domingo, 14 de julho de 2013

IX Concurso de Trovas da UBT-Maranguape 2013 (Resultado Final) 4a.Parte, final

TROVADORES DO ESTADO DO CEARÁ

TEMA: PROFESSOR (A, AS, ES)
[L/F]

VENCEDORES

1º. Lugar:

Ser professor é missão,
de relevo, de suporte.
quem abraça a profissão,
tem que abraçá-la bem forte.
HORTÊNCIO PESSOA
Fortaleza/CE

2º. Lugar:

É fato que a educação
faz um povo promissor
que o futuro da nação
devemos ao professor.
Abelardo Nogueira
ARACOIABA/CE

3º. Lugar:

Ensinar é dom sublime
que requer saber e amor;
o que muito bem exprime
a lide do Professor!
NEMÉSIO PRATA CRISÓSTOMO
Fortaleza/CE

4º. Lugar:

Ser Professor é bem mais
que profissão ou negócio,
seus dias são quase iguais
ao mais santo sacerdócio.
DEUSDEDIT ROCHA
Fortaleza/CE

5º. Lugar:

Um correto professor
Conduz no peito a missão
De construir com amor
Pilares de educação.
ANA MARIA DO NASCIMENTO
Aracoiaba/CE

MENÇÕES HONROSAS

6º. Lugar:

O professor merecia
Ser melhor remunerado,
Com certeza abraçaria
Melhor seu dever sagrado.
RAIMUNDO RODRIGUES DE ARAÚJO
UBT-Maranguape/CE

7º. Lugar:

A criança tudo aprende
se ensinada com amor
e desta missão depende
do bom mestre,o professor.
MARIA ALZENIRA RODRIGUES
Morada Nova/CE

8º. Lugar:

Ter respeito ao professor
é dever do cidadão
que vê nele seu valor
no progresso da nação
JOÃO OSVALDO SOARES (VAVAL)
UBT-Maranguape/CE

9º. Lugar:

Mestre de grande saber
Levando a letra diária,
És a luz que faz crescer,
Tens a força lapidária.
SONIA NOGUEIRA
Fortaleza/CE

10º. Lugar:

O professor merecia
Ser melhor remunerado,
Com certeza abraçaria
Melhor seu dever sagrado.
RAIMUNDO RODRIGUES DE ARAÚJO
UBT-Maranguape/CE

MENÇÕES ESPECIAIS

11º. Lugar:

Tenho várias profissões
Em uma só, com louvor!
Eu alicerço as nações;
Me chamam de professor.
ENEILTON MOREIRA DUARTE.
Juazeiro do Norte/CE

12º. Lugar:

Ensinar é aprender
Como também educar
Professor é o saber
Tem poder de transformar
JOSÉ AUREISON CORDEIRO DE ABREU
UBT-Maranguape/CE

13º. Lugar:

Professor é divindade,
Que emana conhecimento.
Depende a humanidade,
Do seu reconhecimento.
ARTEMIZA CORREIA
Ocara/CE

14º. Lugar:

A reflexão sempre cabe
De Sócrates, professor:
“Sabe o sábio que não sabe”...
anotem aí, por favor!
GLICE SALES ALCÂNTARA
ACLA-UBT-Maranguape/CE

15º. Lugar:

É grandiosa a missão
De ser um bom professor;
Bendito este cidadão,
Que se derrama em amor!
MARIA P. S. FREITAS ALENCAR
Fortaleza/CE

MENÇÕES ESPECIAIS

16º. Lugar:

Se foi destino não sei
Se foi a chama do amor,
Mas tudo que conquistei
Devo a você, professor.
GLICE SALES ALCÂNTARA
ACLA-UBT-Maranguape/CE

ÂMBITO: NACIONAL E INTERNACIONAL

TEMA: SAMBA
(Trovas humorísticas)

VENCEDORES


1º. Lugar:

Rebolado da “fogosa”
que tem o samba no pé,
deixa Maria nervosa,
pois ninguém segura o Zé!
GLÓRIA TABET
São José dos Campos/SP

2º. Lugar:

Gordinha, a minha vizinha
quando samba é uma piada,
se torcendo na fitinha
que não tapa quase nada!!!
GIOVANELLI.
Nova Friburgo/Rio de Janeiro.!

3º. Lugar:

Num samba, com seu ‘’pandeiro”,
Dona Chica, uma escultura,
fez o pobre sanfoneiro,
esquecer a partitura.
FABIANO DE CRISTO MAGALHÃES WANDERLEY
Natal/RN.

4º. Lugar:

Ficar quieta não consigo
num batuque bem ‘caliente’:
o samba mexe comigo
qual pipoca em óleo quente!
MARIA IGNEZ PEREIRA
Moji Guaçu/SP!

5º. Lugar:

No carnaval o sujeito,
no samba, pisou na lata,
caiu e bateu de jeito
no traseiro da mulata!...
MARISA RODRIGUES FONTALVA
São Paulo/SP.

MENÇÕES HONROSAS

6º. Lugar:

Com o aval do maridinho
no samba ela se esbaldou;
Mas num canto sentadinho
foi ele quem mais “dançou”.
ALMERINDA F. LIPORAGE
Copacabana/RJ!

7º. Lugar:

No samba, queixou-se a Inês,
do abuso de um mascarado,
o levaram pro xadrez
-era o próprio delegado!!!
ALBA HELENA CORRÊA
Niterói/RJ.

8º. Lugar:

Quando a cabrocha aparece
descendo o morro sambando,
o povaréu enlouquece,
cai no SAMBA rebolando!
MYRTHES MAZZA MASIERO
São José dos Campos/SP.

9º. Lugar:

No samba quer ser artista
fez plástica exagerada,
sem silicone a sambista
virou uma des... peitada!
DIRCE MONTECHIARI
Nova Friburgo/RJ

10º. Lugar:

Aumenta a taquicardia
e o perigo de enfartar:
é que o samba da Maria
faz meu coração sambar.
DULCÍDIO DE BARROS MOREIRA SOBRINHO
Juiz de Fora/MG.

MENÇÕES ESPECIAIS

11º. Lugar:

Ter uma sogra sambista
que vive a mostrar que é bamba,
é sofrer com tal artista
que me xinga até no samba!
ABILIO KAC
Gávea/RJ

12º. Lugar:

Num minúsculo vestido,
samba e a galera faz festa
e Cornélio, seu marido
“dança” enquanto coça a testa!
ÈLBEA PRISCILA DE SOUSA E SILVA
Caçapava-SP

13º. Lugar:

Coitada, pobre da gringa,
Quis sambar na passarela,
Tropeçou na própria ginga
E a ginga tropeçou nela.
LUIZ POETA
Rio de Janeiro/RJ

14º. Lugar:

Tantos casais espremidos,
no samba deu confusão...
Faltou luz...mas não gemidos
no meio da escuridão!
EDMAR JAPIASSÚ MAIA
Nova Friburgo-RJ

15º. Lugar:

Só andava em roda de bamba,
disso a esposa, se cansou,
e foi com outro pro samba,
e o bamba, por fim, dançou...
CAMPOS SALES
São Paulo/SP.

DESTAQUES

16º. Lugar:

Volta do samba invocado
e a sua mulher reclama:
- Nem vendo o meu rebolado
o Juca despe o pijama!
ELEN DE NOVAIS FELIX
Niterói/RJ!

17º. Lugar:
“Boas praças”; “Gente bamba”;
curtem juntos uma praia!
Mas, quando ele sai no Samba...
ela cai... é na gandaia!!!
MARIA MADALENA FERREIRA
Magé/RJ

18º. Lugar:

No calor de um “samba a três”,
com mulatas de arrasar,
foi que o turista francês
descobriu que “é bom suar”!
ARLINDO TADEU HAGEN
Belo Horizonte/MG

19º. Lugar:

Nos terreiros, ele é um bamba,
mas a muitos já enganou...
Preso na Escola de Samba,
em vez de sambar, “dançou”!
RENATO ALVES
Rio de Janeiro/RJ

20º. Lugar:

Querendo passar por bamba
lá no Arraial do Bacana,
meu amigo levou “samba”...
por pouco, não leva “cana”.
DARI PEREIRA
Maringá/PR
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ÂMBITO: ESTADUAL

TEMA: VERSO
LÍRICA/FILOSÓFICA

VENCEDORES


1º. Lugar:

No tecido do universo
tendo por agulha a Cruz
Deus bordou um lindo verso
de amor chamado... Jesus!
NEMÉSIO PRATA CRISÓSTOMO
Fortaleza/CE

2º. Lugar:

É tão imensa a bondade
do Criador do Universo,
que faz a grande saudade,
caber inteira em meu verso.
HORTÊNCIO PESSOA
Fortaleza/CE

3º. Lugar:

Fiz versos que se perderam,
levados pelo destino.
E, muitos adormeceram,
nos meus sonhos de menino.
HORTÊNCIO PESSOA
Fortaleza/CE.

4º. Lugar:

A verdade tem guarida
Nestes versos de suporte:
o verso da nossa vida
É o inverso da nossa morte!
ENEILTON MOREIRA DUARTE.
Juazeiro do Norte/CE

5º. Lugar:

É na beleza de um verso
surgido do coração
que todo nosso universo
Vê o dom da inspiração.
ANA MARIA NASCIMENTO
Aracoiaba/CE.

MENÇÕES HONROSAS

6º. Lugar:

Se em pensamento disperso
tua inspiração vagueia,
não permitas que teu VERSO
vá-se embora em volta e meia.
DEUSDEDIT ROCHA
Fortaleza/CE

7º. Lugar:

Fazer versos com certeza
Só me dá satisfação
neles falo da beleza
que brota do coração.
JOÃO OSVALDO SOARES (VAVAL).
UBT-Maranguape/CE

8º. Lugar:

Estes VERSOS que componho
e a ti sempre dediquei
fazem parte do meu sonho
do qual não desistirei.
DEUSDEDIT ROCHA
Fortaleza/CE

9º. Lugar:
Minha vida é um poema
bem tristonho, amargurado;
desenvolvi todo o tema
com versos de-pé-quebrado!
ENEILTON MOREIRA DUARTE.
Juazeiro do Norte/CE

10º. Lugar:

No verso eu digo o que sinto,
tenho prazer em dizer
digo a verdade, não minto
fazer verso é meu prazer.
RAIMUNDO RODRIGUES DE ARAÚJO
Maranguape/CE.

