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quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Estante de Livros (“Thais”, de Anatole France)


Thaís é um livro de Anatole France. Publicado pela primeira vez em 1889. 
A obra se passa no Egito, parte da literatura francesa e uma crítica aos costumes da época.

Com um estilo fluente, cético e sarcástico Anatole France foi um dos escritores mais característicos da literatura francesa. Nascido em Paris, foi coerente com sua paixão e, por isso, adotou o pseudônimo France. Mas, seu nome verdadeiro era Anatole Jacques Thibault. Crítico feroz aos costumes e instituições do seu tempo, fez-se a voz da cidade, daquela Paris herdeira e centro da cultura da sabedoria e da arte do mundo ocidental. Anatole France – um filósofo epicurista – produziu várias e sucessivas obras-primas, e em 1912 recebeu o Prêmio Nobel de Literatura.

Thais é a obra que assinala o zênite da força criadora do autor. Ambientada no Egito, é a história de uma meretriz e de um monge. O triunfo do corpo sobre a alma – Epícuro contra o estoicismo – foi mais finamente traçado, com tanta beleza e melodia de estilo.

Thais se passa na Alexandria, é a história de uma meretriz, que no livro é chamada de ''comediante'', e de um monge, Paphnucio, que se enamora dela, mas logo entra em conflito com suas convicções religiosas por conta desse amor. Ora, Paphnucio é um cristão primitivo, e um de seus objetivos na vida se trata de obter um tal grau de pureza espiritual que o obrigaria a passar por caminhos que pressupunham privações extremas, não só a supressão dos desejos carnais, como também os cuidados básicos de higiene, insistindo em ver no sofrimento causado por infecções, causadas por prolongados jejuns, uma forma de aproximar-se de Deus. Chega mesmo a fazer do alto de uma das colunas de um velho monumento em ruínas, o seu lar, para se elevar acima do resto da humanidade e chegar mais perto de Deus.

Pode-se perceber que Paphnucio, bastante radical, não aceita a beleza, a saúde e o bem-estar como algo bom, mas como coisas que afastam o ser humano do divino. O monge originava-se de uma abastada família de Alexandria, e foi educado para seguir o princípio do prazer; porém curiosamente, desvia-se do caminho que sua família havia traçado para ele, e resolve seguir uma nova e ainda estranha para muitos, filosofia: o Cristianismo, que então já começava a se espalhar entre as classes mais ricas, sofrendo nessa época, menor perseguição do que em seus primórdios.

Thais, jovem e bonita, desfruta de tudo o quanto a vida e a sua beleza podem oferecer; riqueza, fama, homens, arte. O monge, por sua vez, vive uma vida de castidade e preces no deserto até o momento em que, perturbado por pequenos demônios, decide deixar o monastério e ir para a cidade, em busca de Thais.

Paphnucio em seu afã, exagera em sua convicção, que se torna bastante radical, e acaba por destruir a própria vida e a da mulher amada.

Na obra, o monge faz de seu objetivo de vida fazer com que a meretriz Thaís abandone a vida devassa e, dessa forma, conseguisse a salvação de sua alma. Entretanto, o monge se apaixona pela meretriz e depois que percebe que a alma dela está salva, percebe que não era isso que ele queria.

O enredo é muito bem construído, com certa dose de crítica e sátira (que ao meu ver é incomum para a época - 1890), e é de uma leitura gostosa, muito embora tenha um vocabulário um tanto quanto rústico.

De um modo geral o autor redige a trama com doses de entranhamento filosófico e um toque de sátira sem perder um estilo artístico e literário mais refinado. De maneira objetiva, também retrata muito bem o cristianismo, ainda nos seus primeiros séculos de existência (aproximadamente em 300 d. C.)
Fontes:
Ana Ruppenthal, disponível em skoob 

sábado, 28 de outubro de 2023

Estante De Livros (Alceste, de Eurípides)


Esta é a mais antiga das obras conservadas de Eurípides. Admeto está condenado a morrer cedo, mas o deus Apolo convence as Parcas a permitirem que ele se livre da morte no dia marcado pelo destino, desde que encontre alguém disposto a morrer em seu lugar. Os velhos pais do rei se recusam a salvar o filho, e somente sua mulher, Alceste, prontifica-se ao sacrifício e deve morrer naquele mesmo dia. Hércules, grande herói trágico que se hospeda nesse mesmo dia na casa de Admeto se oferece para salvar Alceste das garras da Morte.

Conhecem-se diferentes versões do fim da estória de Alceste. Ora os deuses apiedam-se e permitem à rainha retornar à vida, ora o herói Héracles desce aos infernos e a resgata.

O poeta retrata Alceste como uma figura de grande virtude, esposa, mãe e rainha piedosa. a morte de Alceste é, em Eurípides, uma escolha motivada pelo amor, uma decisão que não lhe era obrigatória e que ela, como os pais de Admeto, poderia ter recusado

A Alceste, além do final feliz, apresenta alguns aspectos que a aproximam do drama satírico; é uma tragédia leve, considerada precursora do gênero melodrama.

A figura de Alceste foi vista, durante toda a Antiguidade, como um exemplo maior da virtude feminina. Platão afirma que os deuses mesmos a admiravam e Juvenal, cujas opiniões sobre o sexo oposto não eram menos que misoginia, menciona-a como um paradigma de decência ao qual as mulheres romanas, adúlteras e criminosas, não se podiam igualar. Em um epigrama funerário grego, uma mulher declara-se uma “nova Alceste”, porque morreu por seu marido, o único homem que amou. A partir da época romana, a imagem de Alceste, com a cabeça e os ombros cobertos em sinal de modéstia, era um dos motivos preferidos da decoração sepulcral.

O sacrifício voluntário de Alceste nunca cessou de inspirar poetas e artistas, dos quais só damos poucos exemplos. Christoph Wilibald Gluck fez da estória uma das mais belas óperas do período clássico (Alceste, 1767). Rainer Maria Rilke cantou a o amor incorruptível e devoção da mulher que permite ao homem um vislumbre do transcendental (Alkestis, 1907).
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RESUMO

Alceste era a mais bela das filhas do rei Pélias. Por isso foi pedida em casamento por vários reis e príncipes. Mas para não arriscar sua posição política recusando alguns desses reis e príncipes, o rei Pélias declarou que àquele que conseguisse atrelar um javali e um leão em um mesmo carro de corrida e o dirigisse em torno do estádio, seria concedida a mão de Alceste.

Ao ter conhecimento disso, Admeto, rei de Feras, invocou o deus Apolo e rogou-lhe que o ajudasse a cumprir as exigências do rei Pélias para obter a mão de Alceste. E tendo-lhe atendido o deus, conseguiu Admeto, com uma mãozinha de Héracles, atrelar os animais e dirigir o carro puxado por esses ao redor do estádio.

Tendo sucesso na empreita, Admeto fez um sacrifício à deusa Artêmis antes de se casar com Alceste. Mas não se sabe por qual razão ele omitiu esse sacrifício, o que deixou a deusa furiosa, querendo rapidamente puni-lo. Na noite de núpcias do rei, não havia uma linda esposa esperando-o, mas um gigantesco nó de serpentes.

Recorrendo novamente ao deus Apolo, Admeto conseguiu que esse interviesse com a deusa, o que acabou acontecendo, pois ele ofereceu o sacrifício esquecido. Porém, para obter sua amada de volta o rei deveria, quando chegasse a hora, sacrificar sua vida, a não ser que algum membro da família o substituísse por amor a ele, sacrifício em nome do amor.

O dia inesperado da morte de Admeto chegou mais cedo que o imaginado. Hermes (deus mensageiro) entrou em seu palácio certa noite e o intimou ao Tártaro (lugar para onde vão os mortos). 

Admeto não se preocupa muito com essa condição pensando em todos seus servos que lhe deviam favores e que gostavam muito dele e fica muito alegre com a nova esperança. No momento de sua morte, porém, ninguém se habilita, nem seus velhos pais; apenas Alceste oferece-se como substituta. Admeto tinha muito amor à vida, mas não desejava mantê-la a tal custo. Porém a condição das Parcas fora satisfeita e enquanto Admeto ia recuperando as forças, Alceste adoecia. Mas o trágico e também mágico é que, por amor, Alceste tomou veneno e se sacrificou por seu amado, indo para o Tártaro em seu lugar e cumprindo a promessa feita à deusa Artêmis. Hércules, que passava por lá ouve o lamento dos servos que não queriam perder uma querida senhora e tão dedicada esposa, espera na porta do quarto de Alceste a chegada da Morte. Quando esta chega Hércules a agarra e obriga-a a desistir de seu intento de roubar a vida de Alceste. Assim ela vai se recuperando e pôde continuar a viver ao lado de seu amado marido.

Portanto, quem se sacrifica por alguém, acaba sendo recompensado, pois o amor sempre se identifica no outro que nos completa. E Alceste completou Admeto que a tinha trazido de volta.

Fontes:
– João Francisco Pereira Cabral. in "Admeto e Alceste". Brasil Escola. 
– Gabriel Nocchi Macedo, in Alceste ou a morte em troca da vida (Excertos). Estadão 26/08/2017. 

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Estante de Livros (Dia de São Nunca à tarde, de Roberto Drummond)


Dia de São Nunca à Tarde foi a primeira obra do jornalista Roberto Drummond, autor de sucessos como Inês é morta, A Morte de DJ em Paris, Hilda Furacão, que foi publicada postumamente. O livreto contém menos de 100 páginas, escritas com uma sensibilidade e uma profundidade impressionantes.

