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domingo, 26 de julho de 2015

Folclore Indígena Brasileiro : Tribo Umutina (Como Surgiram as Doenças)



Os índios Umutinas explicam o surgimento das doenças como uma solução para evitar a superpopulação das aldeias. Naqueles dias antigos, os velhos não morriam de coisa alguma, nem ficavam doentes, nem perdiam os dentes. Como tinham todos os dentes na boca e um apetite de leão, comiam o dia todo sem produzir nada, tirando o alimento até das crianças.
Certa feita, três homens decidiram encontrar uma solução para o problema (sem se darem conta de que um dia eles também seriam tratados como um problema). Foram, então, fazer uma visita à Lua, que entre os índios é homem e se chama Hári.
– Que solução você tem para que não acabe faltando comida para todos? – disse um dos três futuros velhos.
Hári, que era também um feiticeiro, coçou a cabeça e disse:
– Infelizmente não posso ajudar. Procurem Mini.
Mini era o Sol. Os três índios foram para a casa dele. Depois de muito caminhar, chegaram, afinal, ao seu destino.
– Bom dia, Mini. Dê-nos o veneno mais forte que tiver em seu herbanário.
O Sol ergueu as sobrancelhas.
– Veneno para quê?
– Queremos um veneno para acabar com os velhos da nossa aldeia.
– Vocês estão loucos?
– Não, não estamos. É preciso fazer isso ou nossa aldeia inteira morrerá de fome.
Então o Sol reconsiderou e trouxe da sua sala de moléstias uma flecha mágica. Junto com ela vinham várias doenças.
Os índios escutaram atentamente e pareceram satisfeitos.
– Mas, cuidado – alertou o Sol. – Só atirem a flecha depois de se esconderem atrás de uma árvore, pois ela costuma voltar para atingir o seu arremessador.
Como sempre acontece, o aviso fatal entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Tudo quanto eles pensavam era em dar um jeito nos velhos da tribo.
Os três índios andaram e andaram até chegarem, enfim, à aldeia.
– Vamos experimentar esta flecha de uma vez! – disse um dos três.
Após tomar do arco, o arqueiro fez pontaria em um velho que estava sentado embaixo de uma árvore desde o raiar do dia comendo mandioca e milho verde.
Antes de suspender o arco, o arqueiro escolheu uma doença.
Então a flecha não tardou a voar direto no velho. Ela varou o ventre dele e retornou na direção do arqueiro, que só não foi atingido porque lembrou, no último instante, do aviso do Sol.
Os três ficaram escondidos para ver o efeito da seta. Em menos de meio minuto, o velho começou a se sentir mal e acabou morrendo. E assim os três índios saíram escondidos pela aldeia, dando flechadas nos velhos.
Então, certo dia, outro índio resolveu pedir emprestada a flecha mágica para caçar animais.
Na pressa, os três índios esqueceram de avisar a ele sobre o vai e volta da flecha, e o caçador partiu alegremente, sem desconfiar do perigo.
No mesmo dia meteu-se na selva e procurou a melhor caça que pôde.
– Tem de ser um bicho daqueles! – disse a si mesmo, enquanto espreitava.
Não demorou muito e surgiu um veado enorme, maior do que um cavalo. O índio assestou a flecha e soltou a corda. A seta foi até o veado, cumpriu com o seu papel de abatê-lo e retornou até o arqueiro. Como este estava desavisado da volta, em vez de esconder-se atrás de uma árvore, ficou parado no mesmo lugar, recebendo a flechada da volta bem no meio do peito.

Fonte:
Franchini, Ademilson S. As 100 melhores lendas do folclore brasileiro. Porto Alegre/RS: L&PM, 2011.

Os Umutina viviam antigamente na margem direita do rio Paraguai, aproximadamente entre os rios Sepotuba e Bugres. Sua área de domínio, entretanto, estendia-se desde aquelas paragens até o rio Cuiabá. Com a chegada dos não-índios os Umutina deixaram a região do Sepotuba e migraram mais para o norte, passando a viver às margens do rio Bugres, por eles denominado Helatinó-pó-pare, afluente do alto Paraguai.Estão distribuídos em duas aldeias, uma de nome ‘Umutina’, onde vivia a maioria de sua população (420 indivíduos), e a outra, mais recente, é chamada de ‘Balotiponé’, onde moram as outras 25 pessoas, divididas em cinco famílias [dados de 2009]. As aldeias estão localizadas na Terra Indígena Umutina, em uma área de 28.120 hectares homologada em 1989, nos municípios de Barra do Bugres e Alto Paraguai, entre os rios Paraguai e Bugres, em Mato Grosso. A TI está situada em uma faixa de transição da Amazônia e do Cerrado, sendo que este último compreende a maior parte do território.
Eram chamados de Barbados por possuírem ralas barbas, que consideravam sinal de orgulho.
No início do século XX foram descritos como indígenas agressivos e violentos por impedirem pela força, a invasão de seu território tribal, invadido pelos homens brancos.
A pacificação definitiva deu-se em 1911, com o contato realizado pelo Coronel Rondon entre os rios Paraguai e Bugres, que determinou ao Governo do Estado que demarcasse aquelas terras como posse dos Umutina. Apesar disso, o grupo continuou a ser exterminado por parte dos extrativistas da região e também pelas as doenças como a gripe, o sarampo, a tuberculose e a bronco-pneumonia.
A atividade principal do povo Umutina era a agricultura e consistia principalmente do plantio de milho e da mandioca. A pesca era realizada com arco e flecha e as mulheres preparavam os peixes com mingau e pimenta. As caçadas e a coleta de mel, frutos, cogumelos, resinas e ervas medicinal complementavam subsistência do grupo. Hoje, dedicam-se a criação de gado, ao trabalho nas fazendas da região, a venda do pescado e aos projetos agrícolas da FUNAI.
Segundo Harald Schultz os relacionamentos entre os umutinas eram monógamos. Os pais decidiam o futuro esposo de suas filhas e o dia do casamento, quando era realizada uma cerimônia em que o casal pintava o corpo inteiramente de urucu.

