sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Constelação de Trovas (Autores B e C)

BALTHAZAR DE GODOY MOREIRA
Se em minha mão, por acaso,
a tua pões, tão mimosa,
penso num rústico vaso
contendo um botão de rosa.

BARRETO COUTINHO
Destino é força que esmaga,
credor austero, tremendo;
manda a conta e a gente paga,
sem saber que está devendo...

BENEDITO CAMARGO MADEIRA
A castanha nos convida
a não julgar o aparente:
dentro do ouriço... escondida,
está uma fruta excelente!

CAMILO BORGES NETO
Tudo o que é bom por um lado,
pelo outro tem um custo.
Mesmo Deus em seu reinado,
antes de ser bom, é justo!

CAMPOS SALES
Ao luar de tantas luas,
minha São Paulo querida,
fiz, somando as suas ruas,
a estrada da minha vida!

CARLOS DE SOUZA
Verdadeira esta jornada
que se leva vida afora:
Pra nascer – hora marcada...
Mas pra morrer – não tem hora.

CARLOS DRUMOND DE ANDRADE
O meu tempo e o teu, amada,
transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada:
amor é o sumo da vida.

CARLOS GUIMARÃES
Meu lenço, na despedida,
tu não viste, em movimento:
lenço molhado, querida,
não pode agitar-se ao vento.

CAROLINA RAMOS
Por te amar, tenho sofrido,
mas não me arrependo: Vem!
-- Quem ama as rosas, querido,
ama os espinhos também!

CASTRO ALVES
Na hora em que a terra dorme
enrolada em frios véus,
eu ouço uma reza enorme
enchendo o abismo dos céus...

CATULO DA PAIXÃO CEARENSE
Qualquer frase acerba e dura
que ela me atira, eu sorrio;
pois encerra tal doçura,
que parece um elogio!

CECÍLIA MEIRELLES
O vento do mês de agosto
leva as folhas pelo chão:
só não toca no teu rosto,
que está no meu coração.

CECILIANO JOSÉ ENNES NETO
Se no comer se extasia,
não pense que é o maioral.
Logo depois vem a azia:
“quem passa bem, passa mal”.

CECY TUPINAMBÁ ULHOA
Aprendi a enfrentar
esta vida de solteiro:
não tendo a quem abraçar,
me enrosco no travesseiro!

CÉLIA GUIMARÃES SANTANA
Eu não me canso de olhar
sua foto desbotada.
Não preenche o seu lugar,
mas... sonhar não custa nada!

CÉLIO GRUNEWALD
Todos os picos da serra,
nos Andes... nos Pirineus,
são dedos grandes da Terra
mostrando a casa de Deus!

CESÍDIO AMBROGI
Do bairro a mulher mais bela
mora na esquina, a Gioconda.
-- Rondam tanto a casa dela
que a esquina ficou redonda...

CIDINHA FRIGERI
- Você caminha comigo,
partilha seu Eu interno;
isto o faz ser meu amigo,
um querido Ser fraterno.

CIDOCA DA SILVA VELHO
Quando de mim te aproximas,
com semblante sonhador,
minha alma flutua em rimas,
compondo versos de amor!

CIPRIANO FERREIRA GOMES
"Pelos trilhos da distância,
no trem das minhas tristezas,
somente o vagão da Infância
tem janelinhas acesas!"

CLEBER ROBERTO DE OLIVEIRA
Os passarinhos da praça
Não podem nem ver um calvo:
- Na careca de um que passa
Praticam... "titica ao alvo"!

CLENIR NEVES RIBEIRO
Chega a tarde... e há nostalgia
nesta angústia desmedida...
Que importa o nascer do dia?
-- Tudo é tarde em minha vida!...

CLÓVIS MAIA
Tenho um medo que me pasma,
nunca vi ter medo assim;
tenho medo de um fantasma
que ronda dentro de mim...

COLBERT RANGEL COELHO
Desce o viúvo ao jazigo
e uma voz familiar
repete o sermão antigo:
-- Isto é hora de chegar?

COLOMBINA
Saudade, lâmpada acesa
no altar da recordação,
onde a ternura e a tristeza
rezam a mesma oração!

CONCEIÇÃO A.C.DE ASSIS
Uma luz quase apagada...
Um sonho chegado ao fim...
Eis o pedaço do nada
que tu fizeste de mim.

CONCEIÇÃO PARREIRAS ABRITTA
Não desanime, trabalhe,
combata o mal, queira o bem...
Pois o bom, mesmo que falhe,
é sempre luz para alguém!

CRISTIANE BORGES BROTTO
Trovador é “gente” esperta
e só faz rima de artista,
põe todos de boca aberta,
mais do que eu... Que sou dentista!

CYRLÉA NEVES
Tentando explicar fracassos,
o nosso mundo anda cheio
de quem erra e cruza os braços,
jogando a culpa no alheio!...

