quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Jornais e Revistas do Brasil (Diário Carioca)


Período disponível: 1928 a 1965
Local: Rio de Janeiro, RJ

Criado para fazer oposição ao governo Washington Luís e a seu candidato à sucessão presidencial, Júlio, o Diário Carioca (DC), desde os seus primórdios, participou de momentos decisivos da história da República, exercendo considerável influência na cena política brasileira. Seu fundador, José Eduardo de Macedo Soares, era natural de São Gonçalo (RJ) e descendia de influente família latifundiária na hoje denominada Região dos Lagos.

O primeiro jornal de Macedo Soares foi O Imparcial, periódico civilista, fundado por ele logo após deixar a Marinha, que fez dura oposição aos governos do marechal Hermes da Fonseca, Epitácio Pessoa e Artur Bernardes. Preso por ordens do primeiro, Macedo Soares promoveu, em O Imparcial e ao lado do Correio da Manhã, Época e A Noite (cujos diretores também haviam sido detidos), intensa campanha em favor da liberdade de imprensa. Em 1922, por ocasião da primeira rebelião tenentista (episódio conhecido como “Os 18 do Forte”), já no governo de Epitácio Pessoa, José Eduardo voltou a ser preso. Solto meses depois, seu jornal seria novamente fechado por ordem do novo presidente, Artur Bernardes, a quem também fazia oposição. José Eduardo então se exilou na Europa com a mulher e filhas para retornar alguns anos depois, já durante o governo de Washington Luís, e fundar o Diário Carioca. Uma de suas filhas, a urbanista e paisagista Lota (Carlota) Macedo Soares, se destacaria anos depois por administrar a construção, no Rio de Janeiro, do Parque do Flamengo, considerado o maior aterro urbano do mundo.

Logo que foi criado, o jornal apoiou a Aliança Liberal, liderada por Getúlio Vargas (e derrotada nas eleições de março de 1930) e o subseqüente movimento revolucionário de outubro de novembro desse mesmo ano. Uma apaixonada cobertura da Revolução de 30 exaltou, em sucessivas manchetes – “A redempção brasileira. Victoriosa, em todo o paiz, a Cruzada Santa da Libertação Nacional” (24 out.); “A maior epopea da historia brasileira” (27 out.) etc. – a ação “regeneradora” dos aliancistas, ao mesmo tempo em que fazia as mais duras acusações ao governo deposto, chamando Washington Luís de “o último tirano da República”.

Em 1932, porém, o Diário Carioca aderia à campanha pela Assembleia Constituinte, cuja convocação o governo provisório de Vargas retardava, sendo por isso empastelado por simpatizantes do presidente. Em 1935, o DC ficou do lado do governo na insurreição comunista de novembro e, em 1937, pareceu apoiar o golpe do Estado Novo, mas não sem antes manifestar preocupação com o perigo de suspensão das garantias constitucionais. Como no editorial “Pânico”, escrito por Macedo Soares no início de outubro de 1935, pouco mais de um mês antes do golpe:

Cabe inteira responsabilidade aos chefes do Exército e da Marinha da nova viagem que vamos empreender no túnel da suspensão das garantias constitucionais. Mas não esqueçam as ilustres autoridades militares que nos regimes discricionários é sempre muito mais fácil entrar do que sair. (...) No passado, as medidas excepcionais só haviam servido para jugular os jornais, ocultando escândalos e abusos administrativos, e para permitirem prisões injustas, brutalidades, extorsões, e outras imoralidades cometidas por funcionários subalternos.

O comportamento do jornal nos primeiros dias do Estado Novo é assim descrito por Cecília Costa, autora de rico estudo histórico sobre o jornal:

Foi exatamente em novembro (...) que o governo do Estado Novo impôs ao país a Constituição preparada por Francisco Campos, vulgo “A Polaca”, acabando com qualquer esperança dos dois irmãos [o irmão, diplomata José Carlos Macedo Soares, havia pedido demissão do cargo de ministro da Justiça] quanto a uma vindoura eleição. Sob o tacão da nova Constituição, José Eduardo de Macedo Soares escreveria menos editoriais, ou os teria integralmente censurados, com raríssimas exceções, como foi o caso de um artigo sobre a situação da imprensa no novo regime, escrito em dezembro, no qual denunciaria a triste volta da censura legalizada. Sendo obrigado a ficar mudo, suas primeiras páginas, nesses tensos dias de outubro e novembro de 37, seriam dedicadas quase que na íntegra à guerra interna no país, seus interventores, agentes de repressão e aos membros das Forças Armadas. O jornal, habitualmente brincalhão e combativo, ficaria funéreo e solene, como se vestisse uma armadura, mais parecendo um boletim editado pela Marinha ou pelo Exército.” (Costa, Cecília. Diário Carioca: o jornal que mudou a imprensa brasileira.Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2011.)

