berço,
eu nem te amei tanto assim,
pois não te dei nem um terço
do amor que tu deste a mim!
Regina Célia de Andrade

Fecunda o ventre rosado
do amor, a fértil semente
e, a mãe, abriga um legado
que é futuro em seu presente...
Relva do Egypto R. Silveira

Minha mãe, do amor escrava,
com seu carinho e constância,
era a fonte que irrigava
o jardim de minha infância!
Renata Paccola

Quando piso, descuidado
as trilhas do coração,
sinto, a cada passo dado,
minha mãe me dando a mão!
Roberto Resende Vilela

Penso ouvir teu acalanto,
minha mãe, lá de onde estás,
querendo enxugar meu pranto
e ninar-me, em horas más.
Thereza Costa Val

É noite!... E, num desvario,
na dor que a sufoca e invade,
chorando - o berço vazio -
a mãe embala a saudade!
Therezinha Dieguez Brisolla

Além de toda a alegria
de ser mãe, eu penso assim:
- Que bênção lembrar que, um dia,
anjos moraram em mim...
Vanda Fagundes Queiroz

Fonte:
http://www.recantodasletras.com.br/homenagens/3664419
Colaboração de Olga Agulhon (repassando de A. A. Assis / J. B. Xavier)

Walter Gonçalves Horta (Coração de Mãe)


Que seja eterno enquanto dure,
Então que dure eternamente.
Que seja válido enquanto vale,
Então que valha para sempre.

Que seja como a luz solar,
Tendo muito brilho e amor,
Que seja como uma caricia,
Meiga e suave em seu fulgor

Que seja leve como a pluma,
Que não carregue culpa nenhuma.
Que seja alvo como a neve,
E tão veloz como a puma.

Que seja forte como um touro,
E mais valioso que o ouro.
Que seja brilhante como uma estrela,
E precioso como um diamante.

Só é possível comungar
Todos estes elementos num altar.
Que é muito bonito mas discreto,
Embora enorme como o mar.
Capaz de todos abrigar.
Coração de mãe é este encantado lugar!

Fonte:
Poema enviado pelo autor

Trova de Dia das Mães - Nei Garcez (Curitiba/PR)

XXV Jogos Florais de Ribeirao Preto (Classificação Final)


Tema Nacional: “Cidadão” (Lirica)

Categoria: Vencedor (Troféu)


1º lugar

Não se ata pelas algemas,
mazelas ao cidadão,
que enfrenta tantos dilemas
doando vida à nação.
VANDA ALVES DA SILVA - Curitiba/PR

2º lugar

Um aviso ao cidadão
sedento em me conquistar:
só me prendo a um coração
com elos do verbo amar.
MARINA DE OLIVEIRA DIAS - São Gonçalo/RJ

3º lugar

No bom cidadão encerra,
coragem que evidencia
em dar, exemplos na terra,
de bravura e galhardia.
IVONE TAGLIALEGNA PRADO - Belo Horizonte/MG

4º lugar

Sê cidadão! Pois é rara,
a virtude de quem sonha
em primeiro por na cara
os adornos da vergonha.
MANOEL CAVALCANTE DE SOUZA CASTRO - Pau dos Arcos/ RN

5º lugar

Trabalhador digno, honrado,
vai à luta sem receio,
é cidadão bem formado
e para a nação o esteio.
THEREZINHA TAVARES - Nova Friburgo/ RJ

Categoria Menção Honrosa (Medalha Dourada)

1º lugar

Perde o nome, um cidadão,
passa a “morador de rua”,
tão comum é a situação...
que o mundo até se habitua!
VANDA FAGUNDES QUEIROZ - Curitiba/PR

2º lugar

Cidadão, cabeça erguida
é aquele que, na passagem,
coloca os lixos da vida
nos latões da reciclagem.
FLÁVIO ROBERTO STEFANI - Porto Alegre/RS

3º lugar

No patrimônio moral
que enriquece um cidadão,
honestidade é vital
pra lhe dar sustentação.
SANDRO PEREIRA REBEL - Niterói/RJ

4º lugar

Sou cidadão e homem forte
no alcance às metas que traço...
o impulso quem dá é a sorte;
o resto sou eu que faço!
EDMAR JAPIASSU MAIA - Nova Friburgo/ RJ

5º lugar

Meu amor é um cidadão
que tal qual, se ainda houver,
faz dar nó no coração
da mais pudica mulher!
MARINA DE OLIVEIRA DIAS - São Gonçalo/RJ

Categoria Menção Honrosa (Medalha Prateada)

1º lugar

Cidadania se exerce
com base na educação,
e o cidadão é o alicerce
que sustenta uma nação.
WANDA DE PAULA MOURTHÉ - Belo Horizonte/MG

2º lugar

Num pleito mais que perfeito,
o cidadão sonha um bem:
-cidadania é o direito
que o povo ainda não tem!!!
EDUARDO A O TOLEDO - Pouso Alegre /MG

3º lugar

O ideal da educação,
no sentido mais profundo,
deve ser a formação
do “cidadão para o mundo”.
ALBA HELENA CORRÊA - Niterói/RJ

4º lugar

A cidadania é um sonho
distante da realidade...
e dá um trabalho medonho
ser cidadão de verdade.
MILTON SOUZA - Porto Alegre/MG

5º lugar

Por que um cidadão direito,
muito honesto e sem malícia,
logo após ter sido eleito
vira caso de polícia?
IZO GOLDMAN - São Paulo/SP
………………………………..
Tema Nacional: “Tropeço” (Humorístico)

Categoria Vencedor (Troféu)


1º lugar

Certo dia madruguei,
ao sair, um bom começo,
porque dinheiro encontrei
no chão, após um tropeço.
FLÁVIO FERREIRA DA SILVA - Nova Friburgo/RJ

2º lugar

Cai o idoso num tropeço,
derrubando uma guria,
depois... paga um alto preço
por uma noite de orgia.
RELVA DO EGYPTO RESENDE SILVEIRA - Belo Horizonte/MG

3º lugar

Sogra nem sempre é tropeço,
e nem sempre o genro pena.
-Basta que desde o começo
ele faça o que ela ordena...
ANTÔNIO AUGUSTO DE ASSIS - Maringá/PR

4º lugar

Na idade estou afundado
e o peso eu sinto no lombo,
por mais que eu tenha cuidado
cada tropeço é um tombo.
ARGEMIRA FERNANDES MARCONDES - Taubaté/SP

5º lugar

Deixando nome e endereço,
de “tropeços” faz seguro...
e de tropeço em tropeço,
vai garantindo o futuro!
RODOLPHO ABBUD - Nova Friburgo/RJ

Categoria Menção Honrosa (Medalha Dourada)

1º lugar

Um político eloquente,
num tropeço vai ao chão:
limpa a boca e exclama: Gente,
quis beijar este torrão!
WALTER LEME - Pindamonhangaba/SP

2º lugar

Pobre chefe! Que cilada
no tropeço acontecido!
A calça descosturada
com ele desprevenido.
MARIA APARECIDA PIRES - Curitiba/PR

3º lugar

Correu atrás de estrupício
e o tropeço foi fatal,
conseguiu só sacrifício:
mais um belo pré-natal!
THEREZINHA TAVARES - Nova Friburgo/RJ

4º lugar

Fingindo que foi tropeço,
garantiu o seu futuro...
O figurão paga o preço:
pensão para o nascituro!
ELIANA RUIZ JIMENEZ - Balneário Camboriú/SC

5º lugar

Meu tropeço foi hilário,
caí de quatro, babando,
por um travesti; que otário!
até agora o estou amando.
LUIZ MORAES SANTOS - São José dos Campos / SP

Categoria Menção Honrosa (Medalha Prateada)

1º lugar

Sai de mim, tropeço antigo...
Vai procurar o teu canto...
/se tropeço fosse amigo
eu teria amigo... e tanto!
DARI PEREIRA - Maringá/PR

2º lugar

De político do “avesso”,
a gente já tem calombo...
pois, quando ele dá tropeço,
é o povo que leva o tombo!!!
ROBERTO TCHEPELENTYKY - São Paulo/SP

3º lugar

Sou pão duro, mas caminho
sem tropeço nem trapaça...
bebo até sobra de vinho,
desde que seja de graça!
RENATA PACCOLA - São Paulo/SP

4º lugar

Depois de um tropeço o João
caiu de pernas pra cima
e soltou um palavrão
que eu nem posso usar na rima!
JOSÉ OUVERNEY - Pindamonhangaba/SP

5º lugar

No enterro do Geraldão,
Levei flores pro defunto,
Dando um tropeço no chão,
Por bem pouco não fui junto...
RUTH FARAH NACIF LUTTERBACK - Cantagalo/RJ
……………………
A premiação será em 2 de junho.

A Feira do Livro foi antecipada e as datas ja haviam sido divulgadas.

Quanto maior for a participação dos premiados, melhor será o retorno ao Movimento da Trova.