CYROBA RITZMANN
Natal, Natal, que alegria!
Festa, presentes e luz,
jantares e - que utopia -
Só não se pensa em Jesus.
Fonte:

Parte das trovas foram selecionadas por José Ouverney
Disponível em http://www.falandodetrovas.com.br

Arthur C. Clarke (Conto: Os Nove Bilhões de Nomes de Deus)

O doutor Wagner conseguiu reprimir-se. Era meritório. Depois disse:

- O seu pedido é um pouco desconcertante. Que eu saiba, é a primeira vez que um mosteiro tibetano faz a encomenda de um calculador eletrônico. Não quero ser curioso, mas estava longe de pensar que semelhante instituição pudesse necessitar desta máquina. Posso perguntar-lhe em que deseja utilizá-la?

O Lama ajeitou as dobras de sua túnica de seda e pousou sobre a secretária a régua de calcular com a qual acabava de fazer conversões libra-dólar.

- Naturalmente. O seu calculador eletrônico tipo 5 pode fazer, segundo diz o catálogo, todas as operações matemáticas até 10 decimais. No entanto, o que me interessa são letras, não números. Pedir-lhe-ei portanto que modifique o circuito de saída de forma que imprima letras em vez de colunas de números.

- Não compreendo muito bem...

- Desde que a nossa instituição foi fundada, há mais de três séculos, que nos consagramos a um determinado trabalho. É um trabalho que pode parecer-lhe estranho e peço-lhe que me escute com a maior largueza de espírito.

- De acordo.

- É simples. Tentamos organizar a lista de todos os nomes possíveis de Deus.

- Perdão?

O lama continuou imperturbavelmente:

- Temos excelentes motivos para crer que todos esses nomes incluem quando muito nove letras do nosso alfabeto.

- E ocuparam-se disso durante três séculos?

- Sim. Tínhamos calculado que precisaríamos de quinze mil anos para terminar o trabalho.

O doutor deu um assobio de vencido, e disse um pouco atordoado:

- O.K., agora compreendo o porque deseja alugar uma das nossas máquinas. Mas qual é o objetivo da operação?

Durante uma fração de segundo o lama hesitou e Wagner receou ter ofendido aquele estranho cliente que acabara de fazer a viagem Lassa-Nova Iorque com uma régua de calcular e o catálogo da companhia de contadores eletrônicos no bolso de sua túnica cor de açafrão.

- Chame a isto um ritual se quiser - disse o lama - mas é uma da bases fundamentais da nossa religião. Os nomes de Ser Supremo, Deus, Júpiter, Jeová, Alá etc., não passam de etiquetas feitas pelos homens. Certas considerações filosóficas demasiado complexas para que as possa expor agora, deram-nos certeza de que, entre todas as perguntas e possíveis combinações das letras, se encontram os verdadeiros nomes de Deus. Ora, o nosso objetivo é descobri-los e escrevê-los todos.

- Já compreendo: Começam por A.A.A.A.A.A.A.A.A., e acabarão por chegar a Z.Z.Z.Z.Z.Z.Z.Z.Z.

- Simplesmente utilizamos o nosso alfabeto. Evidentemente que lhe há de ser fácil modificar a máquina de escrever elétrica, de forma que ela utilize nosso alfabeto. Mas o problema mais importante será o de preparar os círculos especiais de forma que eliminem antecipadamente as combinações inúteis. Por exemplo, nenhuma das letras deve aparecer mais de três vezes sucessivamente.

- Três? Quer dizer duas.

- Não. Três. Mas a explicação completa exigiria muito tempo, mesmo que o senhor compreendesse a nossa língua.

Wagner disse precipitadamente:

- Claro, claro. Continue por favor.

- Ser-lhe-á fácil adaptar o calculador automático em função desse objetivo. Com um plano bem elaborado, uma máquina desse gênero pode trocar as letras umas após outras e imprimir um resultado. Desta forma, concluiu calmamente o lama, aquilo que nos levaria ainda quinze milênios estará terminado em cem dias.

O Doutor Wagner sentia que ia perdendo o sentido das realidades. Através das janelas do edifício, os ruídos e as luzes de Nova Iorque perdiam a intensidade. Sentia-se transportado a um mundo diferente. Lá longe, no seu longínquo asilo montanhoso, geração após geração, os monges tibetanos há trezentos anos elaboravam sua lista de nomes desprovidos de sentido... Não havia então limite para a loucura dos homens?

Mas o Doutor Wagner não devia deixar transparecer os seus pensamentos. O cliente tem sempre razão...

E respondeu:

- Não duvido que possam modificar a máquina do tipo 5, de forma a imprimir listas desse gênero. A instalação e a conservação é que mais me inquietam. Aliás, não será fácil enviá-la para o Tibete.