Foi nos últimos anos do Estado Novo que o DC, assim como outros jornais – muitos deles tendo sofrido a intervenção do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão de propaganda e censura criado por Getúlio Vargas – retomaram a luta contra o regime ditatorial, reconquistando o direito à liberdade de expressão.

A partir de 1945, quando os ares da liberdade voltaram a reinar no país, entraria em choque frontal com Vargas e com o getulismo, aproximando-se das forças nucleadas em torno da União Democrática Nacional (UDN), principal partido de oposição no Brasil até o golpe de 1964.

Em 1954, após noticiar em primeira mão o atentado, em Copacabana, no Rio de Janeiro, a Carlos Lacerda - furo casual do então jovem jornalista Armando Nogueira, que morava nas proximidades – o DC engrossou a campanha, movida pela oposição e boa parte da imprensa (O Globo, Tribuna da Imprensa, Estado de S. Paulo) exigindo a renúncia de Getúlio Vargas. Até se extinguir, em 1965, o pequeno jornal carioca nunca deixaria de exercer influência na política brasileira.

Foi em 1932, após o empastelamento do seu jornal, que Macedo Soares, já com 50 anos, decidiu abandonar a sua direção, passando a exercer apenas o cargo de editorialista, no qual se destacou pela coragem e contundência de seus textos. Tendo alçado ao cargo de diretor-executivo o amigo dileto Horácio de Carvalho Jr., neto do barão de Amparo, manteve-se, no entanto, como eminência parda do periódico. (Horácio de Carvalho, que esteve à frente do jornal até o seu fechamento, teve como esposa, durante 45 anos, a francesa Lily de Carvalho, miss Paris em 1937, posteriormente casada, após a viuvez, com o presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho.)

O papel mais relevante daquele pequeno grande jornal, no entanto, e que o faz ser relembrado até hoje, foi o de ter iniciado a reforma do jornalismo carioca, a bem dizer jornalismo brasileiro, já que em 1950 o Rio de Janeiro, capital federal, era ainda a caixa de ressonância política e cultural do país.

Foi em no começo da década de 1950 que o DC pretendeu dar o seu maior passo, tornando-se um grande jornal de circulação nacional. Inaugurou, na ocasião, na avenida Presidente Vargas, seu novo e bonito prédio sobre pilotis projetado pelo notável arquiteto Afonso Eduardo Reidy, e também a gráfica Érica, com o que havia de mais moderno no mundo em matéria de equipamento. O novo DC saiu no dia 28 de maio de 1950, um domingo, com 72 páginas e cinco cadernos, como o Carioquinha, a cores, e a Revista do DC, para o público feminino, além de páginas literárias com colaboradores de alto nível, como Antonio Candido, Carlos Drummond de Andrade, Gilberto Freyre, Manuel Bandeira e Sérgio Buarque de Holanda. Fizeram parte dessa reforma, que antecedeu em seis anos à do Jornal do Brasil, nomes que se consagraram na imprensa do país, como Pompeu de Souza, Luiz Paulistano e Prudente de Moraes, Neto.

Foi também o DC que criou o primeiro manual de estilo para seus redatores e repórteres e implantou o uso de lide e sublide no Brasil, acabando com o famigerado “nariz de cera” – texto longo (e dispensável) de introdução às reportagens, em voga na nossa imprensa desde o século XIX. Além disso, foi um dos grandes pioneiros de um jornalismo moderno e essencialmente carioca, destacando-se a cobertura com suíte, os títulos com siglas e até mesmo sem verbo, o que era uma revolução para a época.