MENÇÕES ESPECIAIS

11º. Lugar:

No verso eu canto a saudade
canto a dor, conto alegria
a velhice, a mocidade
tudo em fim, é poesia.
RAIMUNDO RODRIGUES DE ARAÚJO
Maranguape/CE

12º. Lugar:

Depois de ver meu amor
perdido na imensidão,
escrevi versos de dor
brotados do coração.
ANA MARIA NASCIMENTO
Aracoiaba/CE.

13º. Lugar:

O verso é da poesia
poesia é espiritual
é um mundo de magia
de expressão sentimental.
JOSÉ AUREISON CORDEIRO DE ABREU
Maranguape/CE

14º. Lugar:

No meu verso te revejo,
em cada letra um pulsar,
e nos sonhos o desejo,
de não mais em ti pensar.
SONIA NOGUEIRA
Fortaleza/CE.

15º. Lugar:

Faz o verso o trovador
por razões que lhe convém
não é por falta de amor
mas por amar o que tem.
ABELARDO NOGUEIRA
Aracoiaba/CE

MENÇÕES ESPECIAIS

16º. Lugar:

Admiro o trovador,
que decanta o universo;
imprimindo seu amor
neste tão singelo verso.
ARTEMIZA CORREIA
Ocara/CE

17º. Lugar:

Neste verso retorcido,
escrito com muito amor,
há um poema escondido
se contorcendo de dor.
MARIA VÂNIA F. DE ALENCAR CARVALHO FROTA
Fortaleza/CE

18º. Lugar:

Inspiração Deus me deu.
e mão p’ra eu escrever,
versos, coisa do meu “EU”
Alegrando meu viver.
OLGA ROSÁLIA SILVA PEDROSA
Fortaleza/CE

19º. Lugar:

Seja-lhe a vida a favor,
ou o seu viver adverso,
regala-se o Trovador
na lide de fazer verso!
NEMÉSIO PRATA CRISÓSTOMO
Fortaleza/CE

20º. Lugar:

Onde não parece ter
é de lá que o verso sai
onde não possa caber
é pra lá que ele vai..
ABELARDO NOGUEIRA
Aracoiaba/CE
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ÂMBITO: ESTADUAL

TEMA: MÃO

HUMORÍSTICA

VENCEDORES

1º. Lugar:
A mulher quando se coça,
rebolando no salão,
eu não faço vista grossa...
vou logo passando a mão.
HORTÊNCIO PESSOA
Fortaleza/CE

2º. Lugar:

A mão boba é buliçosa
reclama alguém com razão
que mãozinha tão teimosa
tem calma, sossega - mão...
RAIMUNDO RODRIGUES DE ARAÚJO
UBT-Maranguape/CE

3º. Lugar:

A mão direita reclama
da falta que faz um dedo
aquele que se proclama...
não vou dizer é segredo.
RAIMUNDO RODRIGUES DE ARAÚJO
UBT-Maranguape/CE

4º. Lugar:

A motorista, "barbeira",
lembrou-se, já no "Frotão",
que esqueceu-se, na ladeira,
de usar o freio de mão!
NEMÉSIO PRATA CRISÓSTOMO
Fortaleza/CE

5º. Lugar:

Peguei a mão de Marisa
ouvi sua vó dizer:
Sujeito da cara lisa
o que você quer fazer?
ABELARDO NOGUEIRA
Aracoiaba/CE

MENÇÕES HONROSAS

6º. Lugar:

Quando a mão boba escorrega,
querendo te dar um traço...
Não a culpe... É que ela é cega,
não tá vendo o que eu amasso.
HORTÊNCIO PESSOA
Fortaleza/CE

7º. Lugar:

Nos bailes não dava trela,
e a todos dizia não;
mas no fim foi a donzela
quem "dançou": ficou na mão!
NEMÉSIO PRATA CRISÓSTOMO
Fortaleza/CE

8º. Lugar:

Distante da companheira,
pra quem se mostra machão
já vi cara de primeira
afeito a quebrar  a mão.
ANA MARIA NASCIMENTO
Aracoiaba/CE

9º. Lugar:

Te pedi uma “mãozinha”,
devido a situação,
e como não és mesquinha,
me deste uma mão-de-pão.
ENEILTON MOREIRA DUARTE
Juazeiro do Norte/CE

10º. Lugar:

Quem bota mão em buraco
pensando tirar proveito
pode até gerar barraco
e perder todo respeito.
ANA MARIA NASCIMENTO
Aracoiaba/CE

MENÇÕES ESPECIAIS

11º. Lugar:

Tem mil e uma utilidades
um sem numero de ação
com meiguice ou com maldade
sempre está presente a mão.
JOSÉ AUREISON CORDEIRO DE ABREU
MARANGUAPE/CE

12º. Lugar:

Uma mão boba roçava
ombro nu, desprotegido.
Uma voz fina falava,
eu sou um barato atrevido.
SONIA NOGUEIRA
Fortaleza/CE

13º. Lugar:

Caro amigo meu irmão
é bem longe o nosso céu
cuidado com sua mão
se não vai pro beleléu.
JOÃO OSVALDO SOARES (VAVAL)
UBT-Maranguape/CE

14º. Lugar:

Dê-me sua mão, Estela,
Que eu só conheço de olhar.
- Qu’ocê vai fazer com ela?
- Nada, nada só pegar.
GLICE SALES ALCÂNTARA
UBT-Maranguape/CE

15º. Lugar:

Quando o noivo ao pai pediu
a mão da filha Mazé
o papagaio sorriu
- “A mim só pedem o pé!”
GLICE SALES ALCÂNTARA
UBT-Maranguape/CE

MENÇÕES ESPECIAIS

16º. Lugar:

O casal de namorado
ela alta e ele baixo
depois de um longo beijado
a mão dele foi lá embaixo
ANTÔNIO ANDRADE
UBT-Maranguape/CE

17º. Lugar:

Fui pegada bem de jeito...
para dançar o baião.
Nem olhei para o sujeito...
mas, reconheci a mão.
OLGA ROSÁLIA SILVA PEDROSA
Fortaleza/CE

18º. Lugar:

No mais atrevido tato
sempre presente na mão
onde ele vai é um barato
provocando sensação.
JOSÉ AUREISON CORDEIRO DE ABREU
Maranguape/CE

Fonte:
UBT-Maranguape

Aluísio Azevedo (O Coruja) Parte 7

Dentre toda essa bela existência só uma coisa o contrariava sem que todavia deixasse o Coruja transparecer o menor desgosto contra isso: — Era a teimosa perseguição que lhe fazia D. Geminiana. A rezingueira senhora achava sempre um mau gesto ou uma palavra dura para lhe antepor aos atos mais singelos. Manifestou-se-lhe logo a impertinência a propósito da flauta do rapaz. André, coitado, não desmentia o mestre que lhe dera o acaso, e D. Geminiana, uma noite em que conversava com o noivo, depois de ouvir por algum tempo o fiel discípulo do Caixa-d’óculos arrancar do criminoso instrumento certas melodias bastante equivocas, foi ter com ele, sacou-lhe vivamente das mãos o corpo de delito e, atirando com este para cima de um canapé, tornou ao lado de Hipólito, sem dar uma palavra ao delinqüente, rico, porém, de gestos e caretas muito expressivas.

O homem das barbas ruivas e cabelo preto observou tudo isso em silêncio, contentando-se apenas com sacudir a cabeça e apertar os beiços em sinal de aprovação.

Coruja, quando os noivos mergulharam de novo no seu colóquio, retomou sorrateiramente a flauta e fugiu com ela para um caramanchão de maracujás, que havia a alguns passos da casa. Supunha que daí não seria ouvido pela ríspida senhora; mas, no dia seguinte, procurando o instrumento não o encontrou em parte alguma.

— Minha flauta?... Perguntou ele a D. Geminiana.

— Está guardada! Disse essa secamente. Só lha restituirei quando o senhor voltar para o colégio.

Coruja resignou-se, sem um gesto de contrariedade e não falou a ninguém sobre esse incidente, nem mesmo ao amigo. Com efeito, só tornou a ver sua querida flauta ao terminar das férias, quando se dispunham, ele e Teobaldo, a voltar para o internato do Dr. Mosquito.

O barão foi levá-los em pessoa ao colégio, e Santa, chorando pelo filho, despedira-se do Coruja, dizendo-lhe:

— Continue a ser amigo de Teobaldo e nós faremos com que você passe aqui as férias do ano que vem.

CAPÍTULO IX

Com o correr do seguinte ano, a dedicação do Coruja pelo amigo parecia crescer de instante para instante. Uma leoa não defenderia os seus cachorros com mais amor e mais zelos.

Já não se contentava André com resguardá-lo das ameaças e malquerenças dos colegas, como exigia também de todos que lhe rendessem a mesma estima e o mesmo respeito, que lhe tributava ele.

Teobaldo, vadio como era por natureza, quase nunca estudava as lições, e quando não lhe valiam os recursos do seu "proverbial talento" ou da sua astúcia, tinha de copiá-las quatro, cinco ou seis vezes, conforme fosse o castigo. Então se revoltava e queria protestar contra a sentença dos mestres, mas o Coruja puxava-lhe  a ponta do casaco e dizia-lhe baixinho:

— Não te importes, não te importes, que eu me encarrego de tudo...

E, com efeito, mal chegava a hora do recreio, enterrava-se André no quarto de estudo e, imitando a letra do amigo, aprontava as cópias; feliz com aquele trabalho, como se o descanso do outro fosse o seu melhor prazer. Muita vez perdeu com isso grande parte da noite, e no dia seguinte ainda encontrava tempo para tirar os significados da lição do amigo, para resolver-lhe os problemas de álgebra e fazer-lhe os temas de latim.

