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quinta-feira, 11 de abril de 2013
Trova 261 - Dorothy Jansson Moretti (SP)
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domingo, 24 de março de 2013
Trova 256 - Pedro Melo (SP)
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sábado, 23 de março de 2013
Luiz Gama (1830 – 1882)
Luiz Gonzaga Pinto da Gama
(Salvador BA, 1830 - São Paulo SP, 1882)
Era filho de escravos, e foi vendido pelo pai, em 1840, por causa de uma dívida de jogo.
Comprado em leilão pelo alferes Antonio Pereira Cardoso, passou a viver em cativeiro em Lorena SP.
Em 1847 foi alfabetizado por Antonio Rodrigues do Prado Júnior, hóspede de Antonio Pereira Cardoso.
No ano seguinte fugiu da fazenda e foi para São Paulo SP.
Lá casou-se, por volta de 1850, e freqüentou o curso de Direito como ouvinte, mas não chegou a completá-lo.
Em 1864 fundou o jornal Diabo Coxo, do qual foi redator. O periódico era ilustrado pelo italiano Angelo Agostini, considerado marco da imprensa humorística em São Paulo.
Entre 1864 e 1875 colaborou nos jornais Ipiranga, Cabrião, Coroaci e O Polichileno.
Fundou, em 1869 o jornal Radical Paulistano, com Rui Barbosa.
Sempre utilizou seu trabalho na imprensa para a divulgação de suas idéias antiescravistas e republicanas.
Em 1873 foi um dos fundadores do Partido Republicano Paulista, em Itu SP.
Nos anos seguintes, teve intensa participação em sociedades emancipadoras, na organização de sociedades secretas para fugas e ajuda financeira a negros, além do auxílio na libertação nos tribunais de mais de 500 escravos foragidos.
Por volta de 1880, foi líder da Mocidade Abolicionista e Republicana.
Os poemas de Luís Gama estão vinculados à segunda geração do Romantismo. Entretanto, segundo o crítico José Paulo Paes, "distanciando-se dos literatos da época pelo seu realismo de plebeu, Luiz Gama deles se distanciava também pela concepção que tinha da literatura. Para ele, ser poeta não era debruçar-se sobre si mesmo, num irremediável narcisismo, mas voltar-se para o mundo, medi-lo com olhos críticos, zurzir-lhe os erros, as injustiças, as falsidades.".
Fontes:
http://www.jayrus.art.br/Apostilas/LiteraturaBrasileira/Romantismo/LUIZ_GAMA.htm
(Salvador BA, 1830 - São Paulo SP, 1882)
Era filho de escravos, e foi vendido pelo pai, em 1840, por causa de uma dívida de jogo.
Comprado em leilão pelo alferes Antonio Pereira Cardoso, passou a viver em cativeiro em Lorena SP.
Em 1847 foi alfabetizado por Antonio Rodrigues do Prado Júnior, hóspede de Antonio Pereira Cardoso.
No ano seguinte fugiu da fazenda e foi para São Paulo SP.
Lá casou-se, por volta de 1850, e freqüentou o curso de Direito como ouvinte, mas não chegou a completá-lo.
Em 1864 fundou o jornal Diabo Coxo, do qual foi redator. O periódico era ilustrado pelo italiano Angelo Agostini, considerado marco da imprensa humorística em São Paulo.
Entre 1864 e 1875 colaborou nos jornais Ipiranga, Cabrião, Coroaci e O Polichileno.
Fundou, em 1869 o jornal Radical Paulistano, com Rui Barbosa.
Sempre utilizou seu trabalho na imprensa para a divulgação de suas idéias antiescravistas e republicanas.
Em 1873 foi um dos fundadores do Partido Republicano Paulista, em Itu SP.
Nos anos seguintes, teve intensa participação em sociedades emancipadoras, na organização de sociedades secretas para fugas e ajuda financeira a negros, além do auxílio na libertação nos tribunais de mais de 500 escravos foragidos.
Por volta de 1880, foi líder da Mocidade Abolicionista e Republicana.
Os poemas de Luís Gama estão vinculados à segunda geração do Romantismo. Entretanto, segundo o crítico José Paulo Paes, "distanciando-se dos literatos da época pelo seu realismo de plebeu, Luiz Gama deles se distanciava também pela concepção que tinha da literatura. Para ele, ser poeta não era debruçar-se sobre si mesmo, num irremediável narcisismo, mas voltar-se para o mundo, medi-lo com olhos críticos, zurzir-lhe os erros, as injustiças, as falsidades.".
Fontes:
http://www.jayrus.art.br/Apostilas/LiteraturaBrasileira/Romantismo/LUIZ_GAMA.htm
Imagem - http://andrelemes.wordpress.com
domingo, 24 de fevereiro de 2013
João Batista Xavier Oliveira (Poesias Escolhidas)
João Batista Xavier Oliveira nasceu em Presidente Alves/SP, em 16 de junho de 1947. Reside em Bauru/SP, desde 1975.
Blog http://jobaxaol.blogspot.com-------------------
ISOLADO ENCANTO
Salão repleto, nobre de artes belas,
murmúrios, gestos, ares estilistas.
O afago forte nos pincéis de artistas
moldura abraços, traços, luz nas telas.
A flor disposta à porta em todas vistas
exala as auras plácidas, singelas.
Porém as vistas todas são aquelas
voltadas às paredes tão benquistas.
Se os quadros levam ao encantamento
no brilho mais audaz de um só momento...
o vaso à entrada ampara, preterida,
a forma que transforma a transparência:
- a tela estampa a vida, é conseqüência;
a flor no entanto é causa, pois tem vida!
JOIO
Por que nós complicamos singelezas
pelo simples sabor de afirmação;
por que não escutar o coração
que pulsa as vibrações das incertezas...
se temos ao alcance o corrimão;
degraus que facilitam mãos coesas;
o dom de emocionarmos às belezas...
Por que só ver a luz na escuridão?
Estamos de passagem simplesmente.
Abrindo com desvelo nossa mente
o mundo é bem maior em nosso espaço.
Por que nós complicamos as passagens
seguindo a realidade das miragens?
A vida é bela e o tempo é bem escasso!
L I B E R D A D E
À pequenina flor pedem passagem
as liras das libertas redondilhas
que fazem amplidões das suas ilhas
e os versos se esvoaçam na miragem.
E quantos que desejam maravilhas
largando as mãos que prendem a coragem
nas ilusões que agitam mas não agem,
levando os sonhos às tribos das trilhas...
Desejam ares nos mares sem costas,
os abandonos das peias supostas,
para os grilhões dos fugazes delírios.
Neste meu mundo deveras pequeno
ao horizonte dos olhos aceno
vôo nas asas das vestes dos lírios!
HARMONIA DO OLHAR
Um mavioso som esparziu-me à mente
de repente, alucinadamente,
ao deparar-me no alarme do olhar
do teu mundo de olhar.
No ínfimo espaço do nosso íntimo
apenas o som das veias
que incendeias nas entranhas.
Uma canção acaricia
Os nossos tatos dos olhos.
Latente harmonia
explode em êxtases...
E deparamo-nos no santuário
onde a pauta é infinita.
É o coral do suprassumo!
Ali mesmo se chega às estrelas!
Nossos corpos são nossos olhos!
Adentramos nas almas
e purificamos a eternidade!!
M A L G R A D O
O tempo está perdendo consistência;
pessoas mal conseguem meditar;
o frenesi, filhote da ciência,
lugar-comum, qualquer seja o lugar.
É a nova era, a febre da existência,
vendendo tudo, até a luz do luar!
E mais distante a luz da Providência
ao livre-arbítrio brilha sem parar.
Como é pequena a vida que se encerra
na plenitude fria da alquimia;
na inexorável sina de uma guerra...
E mesmo assim, malgrado a algaravia,
os nortes fazem parte desta terra;
auroras prenunciam outro dia...!
INSPIRAÇÃO
Ao longe o casarão adormecido,
refúgio de sonoras nostalgias,
ecoa, num lampejo, melodias
que pairam, esparzidas, sem sentido.
O som das uniões de algaravias,
buscando modelar no meu ouvido,
parece desenhar quadro esquecido
nas pautas de diletas sinfonias.
Na sintonia fina então repouso
e o pranto sincopado é o refrigério.
O enlevo de voar se faz presente.
Cantar a realidade jamais ouso.
Ao longe o casarão é meu mistério;
é a inspiração que pulsa tão fremente!
V I A G E M
Ganho momentos da vida
para recordar momentos
que minha infância querida
legou aos meus pensamentos.
Infância da ingenuidade,
dos planos mirabolantes
de conquistar a cidade
e mudar o que era antes.
Infância bola-de-gude
entre os dedos tão certeiros;
o êxtase da virtude
atravessando os bueiros.
O taco no pega-pega,
balança-caixão e pique,
passa-anel e cabra-cega,
estilingue e piquenique.
Matinê e amarelinha,
lobisomem e sacis,
roubar manga da vizinha,
sempre escapar por um triz.
Mocinho e vilão, ciranda,
jogar pedras no telhado,
caminhar atrás da banda,
fincar os pés no molhado.
Esconder a nota baixa,
brigar por qualquer motivo,
fazer brinquedo de caixa,
se esbaldar no morto-vivo.
Sujar a roupa sem dó,
escalar o jatobá,
encher a casa de pó,
confessar o que não há.
No carnaval bater lata,
soltar pipa no campinho.
O resmungão que maltrata;
carrapicho, prego e espinho.
Perna-de-pau no palhaço
anunciando na rua...
quem tiver nervos de aço
vai ver homem que flutua.
Nas férias, o carrossel,
e as arapucas no mato.
No natal, papai-noel;
o presente no sapato.
As trancinhas da menina,
calças curtas do menino,
olhares soltos na esquina,
o sorriso pequenino.
Ser craque de futebol,
vingar-se do grandalhão:
__conquistar lugar ao sol
e a força do medalhão.
Aquele dente-de-leite
a chuva tirou do teto,
boneca virou enfeite,
espinha no rosto é afeto.
O pensamento maduro
põe os pés no chão agora;
pela porta do futuro
linda infância foi embora.
Oh! infância viajante
onde o céu era o limite,
hoje é um mundo tão distante...
não há fase que a imite.
Oh! infância da pureza
angelical, saudosista
de sonhar sua beleza
que minha alma não desista!
Quem viveu a plena infância
sabe do que estou falando.
Lembrá-la encurta a distância
e esquece o mundo nefando!!
(Da antologia "Quando vierem as rosas" 2009 UBT Seção de Bauru.)
Fonte:
Facebook do autor
Blog http://jobaxaol.blogspot.com-------------------
ISOLADO ENCANTO
Salão repleto, nobre de artes belas,
murmúrios, gestos, ares estilistas.
O afago forte nos pincéis de artistas
moldura abraços, traços, luz nas telas.
A flor disposta à porta em todas vistas
exala as auras plácidas, singelas.