Conto com todos. A hospedagem e refeições estão conforme regulamento oficial (1,2 e 3).

abraços do Nilton Manoel

Fonte:
Nilton Manoel

Esopo (Fábula 11: A Raposa e o Corvo)


Uma raposa viu um corvo empoleirado numa árvore, com um naco de carne no bico, e cresceu-lhe água na boca. A manhosa da raposa, que queria roubar a carne ao corvo, começou a lisonjear a ave. "Que lindo que tu és!", disse a raposa. "Que penas delicadas!
Nunca vi outras mais belas do que as tuas! Que esbelto e gracioso que és e que voz deliciosa!"

O corvo ficou muito satisfeito ao ouvir estas belas palavras e começou a saltitar no ramo. Então, para provar a si mesmo que tinha uma voz maravilhosa, abriu a boca para cantar. Imediatamente, o naco de carne caiu-lhe da boca, mesmo na direção da raposa, que o engoliu, toda contente com a sua brilhante ideia.

Moral da história

Há no mundo pessoas que não se deixam vencer pela lisonja.

Fonte:
Fábulas de Esopo. Coleção Recontar. Ed. Escala, 2004.

Trova de Dia das Mães- Maria Nascimento (Corupire/AL)

Érico Veríssimo (Um Certo Capitão Rodrigo)


Análise da obra

A novela Um Certo Capitão Rodrigo, do ponto de vista cronológico, é o terceiro episódio do primeiro volume de O continente, parte da trilogia O tempo e o vento, que compreende também O retrato (parte II) e O arquipélago (parte III). A obra é do escritor gaúcho Érico Veríssimo, e foi escrita na segunda fase de sua carreira.

A ação da narrativa se inicia em outubro de 1828, quando o capitão Rodrigo, uma das personagens mais marcantes e popularizadas pela obra de Érico Veríssimo, chega à cidade de Santa Fé, ao fim de uma das tantas guerras contra “os castelhanos” da Banda Oriental, hoje Uruguai. Girando em torno do casal composto por Rodrigo e Bibiana, a narrativa apresenta, na composição do seu quadro histórico, a agitação sócio-política da pacata Santa Fé como efeito principal do início da Revolução Farroupilha, cujas batalhas percorreram os pampas do sul por dez anos, em confrontos que colocaram em lados radicalmente opostos republicanos e governistas.

Sua leitura é de fato, um mergulho no universo histórico da época, em que os pensamentos das pessoas eram de indignação pelos abusos do governo na cobrança dos altos impostos, contando paralelamente parte Revolução Farroupilha e da chegada dos primeiros imigrantes alemães no país.

E é nesse contexto cheio de atribulações civis que a história do Capitão Cambará se inicia. Ele, um homem de destino incerto, que ama sua liberdade, de repente se depara apaixonado por uma linda santa fezense poucos dias após apear seu cavalo no pequeno povoado. Uma moça chamada Bibiana Terra, que apesar de ser fortemente cortejada pelo filho do coronel, logo se rende aos olhares sedutores do forasteiro e se apaixona. E como de costume em quase todas as histórias de amor eles se casam e têm três filhos.

Destacando duas cenas espetaculares do livro temos a do duelo entre Rodrigo e Bento Amaral e a marca incompleta do R que o Capitão deixa no rosto filho do coronel e também a cena da extrema unção que o Padre Lara oferece a Rodrigo quando ele está entre a vida e a morte, exigindo antes que seu amigo se arrependesse de todos os pecados, o Capitão como resposta faz uma figa que deixa o padre horrorizado.

Um dos destaques nessa obra é o forte sopro épico que ocorre em todo o episódio, a exemplo de Ulisses e de outros heróis das epopéias gregas, o Capitão Rodrigo Cambará acreditava que só a ação guerreira dá sentido a vida de um homem. A domesticidade e o cotidiano são os maiores inimigos desses personagens. A paixão instintiva que o Capitão experimenta pela vida e seus prazeres, além de haver em sua conduta um substrato ético, misto de bravura, fanfarronice, generosidade e pensamento libertário.

Toda a trajetória do Capitão Rodrigo Cambará em Santa Fé desde da primeira conversa com Juvenal, o duelo com Bento Amaral, seu casamento com Bibiana, até a sua morte na guerra é cheia de pormenores que prende o leitor do princípio ao fim, página por página, fazendo desse romance de Veríssimo uma história já tornada mitológica e fascinante.

Em Um Certo Capitão Rodrigo vemos uma forte influência naturalista que se alastra por todo o romance O tempo e o vento, contaminando-o com um materialismo impressionante.

A ótica panfletária permeia uma estética que beira o romantismo o tempo todo. Em 28 capítulos acompanhamos a chegada do Capitão Rodrigo a Santa Fé.

Personagens

Bibiana - Neta de Ana Terra, mulher do capitão Rodrigo Cambará. Como a avó, Bibiana é a mulher generosa, sólida, sofrida.

Capitão Rodrigo - Encarna o código de honra do gaúcho, mediante os atributos de coragem, impetuosidade, machismo, violência física e um relativo conceito de moral.
Juvenal Terra - irmão de Bibiana.

Destaques da obra

1. O fato do personagem central ter se transformado - mesmo que não fosse a intenção de Érico Veríssimo - no símbolo do gaúcho, com seu misto de bravura, fanfarronice, generosidade e pensamento libertário. Talvez os gaudérios da época não tivessem o mesmo carisma. Documentos da época pintam esses homens "sem rei nem lei" quase como párias. No caso de Rodrigo, contudo, "a mentira histórica vira verdade artística".

2. A paixão instintiva (próxima do mundo animal) que o Capitão experimenta pela vida e seus prazeres, especialmente os da cama e da mesa. Apesar disso, há em sua conduta um substrato ético que o leva, por exemplo, a se posicionar contra os tiranos e a respeitar sua mulher, Bibiana.

3. O forte sopro épico que percorre todo o episódio. A exemplo de Aquiles e de outros heróis das epopéias gregas, Rodrigo Cambará acredita que só a ação guerreira dá sentido à vida dos homens. A domesticidade e o cotidiano são os maiores inimigos desses personagens, que só se sentem felizes no fragor das batalhas e das conquistas. Antológica é a cena do Capitão, transformado em dono de venda:

Rodrigo foi até a porta (da venda) e olhou para o alto. O vento trazia um cheiro bom de capim e, aspirando-o, ele como que se embriagava. O fedor de cebola, alho e banha que havia dentro de casa nauseava-o. Meter-se naquele negócio tinha sido a maior estupidez de sua vida.

4. A criação de um modelo de Cambará: o macho audacioso, mulherengo e sempre metido em revoluções. O Dr. Rodrigo Cambará, em O retrato e em O arquipélago, será a reduplicação quase que perfeita do bisavô, apesar de já ser um caudilho ilustrado. Porém, mesmo Bolívar e Licurgo, filho e neto respectivamente, apresentarão traços do Capitão Rodrigo. De certa forma, os valores caudilhescos e machistas desse personagem cristalizam o ideal de hombridade vigente na província até meados do século XX.

5. A cena espetacular da extrema-unção que o padre Lara oferece a Rodrigo moribundo, exigindo antes que o seu amigo se arrependesse de todos os pecados. Reunindo suas últimas forças, o Capitão Cambará faz uma figa ao sacerdote que sai dali horrorizado.

6. Igualmente importante é a cena - já citada - do duelo entre Rodrigo e Bento Amaral, e a marca incompleta que o Capitão deixa no rosto do último.

7. A paixão de Bibiana pelo gaudério é a melhor realizada entre todos os casos amorosos que povoam O tempo e o vento. Independentemente dos adultérios de que é vítima, do abandono e do desprezo do marido pela vida doméstica, ela continua amando-o como no primeiro dia em que o viu. "Queria vê-lo mais uma vez, só uma vez" - pensa ela durante a Revolução e um pouco antes do último encontro amoroso, numa sublime confissão de desejo e afeto.

8. O fato de Bibiana reproduzir sua avó, Ana, tanto na obstinação, nos silêncios, no ódio à guerra e às revoluções, na profissão de parteira e na lembrança dos mortos, dando seqüência ao arquétipo feminino do romance.

Enredo

Gaudério de bela figura física e não menor carisma pessoal, Rodrigo Cambará conquista a vila de Santa Fé com seus ditos espirituosos: "Buenas e me espalho! Nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho!" Ou ainda: "Cambará macho não morre na cama!"

Juvenal, filho de Pedro Terra, é o primeiro a simpatizar com o estranho. Bibiana, sua irmã (e reprodução da avó, Ana Terra) logo se apaixonará pelo forasteiro, reafirmando sua indiferença a Bento Amaral, filho do coronel que manda no povoado. Já Pedro Terra, homem reservado e circunspecto, detesta desde o início aquele gaudério anarquista, cujo único propósito na vida parece ser o de atender aos seus impulsos básicos, especialmente os guerreiros e os eróticos.