A obra conta a história de Gabriel, o menino prodígio no time de futebol do colégio interno de padres; Gabriela, sua irmã gêmea idêntica; Frei Vicente, que faz milagres; Frei Tanajura, um homem intransigente e que tem pavor a uma certa tribo indígena; os alunos do internato e os padres fantasmas que vivem ali.

No colégio, há uma aura de apreensão porque o campeonato de futebol está prestes a começar, e Gabriel não retornou das férias na casa da mãe. Passam-se dias, até que ele chega, sendo trazido pela mãe - descrita como uma mulher extremamente sensual e perfumada, que desperta sensações intensas, e pela irmã, por quem um dos padres fantasmas é apaixonado.

Gabriel e Gabriela decidem trocar de lugar um com o outro - uma brincadeira que serve para que eles possam se colocar na pele um do outro, e assim entender melhor como é estar no lugar do outro. Então, no colégio, quem acaba ficando é Gabriela, que acaba dando início a um romance com os dois melhores amigos de seu irmão.

O livro descreve de forma sucinta, mas não menos cheia de detalhes e sensações, as cenas de cada momento da história. A forma de narrar do autor nos leva a crer que tudo o que estamos lendo faz parte de um sonho que ele teve em uma noite qualquer, fruto de um sono pesado e revigorante.

Em suma, é uma leitura prazerosa e rápida, capaz de despertar em nós diversas sensações, de nos levar para viagens na imaginação, e de nos tirar brevemente da realidade.

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Estante de Livros (A filha dos rios, de Ilko Minev)

Com o intuito de homenagear os habitantes da região amazônica e de preservar a história local, Minev descreve com detalhes a paisagem do mundo onde moram nordestinos , portugueses, italianos, espanhóis, árabes e judeus, que desbravaram aquele território imenso desde o primeiro ciclo da borracha.

Romance ambientado na Amazônia, marcado pela história de mulheres resolutas e fortes diante de adversidades rotineiras na segunda metade do século XX. Filhas do rio, apesar do título referir-se, primordialmente, a Maria.

Aborda pontos históricos como o garimpo e seringais, despertando um encanto ou curiosidade na descrição da natureza e da vida social.

A obra inicia com a história de Maria, em uma sucessão de eventos fortemente arraigados na cultura ribeirinha, principalmente de décadas passadas, mostrando a protagonista da adolescência à maturidade de mulher calejada e pilar em sua família. Maria é uma cabocla de olhos verdes. Aos 16 anos, ela é levada de Igarapó Mirim por Adriano, a pedido de sua mãe, Eulalia. Descendo pelo Rio Purus, eles chegam a Surara, onde se instalam. É lá que Maria aprende a cozinhar e que o amor entre ela e Adriano aflora. Maria e Adriano seguem viagem até Manaus, onde conhecem Benjamim Melul e sua esposa Nina e, juntos, partem para Quatro Ases, um seringal na fronteira do Brasil com a Bolívia. Após cinco anos, quando decidem se mudar, o grupo é pego por um surto de febre amarela e apenas Maria e três crianças sobrevivem . Determinada a educar seus dois filhos e Alice, a filha do casal de amigos, Maria trabalha como cozinheira, em uma boate e na draga de prospecção de ouro de Oleg Hazan, um jovem judeu búlgaro.

O ambiente é retratado de forma rústica, isolada e decadente, principalmente em relação ao resgate seringalista.

Na segunda parte o autor apresenta Sandra, que tem uma história ligada a antepassados judaicos e com muitas revelações quanto a trajetória pessoal e de seu povo. O autor fala de eventos ocorridos na Europa que são desconhecidos do grande público, como a organização Zwi Migdal (máfia que atuou no tráfico de mulheres para a América do Sul). Nessa parte os eventos giram em torno do garimpo e sua efervescência comum ligada a bordéis e pirataria.

O livro encerra de forma nostálgica, em uma revisitação dos cenários, deixando em paralelo histórias amazônidas, reais ou fictícias, como tantas que ocorreram ou se passam por aqui.

A história de Maria, retorna apagada na segunda parte, sem o carisma cativante e admirável em sua primeira passagem.

É o segundo romance de Ilko Minev, publicado em 2015, com personagens ligados a "Onde estão as flores?", obra de 2013.

Fontes:
Amazon 

terça-feira, 10 de outubro de 2023

Estante de Livros (“Uns braços”, de Machado de Assis)

O conto está em

https://singrandohorizontes.blogspot.com/2011/01/machado-de-assis-uns-bracos.html


A desconstrução do discurso romântico em Uns Braços, de Machado de Assis,

pelo Prof. Edir Alonso
 
O presente escrito tem como propósito analisar criticamente o conto Uns braços, de Machado de Assis, buscando identificar nesse microcosmo da narrativa machadiana elementos que evidenciem uma perspectiva Realista. Dentre esses elementos, enfatizaremos a análise psicológica das personagens e a desconstrução do discurso romântico.

Publicado originalmente na Gazeta de Notícias, em 05/11/1885, já na maturidade do escritor, e, posteriormente em 1893, no volume de contos intitulado Várias Histórias, o conto em análise se constitui em uma urdidura engenhosa, que envolve o leitor, conduzindo-o a uma atmosfera de romance, que, ao término da trama se dissolve, evidenciando a oposição entre a fantasia e a realidade, e a consequente prevalência da moral socialmente estabelecida e das instituições sobre os sonhos e as pulsões humanas.

Tratemos de forma resumida, sob o risco evidente de simplificação, do enredo de Uns braços. Inácio, rapaz de 15 anos, filho de um barbeiro, é colocado pelo pai como estagiário de Borges. Este vive maritalmente com D.Severina, e abriga Inácio em sua casa, irritando-se constantemente com as distrações do moço. A verdade é que Inácio se apaixona por D. Severina; se encanta especialmente com os braços da jovem senhora. Quando percebe os olhares de Inácio, a mulher passa ao conflito: ele ainda é muito jovem, ela é uma mulher comprometida. Mas são apenas olhares. Em um domingo Borges sai de casa, e D. Severina observa que Inácio dorme suavemente na rede. O rapaz está a sonhar com ela e, neste instante se dá uma incrível coincidência: ao sonhar com o beijo de D. Severina, Inácio é realmente beijado pela mulher. Depois do ato impulsivo, D. Severina passa a se reprimir pelo que fizera e passa a tratar o rapaz secamente e a cobrir os braços com um xale. Inácio, ainda mais distraído da realidade com seus sonhos, não percebe a mudança da senhora. Após uma semana, Borges irá dispensá-lo sem nenhum sinal de rudez, embora não permita que Inácio se despeça de Severina, alegando que ela estaria com muita dor de cabeça. Os anos se passam e Inácio nunca teve sensação igual à daquele beijo, que para ele não passara de um sonho.

Dentro da tradição Realista, o conto privilegia o cenário doméstico da família burguesa, na segunda metade do século XIX: “Passava- se isto na Rua da Lapa, em 1870.”. O episódio em questão suscita a temática do adultério feminino, ainda que de forma extremamente sutil, se comparado àqueles relatados em Madame Bovary (1857) ou em O Primo Basílio (1878). A herança de Flaubert também se evidencia no tema da leitura e do devaneio romântico. Assim como Emma Bovary, o personagem Inácio alimenta uma visão de mundo romântica a partir da leitura de folhetins:

“Inácio passava-os [os domingos] todos ali no quarto ou à janela, ou relendo um dos três folhetos que trouxera consigo, contos de outros tempos, comprados a tostão, debaixo do passadiço do Largo do Paço. [...]Estava cansado, dormira mal a noite, depois de haver andado muito na véspera; estirou-se na rede, pegou em um dos folhetos, a Princesa Magalona, e começou a ler. Nunca pôde entender por que é que todas as heroínas dessas velhas histórias tinham a mesma cara e talhe de D. Severina, mas a verdade é que os tinham.”

Essa cena da leitura culmina com o sono e com o sonho de Inácio, que se concretizará sem que ele perceba. Curiosamente, ao contrário das narrativas fundadoras da escola realista, em Uns Braços não é a mulher quem se desprende da realidade a partir da imersão em um universo romântico, mas o rapaz.

Desse modo, à superficialidade de Inácio contrapõe-se a profundidade da personagem feminina. A análise psicológica, como traço Realista, se evidencia na exploração do conflito de D. Severina. A descrição física da personagem é o ponto de partida para revelar o caráter ambíguo típico da mulher machadiana:

Não se pode dizer que era bonita; mas também não era feia. Nenhum adorno; o próprio penteado consta de mui pouco; alisou os cabelos, apanhou-os, atou-os e fixou-os no alto da cabeça com o pente de tartaruga que a mãe lhe deixou. Ao pescoço, um lenço escuro, nas orelhas, nada. Tudo isso com vinte e sete anos floridos e sólidos.”

O fato de não se poder defini-la como sendo bonita ou feia, os cabelos presos, o lenço escuro e a ausência de adornos apontam para a sexualidade reprimida de mulher casada, condição sintetizada pelo paradoxo dos “vinte e sete anos floridos e sólidos”. A sensualidade e a feminilidade mascaradas pela solidez do papel social atribuído à mulher da época.