Porém as vistas todas são aquelas
voltadas às paredes tão benquistas.
Se os quadros levam ao encantamento
no brilho mais audaz de um só momento...
o vaso à entrada ampara, preterida,
a forma que transforma a transparência:
- a tela estampa a vida, é conseqüência;
a flor no entanto é causa, pois tem vida!
JOIO
Por que nós complicamos singelezas
pelo simples sabor de afirmação;
por que não escutar o coração
que pulsa as vibrações das incertezas...
se temos ao alcance o corrimão;
degraus que facilitam mãos coesas;
o dom de emocionarmos às belezas...
Por que só ver a luz na escuridão?
Estamos de passagem simplesmente.
Abrindo com desvelo nossa mente
o mundo é bem maior em nosso espaço.
Por que nós complicamos as passagens
seguindo a realidade das miragens?
A vida é bela e o tempo é bem escasso!
L I B E R D A D E
À pequenina flor pedem passagem
as liras das libertas redondilhas
que fazem amplidões das suas ilhas
e os versos se esvoaçam na miragem.
E quantos que desejam maravilhas
largando as mãos que prendem a coragem
nas ilusões que agitam mas não agem,
levando os sonhos às tribos das trilhas...
Desejam ares nos mares sem costas,
os abandonos das peias supostas,
para os grilhões dos fugazes delírios.
Neste meu mundo deveras pequeno
ao horizonte dos olhos aceno
vôo nas asas das vestes dos lírios!
HARMONIA DO OLHAR
Um mavioso som esparziu-me à mente
de repente, alucinadamente,
ao deparar-me no alarme do olhar
do teu mundo de olhar.
No ínfimo espaço do nosso íntimo
apenas o som das veias
que incendeias nas entranhas.
Uma canção acaricia
Os nossos tatos dos olhos.
Latente harmonia
explode em êxtases...
E deparamo-nos no santuário
onde a pauta é infinita.
É o coral do suprassumo!
Ali mesmo se chega às estrelas!
Nossos corpos são nossos olhos!
Adentramos nas almas
e purificamos a eternidade!!
M A L G R A D O
O tempo está perdendo consistência;
pessoas mal conseguem meditar;
o frenesi, filhote da ciência,
lugar-comum, qualquer seja o lugar.
É a nova era, a febre da existência,
vendendo tudo, até a luz do luar!
E mais distante a luz da Providência
ao livre-arbítrio brilha sem parar.
Como é pequena a vida que se encerra
na plenitude fria da alquimia;
na inexorável sina de uma guerra...
E mesmo assim, malgrado a algaravia,
os nortes fazem parte desta terra;
auroras prenunciam outro dia...!
INSPIRAÇÃO
Ao longe o casarão adormecido,
refúgio de sonoras nostalgias,
ecoa, num lampejo, melodias
que pairam, esparzidas, sem sentido.
O som das uniões de algaravias,
buscando modelar no meu ouvido,
parece desenhar quadro esquecido
nas pautas de diletas sinfonias.
Na sintonia fina então repouso
e o pranto sincopado é o refrigério.
O enlevo de voar se faz presente.
Cantar a realidade jamais ouso.
Ao longe o casarão é meu mistério;
é a inspiração que pulsa tão fremente!
V I A G E M
Ganho momentos da vida
para recordar momentos
que minha infância querida
legou aos meus pensamentos.
Infância da ingenuidade,
dos planos mirabolantes
de conquistar a cidade
e mudar o que era antes.
Infância bola-de-gude
entre os dedos tão certeiros;
o êxtase da virtude
atravessando os bueiros.
O taco no pega-pega,
balança-caixão e pique,
passa-anel e cabra-cega,
estilingue e piquenique.
Matinê e amarelinha,
lobisomem e sacis,
roubar manga da vizinha,
sempre escapar por um triz.
Mocinho e vilão, ciranda,
jogar pedras no telhado,
caminhar atrás da banda,
fincar os pés no molhado.
Esconder a nota baixa,
brigar por qualquer motivo,
fazer brinquedo de caixa,
se esbaldar no morto-vivo.
Sujar a roupa sem dó,
escalar o jatobá,
encher a casa de pó,
confessar o que não há.
No carnaval bater lata,
soltar pipa no campinho.
O resmungão que maltrata;
carrapicho, prego e espinho.
Perna-de-pau no palhaço
anunciando na rua...
quem tiver nervos de aço
vai ver homem que flutua.
Nas férias, o carrossel,
e as arapucas no mato.
No natal, papai-noel;
o presente no sapato.
As trancinhas da menina,
calças curtas do menino,
olhares soltos na esquina,
o sorriso pequenino.
Ser craque de futebol,
vingar-se do grandalhão:
__conquistar lugar ao sol
e a força do medalhão.
Aquele dente-de-leite
a chuva tirou do teto,
boneca virou enfeite,
espinha no rosto é afeto.
O pensamento maduro
põe os pés no chão agora;
pela porta do futuro
linda infância foi embora.
Oh! infância viajante
onde o céu era o limite,
hoje é um mundo tão distante...
não há fase que a imite.
Oh! infância da pureza
angelical, saudosista
de sonhar sua beleza
que minha alma não desista!
Quem viveu a plena infância
sabe do que estou falando.
Lembrá-la encurta a distância
e esquece o mundo nefando!!
(Da antologia "Quando vierem as rosas" 2009 UBT Seção de Bauru.)
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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Simone Pedersen
Simone Alves Pedersen nasceu em São Caetano do Sul.
Formou-se em Direito.
Morou onze anos no exterior onde teve vivência multicultural e conheceu diferentes estilos linguísticos.
Desde essa época já escrevia crônicas para os amigos sobre a diversidade que vivenciava.
Reside em Vinhedo, no interior de São Paulo e, há dois anos, participa ativamente de concursos literários, tendo conquistado inúmeros prêmios no Brasil e no exterior.
Tem textos publicados em diversas antologias de contos, crônicas e poesias. É colunista de um periódico da região.
Ministra oficinas literárias para crianças e adolescentes.
Membro da AEILI J – Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantojuvenil
Membro da Academia Literária AMLAC – SP,
Membro do CEV – Clube de Escritores de Vinhedo.
Membro-fundadora do Clube dos Escritores de Vinhedo,
da Academia Metropolitana de Letras, Artes e Ciências,
da Academia Literária da Grande São Paulo,
da Academia Poçoense de Letras,
membro-correspondente da Academia Caxiense de Letras.
Delegada da UBT em Vinhedo.
Livros Infantis
Coleção Pápum
Coleção Fuá
Vila Felina
Vila Encantada
Sara e os óculos mágicos
Conde Van Pirado
Livros Adultos
Fragmentos & Estilhaços: crônicas, contos e poemas
Colcha de retalhos: poemas
O Tango da Vida: contos (lançamento em janeiro de 2012)
Formou-se em Direito.
Morou onze anos no exterior onde teve vivência multicultural e conheceu diferentes estilos linguísticos.
Desde essa época já escrevia crônicas para os amigos sobre a diversidade que vivenciava.
Reside em Vinhedo, no interior de São Paulo e, há dois anos, participa ativamente de concursos literários, tendo conquistado inúmeros prêmios no Brasil e no exterior.
Tem textos publicados em diversas antologias de contos, crônicas e poesias. É colunista de um periódico da região.
Ministra oficinas literárias para crianças e adolescentes.
Membro da AEILI J – Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantojuvenil
Membro da Academia Literária AMLAC – SP,
Membro do CEV – Clube de Escritores de Vinhedo.
Membro-fundadora do Clube dos Escritores de Vinhedo,
da Academia Metropolitana de Letras, Artes e Ciências,
da Academia Literária da Grande São Paulo,
da Academia Poçoense de Letras,
membro-correspondente da Academia Caxiense de Letras.
Delegada da UBT em Vinhedo.
Livros Infantis
Coleção Pápum
Coleção Fuá
Vila Felina
Vila Encantada
Sara e os óculos mágicos
Conde Van Pirado
Livros Adultos
Fragmentos & Estilhaços: crônicas, contos e poemas
Colcha de retalhos: poemas
O Tango da Vida: contos (lançamento em janeiro de 2012)
Fonte:
http://www.asesbp.com.br/escritores/escritores51.html
http://www.asesbp.com.br/escritores/escritores51.html
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Rick Steindorfer (Poemas Avulsos)
(Ricardo Steindorfer Proença é de Águas de São Pedro/SP)
A ETERNIDADE...
Sonho um sonho de ternura
viajo pelo tempo, eterno sou
distante de toda usura
perto de Deus eu estou.
Há momentos na eternidade
em que paramos como espíritos
são instantes de sobriedade
sonhos de busca irrestritos.
Olho pela janela da vida
busco no silêncio minha alma
tenho uma existência escolhida
pois levo minha vida na palma.
Desato de mim todos os nós
sou paz nas veredas onde passo
estou neste caminho a sós
livre de tristeza ou cansaço.
AMOR, ETERNO AMOR
A beleza do amor esta no movimento
na cadência carinhosa que nos excita
no poder da ternura que há no sentimento
e no desejo que ao beijo nos incita.
E quando estou dentro, em teus alentos
teu corpo me absorve com ternura e ardor
no ritmo louco de nossos movimentos
alternados entre o prazer e a dor.
Somos eternos então neste momento
pois somos inteiros naquilo que vivemos
sem receio ou qualquer comedimento
mostramos um ao outro o que sentimos.
E quando estendo a mão a ti finalmente
quando tudo cessa em pausa por instantes
nos preparamos para o amor novamente
e nos entregamos, somos dois amantes.
PAZ
Que haja paz por onde eu passe
e que um manto de luz se estenda ao meu caminho
que a alegria o meu corpo inteiro transpasse
fazendo de todo mundo o seu ninho.
Que haja vida em meu pensamento
e que eu materialize a vontade de Deus
que haja felicidade em meu sentimento
e que eu traduza os Desejos Seus.
Que eu empreste minha força por onde vá
não economizando meu poder em nada
e que meus passos em meu caminhar
faça eterna e pura a minha estrada.
Que eu me lembre sempre de todos
e esqueça sempre de mim
não me perdendo em receios e lodos
vivendo a vida como um simples Curumim.
A FELICIDADE
A felicidade
é um espaço entre o sentir e o pensar
que transforma com qualidade
nossa capacidade de sonhar.
Para ela, não existe receita
pois ela não é um lugar qualquer
nela a alma apenas aceita
aquilo que o espírito quer.
A felicidade não está na paz
mas a paz mora lá
nos ensina como se faz
um bolo simples de abará.
Não pense em ser feliz
busque a sua essência
em tudo que pensa e diz
está toda a sua ciência.
O CAMINHAR DA CONSCIÊNCIA
A Morte o corpo persegue
como o boi é seguido pelo carro
por isso ninguém consegue
ser dela o seu desgarro.
Cuidemos de nossa vida
com o esmero de um mordomo
no esforço de nossa lida
sem falsidade ou assomo.