domingo, 12 de julho de 2015

Folclore Indígena Brasileiro: Tribo Krahó (Koioeré, o machado cantante)



Os índios krahós, do rio Tocantins, possuíam outrora um machado mágico chamado koieré. Sua lâmina era feita de pedra, em formato de âncora, e ele era usado tanto na guerra quanto nas cerimônias religiosas da tribo.
Os krahós viviam em guerra com seus vizinhos. O seu maior desafeto eram os krolkametrás, uma tribo rival.
Certa feita, as duas tribos estavam se enfrentando, quando uma flechada certeira abateu o portador do machado cantante. O valente guerreiro krahó caiu para um lado, e o machado, para o outro.
Como um raio, o matador correu e apoderou-se da arma.
– Agora o koieré pertence aos krolkametrás! – urrou ele, brandindo no ar o machado.
Finda a matança, todos voltaram satisfeitos para as suas casas, cada lado levando os inimigos mortos para serem assados nas grelhas.
Mas quem ia feliz mesmo era o novo portador do koieré, que era casado com uma bela índia. Antes mesmo de chegar em casa, decidiu que, agora que se tornara um personagem importante da aldeia, deveria arrumar coisa ainda melhor do que a sua bela índia.
Não demorou muito, apareceu uma candidata, e o índio se mudou para a oca dela. Na pressa, porém, acabou esquecendo o machado dependurado em cima da sua rede.
Durante a noite, a índia abandonada escutou por entre os intervalos dos seus soluços o machado falar-lhe:
– Mamãe, vamos passear!
Índias são muito maternais. Por algum motivo, o machado passara a chamá-la de mamãe, e bastara isso para ela ficar enternecida com o objeto.
Tomando-o nos braços, ela saiu porta afora para passear.
Durante a noite inteira a índia enjeitada embrenhou-se pelas matas, enquanto o machado lhe ensinava todas as canções de amor e de guerra dos krahós.
Logo, toda a aldeia ficou sabendo do caso, e a notícia se espalhou, chegando à aldeia dos krahós. Então, o irmão do primitivo dono do machado decidiu recuperá-lo.
A esta altura, o novo dono já havia retomado o objeto e foi com raiva que recebeu a visita do emissário.
– De forma alguma o restituirei! – bradou ele.
Mas o cacique da tribo disse que havia regras que o obrigavam a restituir o objeto aos inimigos.
– Anhangá e maldição! – rosnou o novo dono. – Pois saibam que só o restituirei àquele que me vencer na corrida de toras!
Corrida de toras era uma competição que os índios disputavam tendo atravessada às costas uma tora de madeira de cerca de um metro de comprimento.
– Quem me vencer poderá não só levar de volta o machado como me matar e comer a carne do meu corpo! – disse o desafiante, seguríssimo.
O emissário retornou aos krahós e repetiu ao pretendente o desafio.
– Corrida de toras nenhuma! – disse este. – Vamos reaver o koieré à força!
Então os krahós armaram-se de flechas e porretes e rumaram para a aldeia dos krolkametrás, prontos para mais uma bela dança das flechas. Quando chegaram à divisa da aldeia inimiga, foram lançados ao ar os brados de guerra das duas tribos valorosas, e as flechas assoviaram de novo, para valer. Mas quem mais trabalhou foi, como sempre, o machado mágico, que não parou de cantar um segundo enquanto levava adiante a sua obra guerreira de ceifar vidas, desta vez as dos krahós, seus antigos donos.
A certa altura, porém, o novo dono do machado viu-se cercado por algumas dezenas de adversários e não teve alternativa senão correr com machado e tudo. Não sabemos que espécie de canção o machado entoou na fuga, mas o fato é que, ao enfiar o pé num buraco de tatu, o krolkametrá foi ao chão e perdeu, além do machado, a própria vida, estraçalhado pelas lanças adversárias.
E foi assim que o koieré voltou à tribo dos índios krahós.

Fonte: Franchini, Ademilson S. As 100 melhores lendas do folclore brasileiro. Porto Alegre/RS: L&PM, 2011.

domingo, 22 de junho de 2014

Folclore Brasileiro (Mitos Indígenas) Iguaçu - As cataratas que surgiram do amor

Distribuída em várias aldeias, às margens do sereno Rio Iguaçu, a tribo dos Caiangangs formava uma poderosa Nação Indígena. Tinham como Deus Tupã, o Deus do Bem e M'Boy, seu filho rebelde, o Deus do Mal. Era este o causador das doenças, tempestades, das pragas nas plantações, além dos ataques de animais ferozes e das demais tribos inimigas.

A fim de se protegerem do Deus do Mal, em todas as primaveras, os Caiangangs a ele ofereciam uma bela jovem como esposa, ficando esta impedida para sempre de amar alguém. Apesar do sacrifício, esta escolha era para ela um privilégio, motivo de honra e orgulho.

Naípi, filha de um grande cacique, conhecida em todos os cantos por sua beleza, foi desta vez a eleita. Feliz, aguardava com ansiedade o dia de tornar-se esposa do temido Deus.

