quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

J. G. de Araújo Jorge ("Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou") Parte 15


Castro Alves
Antonio Frederico de Castro Alves.
(Cachoeira/BA, 14 março 1847 –  Salvador/BA, 6 julho 1871)

" BARBORA "

Erguendo o cálice que o Xerez perfuma,
loura a trança, alastrando-lhe os joelhos,
dentes níveos em lábios tão vermelhos,
como boiando em purpurina espuma;

um dorso de Walkíria . . . alvo, de bruma,
pequenos pés sob infantis artelhos,
olhos vivos, tão vivos, como espelhos,
mas como eles também sem chama alguma;

garganta de um palor alabastrino,
que harmonias, e música respira . . .
No lábio - um beijo. . . no beijar - um hino;

harpa eólia, a esperar que o vento a fira,
- um pedaço de mármore divino . . .
É o retrato de Barbora - a Hetaíra.

" DULCE  "
                                                           
Se houvesse ainda talismã bendito
que desse ao pântano - a corrente pura,
musgo - ao rochedo, festa - à sepultura,
das águias negras - harmonia ao grito...

Se alguém pudesse ao infeliz precito
dar lugar no banquete da ventura...
E trocar-lhe o velar da insônia escura
no poema dos beijos - infinito...

Certo . . . serias tu, donzela casta,
quem me tomasse em meio do Calvário
a cruz de angústias que o meu ser arrasta! . . .

Mas se tudo recusa-me o fadário,
na hora de expirar, ó Dulce, basta
morrer beijando a cruz do teu rosário.

" SONETO A NOBREZA D'ALMA "
                                                           
Aqui, onde o talento verdadeiro
Não nega o povo o merecido preito;
Aqui onde no público respeito
Se conquista o brasão mais lisonjeiro.

Aqui onde o gênio sobranceiro
E, de torpes calúnias, ao efeito,
Jesuína, dos zoilos a despeito,
És tu que ocupas o lugar primeiro!

Repara como o povo te festeja...
Vê como em teu favor se manifesta,
Mau grado a mão, que, oculta, te apedreja!

Fazes bem desprezar quem te molesta;
Ser indif’rente ao regougar da inveja,
"Das almas grandes a nobreza é esta.”
===========

Castro Menezes
Álvaro de Sá Castro Menezes
(Niterói/RJ, 3 junho 1883 –  Rio de Janeiro/GB, 7 março 1920)

" MUSA PAGÃ "

Junto à herma de um fauno irônico e lascivo
erguida entre mirtais, num bosque silencioso,
certa vez te detive o passo alado e esquivo
e apertei contra mim teu corpo voluptuoso.

Tive a impressão de ser um semideus cativo.
Foi um beijo sensual, um frêmito de gozo . . .
Mas nunca mais senti o aroma quente e ativo
dessa flor, que é teu corpo olímpico e formoso.

Vendo-te hoje passar como uma estátua fria
de Penélope fiel, de novo a fantasia
daquela hora pagã eu rememoro e avivo.

E és sempre, para mim, a ninfa esquiva e linda,
a ninfa que enlacei, numa loucura infinda,
junto à herma de um fauno irônico e lascivo...

" SONETO À CARMEN "

Carmen, sou eu... Aqui me tens, bem perto
de ti, fiel ao doce amor antigo,
casto eflúvio do céu que anda comigo,
única luz no meu destino incerto.

Aqui me tens, em pranto, a sós contigo,
lembrando o nosso lar, hoje deserto ....
Lar feliz, sonho bom de que desperto
para cobrir de rosas teu jazigo...

Junto da tua humilde sepultura,
ajoelho-me, sentindo que na altura,
sob os olhos de Deus leve revoas.

Tua imagem. piedosa. me aparece...
Moves; os lábios numa eterna prece
e me estendes as mãos, e me perdoas...
==============

Cecília Meireles
Cecilia Meireles Grilo
(Rio de Janeiro/GB, 7 novembro 1901 – Rio de Janeiro/RJ, 9 novembro 1964)

" A INOMINÁVEL "

Leve... - Pluma . . . Surdina... Aroma... Graça...
Qualquer coisa infinita... Amor... Pureza...
Cabelo em sombra, olhar ausente, passa
como a bruma que vai na aragem prêsa . . .

Silenciosa, imprecisa, etérea taça
em que adormece o luar... Delicadeza...
Não se diz... Não se exprime... Não se traça. . .
Fluído... Poesia... Névoa... Flor... Beleza...

Passa. . . - É um morrer de lírios. . . Olhos quase
fechados... Noite... Sono... O gesto é gaze
a estender-se, a alegrar-se... E enquanto vão

fugindo os passos teus, visão perdida,
chovem rosas e estrelas pela vida...
Silêncio! Divindade! Iniciação!
========

Celso Pinheiro
(Barras/PI, 24 novembro 1887 – Teresina/PI, 29 junho 1950)

" FLOR INCÓGNITA "

Por essas tardes doces de novenas,
tive um sonho de todo imaginário:
fazer das minhas rimas um rosário
para ofertar-te, irmã das açucenas!

Tu, que és a inveja viva das morenas
e a pérola gentil do meu rimário
guardá-lo-ias, como um relicário,
no teu seio de arminhos e de penas. . .

E se fosses ao templo, como agora,
às tuas orações de tanto enlevo,
bendiria este amor Nossa Senhora. . .

Meu Deus, como seríamos felizes!
Tu rezando os Sonetos que te escrevo,
eu rezando as palavras que me dizes...
============

Celso Vieira
Celso Vieira de Matos Melo Pereira
(Garanhuns/PE, 12 janeiro 1878 – Rio de Janeiro, 19 dezembro 1954).

" PLAGON "

Glória imortal da helena fantasia,
maravilha da Forma encantadora!
Não seria mais bela, nem seria
mais orgulhosa se uma Deusa fora.

Ei-la que passa: rútila, irradia
dos seus cabelos a alvorada loura;
ao vê-la, a gente evoca a sinfonia   
do mar da Jônia à Vênus tentadora.

Ei-la que passa: tudo se ilumina
à luz de seus olhares; tudo exalta
seu porte, ao som de sua voz divina . . .

E os anjos voam no infinito ao vê-la,
pois desejam saber se acaso falta
no cortejo da noite alguma estrela!

Fonte:
– J.G . de  Araujo Jorge . "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou". 1a ed. 1963

Isidro Iturat (Arte Poética) parte 1


OUTRA DEFINIÇÃO INFRUTUOSA DO TERMO “POESIA” 

Palavra ritmicamente ordenada,
ou veículo visível para a alma
invisível, ora o rio que mana 

alimentício, ou a sede que não acaba,
mulher mistérica nua na cama,
deus que sopra, ou uma má álgebra. 