- Nós trataremos disso. As peças separadas têm dimensões suficientemente pequenas para serem transportadas por avião. De resto, foi esse o motivo porque escolhemos a máquina. Envie as peças para a Índia, nós nos encarregamos do resto.

- Deseja contratar dois dos nossos engenheiros?

- Sim, para montarem e vigiarem a máquina durante esses cem dias.

- Vou mandar instruções à direção de pessoal - disse Wagner enquanto escrevia na agenda. - Mas restam duas questões a resolver...

Antes que tivesse podido terminar a frase, o lama tirou do bolso uma delgada folha de papel:

- Esta é a situação de minha conta no Banco Asiático.

- Muito obrigado. Está muito bem... Mas, se me permite, a segunda questão é de tal maneira elementar que hesito em mencioná-la. Acontece muitas vezes esquecermos qualquer coisa evidente... Têm uma fonte de energia elétrica?

- Temos um gerador Diesel elétrico de 50 KW de potência, 110 volts. Foi instalado há cinco anos e funciona bem. Facilita-nos a vida no convento. Compramo-lo sobretudo para acionar os moinhos de orações.

- Ah! Sim, evidentemente, eu devia ter pensado nisso...

Do parapeito a vista era vertiginosa, mas habituamo-nos a tudo. Tinha decorrido três meses e George Hanley já não se importava com os seiscentos metros em vertical que separavam o mosteiro do quadriculado dos campos da planície. Apoiado sobre as pedras que o vento arredondara, o engenheiro contemplava com olhar triste as montanhas longínquas de que ignorava o nome. "A operação nome de Deus", como batizara um humorista da Companhia, era sem dúvida a pior tarefa de louco em que jamais participara.

Semana após semana, a máquina tipo 5, modificada, cobrira milhares de folhetos de uma incrível algaravia. Paciente e inexorável, o calculador reunira as letras do alfabeto tibetano em todas as combinações possíveis, esgotando série após série. Os monges recortavam certas palavras à saída da máquina de escrever elétrica e colavam-nas com devoção em enormes registros. Dentro de uma semana acabariam.

Hanley ignorava quais os cálculos obscuros que os levavam à conclusão de que não deviam estudar conjuntos de dez, vinte, cem mil letras, e nem pretendia sabê-lo. nos seus pesadelos sonhava às vezes que o grande lama decidiria bruscamente complicar um pouco mais a operação e que o trabalho continuaria até o ano 2060. Aliás aquele estranho homenzinho parecia perfeitamente capaz de o fazer.

A pesada porta de madeira estalou. Chuck vinha ter com ele no terraço. Chuck fumava, como de costume, um charuto: tornara-se popular com os lamas distribuindo-lhes havanas. Aqueles tipos poderiam ser completamente amalucados - pensou Hanley - mas não eram puritanos. As freqüentes expedições a aldeia não tinham sido desprovidas de interesse...

- Ouve, George - disse Chuck - vamos ter aborrecimentos.

- A máquina escangalhou-se?

- Não.

Chuck sentou-se sobre o parapeito. Era espantoso, pois habitualmente receava ter vertigens:

- Acabo de descobrir o objetivo da operação.

- Mas já o sabíamos!

- Sabíamos o que os monges queriam fazer, mas não sabíamos por quê.

- Bah! São uns loucos...

- Escuta, George, o velho acaba de explicar-me. Eles crêem que assim que tenham escrito todos aqueles nomes ( e segundo pensam são cerca de nove bilhões), o objetivo divino será atingido. A raça humana terá realizado a tarefa para que foi criada.

- E então? Esperam que nos suicidemos?

- Inútil. Quando a lista estiver terminada, Deus intervirá e será o fim.

- Quando terminarmos, será então o fim do mundo?

Chuck teve um risinho nervoso:

- Foi o que eu disse ao velho. Ele olhou-me de forma estranha, como um professor olha para um aluno particularmente estúpido, e disse-me: "Oh, não será assim tão insignificante!..."

George refletiu por um instante.

-É um tipo que visivelmente tem idéias largas, mas, mesmo assim, que importância tem isso? Nós já sabíamos que eram uns loucos.

- Sim. Mas não vês o que pode acontecer? Se a lista ficar pronta e se as trombetas do anjo Gabriel, versão tibetana, não soarem, eles podem decidir que é por nossa culpa. Afinal de contas, era a nossa máquina que eles utilizavam. Não gosto disso...

- Percebo... - disse lentamente Jorge - mas eu já vi tanta coisa! - Quando era garoto na Luisiana, apareceu um pregador que anunciou o fim do mundo para o domingo seguinte. Houve centenas de tipos que acreditaram nele. Alguns mesmo chegaram a vender suas casas. Mas ninguém se endureceu no domingo seguinte. As pessoas pensaram que ele apenas errara um pouco os cálculos, e muitas delas ainda acreditam.

