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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Lúcio Saretta (O Vendedor de Cocadas)

Lembro-me ainda do dia em que jurei a bandeira. Já faz bastante tempo, mas uma das figuras que, assim como eu, “escapou” do serviço militar ficou gravada na minha memória. Isso aconteceu provavelmente pelo fato do cara estar usando uma blusa branca com mangas cheias de franjas, tipo aquelas usadas pelos caubóis dos filmes de antigamente. A aparência estranha do rapaz completava-se nas feições do rosto. Os ossos do maxilar eram saltados e a sua dentadura de alguma forma teimava em escapar para fora da boca, como se fossem presas de um vampiro. Realmente, não era uma criatura bonita de se olhar.

Os anos foram passando e eu, vez por outra, avistava o sujeito pelas ruas da cidade, sempre do mesmo jeito, carregando pés-de-moleque em uma grande cesta de vime para vender. Sentia pena pela sua pobreza, pela sua triste condição de andarilho e falta de sorte melhor na vida. É bem verdade que eu, nas duas décadas que se passaram desde o momento em que solenemente (e um pouco apavorados) declaramos nosso compromisso de lutar pela pátria no caso de alguma emergência, não fiz nada de extraordinário, além de concluir uma faculdade e trabalhar em um ramo bem diferente daquele para o qual estudei durante quatro anos, sem obter fortuna nem um ótimo salário. Entretanto, a visão do vendedor de cocadas sempre foi algo chocante, uma lembrança viva e incômoda das desigualdades sociais que existem no mundo, da falta de oportunidades que se abate sobre uma porção de gente. Estranhos desígnios do destino... Por que ele teve que enfrentar essa infausta realidade enquanto eu, nascido em berço de ouro, tive uma juventude confortável?

Um dia, tomei coragem para abordar o meu ex-futuro-colega de farda. Seu ponto de descanso, estrategicamente escolhido entre as caminhadas com a pesada cesta embaixo do braço, é a pequena praça que fica na frente das garagens da prefeitura, ali na rua Visconde de Pelotas, em Caxias do Sul. Com seus bancos de cimento e a sombra farta das árvores, o local decerto rende alguma venda ao rapaz, tendo em vista o grande número de funcionários públicos que por ali passa. Como a praça faz parte do meu caminho para o trabalho, não tive problemas em alcançar meu intuito. O vendedor de cocadas mal conseguia falar, quando eu lhe perguntei o preço do pé-de-moleque levantou a ponta do indicador como quem diz “um real”. Talvez o rapaz estivesse embriagado, ou tivesse uma debilidade mental qualquer (não vamos esquecer que ele foi dispensado do quartel).

Enquanto me afastava dali, tendo adquirido um pé-de-moleque, comecei a pensar sobre aquela situação. De uma certa forma, mais uma vez eu me parecia com o cara. Senão, vejamos. Além do fato de termos jurado a bandeira juntos, dependemos da boa vontade de alguma alma generosa para vender nossas guloseimas. Os doces que eu faço são os livros, digamos assim. Como escritor, encontro uma avalanche de dificuldades para progredir. São os livreiros que te ignoram, editoras que não te dão resposta sobre originais enviados para análise, a mídia que se fecha. As próprias escolas, onde deveria reinar o intuito de ensinar, negam oportunidades para o escritor local mostrar o seu trabalho. Afinal, um dos anseios do escritor é cativar os mais jovens, cumprindo seu papel de cidadão e ajudando na criação de uma sociedade melhor. Se houvesse estímulo e caminhos para incentivar a leitura e, consequentemente, a educação, talvez não houvesse a pobreza que produz vendedores de cocada e tantos outros sub-empregos.

A verdade é que são muitas portas fechadas para quem começa (embora no meu caso já com três títulos na praça) e poucas portas abertas. A torre de marfim do bom-gosto cultural e as engrenagens do “show business” literário vão te colocar numa espécie de limbo, do lado de fora da festa, olhando para dentro sem poder entrar. E assim vamos vivendo, ganhando merrecas de amigos, parentes e conhecidos que solidários compram nossos livros. É claro que a estrada é árdua e longa, o ramo da literatura é como qualquer outro, o trabalho tenaz vale mais do que o talento puro e simples.

O artista que se preza, contudo, deve perseverar com seus projetos, valorizando sua própria identidade criativa, sem desistir nunca. Nem que seja vendendo as obras no afã das ruas, dentro de uma mochila, ao modo de um doceiro mambembe, com sua cesta cheia de cocadas e ilusões.
Fonte:
Artistas Gaúchos.

domingo, 19 de agosto de 2012

Marco Antonio Orsi

MARCO ANTONIO BAPTISTA ORSI, nascido e criado no Rio Grande do Sul, na cidade de Campo Bom, pequeno município da Grande Porto alegre.

Perdeu seu pai aos 6 anos de idade e foi criado pela mãe e 5 irmãs. Caçula da família.

Estudou no Colégio Idelfonso Pinto, da rede pública, fez o segundo grau (Cientifico) em dois colégios. Cursou também o Curso Técnico de Contabilidade.

Formou-se em Matemática pela Universidade do Vale dos Sinos, na qual também lecionou por mais de 30 anos.

Lecionou Matemática, Física e Estatística em vários Colégios. Iniciei sua carreira de professor aos 19 anos de idade e foi professor somente.

Como sempre amava o canto, frequentou escola de canto quando jovem.

Sempre gostava de escrever, desde os seus 7 anos de idade era sempre escolhido para declamar poesias nas festas da escola e daí criando um amor pela poesia.

Escrevia esporadicamente artigos para jornais, depois é que voltou seus olhos para a poesia. Versejador, aprendiz de poeta, iniciou em 2002 e na internet é que deu asas a essa vocação.

Fonte:
http://antologiamomentoliterocultural.blogspot.com.br/2012/07/marco-antonio-orsi-entrevista-n-416.html

Marco Antonio Orsi (O Poeta em Xeque, por Selmo Vasconcellos)

SELMO VASCONCELLOS - Quais as suas outras atividades, além de escrever ?

MARCO ANTONIO ORSI - Escrever é para mim uma distração muito prazerosa. Gosto muito de cantar, tenho um site de músicas www.marcors.com.br, tenho uma pagina no Youtube “orsi650” e um Canal no YouTube.