Uma vez, em que o Coruja se apresentou nas aulas sem haver preparado as próprias lições, o professor exclamou com surpresa.

— Oh! Pois o senhor, seu André, pois o senhor não traz a sua lição sabida!... Então que diabo fez durante o tempo de estudo o senhor que não larga os livros?...

Entretanto, o outro Teobaldo, estava perfeitamente preparado. Esta dedicação fanática de Coruja pelo amigo crescia com o desenvolvimento de ambos; mas em Teobaldo a graça, o espírito e a sagacidade eram o que mais florescia; enquanto que no outro eram os músculos, o bom senso, a força de vontade e o férreo e inquebrantável amor pelo trabalho.

Agora, o pequeno do padre já emitia opinião sobre várias coisas, já conversava; tudo isso, porém, era só com o seu amigo íntimo, com o seu Teobaldo. Parecia até que, à proporção que abria o coração para este, mais o fechava para os estranhos.

Quando terminou o ano, o filho do barão havia crescido meio palmo e o Coruja engrossado outro tanto; aquele se fizera ainda mais esbelto, mais distinto e mais formoso; este ainda mais pesado, mais insociável e mais feio. Afinal, assim tão completados, formavam entre os seus companheiros uma força irresistível. Teobaldo era a palavra cintilante e ferina, era a temeridade e o arrojo; o outro era o braço em ação, a força e o peso do músculo. Um provocava e o outro resistia.

Um era o florete aristocrático, fino e aguçado, que só tem a serventia de palitar os dentes do orgulho; o outro era o malho grosseiro e sólido, que tanto serve para esmagar, corno serve para construir.

Partiram de novo para a fazenda,, deixando atrás de si a solene gratidão do colégio pelo catálogo da biblioteca, que "eles" concluíram e ofereceram ao estabelecimento; e deixando também por parte de seus condiscípulos um rastro de ódios, ódios que serviram aliás durante o ano para melhor os aproximar e unir, acabando por constituí-los em uma espécie de ser único, do qual um era a fantasia e outro o senso prático.

Foi então que lhes chegou a notícia da morte do padre Estêvão; sucumbira inesperadamente a um aneurisma, do qual nunca desconfiou sequer, e, no testamento, legara o pouco que tinha a uma comadre e àquela criada de mau gênio que o servira.
Quanto ao Coruja, nem uma referência, nem um conselho ao menos; o que fazia crer fosse escrito o testamento antes da adoção do pequeno e nunca mais reformado.

Esta circunstância da morte do padre levou André a pensar em si, a pensar na sua vida e no seu destino. Interrogou o passado e o futuro e, pela primeira vez, encarou de frente a posição que ocupava ali, naquela fazenda do Barão do Palmar, esse protetor tão do acaso como o primeiro que tivera ele. Então notou que na sua curta e triste existência passara de uma para outra mão, que nem um fardo inútil e sem dono.

— Que será de mim? Perguntava o infeliz a si mesmo nas suas longas horas de concentração. Mas o amigo, com a prematuridade intuitiva do seu espírito, saltava-lhe em frente, antecipando razões, como se adivinhara todos os pensamentos de André.

— Em que tanto pensas tu, meu urso? Perguntava-lhe ele, quando se achavam a sós, no bosque; já ontem à noite não quiseste aparecer na sala e cada vez mais te escondes de todos, nem como se fosse um criminoso.

— E quem sabe lá?

— Quê? Se és um criminoso?...

— Sim. A necessidade, quando chega a um certo ponto de impertinência, que mais é senão um crime? Que direito tenho eu de incomodar os outros?

— Exageras.

— Não. A caridade é muito fácil de ser exercida e chega a ser até consoladora e divertida, mas só enquanto não se converte em maçada.

— Não te compreendo...

— Pois eu me farei compreender. Vou contar-te uma parábola, que o defunto padre Estêvão repetia constantemente.

— Venha a história.

— Senta-te aí nesse tronco de árvore e escuta:

Era um dia um sacerdote, que pregava a caridade.

"— A caridade, dizia ele, deve ser exercida sempre e apesar de tudo". Vai um caboclo, que o ouvira atentamente, perguntou-lhe depois do sermão:

“— Ó sôr padre, é caridade enterrar os mortos”?

"— Decerto, respondeu o pregador; é uma obra de misericórdia".

E o caboclo saiu, matou uma raposa e foi esperar o sacerdote na estrada; quando sentiu que ele se aproximava, pôs a raposa no meio do caminho e escondeu-se no mato. O padre, ao topar com ela e observando que estava morta, ajoelhou-se, e cavou no chão, enterrou-a e, depois de dizer uma sentença religiosa, seguiu o seu caminho. O caboclo, assim que o viu pelas costas, correu à sepultura, sacou a raposa e, ganhando por um atalho, foi mais adiante e jogou com ela ao meio da estrada, antes que o pregador tivesse tempo de chegar; este, porém, não tardou muito e, ao ver de novo uma raposa no caminho, fez o que fizera da primeira vez, enterrou-a, mas sem se ajoelhar, nem repetir a sua máxima latina. O caboclo deixou-o seguir, tomou de novo da raposa e foi depô-la mais para diante na estrada; o padre ao topá-la, enterrou-a já de mau humor e prosseguiu receoso de encontrar outras raposas mortas. Todavia, o caboclo não estava ainda satisfeito e repetiu a brincadeira; mas, desta vez, o padre perdeu de todo a paciência e, tomando a raposa 'pelo rabo, lançou-a ao mato com estas palavras: "Leve o diabo tanta raposa morta!" Então o caboclo lhe apareceu e disse: "— Já vejo que enterrar um morto é obra de caridade, mas fazer o mesmo quatro ou cinco vezes é nada menos do que uma formidável estopada!" Ao que o sacerdote respondeu que, desde que houvesse abuso da parte do protegido, era natural que o protetor se enfastiasse...

— Queres dizer com isso, observou Teobaldo, que já estamos fartos de te aturar...

— Decerto, porque tudo cansa neste mundo.

— És injusto e, se meu pai e minha mãe te ouvissem, ficariam bravos comigo.

— Ah! Eles não me ouvirão, podes ficar tranqüilo. Só a ti falo porque nós nos entendemos e bem sabes que não sou ingrato.

— Meus pais te compreendem tão bem ou melhor do que eu.

— Mas não me perdoam, como tu perdoas, o fato de ser eu tão feio, tão antipático e tão desengraçado...

— Ora! Aí vens tu com a cantiga do costume. Deixa-te disso e vamos dar um passeio à rocinha do João da Cinta.

— Outra vez? Que diabo vamos lá fazer agora?

— Convidá-lo e mais a família para virem ao casamento da tia Geminiana.

— É sempre no dia 15 o casamento?

— Infalivelmente, e o alfaiate deve trazer-nos amanhã os nossos fatos novos. Mas, anda, vamos!

Coruja ergueu-se do lugar onde estava assentado e acompanhou o amigo, que já se havia posto a caminho.

Três quartos de hora depois chegavam a um grande cercado de acapu, a cuja frente corria um riacho quase escondido entre a vegetação. Teobaldo parou, disse ao amigo que esperasse um pouco por ele e, trancando pelos barrancos do riacho, foi ter à cerca e soltou um prolongado assobio. A este sinal, com a presteza de quem está de alcatéia, surgiu logo uma rapariguita de uns treze anos, forte, corada e bonitinha.

— Ah! Disse ela, vindo encostar-se às estacas.

— Não esperavas por mim?... Perguntou o rapaz. A pequena respondeu, entregando-lhe um ramilhete que trazia à sorrelfa. E perguntou depois como passava de saúde o Sr. Teobaldo.

— Com saudades tuas... Disse o moço, tomando-lhe uma das mãos.

— Mentiroso...

— Não acreditas?

Ela encolheu os ombros, a sorrir, de olhos baixos.

— Dize a teu pai que não deixe de ir com vocês ao casamento de tia Gemi. Vim convidá-los.

— Entre. Fale com mamãe. Ela está aí.

— Não; é bastante que lhe dês o recado.

E mudando de tom:

— Não faltes, hein, Joaninha?...

— Se me levarem, eu vou.

— Vá, que lhe tenho uma coisa a dizer...

Teobaldo havia conseguido passar o braço por entre duas estacas da cerca e segurava a cintura da rapariga; deu-lhe um beijo; ela o retribuiu com outro de igual sonoridade, fazendo-se muito vermelha e fugindo logo em seguida.

Este namoro, inocente de parte a parte, era o primeiro de Teobaldo. Nascera naquelas férias um dia em que ele, por acaso, encontrou a pequena a lavar no riacho em frente da casa as roupinhas do irmão mais novo. Desde então ia vê-la todas as tardes antes do jantar; falavam-se às vezes à beira do córrego, outras vezes com a cerca de permeio. De certa época em diante ela o esperava com um ramilhete; conversavam durante um quarto de hora e despediam-se com um beijo. O Coruja foi logo o depositário do segredo; Teobaldo contou-lhe a sua aventura e exigiu que ele o acompanhasse todos os dias à rocinha do João da Cinta, quedando-se a certa distância durante o tempo da entrevista.

André consentiu, sem mostrar o mais ligeiro espanto pelo que lhe revoltara o amigo.