- Caso não te tenhas apercebido faço-te notar que não estamos na Luisiana. Estamos ambos sozinhos, no meio de centenas de monges. Adoro-os, mas preferia estar longe quando o velho lama aperceber-se que a operação falhou.

- Há uma solução. Uma pequenina sabotagem inofensiva. O avião chega dentro de uma semana e a máquina termina o trabalho dentro de quatro dias à razão de 24 horas por dia. Basta-nos começar a reparar qualquer coisa durante dois ou três dias. Se calcularmos bem, poderemos estar lá embaixo, no aeroporto, quando o último nome sair da máquina.

Sete dias mais tarde, enquanto os pequenos pôneis das montanhas desciam o caminho em espiral, Hanley disse:

- Sinto um pouco de remorsos. Não fujo por medo, mas porque tenho pena. Não gostaria de ver a cara daqueles pobres homens quando a máquina parar.

- Na minha opinião - disse Chuck - eles desconfiaram que fugimos, e não se incomodaram. Agora já sabem até que ponto a máquina é automática, e que não precisa de vigilância. E supõem que não haverá nenhuma depois.

George voltou-se para trás e olhou.

Os edifícios do mosteiro apareciam em silhueta escura sobre o poente. De vez em quando brilhavam pequeninas luzes sob a massa sombria das muralhas, como as vigias de um navio singrando no mar. Lâmpadas elétricas colocadas sobre o circuito da máquina n.º 5.

Que aconteceria ao calculador elétrico? - pensou George. - Na fúria e desapontamento iriam os monges destruí-lo? Ou então recomeçariam tudo?

Como de ainda lá estivesse, via o que naquele momento se passava na montanha atrás das muralhas. O grande lama e os seus assistentes examinavam as folhas, enquanto alguns noviços recortavam os nomes barrocos e os colavam no enorme caderno. e tudo aquilo era feito em religioso silêncio. Só se ouviam as teclas da máquina, batendo no papel como se fossem chuva miúda. O próprio calculador, que combinava milhares de letras por segundo, estava completamente silencioso...

A voz de Chuck interrompeu o seu devaneio:

- Lá está ele! Que grande alegria que dá!

Semelhante a uma minúscula cruz prateada, o velho avião de transportes D.C.3 acabava de pousar lá embaixo no pequeno aeródromo improvisado. Aquela visão dava vontade de beber um grande copo de uísque gelado. Chuck começou a cantar, mas depressa se calou. As montanhas não o encorajavam.

George consultou o relógio.

- Estaremos lá dentro de uma hora - disse. E acrescentou: - Pensas que o cálculo já terminou?

Chuck não respondeu e George levantou a cabeça. Viu o rosto de Chuck muito branco, voltado para o céu.

- Olha - murmurou Chuck.

George, por sua vez, levantou os olhos.

Pela última vez, por cima deles, na paz das alturas, uma a uma as estrelas começavam a extinguir-se...

Fonte:
Extraído de O Despertar dos Mágicos, introdução ao Realismo Fantástico; de Louis Pauwels e Jacques Bergier. Editora Difel. 21ª edição. 1986. 463 páginas.

Viagens no Tempo e Paradoxos Temporais (Marcus Valério)

As Viagens no Tempo gozam de uma posição de destaque na FC, não só remontam aos subgêneros mais antigos como talvez estejam entre os mais populares. Ao mesmo tempo parecem a primeira vista as mais absurdas, pois é difícil conceber como seria possível se deslocar no tempo, entretanto, estão entre as poucas que possuem base cientifica plausível, mais especificamente sobre a Teoria da Relatividade.

As viagens para o futuro são mais do que plausíveis, eles existem e ocorrem a todo instante, porém em escalas imperceptíveis. Como, segundo a Teoria da Relatividade, o movimento afeta o ritmo de passagem do tempo, quanto mais rápido alguém se mover, mas rápido ela avança para o futuro em relação a referenciais mais lentos. Ou seja, alguém que viaje constantemente de avião chega ao futuro mais rápido que alguém que nunca o tenha feito, pois o tempo para ela terá passado mais lentamente e ela terá envelhecido menos.

No entanto a diferença será desprezível. Mesmo os astronautas que foram à Lua, que são os seres humanos que experimentaram as maiores velocidades de deslocamento na história, cerca de 40mil km/h, experimentaram avanços para o futuro insignificantes.

Para que uma viagem ao futuro apresente resultados perceptíveis é necessário velocidades de deslocamento muito maiores, que poderão ser possíveis futuramente. Uma nave capaz de se mover ao menos à metade da velocidade da luz, já apresentaria resultados bastante impressionantes.

Mas se as viagens para o futuro são teoricamente possíveis e até futuramente prováveis, as viagens para o passado ainda são altamente improváveis mesmo em ousadas especulações teóricas.

Acelerar até a velocidade da luz por exemplo, o que já é bastante improvável levando em conta nossos conhecimentos científicos atuais, apenas congelaria a passagem do tempo, permitindo que o viajante avançasse o quanto quissesse para o futuro, mas ao que parece nada sugere que seja possível ultrapassar tal limite e que mesmo o fazendo o tempo retrocederia.