Iniciaram-se assim os preparativos da grande festa. Convidados chegavam de todas as aldeias para conhecê-la. Entre eles estava Tarobá, valente guerreiro, famoso e respeitado por suas vitórias. Ocorreu que, talvez pela vontade do bom Deus Tupã, Tarobá e Naípi vieram a se apaixonar, passando a manter encontros secretos às margens do rio.

Sem ser notado, M'Boy acompanhava os acontecimentos, aumentando a sua fúria a cada dia. Na véspera da consagração, os jovens encontraram-se novamente às margens do rio. Tarobá preparou uma canoa para fugirem no dia seguinte, enquanto todos adormeciam, fatigados com as danças e festejos e sob efeito das bebidas fermentadas.

Iniciaram a fuga e, já à boa distância do local, M'Boy concretizou sua vingança. Lançou seu poderoso corpo no espaço em forma de uma enorme serpente, mergulhando violentamente nas tranquilas águas e abrindo uma cratera no fundo do rio Iguaçu. Formaram-se assim as cataratas, que tragaram a frágil canoa.

Tarobá foi transformado em uma palmeira no alto das quedas e Naípi em uma pedra nas profundezas de suas águas. Do alto, o jovem apaixonado contempla sua amada, sem poder tocá-la. Resta-lhe apenas murmurar seu amor quando a brisa lhe sacode a fronde. Lança suas flores para Naípi, através das águas, como prova de seu amor. A jovem está sempre banhada por um véu de águas claras e frescas, que lhe amenizam o calor de seus sentimentos.

Ainda hoje, M'Boy permanece escondido numa gruta escura, vigiando atentamente os jovens apaixonados. Ouve-se dizer que, quando o arco-íris une a palmeira à pedra, pode-se vislumbrar uma luz que dá forma aos dois amantes, podendo-se ouvir murmúrios de amor e lamento.

Fonte:
Jayhr Gael (Mitos indígenas). www.caminhodewicca.com.br

sábado, 14 de junho de 2014

Folclore Brasileiro (Mitos Indígenas) Mundo novo - O paraiso terrestre

A Nação Indígena dos Caiapós habitava uma região onde não havia o sol nem a lua, tampouco rios ou florestas, ou mesmo o azul do céu. Alimentavam-se apenas de alguns animais e mandioca, pois não conheciam peixes, pássaros ou frutas.

Certo dia, estando um índio a perseguir um tatu canastra, acabou por distanciar-se de sua aldeia. Inacreditavelmente, à medida que este se afastava, sua caça crescia cada vez mais.

Já próximo de alcançá-la, o tatu rapidamente cavou a terra, desaparecendo dentro dela. Sendo uma imensa cova, o indígena decidiu seguir o animal, ficando surpreso ao perceber que, ao final da escuridão, brilhava uma faixa de luz.

Chegando até ela, maravilhado, viu que lá existia um outro mundo, com um céu muito azul e o sol a iluminar e a aquecer as criaturas; na água muitos peixes coloridos e tartarugas. Nos lindos campos floridos destacavam-se as frágeis borboletas; florestas exuberantes abrigavam belíssimos animais e insetos exóticos, contendo ainda diversas árvores carregadas de frutos. Os pássaros embelezavam o espaço com suas lindas plumagens.

Deslumbrado, o índio ficou a admirar aquele paraíso, até o cair da noite. Entristecido ao acompanhar o pôr do sol, pensou em retomar, mas já estava escuro...

Novamente surge à sua frente outro cenário maravilhoso: uma enorme lua nasce detrás das montanhas, clareando com sua luz de prata toda a natureza. Acima dela multidões de estrelas faziam o céu brilhar. Quanta beleza! E assim permaneceu, até que a lua se foi, surgindo novamente o sol.

Muito emocionado, o índio voltou à tribo e relatou as maravilhas que viera a conhecer.

O grande pajé,  Caiapó, diante do entusiasmo de seu povo, consentiu que todos seguissem um outro tatu, descendo um a um pela sua cova através de uma imensa corda, até o paraíso terrestre.

Lá seria o magnífico Mundo Novo, onde todos viveriam felizes.

Fonte:
Jayhr Gael (Mitos indígenas). www.caminhodewicca.com.br

sábado, 7 de junho de 2014

Folclore Brasileiro (Mitos Indígenas) Iamuricumas

Em meio a uma grande festa, os índios haviam concluído a cerimônia de furar as orelhas de seus meninos, após a qual as crianças permanecem de resguardo. Segundo o costume, os homens da tribo foram à pesca para bem alimentá-las, enquanto as mulheres prosseguiram com o corte dos cabelos. Percebendo que os pais demoravam a chegar, o filho do pajé decidiu ir ao rio, onde pôde observá-los batendo o timbó e pegando muitos peixes.

Repentinamente, como por encanto, os índios transformaram-se em animais selvagens. Assustado, o menino correu à tribo, relatando à sua mãe o que sucedera. Esta avisou as outras mulheres e, reunidas, preparavam-se para fugir dentro de poucos dias, pois os homens da pescaria agora representavam perigo!

Pintaram-se e ornamentaram o corpo como se fossem homens. Em seguida a esposa do pajé, à frente do grupo, entoou um canto, conduzindo-o ate a floresta. Lá, untaram-se de veneno, transformando-se no espírito Mamaé.

Após cantarem e dançarem dois dias sem cessar, pediram a um velho que pousando sobre as costas a casca de um tatu, seguisse à sua frente, abrindo-lhes passagem. O homem passou a agir como se fosse o próprio animal.

As mulheres, indiferentes aos homens da pescaria, seguiram o seu caminho, a cantar e a dançar, levando consigo mulheres de mais duas aldeias.