Por incrível que pareça sou Professor Universitário de Matemática, Física e Estatística, completamente avesso as letras...

SELMO VASCONCELLOS - Como surgiu seu interesse literário ?

MARCO ANTONIO ORSI - Sempre gostei de escrever, já quando estudava no curso primário era sempre solicitado para declamar poesias nos eventos da escola e dali já começava a ensaiar meus primeiros rabiscos.

Mas, realmente vim me dedicar a poesia aqui na Net, iniciei em 2003, escrevia artigos em jornais esporadicamente.

SELMO VASCONCELLOS - Quantos e quais os seus livros publicados ?

MARCO ANTONIO ORSI - Não tenho nenhum livro solo publicado, tenho dois em andamento.

Participei da Antologia da Alma VI volume, e fui escolhido entre os melhores da poesia de 2011, que originou uma publicação.

SELMO VASCONCELLOS - Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir poesia ?

MARCO ANTONIO ORSI - Gosto de dizer que sou mais um menestrel, um versejador do que um poeta, contudo, escrevo sobre tudo, principalmente elevo ao máximo o amor. Busco inspiração no quotidiano.

Não posso negar que muitas situações propiciam a confecção de um poema, uma musa, um amor desfeito, um novo amor, além da própria inspiração inata.

SELMO VASCONCELLOS - Quais os escritores que você admira?

MARCO ANTONIO ORSI - É difícil citar autores, já que existem tantos e excelentes, mas tenho uma admiração muito grande por Luiz de Camões, Castro Alves, Casemiro de Abreu, Mario Quintana, Pablo Neruda e tantos outros, muitos do próprio virtual. Aqui existem ótimos poetas dos quais sou fã incondicional.

SELMO VASCONCELLOS - Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas ?

MARCO ANTONIO ORSI - Para os poetas novos e para todos eu deixaria uma mensagem simples e objetiva: Jamais permita que pereça o romantismo, isso eu acho fundamental.

Fonte:
http://antologiamomentoliterocultural.blogspot.com.br/2012/07/marco-antonio-orsi-entrevista-n-416.html

Marco Antonio Orsi / RS (Poemas Sem Fronteiras)

TEATRO DA VIDA

São abismos de sonhos onde caio lentamente,
que nem chego a sentir como são profundos.
Tão inconseqüentes diante desse nosso mundo,
que se revela mais promíscuo e decadente.

Até quando serei apenas um mero figurante,
desse teatro burlesco encenado todo o dia?
Em qual dos atos encontrarei a minha alegria?
Tal qual o palhaço neste cenário ambulante.

Sei que saio de cena cada vez que eu desperto,
deste sono invulgar, que invoca a nostalgia,
pois, quando olho em minha volta está deserto.

São os pesadelos que contemplam a fantasia,
de que possa ser, entre muitos, o mais esperto,
entretanto, no fim o que encontro é melancolia.

O ANJO MULHER

Não sei bem como, mas notadamente usas,
perfeitas palavras crescentes, em profusão.
Expões tu’ alma e não escondes o teu coração,
e, ainda por cima, com tua beleza abusas...

Vais ao rumo do amor e não ficas confusa.
Concedes a vida bem mais do que emoção.
Nunca aos que te cercam mostras desilusão.
És mulher de escol, e de alguns poetas, musa.

Confortas o fraco, sem deixar de enaltecer
os fortes que te cercam, para ter o carinho
o qual, jamais negas a quem o pretender.

Às vezes, penso que és um anjo que sozinho,
perambulas na terra, por teu proceder.
Consolas a todos que cruzam teu caminho.

CRIANÇAS INOCENTES

Somos cúmplices neste amor,
Que nos devora a alma e clama
Ao corpo por uma ardente chama,
Que nos envolva com todo o calor.

Quem poderá a nós argumentar,
Da inconveniência dessa paixão,
Que arde e queima de excitação,
E que expõe todo o nosso desejar.

Como saídos de um novo ritual.
Insinuamos passos envolventes,
Buscando, a rigor, outro visual.

Neste delírio estamos coniventes,
Envoltos que somos ao natural,
Parecemos crianças inocentes.

SIMBIOSE VIRTUAL

Tu vives em mim, como eu vivo em ti,
nesta simbiose insana e virtual.
Postulamos da vida, cada qual,
poder ficarmos para sempre aqui.

Somos pioneiros da ordem que vi,
desabrochar num plano digital.
No início parecia ser irreal,
Mas, agora, acredito no que li.

Amamos e vivemos por anseios.
O ciúme acelera a impaciência.
E rodamos em meio a devaneios.

A cibernética criou um mundo,
onde o espírito supera a aparência,
e vive-se uma vida num segundo...

MENSAGEM DE AMOR

Esqueças que é mulher,
pois és uma flor.
Esqueças também,
de como eu sou,
e assim poderás
saber aonde estou,
quando receberes
esta minha mensagem
de amor.
Escuta a minha voz,
pausada e calma,
que vai do meu,
ao teu coração.
É uma mensagem
de amor, que mostra,
uma grande paixão,
transmitindo com calma,
o meu amor a tua alma.

SINGELO PRESSÁGIO

As asas douradas, o perfume agreste,
d'aurora celeste, que o vento me traz.
Suspiro profundo, minha ânsia incontida
pelo tempo retido, que já não vem mais.
Restou tão somente meu olhar antigo,
tal como um amigo que ficou para trás.
Relíquias do tempo, antigas saudades
que tem na verdade seu refúgio capaz.
Singelo o presságio dessa esperança,
como uma lança em meu peito cravou.
Deixou meus sonhos ao pé do caminho,
e o teu carinho o vento levou.

ALMA ALFORRIADA

A alma é do sonho uma prisioneira,
que clama por amor e liberdade,
quer ficar junto da felicidade,
e assim tornar-se sua companheira.

Mesmo que isso lhe traga ansiedade,
procura com afinco outra maneira,
pra poder chegar e ser a primeira,
num patamar onde ninguém invade.

Ecos, visões a tornam dependente,
Da chegada de um novo anoitecer,
Tornando-a mais uma penitente.

Talvez ela possa reconhecer,
a trilha que a tornará finalmente,
alforriada do seu padecer.