Uma analogia interessante é a seguinte: Suponha que você esteja acostumado a percorrer o trajeto de sua casa até a casa de uma amiga em 20 minutos. Então adquire um meio de deslocamento mais rápido e passa a fazer o percurso em apenas 10 minutos. Com outro meio de transporte esse tempo passa a ser de 5, e assim por diante.

Chegaria a um ponto em que teoricamente você gastaria um tempo que tendesse a zero, ou seja, se transferiria instantaneamente de um local a outro. Mas, e se fosse possível aumentar ainda mais a velocidade, ocorreria de você chegar à casa de sua amiga ANTES de ter saído da sua?

Pelo nosso paradigma científico atual tudo indica que não. Você nunca conseguiria gastar um tempo Zero de descolamento, ainda que chegasse a um tempo desprezível muitíssimo próximo de zero. No entanto, considero ingênuo acreditar que nossas concepções científicas atuais bateram definitivamente o martelo sobre a questão, e vamos deixar em aberto a possibilidade de viagem para o passado.

Temos que recorrer então à Filosofia para compreender certas questões. Muitas coisas podem ser possíves dependendo do contexto. Por exemplo, não temos dificuldade em imaginar que num outro Universo submetido a outras leis físicas, fosse possível ultrapassar a velocidade da luz e ou viajar para o passado. Nós podemos imaginar isso por que se trata de uma Possibilidade LÓGICA. Ou seja, ela pode ser racionalmente concebível.

Porém, se uma coisa for LOGICAMENTE Impossível, ela com certeza o será FISICAMENTE Impossivel. Nós podemos conceber logicamente coisas impossíveis fisicamente, mas se uma coisa for logicamente inconcebível, ele com certeza será impossível.

O problema com as viagens no tempo para o passado é que elas geralmente apresentam resultados logicamente impossíveis, PARADOXOS. E talvez o mais problemático seja o mais comum em obras de Ficção Centífica sobre Viagens no Tempo:

O PARADOXO DE CAUSA E EFEITO, que diz que:
Se alguém viaja para o passado no objetivo de alterar um evento para mudar o presente, assim que o fizesse o motivo pelo qual se viajou deixaria de existir, e consequentemente a viagem também. Sendo assim, o mínimo que deveria acontecer seria a perda de memória por parte do viajante, ou seu lançamento numa realidade paralela.

Há meios de se superar essa dificuldade, mas raramente isso é feito com desenvoltura principalmente em HQs ou Filmes.

Em Os 12 Macacos por exemplo, houve um excelente tratamento do tema, mas admitindo a impossibilidade de se alterar o passado de modo que a própria tentativa de alteração fez parte do processo.

Em minha opinião no cinema os exemplos mais desastrosos são os de Jornada nas Estrelas, principalmente em STAR TREK VIII, onde no passado um evento principal é alterado mudando o presente, nos caso os Borgs eliminando o evento que resultaria em boa parte do avanço tecnológico humano, e então através de uma viagem os protagonistas repõem o evento principal no lugar.

Entretanto fazem inúmeras outras alterações nada insignificantes, mas que em nada afetam os acontecimentos futuros, e fica sempre a pergunta: Por que os Borgs não tentam de novo? E de novo e de novo? E se viajassem para impedir que os heróis impeçam a mudança no passado? Por que não uma outra viagem para impedir a raiz de todos os problemas? Quando isso pararia?

E o pior! Se os Borgs conseguissem impedir o tal evento, a Terra nunca teria desenvolvido tecnologias de viagens espacias, e sendo assim nunca teria se integrado a federação e muito menos conhecido os Borgs, que também não teriam o menor interesse numa tecnologia pouco avançada, e portanto não teriam vindo à Terra.

Esse resultados são ilógicos, e podemos esclarecer isso formalizando e simplificando a questão:
Os Borgs vieram à Terra para assimilar sua Tecnologia Avançada.
Para eliminar a forte resistência dos terrestres, que se baseia em tecnologia avançada, os Borgs viajaram no tempo e prejudicaram o desenvolvimento da Tecnologia Terrestre.
Sem tecnologia avançada, os terrestres não puderam resistir aos Borgs.

E aqui fica clara a contradição, o item 3 entra em conflito com o item 1, se os terrestres perderam sua tecnologia avançada devido a viagem no tempo dos borgs, para que então os Borgs teriam vindo à Terra?

Outro exemplo é o seguinte: Se você viajasse para o passado para impedir uma tragédia e o conseguisse, a tragédia, que é motivo de sua viagem, deixaria de existir, sendo assim sua viagem também.