Ainda inocente e deveras casto, não conhecia os meandros do amor e julgava dos outros corações pelo seu, que resumia toda a gama do afeto e da ternura em uma nota única. Não calculava a que podia chegar aquele inocente namoro originado entre o filho do Sr. Barão do Palmar e uma sertaneja, que nem ler sabia.
=========
continua…

3º Concurso Internacional de Contos Vicente Cardoso (Resultado Final)

Primeiro colocado

Titulo do Conto: Preservação
Autor: Davi M Gonzales
São Caetano do Sul, SP

Segundo colocado

Titulo do Conto: Individualidade compartilhada
Autor: João Pedro Oliveira Pompeu de Pina
Rio de Janeiro, RJ

Terceiro colocado

Titulo do Conto: Dejavú de Malthus
Autor: Eduardo de Paula Nascimento
Franca, SP

Quarto colocado

Titulo do Conto: Caminho de pedra
Autor: Fábio Antônio Dias Leal
Canoas / RS

Quinto colocado

Titulo do Conto: Planeta aço
Autor: Nelsi Inês Urnau (Nome artístico: Nélsinês)
Canoas/RS

Melhor conto de autor santa-rosense (Nesta categoria considerou-se autores, nascidos ou não em Santa Rosa-RS, que residem atualmente na cidade exetuando-se associados da ASES-RS Associação Santa-rosense de Escritores.):

Titulo do Conto: Viagem no tempo
Autor: Vilmar Wiedergrün
Santa Rosa, RS

Menções honrosas:

Titulo do Conto: A pedra Baltazar
Autor: Luciel Henrique Ribeiro
Jacutinga, MG

Titulo do Conto: A compreensão das pedras
Autor: Rodrigo Adriano Machado
São Paulo, SP

Titulo do Conto: Gênesis
Autor: João Baptista dos Santos
Belo Horizonte, MG

Titulo do Conto: A queda de Haroldo
Autor: Leonardo Siviotti de Alcântara
Maricá, RJ

Titulo do Conto: A máquina
Autor: Gustavo Gonçalves do Nascimento
Recife, PE

Titulo do Conto: Tramix
Autor: Mark Mielke de Lima
Seabra, Bahia

Fonte:
Conc. de Contos Vicente Cardoso

Concurso de Contos do SESC-AM (2012) (Resultado Final)

1º Conto: Da rocha que viemos
Autor(a): Jamilsa Melo

2º Conto: Zefa
Autor(a): José Eugênio Borges de Almeida

3º Conto: Tegretol
Autor(a): Davi Henrique Soledade da Silva

4º Conto: Boca-de-Lobo
Autor(a): Diogo de Castro Costa

5º Conto: Dos 40 dias
Autor(a): André Luzi dos Santos Gandra

6º Conto: Recusa
Autor(a): Sérgio Victor de Souza Rodrigues

7º Conto: A Taverna
Autor(a): Douglas Moraes Pereira

8º Conto: Café com Placebo
Autor(a): Luiz Cláudio Alves de Oliveira

9º Conto: Suaves Flores do jardim do Mar
Autor(a): Marcio Davie Clavoino da Cruz

10º Conto: Abandonado
Autor(a): Ellien Antonieta Saccaro

11º Conto: Dom Loquaz
Autor(a): Maurício Alves de Azeredo

12º Conto: Impulso
Autor(a): Gilberto Garcia da Silva

13º Conto: Menino Medroso
Autor(a): Denivaldo Piaia

14º Conto: Sinhá Guerreira
Autor(a): Relva de Egypto Resende Silveira

15º Conto: Aetobatus Narinari
Autor(a): Caio Henrique Solla

Fonte:
http://www.d24am.com/plus/musica/concurso-de-contos-divulga-resultado-de-produces-selecionadas/90738

sábado, 13 de julho de 2013

Antonio Brás Constante (O Dia dos Solteiros Escrito por um Casado)

No dia 29 de julho comemora-se o dia do solteiro. O termo "solteiro" se traduz em uma etapa da vida do homem (e da mulher, mas vou me referir neste texto apenas aos homens). Todo mundo já foi solteiro em algum momento de sua existência, indiferente se for homem, mulher, cavalo, golfinho ou barata, isso faz parte do ciclo de vida dos seres vivos, um ciclo que quando se refere aos homens muitos descrevem afirmando assim: Os homens nascem, crescem, ficam bobos e casam (outros já acham que o homem é bobo por natureza é por isso ele não fica bobo, e sim, nasce bobo).

Navegando pela internet por esses dias li a máxima diferença entre os solteiros e os casados, onde dizia que o casamento se resumia em se trocar a admiração de várias mulheres pela critica de uma só. Ou como já dizia o comediante Rafinha Bastos: "O homem nunca está satisfeito, quando está solteiro quer casar, quando está casado quer MORRER, e por aí vai..."

O parágrafo acima é com certeza um total absurdo, falo isso com toda liberdade de uma pessoa que acaba de descobrir que a esposa está atrás de si neste exato momento, lendo cada palavra até o momento escrita... E... E... E aproveitando que minha amada e doce esposa saiu para buscar algo, lembrei de uma frase que li há poucos dias onde dizia que a celulite na mulher serve para expressar o quanto ela é gostosa, só que em braile (como existe gente asquerosamente criativa neste mundo).

Outro dia conversei com um amigo que me contou que foi questionado se sua mulher estava com ele por amor ou por interesse, e ele francamente respondeu: "Oras, logicamente por amor, porque quando transamos ela não demonstra interesse nenhum...". Porém, não devemos tratar as mulheres de forma machista, pois elas sofrem com isso, o que me faz lembrar de uma frase que traduz bem este sentimento feminino que dizia: "Quando uma mulher sofre em silêncio é porque seu celular está sem créditos"

É iNcrIveL cOmo umA mulhEr cOnSeguE chEgaR sEm faZer BarUlHO. QueRO Me desCULPAR pelA FormA coM qUe eSTou esCRevENdo agoRa, mas é DiFIciL diGItAR enqUANtO sE esTá SENdo ESGANADO pelA PropRIa ESPOSA! (Ufá! Ela Parou). Bem vou terminando estas mal traçadas linhas (se este for meu ultimo texto, lembrem-se de mim com carinho e pelo meu sorriso, e não pelos hematomas que passarei a sofrer depois de dar o ponto final).

Brincadeiras a parte (SOCORRO, ELA VAI ME MATAR!!!), o desejo da maioria dos solteiros e solteiras que vivem por aí é encontrar a sua cara metade e viverem felizes para sempre (ou enquanto o processo de divorcio durar), pois quem está de fora quer entrar e quem está dentro não quer mais sair. ADEUS...

Fonte:
O Autor

IX Concurso de Trovas da UBT-Maranguape 2013 (Resultado Final) 3a.Parte

TROVAS EM LINGUA PORTUGUESA

INTERNACIONAL/NACIONAL
(exceto do CEARÁ)

TEMA: ESTUDANTE(S)
(Trovas líricas ou filosóficas)

VENCEDORES

1º. Lugar:

A saudade mais sentida
vem do tempo de estudante:
a melhor fase da vida,
que passa num breve instante.
ELIANA RUIZ JIMENEZ
Balneário Camboriú/SC

2º. Lugar:

Há uma lição que sem cola
pelo estudante é sabida:
na vida a melhor escola
é a grande escola da vida.
DULCÍDIO DE BARROS MOREIRA SOBRINHO
Juiz de Fora/MG

3º. Lugar:

Em sua busca incessante
de sábio - semeador,
o mestre é sempre estudante,
mesmo sendo professor!
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

4º. Lugar:

Determinado e seguro,
jovem, estuda bastante,
que a Bandeira do futuro
está nas mãos do estudante.
ALMERINDA F. LIPORAGE
Rio de Janeiro/RJ

5º. Lugar:

O estudante que no estudo,
se destaca pra valer,
corre atrás, pesquisa tudo,
vai em busca do saber.
SIMÃO ELANE MARQUES RANGEL
Rio de Janeiro/RJ

MENÇÕES HONROSAS

6º. Lugar:

Do começo ao fim da vida
somos todos estudantes.
– A lição ora aprendida
complementa a de horas antes.
ANTÔNIO AUGUSTO DE ASSIS
Maringá/PR

7º. Lugar:

Feito um luzeiro divino,
o mestre guia o estudante
na conquista de um destino
produtivo e fulgurante.
RELVA SILVEIRA
Belo Horizonte/MG

8º. Lugar:

Estudante, que se preza,
aprendendo a ser bondoso,
ao humilde não despreza
nem bajula o poderoso.
IVONE VEBBER
Caxias/RS

9º. Lugar:

Educação: melhor meio
para um povo ser feliz;
pois o estudante é o esteio
vigoroso de um país!
GIVA DA ROCHA
São Paulo/SP

10º. Lugar:

De um templo tu estás diante...
A escola é lugar sagrado!...
Por isso, caro estudante,
merece ser respeitado!
ERCY MARIA MARQUES DE FARIA
Bauru/SP

MENÇÕES ESPECIAIS

11º. Lugar:

O estudante de hoje em dia,
salvo uma honrosa exceção,
só quer saber de "alegria",
não quer saber de "lição"...
ANTONIO COLAVITE FILHO
Santos/SP

12º. Lugar:

O livro será importante
se a maneira de educar,
mostrar a cada estudante
a importância de estudar!...
GIOVANELLI
Nova Friburgo/RJ

13º. Lugar:

Hoje eles são estudantes,
mas algum dia serão
profissionais importantes;
a base de uma nação!
ALBA HELENA CORRÊA
Niterói/RJ

14º. Lugar:

Tens um dever: estudar,
para seu bem: ir avante!
Onde uma luz vai brilhar:
eu vejo um bom estudante!
WANDISLEY GARCIA
Jales/SP

15º. Lugar:

Meu bem, eu sou estudante
de teus lábios delicados
e pesquiso teu semblante
com beijos apaixonados.
DANILO DOS SANTOS PEREIRA
Belo Horizonte/MG

DESTAQUES

16º. Lugar:

Vejo estudantes chegando
à escola, todos os dias,
na mochila, carregando
muitos sonhos e alegrias!
GISLAINE CANALES
Balneário Camboriú/SC

17º. Lugar:

Prometo: de agora em diante
tu podes me tutelar:
serei eterna estudante,
para nunca mais errar.
DILVA MORAES
Nova Friburgo/RJ

18º. Lugar:

Depende só de você
um futuro bem brilhante,
e como já se prevê:
basta ser bom estudante!
GLÓRIA TABET
São José dos Campos/SP

19º. Lugar:

A alma, em busca infinita,
tudo aprende em cada instante...
Louvado quem acredita
ser, da vida, um estudante!...
ROBERTO TCHEPELENTYKY
São Paulo/SP

20º. Lugar:

Qual embarcação à vela,
“saltando” cada revés,
à criança se revela
estudante nota dez.
MARISA RODRIGUES FONTALVA
São Paulo/SP

TROVADORES DO ESTADO DO CEARÁ

TEMA: ESTUDANTE(S)
[Líricas/Filosóficas]

VENCEDORES


1º. Lugar:

O saber sempre convence
aquele que é dele amante
muito aprende, tanto vence.
quem por gosto é estudante.
ABELARDO NOGUEIRA
Aracoiaba/CE.