Ou o assombro, ou o amar, e/ou a raiva. 

O pleno todo, o carente nada.
(Isidro Iturat )

NOTA AO LEITOR

          O texto a seguir constitui uma síntese das ideias que considero mais essenciais sobre criação poética que pude acumular durante os meus anos de exercício literário. A razão de sua existência provém da praticidade  que supõe dispor de um documento único, breve e de fácil consulta que possa ajudar a mantê-las presentes. Inicialmente, decidi realizá-lo como um apoio à minha própria tarefa literária, mas também pensando na possibilidade de que pudesse auxiliar o trabalho de outros autores.

 1. ADQUIRIR CONHECIMENTO

                                                     Retirado en la paz de estos desiertos,
                                                     con pocos pero doctos libros juntos...
                                                                                         Francisco de Quevedo

1.1. SOBRE AS LEITURAS

          Na hora de aprender sobre qualquer tema, é conveniente procurar primeiro as melhores obras e os melhores autores. Na abordagem de cada matéria, sempre existe aquele livro realmente capaz de expandir com verdadeira força a nossa visão do assunto, aquele autor que tem especial talento, especial capacidade para separar o importante do insignificante etc. A leitura de um só livro excelente pode aportar em poucos dias um alto grau de conhecimento que, de outra maneira, exigiria anos de leituras de uma qualidade mais diluída, além de mostrar aquilo que nunca chegaria a ser aprendido por outros meios.

           E, por extensão, cabe adotar a atitude de procurar sempre as melhores bibliotecas, livrarias, listados de bibliografia, centros de ensino e mestres possíveis.

           Um bom sistema para procurar bibliografia quando não dispomos de orientação pode ser, por exemplo, ir até uma biblioteca de uma universidade, idealmente aquela que tenha um maior prestígio em relação à matéria que queremos aprender (o acesso ao edifício e a consulta aos livros costuma ser possível mesmo que não sejamos alunos da instituição). Ali, podemos tentar reunir o maior número de livros sobre o tema e folheá-los para selecionar os melhores. Dentre todos, podemos escolher de um a três para leitura.

           Por que nas universidades? Simplesmente, porque os compêndios das obras mais refinadas costumam ser encontrados em suas bibliotecas, ou nos listados de bibliografia oferecidos em suas matérias (hoje em dia, estes últimos podem ser encontrados facilmente na Internet). Estas obras, justamente por ser as mais refinadas, também são ignoradas por quase todos com frequência, e chegam a deixar de ser editadas. Mas, por causa do interesse dos professores especialistas, sobrevivem nas prateleiras das bibliotecas universitárias.

           Caso não seja possível tal acesso, logicamente a pessoa terá de se adaptar à sua realidade: se não é na universidade, será na Internet, ou nas livrarias da própria cidade, ou na livraria de outra cidade porque a nossa não possui os livros etc., mas acima de tudo, tentar fazer sempre o máximo possível, custe o que custar, para ter acesso ao bom conhecimento.

           Nota: Gostaria de destacar ao leitor, que não vou sugerir aqui nada que eu mesmo não tenha experimentado e constatado como produtivo.

1.2. O MELHOR LEITOR É UM RELEITOR E UM MEDITADOR DAQUILO QUE FOI LIDO

          Primeiro, a frase de Gustave Flauvert[1]: “Como seríamos sábios se conhecêssemos bem somente cinco ou seis livros”; e depois, Arthur Schopenhauer[2]: “Meditação: só com ela nos apropriamos daquilo que lemos”.

           Estas ideias são especialmente necessárias em nossos dias, nos quais somos frequentemente impelidos a receber grandes volumes de informação e com grande velocidade, o que nos leva, em último caso, a interiorizar solidamente bem pouca coisa de tudo isso.

           Então, primeiro é necessário selecionar as leituras, ler e reler (sem esquecer de sublinhar, anotar, esquematizar etc.); depois, meditar profundamente sobre o que foi lido, caso a matéria valha a pena.

1.3. OS DICIONÁRIOS

          O hábito de utilizar os dicionários na hora de escrever é fundamental para manter nosso corpus particular de palavras em movimento e crescimento, contando também com que o processo de aprendizado oferece naturalmente altos e baixos, períodos de avanços lentos e rápidos, estancamentos, regressões e novos avanços. Este hábito, então, facilitará dispor do acervo expressivo necessário para quem pretende escrever, dominar fenômenos como a rima, superar a recorrência excessiva de determinadas palavras... ,ou seja, expandir o próprio universo interior.

           Os dois tipos mais necessários são:

           1º. O dicionário geral. Além dos motivos mencionados acima, será útil no momento da criação porque, com frequência, quando surge uma frase na nossa mente, alguma palavra nos parece atraente e não sabemos claramente o que significa. O dicionário confirmará se a mesma é adequada ao contexto ou não.

           2º. O dicionário de sinônimos e antônimos. É apropriado para o caso contrário, quando aparece no verso uma palavra cujo significado conhecemos, que expressa justamente a ideia desejada, mas precisamos de uma outra porque a sua forma não se harmoniza na frase ou quando incluída em um verso de medida regular, não tem o número de sílabas adequado.

           Outras sugestões que podem ajudar de acordo com a preferência pessoal: enciclopédias, dicionários de gírias, jargões, retórica, terminologia literária, filosofia, psicologia, sociologia, etimológicos, de símbolos etc.

1.4. ANTOLOGIAS E OBRAS INDIVIDUAIS

          Além de um primeiro contato com os autores, a leitura de antologias e manuais de história da literatura nos permitirá obter, relativamente em pouco tempo, uma visão panorâmica sobre a poesia de qualquer cultura de nosso interesse. Também é preciso levar em consideração que sem conhecer pelo menos as obras e recursos utilizados pelos poetas historicamente mais influentes, será mais fácil cair no equívoco de pensar que estamos inovando, quando, realmente, não é assim.

           Para adquirir um conhecimento amplo e ao mesmo tempo profundo, pode ser útil dedicar alguns períodos para obter esta imagem panorâmica da cultura e outros para focar em apenas um autor, abrangendo assim o geral e o específico.

1.5. EDUCAR O DISCERNIMENTO

          A leitura é qualquer coisa, menos algo inócuo. As modificações nas ideias e estados de ânimo podem ser radicais, principalmente na leitura dos grandes escritores, os quais costumam distinguir-se por saber fascinar através da forma. Isto pode significar, por exemplo, que sem nos darmos conta interiorizemos ideias que podem ser daninhas. Por isso, para o leitor e especialmente para o leitor-escritor, que depois de receber a mensagem se converterá em um novo emissor, é extremamente necessário se exercitar no discernimento, do que há de ser bom ou não, tanto para si mesmo como para os outros.