O Coronel Ricardo Amaral Neto exige que Rodrigo parta de Santa Fé, mas este se recusa. Em seguida, o alegre capitão desentende-se - por causa de Bibiana - com Bento Amaral. No duelo que se segue, Rodrigo Cambará consegue colocar sua marca à faca na cara do rival, não conseguindo concluir a perna do R. Vencido e humilhado, Bento atira com arma de fogo, ferindo gravemente o Capitão. Este oscila entre a vida e a morte e, nessas circunstâncias, solidifica sua amizade com o padre Lara que vai ajudá-lo e tentar convertê-lo ao cristianismo. Rodrigo se safa da morte, tão ateu quanto antes, mas completamente apaixonado (desejo físico, acima de tudo) por Bibiana. Juvenal e o padre auxiliam-no em sua tarefa, facilitada pelo ardoroso sentimento que a moça (tem vinte e dois anos) nutre por ele. Com a visível discordância de Pedro Terra, Rodrigo e Bibiana acabam se casando no Natal de 1829.

Após os ardores dos primeiros meses, Rodrigo começa a se entediar. A nova profissão (tornara-se "bodegueiro" em sociedade com o cunhado Juvenal) lhe parece intolerável. Os próprios cheiros da venda lhe causam aborrecimento. Mesmo os filhos que vão nascendo - Anita, Bolívar e Leonor - não lhe restituem a perdida alegria de viver. Trai Bibiana, torna-se um jogador e um bêbado, recusa-se a voltar para casa quando o chamam por causa da doença da filha Anita. Ao retornar, enfim, já pela madrugada encontra a menina morta. Mesmo assim, Bibiana continua apaixonada pelo "seu" capitão.

A chegada dos primeiros alemães em Santa Fé, no ano de 1833, é o grande assunto da vila. Rodrigo obviamente enlouquece por uma jovem imigrante, Helga Kunz, e com ela se relaciona, mas para sua surpresa a alemã abandona-o, partindo para São Leopoldo a fim de casar-se com um conterrâneo alemão.

Em 1835 estoura a Revolução Farroupilha. Rodrigo, que é amigo de Bento Gonçalves, adere imediatamente e desaparece de Santa Fé. Em 1836, o Capitão a frente de tropas revolucionárias retorna para enfrentar os Amarais e sua gente, que permaneceram fiéis ao Império. Antes do cerco ao casarão dos inimigos, Rodrigo ama pela última vez sua esposa Bibiana. Depois parte para o combate. Os farroupilhas triunfam, mas no ataque o Capitão Rodrigo encontra a morte. O episódio termina no dia de Finados, quando Bibiana vai ao cemitério com seus dois filhos:

"Ergueu Leonor nos braços, segurou a mão de Bolívar, lançou um último olhar para a sepultura de Rodrigo e achou que afinal de contas tudo estava bem. Podiam dizer o que quisessem, mas a verdade era que o Capitão Cambará tinha voltado para casa.”

Fonte:
Passeiweb

2º CIELLI da UEM/PR (Resumo de Simpósio de Teoria Literária) Parte 3


2º CIELLI - Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários

Diariamente estão sendo postados 4 Resumos dos Simpósios que serão apresentados em 13 a 15 de junho, até totalizar os 25 a serem apresentados.

O resumo havia sido publicado na UEM em parágrafo único, mas para facilitar a leitura dos leitores do blog, dividi em parágrafos.



9
Wellington Ricardo Fioruci
Ana Maria Carlos
LITERATURA, CINEMA E TELEVISÃO: CONFLUÊNCIAS INTERSEMIÓTICAS


Este simpósio insere-se na vertente de estudos próprios da intersemiótica, já que busca estabelecer pontos de convergência entre as linguagens da literatura, do cinema e da televisão. Ao pensarmos no caráter literário, na inter-relação sígnica e nas possibilidades tradutórias do texto, notamos que, desde os primórdios, o texto literário mantém uma intensa relação com a imagem. Se nos reportamos às inscrições rupestres, encontradas nas cavernas, podemos verificar que os desenhos já se encontravam organizados numa estrutura narrativa linear, constituindo um sistema de linguagem, que objetivava contar uma história.

A imagem tem possibilidades de construção narrativa, de caráter sintético, enquanto a escrita, analítico. Neste sentido, serão aceitos trabalhos para este simpósio que promovam o diálogo comparativo entre obras destas diferentes formas de expressão artística, desde que fundamentados no princípio da adaptação ou tradução semiótica. Assim sendo, obras literárias de qualquer natureza no que tange ao gênero, incluindo-se nesta ampla categoria contos, romances, poemas, novelas, HQs, roteiros, adaptadas para o cinema ou televisão, em formas de filmes ou minisséries, ou vice-versa, isto é, obras de natureza sonoro-visual que foram transformadas em textos literários.

O presente simpósio parte dos estudos comparativos entre as diferentes modalidades de expressão artística, cujas raízes encontram-se nos princípios teóricos da Semiótica Moderna fundada por Pierce, compreendida como “a doutrina formal dos signos”, ou, na opinião de Nöth, vista como a ciência dos signos e dos processos significativos (semiose) na natureza e na cultura. Assim sendo, com base na Semiótica e, mais precisamente, em sua variação, denominada Intersemiótica, a qual, segundo Julio Plaza, deve ser vista a partir de um “pensamento com signos, como trânsito dos sentidos, como transcriação de formas na historicidade”, abre-se caminho para uma diversidade de estudos que aproximam diferentes códigos estéticos, com vistas a compreender os processos de simbiose e dissidência entre eles, os quais tendem a redimensionar significativamente as diferentes áreas de estudo implicadas nestas abordagens interdisciplinares.

Colocar-se-á em debate temas pertinentes à Intersemiótica, tais como, os valores e a função social das obras artísticas, o conceito de fidelidade, a tradução de sistemas sígnicos e o processo de transcriação ou transculturação, a relação entre objeto artístico e mercado e a participação do leitor/espectador na construção dos sentidos.

Tendo em vista amplo arcabouço teórico inerente a esta linha de pesquisa, considera-se, com efeito, em consonância às observações de Lúcia Santaella, que todo fenômeno de cultura só funciona culturalmente porque é também um fenômeno de comunicação, e considerando-se que esses fenômenos só se comunicam porque se estruturam como linguagem, pode-se concluir que todo e qualquer fato cultural, toda e qualquer atividade ou prática social constitui-se como prática significante, isto é, como prática de produção de linguagem e sentido.

10
Edison Bariani Junior
Márcio Scheel
LITERATURA E CIÊNCIAS HUMANAS: LIMITES, APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS


As relações entre literatura e ciências humanas sempre foram mais estreitas, complexas e profícuas do que parte considerável dos cientistas e dos críticos literários gostaria de admitir. Platão, por exemplo, que por julgar os poetas imitadores afastados em três graus da verdade do mundo, dos seres e das coisas, acaba por lançar mão dos mitos, elemento essencial ao discurso poético, como forma alegórica de expressão do conhecimento filosófico. Aristóteles, por sua vez, defende, na Poética, a ideia de que a diferença fundamental entre o poeta e o historiador não está na forma de expressão de suas obras, mas naquilo que expressam: o historiador remete-se aos acontecimentos tais como foram, ao passo que o poeta concebe os fatos como poderiam ter sido. É possível perceber, nas afirmações de Aristóteles, uma certa supremacia do poeta diante do historiador, já que, para ele, a Poesia concentra em si mais filosofia e elevação ao enunciar verdades gerais, do que a História e seus fatos particulares.

Em fins do século XVIII, os românticos alemães, na esteira da influência que Kant e Fichte exerceram sobre suas reflexões, tornam-se representantes fundamentais do pensamento idealista da época, solicitando que poesia e filosofia se aproximassem novamente, exigindo uma criação literária cada vez mais aberta à reflexão crítica, ao exercício do pensamento. A literatura realista-naturalista da segunda metade do século XIX adere fortemente aos princípios cientificistas do período, dando origem, inclusive, à noção de romance experimental de tese, sendo que o conceito de experimental não está de nenhum modo associado aos ideais modernos de experimentalismo formal, mas sim aos princípios científicos estabelecidos pelo médico e fisiologista francês Claude Bernard. Experimental como parte de um processo empírico de recolher fatos, estabelecer uma hipótese, isolar um ambiente, experimentar, observar, analisar, verificar, explicar e descrever. Nesse sentido, o século XX viu desenvolver-se, no campo dos estudos literários, um amplo conjunto de métodos críticos que pressupunham, desde seus fundamentos teóricos, a utilização de um arsenal conceitual e metodológico estreitamente articulado com a ciência.

Também a literatura, a partir da modernidade, preocupa-se não somente em narrar, mas, sobretudo, em interpretar o mundo que narra, mormente as relações entre os homens, já tão distantes da natureza, e sua existência num mundo que já é eminentemente social, ‘puramente social’, segundo Ferenc Fehér. Também as ciências sociais, desde seu nascimento no séc. XIX, lançaram mão do texto e da visão literários para recolher informações e mesmo explicar a vida social; Marx, por exemplo, recorre a Balzac para entender e exercitar sua crítica à vida e atitudes burguesas, a Shakespeare para discutir aspectos humanos da transformação do capitalismo, etc. Mais ainda, as ciências sociais (e a sociologia em particular) – a despeito de posições naturalistas, positivistas e cientificistas – tomadas como formas de geração de conhecimento por meio da criação, da originalidade, da invenção, da renovação e da interpretação específica, também aproximam-se da forma estética, especificamente, literária, como já o afirmaram Robert Nisbet, ao asseverar a sociologia como uma forma de arte, e Richard Brown, ao mencionar uma “poética da sociologia”.