Esse equilíbrio aparente é rompido quando D. Severina percebe os olhares de Inácio:

"Naquele dia, enquanto a noite ia caindo e Inácio estirava-se na rede (não tinha ali outra cama), D. Severina, na sala da frente, recapitulava o episódio do jantar e, pela primeira vez, desconfiou alguma coisa Rejeitou a ideia logo, uma criança! Mas há ideias que são da família das moscas teimosas: por mais que a gente as sacuda, elas tornam e pousam. Criança? Tinha quinze anos; e ela advertiu que entre o nariz e a boca do rapaz havia um princípio de rascunho de buço. Que admira que começasse a amar? E não era ela bonita? Esta outra ideia não foi rejeitada, antes afagada e beijada (grifo nosso). E recordou então os modos dele, os esquecimentos, as distrações, e mais um incidente, e mais outro, tudo eram sintomas, e concluiu que sim."

O monólogo interior revela que a protagonista vai, gradualmente, admitindo a ideia de estar sendo admirada pelo rapaz, passando, inclusive a comprazer-se pelo fato de ser desejada (ou desejável). Nesse sentido, não temos em D. Severina a constituição linear das heroínas românticas, dada a sua volubilidade. Ademais, não está ela apaixonada pelo jovem, o qual, longe de qualquer idealização, sequer é visto como homem. De certo modo, a protagonista apaixona-se por si própria ao descobrir sua feminilidade.

Por outro lado, Inácio caracteriza-se como uma perfeita representação do Romantismo. Suas constantes distrações, motivadas pela paixão que nutre por D. Severina, levam-no a distanciar-se totalmente da realidade. O mundo de sonhos construído pelo rapaz se cristaliza no discurso:

“[...] retirou-se, como de costume, para o seu quarto, nos fundos da casa. Entrando, fez um gesto de zanga e desespero e foi depois encostar-se a uma das duas janelas que davam para o mar. Cinco minutos depois, a vista das águas próximas e das montanhas ao longe restituía-lhe o sentimento confuso, vago, inquieto, que lhe doía e fazia bem, alguma coisa que deve sentir a planta, quando abotoa a primeira flor.”

De forma magistral, o narrador machadiano passa à perspectiva do personagem, construindo uma poética tipicamente romântica, associando as emoções da personagem às imagens da natureza. Dessa forma, se estabelece no conto a tensão dialógica entre Realismo e Romantismo, tomando-se como referência o conceito bakhtiniano de dialogismo:

“Com base no que foi dito, pode-se afirmar que na composição de quase todo enunciado do homem socialdesde a curta réplica do diálogo familiar até as grandes obras verbal-ideológicas (literárias, científicas e outras) existe, numa forma aberta ou velada, uma parte considerável de palavras significativas de outrem, transmitidas por um ou outro processo. No campo de quase todo enunciado ocorre uma interação tensa e um conflito entre sua palavra e a de outrem, um processo de delimitação ou de esclarecimento dialógico mútuo (...)”(Bakhtin, 1988:153)


Essa tensão evolui num crescendo, até chegarmos ao clímax da narrativa:

"Que não possamos ver os sonhos uns dos outros! D. Severina ter-se-ia visto a si mesma na imaginação do rapaz; ter-se-ia visto diante da rede, risonha e parada; depois inclinar-se, pegar-lhe nas mãos, levá-las ao peito, cruzando ali os braços, os famosos braços. Inácio, namorado deles, ainda assim ouvia as palavras dela, que eram lindas cálidas, principalmente novas, - ou, pelo menos, pertenciam a algum idioma que ele não conhecia, posto que o entendesse. Duas três e quatro vezes a figura esvaía-se, para tornar logo, vindo do mar ou de outra parte, entre gaivotas, ou atravessando o corredor com toda a graça robusta de que era capaz. E tornando, inclinava-se, pegava-lhe outra vez das mãos e cruzava ao peito os braços, até que inclinando-se, ainda mais, muito mais, abrochou os lábios e deixou-lhe um beijo na boca.

Aqui o sonho coincidiu com a realidade, e as mesmas bocas uniram-se na imaginação e fora dela. [...]"


O beijo, sonhado por Inácio, de fato ocorre, sem que ele perceba. Aqui fica evidente a distância intransponível entre os universos representados pelos protagonistas, pois o que se afigura real para D. Severina é apenas um sonho para o jovem. A atmosfera de romance é abruptamente rompida pelo senso de realidade da personagem feminina:

"A diferença é que a visão não recuou, e a pessoa real tão depressa cumprira o gesto, como fugiu até à porta, vexada e medrosa. Dali passou à sala da frente, aturdida do que fizera, sem olhar fixamente para nada. Afiava o ouvido, ia até o fim do corredor, a ver se escutava algum rumor que lhe dissesse que ele acordara, e só depois de muito tempo é que o medo foi passando. Na verdade, a criança tinha o sono duro; nada lhe abria os olhos, nem os fracassos contíguos, nem os beijos de verdade. Mas, se o medo foi passando, o vexame ficou e cresceu. D. Severina não acabava de crer que fizesse aquilo; parece que embrulhara os seus desejos na ideia de que era uma criança namorada que ali estava sem consciência nem imputação; e, meia mãe, meia amiga, inclinara-se e beijara-o (grifo nosso). Fosse como fosse, estava confusa, irritada, aborrecida mal consigo e mal com ele. O medo de que ele podia estar fingindo que dormia apontou-lhe na alma e deu-lhe um calafrio."

O gesto impulsivo é imediatamente reprimido. A culpa desencadeia na personagem um mecanismo defensivo, em que passa a buscar justificativas para o que acabara de fazer. Neste momento, vem à tona outra problemática interessante do conto. D. Severina e Borges “viviam maritalmente há anos”, sem filhos, pelo que se pode presumir. A complexidade do conflito interno da protagonista ainda pode fazer com que ela projete no rapaz não apenas os instintos sexuais recalcados, mas também o filho desejado. Daí a imagem ambígua do rapaz:

"Uma criança! disse ela a si mesma, naquela língua sem palavras que todos trazemos conosco. E esta ideia abateu-lhe o alvoroço do sangue e dissipou-lhe em parte a turvação dos sentidos.
- Uma criança!"


Essa ambiguidade pode ser reforçada pela seguinte passagem:

"D. Severina tratava-o desde alguns dias com benignidade. A rudeza da voz parecia acabada, e havia mais do que brandura, havia desvelo e carinho. Um dia recomendava-lhe que não apanhasse ar, outro que não bebesse água fria depois do café quente, conselhos, lembranças, cuidados de amiga e mãe (grifo nosso), que lhe lançaram na alma ainda maior inquietação e confusão."

O próprio Inácio sente-se confuso em relação à D. Severina, em parte pelas atitudes dúbias da mulher, em parte pelo próprio complexo edipiano. O rapaz, inserido na casa de Borges, vê-se afastado de seu contexto familiar: “Cinco semanas de solidão, de trabalho sem gosto, longe da mãe e das irmãs [...]”. Borges passa a cumprir o papel de pai, a lei, a autoridade, a castração. D. Severina passa a ser a figura feminina presente em sua vida, a representação da mãe.

A profundidade da narrativa machadiana nos permite um amplo leque de leituras, em especial no que diz respeito à análise psicológica das personagens. No presente estudo, como já havíamos exposto anteriormente, tal enfoque reforça a percepção do conto Uns Braços como discurso permeado por elementos da tradição Realista.

Nesse sentido, passaremos a considerar alguns artifícios na construção da trama que apontam para a desconstrução do discurso romântico.

Uma leitura ingênua do conto pode levar à impressão de que o tema central é o triângulo amoroso. Inicialmente, teríamos diversos elementos que consubstanciam uma expectativa romântica, que, mais tarde, será frustrada. Além da diferença de idade, há um desnível social entre Inácio, filho de um barbeiro e D. Severina. A esses impedimentos soma-se o fato de a protagonista estar presa ao papel de mulher de Borges. São os “liames sociais” a que se refere o narrador.

É sabido que a tônica da maior parte das narrativas românticas é o amor proibido, o que suscita a oposição entre o indivíduo e a sociedade, sendo a transgressão, a superação dos liames sociais, a condição para a realização do herói.

A atmosfera vai se construindo nos devaneios de Inácio e nas divagações de D. Severina, envolvendo o leitor em uma teia, fazendo-o acreditar no surgimento de um romance. Nesse sentido, o narrador lança, como uma isca, uma reveladora antecipação: “Afinal, porém, [Inácio] teve de sair, e para nunca mais; eis aqui como e porquê.” Neste instante imagina-se que algo aconteceu entre a mulher e o rapaz. Especula-se, inevitavelmente, que Borges possa ter descoberto o suposto enlace amoroso e, consequentemente, expulsado o moço de sua casa.

As próximas cenas serão carregadas de uma tensão crescente, como se evidencia em passagens como:

“A agitação de Inácio ia crescendo, sem que ele pudesse acalmar-se nem entender-se.”

“Um domingo, - nunca ele esqueceu esse domingo [...]”;

“[D. Severina] estava justamente na sala da frente ouvindo os passos do solicitador que descia as escadas. Ouviu-o descer; foi à janela vê-lo sair e só se recolheu quando ele se perdeu ao longe, no caminho da Rua das Mangueiras. Então entrou e foi sentar-se no canapé. Parecia fora do natural, inquieta, quase maluca [...] Saiu da sala, atravessou rasgadamente o corredor e foi até o quarto do mocinho, cuja porta achou escancarada.”

“D. Severina sentiu bater-lhe o coração com veemência e recuou”

 
Assim, o próprio leitor poderá sentir seu coração a bater com veemência até o clímax: a cena do beijo.