Fonte:
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/diário-carioca

Ruth Rocha (Meu Amigo Dinossauro)


Um pequeno dinossauro
Apareceu no jardim
Educado, inteligente,
O seu nome era Joaquim.
Nunca consegui saber
De onde foi que ele saiu
Quando a gente perguntou
Disfarçou e até sorriu...
Ficou muito nosso amigo
Fez tudo que é brincadeira.
Levou o Miguel pra escola
Levou a mamãe pra feira.
As pessoas espiavam 
Estranhavam um pouquinho
Onde será que arranjaram
Este dinossaurosinho?
Nessa tarde o papai trouxe
Um amigo bem distinto
Que se espantou e exclamou:
— Mas este bicho está extinto!
Há muitos milhões de anos
Ele já virou petróleo!
Ou já virou gasolina,
Ou algum tipo de óleo.
Meu dinossauro sorriu
— Estou vivo, "podes crer"!
Eu não virei querosene 
Como o senhor pode ver!
Antigamente diziam
Que o petróleo era formado
Por montes de dinossauros
Um sobre o outro empilhados.
Mas isso não é verdade!
Foram plantas e outros bichos
Que ficaram bem fechados
Entre buracos e nichos.
Sofreram muita pressão
Por muitos milhões de anos
Sofreram muito calor
No fundo dos oceanos.
— Mas então por que o petróleo
Até parece cigano?
Ora aparece na Terra,
Ora debaixo do oceano!
É porque o planeta Terra
Esteve sempre a mudar
Depois de milhões de anos
Tudo mudou de lugar
Todos ficaram espantados
De tanta sabedoria
E perguntavam: — Que mais
Sabe Vossa Senhoria?
— Sei ainda muitas coisas
Disse o amigo Joaquim
Para que serve o petróleo
E outras coisas assim.
Petróleo move automóvel,
Navio, trem, avião,
Ônibus e motocicleta,
Helicóptero e caminhão.
Com petróleo se faz pano,
Brinquedo, bolsas e mala,
Pele pra fazer salsicha,
Copos, pratos, nem se fala.
Se faz tinta, faz garrafa,
Material de construção,
Se fazem peças de automóvel
E se faz tubulação.
— Tenho mais uma coisinha
Pra dizer. — Pois então diga!
E o dinossauro puxou
O fecho em sua barriga.
E saíram lá de dentro
O Pedro mais o Raimundo
— Nós não somos dinossauro,
Enganamos todo mundo!

Fonte:
Revista Nova Escola

José de Alencar (Ao Correr da Pena) Rio, 20 de maio: Um Incêndio


Domingo passado havia espetáculo no Teatro de São Pedro e no Ginásio Dramático.

Mais longe, num pequeno salão todo elegante, dançava-se e ouvia-se cantar Bouché, Ferranti, Dufrene e a Charton.

A harpa do Tronconi gemia, a flauta de Scaramella trinava como um rouxinol.

Seriam dez horas da noite.

Neste mesmo momento, e no meio desta alegria geral, uma grande catástrofe se consumava.

Uma faísca desprezada crescera, transformara-se em chama, e ameaçava devorar um quarteirão inteiro.

Os sinos dobravam, o povo apinhava-se em torno, a chama enroscava-se ao longo das paredes como uma serpente de fogo, e o incêndio lançava sobre toda esta cena um clarão avermelhado e sinistro.

Fizeram-se atos de heroísmo e de coragem, ações de bravura que passaram despercebidas no meio desta luta terrível do homem com o elemento.

Os ingleses portaram-se com o sangue-frio habitual; os franceses trabalharam com entusiasmo; alguns brasileiros sustentaram a honra do seu nome e os brios nacionais.

No dia seguinte apenas restava de tudo isto um acervo de ruínas ainda fumegantes, um epitáfio escrito pelo fogo, e que todos os passantes iam ler naquelas cinzas ardentes.

Durante dois oi três dias conversou-se sobre o incêndio, fizeram-se mil comentários, e entre muitas coisas que se disse apareceram algumas verdades bem tristes.

Asseguravam que as bombas do arsenal estavam desmanteladas, e que, depois de chegarem ao lugar do incêndio, descobrira-se que não tinham chaves, e portanto fora necessário esperar uma  boa hora para que elas pudessem prestar serviço.

Não sei até que ponto chega a verdade deste fato; mas para mim ele nada tem de novo.

Se se tratasse de uma regata, de algum passeio de ministro a bordo dos navios de guerra, naturalmente tudo havia de estar pronto, as ordens seriam dadas a tempo e se desenvolveria um luxo de atividade e de zelo como não há exemplo, nem mesmo na Inglaterra, o país clássico da rapidez.

Tratava-se, porém, de um incêndio apenas, de cinco casas reduzidas a cinzas, e por isso não é de estranhar que não houvesse a mesma azáfama que costuma aparecer naqueles outros ramos mais importantes do serviço público.

Depois do fogo veio a chuva, como era natural; tinha reinado um elemento, era justo que o outro lhe sucedesse. 