LENDA DA PAIXÃO

Ele foi caminhando por entre os túmulos silenciosamente,
pouco a pouco, sua memória voou, percorreu todo espaço.
Então, de repente, ele sentiu como se estivesse nos braços,
de sua inesquecível amada. E continuou, vagarosamente.

Foram amantes, muito antes, no tempo em que o romance,
perseguia àqueles que queriam viver mais do que fantasia.
Em lentas passadas, percorreu para onde ele mais queria,
ao encontro daquela que amou com inacreditável alcance.

Haviam, eles vivido, bem mais, do que uma ligação amorosa,
Viveu um épico, no qual o amor foi a sua figura principal.
E agora, mostrava-se como uma lenda, essa paixão sensual,
Porém, à época fora, sem duvida, uma das mais ardorosas.

Aos poucos ele se recupera e começa a voltar ao seu normal.
Com as mãos alisa seus brancos cabelos de forma vagarosa,
Dá-se conta, que o tempo passou com velocidade assombrosa.
Olha em volta e percebe que logo, logo, estará com ela, afinal.

PONTEIROS FEITICEIROS

Vou abrir as janelas d'alma,
e deixar o vento entrar,
para dar-me a calma
da qual eu vou precisar,
para o tempo incessante,
deixar-me mais confiante
quando a luz no ocaso brilhar.
Posso guiar-me pelas estrelas,
e as minhas amarras soltar,
e ainda que não possa vê-las,
sentir a tranqüilidade do ar.
Levo comigo o vento,
as lembranças e o sentimento,
que só de longe vi passar.
Canto o silêncio agora,
onde os sonhos não se calam.
E busco nas retinas, na hora,
em que as imagens não se apagam.
Mas, o tempo com seus ponteiros,
movendo-se como feiticeiros,
por meus pensamentos falam.

PORTO DAS ALMAS
Vens buscar-me em teu barco,
para navegarmos mar a fora?
Ah, com meus conhecimentos parcos,
como eu te entendo agora.
Porque fazias tantas juras de amor,
e depunhas-te assim a meu dispor,
mesmo antes de irmos embora.
Por que em meus braços tremias,
somente hoje que eu entendi.
Pois de grande paixão padecias,
tal qual um desamparado colibri.
Procuravas beijar a cada flor,
na busca do alimento do amor,
que era vital para ti.
Não fiques mais preocupada,
pois vou contigo navegar.
Tomes o leme do teu barco
quem sabe nós poderemos chegar,
por águas tranqüilas e calmas,
a um porto, onde todas as almas,
resolveram habitar.

A ÚLTIMA ROSA VERMELHA
 
Ofereço-te esta última rosa vermelha,
na hora da minha definitiva partida.
Guarde-a e deixe que fique esquecida,
como a fonte donde o amor se espelha.

Já nada mais tenho para te oferecer,
foi tudo arrasado pelo furor da vida,
e de roldão levou os sonhos na saída,
deixou apenas a marca do meu sofrer.

Um vento forte, tal como um furacão,
varreu as plagas verdes e os caminhos,
onde andamos levando nossa paixão.

Agora sigo nessa trilha, de mansinho,
levando comigo o meu velho coração,
cansado da luta, que eu travei sozinho.

Fontes:
1 - http://antologiamomentoliterocultural.blogspot.com.br/2012/07/marco-antonio-orsi-entrevista-n-416.html
2 - http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=7195&categoria=Z

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Márcia Tiburi (1970)

Márcia Angelita Tiburi (Vacaria/RS, 6 de abril de 1970)

Graduada em filosofia, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1990), e em artes plásticas, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1996); mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1994) e doutora em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1999) com ênfase em Filosofia Contemporânea.

Seus principais temas são ética, estética e filosofia do conhecimento.

Publicou diversos livros de filosofia, entre elas as antologias As Mulheres e a Filosofia (Editora Unisinos, 2002),  O Corpo Torturado (Ed. Escritos, 2004), e Mulheres, Filosofia ou Coisas do Gênero (2008, Edunisc), Seis Leituras sobre a Dialética do Esclarecimento (2009, UNIJUí).

 Publicou também os ensaios: Crítica da Razão e Mímesis no pensamento de Theodor Adorno (EDIPUCRS, 1995),Uma outra história da razão (Ed. Unisinos, 2003), Diálogo sobre o Corpo (Escritos, 2004), Filosofia Cinza - a melancolia e o corpo nas dobras da escrita (Escritos, 2004) e Metamorfoses do Conceito (ed. UFRGS, 2005). 

 Em 2008 publicou Filosofia em Comum - para ler junto (Record). Publicou em 2009 em parceria com Denise Mattar o livro Maria Tomaselli, sobre a artista homônima.

 Em 2010 publicou o infantil Filosofia Brincante (Record) e Diálogo/Desenho (ed. SENAC). Publicou em 2011 Olho de Vidro, a televisão e o estado de exceção da imagem (Record).

 Publicou os romances Magnólia em 2005 indicado em 2006 ao Jabuti de melhor romance e o segundo volume da série Trilogia Íntima chamado A Mulher de Costas em 2006 (ambos pela Ed. Bertrand Brasil). Em 2009 finalizou com o romance O Manto(pela Ed. Record), a série intitulada Trilogia Íntima.

 Em 2012 publica o romance Era Meu esse Rosto pela Editora Record. Ainda no prelo encontram-se os livros Diálogo/Dança e Diálogo/Fotografia pela editora do SENAC-SP.

 Como escritora, já participou de diversos eventos literários, entre eles a Jornada Literária de Passo Fundo, a Fliporto, o Festival da Mantiqueira, a Tarrafa Literária de Santos, as Bienais do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Minas Gerais, as feiras de Ribeirão Preto, de Porto Alegre, de Santa Maria, a Panamazônica de Belém, e diversas outras.

 Escreveu para várias revistas e jornais e desde 2008 é colunista da Revista Cult.

 É professora do Programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Mackenzie, professora convidada da Fundação Dom Cabral. Realiza palestras sobre filosofia, ética e educação e temas relacionados.

Fontes:
http://www.marciatiburi.com.br/curriculo.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Márcia_Tiburi

domingo, 12 de agosto de 2012

Ialmar Pio Schneider (Soneto à Lila Ripoll - In Memoriam)

Nascimento em 12 de agosto de 1905, em Quaraí/RS

Quem pode me ajudar nesta tarde sombria,
em que o sol vai partindo e a treva vem chegando,
eu que procuro ter para minha alegria
um raio de esperança ao destino nefando?