D. Severina passará então à autocensura, o que se evidencia quando ela passa a cobrir os braços com um xale, e tratará o rapaz secamente. Por fim, passados alguns dias, Borges irá dispensar o moço, sem maiores explicações. Ora, não veríamos “como e porque” Inácio teria de sair? Assim, não apenas frustram-se as expectativas românticas estimuladas no leitor, mas a também se desconstitui a possibilidade de encerrar-se a história com um entendimento definitivo do que acontecera.

Teria Borges descoberto o beijo ou desconfiado de algo? Nesse sentido, observe-se o curto diálogo final entre ele e Inácio:

“- Quando precisar de mim para alguma coisa, procure-me.
- Sim, senhor. A Sra. D. Severina...
- Está lá para o quarto, com muita dor de cabeça. Venha amanhã ou depois despedir-se dela.”


Borges o teria impedido de falar com D. Severina. Mas, nesse caso, porque não agira de forma agressiva? Quanto a essa suposta agressividade, destacamos uma passagem que trata das ameaças de Borges.

"E foi por ali, no mesmo tom zangado, fuzilando ameaças, mas realmente incapaz de as cumprir, pois era antes grosseiro que mau."

Por outro lado, Inácio era constantemente repreendido por suas distrações, mostrando-se inapto para o trabalho. Desse modo, Borges teria todos os motivos para mandá-lo embora, mesmo desconhecendo a situação entre o rapaz e D. Severina.

Por fim, há uma terceira e provável hipótese, em que D. Severina, como típica mulher machadiana, teria manipulado Borges, induzindo-o a demitir o rapaz sem que ele suspeitasse de nada.

Assim, é possível que o leitor sinta o desconforto oriundo do fato de não lhe ser oferecido um desfecho conclusivo para a história. À perspectiva linear e a consequente previsibilidade inerentes ao pacto narrativo do Romantismo contrapõe-se a omissão do narrador. A sensação de que nada acontecera ou de que ignoramos os acontecimentos vem acompanhada da frustração da expectativa de um final feliz ou melodramático, comuns às narrativas sentimentalistas da primeira metade do século XIX.

Nesse sentido, é interessante observar que a trama se encerra com a ignorância de Inácio a respeito de tudo o que acontecera:

"Inácio saiu sem entender nada. Não entendia a despedida, nem a completa mudança de D. Severina, em relação a ele, nem o xale, nem nada. Estava tão bem! falava-lhe com tanta amizade! Como é que, de repente... Não importa; levava consigo o sabor do sonho. E através dos anos, por meio de outros amores, mais efetivos e longos, nenhuma sensação achou nunca igual à daquele domingo, na Rua da Lapa, quando ele tinha quinze anos. Ele mesmo exclama às vezes, sem saber que se engana:
- E foi um sonho! um simples sonho!"


A perspectiva romântica do rapaz faz com que sua condição de “sonhador” siga inalterada ao longo de toda a história. Assim se dá a vinculação do romantismo, personificado por Inácio, à ignorância, à incapacidade de compreender a realidade.

É dessa forma que Uns Braços se constitui como uma narrativa surpreendente, complexa e passível de diversas leituras. Em um plano mais particular, é possível sondar aspectos da psicologia das personagens na oposição entre a moral e as pulsões do indivíduo, como observamos no conto a exploração dos desejos recalcados e o conflito edípico. Atingindo a universalidade, o texto ainda pode ser percebido em uma perspectiva metaliterária: a relação dialógica entre o Realismo, vinculado às atitudes de D. Severina, e o Romantismo, associado aos devaneios de Inácio termina por evidenciar a falência do idealismo romântico.

Fonte:
Literatura – Edir
http://literatura-edir/analise-do-conto-uns-bracos-de-machado.html. 18 março 2009

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Estante de Livros (“Uma lágrima de muher”, de Aluísio de Azevedo)


Uma lágrima de mulher (1880), novela de estreia de Aluísio Azevedo, apresenta a faceta romântica desse autor responsável pela introdução do Naturalismo no Brasil.

A narrativa constitui-se com estrutura de folhetim. O leitor acompanhará a desventura amorosa de Miguel, jovem de origem humilde que não mede esforços para unir-se à Rosalina. Com expressiva carga de emotividade e em estilo adjetivado, a ideia de que a infelicidade está associada à soberba e de que o excesso de dinheiro gera a corrupção dos princípios morais firma-se como principal advertência nesse relato que antecipa alguns dos temas explorados no romance realista.

O relacionamento não é bem aceito pelo pai de Rosalina e eles se separam. Parece que o risco da morte e nem mesmo a distância, são obstáculos suficientes para impedir o coração apaixonado de Miguel, em busca de rever sua amada. Mas será que, caso se reencontrem, ainda haverá amor correspondido?

RESUMO
O romance narra a história dos amigos italianos Miguel e Rosalina, que viveram desde a infância em uma pequena comunidade de pescadores chamada Lipari. Rosalina morava com o pai Maffei, a velha Ângela e o cão Castor em uma casinha branca. Miguel era um vagabundo abandonado a sorte, seus pais já tinham partido desta vida e nenhuma fortuna deixou a ou pupilo senão uma rabeca e o dom de tocá-la.

O velho Maffei tendo a filha moça já feita partira em busca de fazer fortuna e a deixara sob os cuidados de Ângela. Mal sabia o desgraçado que a menina tomaria por namorado Miguel, o moço fazia composições à namorada e lhe declarava ao som da rabeca nos finais de tarde. Assim decorreram dois anos de ausência e de namoro, até o retorno do velho pescador que logo fez romper o romance que reprovou assim quando soube. Rosalina rapidamente escreveu ao amado sobre o fim do romance e a partida para Nápoles que se daria em breve, no mesmo papel pedia um encontro para dar-lhe adeus.

Findando a tarde os enamorados se encontraram bem próximos à casinha branca, tomados pelo choro misturados a leves e confusos sorrisos sentiram seus lábio uma atração que somente os que amam sentem e o beijo se fez. Mas logo se desfez com a invasão da luz vermelha da lanterna manobrada por Maffei, este fez o jovem casal o acompanhar até a casinha, Miguel levava a amada nos braços desfalecida e ao chegar a deitou em seus aposentos, em seguida acompanhou o velho para fora da casa e próximo a um penhasco que desabava no mar. Lá travaram uma luta como duas feras lutando por sobrevivência, até que o mais forte viu rolar no precipício o corpo do jovem músico. Após o regresso da luta, raiado o dia o velho partiu com a família deixando pra trás o cão e uma casinha banca agora tomada por fogo e por cinzas.

A jovem saiu do campo e foi apresentada a uma vida de luxo, já não mais vestia, comia e falava como antes. Aprendeu a ser uma senhora, que vivia e se apropriara dos altos salões. Esquecera, durante os quatro anos, que um dia sofreu com a morte do jovem Miguel. Até que um dia saiu atordoada do salão de sua elegante casa e foi para seu aposento, estendendo um lenço de renda na janela e lembrando a figura do tocador de rabeca.

O que sucedeu na noite da batalha viria a perturbar o futuro. Miguel havia sobrevivido ao acidente e logo amanheceu já estava em terra firme, resistira ao mar e se pôs a caminhar até a casinha branca, onde não encontrou muito além de cinzas e o pobre Castor, com quem compartilhou de sua desgraça. O tempo e a necessidade o fizeram mestre de quatro pupilos, meninos que ficaram inconformados com o dia em que Miguel avisou a partida em busca da amada. Soubera que a fidalga estava prometida a um nobre.

Miguel recebeu a parte em dinheiro que lhe era direito por o tempo de serviço e partiu com o pescador Sombra da Noite, o velho conhecia a vida de ostentação que Maffei mantinha, bem como a estrutura da elegante mansão em Nápoles. Partiu com eles o dócil companheiro Castor. Lá chegando logo se dirigiram a tal residência donde no salão os pares bailavam, Miguel fez um caminho indicado pelo seu guia e se dispôs a tocar a rabeca em frete a janela do quarto da amada, até que o músico não correspondido voltou aos navegantes, para o lugar onde estavam hospedados.

Logo recomendou à Sombra da Noite que entregasse um bilhete marcando encontro com Rosalina. A grande noite chegou e o lencinho de renda francesa foi posto à janela como sinalização a entrada do amante. Os dois estremeceram, Rosalina estava mudada e superficial, dizia ser o pai único culpado de sua sorte e Miguel partiu com essa informação e uma idéia a ser materializada.

Um sábado a noite a casa de Maffei estava esplêndida, era aniversário de Rosalina, as portas se escancaravam ao público. O moço tocador de rabeca estava no jardim como um bicho que fareja sua presa e lá estava: o velho fidalgo sentado em um banco se afastara do barulho de salão. Miguel de pronto o surpreendeu, e o sugou a vida roubando-lhe o ar. Ao amanhecer um dos funcionários deu conta do corpo estirado ao jardim…Sucederam dias de pesar e tristeza, logo suplantados pelo casamento da moça com o nobre a que estava destinada, assim teria a manutenção da vida que já tinha se habituado nas altas camadas da sociedade. Quanto ao seu matrimônio, o noivo dava-se por satisfeito por ter acesso a herança, enquanto a esposa se prostituía com os amantes que saltavam sua janela nas noites.