2º. Lugar:

Estudar é um privilégio
que nem todo mundo tem,
estudante, o seu colégio,
e seu futuro, é seu bem.
RAIMUNDO RODRIGUES DE ARAÚJO
Maranguape/CE

3º. Lugar:

No ímpeto da juventude
somente o estudo garante
um futuro com virtude
e êxito do estudante.
JOSÉ AUREISON CORDEIRO DE ABREU
Maranguape/CE

4º. Lugar:

Estudante do Brasil,
cremos em ti, na missão,
que levarás como ardil,
a paz, amor, união.
SONIA NOGUEIRA
Fortaleza/CE.

5º. Lugar:

Estudante inteligente
não sai reprovado não
ele sabe certamente
seu dever de cidadão.
VAVAL SOARES
Maranguape/CE

MENÇÕES HONROSAS

6º. Lugar:

Do meu tempo de estudante,
guardarei recordações...
Foi difícil, desgastante,
mas aprendi mil lições.
HORTÊNCIO PESSOA
Fortaleza/CE

7º. Lugar:

Quando um estudante almeja
o verdadeiro crescer
não desiste da peleja
de buscar luz no saber.
ANA MARIA NASCIMENTO
Aracoiaba/CE

8º. Lugar:

Só quem almeija, de fato,
por um aprender constante,
será sempre de bom tato
ser um eterno Estudante!
NEMÉSIO PRATA CRISÓSTOMO
Fortaleza/CE

9º. Lugar:

Estudar é minha lida,
minha tarefa feliz!
na bela escola da vida,
pois sou um eterno aprendiz!
ENEILTON MOREIRA DUARTE
Juazeiro do Norte/CE

10º. Lugar:

Na grande escola da vida
todos somos estudantes
sem diferente guarida
sejam néscios ou brilhantes.
MARIA ALZENIRA RODRIGUES
Morada Nova/CE

MENÇÕES ESPECIAIS

11º. Lugar:

Ela professora e bela
ele estudante e em segredo
apaixonou-se por ela
perdidamente e com medo.
DEUSDEDIT ROCHA
Fortaleza/CE
===================================

INTERNACIONAL/BRASIL (Exceto do Ceará)

TEMA: PROFESSOR (A, AS, ES)
[Líricas/Filosóficas]

VENCEDORES


1º. Lugar:

Repartindo o amor profundo
na missão de tantos brilhos,
ser professora no mundo
é ser mãe de muitos filhos.
DULCÍDIO DE BARROS MOREIRA SOBRINHO
Juiz de Fora/MG

2º. Lugar:

Honra e glória ao professor
com seu trabalho fecundo,
é, da pátria, o construtor,
em qualquer nação do mundo!
ALBA HELENA CORRÊA
Niterói/RJ

3º. Lugar:

Professor, amigo e mestre,
quanta luz você irradia,
desde a escolinha campestre
à mais douta academia!
ANTÔNIO AUGUSTO DE ASSIS
Maringá/PR

4º. Lugar:

Professor em sua trilha,
iluminando outro ser,
cultiva o dom da partilha
na partilha do saber.
RELVA DO EGYPTO REZENDE SILVEIRA
Belo Horizonte/MG

5º. Lugar:

No imensurável valor
que a cultura lhe concebe,
não se mede um professor
pelos cifrões que recebe!
EDMAR JAPIASSÚ MAIA
Nova Friburgo/RJ

MENÇÕES HONROSAS:

6º. Lugar:

Em respeito ao Magistério,
eis o que eu venho propor:
- Alunos: - Tomem a sério
as Lições do Professor!!!
MARIA MADALENA FERREIRA
Magé/RJ

7º. Lugar:

Quando há talento divino,
compromisso e bem querer,
o professor faz do ensino
a razão do seu viver!
GLÓRIA TABET MARSON
São José dos Campos/SP

8º. Lugar:

Professor, por vocação,
tem prazer em ensinar;
repete sempre a lição,
não se cansa de explicar.
SIMÃO ELANE MARQUES RANGEL
Rio de Janeiro/RJ

9º. Lugar:

Um aluno quis saber:
- "Que faço pra ser feliz?"
E o professor: "Busque ser
eternamente aprendiz!"
OLYMPIO DA CRUZ SIMÕES COUTINHO
Belo Horizonte/MG

10º. Lugar:

Não somente quem ensina
mostra ser bom professor...
Mas, aquele que doutrina,
dando educação e amor...
IVONE TAGLIALEGNA PRADO
Belo Horizonte/MG

MENÇÕES ESPECIAIS

11º. Lugar:

Seguindo uma só medida
sem caminharmos a esmo,
cada um pode na vida
ser professor de si mesmo.
DILVA MORAES
Nova Friburgo/RJ

12º. Lugar:

Quando um professor ensina
com amor no coração
o aluno sempre termina
sabendo toda lição.
MILTON SOUZA
Porto Alegre/RS

13º. Lugar:

Bem mais que ser trovador,
o Poeta nos dá provas
de que é grande professor,
quando ensina a fazer trovas!
DELCY CANALLES
Porto Alegre/RS!

14º. Lugar:

Todos têm um professor
na memória bem guardado,
que ensinava com amor,
mesmo mal remunerado.
ELIANA RUIZ JIMENEZ
Balneário Camboriú/SC

15º. Lugar:

Nas artimanhas do amor
Presentes a todo instante,
Queria ser professor
Mas não passo de estudante.
DANILO DOS SANTOS PEREIRA
Belo Horizonte/MG
I
DESTAQUES


16º. Lugar:

Dedicação, é uma crença
que, regida com amor,
é o que faz a diferença
em todo bom professor...
GIOVANELLI.
Nova Friburgo/RJ

17º. Lugar:

No lar onde reina o amor,
e à educação é “Doutora”,
todo pai é “Professor”
toda mãe é “Professora”!...
MARISA RODRIGUES FONTALVA
São Paulo/SP

18º. Lugar:

Um professor é capaz,
se faz algo diferente.
Por exemplo, ser sagaz,
mudando a vida da gente.
VICTOR MANUEL CAPELA BATISTA
Barreiro/Portugal

19º. Lugar:
Desejo que os professores
tenham – nos tempos de agora –
alunos tão promissores
que ao mundo tragam melhora
MERCEDES LISBOA SUTILO
Santos/SP

20º. Lugar:

Na escola, impera o terror:
ninguém mais quer estudar…
Hoje, todo professor
tem medo até de ensinar.
EDWEINE LOUREIRO
Nova Friburgo/RJ
===========
continua…

Amadeu Amaral (Memorial de Um Passageiro de Bonde) Ruídos e Rumores

As almas têm umas irradiações pouco observadas - sem nada de comum com a transmissão de pensamento, o magnetismo e análogas complicações etéreas, ódicas e místicas.

Não há uma ciência (e ainda bem, arre!) mas há uma arte, uma pequena arte sutil sobre a caça das irradiações da personalidade, através dos rumores e das vozes.

Tenho uns vizinhos esquisitos, um casal velho que vive fechado em casa e raramente se deixa ver. Trabalhando ou lendo no meu gabinete, ouço vozes, passos, tosses, assoadelas arrastamentos de móveis, bater de pregos, -tudo espaçado e abafado, passando através das paredes como vagas mensagens de um mundo sigiloso.

Ponho-me, às vezes, a escutar esses rumores e, à força de os ouvir e comparar, não só eduquei o ouvido para lhes perceber as menores variações, como consegui fixar o valor expressivo de alguns deles.

Cheguei à conclusão de que o homem é gordo, rude, voluntarioso, e talvez com um defeito numa das pernas. Pisa com força e peso, mas de um jeito claudicante; tosse de um modo rápido e sacudido; os ruídos que produz batendo pregos ou fechando portas são sempre céleres e inteiriços, e sua voz é robusta e serena.

Por que então não sai de casa? Provavelmente, algum incômodo ou lesão localizada, que o impede sem lhe afetar o estado geral.

Quanto à mulher, deve ser velhota, magra, tristonha a paciente. Seus passos apenas chiam no soalho, sua voz mal se ouve, assemelha-se a um arrulho monótono. De, quando em quando, escuto-lhe uns espirros longamente gemidos. Esses espirros por si sós ainda me fornecem uma indicação: a senhora é do interior de São Paulo, provavelmente de lugar pequeno, e talvez da zona sorocabana.

Outro dia, tive um susto: o homem entrou a falar alto e ríspido, a dar passadas por toda a casa.

Estaria a maltratar a pobre senhora? Apurei o ouvido. O vizinho andava, parava de quando em quando, falava falava, e depois punha-se a andar de novo, para de novo estacar e falar: o ritmo característico de uma crise de raiva recriminante.

Mas que poderia ter-lhe feito a pobre velhota, tão calma e resignada?

Ansioso, apurei ainda mais o ouvido, e só descansei quando ouvi um espirro da vizinha: atchiii!... Esse espirro, longo, pacífico, modulado pela forma exata do hábito, garantia que a zanga não era com ela.

Hoje, finalmente, viajei de bonde com o casal, que saiu conforme às revelações sonoras. O homem, alto, gordo e vermelho; ela, seca e sumida. Ao tratarem de descer, ele puxou a corda da campainha num golpe incisivo e forte. Desceram, e então vi que ele tinha um pé inchado em chinelo.

Pus-me a traduzir, pelo resto da viagem, os sons da campainha.

As vibrações indicam o sexo, a idade aproximada e o temperamento de quem as faz retinir. Há campainhadas tímidas, indecisas, distraídas, discretas, nervosas, indolentes, autoritárias, coléricas.