           Será recomendável meditar, tanto sobre as ideias quanto sobre os estados de ânimo que o texto induz. Por exemplo, depois de ler um autor que transmite niilismo com eficácia, podemos esperar sentir-nos deprimidos, desesperançados, coléricos etc.; diante de outro vitalista, sentir coisas como amor, coragem, alegria... Também será necessário ver o que queremos incorporar para nós mesmos, pois, em grande parte, somos aquilo que comemos.

           Não se trata, contudo, de eliminar de repente qualquer leitura que intuitivamente nos pareça ameaçante. De fato, não será incomum que uma obra seja de nosso interesse, por exemplo, para aprender sobre o seu estilo e que contenha realidades perante as quais sintamos aversão. Uma leitura abordada com os filtros críticos bem dispostos afetará em menor medida as nossas emoções. Então, delimitar o grau que permitiremos nos deixar levar pelo texto é sempre possível.
––––––––

Continua…

Fonte:
http://www.indrisos.com/ensayosyarticulos/artepoeticaportugues.html#4

Teatro de Ontem e de Hoje (Jornada de um Longo Dia para Dentro da Noite)


Segundo espetáculo do Teatro Cacilda Becker, a estréia da obra-prima do autor norte-americano Eugene O'Neill, inédita no Brasil, cria intensa expectativa na elite cultural brasileira e o espetáculo transforma-se em um grande acontecimento.

A montagem deveria inaugurar as atividades do Teatro Cacilda Becker - TCB, mas a companhia é obrigada a estrear com texto de autor nacional, obedecendo a uma lei de 1953 que exigia das novas companhias dramáticas que encenassem peças de dramaturgos brasileiros em seus primeiros espetáculos. Mesmo assim, enquanto prepara O Santo e a Porca, de Ariano Suassuna, a equipe ensaia Jornada de um Longo Dia para Dentro da Noite, a peça à qual a companhia dedica o maior período de elaboração em toda a sua trajetória. 

O texto encarna o gosto de uma geração que descende do Teatro Brasileiro de Comédia - TBC, e que se afina com o teatro europeu, valorizando a obra literária como expressão cultural e histórica. Nesse teatro, a qualidade da direção está em ser imperceptível: seu desafio é materializar em cena a expressão do sentido humano e poético do texto. Eugene O'Neill é um dos autores mais cultuados daquele momento e, o teatro, a manifestação artística mais propícia a aglutinar jornalistas, intelectuais e artistas em um acontecimento social. 

A peça conta a história da família do ator James Tyrone, que desperdiçou seu talento, repetindo-se no papel do Conde de Monte Cristo, está reunida em sua casa de campo, durante o verão, quando as temporadas teatrais são suspensas. Mary Tyrone, sua esposa, acaba de voltar de um período de cura e todos esperam que ela evite recaídas no uso de morfina, da qual se tornara dependente devido ao tratamento ministrado por um mau médico depois do parto de um dos filhos. A avareza de James Tyrone sacrifica também James Tyrone Jr. e Edmund Tyrone, alter-ego de Eugene O'Neill. Ao longo de um dia, todas as tensões e ressentimentos da família emergem e, quando a noite chega, Mary já está mergulhada em seu delírio, por não suportar a realidade, especialmente a doença do caçula Edmund, cuja tuberculose acaba de ser diagnosticada. 

Os críticos, são unânimes em exaltar o mérito e a honestidade do empreendimento, o desempenho dos atores, a intimidade do diretor Ziembinski com o estilo psicológico, que lhe permite criar uma ampla variedade de climas. "A Companhia Cacilda Becker, pelo valor dos seus elementos, é provavelmente a primeira do teatro brasileiro atual. Queremos dizer com isso que nenhum, entre os nossos jovens conjuntos, possui igual experiência, igual número de primeiras figuras. Este espetáculo vale também por demonstrar que os seus diretores sabem compreender a responsabilidade que lhes pesa sobre os ombros, ao escolher, para estréia em São Paulo, um texto de enorme valor e de interpretação dificílima".1 Ao mesmo tempo, as críticas mostram pouco entusiasmo no que diz respeito ao resultado. Cacilda Becker, que aos 37 anos interpreta uma mulher de 54, Mary Tyrone, tem um de seus momentos de maior brilho. Mas até mesmo em relação ao seu desempenho e ao de Walmor Chagas há discordância. Enquanto alguns consideram que a atriz realiza uma de suas melhores interpretações, outros afirmam que ela parece menos convincente que nas atuações anteriores e atribuem o problema ao monocórdio da voz, embora todos reconheçam que ela tem emoção e força. "Cacilda Becker é Mary Tyrone. A sua maneira de encarar e resolver a personagem não se assemelha à de Florence Eldridge, criadora original do papel em Nova York. Cacilda, levada pelo seu temperamento, é menos sonhadora, menos fora da realidade, mais atuante, mais incisiva, mais presente, mais de carne e osso, mais afirmativa e dramá¬tica. O resultado, entretanto, a quantidade final de emoção, se assim ios dizer, é igual, elevadíssima em ambos os casos - exceto na cena final, a da 'loucura de Ofélia', como a classifica cruelmente James Tyrone Jr., que se presta melhor à linha desenvolvida por Florence Eldridge. Em suma, uma grande criação dramática da nossa maior atriz".2 Paulo Francis escreve que em determinada cena há um movimento de cabeça da atriz que "vale mais do que meia hora de conversa de O'Neill".3 A Associação Brasileira de Críticos Teatrais - ABCT, considera Cacilda Becker a melhor atriz daquele ano e Ziembinski o melhor diretor.

O espetáculo não obtém, no entanto, o êxito esperado. A temporada é interrompida ao fim de cinco semanas. A historiadora Maria Inez Barros de Almeida avalia sua importância histórica: "Na verdade, não se realizando o desejado êxito, realizou-se uma aventura artística que valeu por si mesma. As gerações da época sabiam que algo de muito intenso tinha sido tentado. O espetáculo preservou-se na memória dos contemporâneos como um ponto de referência, mesmo que tenha sido para negá-lo como obra plena".4

Notas

1. PRADO, Décio de Almeida. Teatro em progresso. São Paulo: Martins, 1964, p. 124.

2. PRADO, Décio de Almeida. Teatro em progresso. São Paulo: Martins, 1964, p. 122.

3. FRANCIS, Paulo. In: ALMEIDA, Maria Inez Barros de. Panorama visto do Rio: Teatro Cacilda Becker. Rio de Janeiro: Minc/Inacen, 1987, p. 28.

