segunda-feira, 28 de maio de 2012

Januária Alves (Minha Chupeta Virou Estrela)

Ilustração por Ionit Zilberman
Eu me chamo Pedro e tenho 7 anos. Eu tenho uma estrela, sabe?

 Uma estrelona, linda, que está lá no céu, brilhando, todos os dias.

Quando eu tinha 3 anos, para salvar meu dente da frente que ficou mole porque eu caí de boca brincando na gangorra da escola, minha dentista me disse que... EU TERIA QUE PARAR DE USAR A MINHA QUERIDA CHUPETA VERDE!

 - A chupeta ou o dente! - ela me mandou escolher.

 Bom, eu nem quis ouvir direito essa proposta tão maluca! A doutora Virgínia e a minha mãe tentaram conversar comigo, explicar por que era importante eu não perder um dente tão cedo e... nada. Eu só olhava com o olho mais comprido do mundo para a chupeta verde, minha companheira do sono mais gostoso do mundo! Como dormir sem ela?

 Na primeira noite em que fiquei sem a minha querida chupeta, só lembro de sentir o cheiro da minha mãe, que me carregou no colo enquanto papai dirigia nosso carro, passeando em frente ao meu parque preferido pra ver se eu enfim conseguia pegar no sono...

 No dia seguinte fui com minha mãe e meu irmão ao parque e levei pão para dar aos patos que moram num lago bem bonito que tem lá. Um pato maior e mais cinza que os outros me chamou a atenção. Ele veio várias vezes comer pão na minha mão e eu gostei dele. Parecia o patinho feio da história que meu pai sempre contava antes de eu dormir.

 Mamãe chegou perto de nós e disse que aquele era mesmo um pato especial. Ele costumava tomar conta das chupetas de alguns meninos. E fazia isso muito bem: ele transformava todas em estrelas! Superlegal!

 Pus o nome naquele pato de Pato Pão. Eu não queria perder nem o meu dente nem a minha chupeta... Talvez o Pato Pão fosse a soluçãopara o meu problema! Então... resolvi dar a minha chupeta verde para ele. Ele pegou minha chupeta verde com o bico e atirou longe, no lago. Eu fiquei olhando para ela boiando, boiando... até desaparecer... Na hora de entregar a minha chupeta verde, mesmo para um pato tão especial como o Pato Pão, eu segurei bem forte a mão da minha mãe e a do meu irmão!

 Enquanto a minha chupeta verde ia embora no lago, pensei que naquela noite ela não ia estar embaixo do meu travesseiro. Eu teria que ir até a janela se quisesse dar uma espiada nela.

 Quando a noite apareceu, meu pai chegou do trabalho e se deitou na cama comigo, olhando pro céu, procurando a minha estrela-chupeta verde. Eu vi primeiro e nós dois batemos palmas pra ela! Aí eu só me lembro de adormecer com aquele brilho de estrela no meu olho e a sensação do abraço enorme do meu pai.

 Todas as vezes em que penso na minha chupeta, olho pro céu, procurando a estrela-chupeta verde. Agora, a saudade, em vez de crescer como eu, fica menor a cada noite. Deve ser porque meninos grandes gostam mais de estrelas no céu do que de chupetas, eu acho.

Fonte:
Revista Nova Escola

Carlos Drummond de Andrade (A Menininha e o Gerente)


        - Não, paizinho, não! Quero ir com você!

        - Mas meu bem, não posso levar você lá. O lugar não  é  próprio. Não vou demorar nada, só dez minutos. Seja boazinha, fique me  esperando aqui.

        - Não, não!- a garotinha soluçava. Agarrou-se a  calça  do  pai como quem se agarra a uma prancha no mar. Ele insistia:

        - Que bobagem, uma  menina  de  sua  idade  fazendo  um  papelão desses.

        - Você não volta!

        - Volto, ora essa, juro que volto, meu amor.

        Prometendo, ele passeava  o  olhar  pela  rua,  impaciente.  Ela baixara a cabeça, chorando. Estavam diante  da  papelaria.  O  gerente assistia à cena. O homem aproximou-se dele:

        - Faz-me o obséquio de tomar conta de  minha  filha  por  alguns instantes? Vou a um lugar desagradável, não posso levá-la comigo.