Umas previnem, refletidas, o motorista, a quase uma quadra de distância, declarando, calmas e incisivas: "Pare aí adiante; olhe que está avisado!"

Outras exprimem certa dúvida: "Deverei saltar aqui?... Será aqui mesmo o ponto que me convém?..."

Outras enfim, após tantas, deixam transparecer a surpresa de um apalermado que de repente se achou no ponto de parada sem ter dado por isso: "Oh, diabo, cá estou; pára aí!"

A linguagem das campainhas pode, porém, exprimir coisas ainda menos triviais.

Outro dia, vinha um passageiro novato no bairro, que mandou parar em certo ponto, e não desceu: tinha-se enganado. Ressoou surdamente a campainha, acionada pelo condutor, um português muito plantado em si mesmo: "Bom, vamos embora."

Duas esquinas adiante, o homem dá nova ordem de parada, e ainda não desce: tinha-se enganado outra vez. Então, a correia da campainha fuzilou nos ganchos como uma chicotada, e o metal retiniu com tal expressão, que se entendeu perfeitamente: "Roda!. .. Raios o parta!"

Há um conto de Gautier O Ninho de Rouxinol, onde figuram umas jovens estranhas, que unicamente comunicam com o mundo por meio dos sons. Todo o universo, para elas, se traduz em música, e só em música elas traduzem o que sentem e pensam.

Realmente, não há nada que não se possa resolver em música, e é lícito conceber-se um mundo em que fosse essa a linguagem universal das coisas e das almas. Sem irmos, porém, às alturas da imaginação, é fácil reconhecer que tudo trivialmente, em redor de nós, se manifesta por sonoridades, ruídos e silêncios.

Sabe disso toda a gente que dispõe da integridade do seu aparelho auditivo. O que pouca gente sabe é como se podem obter impressões novas, surpreendentes e divertidas das coisas e das almas que nos rodeiam, - apenas aplicando o ouvido à sondagem e interpretação dos sons.

Nós vivemos pelos olhos. A estes confiamos quase exclusivamente a missão de observadores e testemunhas. O sentido auditivo reduzimo-lo quase a um simples papel de serviçal obediente às determinações da vontade. Vemos tudo, mas só ouvimos o que queremos. É incrível a capacidade de que dispomos para eliminar as impressões do ouvido, no meio do rumor infernal das ruas, do bruaá de um café regurgitante de palradores.

Ainda hei de escrever um artigo sério para um jornal sério, um artigo científico, cheio de termos técnicos como um queijo cheio de saltões, a propugnar a educação e a aplicação mais racionais das faculdades auditivas. Quantos afluxos de sensações sistematicamente rejeitados, e que poderiam ser tão úteis á inteligência, e úteis à própria defesa do indivíduo!

E depois, se a moda pegasse, se começássemos todos a fazer um uso mais consciente, mais constante e mais largo desse aparelho receptor, seria impossível que um grande número de cidadãos não se insurgissem afinal, indignados, exigentes, furiosos, contra a pandemônica, vertiginosa e martirizante barulheira da cidade, contra este caos sonoro que nos engole e nos aniquila.

Fonte:
Domínio Público

Hilda Mendonça (O Alerta, de Charles Pereira)

O Alerta foi dado. A Vela ainda acesa. E um alerta requer certo cuidado. Tenho em mãos o livro do advogado Charles Pereira, vice-presidente da Escritores & Companhia, O Alerta. A curiosidade despertada, examino a capa, confecção gráfica impecável (Com cara de best-seller!). Vejo uma vela acesa, certos planos piramidais de fundo induzem ao mistério. Nas orelhas, citações bíblicas já nos dão um pouco a direção do fio condutor que envolve o romance. Embora obra de ficção, este Alerta nos leva a repensar realidades que estão a ocorrer no dia a dia da humanidade e à reflexão sobre os fins dos tempos. Trata-se de um romance de 190 páginas, com boa diagramação, editado em 2011 pela All Print-Editora, do autor Charles Pereira. Charles não se deixou prender a superstições que rondavam o imaginário popular sobre o terceiro Milênio, contudo não consegue fugir totalmente às indagações do tema.

Há um escritor nascido em Passos e que se assina João Passos, que também escreveu um livro profundo nesta linha: Os seis últimos dias, se não me falha a memória, pois já o li há algum tempo. Contudo, este Alerta de Charles Pereira não usa a pesquisa com documentos comprobatórios, como o caso de João Passos. Charles Pereira conseguiu, com este seu Alerta, construir uma trama bem amarrada, mantendo fidelidade ao tema proposto do início ao final, o que nem sempre é fácil, e arrematar o livro com a consciência de dever cumprido.

No capítulo 1 é interessante a descrição da cidade, não sei se imaginária ou real, pois em obra de arte às vezes nos perguntamos onde começa e termina o real ou o imaginário, tomando como real aquilo que de fato existe. Do momento em que o autor apresenta um fato ou cenário, ele existe, então perguntamos: o que é real na arte literária?

O livro O alerta nos apresenta o personagem Josué, advogado, profissão que Charles conhece tão bem, visto que também é advogado. Josué encantou-me sobremaneira, não sei se o fato de trabalhar em uma mineradora, sempre admirei essas pessoas de mineradoras e hidrelétricas, por achar que são ocupações de muita adrenalina. Josué já me é simpático de início, e é naquela noite alegre de Réveillon que tem início o mistério, mistério esse que mudaria a sua vida e a de muitos que com ele conviviam. O personagem Josué, ainda naquele torpor de que se lhe acometeu, naquela noite de Réveillon, ouviu misteriosa voz a dizer-lhe: “Estás no celeiro de meu pai”. A partir daí, o texto muito bem delineado, vai envolvendo o leitor e todo autor sabe que o leitor, uma vez “fisgado”, não mais o abandonará.

Depois deste acontecimento, ou seja, aquele estranho episódio, que não vou entrar em detalhes, para não me antecipar ao leitor, fatos estranhos ou nem tanto, pela habilidade do autor, preparam-nos para mais e mais acontecimentos inesperados. A trama flui habilmente e muito bem amarrada, e são ações e mais ações que nos remetem a certo realismo fantástico, entre ficção e realidade, na trajetória de Josué que nos leva a segui-lo até o final proposto.

O alerta não é um livro que se propõe religioso, no entanto, é todo ele recheado de religiosidade, em que o autor está muito seguro do que diz, como se para isso houvera se preparado por longas datas, mesmo sendo uma pessoa jovem.

Não vou aqui me imiscuir em recontar a história, pois isto Charles já o fez com mestria, e tiraria a surpresa do leitor. Posso dizer, entretanto, que valeu por mais esta experiência de leitura que me levou a muitas e salutares reflexões.

Charles Pereira é passense, advogado e o vice-presidente da Escritores & Companhia.

Fonte:
Literatura Sem Fronteiras

Almada Negreiros (Poesias Sem Fronteiras)

Maternidade (Pintura de Almada Negreiros)
ESTORVA-ME A TERRA

Estorva-me a terra por causa do sonho
estorva-me o sonho por causa da terra
eu ando na guerra do sonho com a terra.
Senhores empregados do mundo
tenham santa paciência
vale mais a vida do que a existência.

ENCONTRO

Que vens contar-me
se não sei ouvir senão o silêncio?
Estou parado no mundo.
Só sei escutar de longe
antigamente ou lá para o futuro.
É bem certo que existo:
chegou-me a vez de escutar.
Que queres que te diga
se não sei nada e desaprendo?
A minha paz é ignorar.

Aprendo a não saber:
que a ciência aprenda comigo
já que não soube ensinar.
O meu alimento é o silêncio do mundo
que fica no alto das montanhas
e não desce à cidade
e sobe às nuvens que andam à procura de forma
antes de desaparecer.
Para que queres que te apareça
se me agrada não ter horas a toda a hora?
A preguiça do céu entrou comigo
e prescindo da realidade como ela prescinde de mim.
Para que me lastimas
se este é o meu auge?!
Eu tive a dita de me terem roubado tudo
menos a minha torre de marfim.
Jamais os invasores levaram consigo as nossas
torres de marfim.
Levaram-me o orgulho todo
deixaram-me a memória envenenada
e intacta a torre de marfim.
Só não sei que faça da porta da torre
que dá para donde vim.

ESPERANÇA

Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu fi-lo perfeitamente.
Para diante de tudo foi bom
bom de verdade
bem feito de sonho
podia segui-lo como realidade

Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu sei-o de cor.
Até reparo que tenho só esperança
nada mais do que esperança
pura esperança
esperança verdadeira
que engana
e promete
e só promete.
Esperança:
pobre mãe louca
que quer pôr o filho morto de pé?

Esperança
único que eu tenho
não me deixes sem nada
promete
engana
engano que seja
não me deixes sozinho
esperança.

ERAM SETE E MEIA

Eram sete e meia.
O mais tarde que podias entrar era até às oito
e depois das oito tornava-se reparado.
Havia ordem no mundo
e meia-hora para nós,
meia-hora que não foi como queríamos
meia-hora em que cada um de nós nos prejudicava
habituados que estávamos a não nos termos visto nunca.
Levámos meia-hora a combinar outra hora para nós
meia-hora que afinal só começou depois de terminada
ao despedirmo-nos até à vista.
E até tornar a ver-te
eu não me senti, nem a fome, nem a sede
nem outra vontade que tu,
fiz como os poetas
que apagam a realidade
para lhe pôr outra melhor por cima.

A SOMBRA SOU EU

A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei dó que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e que não me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!

RONDEL DO ALENTEJO

Em minarete
mate
bate
leve
verde neve
minuete
de luar.

Meia-noite
do Segredo
no penedo
duma noite
de luar.

Olhos caros
de Morgada
enfeitava
com preparos
de luar.

Rompem fogo
pandeiretas
morenitas,
bailam tetas
e bonitas,
bailam chitas
e jaquetas,
são de fitas
desafogo
de luar.

Voa o xaile
andorinha
pelo baile,
e a vida
doentinha
e a ermida
ao luar.

Laçarote
escarlate
de cocote
alegria
de Maria
la-ri-rate
em folia
de luar.