Lila Ripoll, poetisa, ela vivia amando
a cidade e seu lago e a noite que descia,
traz-me a tranquilidade e fico meditando
nos versos geniais de serena poesia...

Poemas que compôs em ritmo de ansiedade,
sentindo na tristeza o travo da saudade,
para se comover ao som do seu piano...

Quantas vezes, talvez, tocou sua ternura,
amenizando a dor da mansa desventura,
na pauta musical vinda de um desengano !…

Fonte:
O autor

Lila Ripoll (Poemas Escolhidos)

Fita Verde

Prendi uma fita bem verde
nos meus cabelos escuros.
Fiquei quase uma menina
capaz de subir nos muros.

Troquei de alma e de idade
e brinquei entre as crianças.
Meus pesares voaram longe...
e as minhas desesperanças.

Na roda da "Cirandinha"
ninguém cantou como eu.
Cantei, cantei todo o dia
até que o sol se escondeu.

E veio a noite e o cansaço
e nós fomos descansar:
as crianças de verdade
e eu que brinquei de enganar.
(...)

Publicado no livro Céu Vazio: poesia (1941).

Neve

A neve desce
fria e fina.
A neve cresce
e há neblina.

Neva na rua,
neva em meu peito.
Cai neve da lua
no mar,
e em meu leito.

A neve gela
meu pensamento.
Cai neve, neve
nos fios do vento.

A neve desce
pelo meu leito.
A neve cresce
sobre meu peito.

Cai neve, neve
cai e se adensa.
Cai neve, leve,
sobre quem pensa.

Publicado no livro Poemas e Canções (1957)

Retrato

Clara manhã de inverno.
Na rua longa e fria
procuro ansiosamente
um número, uma casa.

(...)

Aguardo a professora,
aguardo e penso,
no agasalho do ambiente de silêncio.
E detenho meus olhos surpreendidos
no retrato maior que a sala guarda.

Reconheço a figura, a fronte ampla,
o olhar audaz e manso ao mesmo tempo.
É ele sim, é o grande Cavaleiro,
Cavaleiro de muitas esperanças.

Que faz ali? Que faz ali? pergunto.
Por que naquela casa silenciosa
tranquilamente antiga e acolhedora,
o retrato de Prestes na parede
sobressai e ilumina a sala inteira?

(...)

"É meu neto, menina. Gosta dele?
É o Luís Carlos, meu neto, não sabia?"

E vejo à minha frente, nobre e simples,
a vovó Ermelinda, de Luís Carlos,
para mim Cavaleiro da Esperança

E a voz continuou serena e mansa:
"Um menino tão terno, tão sensível,
quem diria pudesse ser um dia
um revolucionário?"

(...)

Anda longe o Luís Carlos, de seus dias.
Anda longe e está próximo e presente:

nas palavras apenas murmuradas
— afetivos suspiros e lembranças —
e nas outras que brotam impetuosas
dominando planícies e cidades.

(...)

Seu passo um dia cantará nas pedras
e humildes casas se iluminarão.
E à sua voz, de chama e tempestade,
as vozes triunfais responderão.

Publicado no livro Novos Poemas (1951).

Ternura

Eu te amo com a ternura das mães
que embalam os filhos pequeninos.
E te amo sem desejos.

Perto de ti meus sentidos desaparecem.
Meu corpo tem castidades de santa e de menina.

Quando falas nenhuma sobra se interpõe entre nós dois
Fico presa à palavra de tua boca
e à palavra de teus olhos.
Nada existe fora de nós. Longe de nós...
Tu és o Princípio e o Fim. O Tempo e o Espaço
Cada palavra tua mais espiritualiza
o meu sentimento e a minha ternura.

Tenho vontade de que meus braços se transformem
num grande berço,
para embalar teu sono de homem triste.

Nenhuma estrela brilha mais clara que os teus olhos
na minha alma,
e que a tua palavra no meu coração.

Nenhum homem foi amado com tanta pureza sem pecado,
nem tanta adoração!

Nenhuma mulher vestiu de tanta castidade
seu corpo e sua alma,
para a tristeza de um amor que quer viver,
e quer morrer.

Publicado no livro Céu Vazio: poesia (1941).

Fonte:
http://www.astormentas.com/din/poemas.asp?autor=Lila+Ripoll

domingo, 15 de julho de 2012

Ialmar Pio Schneider / RS (Livro de Sonetos VI)

SONETO DE UM CAVALEIRO TRISTE 

O sol descai... Montado no alazão
eu sigo pensativo pela estrada,
ouvindo o triste mugir da manada
que procura abrigar-se no capão.

Horas de amor... horas que o coração
modula calmamente uma toada;
que a tarde vai descendo para o nada
e cheio de poesia fica o rincão.

Morre a tardinha e nasce então o sonho
que anima, que cativa, que reluz,
embora seja às vezes tão tristonho.

A noite vai descendo, foge a luz,
por toda parte um reluzir tardonho
e eu prossigo levando a minha cruz !

SONETO DE UM ANDARILHO 

Eu vivo solitário e maltrapilho,
a caminhar por este mundo afora,
e levo a vida por um triste trilho,
boêmio sem amor e sem aurora.

Da solidão sou sempre um pobre filho,
e com imensa dor minh´alma chora,
quando lembro sozinho o nosso idílio,
aquele louco amor que tive outrora.

Hoje, tristonho e maltrapilho vivo,
da sociedade sempre longe, esquivo...
Apenas nas tabernas acho paz.

E lá, quando me afogo na bebida,
olvido a desventura desta vida
e penso, doido, que me amando estás.


SONETO ARDENTE 

Aos poucos vou contando minha história
nos poemas, nas crônicas, nos versos
dos sonetos, das trovas... - merencória
poesia - todos por aí dispersos...

Relembrando os amores mais diversos
que passaram, bem sei, longe da glória
de se concretizarem ou perversos,
magoando a minha triste trajetória...

Lendo as páginas de outros sonhadores
que enfrentaram fracassos, dissabores,
eu me ponho a pensar no céu da vida

que me pudesse dar felicidade
e chego a bendizer esta saudade
como se aos beijos da mulher querida…

SONETO TRISTONHO 

Que lindo é o modular do passaredo
que canta desde a aurora vir chegando
até que a tarde triste vá tombando
e a noite desça cheia de segredo.