        - Mas...

        - Quinze minutos no máximo. É ali adiante. Muito obrigado, bem?

        E sumiu. A garotinha continuava de olhos baixos, imóvel, o dorso da mão esquerda junto à boca. O gerente passou-lhe a mão nos cabelos, de leve.

        - Vem cá.

        Ela não se mexeu.

        - Como é que você se chama? Carmen? Luísa? Marlene?

        Como  não  respondesse,  o  gerente  foi  desfiando  nomes,  sem esperança de acertar. Mas ao dizer "Estela",  a  cabecinha  moveu-se, confirmando.

        - Estela, você sabe que está com um vestido muito bonito?

        Estela tirou a mão dos olhos, examinou o próprio vestido e não disse nada.

        Mas o gelo fora rompido. Daí a pouco o  gerente  mostrava-lhe  a caixa registradora e autorizava-a a marcar uma venda de 200 cruzeiros.

        - Olha um gatinho. Ele mora aqui?

        - Mora.

        - E que é que ele come?

        - Papel.

        - Mentiroso!

        - Então pergunte a ele.

        O gato acordou, deixou-se afagar e tornou a  dormir,  desta  vez nos braços de Estela.

        O gerente olhou o relógio; tinham se passado quinze  minutos,  o homem não aparecia. "Bonito se ele não vier mais. Que vou fazer com esta garotinha, na hora de fechar?"

        Tentou lembrar o rosto do desconhecido; impossível.  Já  pensava em telefonar para a polícia, quando Estela o puxou pela perna:

        - Além da máquina e do gatinho, você não tem mais nada  para  me mostrar?

        Ele abarcou com a vista a loja  toda  e  sentiu-a  mal  sortida, pobre. "Eu devia ter aberto uma loja de  brinquedos,  pelo  menos  um bazar." Experimentou com Estela o apontador de lápis, o grampeador. E  o homem não vinha. É, não vem mais. Estela andava de um lado  para  outro, dona do negócio. Ele, inquieto.

        - Não mexa nas gavetas, filhinha.

        - Não sou sua filhinha.

        - Desculpe.

        - Desculpo se você deixar eu abrir.

        - Então deixo.

        Dentro havia balões, estrelinhas, saldo do último Natal.  E  ele que não se lembrava daquilo. Estela riu de sua ignorância, e  o  homem não vinha. O movimento de fregueses declinava. Na calçada, as  filas  de lotação iam crescendo. Daí a pouco, a noite.

        Estela soprou um balão, outro, quis soprar dois ao mesmo  tempo. Um estourou. Ela assustou-se. Ele riu.

        "Se o homem não aparecesse mais, que bom! Aliás a cara dele  era de calhorda. Ainda bem que me escolheu." Levaria  Estela  para  casa,  a mulher  não  ia  estranhar,  fariam  dela  uma  filha -  a  filha   que praticamente não tinham mais, pois casara e morava longe, no Peru. E  se o pai reclamasse depois? Ora, quem entrega sua filha a um estranho,  diz que vai demorar quinze minutos, passa uma hora e não volta,  merece  ter filha?

        O empregado arniava a cortina de aço quando  apareceram  duas pernas, um tronco inclinado, uma cabeça.

        - Dá licença? Demorei mais do que  pensava,  desculpe.  Muito obrigado ao senhor. Vamos, filhinha.

        O gerente virou o rosto, para não ver,  mas  chegou  até  ele  a despedida de Estela:

        - Até-logo, homem do balão!

        E a filha ficou mais longe ainda, no Peru.

Fonte:
Para gostar de ler. Vol. 3. SP: Ed. Ática, 1978.