Giram pés
giram passos
girassóis
os bonés,
os braços
estes dois
iram laços
o luar.

colete
esta virgem
endoidece
como o S
do foguete
em vertigem
de luar.

Em minarete
mate
bate
leve
verde neve
minuete
de luar.

CANÇÃO DA SAUDADE

Se eu fosse cego amava toda a gente.

Não é por ti que dormes em meus braços que sinto amor. Eu amo a minha
irmã gemea que nasceu sem vida, e amo-a a fantazia-la viva na minha
edade.

Tu, meu amor, que nome é o teu? Dize onde vives, dize onde móras, dize se vives ou se já nasceste.

Eu amo aquella mão branca dependurada da amurada da galé que partia em busca de outras galés perdidas em mares longissimos.

Eu amo um sorriso que julgo ter visto em luz do fim-do-dia por entre as gentes apressadas.

Eu amo aquellas mulheres formosas que indiferentes passaram a meu lado e nunca mais os meus olhos pararam nelas.

Eu amo os cemiterios - as lágens são espessas vidraças transparentes, e
eu vejo deitadas em leitos florídos virgens núas, mulheres bellas
rindo-se para mim.

Eu amo a noite, porque na luz fugida as silhuetas indecisas das mulheres
são como as silhuetas indecisas das mulheres que vivem em meus sonhos.

Eu amo a lua do lado que eu nunca vi.

Se eu fosse cego amava toda a gente.

RUINAS

Pandeiros rotos e côxas taças de crystal aos pés da muralha.

Heras como Romeus, Julietas as ameias. E o vento toca, em bandolins distantes, surdinas finas de princesas mortas.

Poeiras adormecidas, netas fidalgas de minuetes de mãos esguias e de cabeleiras embranquecidas.

Aquelas ameias cingiram uma noite pecados sem fim; e ainda guardam os segredos dos mudos beijos de muitas noites. E a lua velhinha todas as noites reza a chorar: Era uma vez em tempo antigo um castelo de nobres naquele lugar... E a lua, a contar, pára um instante - tem medo do frio dos subterrâneos.

Ouvem-se na sala que já nem existe, compassos de danças e risinhos de sedas.

Aquelas ruínas são o túmulo sagrado de um beijo adormecido - cartas lacradas com ligas azuis de fechos de ouro e armas reais e lisas.

Pobres velhinhas da cor do luar, sem terço nem nada, e sempre a rezar...

Noites de insônia com as galés no mar e a alma nas galés.

Arqueiros amordaçados na noite em que o côche era de volta ao palacio pela tapada d'El-rei. Grande caçada na floresta--galgos brancos e Amazonas negras. Cavaleiros vermelhos e trombetas de ouro no cimo dos outeiros em busca de dois que faltam.

Uma gôndola, ao largo, e um pagem nas areias de lanterna erguida dizendo pela brisa o aviso da noite.

O sapato d'Ela desatou-se nas areias, e foram calça-lo nas furnas onde ninguém vê. Nas areias ficaram as pegadas de um par que se beija.

Noticias da guerra - choros lá dentro, e crepes no brasão. Ardem círios, serpentinas. Há mãos postas entre as flores.

E a torre morena canta, molenga, doze vezes a mesma dor.

Aluísio Azevedo (O Coruja) Parte 6

Assim subiram a pequena alameda de mangueiras que conduzia à casa e, dentro em pouco, penetravam todos na sala de jantar. A despeito de se achar naquelas alturas, Emílio cercava-se de todas as comodidades que lhe permitia a época. O seu primeiro casamento abrira-lhe o gosto pelos objetos do luxo asiático e trouxera-lhe uma riquíssima coleção de louças, de sedas e cachemiras, charões, marfins, pinturas, objetos de goma-laca, tetéias de sândalo e tartaruga, e tudo mais que era de costume nesse tempo introduzirem no Brasil os portugueses vezeiros no comércio das Índias.

Viam-se ai também, pelas paredes, quadros antigos, de santos, alguns dos quais haviam pertencido a D. João VI, e das mãos deste passado às do avô de Teobaldo. Viam-se igualmente estalados retratos de damas e cavalheiros da corte de D. José e D. Maria I, detestavelmente pintados, nas suas pitorescas vestimentas do século XVIII e defronte de cujas telas inutilizadas e ressequidas pelo antiaristocrático sol brasileiro, habituara-se o velho Caetano a possuir-se de todo o respeito, porque lhe contava que entre aqueles figurões havia parentes do seu rico amo. E, ao lado da mobília, relativamente nova, descobriam-se clássicas peças de madeira preta, que juntavam ao aspecto daquelas salas uma nota religiosa e grave. Na biblioteca, aliás bem guarnecida, destacavam--se, por entre as estantes, antigas armas portuguesas, dispostas em simetria e caprichosamente entrelaçadas por arcos e flechas do Brasil. Na sala de jantar, dominando a larga e longa mesa da comida, havia um grande retrato de Cromwell, representado na ocasião em que ele invadiu o parlamento inglês de chicote em punho.

O Coruja passou por tudo isso, às cegas, sem ânimo de olhar para coisa alguma. O desgraçado sentia perfeitamente que agora, à luz das velas, a sua antipática figura havia de produzir sobre todos uma impressão ainda muito mais desagradável do que a primeira; sentia-se mais feio, mais irracional, posto em contraste com aquela gente e com aqueles objetos.

Mal se assentaram à mesa, D. Geminiana continuou a observá-lo fixamente e concluiu afinal o seu julgamento franzindo os cantos da boca em um trejeito de repugnância; Santa, porém, não se mostrou tão desagradada e chegou a sorrir para o Coruja, quando lhe passou o prato de sopa.

O barão que havia tomado a cabeceira, fizera sentar o filho ao seu lado e, segundo o costume, conversava com ele, como se estivesse defronte de um homem. Entretanto, o Coruja continuava tão mudo e tão fechado, que do meio para o fim do jantar ninguém mais se animava a dirigir-lhe a palavra.

Depois do café, Santa ergueu-se da mesa e foi pessoalmente dar suas ordens para que nada faltasse ao taciturno hóspede; mandou acrescentar uma cama no quarto do filho e disse ao outro que podia recolher-se quando quisesse. Coruja apertou a mão de todos, um por um, e meteu-se no quarto.

Já vais? Perguntou-lhe o amigo. És um mau companheiro!

Na sala, onde ficou ainda a família, a conversar por algum tempo, veio o Coruja à discussão. Emílio contou o diálogo que ouvira entre o padre e o diretor do colégio, e Geminiana, que parecia disposta a não perdoar ao órfão o ser tão desengraçado, acabou ela própria louvando o procedimento do cunhado.

CAPÍTULO VIII

Ninguém seria capaz de descrever a comoção que se apoderou do Coruja na sua primeira manhã daquelas férias. Ergueu-se antes do despontar do sol, vestiu uma roupa de Teobaldo, que lhe mandaram pôr ao lado da cama, e, com as calças e as mangas dobradas, saiu mais o companheiro ao encontro do barão, que já esperava por eles à margem de um rio, situado a cinqüenta passos do fundo da casa. Era aí que Emílio dava ao filho as suas lições de natação. Mas não houve meio de conseguir que o Coruja se despisse na presença dos outros. Já em casa do padre, e também no colégio, observava-se a mesma coisa; tinha o Coruja um pudor exageradíssimo, uma invencível vergonha da nudez; não podia admitir que ninguém lhe visse a pele do corpo. E só depois que o barão e o filho se banharam, consentiu ele, bem certo de que não era espiado, em meter-se n’água.

Sem dar demonstração, o Coruja estava maravilhado com tudo que ia se patenteando em torno dele. Seu coração puro e compassivo, abria-se para receber amplamente aquela grande paz do campo tão simpática às precoces melancolias de sua pobre alma. E as castas propensões do Coruja, os gostos imaculados que dormiam a sono solto dentro dele, tudo isso acordou alegremente aos primeiros rumores da floresta e as primeiras irradiações da aurora como um bando de pássaros quando vai amanhecendo.

Nunca se julgou assim feliz. Todas aquelas, vozes da natureza. todo aquele aspecto tranqüilo das matas e das montanhas, tudo o fascinava secretamente, como se ele tivera nascido ali, entre aquelas coisas tão calmas, tão boas, tão comunicativas. Os currais, os trabalhos agrícolas, o gado grosso e o gado miúdo, a criação dos animais domésticos, a cultura dos legumes e hortaliças, tudo isso tinha para ele um encanto muito particular e muito suave.

— Então? Que tal achas isto aqui? Perguntou-lhe Teobaldo, depois de mostrar ao amigo as benfeitorias da fazenda.

— Tudo muito bom, respondeu ele.

— E o velho? Que tal!

— Bom, muito bom.

— E Santa?

— Uma Santa.

— E a tia Gemi?

— Não é má.

— Um pouquinho resingueira, não e verdade? Mas não faças caso, que ela se chegará as boas. Olha! Se a quiseres agradar, faze-te devoto; reza-lhe dois padre-nossos e tê-la-ás conquistado.

E mudando logo de tom;

— Depois do almoço temos um passeio com o velho. Vais ver o que é bom! Sabes montar a cavalo?

— Não, mas aprendo. Onde é o passeio?

— À fazenda, do Hipólito. Não é longe.

— Que Hipólito?

— Um vizinho nosso, amigo do velho e pretendente à mão da tia Gemi.

— Ah!

— Vem comigo à estrebaria.

Defronte dos animais, Teobaldo chamou a atenção do amigo para um belo cavalo alazão, meio sangue, que o pai lhe havia comprado ainda o ano passado.

— Eu preferia aquele burro... Disse o Coruja, depois de examinar minuciosamente as bestas.

— Quê? Pois preferes o jumento àquele belo alazão?...

— Decerto.

— Mas, por quê?

— Não sei: gosto mais do burro que do cavalo.

— Que gosto! Antes andar a pé.

E acrescentou ainda apontando para o alazão:

— Olha só para aquilo! É um animal nobre! Parece que tem consciência do seu valor!