Fazemos parte de egregoras
e nelas nos revezamos
somos lideres por horas
em outras apenas oramos.
Mas é neste caminhar
nesta vida infinita
que vivemos nosso particular
de forma eterna e irrestrita.
CLAREZA NA LIDA
Há pessoas que tem má natureza
parece que não são filhas de Deus
mas se todos têm em si a pureza
o que acontece com os princípios seus?
Já gritei muito no mundo
já falei sobre a responsabilidade
sobre o pecado oriundo
e a vida plena de qualidade.
De que adianta sermos bons
se jamais cobramos isso da vida
elevando os nossos tons
e buscando a clareza na lida?
Olhemos os maus com bons olhos
estão em busca da perfeição
eles tem lá seus abrolhos
e amor recluso no coração.
A DOR DE UMA SAUDADE
quando expressa a lembrança
traz uma dolorosa qualidade
que nos faz que nem criança
e sempre que podemos chorar
por que não inundar os olhos
sem receio e sem corar
sem nos preocupar com nossos abrolhos.
Linda a expressão de tua alma
linda a canção do teu amor
uma dor sofrida mas terna e calma
que se refere a um eterno ardor
mas viver é isso mesmo
temos sempre nossos altos e baixos
só não se pode viver a esmo
tristes, solitários e cabisbaixos
A alma que se liberta da vida
já cumpriu a sua sentença
vai em busca de outra lida
sem nenhum ou qualquer diferença
apenas se torna mais consciente
mais forte e mais lúcida
torna-se um ser mais ciente
numa vida mais intensa e mais lúdica.
Oremos por nós mesmos
e aprendamos a nos dar as mãos
não vamos virar torresmos
ou viver que nem pagãos
sabemos que a eternidade existe
e que alguém criou o universo
e a verdade sempre consiste
em se falar em prosa e verso!
A POESIA
A poesia em mim brota como fonte
como uma nascente interminável
elas percorrem a minha fronte
com um poder imensurável.
Aqui eu sou apenas o cinzel
que esculpe a força da imagem
no branco de minha mente, meu céu
com o poder do sentimento, minha aragem.
Eu vivo minha vida para a arte
o resto todo é bobagem
há momento em que estou em Marte
outros em Vênus com coragem.
E quando o momento eterno vier
e eu tiver que deixar este trapo
entrego a Ele tudo o que tiver
sem receio, apego ou cansaço.
Fontes:
http://www.teiadosamigos.com.br/Nossos_Poetas/rick.html
http://www.ricksteindorfer.net/publicacoes.php?categoria=7
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Regina Mercia Sene Soares (Teia de Poesias)
Bolhas de Sabão
Bolhas de sabão soltas no ar
Voam em todas as direções
Ao sabor do vento
São coloridas como o
Arco íris!
Traz alegria para quem
As soltam!
Ela eleva a minha imaginação
Para a beleza infinita
Que se mistura
No ar!
Bolha de sabão como gostaria
De ser você!
Para poder misturar-me com
O ar e alcançar
O infinito!
Esse infinito de tom azulado
Que espalha o ar
Que respiro!
E dá a vida e o colorido
Como bolha de sabão
Solta no ar!
Enchendo-me de alegria
E fazendo eu voltar a ser
Criança novamente!
Uma infância colorida e saudável
Com todas as cores
Do arco-íris!
ASAS DO TEMPO
Cadê as asas do tempo...
Para onde foram?
Estou em busca delas...
Parece uma ave que
Saiu do ninho
Como um pássaro que voa
Contra o tempo...
Contra a vida...
Em busca da felicidade
Para deixar a tristeza
Tristeza esta que se fazia
Amargas as palavras
Que saiam da boca
Enlouquecida... gritando
Por afeto e em busca
Da musica suave
Que as asas do tempo...
Não param de voar
Querem encontrar onde pousar
Numa flor...
Numa noite enluarada
Onde as asas tocam
As estrelas que refletem
A luz do tempo...
Tempo esse que é o hoje
Foi o ontem...
E será o amanhã
Marcando o destino
Como a vida de um pássaro
Que voa em busca
Do seu eu interior…
AREIA
Areia leve e branca!
Fina como um pó
Mas sua energia cobre as praias
Como um tapete
Quando o vento bate
Levantam com uma nuvem...
Marcando seu espaço
Com uma grandeza!
Como um deserto
Que se expande...
A grandes altitudes
Revelando sua amplitude
Como um circulo mágico!
Inspirando pensamentos
Que voam formando dunas
Formadas por milhões
Bilhões... trilhões de grãos...
Que cobrem a terra!
Tornando um imenso deserto
Mostrando sua grandeza
Que de partícula em partícula
Minúscula areia branca
Nos faz delirar ...
E deixarmos nos levar
No tapete mágico
Pelo espaço infinito...
E entrar no circulo mágico
No deserto que se expande
Nas grandes inspirações
De milhões de pensamentos!
ESTRELA MAIOR
A luz da terra sobrepõe
Iluminando os corações
E as estrelas brilham
Cada vez mais mostrando a trilha
Saudamos os anjos
Da fraternidade que guia
Os amigos companheiros
Que já se foram com toda valia...
Para semearem os feitos
Nos campos áridos
Com amor e transformar
Em benção do céu em amar...
Pouco a pedir e muito a tecer
E muito a agradecer
Acreditando que cativa
Nosso planeta dá a viva...
Na esperança e na coragem
Que a espiritualidade ausente
Se faça presente
E traga a mensagem...
Para saudar um novo
Inicio de vida e do povo
De dádiva recebida
Como foi concebida…
CAMINHO
Acho que me perdi
Vivo vagando sem rumo
No escuro de um caminho perdido!
Busco o caminho e não encontro
Parece que a estrada
Fica mais longa.
Quanto mais ando
Mais perdida fico
Sinto uma dor tão grande no peito
Que me coroe
Ando... ando e o mundo
Se torna cada vez mais estranho
Parece que estou nua
Desprotegida e despojada.
Que mundo é esse?
Sem paz, sem compreensão
Cheio de desencanto
Desencontro.... egoísmo... desilusão
Será que não tem solução?
Os corações estão perdidos
As mentes estão entorpecidas
Os corpos cansados
Nosso ego fica a zero
Será que a morte está para chegar?
Será que estamos esperando
Nossa hora?
Nesta longa estrada
Da vida!!!
O VIOLINISTA
Ele é a revelação do amor
De um amor que busca
O tempo que parece não voltar!
Mas ao ter voltado desperta
Canções apaixonantes que saem
Das cordas do violino daquele
Violinista que faz as lembranças
Do tempo voltarem sem piedade
Trazendo o infortúnio com saudade
O toque de sua canção emocionante
Que sai de seu violino encantador!
Sustentando a tonalidade musical
Com suas notas melódicas e fortes
Abrindo o caminho para passar
Por uma porta que jamais se fechou
Através dela transpassaria a dor
Do peito dilacerado e sofrido
O som do violino levou a mulher
A levantar as mãos ao coração e a dor
Do peito aumentou o desespero de um amor
Que revive com a musica do violinista
A tocar e levantou seus olhos e viu a sua amada
Ao termino da musica num momento de emoção
Chegou perto de sua bela amada e acolheu-a
Em seus braços depois de tocar aquela musica
Que fazia parte da lembrança do passado!
Olhou bem nos olhos de sua amada
Levando seus lábios a unirem-se com o dela
Dando-lhe um grande beijo de amor
Tornando aquele momento emocionante
No mais lindo momento de amor
Tudo acontecendo por causa da apresentação
Do violinista que reencontrou o seu amor.
Fonte:
http://www.albumdereginamerciaepoemas.com.br/
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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
Humberto Rodrigues Neto (1935)
Humberto Poeta
Nasceu em São Paulo - Capital, no dia 11 de novembro de 1935, no bairro da Lapa.
Aposentado da Eletropaulo, antiga Light; fez o curso de Técnico de Contabilidade, e alguma cultura que adquiriu deve ao autodidatismo face à paixão que sempre teve pela leitura.
Dedica-se à poesia desde os 14 anos, quando passou a ler quase todos os grandes poetas brasileiros e portugueses, além de traduções dos franceses, ingleses, italianos, etc. E o que mais lhe agradava era ver com que técnica tais poetas, em especial lusos e brasileiros, compunham seus sonetos! Chegava mesmo a sentir inveja deles, por aquelas coisas magníficas que escreviam, verdadeiras gemas literárias engastadas no magnífico acervo de nossas letras.
Ficava frustrado quando recorria a um editor para editar seus poemas e ele lhe pedia uma remuneração, motivo por que nunca publicou livro nenhum, exceto três e-books expostos ao público na Net poética: “Rabiscando Rimas” e “Metrificando Sonhos”, editados, respectivamente, por Olga Kapatti e Teka Nascimento, detentoras de sites poéticos, além de “Solfejando Sonetos”, em conjunto com a poetisa Regina Coeli, constante exclusivamente de duetos, num trabalho elaborado pela “Del Nero”.
Participou, com outros poetas, da VI Antologia “Palavras de Poetas”, da editora “Physis".
Premiado no I e II Concurso Nacional de Poesia ”Menotti Del Picchia”, bem assim no XI Certame Cultural de Poesias da Secretaria de Educação de Guarulhos – SP, e no Concurso de Poesias do C.T.A., de São José dos Campos – SP.
Fora da poesia tem alguns contos, diversas crônicas, estudos comparativos que faz entre as demais religiões, e duas peças teatrais: “Extorsão” e “Sempre Há Sol Depois da Chuva”.
Fonte:
Reino da Poesia.
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Olivaldo Junior (Para Um Pássaro à Beira da Estrada que me Leva ao Trabalho)
Sim, foi um pássaro.
Teve ninho, céus e pousada
nos galhos das árvores
que o mundo
lhe dava.
Sim, foi um pássaro.
Teve bico, pena e pousada
nos braços das almas
que o mundo
levava.
Sim, foi um pássaro.
Teve cisco, seiva e pousada
nos sábados mártires
que o mundo
nos dá.
Fonte:
O Autor
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domingo, 23 de setembro de 2012
Antonio Hugo / SP (Noite de Primavera)
Floriu da noite pro dia
lindas flores são aquelas,
flores que você colhia
rosas brancas e amarelas.
Floriu em tempo de flores
no início da primavera,
flores para os meus amores
nunca vi flores tão belas.
Só vi uma flor igual...
a que eu tinha na lapela,
de tão usada murchou.
Flor que plantei no quintal
colhi pra ofertar a ela,
ela, que é meu doce amor.
Fonte:
http://sitedepoesias.com/poesias/14386
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domingo, 16 de setembro de 2012
Ignácio de Loyola Brandão (O Que Há Depois do Além?)
