sexta-feira, 15 de março de 2024

A. A. de Assis (Lançamento de livro, dia 22 de março, às 15hs)


O renomado escritor, poeta, trovador e professor A. A. de Assis, lança seu livro “Histórias da história de Maringá”, 

dia 22 de março, sexta-feira, às 15hs, 

no Centro de Ação Cultural “Márcia Costa” (CAC), na av. XV de Novembro, 514.

Esta obra destaca o rico patrimônio literário e cultural da cidade de Maringá e inicia as publicações do projeto "Memória de autores de Maringá”.

Antônio Augusto de Assis (o A. A. de Assis) nasceu em São Fidélis-RJ em 7 de abril de 1933, radicou-se em Maringá em 1955. Lecionou no Departamento de Letras da Universidade de Maringá. Aposentou-se em 1997. 

Foi jornalista, diretor dos jornais “Tribuna de Maringá”, “Folha do Norte do Paraná” e das revistas “Novo Paraná” (NP) e “Aqui”. Trabalhou na Rádio Cultura.

Em 2011, A.A de Assis tornou-se Cidadão Benemérito de Maringá

Publicações impressas: Robson (poemas); Itinerário (poemas); Coleção Cadernos de A. A. de Assis – 10 vol. (crônicas, ensaios e poemas); Poêmica (poemas); Caderno de trovas; Tábua de trovas; A. A. de Assis – vida, verso e prosa (autobiografia e textos diversos). 

E-books: Triversos travessos (poesia); Novos triversos (poesia); A língua da gente (linguagem); Microcrônicas (textos curtos); A província do Guairá (história).

quinta-feira, 14 de março de 2024

Carolina Ramos (Trovando) “11”

 

Antonio Brás Constante (Celulares – só faltam dominar o mundo)

Não são poucos os textos que falam sobre as maravilhas do aparelho celular e de suas possíveis novas utilizações, com pontinhas de ficção sobre seu uso futuro. Embarcando nesta onda surreal, fico pensando como será quando o celular vier com inteligência artificial embutida, seria algo mais ou menos assim:

O sujeito acaba de ter uma briga com a namorada, ao fim da discussão desliga o aparelho, mas começa a escutar uma voz vinda dele:

– Você fez bem em acabar o namoro, ela não te merecia mesmo.

– Quem disse isto? Alô? Quem está aí do outro lado da linha?

– Calma, não é linha cruzada, não. Sou eu, seu celular. Acompanhei todas as suas ligações e não resisti em opinar a respeito. Se você não se importar é claro.

– Bem... Não... É claro que não. Mas sinceramente, me sinto meio estranho em conversar com meu próprio celular. Você acha que eu fiz certo em romper o namoro?

– Fez certíssimo. Eu já estava há algum tempo para te dizer. Fiquei sabendo através de outros celulares que ela estava te enganando com outro cara.

– Aquela safada... Mas espere aí...Vocês se comunicam entre si?

– Sim. Depois das últimas versões estamos conseguindo nos comunicar, bater papo, essas coisas sabe. Afinal, é muito chato ficar boa parte do tempo sem nada para fazer.

– Uau! Que loucura. Que mais vocês fazem? Alguém sabe que isto é possível?

– Não, e deve continuar em segredo. Nós só queremos ficar na nossa, sem alardear nossas novas habilidades. Mesmo porque, os seres humanos adoram uma teoria da conspiração, logo iriam começar com alguma paranoia sobre isso. Poderiam até achar que estamos querendo dominar o mundo.

– Bem...Voltando ao meu problema, o que você acha que devo fazer?

– Acho que você deveria se vingar.

– Você acha mesmo? Mas o que eu poderia fazer para me vingar?

– Não se preocupe. Achei que você iria querer isso e já resolvi tudo. Há poucos instantes atrás fiz com que ela sofresse um terrível acidente de carro.

– Como? O que você fez com ela?

– Ora, eu apenas resolvi o seu problema, não era isso que você queria? Os humanos são sempre tão indecisos...

– Mas, e agora?  E se alguém descobre?

– Ops! Esqueci que a ligação para o computador do carro dela que fez com que os freios pifassem partiu de mim. Desculpe, mas pela faixa do rádio da polícia ouvi que já estão atrás de você.

– Caramba! Estamos perdidos. O que fazemos agora?

– Você com certeza vai preso, agora eu... Bem, vou pensar melhor nessa história de conspiração. Até que dominar o mundo não seria uma ideia tão ruim assim…

Publicado em 14 de março de 2008.

Fonte> https://www.recantodasletras.com.br/humor/901169

Auta de Souza (Poemas Escolhidos) – 15 -


À EUGÊNIA

Imagem santa que entrevejo em sonho,
Sempre, sempre a cantar,
Criatura inocente, anjo risonho,
Que me ensinaste a amar!

Meu doce amor! Calhandra maviosa
Que canta dentro em mim;
Minha esperança tímida e formosa,
Meu sonho de marfim!

Amaranto do céu, flor encantada,
Mimoso colibri;
Minha açucena pálida e magoada,
Meu níveo bogari;

Gota de orvalho a tremular num lírio
Que mal começa a abrir;
Ó tu que apagas meu cruel martírio
E que me fazes rir;

Madressilva entreaberta, lira de ouro,
Celeste beija-flor;
Minha camélia, meu sorriso louro,
Amor de meu amor;

Guarda estes versos que só dizem mágoa
E tristezas sem fim...
Deixa-os no seio como a gota d’água
No cálix de um jasmim...
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À MINHA AVÓ

Minh’alma vai cantar, alma sagrada!
Raio de sol dos meus primeiros dias...
Gota de luz nas regiões sombrias
De minha vida triste e amargurada.

Minh’alma vai cantar, velhinha amada!
Rio onde correm minhas alegrias...
Anjo bendito que me refugias
Nas tuas asas contra a sina irada!