Toda a semana levou esta senhora a fazer-nos pirraças. Roubou-nos o belo divertimento da regata; e de vez em quando escondia-se atrás da porta, isto é, por detrás do Corcovado, e deixava que o sol brilhasse e que o céu se tornasse azul; e, apenas     pilhava um homem na rua, começava a divertir-se à sua custa.

O arsenal de marinha, que não dá grande importância à extinção dos incêndios, podia ao menos tratar de livrar-nos do contratempo da chuva, e fazer a experiência da teoria de Méry. É natural que as suas peças de artilharia estejam em melhor estado que as suas bombas.

Entretanto, apesar da chuva, tivemos esta semana uma noite de Trovador e outra de Sonâmbula.

O Dufrene fazia a sua quarta estréia nesta última ópera. Na ocasião em que se representava uma das cenas do primeiro ato, um amigo que estava no meu lado lembrou-me as seguintes palavras de Balzac:

“Um artiste qui a le malheur d’être pleindre la PASSION qu’il veut exprimer ne saurait la peindre, car il est la CHOSE même, au lieu d’en être l’image.”

O que é que Balzac e o meu amigo quereriam dizer com estas palavras? Não sei; um citou-as sem comentário; o outro escreveu-as sem segunda tenção.

Nesta mesma noite teve lugar a reunião da Sociedade Estatística na sala onde se achavam expostos os produtos industriais dos Estados Unidos, que o Sr. Fletcher oferecera a Suas Majestades e algumas corporações científicas desta corte.

Havia muita coisa a admirar naquela pequena exposição especialmente pelo que toca à fotografia, aos trabalhos de cromolitografia, e às cartas geográficas feitas pelo novo sistema da gravura sobre cera.

Vimos um busto de Webster, que o Sr. Fletcher nos afirmou ser feito com uma máquina, que por meio de um processo engenhoso copia os traços de um outro busto. A semelhança era completa, a julgar-se pelos retratos em fotografia que existiam na sala.

Aberta a sessão pelo Sr. Visconde Itaboraí, o Sr. Fletcher pronunciou um discurso em francês, no qual expôs as suas idéias e os projetos que o haviam animado a voltar ao Brasil. 

Depois de falar sobre a ignorância absoluta e recíproca que existe no nosso país e nos Estados Unidos sobre a organização política, a administração e o progresso de uma e outra nação, mostrou os desejos que tinha, de fazer conhecido o Brasil na sua pátria e de estreitar assim as relações comerciais e políticas dos dois povos americanos.

Se o Sr. Fletcher conseguir realizar esta idéia, pela qual parece trabalhar com tanto entusiasmo, fará um grande serviço à América. Talvez dessas relações que vão começar nasça um grande pensamento de política americana, que no futuro venha a dirigir os destinos do novo mundo e a por um termo à intervenção européia.

E, se é exata uma notícia que nos deram, então é muito natural que os projetos do Sr. Fletcher venham a efetuar-se mais breve do que se pensa.

O Sr. William Trousdale, Ministro Plenipotenciário dos Estados Unidos na nossa corte, é um dos candidatos à futura presidência da Confederação; e, à vista dos valiosos serviços prestados por ele na Guerra do México, é de crer que esta candidatura seja bem aceita pelos diversos Estados.

Quanto à política, é hoje esse terreno tão inclinado, que nele não nos queremos aventurar, quando os chefes deixam os seus soldados errantes e dispersos combatendo em guerrilhas, em saberem ao certo que bandeira defendem.

A Câmara dos Deputados tem aprovado algumas naturalizações de sujeitos que entendem que as leis do país não passam de  letra morta, e que reclamam, pela importância de seus nomes, dispensa naquelas leis.

Até reza a crônica que se deu o foro de cidadão brasileiro a um estrangeiro recomendado à polícia! Talvez que merecesse esse favor para poder ser empregado na espionagem da gente trêfega. 

Desejava bem dar-vos alguma notícia da oposição; porém creio que os oposicionistas modernos procedem de uma maneira muito diferente da que se usava outrora.

Em vez de atacarem o governo, defendem-no; e por isso contaram-me que, perguntando o presidente a um deputado que pedira a palavra na resposta à fala do trono se era pró ou contra, respondera que seria como quisessem

É verdade que lá de vez em quando surge um campeão que não dá quartel ao governo, como sucedeu ontem na discussão da fala do trono.

Que de verdades se descobriram! O país está à borda de um abismo! Nós caminhamos a passos de gigante para o mais completo absolutismo!

Quereis as provas?

As medidas sobre a limpeza da cidade, os regulamentos de instrução pública e de óbitos, o método Castilho, e talvez que a reprovação de alguns professores – tudo isto, na opinião do orador, são golpes profundos que se têm dado à constituição e à nossa organização política.