É até concebível que isso ocorra desde que o viajante perca completamente a memória de sua viagem, pois ela também teria deixado de existir. E dessa forma seria possível que há um minuto atrás a realidade em que você vive fosse outra, mas você viajou no tempo e a alterou, de modo que agora vive numa outra realidade tendo se esquecido totalmente da realidade anterior em que viveu.

Pior! Pode ser então que a realidade que vivemos tenha sido alterada infinitas vezes, mas ninguém, nem mesmo os viajantes do tempo responsáveis, saberiam disso.

Outra forma de evitar esse paradoxo é afirmar que os viajantes na verdade passaram para uma dimensão paralela, e dessa forma eles nada mais fizeram do que escolher um Universo alternativo, e tenham se tornado seres multi dimensionais. Mas isso também implica em que para as pessoas que não sejam esses viajantes, as mudanças simplesmente não ocorrem, ou seja, se você viaja no tempo e impede a tragédia, e volta para o seu tempo sem perder a memória, você teria na verdade entrado em um universo alternativo, para o qual aquela tragédia de fato jamais ocorreu, mas o universo original permanece inalterado.

Já uma situação como a ocorrida em filmes como De Volta para o Futuro, é absurda, pois o viajante, Martin McFly, faz alterações drásticas em sua realidade e volta para ela, e ainda que ela não evolvam exatamente a causa da viagem no tempo, elas deveriam estar automaticamente registradas em sua memória, ou aquela realidade para a qual ele voltou já seria um universo alternativo.

Explicando mais detalhadamente, cada vez que ele alterava um detalhe do passado de seus pais isso viria a resultar em mudanças no futuro. Porém ele estava de certa forma protegido dessas mudanças, talvez por não estar em seu tempo original. Quando ele volta para seu Presente encontra várias coisas mudadas e não as reconhece, isso significa que sua memória pertence à realidade anterior, ele vêm de uma realidade anterior, alternativa, caso contrário, ele deveria se lembrar automaticamente de tudo, não sofrendo nenhum estranhamento com as mudanças.

Para explicar minha teoria, devemos ter em mente, e muito claramente, a expressão:
O UNIVERSO É INFINITO!

Depois pensemos nas seguintes possibilidades de idealização do tempo:
Nesta idealização temos uma Linha do Tempo, que imaginamos como correndo da Esquerda para a Direita. em vermelho temos o PASSADO, e em azul o FUTURO. O PRESENTE, representado em verde, seria um intervalo infinitamente pequeno entre o Passado e o Futuro, um evento instantâneo que transforma este último no primeiro.

Foi o filósofo Santo Agostinho que, no Quarto Século da Era Comum, teve a ousadia de ser o primeiro a questionar a natureza do tempo e perceber uma estranha contradição. Parece que o Tempo, de uma certa forma, não existe, pois o Passado não existe mais, o Futuro ainda não existe, e o Presente é infinitamente pequeno, sendo assim, como poderia existir?

Mas não foi por acaso que citei esse grande filósofo, pois ao final de sua vida, sem dúvida envolvido também nestas questões, ele se tornou Determinista, isto é, alguém que acredita que o Futuro está definitiva e inalteravelmente escrito. Opinião que é compartilhada por muitas pessoas ainda hoje.

Esta representação do tempo, acima, expressa então o Pré-Determinismo, mais conhecido por Destino, que é idéia de que todos os eventos do futuro já estão definidos e não podem ser evitados. Uma forma de expressar isso é exatamente pensando no tempo como uma linha por onde corre o presente. Agostinho, que era um filósofo cristão, se apercebeu que isso trazia um grande problema para a idéia de Livre-Arbítrio, pois como podemos ter escolha se todo o futuro já está definido?

Um outra forma de imaginarmos o tempo seria:
Aqui, temos um Futuro indefinido, onde várias possibilidades podem ser realizadas e, assim sendo, que não pode ser previsto com exatidão. O Presente seria então um fenômeno que converte possibilidades em fatos transformando-os em passado, de onde não mais podem ser alterados. Ao menos é assim que muitas outras pessoas costumam pensar.

Entretanto, há uma outra forma de pensar o tempo, uma forma um tanto mais ousada, onde todas as possibilidades jamais seria exatamente fechadas, mas sim ficando "sempre" em aberto. Assim seria:
Aqui teríamos então, não somente uma linha de tempo, mas várias, mais provavelmente infinitas. E todas elas paralelas. É esse o conceito de Realidades Paralelas, ou Alternativas, apresentadas em muitas obras de FC. Esta concepção sugere que tais linhas sejam independentes entre si, e que somente algum evento muito incomum poderia misturá-las.

Isso então, acaba não sendo muito diferente da idéia anterior de Determinismo, com a única diferença que tal determinismo não seria único, mas para cada ser que vivesse em um, ele seria inviolável.