Ai! quem me dera que eu cantasse ledo
sem estes prantos que me vão cegando
e quando a noite vier se aproximando,
cantar contente sem nenhum degredo !

Como meu peito já não quer cantar
e minha vida sem amor definha,
no verso derradeiro a chorar

te peço encantadora moreninha,
que quando a morte me vier buscar,
reza uma prece pela alma minha !

MATE NO GALPÃO 

O mate amargo passa de mão em
mão e a gente se lembra de tropeadas
do destino que leva por estradas
desconhecidas, tristes, sem ninguém.

A cuia prateada me entretém,
escutando os causos dos camaradas
que fizeram de suas gauchadas
por terras que se somem pelo além.

Ruivo fogo crepita no galpão,
nobre abrigo dos tauras soberanos
que saudosos se ajuntam no rincão

a fim de recordar passados anos.
E a cuia do gostoso chimarrão
me é tristezas, saudades, desenganos…

SONETO DO FIM DO DIA 

A noite vem descendo vagamente,
as estrelas no céu vão apontando,
a lua começa sua jornada urgente,
de um lado para outro vai passeando...

Quem nestas horas, de um amor ausente,
não fica triste a imensidão mirando,
e embora tantas vezes queira e tente
modular, de tristor fica chorando?!

Nesses momentos sempre é que a saudade
me desanima, me tortura, ingrata...
E eu me recordo, olhando a imensidade,

dos felizes passeios pela mata;
e a feroz aflição que então me invade
prorrompe dentro em mim como cascata !

SONETO À MULHER MORENA 

Linda manhã radiosa me convida
a prosseguir nos passos rumo ao mundo,
porque sonhar amando é tão profundo,
que mais e mais, também prolonga a vida !

Mas se eu pudesse ser um vagamundo,
sem conhecer a estrada percorrida,
com certeza, conceberia a lida
de procurá-la até em um submundo...

Eu sei que vou lhe amar a todo o instante,
com seu sorriso límpido e brilhante,
qual se fosse de Alencar - ´´A Iracema´´!...

E para consagrar meu preito à bela
morena, que não sai da minha tela,
eis o soneto que ainda é o poema !

FARRAPO 

Levantou-se o gaúcho sobranceiro
no alto da coxilha verdejante,
carregava uma carga no semblante
dum tristor que seria o derradeiro.

A glória de lutar e ser galante:
o sonho que conduz o aventureiro.
A glória de ser livre e ser gigante:
o lema que conduz o pegureiro.

Este lema e este sonho se fundiram
e assim surgiu o nobre Farroupilha
que lutou com ousada galhardia,

porque a honra e a justiça escapuliram
da canhada e do topo da coxilha,
do pago em que ele viu a luz do dia !

QUANDO MURCHAR A PRIMAVERA 

Quando murcharem as flores dos caminhos
e o peito calar-me indiferente
como a serena mudez dos passarinhos
em noite senil e permanente...

Órfão de afetos, insaciado de carinhos
caminharei tristonho de dolente,
buscando outras sensações em novos ninhos
como a cura ao meu amor fervente.

E nada há de curar a viva chaga
que deixaste a sangrar em meu desejo
ao provar a doçura do teu beijo

naquela tardinha rubra e vaga
e onde estiveres chorarás baixinho
a mágoa de deixar-me tão sozinho.

CANSAÇO 

No corpo sentírás a lassidão
de uma canseira incrível, de um torpor
que te virá só para em ti depor
as esperanças que te morrerão...

E numa palidez verás, então,
teus olhos magoados pela dor,
vidrados sem o brilho sonhador
que te deixava tão alegre são...

Desejarás dormir nestes instantes.
O sono não virá dar-te umabraço.
Irás cantar, mas inda que tu cantes

passarás amarguras como passo
e enxergarás que em risos deslumbrantes
te sorrirá flamívolo cansaço…

Fonte:
Sonetos

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Ialmar Pio Schneider (Livro de Sonetos V)

SONETO 11515

Aqui a solidão já foi embora,
Pois hoje sei que alguém que tem saudade
Não vive só, não sofre, nem mais chora,
Porque esta é enfim a sua realidade.

Andava sorumbático...; por ora
Me reanimei, sabendo da verdade,
Uma vez que não conhecia outrora,
Que recordar também é felicidade !

Fugindo da aflição, relembro bem,
Que fui amado tanto por alguém,
Mas nos deixamos sem saber por quê...

Ingrata vem a ser a nossa história,
Bem guardada no cofre da memória,
Onde estão habitando eu e você !

(15.05.2010 -Porto Alegre - RS)

SONETO 11514

Eu tive uma saudade da mulher
Que um dia dominou minha ilusão,
Como se desfolhasse um bem-me-quer,
Pra ser feliz depois, na solidão...

Mas não foi nesse céu de rosicler,
Que já me trouxe tanta incompreensão,
A vida que pedi, você não quer,
Pois preferiu esta separação...

Procure agora achar o seu conforto
Nas noites hibernais talvez sozinha,
Ouvindo os pios da coruja agreste...

O nosso bom convívio está tão morto
Porque você não quis o que detinha
Num coração mundano e não celeste…

(16.05.2010- Porto Alegre - RS)

SONETO 11511

Não precisa me amar como te amo,
basta que seja cândida amizade
nosso conhecimento, a flor no ramo
que cultivamos fulge em nossa herdade !

Enfrentemos, assim, a realidade
neste fervor que em alta voz proclamo,
sabendo, embora, que a felicidade,
se não tive-a, também não a reclamo.

Se foi uma das minhas esperanças,
sua presença nesta caminhada,
só quero amar como amam as crianças...

Assim vai ser melhor ao meu tormento,
quando este devaneio der em nada
e dissipar-se ao sussurrar do vento…

(23.05.2010- Porto Alegre - RS)

SONETO 11492

Esse amor impossível foi demais
e deixou-me saudosas cicatrizes,
que me fazem lembrar dos infelizes,
que não concretizaram seus ideais...

Vivemos nesta vida de aprendizes,
como viveram nossos ancestrais,
buscando aprimorarmos sempre mais,
tudo aquilo que herdamos das raízes.