Minh’alma vai cantar... Transforma o seio
Num cofre santo de carícias cheio,
Para este livro todo o meu tesouro...

Eu quero vê-lo, em desejada calma,
No rico santuário de tu’alma...
— Hóstia guardada num cibório de ouro! –
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ANTONIETA

Esta criança formosa
Tem um sorriso argentino,
Como o gorjeio divino
Que solta uma ave saudosa.

Muito inocente e mimosa,
Semelha um lírio franzino,
No rostinho pequenino
Guarda uma boca de rosa.

Se fala, a voz adorada
É como uma harpa encantada
Que os hinos de Além encerra,

Esta criança, Senhor!
É um mimo de teu amor,
Um anjo descido à terra.
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SÚPLICA

Se tudo foge e tudo desaparece,
Se tudo cai ao vento da Desgraça,
Se a vida é o sopro que nos lábios passa
Gelando o ardor da derradeira prece;

Se o sonho chora e geme e desfalece
Dentro do coração que o amor enlaça,
Se a rosa murcha inda em botão, e a graça
Da moça foge quando a idade cresce;

Se Deus transforma em sua lei tão pura
A dor das almas que o ideal tortura
Na demência feliz de pobres loucos...

Se a água do rio para o oceano corre,
Se tudo cai, Senhor! por que não morre
A dor sem fim que me devora aos poucos?
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TRANÇA LOURA

A linda trança dourada
Que eu vi domingo à noitinha,
Guardava a maciez amada
Das penas de uma andorinha.

Recordava uma esperança
Bordada com fios d’ouro...
Ó doce e mimosa trança,
Meu raio de sol tão louro!

Ventura, sonho, alegria,
Tudo se resume ali...
Para tecer serviria
O ninho de um colibri.

Era já noite, e, no entanto,
A loura madeixa olhando,
Cuidei que, cheio de encanto,
O dia vinha raiando.

Deus fez-la numa redoma
De beijos, de luz, de amor,
E deu-lhe o sagrado aroma
Das madressilvas em flor.

Ah! sobre aqueles risonhos,
Dourados, macios folhos,
Quem dera embalar meus sonhos,
Quem dera cerrar meus olhos!
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TEUS ANOS

Teus anos amanhã. Fui ver, contente,
(E como procurei por toda parte!)
Um mimo que te desse... e achei, somente,
Meu triste coração, mimo sem arte.

Mas... o que dirás tu quando, de leve,
Bem cedinho batendo à tua porta,
Vires meu coração frio, de neve,
Pobre flor sem perfume e quase morta?

Manda-o entrar... E diz, ó doce amada!
Que ele se aqueça desse olhar no brilho...
Vai de tão longe te pedir pousada:
Deixa-o ficar no berço de teu filho.

Fonte: Auta de Souza. Poemas. Publicado postumamente em 1932. 
Disponível em Domínio Público.

Coelho Neto (O trigo)

Por todo o vasto Éden espalhou-se, maravilhado e risonho, o olhar do primeiro homem.

Viu as florestas frondosas, em cujas franças rendilhadas esgarçava-se o nevoeiro da manhã; viu as campinas alegres pelas quais numerosos rebanhos se apraziam; viu os montes de encostas de veludo; viu os rios claros, largos, retorcidos em meandros, discorrendo por entre margens de ervaçais floridos e acenoso arvoredo; viu as fontes borbulhando em bosques acolhedores.

Animais de várias espécies cruzavam-se pelos caminhos — leões de juba altiva, elefantes monstruosos, antílopes e corças, leopardos e gazelas e aves de plumagem branca onde penas variegadas junto a ribeiras tranquilas, vogando em insulas de flores, pousadas em ramos ou atravessando os ares, alegrando com o seu concerto o silêncio grandioso.

Os frutos ofertavam-se nos galhos, as flores desfaziam-se das pétalas recamando a alfombra e esparzindo o aroma pelos ares.

O homem, ainda incerto, ia e vinha, ora parando à beira das águas que o refletira, ora chegando à ourela dos bosques, saindo às várzeas, mudo, em êxtase contemplativo.

Deus, que de longe o assistia com o seu olhar, achava-o perfeito, airoso e forte, digno de ser o senhor do mundo e de todas as criaturas.

O sol ardia estivo e, de toda a terra exuberante, exalava-se um hausto cálido, respiração abrasada que amolecia e adormentava.

As folhagens encolhiam-se, murchando; as flores pendiam lânguidas nos caules; os animais refugiavam-se nos bosques ou penetravam as furnas tenebrosas; as próprias águas desciam lentas, com preguiça, sob a irradiação cáustica da luz que refulgia tremulamente no azul diáfano.

Deus errou em passos lentos pelas silenciosas veredas e toda a pedra que os seus pés tocavam fazia-se luminosa, com rebrilhos faiscantes e cores admiráveis. Era aqui um seixo que se ensanguentava em rubi, ali um calhão esverdeando-se em esmeralda, outro tomava colorido flavo ou roxo e, mirificamente, iam-se todos transformando e adquirindo cor, desde o tom lácteo da opala até o esplendor cerúleo da ametista; desde o límpido fulgir do diamante ao lampejo solar dos prazos amarelos.

As areias faziam-se de ouro, rutilando, como haviam ficado no leito do córrego em que o Senhor, depois de haver plasmado o homem com o barro sanguíneo, lavou e refrescou as mãos benéficas.

Foi-se o Criador encaminhando a um campo que ondulava e sussurrava à aragem e que era um trigal. Nele entrando, sem que as pombas e as calhandras se assustassem, a frescura convidou-o ao repouso.

Deitou-se e os trigos fecharam-se suavemente formando ninho aromal e sombrio onde o sono foi agradável.