No entanto, podemos também visualizar estas linhas da seguinte forma:
Vemos aqui que o Tempo seria um processo que converteria possibilidades em realidades, deixando-as no Passado. É razoável supor que o Passado, uma vez consumado, não possa mais ser alterado, mas o Futuro é livremente aberto às possibilidades. Assim, existiriam diversas realidades paralelas, todas indeterminadas, sendo convertidas pelo efeito "Presente", de, "Possibilidade de Futuro" para "Passado".

E aqui, já é importante frisar, essas possibilidades tem que ser INFINITAS! Ou seja, existiriam Infinitas realidades paralelas, Infinitos Passados consumados com todas as infinitas possibilidades.

É exatamente neste contexto que poderíamos pensar em viagens no tempo para o passado, que inclusive alterassem eventos, mas que não causassem paradoxos. Pois qualquer alteração já estaria prevista em uma das infinitas linhas de possibilidades passadas, e assim, cada vez que um viajante do tempo o fizesse, estaria na verdade saltando para um universo paralelo. Ou poderíamos pensar também que tal universo só passasse a existir assim que a alteração fosse efetuada.

O mais importante é que os eventos do presente original do viajante não seriam afetados. Se pensarmos no exemplo de De Volta para o Futuro poderíamos exemplificar com a idéia de que Martin Macfly, ou voltar 30 anos no tempo, retornou por sua própria linha temporal, porém ao emergir no passado, imediatamente passou para uma linha paralela, permanecendo nela mesmo quando voltou ao futuro. Essa é a única forma de explicar que ele não tivesse nenhuma memória dos eventos que ele mesmo gerou.

É claro que essa teoria não salva o paradoxo no filme, pois se é assim, deveria haver um duplo, um outro Martin neste universo paralelo, que evidentemente vive normalmente em sua realidade e que não teria viajado no tempo.

Essa teoria abre possibilidade para qualquer tipo de viagem temporal, tornando qualquer possibilidade logicamente possível. É claro que ela acrescenta alguns aspectos perturbadores. A maioria das pessoas tem dificuldade em lidar com a idéia de uma infinitude de possibilidades, mas essa concepção, ou pelo menos a possibilidade de cada viagem ao passado gerar um universo paralelo totalmente novo, me parece a única forma de tornar as viagens para o passado racionalmente viáveis.

Outra consequência seriam os infinitos "eus" paralelos coexistindo nessa multiplicidade de universos, algo um tanto perturbador. Uma possibilidade de atenuar a tensão desta idéia seria que na realidade tais universos não existissem previamente, mas que fossem gerados pelas viagens no tempo, passando então a serem independentes. Porém isso leva à questão de qual seria o resultado de diversas viagens constantemente gerando realidades paralelas. Poderia isso induzir a um tipo de perturbação em todos os universos? Em especial no original?

Fonte:
www.xr.pro.br/FC/ParadoxTime.html

Filosofia da Ficção Científica (Marcus Valério)

O que chamamos FICÇÃO CIENTÍFICA, é um "gênero" literário que possui características ímpares, como ser historicamente datável e permitir qualquer tipo de situação. Tais características decorrem principalmente do fato de ela não ser um "gênero", mas uma fusão entre:
O Grau de Extrapolação da Realidade; e
O Grau de Racionalidade que justifica essa extrapolação.

O termo "Científico" não é preciso, fazendo melhor sentido talvez na concepção de "Ciência" do início do Século XX, quando o termo surgiu, onde a palavra Ciência possuía conotações distintas das que apresenta ao final deste mesmo século.

Para entender melhor o que significa a FC, é necessário fazer algumas distinções simples. Um relato, conto ou estória, pode ser inicialmente FICÇÃO e NÃO-FICÇÃO.

Na Não-Ficção estariam os relatos baseados em eventos considerados reais, ainda que muitos sejam questionávies, inclusive eventos históricos incertos. Como tudo está sujeito a interpretação, nunca se pode garantir uma completa fidelidade, mas para simplificar, consideremos a existência de um âmbito na literatura que descreve a "Realidade".

A Ficção por sua vez trata de algo que não tenha uma plena representação na realidade, e por sua vez pode ser REALISTA ou não, entendendo "Realista" no sentido de Plausível.

As Ficções Realistas então, são aquelas que poderiam ocorrer no contexto da realidade sem violar a normalidade do mundo, podendo inclusive, muitas vezes, serem confundidas com eventos reais, o que obriga muitas produções a incluírem a advertência de não se confundir tal obra de Ficção, com fatos, eventos, lugares ou pessoas reais, cuja qualquer semelhança será mera coincidência.

As Ficções Não-Realistas abrangem todas as criações que a princípio não teriam lugar na realidade. Entre elas os primeiros temas de expressão cultural humana, os temas Mitológicos, com seus contos e feitos fantásticos, transformados em produção artística literária desde os primórdios da escrita humana.