Assim, a criação estética e literária permeia o fazer científico seja como fato, elemento de informação/descrição, documento, interpretação, criação e mesmo estilo. Em obras como as de Marx, Weber, Mannheim, Wright Mills na sociologia já clássica; como as de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, no Brasil; e, atualmente, escritos de Mafesoli, Elias, Bauman, configuram a proximidade e distanciamento, o diálogo rico e crítico entre ciência (social) e estética (literária). Sendo assim, nosso interesse é pensar de que modo se dão essas aproximações entre literatura e ciências, bem como os limites que elas insistem em romper.

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Emerson da Cruz Inacio
Jorge Vicente Valentim
LITERATURA E HOMOEROTISMO


Tentar definir as formas com que as manifestações de Eros se apresentam constitui tarefa ingrata e praticamente impossível, dada as múltiplas possibilidades de suas representações. A diversidade dos caminhos adotados para a constatação dos impulsos, dos desejos e das reações tem gerado uma gama significativa de veios metodológicos para a pesquisa e a leitura de tal temática.

Sem querer fechar num único caminho esquemático para a sua reflexão, a proposta do presente Grupo Temático é abrir um amplo espaço de discussão e debate sobre as múltiplas rotas eróticas, presentes nas literaturas de língua portuguesa, abrangendo a produção literária de Portugal, Brasil e África, assim como as perspectivas teóricas que atendam às especificidades destes povos. Se entendermos tais rotas eróticas como manifestações da ordem daquela “sexualidade plástica”, de que nos fala Anthony Guiddens, ou seja, de uma “sexualidade descentralizada, liberta das necessidades de reprodução”, então, poderemos caminhar tanto por uma via de liberdade entre os gêneros e as escolas literárias a que os textos propostos para leitura pertencem, quanto pelas vias de sua representação temática, entendendo-a nas linhas do hetero e/ou do homoerótico, da escrita de lésbicas, transexuais, queer ou das textualidades que tematizem aspectos das sexualidades não-normativas.

Nesse sentido, pretende-se ainda procurar estabelecer um balanço dos Estudos Homoeróticos e da Diversidade Sexual no Brasil, tomando como marco a realização dos três encontros \"Literatura e Homoerotismo\", promovidos na Universidade Federal Fluminense entre os anos de 1999 e 2001, momento em que pesquisadores e pesquisadoras visaram a visibilidade crítica, estética e literária daqueles estudos. Nos anos que separam a última realização do evento e a atualidade, muitas perguntas se impuseram aos pesquisadores e interessados na área: pode-se pensar em uma estética homoerótica em Língua Portuguesa? Há um cânone paralelo, representativo da produção de temática e autoria homossexual em nossas literaturas? As premissas teóricas, muitas delas importadas da Europa e dos EUA atendem com destreza às especifidades dos discursos literários que tangenciam ou tematizam as experiências homoeróticas? Os avanços políticos têm contribuído para uma oxigenação dos cânones em Língua Portuguesa, no que se aplica à tematização dos (homo)erotismos?

Na relação entre sujeito e objeto, como fica a produção e autoria: gays e lésbicas são ainda apenas objetos ou já constituem uma subjetividade no campo literário? A partir de tal premissa, respeitando, porém, os pressupostos teóricos propostos pelos seus leitores, o Grupo Temático expande a possibilidade de um encontro também entre os pensamentos de Freud, Bataille, Guiddens, Alberoni e Foucault, a Teoria Queer, David Halperin, Eve Kosofsky Sedgwick, dentre outros, e suas possíveis aplicações nas literaturas de língua portuguesa, bem como de teóricos e estudiosos de tais questões nos territórios abrangidos por este GT.

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Jaison Luís Crestani
Daniela Mantarro Callipo
LITERATURA E IMPRENSA


A implantação e o desenvolvimento da imprensa promoveram a comercialização da literatura e deram início ao processo de profissionalização do escritor, que passaria a alcançar, assim, uma relativa autonomia na sua produção, deixando de se submeter à tutela de um mecenas. Consequentemente, a instauração de um mercado livre e anônimo para as manifestações artísticas e culturais teria um efeito duplo sobre o trabalho do escritor, instituindo o que se poderia denominar como dialética da liberdade e da alienação.

Com a abertura de um mercado dos bens simbólicos, aciona-se todo um “sistema de condicionamentos” com os quais o escritor deverá defrontar-se obrigatoriamente no decurso de sua produção artística. A introdução de novos meios de produção e de transmissão da cultura não só estimulam formas de escrita igualmente renovadas, como também contribuem decisivamente para a formação de um novo modo de raciocínio e, por conseguinte, de maneiras inovadoras de se relacionar com os produtos artísticos a serem assimilados.

Desse modo, este simpósio propõe-se a fomentar a interação de estudos e pesquisas empenhados em promover a compreensão das confluências dinâmicas entre as operações criativas e os mecanismos de produção e difusão cultural. Dispensando dicotomias simplistas, esta proposta prioriza abordagens dialéticas das contradições inerentes à simbiose entre literatura e imprensa, fundamentadas na combinação da apreciação de soluções estético-literárias com a análise da materialidade das obras e com a historicidade das práticas de escrita e de leitura.

Assim, o exame crítico das produções culturais deve considerar a complexidade inerente à sua composição material que, embora usualmente negligenciada, também se constitui em formas de expressão. Os meios de divulgação não são simples instrumento de difusão da virtualidade do texto literário, mas participam determinantemente da construção da identidade e do universo de sentido das obras publicadas. Portanto, o conhecimento das condições de enunciação vinculadas a cada contexto de produção define consideravelmente o percurso da leitura, indicando as normas que presidem ao consumo da obra.

Da confluência entre a constituição material e a componente textual resultam maneiras particulares de fruição do objeto escrito, determinadas pelos protocolos de leitura, categorias de leitores e horizontes de expectativas próprios de cada contexto. Com base nesses pressupostos, este simpósio pretende promover a interlocução entre estudos críticos sobre as interações dinâmicas que se articulam entre a criação artística e os fatores de produção (instituições culturais, meios de comunicação, concepções ideológicas, práticas mercadológicas etc.).

Com o intuito de propiciar a reflexão teórica e metodológica sobre a pesquisa em periódicos, planeja-se ressaltar a importância de jornais e revistas como fontes primárias fundamentais para o estudo da história literária e como agentes da atividade intelectual e da renovação estética, política e cultural do país.

Fonte:
http://www.cielli.com.br/programacao_geral

sábado, 12 de maio de 2012

Trova de Dia das Mães - Hermoclydes S. Franco (Rio de Janeiro/RJ)

Pintura de Pablo Picasso

Ciranda de Trovas (Mãe) Parte 1


Na varanda, um quadro lindo:
a jovem mãe e a criança:
- Era a ternura sorrindo,
amamentando a esperança!
A. A. de Assis – Maringá/PR

Depois que, mãe tu partiste,
como uma Santa em seu véu,
o céu que eu via tão longe,
ficou mais perto, e mais céu...
Adelmar Tavares – Recife/PE

Minha mãe com maestria,
vibrou forte de emoção,
quando em tarde de magia
fez pulsar meu coração!
Vânia Maria Souza Ennes – Curitiba/PR

Pelo bem que me fizeste;
sem nunca exigires nada:
pela luz que tu me deste,
minha mãe - muito obrigado!
Agmar Murgel Dutra

Minha mãe, tu que me acalmas,
e que meus males espantas,
és a mais pura das almas,
és a mais santa das santas!
Almeida Faria

Mãe, por mais que eu me concentre
na importância do que faço,
não esqueço que o teu ventre
foi o meu primeiro espaço.
Almerinda Liporage – Rio de Janeiro/RJ

Oh, minha mãe, com denodo,
numa existência sem brilho,
trocaste o futuro todo
pelo futuro do filho!
Alves Costa

Minha mãe sempre ao meu lado,
é amiga na dor, no riso;
não reclama do seu fado,
finge sempre um paraíso...
Amarillys Schloenback

Da mãe a filha querida:
- Obrigada, meu bebê...
Fui eu que lhe dei a vida,
mas minha vida é você!
A. A. de Assis – Maringá/PR

Amor de mãe é semente
que germina em qualquer chão,
é feito só de ternura,
é feito só de perdão.
Anfrísio Lima – ES

Mãe de José, de Maria,
de Antonio, Pedro, de João ...
O nome próprio varia ...
Só não muda o coração.
Aníbal Vitral Monteiro – SP

Mãe que traz uma criança
nas entranhas do seu ser,
carrega a própria esperança
no filho que vai nascer.
Anis Murad – RJ

Ó mãe que tudo perdoas,
corrige teus pequeninos!
- Às vezes, de intenções boas
nascem ladrões e assassinos...
Aparício Fernandes – Acari/RN

Vejo-te, mãe, todo dia
que a tarde cai pra morrer
e que a voz da Ave-Maria
vem minha alma enternecer...
Archimimo Lapagesse – Florianópolis/SC

Depois de uma noite calma,
numa manhã de verão,
no céu anjos esperavam
recebê-la em oração!
Vânia Maria Souza Ennes – Curitiba/PR