Suas crianças foram lançadas ao rio, tornando-se peixes. Ainda hoje, as Iamuricumás viajam dia e noite, armadas de arco e flecha. Não possuem o seio direito, para melhor manejá-los. E assim, cantando e dançando, continuam a abrir caminhos pela floresta, seguindo eternamente o homem tatu.

Fonte:
Jayhr Gael (Mitos indígenas). www.caminhodewicca.com.br

terça-feira, 3 de junho de 2014

Folclore Brasileiro (Mitos Indígenas) Iamulumulu - A formação dos rios

Savuru era um espírito que possuía duas esposas. A pedido dos irmãos Kuát ( Sol) e Iaê ( Lua ), que as cobiçavam, as ariranhas o mataram, ficando sua esposa mais velha com o Sol e a outra com a Lua.

Seguiram então os casais em direção à aldeia de Kanutsipei. Durante o caminho, os irmãos encontraram dificuldades e necessitaram da ajuda de outros espíritos: Iamulumulu lhes curou a impotência, Ierêp fez com que neles nascesse o ciúme das esposas e, uma vez cansados, pediram a Uiaó algo que os fizessem adormecer.

No dia seguinte, dispostos, retomaram a caminhada. Chegando ao local pretendido, estavam sedentos e pediram água a Kanutsipei. A água, porém, estava suja. O irmão Lua, tomando a forma de um beija-flor, voou rapidamente à procura de boa água. Ao voltar contou-lhes que o espírito os enganara, mantendo escondidos muitos potes com a mais pura água. Contrariados, os casais retornaram a sua aldeia, contando a todos o que ocorrera.

O Sol e a Lua uniram-se a vários espíritos, Vanivani, lananá, Kanaratê, os zunidores Hori-hori, invocando também os espíritos das águas que habitavam a copa do Jatobá. Chamaram ainda as máscaras Jakuikutu, Mearatsim, Ivat, Jakuiaép e Tauari. Reunidos, dançaram e resolveram voltar à aldeia de Kanutsipei para tomarem posse de sua água, quebrando todos os seus potes, conduzindo-a a outras regiões.

Mearatsim, o primeiro a chegar, cantou para espantar o dono do local. Chegaram então os outros espíritos e, à medida que os potes foram quebrados, formou-se ali uma grande lagoa, de onde cada um dos espíritos criou um rio.

Assim, o Sol criou o Rio Ronouro; Vani-vani formou o Rio Maritsauá; Kanaratê, o Paranajuva; Tracajá, o Kuluene e Iananá, um afluente do Ronouro.

A formação dos rios não agradou ao Sol, pois todos corriam para Morená, a região sagrada dos espíritos. Iniciou-se ali uma grande confusão, em meio à qual a Lua foi engolida por um grande peixe. O Sol, desesperado, saiu à procura do irmão, no ventre dos peixes que encontrava. Chegou a capturar o Tucunaré, o Matrinxã, o Pirarara e a Piranha. Mas havia sido o Jacunaum que o engolira, informou o Acará. E ambos, unidos, partiram à caça dos peixe.

Pediram a Taperá (andorinha do campo) que lhes conseguisse um grande anzol, ocultando-o num charuto. O Acará nadou à procura de Jacunaum, oferecendo-lhe fumo. Desta maneira, o Sol conseguiu fisgá-lo. Entretanto, dentro do peixe, restavam apenas os ossos de seu irmão.

Desejando ardentemente que a Lua revivesse, o Sol arrumou no chão seu esqueleto, cobrindo-o com as folhas perfumadas do Enemeóp. Aos poucos, como por encanto, a carne foi surgindo, revestindo os ossos até formar um novo corpo. Faltava-lhe ainda a vida. O Sol então introduziu um mosquitinho em sua narina, provocando-lhe um espirro, que o fez finalmente despertar.

Assim foram criados os rios e, a partir daí, iniciou-se a prática da pajelança, tendo sido o Sol o primeiro pajé.

Fonte:
Jayhr Gael (Mitos indígenas). www.caminhodewicca.com.br

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Folclore Brasileiro (Mitos Indígenas) Sinaá - inundação e fim do mundo

Sinaá, o mais poderoso pajé da tribo Juruna, era filho de mãe índia e pai onça. Do felino herdara o poder de enxergar também pelas costas, o que lhe permitia observar tudo o que se passava ao seu redor.

Caminhava com sua gente por toda a região, ensinando a seus companheiros serem bons e bravos. Seu povo alimentava-se de farinha de mandioca, raspa de madeira, jabutis e sucuris, cobras imensas que habitam na água.

Certa vez, uma enorme sucuri foi capturada e queimada por haver devorado diversos índios. Inesperadamente brotaram de suas cinzas diversas espécies de vegetais, como a mandioca, o milho, o cará, a abóbora, a pimenta, e algumas plantas frutíferas, até então desconhecidas para aquela tribo.

Foi um pássaro surgido do céu que os ensinou a utilizar e preparar tais alimentos e também fazê-los multiplicar-se. A partir daquele dia, fartas roças se formaram.

Para garantir o sustento de seu povo, Sinaá, face às fortes chuvas e à ameaça de grande inundação, construiu uma imensa canoa, onde plantou mudas de cada espécie. Em poucos dias o rio transbordou e a enchente cobriu toda a região, mas o grande pajé livrou seu povo da fome.

Já mais velho, Sinaá casou-se com uma aranha, que lhe teceu novas vestes para melhor abrigá-lo. Chegando a atingir idade bastante avançada, já ostentava longas barbas brancas. Seus poderes, porém, permitiam-lhe remoçar a cada banho de cachoeira, para que pudesse viver até o fim de seu povo, como tanto queria.