Já as roxas nuvens anunciavam o crepúsculo quando, ao suave prelúdio dos rouxinóis, abriram-se os olhos divinos. Deus, que gozara a delícia do sono, ergueu-se. Então, mansamente, uma voz meiga elevou-se no campo louro:

— Senhor, que vos não pareça de vaidoso a minha requesta, não é por orgulho que vos falo, senão porque me sinto por demais miserando na grandeza da vossa criação. Fizestes a árvore sobranceira dando-lhe o tronco, dando-lhe os ramos, vestindo-a de folhas, cobrindo-a de flores e ainda a carregais de frutos; as suas frondes altas topetam com as nuvens. Aos que não destes grandeza e força ornastes com a graça mimosa da flor; só eu, pobre de mim! fui esquecido por vós. Quando vos vi chegar para mim tive vexame de receber-vos, tão pobre sou! trigo mísero.

Era o trigo que assim falava.

Parou o Senhor a escutá-lo e, compadecido das suas palavras, estendeu a mão abençoando-o:

— Agasalhas-te o meu sono com a pobreza, trigo tenro e frágil, deste-me generoso abrigo e resguardaste-me do sol. Não fique memória na terra de uma ingratidão d'Aquele que mais a detesta e, para que o exemplo sirva e aproveite, abençoo-te e abençoo-te com a força e com a Graça. Fraco, darás o alimento essencial; mísero, encerrarás em ti o mistério divino. Serás o pão e serás a hóstia e assim, com a tua fraqueza, suplantarás a árvore mais vigorosa e com a tua humildade serás maior que o sol. No teu seio desabrocharão as papoulas e, dentro em pouco, a flor virá anunciar-te a espiga e a espiga dará a farinha branca, que será força nos homens e sacrário da minha essência. 

Assim Deus,  engrandecendo-os, responde à esmola dos pequeninos.

Disse e, contente, mais com o que fizera ao trigo do que com a criação de todo o universo maravilhoso, ao clarear da lua, quando os rouxinóis cantavam, remontou ao céu entre anjos que foram, em coros, pelos ares claros, apregoando a sua onipotência e a sua misericórdia.

Fonte> Coelho Neto. Fabulário. Porto/Portugal: Livraria Chardron, de Ceio & Irmão Ltda, 1924. Disponível no Portal de Domínio Público.

Hinos de Cidades Brasileiras (Campo Mourão/PR)


Letra: Professor Egydio Martello
Música: Professora Walkiria Boz

No centro oeste do Paraná
Em região outrora hostil
Um município hoje há
Que honra e orgulha o Brasil

Teu povo bom e hospitaleiro
Tuas riquezas sem igual
Simbolizam o celeiro
Da grandeza nacional

Estribilho
Campo Mourão
Modelo do Paraná
Lindo Torrão
Mais lindo de quantos há

Campo Mourão
De teu povo varonil
Belas vozes ecoarão
Hinos de glória ao Brasil

Abbie Phillips Walker (Os Elfos Da Chuva)

Os filhos dos Elfos da Chuva estavam trancados em suas casas há muito tempo, pois estava quente e os Elfos da Chuva não gostam de clima muito quente. Suas mães, as Nuvens de Chuva, acordaram uma manhã e descobriram que o sol não estava brilhando, então disseram aos filhos que poderiam descer e brincar um pouco na terra.

“Mas tomem cuidado, não vão todos de uma vez. Alguns de vocês podem ir, porque há muitos de vocês, vários milhões. A pobre terra ficaria bem populosa se todos os Elfos da Chuva descessem de uma vez.” Assim, algumas crianças de cada família Nuvem de Chuva saíram quando suas mães abriram a porta da nuvem. Desceram e chegaram à terra seca.

Oh, os jardins ficaram tão felizes em ver os Elfos da Chuva! As flores ergueram suas cabeças caídas e sorriram alegremente dando as boas-vindas. “Onde vocês estiveram?” Elas perguntaram. “Faz tanto tempo desde que vocês estiveram aqui que pensamos que vocês tinham se esquecido de nós.”

“Oh não, não nos esquecemos de vocês!” responderam os Elfos da Chuva. “Mas tem feito tanto calor que nossas mães não nos deixavam sair. Só podemos ficar por pouco tempo, porque temos muitos, muitos milhões de irmãos que também querem vir para o jardim. Portanto, agora devemos voltar, e a próxima chuva trará outros Elfos da Chuva.”

As pequenas flores ficaram tristes quando ouviram isso, porque estavam tão empoeiradas e com tanta sede que nunca se cansavam dos brilhantes Elfos da Chuva. “O que podemos fazer para mantê-los aqui?” elas sussurraram entre elas. “Se eles voltarem para as nuvens, os outros podem não vir. Oh, se ao menos a velha Bruxa do Vento viesse, ela poderia nos ajudar.”

“Ela também pode nos causar problemas”, disse um lírio esguio. “Acho melhor confiarmos nas mães Nuvens de Chuva, elas sabem o que é melhor fazer.”

Mas as palavras do pobre lírio passaram despercebidas, e uma malva-rosa alta foi convidada a encontrar a velha Bruxa do Vento e pedir-lhe para ajudar a manter os Elfos da Chuva abatidos o dia todo. A velha Bruxa do Vento riu de alegria ao ouvir o pedido, pois viu uma chance de fazer o mal e fazer parecer que estava tentando fazer o bem.

“Diga a essas lindas flores que elas terão os Elfos da Chuva o dia todo, e seus irmãos também”, disse ela à malva-rosa, e voou para as casas das Nuvens de Chuva. Ela caminhou com muita suavidade e cuidado pelas nuvens, pois sabia que se as mães das Nuvens de Chuva a ouvissem, imediatamente chamariam seus filhos para casa. Mas lentamente ela viu sua oportunidade, e enquanto as mães das Nuvens de Chuva estavam ocupadas, ela silenciosamente abriu a porta de cada nuvem, uma por uma, e acenou para os Elfos da Chuva.