Mas vamos combinar,... a perfeição
concentra inatingível utopia,
como sabemos muito bem de cor...

Sigamos o que manda o coração,
embora muito sonho e fantasia,
pois iremos assim viver melhor !

(29.05.2010 - Porto Alegre - RS)

SONETO 11449

Não tenho o que fazer por esses dias,
a não ser assistir ao que aparece
em meu televisor. Noites sombrias
em que vou meditando a longa prece...

Você já foi o tema das poesias
que eu compunha, a sós, quando a tarde desce,
hoje vejo que foram fantasias,
os versos que minh´alma não esquece...

Outro motivo leva-me por diante
e vou seguindo assim o meu caminho
com minhas horas mortas nebulosas...

Ainda a vejo em sonhos, linda amante,
e recordando seu gentil carinho,
também relembro o olor daquelas rosas…

(05.06.2010- Porto Alegre - RS)

SONETO 11439

A vida foi assim meio bisonha
e procurei dizer o que sentia,
através de uma página tristonha
que turvou por demais minha poesia.

Tu vieste fantástica e risonha
e despertaste as horas do meu dia,
em que julgava a existência enfadonha
e não pensava em sonhos de alegria.

Agora te conheço só de vista,
talvez me baste este conhecimento,
ouço uma voz dizer-me alto: ´´Persista !´´

Então, vou percorrendo a longa estrada
que me leva confiante e sonolento,
a gritar-me: ´´Sozinho não és nada !´´

(08.06.2010 - Porto Alegre - RS)

SONETO AO PÔR-DO-SOL

O pôr-do-sol agora está magnífico,
Parece do Senhor uma pintura,
E por isto o momento é beatífico,
Como se unisse Deus à criatura...

A noite vai descendo... colorífico
O céu em tons diversos se mistura,
E mesmo pelos ares odorífico
Vem a ser o ambiente de verdura...

Então, eu me recolho e penso em ti,
Com serena tristeza e nostalgia,
Lembrando nosso amor de frenesi...

Se agora já vai longe a mocidade,
Não esqueço os momentos de alegria,
Embora hoje só reste esta saudade !

(25.05.2010- Porto Alegre - RS)

SONETO PARA DELCY CANALLES

O verso flui da pena da Delcy
Canalles, como as águas vem da fonte
Rumorejante, a deslizar do monte,
Formando um lindo lago azul ali

No vale verde, que se vê defronte
Do arvoredo, onde passa o colibri,
Beijando as flores, como em frenesi
Se avista o sol caindo no horizonte...

A noite vem descendo na cidade...
Nestas horas visita-me a saudade,
E lembro que já tive os meus amores

Da juventude que ficou distante...
Amo, agora, a poesia inebriante
Que sói acalentar os sonhadores…

(19.05.2010 - Porto Alegre - RS)

SONETO DO AMOR SONHADO

Um dia procurei te sepultar
no cemitério zen do esquecimento,
pra nunca mais te ver ou te lembrar,
mas foi em vão este convencimento...

Hoje, vives mais forte, a maltratar
meu coração ferido, no tormento
de nunca conseguir desenraizar
tanta saudade no meu sentimento...

Por que fui conhecer o amor perdido,
se fosse pra sentir tanta emoção,
que ora se me afigura ser proibido?!

Quero deixar de lado a hipocrisia
e te aguardar na velha solidão
que tanto me acompanha noite e dia…

(5.5.2010 - Porto Alegre - RS)
Fonte:
http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=15178

terça-feira, 12 de junho de 2012

Iara Pacini /RS (Poemas Avulsos)


POR QUE AS ESTRELAS NÃO CALAM

 Em silêncio, sigo cansada,
 longa jornada,
 este peso...
 À noite me olho,
 Vejo,
 Sinto,
 Reflito,
 Mergulho em meu grito!
 As estrelas não calam,
 em dizer, às minhas lágrimas,
 calma ao meu coração
 Torturado
 Cansado,
 as batidas em descompasso
 sentimentos em desalinho,
 talhados em dor...
 E ao chegar a noite,
 Procuro,
 Ando,
 Procuro nas emoções vividas
 que me invadem de mansinho...
 um brilho no céu...
 Luzinhas multicoloridas,
 prateadas,
 me ondulo no mar,
 na longa espera,
 e entre os girassóis suspiro
 com sintomas de solidão,
 e tento,
 reinvento
 a espera da eterna renovação
 do tempo.

 VERSOS DESFOLHADOS

 Hoje, desfolhada pela saudade que me tortura,
 vou a tua procura e choro no meu canto.
 De minha melancolia faço versos desfolhados.
 Plantei e guardei beijos, carinhos e afagos que tu me deste.
 Levei tudo para o universo do meu coração
 Tento caminhar e caminhar ate te encontrar,
 pois calada, consumida pela distancia,
 na solidão das horas das minhas recordações,
 fica o amor imenso que tenho por ti
 Saudades doidas
 que me consomem...

 FLORESCER

 Floresço em cada dia...
 na poesia vou buscar o teu encanto,
 a esperança brota,
 me cubro de amor,
 sonhando ao teu lado,
 sentir um pouco de felicidade,
 e enfrento a distância,
 com tristeza,
 sorrio, pra não chorar,
 memorizando emoções queridas,
 numa silenciosa noite.
 Ó meu Deus,
 como te agradeço o amor,
 pois só tu sabias que o meu caminho seria assim,
 e me faço poeta, cantando, na ilusão de escrever
 na linha de tua mão
 TE AMO

O AGASALHO DO AMOR

 Meus pensamentos voam,
 ouvi de longe, muito longe,
 um sussurro tão doce...
 A alegria tomou conta de mim,
 (A saudade deixou-me,
 embalada pela nostalgia).
 me levaou a alcançar a serenidade
 ao logo do dia,
 em silêncio, revejo cenas lindas,
 coloridas ,
 que enfeitaram meu coração...
 nas colinas o verde,
 no céu o azul,
 nas estrelas o brilho dos teus olhos,
 momento concretizado com emoção pura
 com chuvas de carinho,
 (alimento constante),
 agasalhados nesse amor.

DELÍRIOS !