Quando isto ocorresse, Sinaá derrubaria a forquilha de uma enorme árvore que apontava para o céu, sustentando-o. O céu desabaria sobre todos os povos e o mundo teria o seu fim.

Fonte:
Jayhr Gael (Mitos indígenas). www.caminhodewicca.com.br

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Folclore Brasileiro (Mitos Indígenas) Arutsãm, o sapo astucioso

O sapo Arutsãm foi ao encontro de seu cunhado onça, para dele tomar emprestado um arco e uma gaita de bambu.

Aproximando-se de seu território, foi alertado por outros animais, com ironia, do perigo que estava correndo. Mesmo assim prosseguiu.

A onça mostrou-se gentil ao recebê-lo, convidando-o para um banho no lago, cuidando, porém, para que sempre caminhasse atrás do convidado.

Arutsãm desconfiado, manteve-se atento.

Ao anoitecer a onça esperou ansiosa que o cunhado adormecesse, aguardando o momento ideal para devorá-lo. Arutsãm, entretanto, colocou sobre os seus, olhos de um vagalume, ludibriando assim a onça, que o julgava acordado e não ousou atacá-lo.

No dia seguinte, já de posse do arco e da gaita, despediu-se agradecido de seu anfitrião. Esperto que era, espalhou formigas no caminho, que, atacando a onça, faziam com que esta batesse as patas no chão, acusando sua proximidade.

Arutsãm seguia o seu caminho. Passava agora pelo território das serpentes, a quem seu inimigo incansável pediu que o apanhassem. O astuto sapo atraiu-as até o lago, saltando velozmente para outra margem, escapando à sua perseguição.

Chegando à aldeia das cobras, apressou-se em quebrar todas as panelas de barro de suas fêmeas. Ao verem o estrago, estas o perseguiram enfurecidas.

Neste momento, partiu Arutsãm para seu grande salto: como um toque mágico, pulou para a lua, onde, zombeteiro, está eternamente a tocar sua gaita.

Ainda hoje, em noites claras, a onça contempla a lua (Iaê), lamentando o fracasso do seu plano traidor.

Fonte:
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terça-feira, 27 de maio de 2014

Folclore Brasileiro (Mitos Indígenas) Igaranhã - a canoa encantada

Um índio da tribo Kamaiúra iniciou a construção de uma canoa com a casca do jatobá. Ao terminá-la retomou para junto de sua mulher, que há pouco dera à luz, permanecendo por alguns dias.

Algum tempo depois, voltando à mata onde havia deixado a canoa, não mais a encontrou. Entristeceu-se e, pensativo, tentou imaginar o que ocorrera. Talvez a tivessem roubado, ou algum animal a tivesse destruído. Como poderia pescar agora? Absorto, despertou com um ruído.

Foi grande o seu espanto ao perceber que em sua direção movimentava-se lentamente, por si mesma, uma canoa, a mesma que ele construíra, agora com vida e olhos na proa.

Talvez houvesse se transformado em um animal, pensou. Dar-lhe-ia então um nome: Igaranhã - o crocodilo. Entrou na canoa, ordenando-lhe que seguisse em direção ao lago.

Assim que Igaranhã tocou a água, cobriu-se com muitos peixes, dos mais variados tipos, cores e tamanhos, que saltavam sem cessar da água para dentro da embarcação.

Os primeiros, a própria canoa devorou, ficando no entanto a maior parte para o índio.

Á sua mulher, maravilhada, falou apenas de um lugar ideal para a pesca, que houvera encontrado.

Dias depois, retomando ao mesmo local, nada encontrou sob a frondosa árvore. Como por encanto a canoa surgiu novamente da mata, dirigindo-se ao lago e o fenômeno repetiu-se.

O índio ambicioso recolheu rapidamente os peixes, sem deixar à Igaranhã sua parcela do alimento. Esta então, muito contrariada, acabou por devorar seu próprio dono.

Fonte:
Jayhr Gael (Mitos indígenas). www.caminhodewicca.com.br

domingo, 18 de maio de 2014

Folclore Brasileiro (Mitos Indígenas) Kuat e Iaê - A Conquista do dia

No princípio só havia a noite.

Os irmãos Kuát e Iaê - o Sol e a Lua - já haviam nascido, mas não sabiam como conquistar o dia. Este pertencia a Urubutsim (Urubu - rei), o chefe dos pássaros.

Certo dia os irmãos elaboraram um plano para capturá-lo. Construíram um boneco de palha em forma de uma anta, onde depositaram detritos para a criação de algumas larvas. Conforme seu pedido, as moscas voaram até as aves, anunciando o grande banquete que havia por lá, levando também a elas um pouco daquelas larvas, seu alimento preferido, para convencê-las. E tudo ocorreu conforme Kuát e Iaê haviam previsto.

Ao notarem a chegada de Urubutsim, os irmãos agarraram-no pelos pés e o prenderam, exigindo que este lhes entregasse o dia em troca de sua liberdade.

O prisioneiro resistiu por muito tempo, mas acabou cedendo.

Solicitou então ao amigo Jacu que este se enfeitasse com penas de araras vermelhas, canitar e brincos, voasse à aldeia dos pássaros e trouxesse o que os irmãos queriam.

Pouco tempo depois, descia o Jacu com o dia, deixando atrás de si um magnífico rastro de luz, que aos poucos tudo iluminou.

O chefe dos pássaros foi libertado e desde então, pela manhã, surge radiante o dia e à tarde vai se esvaindo, até o anoitecer.

Fonte:
http://www.caminhodewicca.com.br

sábado, 10 de maio de 2014

Folclore Brasileiro (Mitos Indígenas) Tucumã - o surgimento da noite

No início não existia a noite. Esta pertencia a uma enorme serpente, que a mantinha no fundo das águas.