Museu de Paris exibe o mítico rolo em que Jack Kerouac escreveu On The Road, o ícone beat que acenava para um horizonte a ser descoberto; filme de Walter Salles sobre o livro já estreou lá
Um livro inteiro escrito em um rolo de papel. Foi espantoso saber disso. Jack Kerouac sentou-se entre 2 e 22 de abril de 1951, e datilografou sem parar e sem precisar tirar o papel da máquina em nenhum momento. Mais de 60 anos atrás, aquele jovem de 29 anos não sabia que tinha inventado o formulário contínuo que só entraria em cena mais de 40 anos depois. Como seria esse rolo? Estávamos acostumados a usar o papel sulfite A-4, cuja largura era a mesma do rolo das máquinas de escrever comuns. Escrevia-se cerca de 20 a 30 linhas, em espaço duplo e acabava a lauda, era preciso trocá-la. O gesto se repetia em casa, nas redações, escritórios, faculdades, escolas, por toda a parte. Puxada a lauda, colocava-se outra, girava-se o rolo e recomeçava. Nunca imaginei que precisasse explicar este processo banal, a fim de que as novas gerações crescidas com o computador, entendessem a questão. Por esta razão, ter escrito de uma vez só, em um rolo de papel, se tornou um fato mítico, único na literatura. Vinha em seguida o que o livro significou, o impacto que provocou, o espanto que ocasionou.
As notícias, naqueles anos 1950, diziam que o livro On The Road, que abalaria o mundo, teria sido escrito em um rolo de papel para teletipo, o que também poucos das novas gerações sabem o que é. Um aparelho existente em redações, escritórios, bolsas de valores, que recebia informações, notícias, cotações, vivia ligado 24 horas, parecia funcionar sozinho, uma vez que era acionado a distância. De uma cidade para outra, de um Estado, de um país. Funcionava o tempo todo, portanto necessitava ser alimentado por um rolo de papel que devia durar horas.
Em seguida, divulgou-se que On The Road não tinha sido datilografado em rolo de teletipo. Como seria então? Passaram anos até vermos a primeira foto de Jack Kerouac, o escritor, segurando o rolo na mão. Eu vi pela primeira vez na contracapa da edição integral de On The Road publicada pela L&PM, em 2008. Mas que rolo seria esse?
A batida do jazz em uma narrativa. No entanto, fosse apenas isso, um livro escrito em um rolo de papel, tudo não passaria de mera curiosidade, uma bossa criada por um autor, nada mais. Quando On The Road foi publicado em 1957 - exatamente o ano em que cheguei a São Paulo, foi como se um tsunami tivesse acontecido na literatura. Normas caíam por terra, regras eram desobedecidas, uma nova maneira de narrar estava em curso, a palavra beat, que vinha tanto de beatitude quanto da batida do jazz, entrou em circulação. Era o grito (usou-se muito essa palavra) da geração que fumava maconha, usava benzedrina, cocaína, peyote, álcool, e não colocava limites para o sexo.
Acreditávamos que era a revolta de uma geração contra o establishment americano e ficávamos confusos. Onde brasileiros e americanos se igualavam? Contra o que eles brigavam exatamente? De que modo poderíamos seguir on the road? Teria sentido? Descobriríamos com os anos a nossa estrada. Mas o início estava ali na linguagem, na soltura, na liberdade.
Roberto Muggiati em seu artigo Kerouac, os beats e o bop (C2+Música, aqui no Estado, no último dia 9 ), diz que a expressão "on the road" já era usada nos anos 1930 no jargão dos músicos de bandas que "viviam na estrada". O que era novo para nós? A linguagem que, no dizer de Kerouac (sempre citado por Muggiati), era "o fluxo mental tranquilo, de ideias e palavras pessoais secretas... pausas marcadas que são a essência de nossa fala... satisfazer primeiro a si mesmo e o leitor também receberá o choque telepático e o significado-excitação pelas mesmas leis que operam na sua mente". Era um novo formato de narrativa, anticonvencional.
À minha frente, o lendário scroll. Descobri a realidade do rolo no dia 31 de maio deste ano, em Paris. Cheguei tarde, deitei, no dia seguinte, pulei da cama, tomei café da manhã e voei pelo Boulevard Saint-Germain em busca do Musée des Lettres et Manuscrits. O rolo do On The Road estava lá. Corria ao encontro de Jack Kerouac e de mim mesmo no número 222. Atravessei a "cour", empurrei uma porta modesta e penetrei no museu. Estava em meio a tudo o que gerou On The Road, o mais emblemático romance de uma época, que bateu de frente contra tudo o que era estabelecido, careta, quadrado, square, burguês (palavras hoje deterioradas). Quem queria escrever, naquele tempo, queria escrever o On The Road de seu país.
O mundo transfigurou. Em um segundo, me vi em São Paulo na Alameda Santos, 93, nos meus 23 anos. Era a pensão da Nina. Mais do que pensão, aquela casa foi o ponto de partida de um grupo pertencente à mesma geração. Ali nos reuníamos, conversávamos, discutíamos Sartre, Simone, Camus, Marx, Stanislavski, Grotowski, Carson Mccullers, Henry Miller. Ali bebíamos, brigávamos, escrevíamos, tocávamos violão e cantávamos. Havia ainda tantos mundos a serem percorridos ao longe.
Como sair do nada e ver lá na frente?. Aqueles quartos de pensão, minúsculos, com três ou quatro, às vezes mais, jovens empoleirados, eram tão sufocantes quanto nossa cidade natal tinha sido, quanto São Paulo era, e o Brasil também. Em que país estreito vivíamos? Como sair disso? Líamos demais, víamos filmes e teatro demais, roubávamos revistas e jornais estrangeiros das bancas e livrarias (não tínhamos como pagá-las, eram caras) e tínhamos uma certeza, o mundo ia além daquilo. Queríamos saber o que havia para a frente, queríamos buscar lugares distantes, pessoas longínquas, línguas estranhas, não queríamos repetir a mesmice e não sabíamos o que sonhávamos criar.
Os sábados eram particularmente excitantes quando o caderno de variedades do Jornal do Brasil chegava com artigos do Nelson Coelho, então o especialista em literatura americana. Não se passava semana sem uma notícia sobre a beat generation. Correspondente do Jornal do Brasil em Nova York, Nelson estava no olho do furacão. E o JB era dos mais importantes e lidos do Brasil.
Eu era o primeiro que acordava, trabalhava das 10 ao meio-dia. Corria à Praça Osvaldo Cruz e comprava dois JB. Na praça, tomava o café da manhã, média de café com leite e um misto. Lia ali no balcão, sonhando com as mesas dos cafés que víamos nos filmes e nas fotos de Paris, de Nova York, das "cidades" civilizadas. Na volta, o caderno de variedades corria de mão em mão, depois era guardado no quarto do Zé Celso Martinez que enchia os artigos de frases sublinhadas.
Um dia, essa loucura será publicada integral. Havia uma febre para ler On The Road, de maneira que a primeira edição legível que nos chegou (era difícil comprar livros americanos por aqui) foi a da editora argentina Sudamericana: Por La Carretera, um título que nos soava horrível, mas sabíamos que seria complicado ler Kerouac no original. Linguagem coloquial, gírias, expressões do jazz, havia de tudo. Também em espanhol não foi fácil, perdíamos o ritmo. Somente duas décadas depois leríamos On The Road em português, com o título Pé na Estrada, editado na Brasiliense por um Caio Graco inquieto, ousado, mente aberta. Foi em 1984. A Brasiliense tinha Luiz Schwarcz, que ali começou. On The Road teria a sua mãozinha?
Sabe-se que a primeira edição americana, na qual se basearam, por décadas, todas as traduções, sofreu cortes e interferências do editor Malcolm Cowley. Informam as legendas da exposição que Kerouac, pressionado, edulcorou o texto, fez cortes, cedeu, estava cansado de batalhar e ser derrotado. Em uma carta, exibida no museu, Allen Ginsberg, outro ícone da beat generation, previa: "Um dia, On The Road será publicado integralmente, em toda sua loucura." Foi. Em 2007, finalmente a Viking Press lançou o texto original, no Brasil lançado em 2008 pela L&PM, em tradução de Eduardo Bueno e Lúcia Brito. Na contracapa, Jack Kerouac segura o célebre rolo.
O manuscrito que é uma "estrada" também. Já se sabe tudo o que o livro é, foi, será. O que estava ainda em minha cabeça - e na de muitos - era a questão do rolo. Como se fosse um papiro sagrado, uma Torá. Assim entrei no Musée des Lettres et Manuscrits, paguei e desci correndo, tinha avistado a vitrine onde repousava o rolo. Naquela hora da manhã, não havia ninguém no museu. A vitrine tem nove metros de extensão e o rolo de 36, 5 metros repousa (estará ali até agosto) sobre um tecido macio para não ser machucado. Ao olhar, entendi. Não era papel de teletipo e sim papel vegetal, de desenho, que Kerouac montou página a página, colando com durex. Uns dizem que Kerouac comprou o papel, outros que foi um amigo dele, desenhista, Bill Cannastra, que lhe deu de presente.
Para caber na máquina de escrever, uma Underwood (exposta no museu), Kerouac acertou as margens. Pode-se ver ainda o picotado da tesoura em certos pontos. Para economizar, o espaçamento entre as linhas é o mínimo possível, acho que o 1, de modo que as frases praticamente se amontoam, apertadas. Imaginei o editor com aquele rolo na mão, tentando ler. Legendas explicam que o final do rolo inexiste. Segundo o autor, ele foi comido pelo seu cachorro Potchky. Cada detalhe alimenta uma lenda. Há uma imagem usada pelos que viram o rolo na vitrine: ele simboliza a estrada, the road. Datilografado a toda velocidade, sem parágrafos, 6 mil palavras por dia (12 mil no primeiro dia, tal a febre, e 15 mil no último, tal a ânsia de terminar), Kerouac confessou que foi alimentado a café. Como Balzac fazia?
Imenso banner num canto do museu traz as edições pelo mundo. Línguas estranhas, indefiníveis para mim naquele momento e que prefiro deixar assim, como um mistério: Kelije - Op weg - Na Gestei - Vejene - Naputu - Pe Drum - B Dopoze - Uton - Kepyak - Aopote - Á Vegum Út. Sabe-se que o livro foi traduzido para 95 línguas. Não vi a capa de nenhuma das edições brasileiras.