Pobre constituição! A quanto não estais sujeita! É verdade que, depois que te arrancaram as folhas para as lançarem por aí aos domingos e quintas-feiras, não tinhas mais que esperar.

Esquecia-me de dar-vos uma notícia importante. Um candidato à senatoria, que não teve a fortuna de ser escolhido, foi ultimamente promovido a tenente.

É um ato do governo que merece que merece elogios; é uma prova de que o ministério, apreciando em subido grau os serviços daquele prestante cidadão, não quis que ele entrasse no quartel dos inválidos, e habilitou-o para continuar em serviço ativo.

E o que é mais notável é que este favor foi feito a um deputado oposicionista! Que imparcialidade!

Já sabeis que as iguarias preparadas para a regata foram enviadas aos doidos do Hospício de Pedro II. Decididamente estavam predestinadas!

Seu primeiro destino era servir aos doidos, doidos de amor e de entusiasmo, que, depois das corridas dos escaleres e das amáveis conversas com as belas convivas, teriam de ir fazer um toast à rainha do dia em beleza e ao vencedor do páreo.

Mas tudo isto o tempo veio transtornar, e, em vez de uma regata, deu-se cinco ou seis, e bem regadas pela chuva, que a esta hora ainda cai a cântaros.

E por hoje, despedida à francesa; até o próximo domingo, em que é provável que esteja de melhor veia do que hoje.

Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Florbela Espanca (A Vida)


Efigênia Coutinho (Livro de Poesias)



SÚPLICA DE POETA

 Os Poetas vestem sua alma e seus
 sonhos, com Poesia. Em suas dimensões
 mais profundas, as do gozo de viver,
 da dor de Amar, chorar, e de Morrer... 

 Se for lei que à morte o corpo condena,
 Eu vos suplico que na alegre impressão
 de vossas penas, com sábia precaução envieis
 fora da cena , um meio de vida eterna ... 

 O Tempo vai, portanto, passar, num grito,
 o apelo enviado...Poetas das virtudes e 
 esperanças, para, com oferendas e 
 saudações, Ir habitar ao empíreo mundo.

DOCE PECADO

Nesta dança ardente fogo de alma
por onde serpenteias meu corpo elástico
com teu jogo incêndio corpo propenso
à exalação do incenso da paixão

O ardor em mim instalado de dor
vira um braseiro rubro dado à pele
às entranhas ardentes devora-me o peito
com beijos de desejos no fundo enleio

Agitação por ti em mim com fumo
a vida exala chama do meu íntimo
a busca do infinito exalta a paixão
crime ou denodo? Amando me envolvo.

AMOR É AMOR

 Dois corações sinceros, emoção e beleza
 Não há nada que impeça. Amor é Amor
 Não modifica ou teme a qualquer incerteza.
 Onde não encontra barreiras nem dor 

 Amor, é símbolo imutável, dominante,
 Que vivencia a procela com bravura;
 É corpo celeste no espaço fascinante
 Cujo sentir se aprimora, lá nas alturas.

 O Amor não oscila ao tempo, é plenitude
 Ao tropel da louca paixão que se arrasta
 O Amor transcende extremos de beatitude.
 Ah! cegueira que cria mistérios que se alastra. 

 Afirmando para eternidade fidelidade...
 Com paixão, seu coração, forte brasão...
 Há ardor mais forte que Amor e cumplicidade!?
 Esta alma que sedenta em si é só oblação.

TEMPO

Mesmo quando a vida
transcende o espaço
e o imensurável tempo,
mesmo quando toda dor
 toda saudade nos correm,
ainda assim é possível
sentirmos dentro de nós
a presença constante daqueles
que tanto amamos,
pois os corpos se separam
mas não os nossos corações!

JARDIM DA VIDA

Fiz da vida um belo jardim
Tendo Deus como lavrador
Ele cuidadoso sempre afim
Eu rodeada de belo jasmim.

Não basta derramar o viver
Para poder brilhar ou reflorir
Ervas daninhas que aparecer
É preciso com zelo extinguir.

Por este jardim muito feliz
Sou uma plebéia auferida
Não sendo uma Imperatriz
Tenho de Deus toda colhida.

Dentro dum sentir comedido
Ao fascínio de querer viver
Os sonhos vou consentido
Ao belo jardim reflorecer…

TERRAS DISTANTES

Andarei de sonho em sonho
De um lugar a outro lugar
O caminho não será bisonho.
Quero encontrar quem me fale
Alguém com quem possa falar
De Amor, mesmo diga que me cale.