Quando a filha desta se casou, exigiu que viesse a noite, sem a qual não poderia se deitar. O esposo então avisou três mensageiros para que a trouxessem.

A serpente, senhora da noite, recebeu-os com indiferença. Mesmo assim, entregou-lhes um coco, Tucumã, lacrado com cera de abelha, dizendo-lhe que ali estava o que vieram buscar. Não deveriam entretanto abri-lo, pois a noite poderia escapar.

A volta, os índios perceberam que do coco saiam ruídos de sapos e grilos. Um deles, o mais curioso, convenceu os companheiros a abrirem o fruto. E assim o fizeram.

Logo que derreteram a cera, a noite saiu através do coco, escurecendo o dia. A filha da serpente aborreceu-se, pois agora ela deveria descobrir como separar o dia da noite.

Desta forma, ao surgir a grande estrela da madrugada, criou o pássaro Cujubim, ordenando que este cantasse para que nascesse a manhã. Em seguida, criou o pássaro Inhambu, que deveria cantar à tarde, até que viesse a noite. Criou ainda os outros pássaros para alegrar o dia, diferenciando-o da noite.

Aos mensageiros desobedientes, lançou toda a sua ira, transformando-os em macacos de boca preta -devido à fumaça - e risca amarela - pela cera derretida. Assim, a filha da serpente pôde finalmente se deitar e todos os seres puderam dormir.

Fonte:
Jayhr Gael (Mitos indígenas). www.caminhodewicca.com.br

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Folclore Brasileiro (Mitos Indígenas) Mavutsinim

MAVUTSINIM - O PRIMEIRO HOMEM

No principio existia apenas Mavutsinim, que vivia sozinho na região do Morená. Não tendo família nem parentes, possuía apenas para si o paraíso inteiro. Um dia sentiu-se muito, muito só. Usou então de seus poderes sobrenaturais, transformando uma concha da lagoa em uma linda mulher e casou-se com ela. Tempos depois, nasceu seu filho. Mavutsinim, sem nada explicar, levou a criança à mata, de onde não mais retornaram. A mãe, desconsolada, voltou para a lagoa, transformando-se novamente em concha. Apesar de ninguém haver visto a criança, os índios acreditam que do filho de Mavutsinim tenham se originado todos os povos indígenas. Foi também Mavutsinim que criou de um tronco de árvore a mãe dos gêmeos Sol (Kuát) e Lua ( Iaê,) responsáveis por vários acontecimentos importantes na vida dos Xinguanos, antes de se tomarem astros.

MAVUTSINIM  E O XINGU - A FORMAÇÃO DAS TRIBOS


Foi Mavutsinim quem tudo criou; fez as primeiras panelas de barro e as primeiras armas; a borduna, o arco preto, o arco branco e a espingarda. Tomando quatro pedaços de tronco, resolveu crias as tribos Kamayurá, Kuikuro, Waurá e Txukahamãe. Cada uma delas escolheu uma arma, ficando a tribo Waurá com a panela de barro. Mavutsinim pediu à Kamayurá que tomasse a espingarda, mas esta preferiu o arco preto. Os Kuikuros ficaram com o arco branco e os Txukahamães preferiram a borduna. A espingarda sobrou para os homens brancos. A população aumentou em demasia e Mavutsinim resolveu separar os grupos. Mandou que os Txukahamães fossem para bem longe, pois eram muito bravos. Os homens foram para as cidades, bem distantes das aldeias, pois tinham muitas doenças e com as armas de fogo viviam a ameaçar a vida dos outros grupos. Desta forma, as tribos puderam viver em paz.

MAVUTSINIM - O PRIMEIRO KUARUP, A FESTA DOS MORTOS

Mavutsinim, o grande pajé, desejava fazer com que os mortos revivessem e voltassem ao convívio de seus familiares. Cortou dois troncos e deu-lhes a forma de um homem e de uma mulher, pintando-os e adornando-os com colares, penachos e braçadeiras de plumas. Cravou-os no centro da aldeia. Preparou então uma festa e distribuiu alimentos a todos os índios, para que esta não fosse interrompida. Pediu aos membros da tribo que cobrissem seus corpos com uma pintura que expressasse apenas alegria, pois aquela seria uma cerimônia em que, ao som do canto dos maracá-êp, os mortos iriam reviver: os Kuarups criariam vida. No outro dia a festa continuava; os índios deveriam cantar e dançar, embora proibidos pelos pajé de olharem para os troncos. Aguardariam de olhos cerrados a grande transformação. Naquela mesma noite, as toras começaram a mover-se, tentando sair das covas onde foram colocadas. Ao amanhecer já eram metade humanos, modificando-se constantemente. Mavutsinim pediu então aos índios que se aproximassem dos Kuarups sem parar de festejar, cantando, rindo e dançando. Apenas os que haviam passado a noite com mulheres não poderiam se integrar à cerimônia, permanecendo afastados do local. Um destes, porém, com irresistível curiosidade, desobedeceu às ordens do pajé e aproximou-se, quebrando o encanto do ritual. E os Kuarups voltaram à sua forma original de troncos. Contrariado, Mavutsinim declarou que, a partir daquele instante, os mortos não mais reviveriam no ritual do Kuarup! Haveria somente a festa. Ordenou que os troncos fossem retirados da terra e lançados ao findo das águas, onde permaneceriam para sempre.