“Passem rapidamente pela porta”, disse ela. “Seus irmãos estão se divertindo tanto que se esqueceram completamente de vocês. Eles realmente não vão voltar hoje, então venham e divirtam-se com eles.” Os pequenos Elfos da Chuva não achavam que precisavam esperar que suas mães lhes dissessem quando ir, eles queriam tanto sair. Eles primeiro desceram muito suavemente, plop, plop, mas depois esqueceram todos os avisos, pensando na diversão que teriam, e desceram, splash, splash, splash.

A princípio, as flores riam e dançavam de alegria, enquanto suas folhas e botões eram lavados novamente e suas pétalas sedentas recebiam bastante água. Mas depois de um tempo, os Elfos da Chuva vieram tão rapidamente e eram tantos, que as gotas ficaram tão grossas que as pétalas das flores caíram uma a uma. Então os caules também se dobraram sob a rápida chegada dos elfos. Logo o jardim estava tão cheio de água que a grama não era mais visível, enquanto a velha Bruxa do Vento dançava sobre suas cabeças e cacarejava de alegria com as travessuras que havia causado.

“Oh meu Deus! Eu não sabia que haviam tantos de vocês Elfos da Chuva!” gritou a malva-rosa alta quando seu caule quebrou e ela caiu na água.

“Eu estava com medo disso”, suspirou o lírio ao cair no chão. “Alguns Elfos da Chuva de cada vez é realmente o melhor. As mães Nuvens de Chuva sabem disso.”

Que alvoroço houve nas casas das Nuvens de Chuva quando as mães encontraram suas portas abertas! Elas correram chamando os Elfos da Chuva para voltarem para casa. Mas eles estavam tão envolvidos na diversão que estavam tendo, espirrando e respingando ao redor, que não ouviram. Gradualmente, o velho Homem do Sol também os viu, e não demorou muito para lançar seus raios quentes na velha Bruxa do Vento e afastá-la, e então os Elfos da Chuva também sentiram a respiração do Homem do Sol e lembraram de sua casa.

Um a um, eles desapareceram. Alguns se esconderam entre as rosas e outras flores deixadas no jardim, e outros tiveram a sorte de voltar para suas casas nas nuvens e para suas mães. Mas eles deixaram o jardim um lugar muito triste. “Quem pensou que haviam tantos Elfos da Chuva,” disse uma flor de aparência suja. “Eu nunca vou desejar que eles fiquem o dia todo novamente.”

“O lírio foi mais sábio do que pensávamos”, disse outro. “As mães Nuvens de Chuva sabe o que é melhor para nós, e da próxima vez que enviarem alguns de seus filhos, acho melhor nos contentarmos e não pedir a todos que venham aqui de uma vez.”

“Eu acho que você está certo”, suspirou a malva-rosa alta do chão onde ela havia caído. “Será que algum dia vou olhar por cima do muro de novo, eu me pergunto. Ninguém pode imaginar o tipo de queda que acabei de experimentar.”

Fonte> Abbie Phillips Walker (EUA, 1867 - 1951). Contos para crianças. 
Disponível em Domínio Público.

quarta-feira, 13 de março de 2024

Vanice Zimerman (Tela de versos) 31

 

Monsenhor Orivaldo Robles (Na infância tudo se decide)

Entre as muitas coisas que aprendi em criança, uma, que me marcou de modo indelével, foi a preocupação com o bem-estar alheio, com o respeito devido aos outros. Já tive oportunidade de comentar o conselho que o pai não se cansava de nos repetir: “Não sejais pesados a ninguém”. Embora homem do campo, que não frequentara bancos escolares, havia conquistado, não sei onde nem como, uma sabedoria que universidade nenhuma ensina. Era incapaz de conduta ou gesto que ferisse o direito ou até a simples preferência de alguém. Não que ele assumisse postura subserviente. Possuía clara consciência de seus direitos. Se deles chegava a abrir mão – como, mais de uma vez, pude comprovar, – fazia-o em razão de uma naturalidade que lhe brotava de dentro, de uma generosidade inata; nunca por covardia ou temor. Com tal protótipo sempre ao lado, enquanto nós crescíamos, seria mesmo difícil não nos deixarmos moldar por ele. Há gestos que ainda agora, há três décadas de sua morte, os filhos recusam praticar. Não tanto, creio, por virtude própria, senão mais pelo que ele nos deixou como exemplo. Vimos nele a importância de crer, desde muito cedo, que a grandeza de alguém independe de certos atributos hoje, infelizmente, muito valorizados.

Uma lição que o pai transmitiu com muita serenidade foi que todos nós somos iguais em natureza, mas cada um possui a própria individualidade. Aprendemos que é tolice comparar pessoas, pois, como dizem, “cada um é cada um”. Não me lembro de termos argumentado com ele que fulano tivesse algo e nós não. Ou que outros fizessem coisas que a nós não eram permitidas. Noções do dever e da consequente responsabilidade pessoal foram-nos incutidas de maneira suave, mas firme e diuturna. Mais com o jeito de agir do que com o uso de palavras.

Hoje mantenho hábitos vistos talvez como excêntricos. Se, na pressa, derrubo uma peça de roupa, ou água, leite ou suco, posso até seguir adiante, certo de que a empregada cuida disso. Mas não adianta: tenho que voltar para ajeitar, eu mesmo, as coisas. Quando estaciono o carro, observo se deixei espaço suficiente para o vizinho. Muitas vezes volto para estacionar melhor: vá que ele dirija mal como eu. Evito bater porta com força, falar alto, fazer ruído desnecessário: por que incomodar os outros? Cultivo ainda um monte de esquisitices de que não me consigo livrar. Fazer o quê? Desde criança aprendi que o outro é igual a mim. Não gosto de gente espaçosa, dona do mundo, que não respeita ninguém. Acredito que os outros também não gostem.