4 ALMEIDA, Maria Inez Barros de. Panorama visto do Rio: Teatro Cacilda Becker. Rio de Janeiro: Minc/Inacen, 1987. p. 30.

Fonte:

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 780)



Uma Trova de Ademar  

Uma mensagem de luz
que trouxe uma fé tamanha
foi aquela que Jesus
deixou pra nós na montanha.
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Há momento em que a bondade
forja a mentira bonita,
porque sente que há verdade
que jamais pode ser dita!...
–Maria Nascimento/RJ– 

Uma Trova Potiguar  

O coração do poeta,
que abriga toda emoção,
flechado por uma seta,
sangra somente paixão.
–Marcos Medeiros/RN– 

Uma Trova Premiada  

2000   -   Sete Lagoas/MG 
Tema   -   DESCOBERTA   -   M/H 

Em cada dia eu renasço
- apesar de envelhecer –
descobrindo, passo a passo,
a alegria de viver!
–Marina Bruna/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

A saudade que me invade
ninguém já sofreu, porque
a saudade é mais saudade
se é saudade de você...
–Darcy Tecídio/RJ– 

U m a P o e s i a  

No trabalho das colmeias 
me inspiro em meu dia-a-dia, 
eu e a abelha laboramos 
numa intensa parceria: 
ela tira o mel das flores 
e eu ponho em minha poesia. 
–José Lucas de Barros/RN– 

Soneto do Dia  

UMA LÁGRIMA DE AMOR. 
–Sônia Sobreira/RJ– 

Sonho com uma lágrima de amor, 
aquela que renova uma esperança, 
que traga para mim, nova aliança 
e me faça esquecer tamanha dor... 

Sonho com uma lágrima de amor 
que me inspire novo alento e confiança, 
aquela que me encha de bonança 
e expresse um sonho bom! Seja o que for. 

Uma lágrima de amor que inspire versos, 
rimas perfeitas, vendavais dispersos, 
que ressuscite os sonhos que mataste. 

Que leve os crepúsculos tristonhos, 
saudade das saudades dos meus sonhos
e a névoa das lembranças que deixaste.

Jornais e Revistas do Brasil (Jornal das Famílias)


Período disponível: 1863 a 1878 
Local: Rio de Janeiro, RJ 
Continuação de: Revista popular

Hoje, mais corajosos do que d’antes, (...) resolvemos sob o novo título de Jornal das Famílias, melhorar a nossa publicação. O Jornal das Famílias, pois, é a mesma Revista Popular, d’ora avante mais dedicada aos interesses domésticos da família brasileira.

São os seus collaboradores os mesmos distinctos cavalheiros a quem tanto deve a Revista, accrescendo outros a quem tivemos a honra e a fortuna de angariar.

Mais do que nunca dobraremos os nossos zêlos na escolha dos artigos que havemos de publicar, preferindo sempre os que mais importarem ao paiz, á economia doméstica, á instrucção moral e recreativa, á hygiene, n’uma palavra, ao recreio e utilidade das famílias.” 

Assim o editor francês Baptiste Louis Garnier – criador no Rio de Janeiro, em 1844, em sociedade com seus irmãos na França, da “Garnier Irmãos”, logo depois denominada apenas “B. L. Garnier” ou apenas “Garnier” – apresentava, no primeiro número, o Jornal das Famílias. A publicação sucedia à Revista Popular, também por ele editada, que circulara de 1852 a 1862. 

Enquanto esta última tratava de assuntos diversos, como ciência e agricultura, para um público amplo, o alvo da nova publicação eram as mulheres de classe média e alta, público que crescia acompanhando o processo de urbanização do país.

Contos, poesias, romances, culinária, moda, higiene eram os assuntos dominantes. E selecionados de modo a não ferir os valores das famílias da “boa sociedade”: no 16º volume da Revista Popular, ao anunciar a mudança pela primeira vez, os editores tranquilizavam os assinantes, informando que eles passariam a receber a nova publicação, e também às “mães de família [que] não devem recear que ele penetre em seu santuário. Haverá todo o cuidado, como na Revista Popular, para a escolha dos artigos.”1 Impresso em Paris, o que lhe conferia melhor qualidade gráfica, era bem mais ilustrado que a anterior. De Paris também vinha grande parte das matérias, especialmente aquelas sobre moda. Mas seu principal e um dos mais frequentes colaboradores foi o carioca Machado de Assis, que ali publicou de 60 a 70 textos, em sua maioria contos. 

A Biblioteca Nacional tem 183 edições deste periódico, todos eles disponíveis nesta Hemeroteca Digital.

Nota
 1. MELLO, Kátia Rodrigues. Jornal das Famílias e Machado de Assis: Um perfil do Periódico de Garnier e seu principal colaborador. 

Fonte
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/jornal-das-famílias

José de Alencar (Ao Correr da Pena) Rio, 18 de novembro de 1855: Folhetim-livro


(Folhetins do “Diário do Rio” – de 7 de outubro de 1855 a 25 de novembro de 1855)

Desta vez estou de verve; vou escrever um livro.

Se bem me lembro, já dei aos meus leitores um folhetim-romance, um folhetim-comédia, um folhetim em viagem, um folhetim-álbum.

Faltava-me porém dar um folhetim-livro, e por isso quero hoje realizar essa nova transformação do Proteu da imprensa.

De fato o folhetim já por si é um livro; é o livro da semana, livro de sete dias, impresso pelo tempo e encadernado pela crônica; é um dos volumes de uma obra intitulada o Ano de 1855.

Neste volume a cidade do Rio de Janeiro faz as vezes de papel de impressão, os habitantes da corte são os tipos, os dias formam as páginas e os acontecimentos servem de compositores.

Mas não  é disto que se trata, e sim do projeto gigantesco que concebi de escrever hoje um livro-folhetim.

Há de ser um livro completo, precedido de um prólogo, dividido em capítulos, e escrito com toda a gravidade de um homem predestinado a visitar a posteridade envolvido em uma capa de couro e na companhia das traças, das teias de aranha e da poeira das estantes.

Preparem-se pois os meus leitores, limpem os vidros dos óculos, tomem a sua pitada de rapé, e... aí têm o livro.

por ora é apenas o título:

LIVRO DA SEMANA

ou

História circunstanciada do que se passou de mais importante

nesta
Cidade do Rio de Janeiro

desde
O dia 11 do corrente mês, em que subiu aos ares com geral admiração, o balão aerostático até o dia de hoje 18

compreendendo
todos os acontecimentos mais notáveis 
da semana, não só a respeito de
teatros e divertimentos,
como em relação à política, às artes
e ciências

OBRA CURIOSÍSSIMA
em todos os sentidos

escrita
no ano da graça de nosso senhor Jesus Cristo
de 1855

por
UMA TESTEMUNHA OCULAR
RIO DE JANEIRO
MDCCCLV

Tipografia do Diário do
Rio de Janeiro.