Até que um dia o esperançoso Miguel deu seu salto, agora não tendo mais o velho Maffei a jovem voltaria para seus braços e partiriam para a pacata colônia. Porém não tinha o músico notícias da vida da amada. Rosalina ficou surpresa, mas logo criou lamúrias e falseou a má sorte que a assolara. Não tendo mais o que criar, apontou ao amante um pequeno copo que estava em que quarto e informou que nele não mais havia veneno porque ela mesma o tomou e que em instantes partiria de seu infortúnio. E assim dramatizou, como que dá adeus ao mundo dos vivos. Miguel chorava junto ao corpo da amante até que se pôs junto dela e silenciou. Rosalina, incomodada com a situação e a insistência suscitou a vida e indagou ao amante se ele não partiria, mas o silêncio persistiu. Miguel estava morto. Pela primeira vez rolou uma lágrima pura e feminina, de quem pela primeira vez amava, agora a um cadáver. Foi assim que naquela face escorreu uma lágrima de mulher!

Fontes:
AMAZON
Resumo de ReginaMSChaves

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Jaqueline Machado (O Fantasma da Ópera e a tríade da consciência)

O Fantasma da Ópera, do escritor francês Gaston Leroux, é uma misteriosa Tríade Mental formada por Erik, a mente da alma, Christine, a mente da vida, e Raoul, a mente das coisas do mundo.  

A moça, bela e talentosa, ouvia em sua cabeça uma voz que lhe inspirava a cantar. Ela pensava estar ouvindo a voz do anjo da Música, o qual seu pai, grande músico, havia dito que lhe enviaria quando não estivesse mais presente... Ao cantar, ela assemelhava-se a uma taça transbordando bebida doce e suave a quem tem sede... O seu canto era um canto de sereia a encantar a todos ao seu redor. Ela era o espírito da casa de espetáculos, e toda essa magia foi descoberta ao substituir Carlota, estrela principal do Teatro.

O Anjo da Música, Erik, era um homem que vivia escondido nos porões da casa, devido a uma má formação no seu rosto. Tornaram-se cúmplices: a moça emprestava-lhe a beleza, enquanto ele, lhe emprestava a voz. Ou seja, ela era o amor, o encanto, o útero da vida a transbordar possibilidades, talentos... Mas ele, era alma escura, o mistério, as sombras do ser... Perdido nos breus de uma profunda solidão, sofria a impossibilidade de ser amado. Mesmo assim, apaixonou-se por Christine que, por sua vez amava Raoul, namoradinho de infância, e que na história, representa as riquezas do mundo, o direito à escolha, o livre arbítrio.  

O entrelace entre a jovem e o rapaz despertou no fantasma a ira de todos os demônios. Obcecado, passou a estrategiar maneiras de separar o casal. Tudo e todos que separavam Christine de seu espaço, ele matava ou tornava distante.

Em certo momento, Christine quase aceitou se unir ao anjo, mas ela tinha medo do que é oculto, do que é subterrâneo, do que pertence aos mistérios da alma... No fim, optou pelo amor de Raoul. Achou melhor casar com as coisas do mundo, a unir-se a sua alma. Não entendeu que as perversidades de Erik, na verdade, eram uma tentativa de afastá-la do que é perecível, mas ela temia o mistério, e o via como um monstro.

A realidade do “eu” das almas, é vista de forma desfigurada diante da realidade do mundo. Inconformado, o fantasma aprisiona o casal de namorados. Mas percebendo que era inútil desejar separá-los, os liberta.

Christine morreu antes do marido. E certo dia, Raoul foi ao cemitério visitá-la. E lá, próximo ao túmulo, estava a rosa do seu eterno rival.  A tríade se reúne novamente, pois são inseparáveis...

Resumo da minha pequena Ópera explicativa: o espetáculo, o fantasma e Raoul, são os três estados de consciência de Christine. Mais do que isso, são os três estados de consciência de todos nós seres humanos.

Fonte:
Texto enviado pela autora

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Estante de Livros (Nós: uma antologia de literatura indígena)

T
exto por Laura Brand

Nós: uma antologia de literatura indígena é uma coletânea de contos de indígenas brasileiros. Com pouco mais de 120 páginas, o livro reúne alguns mitos e contos que sobreviveram a gerações e preserva parte de uma rica história de alguns dos primeiros povos brasileiros.

Estamos acostumados a mergulhar na literatura estrangeira e, quando nos aventuramos na literária nacional, optamos por aquela escrita por brasileiros brancos, de descendência europeia. Ter contato com as narrativas indígenas é algo raríssimo para a maior parte de nós e o livro organizado e ilustrado por Maurício Negro é uma forma de tentar mudar essa realidade, principalmente para jovens leitores.

Nós: uma antologia de literatura indígena é um livro composto por onze contos escritos por descendentes ou nativos de tribos indígenas brasileiras. Além de uma belíssima ilustração abrindo cada capítulo, os contos acompanham um glossário dos termos utilizados, uma mini biografia de cada autor ou atores dos contos e uma breve explicação sobre aquele povo ao qual o conto faz referência ou ao qual a história está inserida. Isso faz com que o livro seja ainda mais enriquecedor, principalmente para os leitores que não estão habituados com determinadas narrativas ou que nunca ouviram falar desses povos. E como os contos são bem curtinhos, o livro se torna uma leitura rápida, divertida e muito rica.

Por meio dos contos escritos por autores de diferentes povos indígenas, Nós: uma antologia de literatura indígena ajuda a exemplificar a rica diversidade existente até hoje no nosso país. O livro é editado e publicado pelo selo Companhia das Letrinhas e isso em si foi um ponto interessante. Isso porque, ao escolher os jovens como foco de um livro de narrativas indígenas, é possível perceber uma preocupação em formar uma nova geração de leitores acostumados a ouvir e buscar outras perspectivas que não apenas estadunidenses e/ou europeias. Foi uma excelente escolha do Grupo Companhia das Letras e abre espaço para novos diálogos e vozes.

Nós: uma antologia de literatura indígena é uma homenagem à verdadeira ancestralidade brasileira. Um livro que reúne memórias e sabedorias milenares de alguns dos povos originários do nosso país e que, por meio da literatura, ainda resistem e expõem sua cultura para o resto do mundo.

Tive pouco contato com esse tipo de narrativa, mas Nós me deixou com um gostinho de quero mais. Não consegui deixar de pensar que o livro poderia ser uma alternativa às ficções europeias que os pais costumam ler para os filhos. Nós é uma forma de conhecermos mais sobre os verdadeiros brasileiros e de abrimos espaço para pensarmos e ouvirmos diferentes vivências e experiências. Mais uma vez a literatura se mostra poderosa.

“Nesta belíssima antologia ilustrada, o leitor vai conhecer dez histórias contadas ou recontadas por escritores de diferentes nações indígenas.

A menina Yacy-May era tão especial que fez com que o sol se apaixonasse por ela, deixando a lua enciumada. O peixe-boi surgiu a partir da união de Guaporé, filho do grande chefe dos peixes, com Panãby’piã, filha do governante dos Maraguá, e sinalizou a paz entre os humanos e os peixes. A velha misteriosa Pelenosamo tem um dia a casa invadida por uma garota curiosa, que resolve investigar o que ela fazia com os galhos secos que sempre levava recolhia e não dividia com ninguém. Essas são algumas prévias das histórias reunidas nesta antologia, contadas ou recontadas por escritores das nações indígenas Mebengôkre Kayapó, Saterê-Mawé, Maraguá, Pirá-Tapuya Waíkhana, Balatiponé Umutina, Desana, Guarani Mbyá, Krenak e Kurâ Bakairi.

Tratando dos mais diversos temas — dos mitos de origem às histórias de amor impossível —, as narrativas conduzem o leitor por situações e desenlaces muito próprios, sempre acompanhadas por um glossário e um texto informativo sobre o povo indígena de origem de cada autor. Esta é uma chance preciosa para todos aqueles que desejam entrar em contato com as raízes mais profundas de nossa cultura, ainda pouco valorizadas e respeitadas, por puro desconhecimento.”

Fonte:
Site Nostalgia Cinza, de Laura Brand
https://www.nostalgiacinza.com.br/2019/12/resenha-nos.html

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Estante de Livros (A casa sem fim, de Fernando Vugman)

(resenha por Maria Marta Furlanetto*).


“... se você está esperando uma história ágil e repleta de emoções, aconselho a desistir por aqui mesmo.”

É assim que Vugman investe em seu leitor-modelo. Esse autor não se incomoda em contar histórias que não tenham final luminoso – ainda que ele seja o personagem, ou porque ele é o personagem.

Nos vinte contos de A casa sem fim, escritos de 1978 a 2009, há uma longa e desconcertante construção de vida, de lembranças e de morte. A construção e a desconstrução das casas – seu mote – figuram o perpétuo caminhar do andarilho, ora perdido, ora se encontrando, ora indo, ora retornando. Sempre haverá uma casa, familiar e estrangeira ao mesmo tempo, representando seus próprios passos no presente e tudo o mais que ficou para trás sem morrer. O fantasma que perambula solitário, acompanhando o personagem, são os fragmentos do passado sendo olhados pelo prisma do sonho. O personagem caminha sem rumo, perde-se na distância, assusta-se, mas reencontra sempre o vento, as areias macias de uma praia, as alturas de um céu incrivelmente luminoso e azul, e os fantasmas vívidos de almas agora distantes.

Não é de surpreender que os contos de Fernando sejam autobiográficos (há uns mais que outros, na literatura): dissimulando ou não, não há como fugir da linha de um ir e vir, mesmo que contemos a história do “outro”, ou dos objetos, dos símbolos, das lembranças. Aqui, o desdobramento do autor não precisa de rótulo. Ele aí põe a máscara do “eu”, do “ele”, do gavião, do poeta, do que estiver sentindo. E sempre encontra uma casa, sombria ou iluminada, solitária ou plena de vozes e sombras antigas. Há portas surpreendentes, com maçanetas concretas e simbólicas que ele sofregamente agarra, querendo encontrar algo. Pensa mesmo em fazer perguntas aos objetos, pistas para sua leitura do que tinha sido.