Fonte:
Jayhr Gael (Mitos indígenas). www.caminhodewicca.com.br

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Folclore dos Bororós* (Lenda de Catira – a índia amaldiçoada)

Foi há muitos anos atrás…

No tempo em que a mamaurama se cobria de flores e os japins fabricavam seus ninhos feitos de fibras e cipós, finos, nas grimpas da maçaranduba gigantesca…

Ele era lindo, o mais lindo de todos os jovens de sua tribo.

Era forte e valente. Ninguém com mais destreza manejava a zarabatana temível, cuja flexa certeira cortava em meio o vôo da aracuã.

Somente ele sabia o segredo que lhe ensinava brandir o tacape pesado e duríssimo, desferir a flecha sibilante e traiçoeira.. .

Nunca o inimigo branco pisou a terra de seu pai que não levasse no corpo uma picada da sua uamiri. Nunca foi vencido; todos o temiam.

E o pai já velhinho sentia-se orgulhoso do filho que devia suceder-lhe na chefia da tribo, depois que o cunaua-raú gritasse pela quarta vez no tronco da tanari.

Uma tarde, o jovem bororó aprontou a sua veloz e pequena igara e pôs-se a "descer o riacho que serpeava um pouco distante de sua oca.

A tarde era bela, e o astro príncipe do universo, numa grande e triste apoteose, ia aos poucos inundando a terra de luz e de mistério.

Uma brisa soprava ciciante e fresca pela tarde a dentro e a igara pequenina, célere, ia cortando as águas ondulantes do riacho.. .
catira india do riacho

Era muito tarde quando ele voltou.

Já o lírio da noite havia fechado as suas pétalas rosadas e macias.

Sentou-se no tronco pesado de abiurana, à frente da cabana, e ficou ali durante quase toda a noite, silencioso, taciturno, olhando as estrelas piscolejar no azul claro, lavado. ..

A mãe bororó, vendo a tristeza imensa que invadia a alma perguntou-lhe:

— Filho, que tens? andas doente? O jovem bororó estremeceu.

Ergueu o olhar sombrio para a mãe e, quase de joelhos, meigo como uma criança, assim lhe falou:

— A igara, mãe, levada pela correnteza ia descendo… descendo… quando de repente ouvi, longinquamente, uma voz maviosa que cantava acompanhada por uma música dolente, tocada talvez por algum instrumento misterioso…

E eu não pude resistir… mãe… toquei a igara para lá e a vi, mãe, sentada numa grande pedra, os cabelos negros e compridos esvoaçando ao vento, e os olhos azuis como a flor da mancava a cantar, brincando com as plumas macias da enduape, uma mulher, mãe… bonita… como eu nunca tinha visto assim… Ela abriu os braços para mim, mãe, e me chamou, mas…, quando eu já estava bem próximo, as águas começaram a ferver… parei um pouco, ela olhou para mim sorriu e atirou-se na água e desapareceu …

A mãe bororó, que ouvia em silêncio a narração do filho, ergueu os olhos úmidos de pranto e falou-lhe:

— Filho, mulher bela que viste lá é Catira, ela é da tua raça, corre nas suas veias o sangue dos bororós. Ela era a mulher mais linda da tribo de seu avô. Mas um dia entregou-se a um homem branco, e o pajé achou que ela devia ser lançada ao rio para pagar a sua grande traição. As águas do riacho, porém, não quiseram receber seu corpo criminoso; jogaram-na sobre aquela pedra, onde ficou penando até hoje. Ela canta assim para atrair os bororós incautos ao lugar onde se encontra; a primeira vez foge como fugiu de ti, mas na segunda, fica ali sentada até ver as águas revoltadas, que guardam a sua caverna, tragar o corpo daquele que se atreveu a chegar até ali. É assim, meu filho, que ela se vinga dos bororós… Não volte nunca lá, meu filho nem tão pouco olhe para os olhos dela para que não sejas dominado pelo seu brilho traiçoeiro…

A mãe bororó calou-se, beijou a testa tostada do filho e retirou-se.

Era tarde já, atrás da serrania negrescente, com suas franjas de ouro, Sepi desaparecia.

Sentado no tronco pesado de abiurana, a fronte pensativa voltada para o chão, assim Sepi, o jovem bororó, amanheceu…

Mas nesse mesmo dia, ao anoitecer aprontou a sua veloz e pequena igara — esquecido da palavra de sua mãe

— rasgou as águas ondulantes — o apecuitá feito de pau vermelho — e começou a descer o riacho vagarosamente.

E foi descendo… descendo… até sumir-se na curva.

Hoje os velhos bororós dizem aos filhos a lenda de Catira a índia amaldiçoada.

— Foi Sepi o último que ali ficou…

Depois as águas se tornaram tranquilas.. . a pedra desapareceu … e nunca mais ninguém ouviu nem ninguém viu, sentada ali aquela mulher de cabelos negros e compridos esvoaçando ao vento, e de olhos azuis como a flor da mancava, a cantar… a cantar…

E os velhos bororós terminam:

E dizem que ela morreu de remorso…
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* Sobre os Bororós

Os bororos, são uma tribo indígena que habita o estado do Mato Grosso, no Brasil. Falam a língua bororo, autodenominada boe wadáru, que pertence ao tronco linguístico macro-jê2 .

Etimologia

O nome "bororo" é um nome dado pelo homem branco. Nome esse surgido quando os exploradores perguntaram qual o nome da tribo e o indígena teria entendido o nome do local onde estavam, e eles estavam no bororó, que, para a língua bororo, significa "pátio da aldeia"3 .
Características gerais

Os bororos habitam a região do planalto central de Mato Grosso e estão distribuídos em cinco terras indígenas demarcadas: Jarudore, Meruri, Tadarimana, Tereza Cristina e Perigara. Sua população atualmente é de cerca de 2 000 indivíduos, que são tradicionalmente caçadores e coletores, porém que adaptaram-se à agricultura, da qual extraem sua subsistência. Destacam-se pela confecção de seus artesanatos de plumagem (cocar e braçadeiras em pena) e também pela pintura corporal em argila.
História e distribuição

Os antigos bororos distribuíam-se por extensa região compreendida entre a Bolívia, a oeste; o rio Araguaia, o rio das Mortes, ao norte; e o rio Taquari, ao sul.