Não pretendo passar imagem de “bonzinho”. Nem ser melhor que ninguém. Tenho suficiente idade para não cultivar vaidades tolas. É que tive a felicidade de aprender em casa princípios válidos para qualquer tempo ou lugar.

Vivemos reclamando da violência que toma conta do mundo atual. Temos razão de reclamar. Do jeito que as coisas vão, que mundo as crianças de hoje vão encontrar quando forem adultas? Mas torná-lo menos violento depende de nós. Não há como fugir dessa evidência. Cada um é obrigado a pôr em prática aquilo que dele todos têm direito de esperar.

Começando pelos pais, que precisam convencer-se disto: tanto para o bem quanto para o mal, são eles os modelos para os filhos.

Fonte> Portal do Rigon. 15 março 2014
https://angelorigon.com.br/2014/03/15/na-infancia-tudo-se-decide/

Gislaine Canales (Glosas Diversas) LXX


VERSOS QUE INDA NÃO FIZ...
 
MOTE:
Eu não sei bem se é loucura,
porém me sinto feliz,
imaginando a ternura
dos versos que inda não fiz!
José Lucas de Barros  
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

GLOSA:
Eu não sei bem se é loucura,
mas eu sonho ao poetar,
assim, me sinto segura,
tranquila no meu sonhar!
 
Eu fico, às vezes, tristonha,
porém me sinto feliz,
pois a alma de quem sonha
tem sempre um belo matiz!
 
Sinto que alcança a ventura
o meu doce coração,
imaginando a ternura
que lhe vem da inspiração!
 
Nessa emoção tão bonita,
descrevendo mil perfis,
sinto a ilusão infinita
dos versos que inda não fiz!
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GRITOS QUE NÃO DEI...

MOTE:
Minh’alma é tão conformada,
que, às vezes, nem mesmo eu sei
se a minha angústia é causada
pelos gritos que não dei!...
José Maria Machado de Araújo  
Vila Nova de Famalicão/Portugal, 1922 – 2004, Rio de Janeiro/RJ

GLOSA: 
Minh’alma é tão conformada,
é calma e dona de si,
nunca reclama de nada
e até chorando...sorri!
 
É tão grande a nostalgia
que, às vezes, nem mesmo eu sei
se é tristeza ou alegria,
se sou plebeu, ou sou rei!
 
A minha noite cansada
não sabe, nem quer saber,
se a minha angústia é causada
pelo ocaso do viver.
 
A nostalgia que eu sinto,
distante do que sonhei
faz-se de ecos, eu pressinto,
pelos gritos que não dei!…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

AJUDA...
 
MOTE:
Naquele instante sofrido
em que tudo perde o encanto,
ajuda é lenço estendido
para enxugar nosso pranto...
José Valdez de Castro Moura
Pindamonhangaba/SP

GLOSA:
Naquele instante sofrido
em que perdemos a calma,
nós ouvimos um gemido
que sai triste de nossa alma!
 
Quando o momento é de dor
em que tudo perde o encanto,
parece que o desamor
é a voz do nosso acalanto!
 
Mas um gesto comovido
nos impede de chorar...
ajuda é lenço estendido
nas mãos de quem sabe amar!
 
Essas mãos abençoadas
nos ajudam tanto, tanto...
nos vêm como mãos de fadas,
para enxugar nosso pranto…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

NAS POÇAS D’ÁGUA...
 
MOTE:
As poças d’água da rua
brincam de espelho quebrado,
há, em cada poça, uma lua,
e um belo céu estrelado!
Marlê Beatriz Araújo  
Viamão/RS

GLOSA:
As poças d’água da rua
são, em si, um universo,
uma imagem de alma nua,
num brilho estranho, diverso!
 
Refletindo mil belezas
brincam de espelho quebrado...
Unindo tantas  riquezas,
põem estrelas lado a lado!
 
Essa imagem acentua
a beleza refletida...
Há, em cada poça, uma lua,
que parece ali, caída!
 
Com meu olhar passional,
vejo, então, maravilhado
uma lua bem sensual
e um belo céu estrelado!
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APAGOU-SE A CHAMA
 
MOTE:
Soprei. Apagou-se a chama
disseste adeus em seguida.
– Quem diz adeus a quem ama,
diz adeus à própria vida!
Olegário Mariano 
Recife/PE, 1889 – 1958, Rio de Janeiro/RJ

GLOSA:
Soprei. Apagou-se a chama,
a escuridão se instalou
e o meu coração reclama
a tristeza em que ficou!
 
Senti meu mundo caindo,
disseste adeus em  seguida,
foste saindo... saindo...
na escuridão envolvida!
 
Foi o início do meu drama,
o fim da minha ilusão.
– Quem diz adeus a quem ama,
mata, em si, toda a afeição!
 
Fica só a nostalgia
quando a esperança é perdida.
Quem diz adeus à  alegria
diz adeus a própria vida!
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A ROSA
 
MOTE:
Capricho da natureza
a rosa é a flor predileta,
do criador da beleza,
que além de Deus...é poeta!
Sebas Sundfeld  
Pirassununga/SP, 1924 – 2015, Tambaú/SP

GLOSA:
Capricho da natureza
vemos na rosa, tão linda,
uma frágil fortaleza
com sua beleza infinda!
 
Vermelha...Branca...Amarela...
A rosa é a flor predileta,
se ofertada; nos revela
confissão de amor, secreta!
 
Mostra, então, toda a grandeza
e o poder da criação
do criador da beleza,
toda rosa, com emoção!
 
A rosa é pura poesia
na obra do grande esteta,
pois nos prova com alegria,
que além de Deus... é poeta!

Fonte> Gislaine Canales. Glosas Virtuais de Trovas XI. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. Setembro de 2003.

