segunda-feira, 20 de maio de 2024

Vereda da Poesia = 12 =


Trova de Pindamonhangaba/SP

João Paulo Ouverney

A vida é um trem nos levando
com destino à eternidade,
que segue, sacolejando,
pelos trilhos da saudade...
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Soneto de Maringá/PR

A. A. de Assis

POR UM BEIJO

Por um beijo eu lhe dou o que sou e o que tenho:
os bons sonhos que sonho, as plantinhas que planto,
a pureza, a alegria, as cantigas que eu canto,
e o meu verso se acaso houver nele arte e engenho.

Por um beijo eu lhe dou, se preciso, o meu pranto,
as angústias da luta em que há tanto me empenho,
as saudades que trago do chão de onde venho,
as promessas que eu faço, piedoso, ao meu santo.

Por um beijo eu lhe dou meus anseios de paz,
minha fé na ternura e no bem que ela faz,
meu apego à esperança, que insisto em manter.

Por um beijo, um só beijo, um momento de amor,
eu lhe dou meu sorriso, eu lhe dou minha dor,
o meu todo eu lhe dou, dou-lhe inteiro o meu ser!
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Ode do Rio de Janeiro/RJ

Millor Fernandes
(Milton Viola Fernandes)
1923- 2012

ODE A UM QUASE CALVO

Ontem, hoje
e amanhã
o homem o cabelo parte
parte o cabelo com arte
até que o cabelo parte.
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Poema de Canoas/RS

Mari Regina Rigo 

SINAIS

No mundo da poesia 
Todos nós somos iguais. 
Loucos de amor 
Mas só mostramos os sinais. 

Nos alimentamos de quimeras 
E assim vamos atravessando 
Várias eras. 

Nascer e viver, sonhar e amar 
Lutar para merecer 
Crer e sobreviver. 

Para dizer que a lua é tua 
É só passear pela rua 
De mãos dadas com seu amor. 

As palavras são apenas sinais 
De sentimentos iguais 
À todos os mortais. 
Homem, poeta e trovador.
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Epigrama do Rio de Janeiro/RJ

Alberto Ramos
Pelotas/RS, 1871 – 1941, Rio de Janeiro/RJ

De tônico e tintura este vate usa e abusa.
Não há filtro capaz de redourar-lhe a musa.
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Poema do Rio de Janeiro/RJ

Amaury Nicolini

FOTOGRAFIAS

Olhando o álbum de fotografias
eu não vejo retratos, vejo dias
que já não voltam mais.
Insuspeitada máquina do tempo,
cada página de fotos é exemplo
de outros aniversários e Natais.
Vejo que algumas ficam desbotadas,
depois de muitas páginas viradas
que as fizeram perder-se na distância.
E aquilo que ontem foi tão importante,
e mereceu ficar gravado num flagrante,
hoje não tem sequer mais importância.
Este álbum é a janela que o passado
abre, para o olhar do pensamento,
nos sótãos e porões da eternidade.
E o que ficou nas fotos registrado
e vai viver outra vez nesse momento
será o que chamamos de saudade.
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Uma Quadra Popular

Não penses que pela ausência
eu de ti me hei de esquecer;
quanto mais longe estiver,
mais firme te hei de ser.
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Soneto de Ilhavo/ Portugal

Domingos Freire Cardoso

SÓ SE CHORA POR QUEM PARTE
 
Choremos por quem parte sem voltar
A ser presença viva à nossa mesa
E desse imenso reino da tristeza
Desça à terra num raio de luar.

Ausente, para sempre, em nosso olhar
Terá em nosso peito a fortaleza
Que guarda a delicada vela acesa
Da memória que brilha em seu altar.

De saudade será a sua imagem
Que se esvai como um barco na viagem
No denso nevoeiro, rumo ao norte.

Só quando a sua face tão inteira
Não nos assomar, sem que a gente queira
Só então foi levada pela morte.
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Trova Humorística de São Paulo/SP

Izo Goldman
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Ficou rico o Zé Maria
na seca do Juazeiro,
vendendo "fotografia
de chuva"...por "dois cruzeiro"…
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Glosa de Porto Alegre/RS

Gislaine Canales
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

NOSSA GUERRA DE AMOR...