Ao título segue-se a dedicatória.

Há certas obras em que a dedicatória é um simples luxo; em outras porém, como nesta, é de rigor.

Uma dedicatória deve ser simples e verdadeira.

por exemplo:

AOS MEUS RESPEITÁVEIS LEITORES.
O. D. C.

Em sinal de consideração e preguiça de escrever o folhetim de hoje.
O  AUTOR.

(Ora muito bem: quanto a título e dedicatória, estamos arranjados; passemos à terceira página, em que naturalmente deve vir o prólogo.

O prólogo é o bom dia de um escritor ao seu leitor, é o aperto de mão amigável de um sujeito que é apresentado a outro a quem não conhecia; é a cortesia do orador que cumprimenta o seu auditório antes de começar o discurso.

Vamos ver como nos saímos do prólogo: tenha o leitor a bondade de passar à outra página).

PRÓLOGO

Não é a ambição de glória que me faz dar hoje à luz este pequeno Livro da Semana, fruto de algumas horas de trabalho; é unicamente o desejo de tornar-me útil no meu país e de concorrer com um óbulo para a grande obra da nossa literatura pátria, que induziu-me a registrar os fatos importantes da semana que acabou ontem 1.

Se o público acolher bem este meu primeiro filho, talvez que animado pela sua benevolência me resolva a continuar na carreira encetada. Do contrário consolar-me-ei com a consciência de ter cumprido o meu dever.

Rio, 18 de novembro.
O AUTOR.

Depois do prólogo, o autor costuma fazer uma introdução, na qual apresenta o plano geral de sua obra, e prepara o espírito do leitor para seguir o desenvolvimento das idéias contidas na sua obra.

Passemos pois à

INTRODUÇÃO

Esta semana que acabou apresentou uma face curiosa pelo lado da insipidez.

Portanto o leitor não deve esperar uma descrição poética, nem mesmo essa variedade que encanta e deleita.

Omnis variatio delectat2.

Apenas procurarei fazer a narração fiel, não desses boatos sem fundamento que por aí correm, mas daquilo que eu próprio vi e ouvi3.

Começarei pelo começo.

Feita a introdução, passa-se ao primeiro capítulo, que é uma espécie de segunda introdução.

Alguns autores usam capítulos com sumários; outros apenas dão uma idéia geral daquilo sobre que vão tratar.

O meu autor é deste último sistema.

Eis o índice dos capítulos, que forma a 4ª página:

Cap. 1º - Em que o autor mostra por que feliz acaso lhe veio a idéia de escrever este livro.

Cap. 2º - Em que o autor, depois de refletir profundamente; resolve-se a começar pelo princípio e acabar pelo fim.

Cap. 3º - Que serve para mostrar como o domingo e a segunda-feira foram dois dias muito insípidos.

Cap. 4º - Como o autor foi ao teatro lírico terça-feira ouvir música, e voltou muito desgostoso por causa da chuva, que fez com que a casa estivesse inteiramente vazia.

Cap. 5º - No qual se contam duas viagens importantes que fez o autor esta semana, uma ao redor da baía no vapor Marques de Olinda, e outra ao redor de uma mesa de almoço ao vapor do champanha.

Cap. 6º - Em que o autor, não tendo mais nada que contar, começa a dar tratos à imaginação para descobrir alguma boa idéia e encher o resto das páginas que lhe faltam.

Cap. 7º - Como o autor, sempre à busca da sua idéia, começa a roer as unhas, indício certo de que a imaginação já vai se iluminando.

Cap. 8º - No qual o autor lembra-se finalmente que podia falar da Grua e da Charton; mas por fim resolve-se a fazer reticência.

Cap. 9º - Em que o autor trata de diversas coisas, e especialmente de encher papel.

Cap.10º - Que serve de conclusão à obra.

Agora, eu podia escrever todos estes capítulos: mas de que servia?

Todo o mundo sabe que um livro hoje em dia não é mais do que o título, o prólogo, a introdução, e o índice dos capítulos.

O leitor passa os olhos rapidamente, folheia o livro, e apenas de espaço a espaço encontra uma boa idéia, um trecho interessante.

O mais não vale a pena ler, porque reduz-se a uma meia dúzia de palavras, a uma caterva de citações.

Suponha portanto o leitor que, depois de ter lido o título, folheia o nosso livro, e lê unicamente os seguintes trechos:

Afonso Karr diz não sei onde que o elogio não tem merecimento, senão quando aquele que elogia podia dizer o contrário, e aquele que é elogiado podia consentir que se fizesse uma censura.

Eu, que não posso deixar de aceitar este preceito de mestre, que o acho muito justo e razoável, sempre que censuro é unicamente para dar valor ao elogio quando chegar a ocasião de faze-lo.

Quando censurar a Charton, é unicamente para mostrar que os elogios que lhe fizeram foram merecidos; quando fizer um reparo a respeito da Grua, é somente porque desejo ter ocasiões de lhe fazer todos os elogios.

Demais uma censura tem sua graça e seus chistes, enquanto que o elogio constante é de uma monotonia insuportável.

Quem poderia aturar um céu azul, um sol brilhante e um dia límpido e sereno, se não fosse a chuva e a temperatura de que lhe servem de contraste?

Quem admiraria as moças bonitas, se não fosse a quantidade de mulheres feias que existe neste mundo, e que se encontra a cada passo?

Quem apreciaria certas iguarias, se não fosse a pimenta, a mostarda, e o tempero de que são adubadas?

O mesmo sucede com o elogio; a censura é a pimenta que lhe dá o sainete, é a fome  que o faz saboroso, é a tempestade que quando se desfaz deixa o céu mais límpido e sereno.

Acho esta teoria tão boa que estou resolvido, pelo bem de todos, a sacrificar-me e a não elogiar a mais ninguém.

De agora em diante arrogo-me o direito de crítico, e começo a fazer censuras por conta dos elogios que já fiz e dos que possa vir a fazer.

E portanto comecemos.

Censuro em primeiro lugar os admiradores das cantoras que não admitem a menor observação, por mais delicada que seja.

Parece que a força de olharem para o sol ficaram deslumbrados, e não vêem por conseguinte aquilo que salta aos olhos.

Censuro depois as próprias cantoras, porque julgam que é, exagerando-se que hão de realçar o seu merecimento. 

Todos nós sabemos que isto nada vale; há bem pouco tempo que o céu mesmo nos deu uma lição mostrando-nos ao meio-dia uma estrela junto do sol.

O sol brilhava, mas a estrela derramava sua luz calma e serena.

Finalmente censuro-me a mim mesmo, porque não penso como os outros; e censuro ao meu leitor por não ter melhor empregado o seu tempo.