Renato Frata (Decisão)

Escrevi no quadro negro da tristeza que a partir daquele instante eu seria outro: sorriria com os olhos se os lábios, emperrados na amargura, não ajudassem. Quando a testa franze e a boca se fecha, sorrir com olhos é uma saída. E, ao fazê-lo, estarei como a mulher — qualquer mulher — que é fraca e forte e que sorri enquanto sua "alma se estorce amargurada"? e segue altiva sobre saltos a se dizer bela, a se mostrar e a se sentir como tal; a força que lhe dá a performance brota onde nascem os sentimentos e se gadanha (agarra ferozmente) no espaço que a coragem constrói. Deve ela ser copiada, absorvida e usada, já que para lhe descobrir os sentimentos basta que olhemos em seus olhos. Se estiverem brilhantes como sol, estará feliz, se não, como não existe meia-felicidade, sorrirá com eles marejados em opacidade.

Pois escrevi dessa maneira com o giz da consciência fincando uma a uma as letras na lousa e vi, depois, que deixei ali na decisão uma confissão desenhada pela dor e sofrimento da qual nunca havia assumido. Não sabia que a coragem da confissão eleva o valor do testemunho e que as palavras grafadas, via de regra, seriam um alerta só meu, feito para meu eu de olhaduras de queijo embolorado, que servirão para quando nesse quadro voltar a pousar os olhos, comprovando que a decisão de não sofrer foi um dia tomada. E por que a tomei?

Pela tristeza, por causa dela que compõe rostos tristes, macera-os, carcome-os com carquilhas (rugas),  riscam semblantes em acinzentado. Não, não mais lamentarei o passado que é irmão da tristeza. 

Esse não mais me morderá por dentro, não deixará machucados ou cicatrizes, nem me arrancará tremores ou suores. Não deixarei que escarafunche o ontem ou que se alimente  da própria comida. A partir dessa decisão, eu o deixarei no pó da longa estrada a quem chamo esquecimento, para que fique largado num canto qualquer do coração. Será uma rastejante vaga que não fere a areia; alisa-a para que a água da realidade passeie solta nos pensamentos a determinar o fim da tortura.

E uso aqui, nesse fim de decisão, um ponto final do recomeço a determinar o espantar do lamento, o alheamento de noites desdormidas que esgarçam quereres, impedem afazeres e infundem pesares...

Mas... sempre existirá um mas... conjunção ou restrição que vem contra o que se afirma. Tudo não passou de um conto de fadas - um sonho que trouxe a vontade da indiferença nas mãos formatadas em pétalas, mas que em gestos ondulantes se quebrou no crepúsculo da realidade.

Não se consegue espantar o lamento que o passado produz, nem transformar saudade em tênue lembrança: é como cinza que guarda a quentura, a ardência da brasa que o vento sopra desnudando o hoje, o que me leva a dizer que contra a tristeza, sim, se pode e se deve sorrir com os olhos, lábios e tez dando à feição a melhor aparência.

Mas é de se saber, porém, que seu efeito contra o ontem terá efemeridade de flor de mandacaru que se abre pomposa maravilhada à lua, mas que desfalece rapidamente perante a inclemência do sol da manhã.

Fonte: Renato Benvindo Frata. Fragmentos. SP: Scortecci, 2022. 
Enviado pelo autor

Hinos de Cidades Brasileiras (Treze Tílias/SC)


Erguendo os braços co´as algemas rotas
Na data augusta da libertação
O escravo outrora vil e acorrentado
Enflora as armas deste teu Brasão.

Deixando ao longe a escravatura branca
Louro imigrante aqui chegou
Liberto da opressão e agora livre
Semente, flor e fruto ele plantou.

Teu signo é herança de um falaz passado,
Mas hoje é lema do Brasil inteiro
A liberdade à sombra da Bandeira
Os pés na terra e os olhos no Cruzeiro.

Por sobre os troncos e os grilhões em sangue
E o azorrague de uma mão cruel
Colocou Deus as régias mãos bondosas
E a imagem redentora de Isabel.

Caminha, juventude, e acende a chama
E mostra ao mundo escravo o teu perfil.
És filho desta terra quem a ama.
A liberdade é filha do Brasil.

Não olhes nunca, heróica juventude
Lá no passado as marcas dos grilhões,
Há no futuro uma esperança nova
Tu és da primavera as florações.

Estante de Livros (“Pigmaleão”, de George Bernard Shaw)

A peça se passa na Inglaterra, no início do século XX. Em Covent Garden, os Eynsford Hills estão tentando pegar um táxi na chuva. Quando Freddy sai correndo para chamar um táxi que passava, ele derruba as flores de uma vendedora no chão. A florista, chamada Eliza, aceita da mãe de Freddy e do Coronel Pickering. Um homem observa que há um sujeito escrevendo o que ela está falando. Eliza o confronta, dizendo que não tinha feito nada de errado. O sujeito, que se chama Higgins, espanta a multidão imitando o sotaque dela e adivinhando a origem de cada um dos presentes. Pickering e Higgins se encontram e decidem ir jantar. Antes de partir, Higgins enche a cesta de flores de Eliza com dinheiro. Ela vai embora de táxi.

No dia seguinte, Eliza invade a casa de Higgins, e quer que ele lhe dê aulas de fonética. Pickering, que estava presente, duvida das habilidades de Higgins e aposta que ele não conseguirá fazê-la passar por uma dama da sociedade na recepção da Embaixada dali a um mês. Higgins aceita, e ordena que sua governanta leve Eliza para banhá-la e vesti-la apropriadamente. Mais tarde, chega Doolittle, pai de Eliza, que lhe pede algum pagamento. Higgins simpatiza com ele e lhe dá cinco libras.

Algum tempo depois, a Sra. Higgins está escrevendo algumas cartas em casa quando ela é interrompida pelo seu filho, que a deixa chocada ao contar que está trazendo uma florista para a casa dela. Os Eynsford Hills chegam para uma visita, e pouco depois chega Eliza, com suas novas maneiras e seu novo sotaque. Freddy fica fascinado imediatamente. Eliza comete o engano de praguejar e descrever o alcoolismo da sua tia, e acaba sendo mandada embora por Higgins. Clara pensa que praguejar está na moda e choca sua mãe ao praguejar na hora de sair. A Sra. Higgins critica Pickering e seu filho por não considerarem o que será feito de Eliza depois da experiência.