Para você, mãe, a prece
deste filho agradecido
que na terra não se esquece
de tanto amor recebido.
Antonio M.A. Sardenberg – São Fidélis/RJ

Que grande amor verdadeiro
o da mãe pelo seu filho.
Amar é doar-se inteiro,
e vencer todo o empecilho.
Arlene Lima – Maringá/PR

Mãe olhando o teu retrato
meus olhos fitos nos teus,
penso que estás ao meu lado
por uma graça de Deus!
Batista Nunes – Rio de Janeiro/RJ

Sem escolha, oficialmente,
chegou lá, na luz de Deus.
Foi em paz... Solenemente...
Reencontrar com os seus!
Vânia Maria Souza Ennes – Curitiba/PR

Ser MÃE é trabalho insano
que tal carinho irradia
e te faz, por todo o ano,
ser a MÃE de cada dia!...
Hermoclydes S. Franco -Rio de Janeiro/RJ

Eu vi minha mãe rezando
aos pés da virgem Maria:
- Era uma santa escutando
o que outra santa dizia.
Barreto Coutinho – Limoeiro/PE

Mãe – presente do Senhor,
que a humanidade conduz
num barco cheio de amor,
singrando mares de luz!
Benedito Camargo Madeira – Pouso Alegre/MG

Mãe do Amor! Mãe de Jesus
e dos filhos de ninguém!
Tem pena da minha cruz,
que sou teu filho também!
Benedito Lopes

Devo tudo quanto sou
e a vida me concedeu
à mãe que Deus me levou
e à mulher que Ele me deu!
Carlos Guimarães

Era uma vez... A saudade
da meiga MÃE que ensinava,
na minha infância, a verdade
nas histórias que contava!...
Hermoclydes S. Franco – Rio de Janeiro/RJ

Adeus, filho...Vive a vida!
Volta um dia sem promessa...
que a primeira despedida,
no ventre da mãe começa...
Carolina Ramos – Santos/SP

A Mãe, por ser indulgente,
tudo em seu coração cabe.
A mãe é aquilo que a gente
quer definir mas não sabe.
Clarindo B. Araújo – Natal/RN

Mãe não é só quem procria.
nos diz velho ditado.
Ser mãe é também quem cria
com amor um filho adotado.
Claudyra Dias da Rocha – Fortaleza/CE

Mãe viva, mãe que partiu...
Todas merecem louvores;
seu amor sempre floriu
na rima dos trovadores.
Conceição A. C. de Assis – Pouso Alegre/MG

Mãe! criatura querida,
santa heroina sois vós;
quando nos destes a vida,
destes o sangue por nós.
Décio Valente – São Paulo/SP

Minha mãe tão delicada,
toda feita de carinho,
continua madrugada
no ocaso do meu caminho!
Delcy Canalles – Porto Alegre/RS

Amor de mãe é tão grande,
tão profundo na expressão,
tão sincero, tão sublime,
que não tem definição!
Delmar Barrão

Ao ver o filho que nasce,
a mamãe feliz no leito...
Com afeto, beija-lhe a face,
apertando-o contra o peito.
Djalma Mota- Caicó/RN

Se "Mãe" não tem com que rime,
não desistas, trovador...
Troca a palavra sublime
pelo sinônimo "Amor"!
Dorothy Jansson Moretti – Sorocaba/SP

Ouve mãe: já não contenho
esta saudade insofrida ...
Deste-me a vida que tenho
e eu não posso dar-te a vida.
Durval Mendonça

As mães merecem bem mais
Do que ter um dia somente...
Mães são pra sempre imortais!
Mãe és o máximo expoente!
Eire - Jacaraípe, Serra/ES

Toda luz na diretriz
deste meu viver austero
é um bilhetinho que diz:
- " Mamãe, querida, eu te quero"!!
Elisabeth Souza Cruz – Nova Friburgo/RJ

A mãe tem tal primazia,
tanto poder, tanta luz,
que pede à Virgem Maria
quem precisa de Jesus ...
Elton Carvalho – São Paulo/SP

O amor seria fecundo
como tal se espalharia,
se toda mãe que há no mundo
tivesse um nome: MARIA!
Francisco José Pessoa – Fortaleza/CE

Deus, em toda a sua glória,
com tanta grandeza e brilho,
p'ra completar sua história,
quis ter mãe e quis ser filho!
Gislaine Canalles – Balneário Camboriú/SC

Minha mãe, que orava aqui,
é nos céus que reza agora;
foi no meu sonho que a vi
aos pés de Nossa Senhora!
Harley Clovis Stocchero – Almirante Tamandaré/PR

A mãe é essência divina
que todo amor nela encerra;
é luz que a estrada ilumina
para os filhos nessa terra.
Horácio Ferreira Portella – Piraquara/PR

Num rasgo de amor profundo,
Deus,- sublime Criador-
criando a Mãe, mostra ao mundo
toda grandeza do Amor!
Ivone Prado – Belo Horizonte/MG

Oh, minha mãe, em meus cantos,
num grato e eterno estribilho,
bendigo a Deus, que, entre tantos,
me escolheu para teu filho!
J. G. de Araújo Jorge – Tarauacá/Acre

Surpreendente maravilha
a que agora me acontece:
minha mãe é minha filha
à medida que envelhece!
Jesy Barbosa – Campos/RJ

Minha mãe verteu mais pranto
que a mãe de Nosso Senhor.
A Virgem chorou um Santo;
minha mãe - um pecador!
José Maria Machado de Araújo – Rio de Janeiro/RJ

A mãe das outras crianças
com minha mãe se parece ;
oferta ao filho as bonanças
e oculta o mal que padece.
José Valeriano Sobrinho

Amor de mãe quem tiver
Deve guardá-lo no peito:
não há amor de mulher
que seja amor tão perfeito.
Júlio Brandão

A Mãe, somente, perdoa
o mal que um filholhe faça,
embora o coração doa
dá-lhe um sorriso e o abraça!...
Lacy José Raymundi – Garibaldi/RS

Na tua fronte bendita
dei um beijo, mãe querida!
foi a trova mais bonita
que já fiz em minha vida.
Lilinha Fernandes – Rio de Janeiro/RJ

DIA DAS MÃES, homenagem
do amor à paz, à pureza
e ao símbolo de coragem
mais lindo da natureza!
Hermoclydes S. Franco (Rio de Janeiro/RJ)

Fontes:
Alma de Poeta

Portal Movimento das Artes

Wagner Marques Lopes/MG (O PERDÃO em trovas), parte 4


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- O dito pelo não dito -
perdoo, sem esquecer...
Desde então, estava escrito:
não mais parou de sofrer!

14

Perdoar... Não preferia...
Prisioneira da ilusão.
Perdoou, achou a via
da própria libertação!

15

Não é a luz da ribalta
e nem fogos de artifício -
o perdão é simples alta
das doenças do suplício!

16

Eu dispenso um referendo
ou quiçá um plebiscito:
sem perdão saio perdendo,
sou refém do meu conflito.

Fonte:
Trovas enviadas pelo autor

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Mãe)

Maternidade (por Vicente Romero Redondo)

POEMINHA À MÃE

Amor, carinho, ternura,
Afeto, afago, apego,
Meiguice, entrega, doçura,
O mais ardente aconchego.
Sentimento mais profundo,
Geratriz: razão da vida.
Concebeu, foi concebida...
Tu és MÃE, o próprio mundo!

AMOR DE MÃE

Seu ventre é solo fecundo
Que gera e abriga a vida,
É paixão sem ter medida
De um sonho realizado,
É aconchego do ninho
Que acolhe com carinho
O amor tão esperado.

Com sua voz acalenta
Com um canto delicado...
No seu peito amamenta
E com amor alimenta
O filho tão desejado!

Com a mão acaricia
Em toque meigo e sublime...
Seu brilhante olhar exprime
Na mais ardente paixão
O amor que também pulsa
No pequeno coração.

A sua boca tem beijo
Mais doce do que o mel,
Em sua prece o desejo
De dar para seu rebento
Um pedacinho do céu.

Na alma toda esperança
De um futuro promissor
Para o filho que gerou
De quem tanto quer o bem:
Que em sua caminhada
Consiga vencer também.

Que os anjos digam amém
E em coro com os arcanjos,
No mais harmonioso arranjo,
Cantem com todo fervor
Um hino de puro amor
Para a santa e amada MÃE!

Fonte:
Alma de Poeta

Trova de Dia das Mães - Clevane Pessoa (Belo Horizontes/ MG)

Delfina Benigna da Cunha (Trovas de Mãe)


Dia das Mães!...Alegrias
Das mais puras, das mais belas!...
Mas é preciso saber
O dia que não é delas.

O Nosso berço no mundo,
Sem que ninguem o defina,
É um segredo entre a mulher
E a Providência Divina

Mãe possue onde apareça
Dois títulos a contento:
Escrava do sacrificio,
Rainha do sofrimento

Mulher quando se faz mãe,
Seja ela de onde for,
Por fora é sempre mulher,
Por dentro, é um anjo de amor.

Maternidade na vida,
Que o saiba quem não souber,
É uma luz que Deus acende
No coração da mulher.