Numa das vitrines estão as cadernetinhas de capa preta envernizada que Kerouac usava para suas anotações. Centenas delas, todas iguais. Emocionei-me ao ver como ele trabalhava, anotando sem parar. Organizado, comprava sempre as mesmas cadernetas. Em Na Estrada, filme de Walter Salles, o personagem usa um bloco semelhante. Produziram para a filmagem ou tais cadernetas ainda existem nos Estados Unidos? Essa permanência das coisas me fascina
Cinco anos de trabalho para um longa-metragem. O filme está em cartaz em Paris simultaneamente. Fui ver em uma de minha salas prediletas, o cinema Pagode, na Rue Babylone. Foi um templo chinês decorado com dourados, e brocados, cheio de charme em sua decadência. Ali está sendo a exibida a versão original com legendas em francês. Quando o livro saiu, em 1957, Kerouac escreveu a Marlon Brando, tido como um ator da contestação, oferecendo a adaptação e o papel, Brando jamais respondeu. Os direitos foram comprados por Francis Ford Coppola em 1968. Godard recusou, depois também Gus Van Saint. Finalmente, Walter Salles entrou na estrada. Foram cinco anos de versões e revisões, de viagens e busca de locações. Walter Salles imprimiu o ritmo duplo que domina o livro: movimento, velocidade, e momentos de introspecção e contemplação. Pausas e acelerações. Num entrevista, o cineasta fez uma declaração que me emocionou: "A modernidade de Kerouac estava em seu desejo de explorar tudo, de viver, de sentir tudo à flor da pele. De não recusar o momento." Um dia, Walter e Lawrence Ferlinghetti, 93 anos, ícone majestoso da época beat (a sua livraria e editora City Lights era o ponto de convergência dos beatniks), circulando por São Francisco, pararam na ponte de Berkeley, imobilizada pelo congestionamento. Nesse momento, o poeta exclamou:
- You see, there's no more away!
Algo como: veja só, não há mais nada depois do além. E o cineasta comenta: "Naquela época do On The Road ainda havia um mundo a ser descoberto, cartografado. Borges dizia que o grande prazer da literatura era nomear o que ainda não havia sido nomeado. Hoje, temos a impressão de que tudo está visto, fotografado, documentado, repertoriado... On The Road é um antídoto contra o imobilismo e isto é que me fascinou no livro." Ou seja, não há mais nada a se procurar. Mais de 50 anos depois, Ferlinghetti e Walter Salles respondiam àquela inquietação que tivemos aos 20 anos
Kerouac, que morreu aos 47 anos, faria neste ano 90. Os expoentes da beat morreram: Allen Ginsberg, Gregory Corso e William Burroughs. Resta Ferlinghetti, hoje com 93 anos. Estranha foi a morte de Kerouac, vivendo ao lado da mãe, mergulhado em programas estúpidos de televisão, reacionário, alcoólatra, inchado, deprimido, desiludido com tudo, negando ter provocado uma revolução na literatura. Enquanto hoje desesperadamente procura-se a mídia e a exposição, a imensa visibilidade funcionou ao contrário para Jack. Levou-o ao inferno.
Fonte:
O Estado de São Paulo. Caderno 2. 23 de junho de 2012
Um livro inteiro escrito em um rolo de papel. Foi espantoso saber disso. Jack Kerouac sentou-se entre 2 e 22 de abril de 1951, e datilografou sem parar e sem precisar tirar o papel da máquina em nenhum momento. Mais de 60 anos atrás, aquele jovem de 29 anos não sabia que tinha inventado o formulário contínuo que só entraria em cena mais de 40 anos depois. Como seria esse rolo? Estávamos acostumados a usar o papel sulfite A-4, cuja largura era a mesma do rolo das máquinas de escrever comuns. Escrevia-se cerca de 20 a 30 linhas, em espaço duplo e acabava a lauda, era preciso trocá-la. O gesto se repetia em casa, nas redações, escritórios, faculdades, escolas, por toda a parte. Puxada a lauda, colocava-se outra, girava-se o rolo e recomeçava. Nunca imaginei que precisasse explicar este processo banal, a fim de que as novas gerações crescidas com o computador, entendessem a questão. Por esta razão, ter escrito de uma vez só, em um rolo de papel, se tornou um fato mítico, único na literatura. Vinha em seguida o que o livro significou, o impacto que provocou, o espanto que ocasionou.
As notícias, naqueles anos 1950, diziam que o livro On The Road, que abalaria o mundo, teria sido escrito em um rolo de papel para teletipo, o que também poucos das novas gerações sabem o que é. Um aparelho existente em redações, escritórios, bolsas de valores, que recebia informações, notícias, cotações, vivia ligado 24 horas, parecia funcionar sozinho, uma vez que era acionado a distância. De uma cidade para outra, de um Estado, de um país. Funcionava o tempo todo, portanto necessitava ser alimentado por um rolo de papel que devia durar horas.
Em seguida, divulgou-se que On The Road não tinha sido datilografado em rolo de teletipo. Como seria então? Passaram anos até vermos a primeira foto de Jack Kerouac, o escritor, segurando o rolo na mão. Eu vi pela primeira vez na contracapa da edição integral de On The Road publicada pela L&PM, em 2008. Mas que rolo seria esse?
A batida do jazz em uma narrativa. No entanto, fosse apenas isso, um livro escrito em um rolo de papel, tudo não passaria de mera curiosidade, uma bossa criada por um autor, nada mais. Quando On The Road foi publicado em 1957 - exatamente o ano em que cheguei a São Paulo, foi como se um tsunami tivesse acontecido na literatura. Normas caíam por terra, regras eram desobedecidas, uma nova maneira de narrar estava em curso, a palavra beat, que vinha tanto de beatitude quanto da batida do jazz, entrou em circulação. Era o grito (usou-se muito essa palavra) da geração que fumava maconha, usava benzedrina, cocaína, peyote, álcool, e não colocava limites para o sexo.
Acreditávamos que era a revolta de uma geração contra o establishment americano e ficávamos confusos. Onde brasileiros e americanos se igualavam? Contra o que eles brigavam exatamente? De que modo poderíamos seguir on the road? Teria sentido? Descobriríamos com os anos a nossa estrada. Mas o início estava ali na linguagem, na soltura, na liberdade.
Roberto Muggiati em seu artigo Kerouac, os beats e o bop (C2+Música, aqui no Estado, no último dia 9 ), diz que a expressão "on the road" já era usada nos anos 1930 no jargão dos músicos de bandas que "viviam na estrada". O que era novo para nós? A linguagem que, no dizer de Kerouac (sempre citado por Muggiati), era "o fluxo mental tranquilo, de ideias e palavras pessoais secretas... pausas marcadas que são a essência de nossa fala... satisfazer primeiro a si mesmo e o leitor também receberá o choque telepático e o significado-excitação pelas mesmas leis que operam na sua mente". Era um novo formato de narrativa, anticonvencional.
À minha frente, o lendário scroll. Descobri a realidade do rolo no dia 31 de maio deste ano, em Paris. Cheguei tarde, deitei, no dia seguinte, pulei da cama, tomei café da manhã e voei pelo Boulevard Saint-Germain em busca do Musée des Lettres et Manuscrits. O rolo do On The Road estava lá. Corria ao encontro de Jack Kerouac e de mim mesmo no número 222. Atravessei a "cour", empurrei uma porta modesta e penetrei no museu. Estava em meio a tudo o que gerou On The Road, o mais emblemático romance de uma época, que bateu de frente contra tudo o que era estabelecido, careta, quadrado, square, burguês (palavras hoje deterioradas). Quem queria escrever, naquele tempo, queria escrever o On The Road de seu país.
O mundo transfigurou. Em um segundo, me vi em São Paulo na Alameda Santos, 93, nos meus 23 anos. Era a pensão da Nina. Mais do que pensão, aquela casa foi o ponto de partida de um grupo pertencente à mesma geração. Ali nos reuníamos, conversávamos, discutíamos Sartre, Simone, Camus, Marx, Stanislavski, Grotowski, Carson Mccullers, Henry Miller. Ali bebíamos, brigávamos, escrevíamos, tocávamos violão e cantávamos. Havia ainda tantos mundos a serem percorridos ao longe.
Como sair do nada e ver lá na frente?. Aqueles quartos de pensão, minúsculos, com três ou quatro, às vezes mais, jovens empoleirados, eram tão sufocantes quanto nossa cidade natal tinha sido, quanto São Paulo era, e o Brasil também. Em que país estreito vivíamos? Como sair disso? Líamos demais, víamos filmes e teatro demais, roubávamos revistas e jornais estrangeiros das bancas e livrarias (não tínhamos como pagá-las, eram caras) e tínhamos uma certeza, o mundo ia além daquilo. Queríamos saber o que havia para a frente, queríamos buscar lugares distantes, pessoas longínquas, línguas estranhas, não queríamos repetir a mesmice e não sabíamos o que sonhávamos criar.
Os sábados eram particularmente excitantes quando o caderno de variedades do Jornal do Brasil chegava com artigos do Nelson Coelho, então o especialista em literatura americana. Não se passava semana sem uma notícia sobre a beat generation. Correspondente do Jornal do Brasil em Nova York, Nelson estava no olho do furacão. E o JB era dos mais importantes e lidos do Brasil.
Eu era o primeiro que acordava, trabalhava das 10 ao meio-dia. Corria à Praça Osvaldo Cruz e comprava dois JB. Na praça, tomava o café da manhã, média de café com leite e um misto. Lia ali no balcão, sonhando com as mesas dos cafés que víamos nos filmes e nas fotos de Paris, de Nova York, das "cidades" civilizadas. Na volta, o caderno de variedades corria de mão em mão, depois era guardado no quarto do Zé Celso Martinez que enchia os artigos de frases sublinhadas.
Um dia, essa loucura será publicada integral. Havia uma febre para ler On The Road, de maneira que a primeira edição legível que nos chegou (era difícil comprar livros americanos por aqui) foi a da editora argentina Sudamericana: Por La Carretera, um título que nos soava horrível, mas sabíamos que seria complicado ler Kerouac no original. Linguagem coloquial, gírias, expressões do jazz, havia de tudo. Também em espanhol não foi fácil, perdíamos o ritmo. Somente duas décadas depois leríamos On The Road em português, com o título Pé na Estrada, editado na Brasiliense por um Caio Graco inquieto, ousado, mente aberta. Foi em 1984. A Brasiliense tinha Luiz Schwarcz, que ali começou. On The Road teria a sua mãozinha?
Sabe-se que a primeira edição americana, na qual se basearam, por décadas, todas as traduções, sofreu cortes e interferências do editor Malcolm Cowley. Informam as legendas da exposição que Kerouac, pressionado, edulcorou o texto, fez cortes, cedeu, estava cansado de batalhar e ser derrotado. Em uma carta, exibida no museu, Allen Ginsberg, outro ícone da beat generation, previa: "Um dia, On The Road será publicado integralmente, em toda sua loucura." Foi. Em 2007, finalmente a Viking Press lançou o texto original, no Brasil lançado em 2008 pela L&PM, em tradução de Eduardo Bueno e Lúcia Brito. Na contracapa, Jack Kerouac segura o célebre rolo.
O manuscrito que é uma "estrada" também. Já se sabe tudo o que o livro é, foi, será. O que estava ainda em minha cabeça - e na de muitos - era a questão do rolo. Como se fosse um papiro sagrado, uma Torá. Assim entrei no Musée des Lettres et Manuscrits, paguei e desci correndo, tinha avistado a vitrine onde repousava o rolo. Naquela hora da manhã, não havia ninguém no museu. A vitrine tem nove metros de extensão e o rolo de 36, 5 metros repousa (estará ali até agosto) sobre um tecido macio para não ser machucado. Ao olhar, entendi. Não era papel de teletipo e sim papel vegetal, de desenho, que Kerouac montou página a página, colando com durex. Uns dizem que Kerouac comprou o papel, outros que foi um amigo dele, desenhista, Bill Cannastra, que lhe deu de presente.