Os bororos ocidentais, extintos no fim do século passado, viviam na margem leste do rio Paraguai, onde os jesuítas espanhóis fundaram missões. Muito amigáveis, serviam de guia aos brancos, trabalhavam nas fazendas da região e eram aliados dos bandeirantes. Desapareceram como povo tanto pelas moléstias contraídas quanto pelos casamentos com não-índios.

Os bororos orientais habitavam tradicionalmente vasto território que ia da Bolívia, a oeste, ao rio Araguaia, a leste e do rio das Mortes, ao norte, ao rio Taquari, ao sul. Ao contrário dos bororos ocidentais, eram citados nos relatórios dos presidentes da província de Cuiabá como nômades bravios e indomáveis, que dificultavam a colonização. Foram organizadas várias expedições de extermínio. Estimados na época em dez mil índios, os bororos sofreram várias guerras e epidemias, com uma história de muita resistência ao avanço das frentes e expansão de territórios, até sua pacificação, no fim do século XIX, quando foram reunidos nas colônias militares de Teresa Cristina e Isabel e estimados pelas autoridades em cinco mil pessoas. Entregues aos salesianos para catequese, em 1910, os bororos somavam dois mil índios. Em 1990, com uma população de aproximadamente 930 pessoas, vivem no estado do Mato Grosso. A sua relação com pessoas não-indígenas é de extremo desprezo,pois eles estão sempre querendo as terras indígenas das duas partes saem mortes.
Organização social

A tribo obedece a uma organização social rígida. A aldeia é dividida em duas partes – exare e tugaregue – que, por suavez, se subdividem em clãs com deveres muito bem definidos. Eles reconhecem a liderança de dois chefes hereditários que sempre pertencem à metade exare, conforme determinam seus mitos. Dentro de cada clã, há uma comunhão de bens culturais (nomes, cantos, pinturas, adornos, enfeites, seres da natureza) que só podem ser usados pelos membros desse determinado clã, a não ser que este direito seja participado a outras pessoas em "pagamento" por favores recebidos.

Praticam diversos rituais, como:

    a "Festa do Milho", para celebrar a colheita do cereal, que é um alimento importante na nutrição dos índios;
    a "Perfuração de Orelha e Lábios";
    o "Ritual do Funeral", uma celebração sagrada para todos que se consideram índios.

O funeral dos bororos é o que mais chama atenção pela complexidade, podendo durar até dois meses. A morte de alguém pode provocar mudanças ou reforçar as alianças.

 
Fontes:
Seleção de Regina Lacerda. Estórias e Lendas de Goiás e Mato Grosso. Ed. Iracema.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bororos

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Lenda dos Índios Sioux: Touro Bravo e Nuvem Azul


Conta uma lenda dos índios Sioux, que uma vez, Touro Bravo, um jovem guerreiro, e Nuvem Azul, a filha do cacique, chegaram de mãos dadas, até a tenda do velho feiticeiro da tribo...

 - Nós nos amamos... e vamos nos casar - disse o jovem. E nos amamos tanto que queremos um feitiço, um conselho, ou um talismã... alguma coisa que nos garanta que poderemos ficar sempre juntos... que nos assegure que estaremos um ao lado do outro até encontrarmos a morte. Há algo que possamos fazer?

 E o velho emocionado ao vê-los tão jovens, tão apaixonados e tão ansiosos por uma palavra, disse:

 - Tem uma coisa a ser feita, mas é uma tarefa muito difícil e sacrificada... 

 Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte ao norte dessa aldeia, e apenas com uma rede e tuas mãos, deves caçar o falcão mais vigoroso do monte... e trazê-lo aqui com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia. 

 E tu, Touro Bravo - continuou o feiticeiro - deves escalar a montanha do trono, e lá em cima, encontrarás a mais brava de todas as águias, e somente com as tuas mãos e uma rede, deverás apanhá-la trazendo-a para mim, viva!

 Os jovens abraçaram-se com ternura, e logo partiram para cumprir a missão recomendada... no dia estabelecido, à frente da tenda do feiticeiro, os dois esperavam com as aves dentro de um saco.

 O velho pediu, que com cuidado as tirassem dos sacos... e viu eram verdadeiramente formosos exemplares...

 - E agora o que faremos? - perguntou o jovem 

 - Agora,disse o feiticeiro, apanhem as aves, e amarrem-nas entre si pelas patas com essas fitas de couro... quando as tiverem amarradas, soltem-nas, para que voem livres...

 O guerreiro e a jovem fizeram o que lhes foi ordenado, e soltaram as aves... 

 A águia e o falcão, tentaram voar mas apenas conseguiram saltar pelo terreno. 

Minutos depois, irritadas pela incapacidade do vôo, as aves arremessavam-se entre si, bicando-se até se machucar.

 E o velho disse:

 - Jamais esqueçam o que estão vendo... este é o meu conselho. 
 Vocês são como a águia e o falcão... se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se, como também, cedo ou tarde, começarão a machucar-se um ao outro... Se quiserem que o amor entre vocês perdure... voem juntos... mas jamais amarrados.

Fonte:
SHINYASHIKI, Roberto. Poder da Solução.