Fatias de céu me ponho a colher
Para o caminho engrandecer
Teceria com algodão de nuvens
Ao leito para com Amor aquecer
Antes que os sonhos se turvem
Com poemas sonoros enriquecer.

Seja por fim o sonho envolvente
Ao longo deste árduo desejo
Num Sonho transcendente...
Transpus céus, montanhas cruzei
Dos tantos anseios que rumorejo
Em Terras Distantes me enamorei.

SONHADORA E POETISA
  
Os humanos  filósofos e eruditos
que dos fatos morais fazem pesquisa
afirmam, sem rebuço,em seus escritos,
que o cérebro é a porção que localiza
não somente os prazeres e aventuras,
como as desilusões e as amarguras.
  
Usando uma expressão menos correta,
porém , sendo muito mais sugestiva,
não se arreceia o Sonhador e Poeta
de proclamar que o coração arquiva
o sofrimento, a duvida, a alegria...
tudo que nos agrada ou contraria...
  
E, para retribuir tão nobre preito,
nas horas de doçura ou tormento
o coração sabe pulsar dentro do peito,
ou zangado e veloz ou sereno e lento,
e, apesar de pequeno e de disforme,
ativo e intemerato jamais dorme!…

AMOR ENLUARADO

 Aquela Lua murmurante
 De prata cristalina abanar
 Tem o dom de embriagar
 Com sua luz extasiante...

 Vezes e vezes alvejante
 Por este Luar passei
 Em sua beleza enamorei
 Sendo apenas caminhante.

 A mourejar melodiosa seresta
 Vem graciosa beijando a terra
 Sorvendo fragrâncias dela
 Vai espargindo pelas florestas

 Na imensidão do seu encanto
 Emergem soluços abaluartar
 Que se arrastam sem parar
 Qual recordações de seu canto.

 Debruçam brumas andandeiras
 Um acariciar com aluamento
 A invadir desejos e sentimentos
 Revelando apagas esteiras!

 Lá pelo infinito, muito além
 Desliza o Luar a se enamorar
 Respingando doce cochichar
 Levando meu Amor também!

MÁGICO ARCO-ÍRIS 

 Na magia de um doce sonhar,
 Em volta de um arco-íris me vejo
 Bebendo o néctar e acariciar,
 Aos sons de teu rumorejo!...

 Os meus olhos úmidos a magia fitou
 Alheia ao sonho bordado no coração,
 E os sentimentos na alma sublimou
 A mais pura e eufórica emoção!...

 Um sorriso vai deslizando adocicado,
 Nos meus lábios sensuais, triunfantes...
 Que pousou nos teus, enamorado,
 Deixando meu coração no peito arfante!

 O Arco-Íris com magia vai colorindo
 O meu ser, que de alegria vai inundando,
 E vou vivendo toda essa poesia florindo
 Com aromas que o ar vão perfumando!…

Fonte:
AVSPE- http://www.avspe.eti.br/coutinho/poemas_efigenia.htm

Rafael Castellar (“Patos”)


O Projeto:

Sob o título “Patos” este romance existencialista aborda diversos conflitos internos de um jovem que, agoniado e em busca de expansão, deixa a vida com sua família em uma propriedade rural para tentar uma nova na cidade grande. 

A obra narra toda sua trajetória desde a partida, passando pela chegada à capital, pela sua estabilização, estudos e ascensão profissional, e o convívio com diversas pessoas que se tornam partes importantes em sua vida. Todo este processo é salpicado pelos eventos psicológicos, pelas expectativas e descasos resultantes de suas convivências e culmina com a transformação do jovem e seus valores, que acaba se tornando mais uma personagem fabricada do mundo corporativo. E no ápice de sua carreira, ele é tomado novamente pelas lembranças e sensações do que realmente era. Ao constatar sua transformação, tenta reencontrar-se descontroladamente, mas, ao ser notado, é submetido à força pela família e pelos amigos a um tratamento psiquiátrico questionável, que o submete à pior e mais torturante fase da sua vida. Ao fim do tratamento, avariado, retorna à família e conclui-se o desfecho sobre toda sua história, onde se torna liberto da maneira que lhe conveio.

O autor disponibilizou algumas páginas do livro para leitura em http://www.bookess.com/read/13429-patos/

O Autor:

Rafael Castellar das Neves nascido em 26 de setembro de 1979 em Santa Gertrudes, interior do estado de São Paulo. Mudou-se para Santos em 1997 para cursar Engenharia de Computação e, em 2002, mudou-se para São Paulo em busca de trabalho, onde vive até o momento.