Para caber na máquina de escrever, uma Underwood (exposta no museu), Kerouac acertou as margens. Pode-se ver ainda o picotado da tesoura em certos pontos. Para economizar, o espaçamento entre as linhas é o mínimo possível, acho que o 1, de modo que as frases praticamente se amontoam, apertadas. Imaginei o editor com aquele rolo na mão, tentando ler. Legendas explicam que o final do rolo inexiste. Segundo o autor, ele foi comido pelo seu cachorro Potchky. Cada detalhe alimenta uma lenda. Há uma imagem usada pelos que viram o rolo na vitrine: ele simboliza a estrada, the road. Datilografado a toda velocidade, sem parágrafos, 6 mil palavras por dia (12 mil no primeiro dia, tal a febre, e 15 mil no último, tal a ânsia de terminar), Kerouac confessou que foi alimentado a café. Como Balzac fazia?
Imenso banner num canto do museu traz as edições pelo mundo. Línguas estranhas, indefiníveis para mim naquele momento e que prefiro deixar assim, como um mistério: Kelije - Op weg - Na Gestei - Vejene - Naputu - Pe Drum - B Dopoze - Uton - Kepyak - Aopote - Á Vegum Út. Sabe-se que o livro foi traduzido para 95 línguas. Não vi a capa de nenhuma das edições brasileiras.
Numa das vitrines estão as cadernetinhas de capa preta envernizada que Kerouac usava para suas anotações. Centenas delas, todas iguais. Emocionei-me ao ver como ele trabalhava, anotando sem parar. Organizado, comprava sempre as mesmas cadernetas. Em Na Estrada, filme de Walter Salles, o personagem usa um bloco semelhante. Produziram para a filmagem ou tais cadernetas ainda existem nos Estados Unidos? Essa permanência das coisas me fascina
Cinco anos de trabalho para um longa-metragem. O filme está em cartaz em Paris simultaneamente. Fui ver em uma de minha salas prediletas, o cinema Pagode, na Rue Babylone. Foi um templo chinês decorado com dourados, e brocados, cheio de charme em sua decadência. Ali está sendo a exibida a versão original com legendas em francês. Quando o livro saiu, em 1957, Kerouac escreveu a Marlon Brando, tido como um ator da contestação, oferecendo a adaptação e o papel, Brando jamais respondeu. Os direitos foram comprados por Francis Ford Coppola em 1968. Godard recusou, depois também Gus Van Saint. Finalmente, Walter Salles entrou na estrada. Foram cinco anos de versões e revisões, de viagens e busca de locações. Walter Salles imprimiu o ritmo duplo que domina o livro: movimento, velocidade, e momentos de introspecção e contemplação. Pausas e acelerações. Num entrevista, o cineasta fez uma declaração que me emocionou: "A modernidade de Kerouac estava em seu desejo de explorar tudo, de viver, de sentir tudo à flor da pele. De não recusar o momento." Um dia, Walter e Lawrence Ferlinghetti, 93 anos, ícone majestoso da época beat (a sua livraria e editora City Lights era o ponto de convergência dos beatniks), circulando por São Francisco, pararam na ponte de Berkeley, imobilizada pelo congestionamento. Nesse momento, o poeta exclamou:
- You see, there's no more away!
Algo como: veja só, não há mais nada depois do além. E o cineasta comenta: "Naquela época do On The Road ainda havia um mundo a ser descoberto, cartografado. Borges dizia que o grande prazer da literatura era nomear o que ainda não havia sido nomeado. Hoje, temos a impressão de que tudo está visto, fotografado, documentado, repertoriado... On The Road é um antídoto contra o imobilismo e isto é que me fascinou no livro." Ou seja, não há mais nada a se procurar. Mais de 50 anos depois, Ferlinghetti e Walter Salles respondiam àquela inquietação que tivemos aos 20 anos
Kerouac, que morreu aos 47 anos, faria neste ano 90. Os expoentes da beat morreram: Allen Ginsberg, Gregory Corso e William Burroughs. Resta Ferlinghetti, hoje com 93 anos. Estranha foi a morte de Kerouac, vivendo ao lado da mãe, mergulhado em programas estúpidos de televisão, reacionário, alcoólatra, inchado, deprimido, desiludido com tudo, negando ter provocado uma revolução na literatura. Enquanto hoje desesperadamente procura-se a mídia e a exposição, a imensa visibilidade funcionou ao contrário para Jack. Levou-o ao inferno.
Fonte:
O Estado de São Paulo. Caderno 2. 23 de junho de 2012
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Panaceia de Textos,
São Paulo
domingo, 9 de setembro de 2012
Olivaldo Junior (A Flor, a Vaidade e os Vagalumes)
À noite, os poetas mortos me visitam, e eu fico mais vivo.
Olivaldo Junior
Era uma vez uma flor que se achava a mais bela de todas as flores do mundo. Não era uma rosa, sequer flor-de-lis, era uma flor sem estirpe. Mas se achava mesmo a melhor, sem páreo nenhum nos solos da vida. A vida, para flor tão vaidosa, era uma brisa constante, sem chance de enraizamento. A flor e a vaidade não fazem par. O par das flores deve ser a humildade, com sua parte obediente, sempre a servir-nos.
Foi que um dia passou um homem e colheu aquela flor tão sem jeito. Desesperada, pois sabia que morreria poucas horas depois, tentou agarrar-se ao caule enquanto algumas formiguinhas se esforçavam por desprendê-la depressa, cravando os “dentinhos” na haste. Uma alegre borboleta, bem vermelha, acenava para a flor, coitada, distante das outras, no meio daquela estrada onde passavam muitos viajantes.
Socada no embornal de um caipira, a pobre e vaidosa flor, talvez uma flor-do-campo, não sei, pôs-se a verter a seiva mais triste de que era dona. O homem, um lavrador a mais nessa Terra, pensava no quanto a esposa o beijaria quando dele recebesse o presentinho que havia colhido à margem da estrada. O mundo é mesmo mágico. Aquele homem, com a flor no embornal de estopa, sobre o cavalo de sela mais nobre do sítio, sentiu que alguma coisa se mexia no saquinho em que pusera a flor. Não queria parar, mas foi forçado pela situação. Fazia o sol das seis e pouco da tarde.
O lavrador, num gesto abrupto, mexia no embornal e logo sentira um leve choque na ponta dos dedos. Assustado, como quem faz “arte”, deixou cair o embornal e, de dentro dele, uma porção de vagalumes ganhara o ar, voara longe, para o céu. As outras flores da estrada, sem nada entenderem, alvoroçaram-se todas, e uma delas desprendeu tanto aroma que ficou conhecida como dama da noite, de tão cheirosa que esteve. O pobre homem, ainda espantado, montou num átimo e saiu logo a galope.
Ainda se veem, nas noites da mata, no meio do mato, a réstia de flores vaidosas que se chamam vagalumes. Você sabia dessa? O gesto vaidoso de uma simples florzinha fez nascer a quimera de luzinhas que voam, vagalumes, luz-esperança.
Moji Guaçu, SP, trinta de agosto de 2012.
Fonte:
O Autor
Olivaldo Junior
Era uma vez uma flor que se achava a mais bela de todas as flores do mundo. Não era uma rosa, sequer flor-de-lis, era uma flor sem estirpe. Mas se achava mesmo a melhor, sem páreo nenhum nos solos da vida. A vida, para flor tão vaidosa, era uma brisa constante, sem chance de enraizamento. A flor e a vaidade não fazem par. O par das flores deve ser a humildade, com sua parte obediente, sempre a servir-nos.
Foi que um dia passou um homem e colheu aquela flor tão sem jeito. Desesperada, pois sabia que morreria poucas horas depois, tentou agarrar-se ao caule enquanto algumas formiguinhas se esforçavam por desprendê-la depressa, cravando os “dentinhos” na haste. Uma alegre borboleta, bem vermelha, acenava para a flor, coitada, distante das outras, no meio daquela estrada onde passavam muitos viajantes.
Socada no embornal de um caipira, a pobre e vaidosa flor, talvez uma flor-do-campo, não sei, pôs-se a verter a seiva mais triste de que era dona. O homem, um lavrador a mais nessa Terra, pensava no quanto a esposa o beijaria quando dele recebesse o presentinho que havia colhido à margem da estrada. O mundo é mesmo mágico. Aquele homem, com a flor no embornal de estopa, sobre o cavalo de sela mais nobre do sítio, sentiu que alguma coisa se mexia no saquinho em que pusera a flor. Não queria parar, mas foi forçado pela situação. Fazia o sol das seis e pouco da tarde.
O lavrador, num gesto abrupto, mexia no embornal e logo sentira um leve choque na ponta dos dedos. Assustado, como quem faz “arte”, deixou cair o embornal e, de dentro dele, uma porção de vagalumes ganhara o ar, voara longe, para o céu. As outras flores da estrada, sem nada entenderem, alvoroçaram-se todas, e uma delas desprendeu tanto aroma que ficou conhecida como dama da noite, de tão cheirosa que esteve. O pobre homem, ainda espantado, montou num átimo e saiu logo a galope.
Ainda se veem, nas noites da mata, no meio do mato, a réstia de flores vaidosas que se chamam vagalumes. Você sabia dessa? O gesto vaidoso de uma simples florzinha fez nascer a quimera de luzinhas que voam, vagalumes, luz-esperança.
Moji Guaçu, SP, trinta de agosto de 2012.
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O Autor
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Moji-Guaçu,
São Paulo
sábado, 8 de setembro de 2012
P. Preto (As Lembranças dos Velhos Carnavais)
Carnaval de Rua, em 1954, na Cinelândia
Este espaço despretensioso das quintas-feiras é lido, aqui em Jahu, entre outros, pelo ilustre mestre Sebastião Antonio da Silva Neto, o conhecido Professor Sebá, profundo conhecedor da língua portuguesa. Em São Paulo, pelo Otacílio Gomes, filho do autor da bem elaborada letra do hino “Asas do Jahu”. Também na capital, meus textos são lidos pelo maestro Julio Medaglia, uma autoridade em música clássica, sob cuja batuta estiveram grandes orquestras, inclusive a Sinfônica do Estado de São Paulo.
O carnaval – ou o que resta dele – está aí, batendo em nossas portas, anunciando o seu fim quase melancólico, pelo menos em muitas cidades que não o exploram como atração turística. Aqui ele já foi bem cultivado. Aos poucos – como em outras localidades – foi se apagando. Os bailes rarearam em razão da falta de público, o afastamento progressivo das famílias, custo das bandas e orquestras, que, com os anos, deixaram de existir, além de outros detalhes que influíram nas decisões dos diretores de clubes. Sinal dos tempos e mudanças de costumes trazidos pela modernidade.