Apesar da atmosfera de sonho e de um silêncio triste, Vugman é surpreendente e poeticamente preciso em sua evocação de detalhes na paisagem e no corpo: aqui, “orquídeas bizarras pendiam dos troncos cobertos de musgo e fungos”; ali, o sol traz “um calor manso e luminoso”; acolá, jovens “levam consigo a manhã”. Aqui, “aquele débil serzinho verde gemia e seu gemido flutuava em nosso nada”; ali, “Das nuvens carregadas ecoaram os trovões como tambores de batalha.”; acolá, “elevações que mal tocavam o firmamento árido, aquelas montanhas escuras e escarpadas”.

“Ao mar” lembra um conto de Edgar Allan Poe: “Descida no Maelstrom”, em que um pescador descreve para um visitante os efeitos de uma tempestade sobre um barco apanhado por um redemoinho na distante Escandinávia, sendo ele mesmo participante daquele horror.

No longo passeio dentro de si mesmo, como passageiro e outro, agora visitante, Vugman desfila a solidão das casas, que são seu próprio reflexo: em seu abandono, elas trazem a poeira do tempo, do descaso, mas há algo mais, imponderável: as pistas que os olhos não veem, mas que a alma apanha delicadamente e põe de volta nos antigos lugares – para surpreender com gesto silencioso o sentido das coisas que se agarraram nas entranhas, e continuam lá. O retorno, a cada vez, é tanto mais impressivo quanto persiste a possibilidade de os objetos olharem, de seu abandono, o personagem que retorna, insistindo em sua permanência magoada, que traz familiaridade e susto.

É assim que, como leitores, passeamos por um diário que nos apresenta casas, objetos, portões, quintais, córregos, montanhas e espaços áridos, figuras delicadas quase sem nome que serpenteiam pelas histórias com pés macios e depois somem, na luz do sol ou nas sombras da noite.

Vugman fala da permanência da casa. E exatamente nesse conto (A permanência da casa) o personagem acorda e vê que em torno não há “nada”. Vê-se numa planície iluminada e põe-se a andar, oprimido pela “liberdade de amarras”. Caminha sempre retornando para o mesmo lugar, mas no contínuo jogo de luz e sombra acaba se dando conta de que se transformava, e nem pensava mais em voltar: queria seguir adiante, abrindo trilhas – até sentir-se “incomodado” e descobrir que retornava ao ponto de partida: a casa permanecia lá.

Este passeio pelas fiéis casas de Vugman me leva a um horizonte bem distante no tempo e no espaço: conta-se que o conquistador Gêngis Khan, ao tomar conhecimento das casas de pedra construídas nas cidades pelos chineses (dinastia Jin), ficou muito espantado, desejando saber como eles as carregavam de um lado para o outro. Apesar da mobilidade de suas tendas, também eles, como guerreiros, iam e vinham, e elas acumulavam lembranças da mesma forma.

Ao nos contar sua viagem, Vugman roça a fímbria do indizível – talvez por isso seja conciso –, de modo que nos cabe, como leitores, o esforço de esvaziar a mente para preenchê-la em seguida com cores e sabores, estranhos ou familiares, para usufruir desse acontecimento com as marcas do mais além... FIM – essa tática inútil de cercar o que nos escapa (como diria Vugman).
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* Maria Marta Furlanetto - Professora do Programa de Pós-graduação em Ciências da Linguagem e do curso de Letras da Unisul; Dra. em Linguística Aplicada. Pesquisadora na linha “Texto e discurso”.

Fonte:
http://www.escritoresdosul/a_casa_sem_fim,_de_fernando_vugman.html.
Acesso em 17.10.2011.

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Estante de Livros (Arsène Lupin contra Herlock Sholmes, de Maurice Leblanc)

Gênios à sua maneira, ladrão e detetive viraram arqui-inimigos nos contos de Maurice Leblanc, mesmo depois do autor britânico recorrer à justiça

Arsène Lupin e Sherlock Holmes parecem lados opostos da mesma moeda. Ainda que ambos sejam elegantes e dotados de habilidades de observação e dedução bem acima da média, cada um usa seus conhecimentos para objetivos diferentes: um comete crimes, o outro os resolve. Ou, como mesmo define o ladrão de casaca no conto A Lâmpada Judaica, enquanto um é “um gênio bom que socorre e salva”, o outro é um “gênio mau que traz o desespero e as lágrimas”.

Independentemente da sua preferência como fã, é fato que o encontro de duas personalidades tão excêntricas é motivo para empolgação. Em 1906, quando os personagens se encontraram pela primeira vez, a resposta positiva não foi unanimidade. 

Já naquela época, não era segredo que o autor francês Maurice Leblanc usara Sherlock Holmes como uma das suas inspirações para criar seu famoso ladrão atrevido. Afinal, quando Arsène Lupin surgiu nas páginas da revista Je Sais Tout, em 1905, o detetive da Baker Street fazia muito sucesso no mundo todo, inclusive na França. Tanto que, não muito tempo antes, Conan Doyle fora obrigado a trazê-lo de volta em O Cão dos Baskervilles tamanho clamor do público. Ou seja, tentar surfar nessa onda era uma estratégia bastante esperta, e Leblanc não demorou muito para incluí-lo no universo de Lupin.

Em Sherlock Holmes Chega Tarde Demais, uma das primeiras histórias do ladrão de casaca, ambos os personagens se debruçam sobre o mesmo mistério. No entanto, é o jovem Lupin quem leva a melhor. Aliás, mais do que isso. Ele humilha seu adversário ao roubar seu relógio e devolvê-lo com um cartão de visitas, uma situação que desagradou e muito a Conan Doyle. O escritor decidiu levar o caso à justiça e, nessa disputa, foi o britânico quem saiu vencedor, obrigando Leblanc a mudar o nome do personagem.

Mas, se Conan Doyle esperava intimidar Leblanc com o processo e impedi-lo de publicar novas histórias usando sua criação, o escritor saiu bastante frustrado. No ano seguinte, quando o francês lançou a hoje famosa coletânea Arsène Lupin, Ladrão de Casaca, o detetive foi rebatizado para Herlock Sholmes. Pois é, o autor francês sequer tentou disfarçar. Não bastasse isso, o detetive da Baker Street voltou a dar as caras em outros três livros do ladrão, Arsène Lupin contra Herlock Sholmes, A Agulha Oca e 813. Quer dizer, a versão paródica dele, que morava na Parker Street e tinha como melhor amigo e companheiro de aventuras um homem chamado Wilson.

O descaramento de Leblanc foi tanto que, no conto A Mulher Loura, publicado entre 1906 e 1907, o francês chegou a escrever: “[...] nos perguntamos se ele mesmo, esse Herlock Sholmes, não é um personagem lendário, um herói expelido do cérebro de um grande romancista, de um Conan Doyle, por exemplo.”

Contudo, por mais afrontosa que pareça a postura do autor francês, ele era um fã de Conan Doyle. Quando o britânico morreu, em 1930, Leblanc escreveu uma homenagem, em que o elogiava enquanto contador de histórias. No texto, ele diz que é “infinitamente preferível” ter a habilidade de inventar as façanhas de um detetive do que realmente ser capaz de desvendar qualquer mistério e, convenhamos, não há dúvidas de que Conan Doyle era um expert em criar casos criativos e inusitados para seu famoso investigador. Essa admiração, ainda que acompanhada de ironia, pode ser sentida até nos contos de Arsène Lupin contra Herlock Sholmes. Porque, não importa quantas peças Lupin pregue em Sholmes, ele sempre se dirige a ele como “meu mestre”.

Como bem explica o ladrão de casaca em A Lâmpada Judaica, não há vencedor, nem vencido em um embate entre Lupin e Sherlock Holmes. Ambos podem reivindicar triunfos. Um raciocínio semelhante se aplica também à disputa entre Leblanc e Conan Doyle, com um porém: gerações de leitores se beneficiaram não apenas com as obras que escreveram, como com as que inspiraram e continuam a inspirar tantos anos depois. A série da Netflix Lupin certamente não é a última delas.

O livro

Arsène Lupin contra Herlock Sholmes é uma coletânea de duas histórias escritas por Maurice Leblanc, sobre as aventuras opondo Arsène Lupin a Herlock Sholmes. É uma continuação de Arsène Lupin, ladrão de casaca, notadamente a última história, Herlock Sholmes chega tarde.

As duas histórias foram publicadas pela primeira vez a partir de novembro de 1906 na revista Je sais tout. O volume saiu em 10 de fevereiro de 1908 com as duas histórias modificadas (o epílogo sobretudo). Uma outra edição surgiu em 1914 com novas modificações.

Esta aventura de Arsène Lupin, com cenário e tom humorísticos, contrasta com as obras mais sombrias de Leblanc, entre elas o livro seguinte, A Agulha Oca, com uma participação trágica de Sholmes.

Conteúdo
A coletânea contém duas narrativas:

1) A Dama Loura, publicada em Je sais tout de 15 de novembro de 1906 até 15 de abril de 1907. Divide-se em seis capítulos. Dois acontecimentos envolvendo uma dama loura e desaparecimentos misteriosos — o bilhete premiado do Sr. Gerbois e o diamante azul da condessa de Crozon — fazem com que chamem o célebre detetive inglês Herlock Sholmes, único capaz de enfrentar Lupin. Num brilhante trabalho investigativo, Sholmes descobre o segredo das quinze casas projetadas pelo arquiteto Destangue e "retocadas" com "tubos acústicos, passagens secretas, tábuas de assoalho que deslizam, escadas escondidas" por Lupin para lhe servirem de esconderijo e para outros fins criminosos. Só que, nesse meio-tempo, Lupin lhe prega uma série de peças.