Em 2005, iniciou tentativas de elaboração de romances das quais “Patos” é a que foi a primeira finalizada e publicada em outubro de 2012. Outros romances foram concluídos e outros estão em andamento.

Desde 2008, mantém o blog “Desce Mais Uma!” (http://descemaisuma.blogspot.com), onde registra suas poesias, contos e crônicas, frutos de ideias que lhe tomavam durante a elaboração do romance. Algumas delas têm referências e exposição nacional e internacional. Em abril de 2010 publicou seu primeiro livro “Desce Mais Uma! – Primeira Rodada” que reúne vários de seus textos.

Fonte:
O Autor

J. G. de Araújo Jorge ("Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou") Parte 5


Alexandre Fernandes          
(Alexandre José de Seixas Fernandes)
(Rio Grande/RS, 24 de julho de 1863 – Salvador/Bahia – 30 de março de 1907 )

" CORAÇÃO DE MULHER "

Vira o rosto se eu passo; e entretanto,
seu olhar a seguir meu vulto fica.
Que me estima, de certo não indica,
porque parece que me odeia tanto!

Se um dia não me vê, ligeiro espanto
quando me avista o seu olhar explica;
e, nessa alternativa, mortifica
minha alma, escravizada a seu encanto.

As vezes, eu também, rapidamente,
volto meu rosto, finjo, indiferente,
nem pensar que ela vive neste mundo.

Mas, vejo, de revés, que ela me segue,
que o seu olhar ansioso me persegue ...
Coração de mulher, como és profundo!
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Alphonsus de Guimaraens
Afonso Henriques da Costa Guimarães
(Ouro Preto/MG, 24 de julho de 1870 – Mariana/MG, 15 de julho de 1921 )

" AO POENTE "
            
Ficávamos sonhando horas inteiras,
com os olhos cheios de visões piedosas:
éramos duas virginais palmeiras,
abrindo ao céu as palmas silenciosas.

As nossas almas, brancas, forasteiras,
no éter sublime alavam-se radiosas,
ao redor de nós dois, quantas roseiras...
O áureo poente coroava-nos de rosas.

Era um arpejo de harpa todo o espaço;
mirava-a longamente, traço a traço,
no seu fulgor de arcanjo proibido.

Surgia a lua, além, toda de cera ...
Ai como suave então me parecera
a voz do amor que eu nunca tinha ouvido.

" SONETO "
                                                           
Encontrei-te. Era o mês... Que importa o mês? Agosto,
Setembro, outubro, maio, abril, janeiro ou março,
Brilhasse o luar que importa? ou fosse o sol já posto,
No teu olhar todo o meu sonho andava esparso.

Que saudades de amor na aurora do teu rosto!
Que horizonte de fé, no olhar tranqüilo e garço!
Nunca mais me lembrei se era no mês de agosto,
Setembro, outubro, abril, maio, janeiro, ou março.

Encontrei-te. Depois... depois tudo se some
Desfaz-se o teu olhar em nuvens de ouro e poeira.
Era o dia... Que importa o dia, um simples nome?

Ou sábado sem luz, domingo sem conforto,
Segunda, terça ou quarta, ou quinta ou sexta-feira,
Brilhasse o sol que importa? ou fosse o luar já morto?

" SONETO XIX "
                                                           
Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.

As estrelas dirão — "Ai! nada somos,
Pois ela se morreu silente e fria.. .
" E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.

A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.

Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: — "Por que não vieram juntos?"
====================

Alphonsus de Guimarães Filho
(Afonso Henriques de Guimarães Filho)
(Mariana/MG, 3 de junho de 1918 – Rio de Janeiro/RJ – 28 de agosto de 2008)

"SONETOS DA AUSÊNCIA XII "
                                                        
Não te desejo mais pela amargura
nem pelas alegrias inconstantes:
quero beijar nas tuas mãos distantes
o amor que me alivia e transfigura.

Quero, sonhando a adolescência pura
no teu corpo febril, das mãos amantes,
colher nos ventos tudo quanto dantes
ambicionara em sedes de loucura.

Quero o teu riso, o teu silêncio, a graça
do teu vestido ao vento, o andar sereno
de ave marinha pelas madrugadas.

Quero colher em ti o que não passa
e pulsa em mim como o teu leve aceno
na distância impossível das estradas.

"SONETOS DA AUSÊNCIA XLII "
                                                           
O doce amor. As doces mãos da amada.
Seu corpo branco como luz macia
e a matinal pureza. e a graça e a fria
carícia da leve madrugada...