 Quero você:
 Vontade no cio!
 Nessa estação,
 Em meus braços
 Embalando sonhos
 Dançamos até o amanhecer
 Uma valsa arrebatada de amor...
 Enamorada volúpia
 Flama
 Fornalha quente uivando
 Carícias em beijos...
 Sorvidos - ardemos em paixão
 Bebendo da emoção selvagem.
 Delírios puros em plenitude.
 No ápice do reencontro,
 Prazer supremo!

ÊXTASE

 Quero ficar...
 ao teu lado em êxtase,
 sentir a batida louca do teu coração,
 o dialogo mudo de nossos olhos,
 em busca de sol, em carinhos,
 quero diluir-te em temperos ,
 abraços que se entrelaçam,
 palavras murmuradas sobre as ondas do mar
 sentindo emoções fortes,quentes,
 bombeando o elemento de nossas entregas,
 que levaram a nossa alma em tapetes de brilhantes


Fonte:
Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Pedro DuBois /RS (Poemas Escolhidos)


MEMÓRIA

Pelo vão da porta
insiro a memória
cobro pela entrega
o gesto
desprendido do envelope
sob a porta
envelopo a série 
e na espera tenho
a sequência mnemônica
dos atrasos
a companhia alarma a casa
e sobre o assoalho 
repousa a prova na memória
avivada dos extremos.

SOBRAS

Prefiro as sobras do banquete
o vinho quente na garrafa
o azedo da salada
o restante da carne
junto ao osso

o guardanapo
usado com esforço

guardo a rolha
em confirmação: aguardo
o retorno
inserido
na minha vontade.

SURPRESA 

O elemento surpresa onde se escondem
as mudanças. O estertor com que fogo
queima o estrado e o preso se arrepende
em novo ano. Não reconheço a espera:
o esperto acreditar
no futuro: o inexplicável
alvoroço do cão: o amargo
da vida na ilusão passageira
do amigo. Folgo em me colocar
contra a janela: inocento o suspeito. Suspeito
de outras eras: chego sem ser anunciado.
Desdobro a canção dos horrores
consumidos em preitos
panelas
e tigelas. O elemento
e a presa na hora em que o circo 
pega fogo e o mundo se desmantela
no imitar do bandido ao espoucar
da pipoca: a chave em giro
mecânico na porta.

IMAGINAR 

Construo a imagem 
ao arrepio do espelho
a lâmina assusta 
o rosto que se desfaz
em gritos ante o dia
que se abre ao mito

minto cada leve dobra
do espírito: aumento
a expressão e o riso

o espelho desmente
a impostura do porte

em dinâmico gesto
destrói o sonho
onde me encontro

contruo outro corpo
e não me arrependo
na informação errônea
da identidade: quebro
o vidro e ao lado vejo 
que a estrutura mente.

CONFISSÃO 

Ao pássaro confesso minha incerteza
ao pé do ouvido grito meus pertences
e o preço pago em cada compra: vendo
a alma em desavenças. Calo
a inconsequência do canto.
Ao pássaro não ofendo o silêncio
em alardes frios de sofrimentos:
o ninho por manter
a cria por alimentar.
Incerto
encaminho a voz ao segredo
revelado em poucas palavras.

PRESENTE 

Sou visita e residente

passado aparente
em nova visita
e o de sempre

o mesmo: quem
conhece o caminho
entre o quarto
e a cozinha

vida renovada
na morte persistente

a oração em sofrimento
na brisa mensageira
da notícia

o de fora e o de dentro:

filho
pai
marido

esquento o trabalho e saio
passeio
troco de lado
e me escondo em periferias

quem vem de longe
para ver a família.

ANTES 

Saber da excelência
a véspera
antes o desdouro
nasça e se faça fonte
ao jazer na espuma ocidente
a lâmpada apagada dos ex-amantes

barcos aos cais anunciam
atracar em portos
desacostumados na avalanche
marítima das verdades

no dia anterior barulhos cessam
e na voz a surdez exala o poente.

Fontes:
O Autor
http://pedrodubois.blogspot.com.br/

terça-feira, 5 de junho de 2012

Mário Quintana (Presença)


É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

sábado, 12 de maio de 2012

Delfina Benigna da Cunha (Trovas de Mãe)


Dia das Mães!...Alegrias
Das mais puras, das mais belas!...
Mas é preciso saber
O dia que não é delas.

O Nosso berço no mundo,
Sem que ninguem o defina,
É um segredo entre a mulher
E a Providência Divina

Mãe possue onde apareça
Dois títulos a contento:
Escrava do sacrificio,
Rainha do sofrimento

Mulher quando se faz mãe,
Seja ela de onde for,
Por fora é sempre mulher,
Por dentro, é um anjo de amor.

Maternidade na vida,
Que o saiba quem não souber,
É uma luz que Deus acende
No coração da mulher.

Coração de mãe parece,
No lar em que se aprimora,
Padecimento que ri,
Felicidade que chora.

Pela escritura que trago,
Na história dos sonhos meus,
Mãe é uma estrela formada
De uma esperança de Deus.

Quantas mães lembram roseira!
Quantos filhos rosas são!...
Quanta rosa junto à festa!
Quanta roseira no chão!...

Fonte:
Psicografia de Francisco Candido Xavier
Do livro : Trovas do outro mundo ( pgs 31 a 33)

Delfina Benigna da Cunha (1791 – 1857)


Delfina Benigna da Cunha (São José do Norte/RS, 17 de junho de 1791 — Rio de Janeiro, 13 de abril de 1857) foi uma poetisa brasileira.

É tida como figura de destaque nas manifestações fundadoras da literatura gaúcha, embora a posição que ocupe na historiografia literária sulina seja hoje periférica, em razão da retração crítica que seu valor literário sofreu no decorrer do tempo.

Além disso, seu nome se encontra citado no livro Mulheres Ilustres do Brasil (1899), de Ignez Sabino, a qual enaltece a expressão do sentimento da poetisa.

Nascida na Estância do Pontal, em São José do Norte/RS, Delfina era filha de Joaquim Fernandes da Cunha, capitão-mor da guarda portuguesa local, responsável pela guarda do litoral, e Maria Francisca de Paula e Cunha, sendo a oitava de novo filhos.

Aos vinte meses de vida, ela foi completamente privada da visão, devido a uma epidemia de varíola que afligiu a região. Apesar disso, recebeu uma sólida educação, enraizada na cultura clássica e portuguesa, que tornou possível sua formação intelectual.