Finalmente censuro-me a mim mesmo, porque não penso como os outros; e censuro ao meu leitor por não ter melhor empregado o seu tempo.

Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Gilberto Vaz de Melo (Caderno de Poemas I)

Gilberto Vaz de Melo nasceu em Mar de Espanha - MG,(1952). Sociólogo, com formação acadêmica na Universidade Federal de Juiz de Fora, escritor, poeta e pesquisador, tem como interesses principais: pesquisas sociológicas, literatura e música (MPB). É associado do Centro de Estudos Sociológicos de Minas Gerais, membro fundador da Casa do Poeta Belmiro Braga e ocupou por vários anos uma cadeira na Academia Juiz-forana de letras, de onde saiu por questões pessoais. Tem vários livros publicados, e uma coletânea, à qual deu o nome de "Versos Intemporais". Sempre atuante na área cultural e política de Juiz de Fora, até hoje empresta seus conhecimentos e formação musical, literária e sociológica a vários segmentos culturais de nossa cidade Juiz de Fora.
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SAUDADE

Uma triste janela
Entreaberta
Aguarda a presença
Da velhinha solitária
Que,
À meia luz
Sempre contempla ...incrédula,
Como foi possível
O tempo não lhe avisar
Que passaria-lhe tão depressa !!!

DOMINGO

De guarda-chuvas na mão
O velho caminha sorridente
Por entre os transeuntes
Que não leram os jornais.

As nuvens,
Em um complô de traição
Vão se embora!

O velho, em depressão profunda,
Se recolhe
E não mais assiste televisão

ESTRADA

Às vezes também duvido
Deste sentimento incontido
Que vaza do meu coração.
Se te causa espanto
A sonoridade de meu canto,
Não fuja, te peço...
Deste amor confesso
Que nos une tanto
Apesar do carinho distante
De nossas mãos!

Se a força de nossas palavras
Nos aproxima,
E coloca nossas almas
Em um mesmo corpo,
São frases do divino
Escritas na estrada do destino
De nós dois!

SONHOS

Ainda abrigo em meu peito
A emoção do nosso primeiro beijo.
Carrego as marcas de teus desejos,
Tatuadas em minha alma,
Que seguirão meus caminhos
Onde quer que eu vá!

Não guardo mágoas desse nosso amor,
Tão pouco condeno teu cárcere.
Se atraquei meu barco
Em um mar revolto
Não posso lamentar
As consequências da tempestade.

Sonhei,
E brutalmente fui despertado
Deste sonho acordado
Que vivi ao teu lado.

DE REPENTE TANTO

Este teu amor
Me encanta tanto
No mesmo tanto
Que a outros já encantou.

Desperta-me saudades tantas
No mesmo tanto
Que em outros corações já despertou.

Este nosso amor repentino
De juras secretas,
Cenas incertas,
Se repete no mesmo tanto
Tantas outras noites tantas...
De tantos desejos,
Ao certo
Que teu corpo absorveu!

Falo do meu sentimento tanto,
Um tanto ainda sem tamanho
Esperando o tanto necessário,
Que me abrigue de verdade
No espaço tanto
De dimensão exata
Onde caiba somente o meu tanto
Em teu coração.

DISTÂNCIA

Como quero acariciar teu rosto!
Com minha língua, esculpir teus seios
E no mais demorado dos abraços
Penetrar meu coração dentro de teu peito.

Tocar tua pele morena
Com minhas mãos em traço de pena
Tatuar minha alma em teu ventre materno.
Este aconchego eterno,
Sempre a espera
Do amor mais distante!

Como dói suportar tua ausência...
Esta saudade que se apresenta
Com odor de essência de momentos guardados
Para viver ao teu lado.

Como quero fazer verdade
A insignificância da maldade
Que é ter que me contentar
Tão somente com o teu retrato.

TEMPORAIS

Sobrevivi às tempestades...
Ao céu escuro de todas as bocas
Que um dia à minha mesa apresentaram-se
E saborearam de minhas inocentes palavras.

Sobrevivi aos tornados,
Aos furacões impiedosos
Que cruzaram minha estrada,
Empoeiraram minha visão e
Cegaram-me temporariamente
Para que eu não presenciasse
O tenebroso sorriso da falsidade.

Sobrevivi ao naufrágio
Em meu mar de lágrimas
Que por tantas noites
Inundaram meu travesseiro,
Meu amigo derradeiro,
Que me abraçava por inteiro
Tentando escutar-me.

Sobrevivi: e a ninguém cobro nada...
Fui filho da tempestade
E hoje o sol é minha cara-metade
Que iluminou meus passos
Na escuridão das sombras
Que me acompanhavam.

MAR DE GUARAPARI

Pobre mar que me assusta tanto
Quando aproximo-me de você.
E o grito feroz de suas ondas
Se cala na praia
Fulminadas por simples grãos de areia.
Pobre mar de Guarapari
Que me causa temor,
Quando à noite ponho-me a te contemplar...
E no silêncio infinito percebo
A indefesa força do homem.
Pobre mar...
Que oculta segredos e vidas distantes.
Pobre mar que me assusta tanto... tanto...
Mas nem tanto, pobre mar
Quanto a pequenos traços de água,
De idêntico sabor
Que correm pelas faces de uma determinada mulher.

ESPUMA

Quando penso
Em saborear o último gole de minha cerveja,
Inesperadamente
Me vem a lembrança de você,
E meus lábios na ânsia de seu sabor
Se molham na pronúncia de seu nome.
Mais uma vez,
Retorno ao primeiro copo...
E assim despercebidamente,
Minha saudade vai mergulhando
Na espuma amarga
De mais um inesperado porre.
Fontes:
Antonio Manoel Abreu Sardenberg.Poesias de Amigos.
http://www.sardenbergpoesias.com.br/poesias_amigos.htm
Gilberto Vaz de Melo
http://www.versosintemporais.com/apresentacao.htm

J. G. de Araújo Jorge ("Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou") Parte 14

Carlos Porto Carreiro

(Carlos da Costa Ferreira Porto Carreiro)
(Recife/PE,24 setembro 1865 – Rio de Janeiro/GB, 11 janeiro 1932)

" CINZAS "


Cinzas... Poeira que ardeu, que arrefece e que esfria...
Cinzas... Que em tênue bloco um milagre sustenta,
e o vento desmorona e rola em tropelia
e anônimas desfaz na terra pardacenta...

Restos do que brilhou da vida na tormenta:
cinzas, que sois como eu, labareda vazia,
guardais no corpo inane do que ardia,
mas no âmago gelado a morte se apascenta.

Cinzas... Nesse conjunto em que esta alma se espelha
vejo a ruína do fogo, a escória da centelha
o cadáver da luz que o vento leva a esmo.