Só os mais velhos conseguem lembrar-se dos antigos “corsos”, ou seja, aqueles desfiles de carros pelas ruas centrais, que aconteceram entre as décadas de 40 e 60, com pessoas nas carroçarias de caminhotes, caminhões ou até sentadas nos para lamas, distribuindo confetes, serpentinas, além das trocas de jatos dos lança-perfumes. Claro, tudo isso apenas para os poucos possuidores de veículos. Nós, os moleques do início dos anos 50, moradores da rua Humaitá, pegávamos carona na Chevrolet verde da família Santana Galvão e fazíamos a festa. O povo permanecia em pé, nas calçadas, parecendo divertir-se com tudo aquilo. Não existiam exageros. Tá bem, de vez em quando algum adulto saia da linha. Mas, afinal de contas, era carnaval. E as histórias rapidamente corriam a cidade. Aos poucos, tudo foi acabando. E nem poderia ser diferente. Depois, era só ir confessar com o Padre Serra e receber as cinzas na quarta-feira e tudo voltava à normalidade.
Os quatro bailes noturnos eram assunto desde o início do ano. Esperados por muitos, evidentemente, pelas oportunidades que ofereciam, começando pelas fantasias de havaianas, que possibilitavam visões paradisíacas. Tomemos um exemplo, já em pleno 1968, com os ventos da modernidade varrendo os tradicionalismos para baixo do tapete. O Aeroclube prometia “Uma Noite no Inferno”, com cadência da Orquestra Continental que, dividida em duas, também seria a responsável pela animação no Grêmio Paulista, com a sua “Noite das Brasas”. O Caiçara Clube também abria seus amplos salões, contando com os tradicionais acordes da Orquestra Capelozza. Era uma espécie de canto do cisne do carnaval nos clubes. Eles ainda permaneceriam por quase duas décadas, alegrando os foliões. O que aconteceu? Isso talvez não importe agora. Os jovens de hoje tem outras visões e opiniões. Talvez aqueles repertórios tradicionais de marchinhas e sambas não lhes digam nada.
Em 1974, Momo ainda mantinha seu reinado. O carnaval de rua havia se tornado grandioso, com as disputas entre as escolas de samba Faixa Branca, Ponte Preta e Acadêmicos do Samba, além dos carros alegóricos bolados por um gênio chamado Francisco Canhos. Maria Claudete Tiete, candidata do Grêmio Paulista conquistava o título de rainha, enquanto o clube promovia uma noite especial, com a presença do cantor Djalma Pires, além da cadência do conjunto Original Som, trazido da cidade de São José do Rio Preto. No Aeroclube, o pessoal da Capelozza mantinha um ritmo imbatível, aquele que a tornou inesquecível para várias gerações. A Sociedade Recreativa José do Patrocínio, instalada bem ao lado da Praça Siqueira Campos, onde hoje funciona uma loja, contava com a arte do jauense Nadinho, uma autoridade em música e que, com sua partida, deixou uma eterna saudade.
Em breve Momo reinará. Lá do fundo dos corações virão “as lembranças dos velhos carnavais...”
Fonte:
União Brasileira de Escritores
http://www.ube.org.br/espaco-do-autor-detalhe.asp?ID=1249
O carnaval – ou o que resta dele – está aí, batendo em nossas portas, anunciando o seu fim quase melancólico, pelo menos em muitas cidades que não o exploram como atração turística. Aqui ele já foi bem cultivado. Aos poucos – como em outras localidades – foi se apagando. Os bailes rarearam em razão da falta de público, o afastamento progressivo das famílias, custo das bandas e orquestras, que, com os anos, deixaram de existir, além de outros detalhes que influíram nas decisões dos diretores de clubes. Sinal dos tempos e mudanças de costumes trazidos pela modernidade.
Só os mais velhos conseguem lembrar-se dos antigos “corsos”, ou seja, aqueles desfiles de carros pelas ruas centrais, que aconteceram entre as décadas de 40 e 60, com pessoas nas carroçarias de caminhotes, caminhões ou até sentadas nos para lamas, distribuindo confetes, serpentinas, além das trocas de jatos dos lança-perfumes. Claro, tudo isso apenas para os poucos possuidores de veículos. Nós, os moleques do início dos anos 50, moradores da rua Humaitá, pegávamos carona na Chevrolet verde da família Santana Galvão e fazíamos a festa. O povo permanecia em pé, nas calçadas, parecendo divertir-se com tudo aquilo. Não existiam exageros. Tá bem, de vez em quando algum adulto saia da linha. Mas, afinal de contas, era carnaval. E as histórias rapidamente corriam a cidade. Aos poucos, tudo foi acabando. E nem poderia ser diferente. Depois, era só ir confessar com o Padre Serra e receber as cinzas na quarta-feira e tudo voltava à normalidade.
Os quatro bailes noturnos eram assunto desde o início do ano. Esperados por muitos, evidentemente, pelas oportunidades que ofereciam, começando pelas fantasias de havaianas, que possibilitavam visões paradisíacas. Tomemos um exemplo, já em pleno 1968, com os ventos da modernidade varrendo os tradicionalismos para baixo do tapete. O Aeroclube prometia “Uma Noite no Inferno”, com cadência da Orquestra Continental que, dividida em duas, também seria a responsável pela animação no Grêmio Paulista, com a sua “Noite das Brasas”. O Caiçara Clube também abria seus amplos salões, contando com os tradicionais acordes da Orquestra Capelozza. Era uma espécie de canto do cisne do carnaval nos clubes. Eles ainda permaneceriam por quase duas décadas, alegrando os foliões. O que aconteceu? Isso talvez não importe agora. Os jovens de hoje tem outras visões e opiniões. Talvez aqueles repertórios tradicionais de marchinhas e sambas não lhes digam nada.
Em 1974, Momo ainda mantinha seu reinado. O carnaval de rua havia se tornado grandioso, com as disputas entre as escolas de samba Faixa Branca, Ponte Preta e Acadêmicos do Samba, além dos carros alegóricos bolados por um gênio chamado Francisco Canhos. Maria Claudete Tiete, candidata do Grêmio Paulista conquistava o título de rainha, enquanto o clube promovia uma noite especial, com a presença do cantor Djalma Pires, além da cadência do conjunto Original Som, trazido da cidade de São José do Rio Preto. No Aeroclube, o pessoal da Capelozza mantinha um ritmo imbatível, aquele que a tornou inesquecível para várias gerações. A Sociedade Recreativa José do Patrocínio, instalada bem ao lado da Praça Siqueira Campos, onde hoje funciona uma loja, contava com a arte do jauense Nadinho, uma autoridade em música e que, com sua partida, deixou uma eterna saudade.
Em breve Momo reinará. Lá do fundo dos corações virão “as lembranças dos velhos carnavais...”
Fonte:
União Brasileira de Escritores
http://www.ube.org.br/espaco-do-autor-detalhe.asp?ID=1249
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quinta-feira, 30 de agosto de 2012
José Bonifácio (Poemas)
SAUDADE
I
Eu já tive em belos tempos
Alguns sonhos de criança;
Já pendurei nas estrelas
A minha verde esperança;
Já recolhi pelo mundo
Muita suave lembrança.
Sonhava então - e que sonhos
Minha mente acalentaram?!
Que visões tão feiticeiras
Minhas noites embalaram?!
Como eram puros os raios
De meus dias que passaram?!
Tinha um anjo de olhos negros,
Um anjo puro e inocente,
Um anjo que me matava
Só c'um olhar - de repente,
- Olhar que batia na alma,
Raio de luz transparente!
Quando ela ria, e que riso?!
Quando chorava - que pranto?!
Quando rezava, que prece!
E nessa prece que encanto?!
Quando soltava os cabelos,
Como esparzia quebranto!
Por entre o chorão das campas
Minhas visões se ocultaram;
Meus pobres versos perdidos
Todos, todos acabaram;
De tantas rosas brilhantes
Só folhas secas ficaram!
II
Oh! que já fui feliz! - ardente, ansioso
Esta vida boiou-me em mar de encantos!
Os meus sonhos de amor eram mil flores
Aos sorrisos de aurora, abrindo a medo
Nos orvalhados campos!
Ela no agreste monte; ela nos prados;
Ela na luz do dia; ela nas sombras
Pardacentas do vale; ela no monte,
No céu, no firmamento - ela sorrindo!
Então o sol surgindo feiticeiro,
Entre nuvens de cores recamadas,
Segredava mistérios!
Como era verde o florejar das veigas,
Brandinha a viração, múrmura a fonte,
Meigo o clarão da lua, a estrela amiga
Na solidão do Céu!
Que sedes de querer, que amor tão santo,
Que crença pura, que inefáveis gozos,
Que venturas sem fim, calcando ousado
Humanas impurezas!
Deus sabe se por ela, em sonho estranho
A divagar sem tino em loucos êxtases,
Sonhei, penei, vivi, morri de amores!
Se um quebro fugitivo de seus olhos
Era mais do que a vida em plaga edênica,
Mais do que a luz ao cego, o orvalho às flores,
A liberdade ao triste prisioneiro,
E a terra da pátria ao foragido!!!
Mas, ai! - tudo morreu!...
Secou-se a relva, a viração calou-se,
Os queixumes da fonte emudeceram,
Mórbida a lua só prateia lousa,
A estrela amorteceu e o sol amigo
No verde-negro seio do oceano
Chorando a face esconde!
Meus amores talvez morreram todos
Da lua no clarão que eu entendia,
Nessa réstia do sol que me falava,
Que tantas vezes me aqueceu a fronte!
III
Além, além, meu pensamento, avante!
Que idéia agora a mente me assalteia?!
Lá surge afortunada,
Da minha infância a imagem feiticeira!
Quadra risonha de inocência angélica,
Minha estação no Céu, por que fugiste?
E que vens tu fazer - agora à tarde
Quando o sol já desceu os horizontes,
E a noite do saber já vem chegando
E os lúgubres lamentos?
I
Eu já tive em belos tempos
Alguns sonhos de criança;
Já pendurei nas estrelas
A minha verde esperança;
Já recolhi pelo mundo
Muita suave lembrança.
Sonhava então - e que sonhos
Minha mente acalentaram?!
Que visões tão feiticeiras
Minhas noites embalaram?!
Como eram puros os raios
De meus dias que passaram?!
Tinha um anjo de olhos negros,
Um anjo puro e inocente,
Um anjo que me matava
Só c'um olhar - de repente,
- Olhar que batia na alma,
Raio de luz transparente!
Quando ela ria, e que riso?!
Quando chorava - que pranto?!
Quando rezava, que prece!
E nessa prece que encanto?!
Quando soltava os cabelos,
Como esparzia quebranto!
Por entre o chorão das campas
Minhas visões se ocultaram;
Meus pobres versos perdidos
Todos, todos acabaram;
De tantas rosas brilhantes
Só folhas secas ficaram!