MOTE:
Ah, o amor...O amor fascina,
quando na cama o combate
triunfalmente termina
num belo e gostoso empate!
A. A. de Assis
(Maringá/PR)

GLOSA:
Ah, o amor...O amor fascina!
Sempre tontos de emoção,
estouram, a adrenalina,
nossos beijos de paixão!

É quase uma guerra fria,
quando na cama o combate
usa as armas da euforia
e com elas se debate!

Com gemidos em surdina
a guerra do amor se faz...
Triunfalmente termina
na calmaria da paz!

Nessa luta incontrolada,
ninguém exige resgate,
e ela é sempre terminada,
num belo e gostoso empate!
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Haicai de Pedro Leopoldo/MG

Wagner Marques Lopes

Passa o tempo frio.
É pé... Mais pé de aguapé
que acoberta o rio.
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Soneto de São Fidélis/RJ

Antonio Manoel Abreu Sardernberg

APOTEOSE

Na bruma densa de um mar revolto,
Em manhã fria de um inverno intenso,
Sinto um medo aprisionado e envolto
Na cena fria de um terror imenso.
 
As ondas fortes entram pela praia
Lambendo a areia fina e cristalina,
A espuma branca vem beijar a saia
Já desbotada da pobre menina.
 
Do céu pesado com nuvens escuras
Faíscam raios, vêm as trovoadas,
As gaivotas fogem em revoadas...
 
E os meus olhos saem à procura
Do Criador, o nosso Deus Supremo,
Na apoteose de um pavor extremo!
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Quadra de Portugal

Agostinho da Silva
(George Agostinho Baptista da Silva)
Porto, 1906 - 1994, Lisboa

Tudo o que faço na vida
é só linha de poema
que cada um ordenará
conforme for seu esquema.
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Poema de Curitiba/PR

Paulo Walbach Prestes
1945 – 2021

MEU ESPELHO

Vejo meu espelho, todo estilhaçado,
Que surpresa!... Como isso aconteceu?...
O meu rosto...  vejo tão transfigurado:
Foi o tempo, grande obreiro, quem teceu.

Traços profundos; um olhar apagado
Dum ser que passou pela vida e viveu...
Assim mesmo, valha Deus! Muito abençoado...
Que apesar dos estilhaços – cresceu!

Retornei  -  Ele não estava quebrado...
Que surpresa!... Como isso aconteceu?...
Não foi ele...  E o que deixou marcado?
Foi o tempo. Foi a vida. Ou fui eu...
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Aldravia de Goiânia/GO

Eurípedes Rodrigues da Costa

amanhã
virá
minha
voz
ouvirão
agora
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Galope à Beira-Mar*, de Limoeiro do Norte/CE

Luciano Maia

Cantor das coivaras queimando o horizonte,
    das brancas raízes expostas à lua,
    da pedra alvejada, da laje tão nua
    guardando o silêncio da noite no monte.
    Cantor do lamento da água da fonte
    que desce ao açude e lá fica a teimar
    com o sol e com o vento, até se finar
    no último adejo da asa sedenta,
    que busca salvar-se da morte e inventa
    cantigas de adeuses na beira do mar.
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* Galope à beira-mar foi criado pelo repentista cearense José Pretinho. Conta-se que ele, após perder um duelo em martelo agalopado, foi retirar-se à beira-mar, e ali, vendo e ouvindo o marulho, imaginou o som de um galope. E fez os versos de onze sílabas (hendecassílabos), com a mesma estrutura de décima (estrofe de dez versos). Manteve o esquema rímico ABBAACCDDC usual no martelo agalopado. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Galope_%C3%A0_beira-mar)

Possui estrofes com dez versos de onze sílabas poéticas, com as tônicas na segunda, quinta oitava e décima primeira sílabas poéticas, obedecendo às mesmas regras de rima da décima, sendo que também é mais comum no repente e a última estrofe deve terminar com “mar”. (http://acorda.net.br/?page_id=1061)

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