E eu, neste coração que em cinzas se esboroa,
- cinzas das ilusões - sinto levado, à toa,
o cadáver do amor que jaz dentro de mim mesmo...
–––––––––-
Carmen Cinira
(Cinira do Carmo Bordini Cardoso)
(Rio de Janeiro/GB, 16 julho 1905 – Rio de Janeiro/GB, 30 agosto 1933)

" DESASSOMBRAMENTO "


Que me aguarde, por pena, o mais triste dos fados,
e clamores hostis me sigam pela vida,
que floresçam vulcões nos montes sossegados
e trema de revolta a Terra adormecida . . .

Que se ergam contra mim os seres indignados
como um quadro dantesco em fúria desmedida,
e que, na própria altura, os astros deslocados
rolem numa sinistra e tremenda descida . . .

Hei de ser tua um dia e ofertar-te, sem pejo,
vibrante, ébria de amor, à chama de teu beijo,
esta alma virginal que há tanto assim te espera . . .

E então hei de sentir vaidosa, intensamente,
desabrochar em mim, num delírio crescente,
o instinto de mulher em ânsias de pantera!
HOLOCAUSTO

Punge-me uma ânsia sobrenatural,
ânsia de Perfeição e de Impossível
de quem tenta galgar o próprio ideal,
uma grande montanha inacessível...

Baldado esforço! Luta desigual!
- pois esquecendo tão mesquinho nível
tenho em meus pobres olhos de mortal
visões de um deus romântico e invencível. . .

Sonho, loucura ou não, dele me ufano!
Entanto, porque és frágil e és humano
tu, que eu amo, com cego, imenso ardor,

porque sem ti todo o universo é nada,
- eu sou como uma escrava revoltada
da gloriosa mentira deste amor!

INCANSÁVEL

Velho sonho de amor que me fascina,
causa das mágoas que me têm pungido
e que, entanto, conservo na retina
como a fonte dum bem inatingido...

Flama velada, cântico em surdina
de um'alma triste, um coração ferido,
nem pode haver linguagem que defina
o que eu tenho, em silêncio, padecido!

Mas, ainda que mal recompensado
meu amor há de sempre desculpar-te
humilde, carinhoso, devotado. . .

Bendito seja o dia em que te vi,
pois não há maior glória do que amar-te
nem melhor gozo que sofrer por ti!
=================
Carvalho Júnior
(Francisco Antonio Carvalho Júnior)
(Rio de Janeiro/GB, 11 março 1855 – Rio de Janeiro/GB, 3 maio 1879)

" NÊMESIS "


Há nesse olhar translúcido e magnético
a mágica atração de um precipício;
bem como no teu rir nervoso cético,
as argentinas vibrações do vício.

No andar, no gesto mórbido spleenético
tens não sei quê de nobre e de patrício,
e um som de voz metálico, frenético,
como o tinir dos ferros de um suplício.

És o arcanjo funesto do pecado,
e de teu lábio morno, avermelhado,
como um vampiro lúbrico, infernal,

sugo o veneno amargo da ironia,
o satânico fel da hipocondria
numa volúpia estranha e sensual.
===============

Cassiano Ricardo

(Cassiano Ricardo Leite)
(São José dos Campos/SP, 26 julho 1895 – Rio de Janeiro/RJ, 14 janeiro 1974)

" SONETO DA AUSENTE "


É impossível que, na furtiva claridade,
que te visita sem estrela nem lua
não percebas o reflexo da lâmpada
com que te procuro pelas ruas da noite.

É impossível que, quando choras, não vejas
que uma das tuas lágrimas é minha.
É impossível que com o teu corpo de água jovem,
não adivinhes toda a minha sede.

É impossível não sintas que a rosa
desfolhada a teus pés, ainda há um minuto,
foi jogada por mim com a mão do vento.

É impossível não saibas que o pássaro,
caído em teu quarto por um vão da janela,
era um recado do meu pensamento.
Fonte:
– J.G . de Araujo Jorge . "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou". 1a ed. 1963

Haroldo Pereira Barboza (O Outro Lado do Natal)

Medalha de Bronze do II Concurso Oliveira Caruso

No rastro da estrela-guia
A noturna bala perdida
Ceifou mais uma vida.
Sonhou com o presente
Pedido a Papai Noel
Não ganhou nem o papel.
Dormiu tendo fé
Pela manhã sua meia
Só continha chulé.
Na vitrine, farta beleza
Dentro do barraco
“Farta” comida na mesa.
Quando ralou o joelho
Lembrou de Papai Noel
Manchado de vermelho.
Bochecha dourada e cheia
Na face do pobre menino
Ilusão do enfeite natalino.
A hipocrisia fere Papai Noel
O vermelho tinge sua roupagem
Mas não macula sua imagem.
Debaixo do pinheiro enfeitado
Deitou e tirou um soninho
Ganhou dejetos do passarinho.
Rasgou o saco vermelho
Imaginando o que iria ganhar
Só encontrou lixo hospitalar.
Fonte:
Comendador Oliveira Caruso.
http://reinodosconcursos.com/?page_id=220

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 779)

Uma Trova de Ademar  

O mar rendeu-se as tocaias
dos sussurros ofegantes,
vindos à noite, das praias,
nos gemidos dos amantes.

–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional

Quanto mais vivo, mais creio,
pelo que vejo na vida,
que só o amor conhece o meio
de curar alma ferida!

–Amilton Maciel/SP–

Uma Trova Potiguar


Que ironia tem a rima
na ponte que o rio cobre:
O carro do rico em cima,
em baixo a casa do pobre!!!

–Luiz Dutra Borges/RN–

Uma Trova Premiada

2012 - Cantagalo/RJ
Tema: ESPAÇO - 10º Lugar


Um casebre na favela...
o espaço ganhou fulgor,
quando alguém pôs na janela
um simples vaso de flor!

–Vanda Fagundes Queiroz/PR–

...E Suas Trovas Ficaram


Saudade, coisinha atoa
com que tanto me comovo,
lembrança de coisa boa
que se deseja de novo.

–Vicente Guimarães/RJ–

U m a P o e s i a


Não existe outra saída
do além não vem endereço,
por isso é que pela vida
todos têm um grande apreço;
mas pra quem vive na fé
vê que a morte é um recomeço.
Hélio Pedro/RN–

Soneto do Dia

ESTRELA DA MANHÃ.
–Hegel Pontes/MG–


Estrela da manhã que resplandece
no céu espiritual de minha vida,
vislumbro em seu olhar a mesma prece
que envolve ao longe a solitária ermida.

Brilha no azul. Porém quando escurece,
não passa de uma lágrima perdida
na imensidão da noite que aparece,
de estrelas fulgurantes, revestida.