Casa do Poeta de Canoas (Lançamento da V Coletânea)



CASA DO POETA DE CANOAS
Fones: (51) 3465.5837 - 9677.0157 - 8566.2463
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domingo, 27 de maio de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 561)


Uma Trova de Ademar 

O inverno transforma vidas 
e põe um verde lençol 
para cobrir as feridas 
das queimaduras do sol... 
–ADEMAR MACEDO/RN– 

Uma Trova Nacional 

Desculpe, Amor, se me atraso 
na volta ao lar... Acontece 
que eu me perco, olhando o ocaso, 
enquanto o sol adormece!!! 
–MARIA MADALENA FERREIRA/RJ– 

Uma Trova Potiguar 

No instante em que o sol enfada 
de tanto aquecer a terra, 
deita a cabeça dourada 
no travesseiro da terra. 
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN– 

Uma Trova Premiada 

2006 > Balneário Camboriú/SC 
Tema > LUA > M/H 

Num arroubo apaixonado,
antes que a lua desponte,
o sol pinta de dourado
as paredes do horizonte...
–IZO GOLDMAN/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram 

Entre o homem e a natureza, 
há contrastes sem medida: 
o pôr-do-sol – que beleza! 
Que tristeza o pôr-da-vida... 
–COLBERT RANGEL COELHO/MG– 

Uma Poesia 

Quando é noite, a lua cheia
vem surgindo no horizonte,
e logo depois que o sol 
se deita por trás do monte,
envolto nessa penumbra,
a minha alma se deslumbra
bebendo versos na fonte. 
–ADEMAR MACEDO/RN– 

Soneto do Dia 

Nós 
–GUILHERME DE ALMEIDA/SP– 

Quando as folhas caírem nos caminhos,
ao sentimentalismo do sol poente,
nós dois iremos vagarosamente,
de braços dados, como dois velhinhos...

E que dirá de nós toda essa gente,
quando passarmos mudos e juntinhos?
–" Como se amaram esses coitadinhos!
Como ela vai, como ele vai contente!"

E por onde eu passar e tu passares,
hão de seguir-nos todos os olhares
e debruçar-se as flores nos barrancos...

E por nós, na tristeza do sol posto,
hão de falar as rugas do meu rosto...
Hão de falar os teus cabelos brancos... 

sábado, 26 de maio de 2012

Carlos Drummond de Andrade (Edifício Esplendor)


I

Na areia da praia
Oscar risca o projeto.
Salta o edifício
da areia da praia

No cimento, nem traço
da pena dos homens.
As famílias se fecham
em células estanques.

O elevador sem ternura
expele, absorve
num ranger monótono
substância humana.

Entretanto há muito
se acabaram os homens
ficaram apenas 
tristes moradores.

II

A vida secreta da chave.
Os corpos se unem e
bruscamente se separam.

O copo de uísque  e o blue
destilam ópios de emergência.
Há um retrato na parede,
um espinho no coração
uma fruta sobre  o piano
e um vento marítimo com cheiro 
de peixe, tristeza, viagens...
Era bom amar, desamar,
morder, uivar, desesperar
era bom mentir e sofrer
Que importa a chuva no mar?
a chuva no mundo? o fogo?
Os pés andando, que importa?
Os móveis riam, vinha a noite,
o mundo murchava e brotava
a cada espiral de abraço.

E vinha mesmo, sub-reptício,
em momentos de carne lassa,
certo remorso de Goiás.
Goiás, a extinta pureza...

O retrato cofiava o bigode.

III

Oh que saudades não tenho
de minha casa paterna.
Era lenta, calma, branca,
tinha vastos corredores
e nas suas trintas portas
trinta crioulas sorrindo,
talvez nuas, não me lembro.

E tinha também fantasmas,
mortos sem extrema-unção,
anjos da guarda, bodoques
e grandes tachos de doce
e grandes cismas de amor,
como depois descobrimos.

Chora, retrato, chora.
Vai crescer a tua barba
neste medonho edifício
de onde surge tua infância
como um copo de veneno.

IV

As complicadas instalações do gás,
úteis para suicídio,
o terraço onde as camisas tremem,
também convite à morte,
o pavor do caixão
em pé  no elevador,
O estupendo banheiro
de mil cores árabes,
onde o corpo esmorece
na lascívia frouxa
da dissolução prévia.
Ah, o corpo, meu corpo,
que será do corpo?
Meu único corpo,
aquele que eu fiz
de leite, de ar,
de água, de carne,
que eu vesti de negro,
de branco, de bege,
cobri com chapéu,
calcei com borracha,
cerquei de defesas,
embalei, tratei?
Meu coitado corpo
tão desamparado
entre nuvens, ventos,
neste aéreo living!

V

Os tapetes envelheciam
pisados por outros pés.

Do cassino subiam músicas
e até o rumor de fichas.