2) A Lâmpada Judaica, publicada em Je sais tout de 15 de julho a 15 de agosto de 1907. Divide-se em dois capítulos. O Barão Imblevalle, a quem roubaram uma lâmpada contendo uma joia preciosa, chama Herlock Sholmes para encontrá-la. Lupin envia uma carta ao detetive pedindo que não intervenha. Sholmes a ignora e vai para Paris com Wilson. Finalmente consegue encontrar a lâmpada judaica, mas descobre que sua investigação teve o efeito oposto ao pretendido. Na verdade perturbou os planos de Lupin que pretendia ajudar a família do Barão. Primeira menção na obra sobre Lupin do lado "bom" do "ladrão de casaca". "— Então, você faz o bem também? [pergunta Sholmes] — Quando tenho tempo. Isso me diverte. Acho graça que, na aventura que nos ocupou, eu tenha sido o gênio bom que socorre e salva, e você o mau que traz o desespero e as lágrimas [responde Lupin]".

Fontes:
https://www.omelete.com.br/quadrinhos/arsene-lupin-vs-sherlock-holmes
https://mundinhodahanna.blogspot.com/2020/06/arsene-lupin-contra-herlock-sholmes-maurice-leblanc.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ars%C3%A8ne_Lupin_contra_Herlock_Sholmes

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Jaqueline Machado (Memórias do subsolo, de Dostoiévski)

Em meados de mil e oitocentos, a Rússia opôs muitos conflitos, estava num período de grandes transformações. 

Esse foi um período no qual filósofos modernos da época como: Bentham e Mill, pregavam ardorosamente o utilitarismo e o positivismo. Mas Fiódor Dostoiévski, um grande mestre das Letras, daquele tempo, rejeitava as ideias de que o ser humano pode viver sob total controle, afinal, humano é gente, e não máquina, por isso desabafa suas críticas aos regimes da época na sua obra literária, Memórias do Subsolo, lançada em 1864. A partir da retórica apaixonada, em primeira pessoa, de um personagem que não tem nome, porque ele não representa um indivíduo em particular, mas um tipo social do seu tempo.

As primeiras palavras do personagem se dirigindo a uma plateia imaginária: 

Sou um homem doente, sou um homem raivoso, sou um homem sem graça nenhuma. Acho que sofro do fígado”. 

A seguir “... Sou instruído suficientemente para não ser supersticioso, mas mesmo assim, eu sou”.

Ele era servidor público e adorava fazer uso do seu pequeno poder para ser cruel, humilhar os mais simples. Era malvado de propósito. Havia alguma bondade nele, mas era orgulhoso e não deixava transparecer. Na verdade, ele não passava de um fracassado que precisava parecer superior a todos. 

A narrativa segue um ritmo de falas contraditórias: o que é, em instantes deixa de ser. E depois, volta a ser novamente. É um monólogo coreografado que induz a plateia a uma dança mental: “Dois neurônios pra cá, dois neurônios pra lá”.

É assim, que eu, como leitora, defino a narrativa de Memórias do Subsolo. 

O título da obra é uma metáfora que pode estar se referindo a um lugar ou ao nosso próprio “subsolo”...

E mais... O personagem também filosofa nas entrelinhas, que por causa desse subsolo, o suposto inconsciente, a humanidade, mesmo que, diante de uma vida perfeita, estragaria a perfeição, e estragaria de propósito, pois o ser humano é irracional, e mesmo que seja para provocar a sua própria queda, ele prefere a liberdade. Não abre mão do seu livre arbítrio, quer decidir sobre o próprio destino. E tudo bem. Isso é ser gente...

Ele dá a entender que o ser humano não foi feito para obedecer. Ele é o caos, e isso não é de todo mal, pois é em meio a todo caos, que as grandes e mais interessantes histórias do mundo acontecem. Que tudo acaba e se reinicia. 

Para mim, a síntese da obra é: “A liberdade é a ferramenta que está sempre a destruir e recriar a vida. Sem ela não existiria eternidade.

Fonte:
Enviado por Jaqueline Machado.

domingo, 9 de julho de 2023

Estante de Livros (Comédias para se ler na escola, de Luís Fernando Veríssimo)


O titulo do livro resulta da teoria do autor de que até pessoas que não habituadas a ler obras literárias são capaz de se deliciar com elas. A obra, porém, é ideal para ser lida não só na escola, mas onde quer que esteja, e para aqueles momentos em que e deseja ter um pouco de descontração.

Neste livro é composto 35 narrativas curtas, trazendo aventuras e descobertas.

A dobradinha não podia ser melhor. De um lado, as histórias de um mestre do humor. Do outro, o olhar perspicaz de uma das mais talentosas escritoras do país, especialista em literatura para jovens. Ana Maria Machado, leitora de carteirinha de Luis Fernando Verissimo, preparou uma seleção de crônicas capaz de despertar nos estudantes o prazer e a paixão pela leitura. O resultado pode ser conferido em Comédias para se ler na escola, uma rara e feliz combinação de talentos, indispensável para a sala de aula.

A seleção de textos permite ao leitor mergulhar no universo das histórias e personagens de Verissimo e conhecer os múltiplos recursos deste artesão das letras. A habilidade para os exercícios de linguagem ou de estilo pode ser vista em crônicas como "Palavreado", "Jargão", "O ator" e "Siglas". A competência para desenvolver as comédias de erro está presente em "O Homem Trocado", "Suflê de Chuchu" e "Sozinhos".

A maestria para criar pequenas fábulas, com moral não explícita, aparece em "A Novata", "Hábito Nacional" e "Pode Acontecer". A aptidão para resgatar memórias é a marca de "Adolescência", "A Bola" e "História Estranha". E, por fim, o dom para abordagens originais de temas recorrentes revela-se em "Da Timidez", "Fobias" e "ABC".

O livro é dividido em seis tópicos, e subdividido em suas respectivas crônicas/contos.

Equívocos: Esse capítulo trata sobre mal-entendidos, erros, confusões.

A espada: o menino o surpreende, dizendo que é o Thunder Boy (Garoto Trovão) e que seu destino estava selado desde que havia nascido. O pai fica surpreso com o tom de seriedade na voz do filho, que continua dizendo que seus pais devem ser pessoas fortes e justas. O menino dirige-se à janela, ergue a espada como uma cruz e, de repente, um trovão estremece e a espada tanto quanto seu filho ficam azuis.

O Marajá: seu amo pode visitá-la; seu amo era ninguém menos que o Marajá de Jaipur. Após a visita do Marajá, dona Morgadinha não foi mais a mesma. Seu filho chegou a trazer um vira-lata para urinar na poltrona da sala, e nada. O Marajá a visitou por duas semanas, até que seu marido se cansou do descaso de dona Morgadinha com a higiene da família e da casa. Procurou seu amigo Turcão que era árabe e fê-lo fingir que era o Marajá. Ela acreditou tão piamente que queria fugir com ele para Jaipur. Se descobrisse que fora enganada se mataria, por isso Turcão tinha que desiludi-la.

Sozinhos: Um casal mentira. Porém não há ninguém além dos dois na casa. É aí que a idosa tem a brilhante ideia de gravar seu marido dormindo. Ao acordarem vão ouvi-la. O senhor ronca. Mas a senhora também. O mistério é tomado quando ouvem duas vozes indefinidas ao fundo dizendo "Estão prontos?" "Não, acho que ainda não..." "Então vamos voltar amanhã..."

A foto: A história trata da discordância sobre quem irá tirar a foto da família. No fim quem tira a foto é o bisavô, motivo pelo qual a foto estava sendo tirada.

Outros Tempos: Resumidamente, esse capítulo é um paralelo entre a infância e a vida adulta do narrador.

A bola: a história mostra a mudança de tempos: O menino ganhara uma bola do pai, mas não sabia brincar com ela; achava que só os brinquedos eletrônicos eram legais.

História estranha: conta a história de um adulto que, ao passear no parque, se deparou com si mesmo quando ele era menor, e sentiu saudades.

Vivendo e...: conta as habilidades, os jogos e fórmulas que um adulto conhecia na infância e agora esqueceu-as.

Adolescência: o apelido de um adolescente era "Cascão", e vinha da infância, do fato dele não tomar banho (fingia que tomava). Todos chamavam ele assim, e mesmo que isso perturbava ele, não reagia; até que um dia ele decidiu retrucar. Ele tentou provar que todos eram sujos, por menor que seja a sujeira, mas não conseguiu. O conto conta também a história de Jander, um menino com muitas espinhas que queria tocar violino. Quando ele tocava, todos conseguiam ouvir, o que incomodava bastante. Um dia, uma mulher chegou em seu quarto dizendo ser sua empregada, e não ouviu-se mais o som do Violino aquela noite. Subentende-se que a suposta empregada foi uma distração para ele, e substituiu a obsessão pelo violino.

Trata de problemas comuns ao cidadão brasileiros mas que nem todos os abordam.

Dentre outros capítulos

– Amor: é um poema: uma declaração de amor.

– Um, dois, três: é a história de um homem que queria fazer uma crônica como uma valsa antiga, com todas suas características. Ao longo do texto, ele dá detalhes de como ele deseja que seja seu texto, comparando as características de seu texto com as da valsa.