E, levando meus sonhos noite afora,
eu posso vê-la ainda ao sol nascente,
quando as estrelas todas vão embora.

Pois só você, estrela entristecida,
não tem repouso e brilha suavemente
no céu espiritual de minha vida.

Nilto Maciel (Mestre Moreira Campos)

Estive com Moreira Campos em duas ocasiões, apenas. Apesar disso, desde antes do primeiro encontro já sentia por ele grande amizade e, acredito, ele me dedicava o mesmo sentimento.

Não lembro quando o li pela primeira vez. Possivelmente por volta de 1964, quando passei a ler suplementos literários de jornais de Fortaleza. Nesse tempo pontificavam nas Letras cearenses os nomes de Artur Eduardo Benevides, Braga Montenegro, Eduardo Campos, Francisco Carvalho, Fran Martins, Jáder de Carvalho, João Clímaco Bezerra, Milton Dias e outros. O nosso Moreira Campos estreara em livro, com o elogiadíssimo Vidas Marginais, em 1949. Contava 35 anos de idade. Não tinha nenhuma pressa em se mostrar ao público e à crítica. Escrevia e reescrevia, como outro ilustre contista, o mineiro Murilo Rubião. E ao final de sua longa vida havia publicado apenas 137 contos.

Até 1964, Moreira Campos havia publicado apenas três livros, porém já figurava como um dos melhores contistas cearenses. Na apresentação de Uma Antologia do Conto Cearense, de 1965, Braga Montenegro dizia: “Os contistas de maior renome do atual momento da literatura do Ceará são Eduardo Campos e Moreira Campos.”

Somente em 1978 adquiri e li Os Doze Parafusos e Contos Escolhidos. Anos depois, quando já nos correspondíamos, ele me ofertou outra seleção de seus contos, intitulada Dizem que os Cães Veem Coisas. E é de maneira carinhosa que afirma a sua amizade por mim: “Para Nilto Maciel, mestre do mesmo ofício, com a velha admiração e o abraço fraterno do Moreira Campos. Fortaleza, 6/XII/87." Pode parecer cabotinismo de minha parte o transcrever essas palavras. Porém, minha intenção é tão-somente falar dessa amizade dele por mim. Pois apenas uma grande amizade faria um mestre tratar assim um aprendiz.

Na verdade, ainda não nos conhecíamos pessoalmente, embora mantivéssemos correspondência havia algum tempo. Em 1982 enviei-lhe carta e exemplar de um de meus livros. É de 12/12/82 a sua primeira carta, que assim começa: “Recebi A Guerra da Donzela, que li numa tarde, entusi­asmado com a sua linguagem, e estrutura, suprarealista. Já o conhecia de Tempos de Mula Preta...” Não transcrevo a carta toda, porque aqui não quero falar de mim, mas dele.

Noutra missiva, de 11/2/83, ele anuncia uma viagem ao Rio, a São Paulo e a Brasília, “onde gostaria muito de encontrar-me com você.” E dias depois ele me visitou. Apresentou-se, embora já conhecesse de fotografias o seu rosto. Falou-me da viagem e de livros. Foram apenas alguns minutos de conversa.

Voltamos às correspondências alguns anos depois. E não sei explicar o motivo desse silêncio tão prolongado. Em 6/3/87 acusou o recebimento do meu Punhalzinho Cravado de Ódio. Comentou-o, elogiou-o. E anunciou a próxima edição do seu Dizem que os Cães Veem Coisas. É de 16/7/87 outra carta. Refere-se ao meu Estaca Zero.

Outro período de silêncio, e somente em 1992 voltou a me escrever. Desta vez para opinar sobre o tema “Ler ou não ler”, para a edição nº 3 da revista "Literatura". E lá está seu desabafo: “Sou hoje um desiludido com a literatura, embora a minha crença no seu valor perene.” E não poderia ser outro o seu sentimento, pois, sendo um contista maravilhoso, nenhuma grande editora se interessava pela publicação de sua obra.

A segunda vez em que nos vimos foi no dia da morte de meu pai, em 10/1/88. E mais uma vez ficava demonstrada a sua amizade por mim. Não quero me queixar de outros amigos, por não terem comparecido ao velório e sepultamento de meu genitor. Quero tão-somente lembrar o gesto amável de Moreira Campos. E a sua preocupação em me consolar.

Outra grande virtude dele era a modéstia. Pois, apesar de citado e estudado em diversos livros; apesar de traduzido para o alemão, o inglês, o francês, o italiano e o hebraico; apesar de ser um dos melhores contistas brasileiros do século XX; apesar disso tudo, não buscava elogios e tratava os mais novos como seus companheiros de ofício. Não se julgava mestre e não chamava os mais novos de aprendizes. Como se estivesse ele mesmo em contínuo aprendizado, lendo as novidades, comentando livros novos, sem nunca deixar de lembrar os grandes mentores do conto.

Sua última carta a mim é de 10/3/93. Nela anuncia a publicação de um livro seu de contos pela editora Siciliano. A seguir veio a doença. Amigos me falavam de seu estado de saúde. E das homenagens que a ele se preparavam no Ceará, por ocasião de seu 80º aniversário. Como a edição da dissertação acadêmica Moreira Campos, a Escritura da Ordem e da Desordem, do professor José Batista de Lima.

Em 7/5/94 José Maria Moreira Campos nos deixou.

Fonte:
http://www.niltomaciel.net.br/node/201

Mitos e Lendas (A Onça e a Chuva )

A onça e a chuva estavam discutindo. Cada uma delas achava que os homens tinham mais medo de uma que da outra. Dizia a onça:

— É de mim que os homens tem medo. Vá perto daquela cabana onde estão aqueles homens na porta e veja como eles têm medo.

A chuva foi e ficou esperando. A onça veio, berrando e os homens disseram:

— Uma onça. Amanhã vamos flechá-la e eu tirarei o couro para minha escarcela - E nem ligaram.

A onça foi encontrar-se de novo com a chuva e esta lhe disse o que ouvira. Depois acrescentou:

— Mas de mim eles têm medo. Quer ver? Vá lá e escute.

A onça foi, sentou perto da cabana e ficou ouvindo. Aí, a chuva veio chegando. E os homens, levantando-se para se recolher e disseram:

— Vamos fugir, que a chuva vem vindo.

E a onça viu que os homens têm mais medo da chuva do que da onça. E assim é até hoje. Eles atacam a onça, mas fogem da chuva.

Fonte:
Colhido por Jerônimo B. Monteiro e publicado em sua coluna Lendas, mitos e crendices
Jangada Brasil. Setembro 2010 - Ano XII - nº 140. Edição Especial de Aniversário