Nas cortinas, de madrugada,
a brisa pousava. Doce.

A vida jogada fora
voltava pelas janelas.

Meu pai, meu avô, Alberto...
Todos os mortos presentes.

Já não acendem a luz
com suas mãos entrevadas.

Fumar ou beber: proibido
Os mortos olham e calam-se.

O retrato descoloria-se,
era superfície neutra.

As dívidas amontoavam-se.
A chuva caiu vinte anos.

Surgiram costumes loucos
e mesmo outros sentimentos.

Que século, meu Deus! Diziam os ratos.
E começavam a roer o edifício.

Hermoclydes S. Franco (Trovas Premiadas em São Paulo)

Selo Pavilhão do Trovador Hermoclydes S. Franco
PAZ/1987             

O meu sonho é folha morta
                                     Que a ventania desfaz,
                                     No inverno, que desconforta,
                                     Das minhas noites sem paz!...

PORTO/1990        

Sou como um velho veleiro,
                                     Velas rotas, mastro torto,
                                     Que um destino aventureiro
                                     Não deixa parar no porto!...

MAR/1995            

Galera envolta em espumas,
                                      Navega a lua, no céu,
                                      Num mar de nuvens e brumas,
                                      Pescando estrelas ao léu!...

IDADE/1996         

O grau de felicidade
                                      Que tenho e me faz risonho,
                                      Resulta da minha idade
                                      Ter a idade do meu sonho!

SANTO/1996        

Não há na História senão
                                       Um poder discricionário
                                       Que prende quem rouba um pão
                                       E leva um santo ao Calvário!...

DÚVIDA/1998      

Vacila o meu coração,
                                       Na dúvida mais intensa,
                                       Entre seguir a razão
                                       Ou fazer o que êle pensa...

UM RÍTMO MUSICAL NA TROVA/1999

Um samba juntou-se, um dia,
A uma valsa de emoção...
Dessa união nasceria
O som do samba-canção!...         

CICATRIZ/2003      

O que dói em meu desgosto,
                                       Que me rouba a paz e a calma,
                                       Não são as marcas no rosto,
                                       São as cicatrizes na alma!...


PRATA/2003             

Das emoções a mais grata,
                                     Que vale por um tesouro,
                                     É ver coroada em prata
                                     Trajetória escrita em ouro!...

TRABALHO/2004     

Com talhadeira e martelo,
                                      Finas madeiras entalho...
                                      E esse trabalho é tão belo
                                      Que já nem sei se é trabalho!...

VIDA/2006          

Na vida, eterna procura,
                                     Buscando a felicidade.
                                     Faltou-me, sempre, em ventura
                                     O que sobrou em saudade! ...

FESTA/2008       

Dupla festa preconizo
                                     Para as noites de luar:
                                     A festa do teu sorriso.
                                     Na festa do meu olhar!...

FEITIÇO/2010    

Noel, em tarde tranqüila,
                                      Compondo um samba sutil,
                                      Fez o “Feitiço da Vila”
                                      Enfeitiçar o Brasil!...

SAL / 2011         

Numa paixão imortal,
                                      Minhas tristezas eu venço,
                                      Beijando o sabor de sal
                                      Que deixaste no meu lenço!...

ROMANCE/2011 

Do antigo romance, instável,
                                      A minha lembrança traz
                                      Um número inumerável
                                      De calmas noites sem paz!...

PRANTO/2011   

No pranto em forma de riso,
                                      Disfarcei a minha dor...
                                      Mesmo à sombra de um sorriso,
                                      Cabe o ocaso de um amor!...


Fonte:
O autor

A. A. de Assis (Os Divulgadores da Trova)


Eles se lembram de todos, embora nem todos se lembram deles. 

Este espaço tem sido tradicionalmente utilizado para homenagear trovadores e trovadoras que se destacam não somente pela qualidade de sua produção literária, mas também pelo entusiasmo com que colaboram para o brilho e a expansão do movimento trovadoresco. 

Hoje, porém, queremos prestar uma homenagem diferente: não apenas a um determinado trovador, mas coletivamente a todos aqueles que, de muitas formas, ajudam a divulgar a trova por este mundo afora. Sem eles, de pouco adiantaria a gente criar belos versos. 