Coração de mãe parece,
No lar em que se aprimora,
Padecimento que ri,
Felicidade que chora.

Pela escritura que trago,
Na história dos sonhos meus,
Mãe é uma estrela formada
De uma esperança de Deus.

Quantas mães lembram roseira!
Quantos filhos rosas são!...
Quanta rosa junto à festa!
Quanta roseira no chão!...

Fonte:
Psicografia de Francisco Candido Xavier
Do livro : Trovas do outro mundo ( pgs 31 a 33)

Delfina Benigna da Cunha (1791 – 1857)


Delfina Benigna da Cunha (São José do Norte/RS, 17 de junho de 1791 — Rio de Janeiro, 13 de abril de 1857) foi uma poetisa brasileira.

É tida como figura de destaque nas manifestações fundadoras da literatura gaúcha, embora a posição que ocupe na historiografia literária sulina seja hoje periférica, em razão da retração crítica que seu valor literário sofreu no decorrer do tempo.

Além disso, seu nome se encontra citado no livro Mulheres Ilustres do Brasil (1899), de Ignez Sabino, a qual enaltece a expressão do sentimento da poetisa.

Nascida na Estância do Pontal, em São José do Norte/RS, Delfina era filha de Joaquim Fernandes da Cunha, capitão-mor da guarda portuguesa local, responsável pela guarda do litoral, e Maria Francisca de Paula e Cunha, sendo a oitava de novo filhos.

Aos vinte meses de vida, ela foi completamente privada da visão, devido a uma epidemia de varíola que afligiu a região. Apesar disso, recebeu uma sólida educação, enraizada na cultura clássica e portuguesa, que tornou possível sua formação intelectual.

Aos doze anos, já estaria alfabetizada e escrevendo poemas, como "Colcheia escrita aos doze anos de idade", extraído do livro Vozes Femininas da Poesia Brasileira (Cons. Est. de Cultura, 1959, São Paulo)
A Natureza e o Amor

Combatem minha razão.

Até Júpiter, Senhor
De tudo quanto há criado,
Estreitamente é ligado
À Natureza e Amor.
Se este Deus, que é superior
Vive sujeito à paixão:
Como há de o meu coração
Libertar-se deste mal,
Se Amor com arma fatal
Combate a minha razão?
— Delfina Benigna

Com a morte do pai em 30 de agosto de 1825, Delfina da Cunha perdeu seu amparo financeiro, mas conseguiu obter uma pensão vitalícia de D. Pedro I, em reconhecimento dos serviços militares de seu pai, após escrever um soneto-apelo ao imperador, garantindo, assim, sua sobrevivência.

Publicada em 1834, sua obra de estréia, Poesias oferecidas às senhoras rio-grandenses, foi por muito tempo considerada por historiadores e críticos a primeira obra a ser impressa no Rio Grande do Sul.

Quando a Revolução Farroupilha irrompeu em 1835, Delfina da Cunha, que era monarquista, partiu para o Rio de Janeiro, onde permaneceu até fins de 1845, quando do término da guerra. Sua última obra de poesia, Coleção de várias Poesias dedicadas à Imperatriz Viúva, foi lançada em 1846, pela tipografia Universal de Laemmert.

Em 1857, faleceu no Rio de Janeiro, aos sessenta e cinco anos de idade.

Em 1994, Stella Leonardos publica o O romanceiro de Delfina, pelo Instituto Estadual do Livro, um romance histórico com a poetisa como protagonista.

Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Delfina_Benigna_da_Cunha

Trova de Dia das Mães - Vânia Maria Souza Ennes (Curitiba/PR)

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 552)


Uma Trova de Ademar

De minha sogra querida
nenhuma fofoca escapa;
no bairro ela é conhecida
como boca de caçapa!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Quando, em idade, eu avanço,
me lembro deste ditado:
-“se a morte, enfim é um descanso,
prefiro viver cansado!!!”
–ANTÔNIO COLAVITE FILHO/SP–

Uma Trova Potiguar


Se aquele muro falasse,
seria um “Deus nos acuda”...
Diria quem é, na classe,
o pai do filho da muda!
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Uma Trova Premiada


2010 - Curitiba/PR
Tema: PIJAMA - Venc.


Teve um infarto, na cama,
a noiva, que é frajola,
ao ver que, em vez do pijama,
o noivo pôs camisola!
–MAURÍCIO N. FRIEDRICH/PR–

...E Suas Trovas Ficaram


Eu, entre viras e viras,
no boteco, noite e dia,
vou só pescando as mentiras
dos que vão à pescaria.
–COLBERT RANGEL COELHO/MG–

U m a P o e s i a


MOTE :
Quando passa dos setenta,
Todo velho é mentiroso!


GLOSA :
Quando o cara se aposenta
que cai na realidade
perde um pouco a validade
Quando passa dos setenta;
como nada representa
se julga misterioso,
relembra que foi gostoso
e nunca foi rejeitado;
falando do seu passado,
Todo velho é mentiroso!
–AUGUSTO MACEDO/RN–

Soneto do Dia

O Caso do Tonho
–THALMA TAVARES/SP–


O Tonho tem um caso na Internet.
Segundo ele, uma mulher fogosa
que usa o codinome de Cossete
e se revela ardente e carinhosa.

O Tonho anda por ela apaixonado...
E se na “virtual” a coisa rende,
ele quer se sentir mais realizado
buscando na “real” o que pretende.

– “Trarei um “C”, disse ela, no meu busto,
vermelho igual ao fogo que hoje, a custo,
você tenta apagar e jamais logra”.

E ele vai, porém volta apavorado
quando descobre, incrédulo, assustado,
que a fogosa Cossete é sua sogra.

José Paulo Paes (A Revolta das Palavras [Uma Fábula Moderna])


Era uma Vez um Conto, parte 2
––––––––-
Como as personagens desta história são palavras, nada mais natural que ela aconteça nas páginas de um dicionário.

O dicionário é uma espécie de pomar. Só que as suas árvores, em vez de serem árvores de frutas, são árvores de palavras.

Cada uma das letras do alfabeto é uma árvore onde estão penduradas as palavras que começam por essa letra. Assim, “abacate” pertence à letra A, “banana” à letra B, “caqui” à letra C, e assim por diante.

A ordem por letra inicial, isto é, a ordem alfabética, ajuda a gente a encontrar rapidamente as palavras quando quer descobrir o que cada uma delas significa.

Por exemplo, vocês sabem o que significa “ábaco”? Se não sabem, é só ir ao dicionário, procurar a letra A, localizar nela “ábaco”, e ler a sua definição.

Aí ficarão sabendo que “ábaco” é uma moldura com arames, ao longo dos quais há bolinhas coloridas que a gente pode movimentar. Movimentando essas bolinhas, conseguimos fazer rapidamente somas e subtrações.

Pois bem: o dicionário só funciona quando cada palavra está corretamente classificada pela sua letra inicial. Se estiver classificada por engano em alguma outra letra, aí é muito difícil achá-la.

Mas a dificuldade será muitíssimo maior se a definição da palavra estiver trocada.

Imaginem, por exemplo, que vocês vão procurar na letra V a definição de “verdade” e lá encontram isto: "Idéia, juízo ou opinião falsos".

Claro que essa não é a definição de “verdade”, e sim a definição de “mentira”, pois falso é aquilo que não é verdadeiro.

Felizmente, nos dicionários, isso nunca acontece.

Mas costuma acontecer muito na vida fora do dicionário. E, toda vez que acontece, engana as pessoas e desmoraliza ou bagunça o significado das palavras.

Foi por causa disso que houve a Revolta das Palavras. Um dia, elas se cansaram de estar sendo usadas de maneira errada por pessoas sem escrúpulos, que só queriam tirar vantagens para si, sem se importar de causar prejuízo aos outros.

Certa noite, numa hora em que os dicionários não estavam sendo usados, elas fizeram uma reunião. A reunião foi presidida pelas duas palavras mais prejudicadas pelo mau uso - ou seja, a Verdade e a Mentira.

- Minhas irmãs - disse a Verdade -, nós precisamos tomar providências para acabar com os abusos na maneira como somos usadas. A mim, me usam constantemente as pessoas desonestas quando querem se aproveitar da ingenuidade de gente de boa-fé.

- É isso mesmo - confirmou a Mentira. - Os desonestos também abusam de mim quando chamam de mentiroso alguém que diga algo verdadeiro que possa prejudicá-los. E, embora eu não queira, sou obrigada a servir de disfarce das más intenções deles.

- Para acabar com esses abusos, minhas irmãs - concluiu a Verdade -, só há uma solução. De agora em diante, todas nós devemos nos recusar a ser mal-usadas. Assim, quando alguém quiser dizer ou escrever uma mentira disfarçada de verdade, não conseguirá. Porque, em vez de eu aparecer, mandarei no meu lugar a Mentira.

- E se um desonesto - confirmou a Mentira - quiser chamar uma verdade de mentira, não adianta me chamar que eu não irei. No meu lugar mando a Verdade. Vocês todas, façam isso também, não se deixem explorar.