Terminado o almoço e vestido o Coruja pelo melhor que se pôde arranjar, o barão, os dois meninos e o velho Caetano abandonaram a casa e encaminharam-se para a estrebaria.

— Sabes, papai? O André prefere ir no burro.

— Porque não é cavaleiro. O burro com efeito é muito menos perigoso para ele. Anda com isso, ó Caetano.

Prontos os animais, o velho criado ajudou Coruja a cavalgar o burro.

— Não tenha medo! Gritou-lhe, a segurar a brida. Esta besta é mais mansa do que uma pomba!

André, todo vergado sobre o peito e a segurar as rédeas com ambas as mãos, não conseguia endireitar-se na sela do animal, por mais que o amigo lhe gritasse.

— Espicha as pernas, rapaz! Levanta a cabeça! Pareces um macaco!

O barão e o filho, uma vez montados, meteram entre os seus cavalos o jumento em que ia o Coruja, e puseram-se a caminho, seguidos a certa distância pelo criado, cuja libré dava à modesta cavalgata um ligeiro colorido de aristocracia. Os primeiros minutos do passeio foram todos gastos com André, que, diga-se  a verdade, fazia o possível para bem aproveitar as lições.

— Assim! Assim! Gritou-lhe Teobaldo, metendo as esporas no animal; afrouxa um pouco mais a rédea e mete-lhe o chicote com vontade! Não tenhas medo! Coruja foi pôr em prática esta ordem, mas com tal precipitação o fez que o burro se espantou e, dando um salto, cuspiu-o por terra.

— Ó diabo! Exclamou Emílio, fazendo parar o seu cavalo.

— Ficaste magoado? Perguntou Teobaldo ao amigo.

— Foi nada! Disse o Coruja, erguendo-se a segurar o asno pela rédea, e, antes que lhe pusessem embargos, tomou o estribo, galgou de um pulo a sela e, tocando o animal com certa energia, gritou aos companheiros:

— Vamos adiante!

E às quatro da tarde, sem nenhum outro incidente desagradável, voltavam à fazenda, trazendo consigo o tal Hipólito, que parecia embirrar com o Coruja ainda mais do que a própria noiva.

Mas com quem não embirraria aquele demônio de barbas pretas e cabelo ruivo, eterno maldizente, capaz de encontrar pontos de censura na vida de Santa Maria e nas de S. José?

O barão suportava-o, tão somente para não prejudicar a trintona cunhada, que arriscava-se a ficar solteira se lhe escapasse ocasião de ter marido. Hipólito era já um bom arranjo, tinha algum dinheiro e prometia ir muito mais longe com o seu sistema de economia que orçava sensivelmente pela avareza.

A política era talvez a sua paixão dominante; ele, porém, a disfarçava quanto possível e não se metia com os partidos, receoso de gastar alguma coisa. Aparecia freqüentemente na fazenda de Emílio e estava sempre a criticar, em segredo com a noiva, a educação que davam a Teobaldo.

— Deus queira que não venham a amargar mais tarde! Dizia Hipólito, cheio de repreensão. Nunca vi em dias de minha vida semelhante gênero de ensino! Pois se até o fedelho trata aos pais por tu, como se estivesse a falar com os negros! Enfim cada um faz o que entende; eu, porém, tenho o direito de achar bom ou mau.

 Outro pretexto constante para a sua indignação era a vida dispendiosa de Emílio.

— Para que tanta prosápia e tanta galanice? Resmungava frenético. Ora eu, que sei perfeitamente com que linhas ele se cose, não posso ver isto a sangue frio!  As conseqüências deste esbanjamento bem sei eu quais são: os parentes que se apertem! Mas, não há de ser comigo que ninguém se arranjará: Cá sei quanto me custa a conservar o que tenho! E já não é pouco!

Que importava, porém, a mastigação do serrazina, se ela ficava sepultada nas discretas orelhas de D. Geminiana? Não seria por isso que as matilhas do Sr. Barão deixariam de acordar as florestas com seus latidos, à madrugada, em busca de anta ou do porco bravo; não seria por isso que a mesa do fidalgo seria menos farta. os seus cavalos menos de raça e os seus vinhos menos escolhidos e generosos.

Assim se abria para o Coruja uma existência completamente nova e imprevista, mas muito ao sabor do seu gênio rústico e simples. A certos divertimentos ia entretanto só pela satisfação de acompanhar o amigo, porque, à medida que ele se familiarizava com o campo, acentuavam-lhe os gostos e as preferências. Não trocaria, por exemplo, a mais modesta pescaria pela melhor caçada; desagradava-lhe o alvoroço, o grito dos batedores, o barulho dos cães e não gostava de ver cair ao tiro das escopetas a pobre besta foragida e tonta de terror.

A pesca, sim, era um prazer afinado pelo seu temperamento calmo e silencioso; passava horas esquecidas, de caniço em punho, à espera que se chimpasse um peixe no anzol. Teobaldo às vezes o acompanhava ao rio por condescendência, mas levava sempre consigo uma espingarda passarinheira. Era interessante de ver aqueles dois meninos tão contrários e tão unidos, partirem de madrugada para o mato, onde passavam quase sempre as melhores horas do dia. André carregava consigo os utensílios da pesca e raro dizia uma palavra enquanto matejava; o outro, com a sua passarinheira a tiracolo, falava por si e por ele, descrevendo entusiasmado as façanhas do pai ou do avô, que muitas vezes, em noite de invernada, ouvira da boca do velho Caetano.

Todavia, um adorava o sossego, a doce e morna tranqüilidade dos vales ou as margens frondosas e sombreadas do rio, para onde levava os seus livros favoritos, entre os quais Robinson Crusoé tinha o primeiro lugar; o outro, não; o outro só queria da floresta aquilo que ela lhe pudesse dar de imprevisto e aventuroso: queria a sensação, o perigo, o romanesco e o transcendente.

Às vezes, enquanto o Coruja lia ou pescava à beira d’água, Teobaldo, ao seu lado, deitado sobre a relva, olhos fitos na verde-negra cúpula das árvores, sonhava-se herói de mil conquistas, cada uma do seu gênero; tão depressa se via um grande poeta, como um político inexcedível ou um divino orador. Idealizava-se em toda as atitudes gloriosas dos grandes vultos; não lhe passava pela vista a biografia de qualquer celebridade, fosse esta conquistada pelo talento, pela energia, pela fortuna, pela intrepidez ou pela grandeza d’alma, que ele não descobrisse logo em si muitos pontos de contato com o biografado.

Teobaldo não amava o campo, aceitava-o apenas como um fundo pitoresco em que devia destacar-se maravilhosamente a sua "extraordinária figura", aceitava-o como simples acessório das suas fantasias. Nunca lhe compreendera as vozes misteriosas nem jamais comunicara a sua alma com a dele. Tanta assim que naqueles passeios, o que mais o preocupava não era a contemplação da natureza e sim os pequenos detalhes elegantes que diziam respeito particularmente à sua pessoa, como a roupa, o aspecto do animal que montava e a distinção do exercício que escolhia.

Ele nunca saía a passear sem as suas trabalhadas botas de polimento, sem o seu calção de flanela, a sua blusa abotoada até ao pescoço e cingida ao estômago por um cinturão com fivela de prata; não saía sem o seu chapéu de pluma, a sua bolsa de caça, o seu polvarinho, o seu chumbeiro e, ainda que tivesse a certeza de não precisar da espingarda, levava-a, porque a espingarda fazia parte do figurino.

Um dia exigiu que o pai lhe desse uma pistola e um punhal.

– Para que diabo queres tu todo esse armamento? Perguntou-lhe o barão, sem poder deixar de rir.

— Para o que der e vier...

— Descansa, que por aqui não terás necessidade disso.

— Mas eu queria...

— Pois bem, havemos de ver.

E, para não contrariar de todo o filho, o que não estava em suas mãos, Albuquerque estabeleceu nos fundos da casa um tirocínio de pontaria ao alvo e consentiu que o rapaz nos seus passeios à mata trouxesse à cinta um rico punhal de ouro e prata que pertencera ao avô.

— Tu não queres também uma arma? Perguntou Teobaldo ao Coruja.

— Não; só se fosse um facão para cortar mato.

— Ora, vocês não querem também uma peça de artilharia? Exclamou o barão, quando o filho lhe foi pedir o que desejava o amigo.

Enquanto Teobaldo fazia tanta questão das aparências e das exterioridades, André, enfronhado em um fato de ordinária ganga amarela, que nem era dele, com um grande chapéu de palha na cabeça e às vezes descalço, comprazia-se em percorrer a fazenda, não em busca de aventuras como o amigo, mas de alguém que lhe ensinasse o nome de cada árvore, a utilidade e a serventia de todas elas, assim como o processo empregado na cultura de tais e tais plantações, o modo de semear e colher este ou aqueles cereais; qual a época para isto qual a época para aquilo; queria que lhe explicassem tudo! Uma de suas mais arraigadas preocupações era a obscura existência dos insetos; interessava-se principalmente pelos alados, procurando acompanhar-lhes as metamorfoses, desde o estado de larva à mariposa.

Se lhe despejassem as algibeiras, haviam de encontrar aí várias crisálidas, besouros e cigarras secas, como encontrariam igualmente vários caroços de fruta e pedrinhas de todos os feitios.

Algumas semanas depois de sua estada na fazenda era ele quem mais se desvelava pelos carneiros e pelos porcos e quem ia dar quase sempre a ração aos cavalos. E, quando havia uma ferradura a pregar ou qualquer tratamento a fazer nos animais, mostrava-se tão afoito que parecia o único responsável por isso.

No fim do primeiro mês das férias já o Coruja sabia nadar, correr a cavalo, atirar ao alvo e, por tal forma havia-se familiarizado com a vegetação, com a terra viva, com o sol e com a chuva, que parecia não ter tido nunca outro meio que não fosse aquele.

Em geral acordava muito mais cedo que o amigo e ainda dormia este a sono solto, já andava ele a dar uma vista d’olhos pelo serviço das hortas e dos currais.
––––––––-
continua…