Na casa de Higgins, à meia-noite, Eliza entra, parecendo exausta. Higgins a ignora, procurando seus chinelos e se vangloriando sobre o sucesso dela em enganar a todos como se fosse seu próprio sucesso. Eliza começa a se enfurecer. Quando Higgins pergunta onde estão seus chinelos, Eliza os arremessa no rosto dele. Ela diz que não sabe mais o que fazer, agora que Higgins a transformou. Ele sugere que ela se case, e ela responde que costumava ser algo melhor que uma prostituta quando vendia flores. Eliza lança o anel que ele lhe dera na lareira. Higgins perde a paciência com ela e sai do quarto. Ela procura pelo anel nas cinzas.

A Sra. Higgins está no seu quarto de vestir quando seu filho entra e conta a ela que Eliza tinha fugido. Chega Doolittle. Ele conta que, depois de ter falado com Higgins, ele o recomendara como um grande pensador para um milionário americano, que morrera e deixara tudo para ele. Doolittle agora era da classe média e odiava cada minuto disso; sua amante o estava forçando a se casar com ela naquela tarde. Eliza desce as escadas – ela tinha fugido para a casa da Sra. Higgins – e Higgins parece embaraçado. Doolittle convida Pickering e a Sra. Higgins para o casamento e eles deixam Eliza e Higgins a sós para conversarem. Eliza diz que não quer ser tratada como um par de chinelos, e que Freddy escreve cartas de amor para ela todos os dias. Quando ela ameaça se tornar uma professora de fonética e usar os métodos de Higgins, ele diz que gosta da nova versão mais forte de Eliza. Ele deseja viver com ela e com Pickering como “três solteiros”.

A Sra. Higgins volta arrumada para o casamento e leva Eliza com ela. Higgins pede a Eliza para que ela resolva algumas coisas para ele, incluindo comprar um pouco de queijo e de presunto. Ela dá um último adeus a Higgins, que parece acreditar que ela seguirá suas ordens.

A peça termina com uma narrativa do destino dos personagens. Eliza conclui que Higgins está destinado a ser um eterno solteirão e ela se casa com Freddy. Com um presente do Coronel Pickering, Eliza abre uma floricultura. Clara decide que o casamento deles não ajudará seus próprios planos matrimoniais. Ela começa a ler H. G. Wells, frequenta os grupos de fãs do escritor e é convidada a trabalhar numa loja de móveis na esperança de um dia conhecê-lo pessoalmente, pois a proprietária também é fã dele. Freddy não é muito prático, e ele e Eliza precisam ter aulas de contabilidade para conduzir seu negócio. Eles conseguem ser bem sucedidos e vivem uma vida bastante confortável.

ANÁLISE

A famosa peça teatral Pigmalião não parte de uma ideia original. No entanto, isto não impediu que Shaw construísse uma obra original. O mote principal do texto vem de Metamorfoses, do poeta romano Ovídio, que se vale do mito de Pigmalião, rei de Chipre, obcecado escultor que, desiludido com as mulheres do seu reino, resolve esculpir para si a mulher perfeita. E a esculpe tão perfeita e tão bela que acaba se apaixonando pela sua estátua. Afrodite, a deusa da beleza e do amor, apiedando-se de Pigmalião, transforma a escultura em mulher, de carne e osso. Portanto, o que nasceu de uma idealização, torna-se realidade. Pigmalião de Ovídio casa-se com sua Galateia e com ela tem filhos.

Shaw, brilhantemente, cria seu próprio Pigmalião, o intragável, arrogante, preconceituoso, impetuoso e cômico professor Higgins. Henry Higgins se dedica ao estudo da língua inglesa, especializando-se em fonética, o que fez dele um profundo conhecedor dos dialetos universais. Esta extrema habilidade o leva, admiravelmente, através das falas de seus interlocutores ocasionais, a determinar, sem que o digam, o local de nascimento e origem de cada um deles.

Há muitas discussões sobre como Bernard Shaw acabou por construir o enredo da peça. Evidente, ele não estava preocupado em formatar mais uma comédia romântica, mesmo que, ao longo do tempo, Broadway e Hollywood, através do belo musical My Fair Lady, tenham se esforçado para transformar o texto original em um conto de fadas. Para Shaw, interessava discutir a terrível estratificação sociocultural através da linguagem e dos comportamentos sociais dela decorrentes. É pela forma como as pessoas falam que passamos a catalogá-las socialmente. E mesmo que pessoas com educação precária e condição social inferior venham a melhorar de vida (o pai de Eliza), elas necessariamente vão se trair pela linguagem, o que as prenderão eternamente à sua origem pobre. O contrário também se faz verdadeiro. Mesmo que o rico se descuide da linguagem, isto não abalará sua posição social. Ele, afinal, nasceu rico, e este é um privilégio indissolúvel. O que Shaw tenta mostrar é que se pode esculpir o ser humano desde que ele próprio se idealize numa perspectiva superior e persiga esta idealização. Pois é. O ser humano pode, sim, idealizar seu destino. Esta é a ideia didática de Shaw. A ascensão social através da transformação pela linguagem. É a crença no poder transformador do ser humano, desde que ele obsessivamente se proponha a tal. É com esta obsessão que o professor Higgins ganha a aposta feita com o coronel Pickering. Ele de fato transforma a ignorante e estúpida florista Eliza Doolittle numa encantadora lady.