II
Oh! que já fui feliz! - ardente, ansioso
Esta vida boiou-me em mar de encantos!
Os meus sonhos de amor eram mil flores
Aos sorrisos de aurora, abrindo a medo
Nos orvalhados campos!
Ela no agreste monte; ela nos prados;
Ela na luz do dia; ela nas sombras
Pardacentas do vale; ela no monte,
No céu, no firmamento - ela sorrindo!
Então o sol surgindo feiticeiro,
Entre nuvens de cores recamadas,
Segredava mistérios!
Como era verde o florejar das veigas,
Brandinha a viração, múrmura a fonte,
Meigo o clarão da lua, a estrela amiga
Na solidão do Céu!
Que sedes de querer, que amor tão santo,
Que crença pura, que inefáveis gozos,
Que venturas sem fim, calcando ousado
Humanas impurezas!
Deus sabe se por ela, em sonho estranho
A divagar sem tino em loucos êxtases,
Sonhei, penei, vivi, morri de amores!
Se um quebro fugitivo de seus olhos
Era mais do que a vida em plaga edênica,
Mais do que a luz ao cego, o orvalho às flores,
A liberdade ao triste prisioneiro,
E a terra da pátria ao foragido!!!
Mas, ai! - tudo morreu!...
Secou-se a relva, a viração calou-se,
Os queixumes da fonte emudeceram,
Mórbida a lua só prateia lousa,
A estrela amorteceu e o sol amigo
No verde-negro seio do oceano
Chorando a face esconde!
Meus amores talvez morreram todos
Da lua no clarão que eu entendia,
Nessa réstia do sol que me falava,
Que tantas vezes me aqueceu a fronte!
III
Além, além, meu pensamento, avante!
Que idéia agora a mente me assalteia?!
Lá surge afortunada,
Da minha infância a imagem feiticeira!
Quadra risonha de inocência angélica,
Minha estação no Céu, por que fugiste?
E que vens tu fazer - agora à tarde
Quando o sol já desceu os horizontes,
E a noite do saber já vem chegando
E os lúgubres lamentos?
Minha aurora gentil - tu bem sabias
Como eu falava às brisas que passavam,
Às estrelas do Céu, à lua argêntea,
sobre nuvem purpúrea ao Sol já frouxo!
Ante mim se erguia então o venerando
O vulto de meu Pai - perto, ao meu lado
Minha irmãs brincavam inocentes,
Puras, ingênuas, como a flor que nasce
Em recatado ermo! - Ai! minha infância
Não voltarás... oh! nunca!... entre ciprestes
Dormes daqueles sonhos esquecida!
Como eu falava às brisas que passavam,
Às estrelas do Céu, à lua argêntea,
sobre nuvem purpúrea ao Sol já frouxo!
Ante mim se erguia então o venerando
O vulto de meu Pai - perto, ao meu lado
Minha irmãs brincavam inocentes,
Puras, ingênuas, como a flor que nasce
Em recatado ermo! - Ai! minha infância
Não voltarás... oh! nunca!... entre ciprestes
Dormes daqueles sonhos esquecida!
Na solidão da morte - ali repoisam
Ossos de Pai, de Irmãos!... embalde choras
Coração sem ventura... a lousa é muda,
E a voz dos mortos só a campa a entende.
Tive um canteiro de estrelas,
De nuvens tive um rosal;
Roubei às tranças da aurora
De pérolas um ramal.
De aurinoturno véu
Fez-me presente uma fada;
Pedi à lua os feitiços,
A cor da face rosada.
Contente à sombra da noite
Rezava a Virgem Maria!
De noite tinha esquecido
Os pensamentos do dia.
Sabia tantas histórias
Que não me lembra nenhuma;
Ao meus prantos apagaram
Todas, todas - uma a uma!
IV
Ambições, que eu já tive, que é delas?
Minhas glórias, meu Deus, onde estão?
A ventura - onde vivi na terra?
Minha rosas - que fazem no chão?
Sonhei tanto!... Nos astros perdidos
Noites... noites inteiras dormi;
Veio o dia, meu sono acabou-se,
Não sei como no mundo me vi!
Esse mundo que outrora habitava
Era Céu... paraíso... eu não sei!
Veio um anjo de formas aéreas,
Deu-me um beijo, depois acordei!
Vi maldito esse beijo mentido,
Esse beijo do meu coração!
Ambições, que eu já tive, que é delas?
Minhas glórias, meu Deus, onde estão?
A cegueira vendou-me estes olhos,
Atirei-me num pego profundo;
Quis coroas de glória... fugiram,
Um deserto ficou-me este mundo!
As grinaldas de louro murcharam,
Nem grinaldas - somente a loucura!
Vi no trono da glória um cipreste,
Junto dele uma vil sepultura!
Negros ódios, infames traições,
E mais tarde... um sudário rasgado!
O futuro?... Uma sombra que passa,
E depois... e depois... o passado!
Ai! maldito esse beijo sentido
Esse beijo do meu coração!
A ventura - onde vive na terra?
Minhas rosas - que fazem no chão?
Por entre o chorão das campas
Minhas visões se ocultaram;
Meus pobres versos perdidos
Todos, todos acabaram;
De tantas rosas brilhantes
Só folhas secas ficaram....
ENLEVO
Se invejo as coroas, os cantos perdidos
Dos bardos sentidos, que altivos ouvi,
Bem sabes, donzela, que os loucos desejos,
Que os vagos almejos, são todos por ti.
Bem sabes que, às vezes, teu pé sobre o chão,
No meu coração faz eco, passando;
Que sinto e respiro teu hálito amado;
E, mesmo acordado, só vivo sonhando!
Bem sabes, donzela, na dor ou na calma,
Que é tua a minha alma, que é meu o teu ser,
Que vivo em teus olhos; que sigo teus passos;
Que quero em teus braços viver e morrer.
A luz do teu rosto - meu sol de ventura,
Saudade, amargura, não sei o que mais -
Traduz meu destino, num simples sorriso,
Que é meu paraíso, num gesto de paz.
Se triste desmaias, se a cor te falece,
A mim me parece que foges pro céu,
E eu louco murmuro, nos amplos espaços,
Voando a teus braços: - És minhas!... Sou teu!...
Da tarde no sopro suspira baixinho,
No sopro mansinho suspira... Quem és?
Suspira... Hás de ver-me de fronte abatida,
Sem força, sem vida, curvado a teus pés.
IMPROVISADO
DERMINDA, esses teus olhos soberanos
Têm cativado a minha liberdade;
Mas tu cheia, cruel, de impiedade
Não deixas os teus modos desumanos.
Por que gostas causar dores e danos?
Basta o que eu sofro: tem de mim piedade!
Faze a minha total felicidade,
Volvendo-me esses olhos mais humanos.
Já tenho feito a última fineza
Para ameigar-te a rija condição;
És mais que tigre, foi baldada empresa.
Podem meus ais mover a compaixão
Das pedras e dos troncos a dureza,
E não podem abrandar um coração?
Fonte:
Portal São Francisco
Ossos de Pai, de Irmãos!... embalde choras
Coração sem ventura... a lousa é muda,
E a voz dos mortos só a campa a entende.
Tive um canteiro de estrelas,
De nuvens tive um rosal;
Roubei às tranças da aurora
De pérolas um ramal.
De aurinoturno véu
Fez-me presente uma fada;
Pedi à lua os feitiços,
A cor da face rosada.
Contente à sombra da noite
Rezava a Virgem Maria!
De noite tinha esquecido
Os pensamentos do dia.
Sabia tantas histórias
Que não me lembra nenhuma;
Ao meus prantos apagaram
Todas, todas - uma a uma!
IV
Ambições, que eu já tive, que é delas?
Minhas glórias, meu Deus, onde estão?
A ventura - onde vivi na terra?
Minha rosas - que fazem no chão?
Sonhei tanto!... Nos astros perdidos
Noites... noites inteiras dormi;
Veio o dia, meu sono acabou-se,
Não sei como no mundo me vi!
Esse mundo que outrora habitava
Era Céu... paraíso... eu não sei!
Veio um anjo de formas aéreas,
Deu-me um beijo, depois acordei!
Vi maldito esse beijo mentido,
Esse beijo do meu coração!
Ambições, que eu já tive, que é delas?
Minhas glórias, meu Deus, onde estão?
A cegueira vendou-me estes olhos,
Atirei-me num pego profundo;
Quis coroas de glória... fugiram,
Um deserto ficou-me este mundo!
As grinaldas de louro murcharam,
Nem grinaldas - somente a loucura!
Vi no trono da glória um cipreste,
Junto dele uma vil sepultura!
Negros ódios, infames traições,
E mais tarde... um sudário rasgado!
O futuro?... Uma sombra que passa,
E depois... e depois... o passado!
Ai! maldito esse beijo sentido
Esse beijo do meu coração!
A ventura - onde vive na terra?
Minhas rosas - que fazem no chão?
Por entre o chorão das campas
Minhas visões se ocultaram;
Meus pobres versos perdidos
Todos, todos acabaram;
De tantas rosas brilhantes
Só folhas secas ficaram....
ENLEVO
Se invejo as coroas, os cantos perdidos
Dos bardos sentidos, que altivos ouvi,
Bem sabes, donzela, que os loucos desejos,
Que os vagos almejos, são todos por ti.
Bem sabes que, às vezes, teu pé sobre o chão,
No meu coração faz eco, passando;
Que sinto e respiro teu hálito amado;
E, mesmo acordado, só vivo sonhando!
Bem sabes, donzela, na dor ou na calma,
Que é tua a minha alma, que é meu o teu ser,
Que vivo em teus olhos; que sigo teus passos;
Que quero em teus braços viver e morrer.
A luz do teu rosto - meu sol de ventura,
Saudade, amargura, não sei o que mais -
Traduz meu destino, num simples sorriso,
Que é meu paraíso, num gesto de paz.
Se triste desmaias, se a cor te falece,
A mim me parece que foges pro céu,
E eu louco murmuro, nos amplos espaços,
Voando a teus braços: - És minhas!... Sou teu!...
Da tarde no sopro suspira baixinho,
No sopro mansinho suspira... Quem és?
Suspira... Hás de ver-me de fronte abatida,
Sem força, sem vida, curvado a teus pés.
IMPROVISADO
DERMINDA, esses teus olhos soberanos
Têm cativado a minha liberdade;
Mas tu cheia, cruel, de impiedade
Não deixas os teus modos desumanos.
Por que gostas causar dores e danos?
Basta o que eu sofro: tem de mim piedade!
Faze a minha total felicidade,
Volvendo-me esses olhos mais humanos.
Já tenho feito a última fineza
Para ameigar-te a rija condição;
És mais que tigre, foi baldada empresa.
Podem meus ais mover a compaixão
Das pedras e dos troncos a dureza,
E não podem abrandar um coração?
Fonte:
Portal São Francisco
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