A rua humilde. A paz desta pousada.
A trepadeira, o alpendre... E, todo dia,
os risos das crianças, a alegria
descendo, clara, sobre a minha estrada.

Depois, a noite os sonhos dominando,
vozes veladas... Confissões a medo...
Gestos de quem parou na despedida

e há de ficar, por seu pesar, chorando,
vivendo o adeus que é como o seu segredo,
o adeus que encerra em si a própria vida.

Fonte:
J.G . de  Araujo Jorge . "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou". 1a ed. 1963

Francisco Marques “Chico dos Bonecos” (Andarilhos)


Andava pela estrada, sozinho. Um sol de rachar e os dois andando, sem parar. E andando, resolvidos, iam os três desenxabidos. Os quatro não andavam à toa: buscavam uma terra boa.

Com os pés doendo de tanto andar, os cinco pararam para descansar.

E os seis se deitaram, dormiram, sonharam...

No meio da noite, os sete acordaram e se arrepiaram.

Dezesseis olhos arregalados, brilhando, viram o rio iluminado, o chão iluminado.

Cavando a terra, dezoito mãos traziam, com a respiração ofegante, dezenas de pedrinhas brilhantes.

Depois de muito cavar, contar e reunir, os dez começaram a discutir.

O centro da discussão era este: onze andarilhos podem suportar tantos brilhos?

Uma dúzia de idéias diferentes, uma ou outra interessante, mas nenhuma idéia brilhante.

Com as palavras doendo de tanto falar, os treze resolveram si-len-ci-ar. 

Deitados, silenciosos, os catorze buscavam uma nova rima, quando olharam para cima...

Boquiabertos, ao som de quinze admirações, descobriram estrelas cadentes, candentes em grandes porções e proporções.

E aquelas dezesseis imaginações tropeçaram nas mesmas conclusões...

"As pedras são farelos de estrelas", dezessete vezes pensaram e dezessete vozes exclamaram.

E declararam os dezoito andarilhos, acostumados a vagar de déu em déu: "Essa terra tem parentesco com o céu."

E dezenove caminheiros decidiram fincar o pé e se estabelecer: "De agora em diante, aqui vamos morar, aqui vamos viver."

Vinte vezes festejavam. Quando uma voz desfestejou: "Continuarei caminhando. Adeus. Já vou."

E este que se foi, ligeirinho!, posso dizer apenas que ele...
Andava pela estrada, sozinho.

Fonte:
Revista Nova Escola

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 761)



Uma Trova de Ademar  

Hoje na terceira idade, 
eu, de amores já vazio, 
voltei ao mar da saudade 
para ancorar meu navio. 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

O que mais queres, querida, 
se já te dei tudo, enfim? 
Até minha própria vida 
não pertence mais a mim. 
–Clênio Borges/RS– 

Uma Trova Potiguar  

Muitos serão invejados, 
poucos serão aplaudidos; 
vivendo são criticados,
morrendo são esquecidos.
–Prof. Maia/RN– 

Uma Trova Premiada  

2004   :   Petrópolis/RJ 
Tema   :   ÁGUA   :   1º Lugar. 

Nessas manhãs de invernadas, 
o orvalho, na rosa nua, 
põe gotas d'água roladas 
dos olhos triste da lua!.. 
–Hermoclydes S. Franco/RJ– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Esta saudade infinita 
do amor que a gente viveu, 
é a mensagem mais bonita, 
que o meu passado escreveu!... 
–Aloísio Alves da Costa/CE– 

U m a P o e s i a  

Não esqueçamos jamais 
que a meta de nossa vida, 
é trilharmos nossa estrada 
com a fé, então, devida, 
para, ao céu, então, chegarmos, 
depois da missão cumprida! 
Gislaine Canalles/SC– 

Soneto do Dia  

L U Z
–Divenei Boseli/SP– 

Se a vida fosse apenas um brinquedo 
e o medo fosse apenas ilusão, 
se o amor fosse despido de segredo 
e a dedo se encolhesse uma emoção, 

se a voz tivesse a força de um torpedo, 
a pena fosse um traço de união 
e as deusas, num telúrico bruxedo, 
tornassem verdadeira a compreensão, 

seriam não apenas operárias 
da indústria, do comércio e mesmo agrárias 
as tochas geradoras dessa luz 

que eu penso poder ver quando a mulher 
dispensa “Cirineus” e, como quer, 
carrega sem ajuda a própria cruz!