A trova só se realiza de fato a partir do momento em que ela chega ao leitor ou ouvinte e neles produz o efeito pretendido pelo autor. 

Através dos tradicionais boletins da UBT ou de outras publicações individuais promovidas por meio de sites, blogs, colunas de jornais e revistas, programas de rádio e televisão etc, dezenas de irmãos nossos aplicam boa parte do seu tempo pesquisando fontes várias a fim de colher o material a ser divulgado. A esses incansáveis apóstolos da trova todos nós devemos muito. 

Deveríamos, portanto, no mínimo, enviar de vez em quando para eles uma palavrinha de incentivo, um “oi” agradecendo a divulgação de nossas trovas, enfim um sinal de apreciação pelo generoso trabalho que realizam. (aaa)"

Fonte:
Mifori 

Lino Mendes (Praça da Poesia) Moda de "saias"


Muitos saberão que a moda de “saias”, que são cantadas e bailadas ou só cantadas, com ou sem acompanhamento musical, são essencialmente cantadas a despique, entre homem e mulher ou entre mulheres, podendo eventualmente entrar na liça outro homem se em jogo está a conquista dessa mulher.

Ora, em 2004,solicitamos a um grupo de amigos que para o efeito  fizessem algumas “quadras”. E aqui deixamos algumas das que nos foram enviadas:

FERNANDO MÁXIMO (Avis)

Ela: 
Quando chegas sobe o sol ,
           quando te vais desce  a lua;
           se tu foras um lençol 
           eu dormia toda nua

Ele:     
Mas se eu fosse um lençol 
           branquinho como a geada, 
           tu,  sem teres um cachecol
           morrias   toda gelada

JOSÉ DA SILVA MÁXIMO (Santo Antº Areias)

             Ele:     
Menina que tens o curso
           responde ao fim e ao cabo:
           quantos pelos tem o urso
           sem contar com os do rabo

Ela:        
Os pelos que um urso tem
             estou certa e não me iludo:
             os mesmos que tu, também,
incluindo o rabo e tudo!

M. ROSA VICENTE BARRABÉ (Tramagal)

Ele:       
Contigo hei-de casar,
             preciso de cozinheira;
             ainda hei-de ser teu par,
             ser teu dono a vida a inteira

Ela:      
Lamento dizer que não ,
            faço-o de forma singela,
            sou bicho de estimação
            mas não sou de andar à trela

 GABRIEL RAMINHOS   (Reguengo da Monsaraz)

Ele:      
Minha linda alentejana,
            moreninha de encantar,
            meu coração não se engana…
          -eu só vivo pra te amar!

Ela:       
Deixa-te de brincadeiras; 
           de falar com fingimento. 
            Dizes gostar de trigueiras…
            Palavras leva-as o vento!

HIPÓLITA M.CHARNECA CARRIÇO (Évora)

Ele:      
Ó que menina tão linda 
            que me despertou paixão,
            posso ter esperança ainda 
            de me dares teu coração?

Ela:      
Meu coração já o dei ,
            já chegaste atrasado,
            infiel não serei,
            vai cantar pra outro lado

  MARIA ALBERTINA DORDIO  (Portalegre)

 Ele      
Uns vivem na abastança
             e outros pobres de mais; 
            para quê tanta riqueza, 
            se os homens são iguais?

  Ela      
Se os homens são iguais,
            têm igual merecer. 
            O que têm uns a mais, 
            falta a outros pra viver

FRANCISCO MATOS SERRA (Cabeço de Vide)

 Ele          
Sempre aqui encontrarás,
                se vieres a Montargil,
                muito amor justiça e paz
                num sonho feito de Abril.

Ela   
             Muito sincero e subtil…
Montargil sempre me apraz…
                 Aqui…o povo é gentil,
                 e, Abril não volta atrás.

 CELESTE M. DA SILVA AVÓ CHARNECA  (S. Miguel de Machede)

 Ele         
Vestidinho de chita verde, 
               nesta função se estreou,
               está bonito e bem talhado,
               minha bolsa é que o pagou.

Ela          
    Tua bolsa é que o pagou,
e já remédio não tem;
              tu deste-mo e eu aceitei,
               Deus pague a quem faz bem. 

Fonte:
Lino Mendes