– O ator: ao chegar em casa e cumprimentar sua família, um homem descobre que sua casa não é uma casa. É quando alguém diz "Corta!" e ele percebe que sua casa era um cenário! Passa um tempo e alguém diz "Corta!" novamente, fazendo com que ele perceba que aquele cenário é um cenário! Ele fica muito bravo, pois queria uma casa e vida normais, sem ser um filme. Nisso, ele ouve: "Corta!"

– O recital: O Recital é um conto meio sem sentido, inesperado. Fala sobre quatro músicos: três homens (um deles é ruivo) e uma mulher, que estão preparados para apresentar-se, mas surpreendentemente, acontece alguma coisa que mudará o futuro daquela apresentação. Algo inesperado. Qual seria a coisa mais inesperada que poderia acontecer? Passar uma manada de zebus pelo palco, por trás deles? Não. O narrador cita exemplos, mas conclui que seria a entrada de um homem carregando uma tuba. E ele queria tocar. Os artistas pedem que ele se retire, mas ele nega; diz que acompanhará a música. A plateia e os artistas ficam paralisados, o homem não consegue conquistar a simpatia da plateia e começa a "ofendê-los", tentando justificar sua ação. Finalmente, ele diz para o ruivo violoncelista que seu bigode ruivo é o mesmo que ele usava em 1968! Eles se atracam. Cria-se um caos!!! Agora, quem está com o bigode ruivo é a violista. Então, o tocador de tuba acha que ela é sua mãe (pois o bigode se parece com o dele), e grita: "Mamãe!!". Nisso, entra no palco uma manada de zebus.

– Siglas: Duas pessoas falando palavras, e suas respectivas siglas. Por exemplo: Partido Conservador (PC).

domingo, 25 de junho de 2023

Minha Estante de Livros (Tarzan e os Homens-Formigas, de Edgar Rice Burroughs)

 

Romance de autoria do escritor norte-americano Edgar Rice Burroughs. Publicado em 1924, é o décimo de uma série de vinte e quatro livros sobre o personagem Tarzan.

RESUMO

Para seu primeiro voo solo, Tarzan decide sobrevoar a Grande Floresta de Espinhos e conhecer sua terra misteriosa. Contudo, o avião cai e Tarzan, inconsciente, é capturado por uma enorme e primitiva mulher das cavernas, que o leva para ser seu marido.

O homem-macaco consegue se libertar e fica atônito quando descobre uma raça guerreira composta por "homens-formigas", de menos de cinquenta centímetros de altura. Eles cavalgam minúsculos antílopes e moram em colmeias extensas, como formigueiros gigantescos. Tarzan fica amigo da tribo dos Trohanadalmakus, que fazem guerra a seus rivais, os Veltopismakus.

Tarzan acaba prisioneiro dos Veltopismakus, cuja estranha ciência o reduz ao tamanho de um homem formiga. Nessa condição, o senhor da selva é levado para trabalhar numa pedreira, onde encontra alguns companheiros da tribo amiga. O herói precisa cavar sua liberdade antes de voltar ao tamanho normal e morrer soterrado nas catacumbas sob a cidade dos Veltopismakus.

Enquanto isso, Esteban Miranda, o criminoso sósia de Tarzan, é aprisionado pelo canibal Obebe. Ele traz consigo um punhado de diamantes que roubou do homem macaco - e planeja fugir, o que causará novos problemas a Jane e Korak.

HISTÓRIA EDITORIAL

A narrativa foi escrita de 20 de junho a 22 de novembro de 1923. Apareceu inicialmente em sete números da revista pulp Argosy All-Story Weekly, de 22 de fevereiro a 15 de março de 1924. Em 30 de setembro de 1924, saiu a primeira edição em livro pela A.C. McClurg. No Brasil, a obra foi publicada primeiramente pela Companhia Editora Nacional em 1935, dentro da destacada coleção Terramarear, onde recebeu o número 38, com uma tiragem de dezessete mil exemplares. Quatro outras edições se seguiram, entre 1947 e 1958, com tiragens de dez mil unidades, exceto a quarta, que teve cinco mil e foi publicada em dois volumes.

Em 1971, com o título de Tarzan e os Homens-Formiga, foi a vez da Editora Record publicar o romance no Brasil. Ao todo, a editora lançou oito narrativas de Tarzan.

ADAPTAÇÕES

Quadrinhos

A primeira quadrinização foi na forma de tiras diárias, ilustradas por Rex Maxon, publicadas nos periódicos de 25 de janeiro a 18 de junho de 1932, com roteiro de R. W. Palmer.

A primeira adaptação para revistas em quadrinhos, bastante reduzida, foi lançada pela Gold Key Comics (selo da Western Publishing) no início de 1968. As ilustrações são de Russ Manning e o roteiro, de Gaylord Du Bois. Essa versão ilustrada por Russ Manning foi editada no Brasil pela EBAL, ainda no final da década de 1960, e reeditada na revista "Tarzan", em 1986.

Manning estreou nas páginas de domingo dos jornais com outra adaptação do romance, publicada entre 14 de janeiro e 16 de junho de 1968. Tanto as ilustrações quanto o roteiro são de sua autoria.

Projeto Gutenberg


O livro pode ser obtido em http://gutenberg.net.au/ebooks06/0600651h.html, em inglês.

domingo, 18 de junho de 2023

Minha Estante de Livros (O Tesouro de Tarzan, de Edgar Rice Burroughs)


O Tesouro de Tarzan (Tarzan and the Jewels of Opar) é um romance de autoria do escritor norte-americano Edgar Rice Burroughs. Publicado em 1918, é o quinto de uma série de vinte e quatro livros sobre o personagem Tarzan.

RESUMO

Tarzan é vítima de fraude e fica com as finanças abaladas. Ele, então, volta a Opar com um grupo de guerreiros Waziri, para obter mais ouro. A expedição é seguida por Albert Werper, desertor do exército belga a serviço de Achmet Zek, um mercador de marfim e de escravos. Tarzan e os Waziri, por fim, adentram as cavernas onde o tesouro está guardado sem que La, a Grã-Sacerdotisa de Opar, desconfie de algo.

Alertado por Werper de que o caminho está livre, Achmet Zek incendeia a propriedade de Tarzan e rapta Jane. Mugambi, o bravo Waziri amigo do homem-macaco, é o único sobrevivente. Gravemente ferido, ele jura vingar-se de Zek e seu bando.

Um terremoto isola Tarzan e Werper dentro das cavernas, deixando o herói inconsciente. Werper tenta a fuga, porém é capturado pelos oparianos para ser sacrificado.

Tarzan volta a si mas, atacado pela amnésia, retorna ao estado mental de sua juventude, quando vivia como um macaco na tribo de Kerchak.

HISTÓRIA EDITORIAL

Este romance foi escrito de cinco de setembro a nove de outubro de 1915. Foi publicado inicialmente na revista pulp All-Story Weekly, em cinco edições sucessivas, de 18 de novembro a 16 de dezembro de 1916.

Em livro, com capa dura, o romance foi lançado pela editora A.C. McClurg em 1918.

A Companhia Editora Nacional publicou a obra no Brasil em 1934, dentro da coleção Terramarear, onde recebeu o número 25. A tradução foi feita por Manuel Bandeira. Quinze mil exemplares foram impressos. O livro foi reeditado seis vezes, entre 1946 e 1968, as quatro primeiras com dez mil e as duas últimas com cinco mil exemplares cada. Ainda no Brasil, o romance foi lançado em 1959 pela CODIL - Companhia Distribuidora de Livros, com o título de Tarzan - O Tesouro, dentro de um lote de doze aventuras do rei das selvas.

ADAPTAÇÕES

Frank Merrill como Tarzan, no seriado da Universal Pictures Tarzan, o tigre (Tarzan the Tiger), de 1929. O ator já interpretara o homem macaco no seriado anterior, intitulado Tarzan, o poderoso (Tarzan the Mighty), de 1928.

QUADRINHOS

A primeira quadrinização foi na forma de tiras diárias, publicadas nos jornais de março a julho de 1930. A estreia nos gibis se deu em três partes, entre agosto e outubro de 1966, pela editora Gold Key. A história foi relançada pela Dark Horse Comics em 1999, no formato de graphic novel.

No Brasil, a adaptação foi lançada pela EBAL, na coleção Lança de Prata, no final da década de 1960, com o título de As Joias de Opar. A história foi relançada em 1986, em dois números da revista Tarzan. A EBAL lançou-a no Brasil na série de três números intitulada O Livro da Selva, entre 1978 e 1979.

CINEMA

Com o sucesso do seriado Tarzan, o poderoso (Tarzan the Mighty), os produtores imediatamente produziram sua sequência, Tarzan the Tiger, em 1929, com quinze episódios. Levemente baseado em Tarzan and the Jewels of Opar, o herói foi vivido por Frank Merrill, Jane, por Natalie Kingston e La de Opar por Mademoiselle Kithnou. Igualmente bem sucedido comercialmente, Tarzan the Tiger é o único filme de Tarzan com versões tanto muda quanto sonora. Tarzan e a cidade perdida (Tarzan and the Lost City), produção de 1998, estrelada por Casper van Dien e Jane March, também aproveitou elementos do livro de Burroughs.
 
TELEVISÃO
La de Opar (Angela Harry) em três episódios da série Tarzan: The Epic Adventures (1996-1997), estrelada por Joe Lara e em três episódios da série animada The Legend of Tarzan da Walt Disney Pictures: "Lost City of Opar", "The Leopard Men Rebellion" e "Return of La".

Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tarzan_and_the_Jewels_of_Opar