Aos doze anos, já estaria alfabetizada e escrevendo poemas, como "Colcheia escrita aos doze anos de idade", extraído do livro Vozes Femininas da Poesia Brasileira (Cons. Est. de Cultura, 1959, São Paulo)
A Natureza e o Amor

Combatem minha razão.

Até Júpiter, Senhor
De tudo quanto há criado,
Estreitamente é ligado
À Natureza e Amor.
Se este Deus, que é superior
Vive sujeito à paixão:
Como há de o meu coração
Libertar-se deste mal,
Se Amor com arma fatal
Combate a minha razão?
— Delfina Benigna

Com a morte do pai em 30 de agosto de 1825, Delfina da Cunha perdeu seu amparo financeiro, mas conseguiu obter uma pensão vitalícia de D. Pedro I, em reconhecimento dos serviços militares de seu pai, após escrever um soneto-apelo ao imperador, garantindo, assim, sua sobrevivência.

Publicada em 1834, sua obra de estréia, Poesias oferecidas às senhoras rio-grandenses, foi por muito tempo considerada por historiadores e críticos a primeira obra a ser impressa no Rio Grande do Sul.

Quando a Revolução Farroupilha irrompeu em 1835, Delfina da Cunha, que era monarquista, partiu para o Rio de Janeiro, onde permaneceu até fins de 1845, quando do término da guerra. Sua última obra de poesia, Coleção de várias Poesias dedicadas à Imperatriz Viúva, foi lançada em 1846, pela tipografia Universal de Laemmert.

Em 1857, faleceu no Rio de Janeiro, aos sessenta e cinco anos de idade.

Em 1994, Stella Leonardos publica o O romanceiro de Delfina, pelo Instituto Estadual do Livro, um romance histórico com a poetisa como protagonista.

Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Delfina_Benigna_da_Cunha

Ialmar Pio Schneider (Mãe)


SONETO PARA A MÃE

Mãe!... Palavra sublime, amor inexprimível,
que a gente pronuncia em ritmo de oração...
É tão cálido o afeto e quase que impossível
externá-lo, pois vive em nosso coração !

Se alguma coisa existe, além do que é infalível,
e seja só no mundo e morra em solidão;
creia-me, não verá jamais tão acessível,
de quem nos deu a vida, aceitar a afeição !...

Ela é generosa e sem maldade alguma...
Seus filhos são a maior riqueza que possui,
seu aconchego tem toda a maciez da pluma...

Porém, nunca haverá poeta, cujo verso
descreva o amor de mãe, pois tudo se dilui
ao saber que ela é a dona do Universo!

VERSOS PARA A MÃE

à minha mãe Amábile - In Memoriam

O meu verso maior vai para a mãe
que pelo amor ao filho tudo deixa;
as glórias vãs do mundo, sem pretextos,
envolta em sacrifícios não se queixa...

E quando ela o aninha em seus braços
fazendo-o dormir, embala-o e canta,
não aparenta ser aqui da terra;
é uma imagem dos céus, é uma santa.

Por isto, mãe querida, não te esqueço,
contigo quero estar a qualquer hora,
foste tudo pra mim, foste o começo...
Trazes no coração Nossa Senhora...

Fonte:
Poemas enviados pelo autor

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Leila Krüger / RS (Caderno de Poemas)


A QUEDA DA BASTILHA

Enfim perdi a batalha surda contra a própria mudez.
Enfim a inoperância de meus punhos
para esmurrar estes labirintos de ferro,
para desnudar o universo.

Enfim, voltei... enfim não sei mais!

Enfim me recolho com meus únicos próprios braços,
esperando, no entanto, que haja ainda alguma bondade
nestes pequenos fardos.

Enfim acato a tristeza como uma rosa frágil que é minha...

Enfim não espero nada,
mas acredito em tudo aquilo que não é passível de ser verdade.
Como sei agora,
posso embalar a verdade em meu colo
até que ela acorde, e me olhe.
Caso ela não fuja eu um dia a verei crescer...

Como os carvalhos antigos que arrebentavam o céu,
assim cresce a verdade em meu pequeno bosque.
Copas silenciosas, em nuvens vagarosas, em tardes apenas grenás.

Enfim, perdi...
mas chorei como quem vence. Então venci!

LONGE

Mas se eu tiver que ser sozinha, serei inteira
serei plácida, como o lago que espera a chuva
como a chuva que busca a manhã.

E se eu tiver que ser escura, serei grandiloquente
se tácita, valente
se árida, compreensiva, ao menos
se ainda assim severa... então liberta.

E se me perder de tudo, e até do fim...
possivelmente eu serei nova
como o verão, no céu de janeiro
como janeiro, no céu de Paris!
Seja lá onde for Paris...        

Hoje, em qualquer lugar, longe daqui. Longe, longe...

 QUASE VERÃO

Há uma chuva negra e macia na vidraça.
                               Quase cinza, um tanto fraca... me acaricia.

 Pingos me olham – esperando o chão cegar.
                               Chegar!

E o desespero do que chove no mesmo lugar. E a nuvem que se move...
sobre as palavras... que eu não te dei. Negra na janela, esperando o chão.
 Sou eu quem chove – antes do verão...
 Sou eu quem grita! – Ao perder teu rosto de areia, entre minhas mãos...

 RETORNO DE MIM

Aprendi a me deixar podar pela vida.
Deixar que me arranquem os galhos, tal braços, sem dó,
                                 ou com dó, tanto faz...
mas que me arranquem inevitavelmente
                                 e façam de mim o que eu nem sei.

E se eu não souber tudo bem, porque aprendi também a voltar...
mais alta e mais graúda,
do tamanho de um coqueiro na praia deserta.

Também aprendi a me balançar na praia e até a tocar as ondas.
Tudo me deixa forte. Tudo um dia me deixará forte.

E nada me deixará, nunca mais, seca... agora eu posso amar.

 FLOR DE FIM

Como saber?
             Se a tristeza é breve
             se a alegria é forte
             se a paz é leve.
             Se a fé rebrota
              no inverno gris.
             Se teus dedos
             na madrugada
             fazem meu fim.

             Como saber?
             Entender tua cor.
             Como saber?
             Se já não sou.
             Como não ser?
             Se nós somos flor...

Fonte:
http://www.jornaldepoesia.jor.br/leilakruger.html#quase