As outras palavras bateram palmas para a proposta das duas presidentas e juraram, a uma só voz, que cumpririam ao pé da letra o que ficara combinado na reunião.

No dia seguinte começaram a acontecer as coisas mais estranhas pelo mundo afora.

Enquanto tomava o seu café da manhã, o Industrial teve a pior surpresa de sua vida quando abriu o jornal e leu o anúncio que mandara publicar. Bufando de raiva, telefonou imediatamente para o Publicitário:

- Você é um incompetente, um irresponsável! Como teve a audácia de escrever, no anúncio que redigiu para a minha indústria, que os nossos produtos estão muito longe de ser os melhores do mundo?

- Eu nunca escrevi isso! Só pode ter sido erro do jornal! - respondeu, aflito, o Publicitário.

Por telefone, o Industrial reclamou com o Dono do Jornal.

- Na hora de ser impresso, o anúncio foi conferido e estava tudo em ordem. Só pode ter sido sabotagem de algum agitador ou coisa de feitiçaria! - justificou-se, consternado, o Dono do Jornal.

Nessa mesma hora, o Comerciante estava arrancando os cabelos de raiva porque, na fachada do seu supermercado, havia um cartaz escandaloso. Em vez de dizer que os preços dos produtos ali vendidos eram os mais baixos, dizia que eles eram iguais ou até um pouco mais altos que os dos outros supermercados.

E o susto do Político entrevistado pela televisão quando disse diante das câmeras, sem saber por que nem como, que não cumpriria nenhuma das promessas feitas aos seus eleitores e que se elegera apenas para ganhar dinheiro?

Eu poderia ficar horas e horas contando muitos outros fatos estranhíssimos acontecidos naquele mesmo dia. Aconteceram a quem, como o Industrial, o Publicitário, o Dono do Jornal, o Comerciante e o Político, costuma dizer mentiras publicamente, com a maior cara-de-pau, só para se aproveitar da boa-fé dos outros.

Mas se eu fosse contar tudo isso, a história da Revolta das Palavras ia ficar comprida demais, e eu sei que ninguém gosta de histórias muito esticadas, cheias de repetições.

Por isso, vou apenas acrescentar que nesse mesmo dia inesquecível a Incompreensão foi fazer uma queixa à Verdade e à Mentira. Reclamou que o Poeta continuava mentindo sem que nada acontecesse a ele.

- Imaginem vocês que ele escreveu "A laranja madura é um sol sobre a mesa"! Onde se viu confundir uma bola pequena como a laranja com uma bola enorme como o sol? E se a laranja fosse tão quente como o sol, a mesa pegava fogo na mesma hora!

- Não é bem assim - explicaram a Verdade e a Mentira. - A poesia diz as coisas de modo tão original, tão fora do comum, que parece estar mentindo o tempo todo. Mas pense bem: não é o sol que amadurece as frutas? E o amarelo brilhante da laranja não é como o amarelo do sol que tivesse descido do céu até a terra?

Ah! eu quase ia esquecendo de dizer que tudo isso aconteceu num dia 2 de abril.

Isso porque, se o dia 1º de abril é o Dia da Mentira, nada mais justo que o dia seguinte sirva para desmenti-lo e fique marcado no calendário, de hoje em diante, como o Dia da Desmentira.

Na manhã do Dia da Desmentira, as bibliotecárias de todas as bibliotecas do mundo fugiram apavoradas de seus locais de trabalho porque, quando lá chegaram, os dicionários estavam às gargalhadas, fazendo uma barulheira de estourar ouvido de surdo e de pôr fantasma para correr.

Talvez vocês estejam pensando aí com os seus botões que, afinal de contas, se durou apenas um dia, a Revolta das Palavras não adiantou coisa alguma.

Mas se pensam assim, se enganam.

De agora em diante - eu aposto -, todos vocês vão prestar mais atenção no que dizem as pessoas aproveitadoras, para ver se elas estão mesmo dizendo a verdade quando prometem mundos e fundos.

Sempre que vocês fizerem isso, lembrem-se de encostar bem o ouvido ao dicionário. Talvez consigam escutar lá dentro uma porção de risadinhas.

Fonte:
Era uma vez um conto. São Paulo : Companhia das Letrinhas, 2002.
Moacyr Scliar; José Paulo Paes; Milton Hatoum; Marcelo Coelho; Drauzio Varella

Trova de Dia das Mães - A. A. de Assis (Maringá/PR)

Antonio M. A. Sardenberg (Poemas às Mães)


Para Sempre
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Itabira/MG)


Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

Mãe
ISABEL PASSOS (Lisboa/Portugal)


A mulher foi por Deus escolhida
pra na maternidade gerar vida;
Com amor trazer filhos ao mundo;
O dom mais sublime e profundo.

Pode ter dor quando um filho parir
mas logo esquece, ficando a sorrir
assim que escuta o doce vagido,
e acaricía o recém-nascido.

Em suas entranhas vida semeou,
deu à luz o filho e tudo suportou.
Com altruísmo dá aquilo que tem...

Abnegação, apanágio de mãe,
é produto da Obra do Criador
que tudo planeou com muito Amor.

És tu Mãe!
JOSÉ ERNESTO FERRARESSO (Serra Negra/SP)


Determinada, irreverente e persistente,
De iniciativas constantes.
Punhos fortes, nunca errante,
Mulher linda, estonteante.

Mãe, Rainha do lar,
Mostra sua resistência e sabe lutar.
Ensina coisas boas, sabe os filhos educar,
Por isso a denominamos "Dona do Lar".

Cumpridora, fiel aos filhos e esposo,
Em todas as horas e instantes dolorosos,
É ela a grande guerreira .

Essa mãe verdadeira,
Em cada momento presente.
Divina simplesmente.

DNA de Mãe
AMILTON MACIEL MONTEIRO (S. José dos Campos/SP)


O DNA de mãe foi desvendado,
mas trouxe inda surpresa memorável,
mesmo que a nós já houvesse sido dado
conhecer seu poder inesgotável

Nele o elemento máximo encontrado
de fato foi um Amor inigualável,
aliado à Ternura e ao Cuidado,
produzidos de forma respeitável!

Achou-se, outrossim, muita Paciência
e porção semelhante de Alegria,
ficando as duas sempre em evidência.

Porém, o achado mais surpreendente
foi a Coragem unida à Poesia...
E o dom pra suportar a Dor Pungente!

Mamãe Mamãezinha
DIVANILDE VITORIA CAMPOS(DIVA) (Mirassol/SP)


Ciranda cirandinha,
mamãe hoje vamos cantar
embora já tão velhinha
jamais deixou de me amar!

Como toda jovem, sonhou,
lindos sonhos não realizados
mas nunca desanimou
de ter-me tanto amado!

Seus cabelos branquinhos
como um punhado de neve
a pele enrugadinha
mãos trêmulas, passos trôpegos
corpo franzino, encurvadinha!

Dizer que te amo não é preciso
sabes que sempre te amei
nos teus braços sempre feliz
enquanto me embalava
uma linda cantiga cantava!

Hoje é teu dia, Dia das Mães.
Nesta tua longa caminhada
me ensinou os bons caminhos
não me deixou me afastar do teu ninho
por isso sou muito abençoada!!!

Tributo à Minha Mãe
LENIR MOURA


E um dia deus a chamou.
e você foi indo,
sem pressa, bem devagar.
foi obedecendo àquele chamado calmamente.
Você sabia que a dor seria grande demais,
e então sem querer nos fazer sofrer,
fez assim:
preferiu nos acostumar com a idéia
de não mais ter você,
e aos poucos,
foi se afastando.
Foi nos ensinando a sentir
que não a tínhamos mais,
mesmo estando ao nosso lado.
E com isso,
a dor não doeu tanto,
e mais uma vez,
mesmo na hora final,
poupou-nos um sofrimento maior.
Dignidade na vida, altivez na morte!
atitude digna de você,
que sempre foi mãe,
em toda sua magnitude.
Descansa minha mãe
e ilumina com a sua luz,
o pedaço de céu que a você foi reservado.
Encanta com o seu amor
e embala com a sua canção de paz
a missão que, com certeza,
Deus lhe destinou:
a de ser no céu
mais uma estrela a brilhar.

A Minha Mãe
MARIA DA FONSECA (Lisboa/ Portugal)


Ao observar-me no espelho
Vejo os teus traços, Mãezinha,
Ouço ainda o teu conselho,
Tua alma junto à minha.

Da minha face, o oval
Lembra-me teu rosto lindo,
Teu sorriso maternal
Os teus olhos colorindo.

Enquanto os meus são castanhos,
Os teus eram ‘sverdeados,
Mas meu cabelo que apanho
Teve cachos ondeados.

De ti herdei as feições
Que recordo tão saudosa.
Sei que viveste aflições
E mas poupaste, ansiosa.

Ao teu coração bondoso
Presto singela homenagem.
"Doou-me amor precioso
E deu-me sempre coragem".

Ser Mãe
DÁRIA FARION


É extasiar-se:
- Meu Deus! A mim confiaste,
a maravilha de Tua criação.

É abrigar-se:
- Debaixo da Graça Divina,
em seus eflúvios haurir
alento, coragem e fé.