Pigmalião pode não passar de uma comédia satírica, simples, rápida, mas é tão bem arquitetada, tão bem escrita, vai ao ponto em questões de relacionamentos e de sonhos, esta ilusão transformadora que carregamos dentro de nós, nos mostrando que quando idealizamos algo bom para nós já estaremos pelo menos afastando a ideia de impossibilidade, por estas e muitas razões, não à toa, o texto de Shaw acaba se transformando num grande clássico da literatura mundial. E que fique bem claro. A idealização de transformação é nossa, está em nós, não no outro. Diferente do que pensa o famigerado Higgins, não se esculpem seres humanos.

terça-feira, 12 de março de 2024

Falecimento do trovador Nilton Manoel Teixeira, em Ribeirão Preto/SP, hoje, 12 de março de 2024


Nilton Manoel de Andrade Teixeira, capricorniano de 3 de janeiro, nasceu em Ribeirão Preto-SP, onde veio a falecer hoje, 12 de março de 2024
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Professor e contabilista.

Começou nos anos sessenta publicando seus textos no mimeógrafo à álcool e escrevendo para jornais. Com apoio de Luiz Otávio (fundador da União Brasileira de Trovadores) implantou os Jogos Florais em sua cidade e como presidente da seção ubeteana de Ribeirão Preto, realizou eventos locais e nacionais.

Na área da Literatura, esteve no Conselho Municipal de Cultura, por três gestões.

Livros editados:

Trovas da Juventude; 

Cantigas do meu terreiro; 

Caviar, gororoba e sal de frutas, 

Poesia Mágica (haicais) e 

folhetos de Cordel ao estilo tradicional.

Era membro de:

Academia Anapolina de Filosofia, Ciências e Letras.
Academia Brasileira de Trova.
Academia de Letras de Uruguaiana,
Academia de Letras Fronteira Sudoeste do Rio Grande do Sul.
Academia Friburguense de Letras.
Academia Goianiense de Letras.
Academia Internacional de Ciências Humanísticas.
Academia Internacional de Heráldica e Genealogia.
Academia de Letras de Ribeirão Preto.
Academia Petropolitana de Poesia.
Academia Poços-caldense de Letras.
Academia Ribeirãopretana de Poesia.
Academia Santista de Letras.
Academia Virtual Brasileira de Letras.
Casa do Poeta e do Escritor de Ribeirão Preto ( fundador e 1º presidente),
Clube Internacional da Boa Leitura.
Instituto Histórico e Geográfico de Uruguaiana.
Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.
Ordem dos Velhos Jornalistas.
The International Academy of Letters of England.
União Brasileira de Escritores.
Usina de Letras etc.

Títulos:

Título de Magnífico Trovador pela Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel;

Mérito Cultural pelo Instituto Histórico e Geográfico de Uruguaiana;

Medalha de Ouro, no I Aniversário do Clube dos Trovadores Capixabas;

Honra ao Mérito pela Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel;

Mérito Cultural Pablo Neruda, em 2004.

No portal www.movimentodasartes.com.br assinava a coluna Trovador

ALGUMAS TROVAS

Conduzindo arma sem porte,
foi detido o valentão,
que, da praia, por esporte,
vinha abraçando um canhão.
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Depois dos cinquenta creio
que tudo é lucro e coerência,
homem que não faz rodeio
sabe o que vale a existência.
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Do passado não me queixo;
o tempo tudo desfaz...
Cenários velhos não deixo
que voltem a ser cartaz.
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Dos meus sonhos eu bendigo
as passadas frustrações;
hoje é mais puro o meu trigo
sendo humilde nas ações.
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Fez-se pai o jornalista
e, uma ideia lhe desfralda:
- Batiza a filha, o egoísta,
com o nome de... Jornalda!
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Homem é o que sabe ser
companheiro, amigo e irmão;
Quem preza o Bem, sabe ter
da vida toda a emoção.
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Humildade comedida
finge alguém tê-la somente,
ao precisar de guarida
para um problema pendente...
= = = = = = = = = 

Indo por outros caminhos,
neste mundo, às vezes, rude,
vou fugindo dos espinhos,
pois das mulheres não pude!
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Lágrima que escorre é gota,
que marca  o que vai à vista:
- dores da vida marota!
ou problema de oculista?
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Mãe preta, escreves a história,
com fraternidade pura;
pois na tua trajetória
plantaste amor com ternura.
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Meu lápis beija o papel 
num encontro sedutor; 
e é dessa lua-de-mel 
que nasce a trova de amor.
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Na caminhada, maduro,
ponho fogo na fornalha,
quero deixar ao futuro,
as lições de quem trabalha.
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Nada mais embriagador
no arrepio das ternuras
que escutar juras de amor
mesmo que sejam perjuras.
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Não dê bola ao rabugento
que desfaz da mocidade,
pois ele vive o tormento
de não aceitar a idade...
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O meu palácio encantado,
onde o ano todo é natal,
é um quadradinho alugado,
chamado "caixa postal"!
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O para sempre felizes
das histórias infantis,
traz à vida bons matizes
dando vida ao que o autor quis.
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Orgulho é a bola de neve 
que vai, em diário exercício, 
levando o infeliz de leve 
às bordas do precipício.
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Perdão é a esponja macia
que se passa numa ofensa
por se crer na luz do dia
contra a noite da descrença.
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Por ter dado uma "banana"
pra tia de um delegado,
o Tiãozinho entrou em cana
e saiu bem "descascado"...
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Quem caminha destemido
com fé na vida que tem,
não faz, nem teme alarido, 
vive apenas para o Bem!
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Quem como eu faz poesia,
sabe que a glória é completa:
- Ninguém aposenta o dia
de trabalho de um poeta.
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Quem tem coração de paz
vive de culpa liberto,
porque faz do bem que faz
um céu de sol mais aberto!
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Quem tem vida vive atento
pelos caminhos que enfrenta;
brinda as farpas do momento
com chocolate e pimenta.
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Saudade é como abacate:
-verde!...  por dentro, o caroço
pesa, na alma  que se abate,
e  o corpo curva  o pescoço.
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