É expor-se:
- Na sua Luz se energizar
e por caminhos iluminados
seus filhos conduzir.

Ser mãe é amar,
tanto, tanto. Vida própria não ter,
de tristeza e alegria sorrir,
de alegria e tristeza chorar.

Ser mãe,
é orar pedindo,
é orar agradecendo,
é orar abençoando.

Feliz é o filho que tem
uma mãe orando.
Benditos os filhos que ensinam a amar.

Minha Mãe
HILDA PERSIANI (Curitiba/PR)


Não existe palavra mais doce
Desde que se aprende a falar,
Pronunciá-la é como se fosse
O mais saboroso manjar.

Mãe, sempre pronta a me aconselhar,
Seus exemplos que sempre admirei,
Foi o espelho onde me espelhei
E na vida me ajudaram a caminhar.

Tentei escrever uma poesia
Para homenageá-la no seu dia,
Mas não consegui terminar,

Ao relembrar seu olhar de santa,
Um nó me aperta a garganta
E eu só consigo chorar ...

Mulher da lida
JOSÉ ERNESTO FERRARESSO (Serra Negra/SP)


Perto de um filho ou de qualquer situação.
Demonstra sua atitude de mãe e de atenção.
Até resolver e dar a sua decisão.
Inicia um luta árdua de emoção e tensão.

Nasce para protetora e genitora.
Traz o cansaço e não esquece da luta.
Realiza seus projetos com afinco.
És forte e mulher vencedora.

Mulher que conquista, resolve e age.
Que em momento algum se mostra inibida.
Nem tem medo do que pode acontecer.
Tem a força, doçura e a candura.

Levanta bandeiras na vida dura.
Em qualquer instante mostra suas garras.
Amor, doação e em seus gestos é querida.
És mulher vencedora e decidida.

M ostra toda as suas iniciativas.
U sa do bom senso e da confiança.
L evanta, sai para o trabalho e conquista.
H onestamente a sua liderança.
E terna, vencedora e guerreira.
R ealizada, ambiciosa e determinada, dona do lar e da vida.

Mãe... Mulher!
ADEMAR MACEDO (Natal/ RN)


Ser mãe é negar a dor,
a dor maior que ela sente.
Ser filho é ter muito amor
para amá-la eternamente...
– Minha mãe foi meu tesouro,
meu escudo e meu troféu;
hoje, uma medalha de ouro
entre as mães que estão no céu!
Minha mãe, minha rainha,
só para o bem me conduz.
Pra ser mãe igual a minha,
só mesmo a mãe de Jesus!
Tal qual Mãe celestial,
mamãe também não tem preço!
Toda mãe é sempre igual...
muda apenas de endereço.
Toda mãe é protetora
e guarda em si, um mister;
no papel de genitora,
é simplesmente...Mulher!

Minha Mãe
TECA MIRANDA


Doce olhar que meus olhos seguem
sol a brilhar no céu da minha vida
acalanto que aquece meu coração
do sopro frio e cortante da saudade.

Fonte:
Alma de Poeta

Olga Agulhon (A Tulha da Fazenda)


Lá na fazenda do meu pai havia uma tulha mal-assombrada.

Fora construída pelo antigo dono da fazenda, o senhor Yoshida, para o armazenamento das sacas de café.

Para evitar umidade, o assoalho estava construído cerca de cinqüenta centímetros acima do chão. O telhado, de duas águas, foi feito com caídas acentuadas, de forma que desse para abrir uma porta lá em cima, bem no meio, parecendo sótão; mas, por dentro da tulha, não havia divisão. Dessa porta saía uma rampa, que terminava no terreirão acimentado, onde era secado o café.

Enchia-se a tulha pela porta de baixo, descarregando-se as sacas de café diretamente do caminhão. Quando as pilhas já passavam da metade da altura da tulha, os colonos subiam a rampa com as sacas nos ombros e as jogavam, até que chegassem ao nível da porta, lá em cima.

Era uma próspera fazenda, até que, em 1970, uma desgraça aconteceu com a família do senhor Yoshida. O mais novo dos seus cinco filhos morreu de forma trágica. Estava voltando da cabeceira da fazenda, de trator, junto com um dos empregados. Como os tratores só têm um assento, ele ia de pé, ao lado do motorista, apoiado em seu ombro.

Por causa de um buraco, o menino perdeu o equilíbrio, caiu e o pneu traseiro passou sobre sua cabeça. Morreu na hora.

Logo depois do enterro, a família pôs a fazenda à venda.

Conta-se que o senhor Yoshida enterrou o filho embaixo da tulha, porque ali nunca mais passaria nada sobre ele.

Meu pai comprou a fazenda em sociedade com um dos seus irmãos, e as duas famílias se mudaram para lá. Eu tinha cinco anos. Juntando-se os primos e os filhos dos colonos, havia muitas crianças. Brincávamos por toda a fazenda, o dia inteiro. Mas, logo que chegamos, fomos avisados pelas outras crianças que a tulha era mal-assombrada.

Não acreditávamos, é claro.

- É verdade sim, dizia Carlinhos, o filho do Tonho. Às vezes, à noite, o menino, enterrado embaixo da tulha, começa a chamar pela família. Dizem que ele sente frio porque seu túmulo nunca pega sol.

- Que nada! Vocês acreditam em tudo que dizem… São é medrosos, isso sim – dizia eu.

Por via das dúvidas, quando voltávamos para casa já meio escuro, dávamos a volta pelo outro lado do terreirão para não passar em frente da tulha.

Mais tarde, por causa das geadas, que acabaram com os pés de café, meu pai mecanizou a fazenda para a plantação de soja e trigo.

Com o tempo, construiu um armazém de alvenaria, mais moderno; e a tulha foi ficando sem uso, envelhecendo no abandono. A rampa apodreceu aos poucos, caiu, não foi arrumada. E, assim, a tulha foi adquirindo mesmo uma cara de mal-assombrada.

À noite, nas fazendas, naquele tempo, ainda sem luz elétrica, reuniam-se as famílias em volta da mesa da cozinha, sob a luz do lampião, para conversar um pouco, antes de dormir.

Contavam-se causos, e nesses momentos a história da tulha mal-assombrada era sempre lembrada. Sempre havia alguém que já tinha ouvido os lamentos do menino, reclamando de frio, querendo sol.

Certo dia, Carlinhos provocou:

- Se não acredita, vamos até lá hoje à noite. Quero ver o quanto você consegue ficar.

Eu, como neta de espanhóis, de sangue quente, não podia deixar de aceitar o desafio, não permitiria que ninguém me chamasse de medrosa.

Quando todos de casa já haviam se recolhido, saí de mansinho e fui ao encontro de Carlinhos em frente da tulha, na hora marcada. Cheguei primeiro; ele não estava lá. Esperei uns dez minutos, lutando contra o medo, sem conseguir amenizá-lo. Ao contrário, ele tomava conta de mim, de tal forma que eu não mais sabia se conseguiria sair dali com minhas próprias pernas. Não mexia um músculo sequer. Apenas os ouvidos mantinham-se atentos, enquanto o bater mais forte do coração quebrava o silêncio da noite fria. Tremia, não sei se de frio ou de medo.

Depois de certo tempo, para mim certamente muito longo, ouvi a voz do menino reclamando:

- Tenho frio… Tenho frio…

Não sei, com certeza, o que aconteceu. Quando dei por mim, já estava em casa, ofegante, do lado de dentro da porta da cozinha. Corri para a cama e puxei a colcha até que ela cobrisse totalmente minha cabeça.

No dia seguinte, logo cedo, Carlinhos apareceu em casa, desculpando-se pelo bolo. Disse que sua mãe viu quando estava saindo e mandou que voltasse.

Notei um certo ar de cinismo e ironia em seu rosto. Minha impressão era de que ele tinha me pregado uma peça.

Passaram-se muitos anos desde então. Há muito moramos na cidade, mas a família de Carlos continua na fazenda.

Até hoje Carlos jura que não foi ele. Até hoje fico na dúvida.

Meses atrás, meu pai chegou em casa dizendo que tinha mandado derrubar a velha tulha; iria plantar goiabeiras no local.

Ontem fui até a fazenda. No local onde o filho do senhor Yoshida foi enterrado, brotou um lindo pé de chorão, que cresceu de um dia para o outro, desenvolvendo-se, segundo os empregados, de forma espantosa.

- Está vendo? – disse Carlos. Foi só derrubar a tulha e o sol bater sobre seu túmulo, que o menino parou de chorar de frio.

Em certo momento, sentei-me ali, no velho terreirão, em frente ao pé do tal chorão. Não vi o tempo passar, e a noite chegou. Não fui embora. Percebi que não tinha mais medo, mas senti algo estranho.

O vento envergava os galhos do chorão para um lado e para o outro e o som que ele produzia parecia um lamento.

Por um instante, senti pena, simplesmente pena, uma tristeza sem explicação. Pareceu-me tão só, ali, no meio da fazenda…

Num gesto impensado, levantei-me, colhi algumas margaridas, que cresciam beirando o terreirão cimentado, e coloquei as flores junto ao tronco do pé de chorão.

Fonte:
Academia de Letras de Maringá