Portanto a Ficção Fantástica é de certa forma, tão antiga quanto a cultura humana. Porém a FF teria que se separar da Mitologia, coisa que embora tenha ocorrido há milênios, não parece haver precisão quanto a época onde tenham surgido as primeiras obras de criação livre sobre temas fantásticos que não tenham ligação direta com a mitologia.

Muitas dessas obras teriam se perdido no tempo, outras se impregnaram à cultura e ajudaram a formar novas mitologias, o que viria, até hoje, a confundir o fantástico com o real. Mas como "gênero" literário em si, creio que só mesmo a partir da Idade Moderna poderemos colher alguns exemplos mais claros.

Com o Renascimento, o advento da Imprensa, o Iluminismo, e a ascensão da Ciência, o modo da sociedade interpretar a realidade mudou. A partir daí passaria a haver um maior questionamento sobre o mundo que nos cerca. Antes em geral a Religião satisfazia a grande maioria das pessoas sobre o que o mundo é, ou deveria ser.

Mas com o progresso Científico a mente humana foi libertada para investigar, questionar, e se possível invalidar aquilo que não pudesse ser comprovado, ou que não apresentasse um mínimo de coerência.

Nesse âmbito, a FF prosseguiu cada vez mais independente das crenças populares, podendo então produzir estórias com conteúdos plenamente novos. Mas por outro lado um impulso cada vez maior para o racional começou a transformar o gênero. As pessoas, incapazes de abandonar a Fantasia mas empurradas pela Racionalidade, e também contagiadas pelo progresso científico que prometia grandes feitos no futuro, passaram a incorporar uma cada vez maior acuidade racional.

Até que por fim surgiria Ficção Científica, que é uma tentativa de produzir um conteúdo a princípio Fantástico mas que poderia ser real sem grande impacto para a normalidade do mundo.

A grande diferença então é:
A FICÇÃO FANTÁSTICA é incondicionalmente fora da realidade.
A FICÇÃO CIENTÍFICA é relativamente fora da realidade. Isto é, está fora apenas no contexto em que vivemos, poderá ser real numa época futura, pode ter sido real numa época passada, ou em um outro mundo ou local em especial.
Um nome mais preciso seria: FICÇÃO SUPRA-REALISTA RACIONAL.

É claro que há confusão entre esses dois campos, FF e FC, como entre vários outros, mas podemos tentar compreender essas relações e diferenciações.

Os diversos gêneros propriamente ditos: Ação, Aventura, Comédia, Drama, Épico, Erótico, Guerra, Policial, Suspense, Terror e etc, podem ser tanto Ficção quanto Não-Ficção. A vida real pode nos proporcionar qualquer uma dessas experiências.

Mas quando Ficção, esse gêneros também podem ser Realistas ou Supra Realistas, dependendo do conteúdo que tragam. E quando Supra Realistas podem ser Fantásticos ou Científicos, ou melhor dizendo, podem não ter preocupação em se validar racionalmente, ou sim.

A Ficção Científica não é um "gênero" propriamente dito, não como os outros, ela seria na verdade um dos 4 Super "Gêneros", ou Campos:
NÃO-FICÇÃO
FICÇÃO REALISTA
FICÇÃO SUPRA REALISTA CIENTÍFICA
FICÇÃO SUPRA REALISTA FANTÁSTICA (que é a mais distante da realidade)

Numa linhagem progressiva:
Não-Ficção < = > Ficção Realista < = > Ficção Científica < = > Ficção Fantástica

O limiar que separa a FC da FF, bem como a que separa a Ficção da Não-Ficção, pode ser difícil definir, mas a maioria das obras poderão ser enquadradas claramente em um desses Supra Gêneros.

Ficção Científica < = > Ficção Fantástica

Quanto ao Supra Realismo, num extremo teremos aquele modelo de Ficção Fantástica que mais se distancia de qualquer possibilidade real, no outro extremo teremos a radical High Science Fiction (Alta Ficção Científica), ou Hi Sci-Fi, que tenta garantir a perfeita validade de seus argumentos, baseando-se o mais metodicamente possível em projeções plausíves das possibilidades científicas futuras, e em geral assegurando que serão possíveis no futuro.

É por isso que obras de gênero misto, podendo misturar comédia, drama, policial e etc, são difíceis de classificar, indo parar, por exemplo nas locadoras de vídeo, nas mais diversas seções, mas se houver algum elemento de FC, a obra invariavelmente será colocada no grupo FC. Embora muitas vezes haja um completo desentendimento sobre o que significa FC, e já pude constatar, até preconceito.

Até a década de 80 no Distrito Federal, a programação de cinema por exemplo, acessível por telefone, ignorava por completo a FC, categorizando os filmes apenas nos gêneros Aventura, Comédia, Drama, Erótico, Suspense ou Terror, além de outros mais específicos como Karatê e Faroeste.

Toda essa dificuldade resulta em considerar que a FC seja um gênero de natureza equivalente aos outros, quando na verdade sua natureza é bem diferente. Ela é basicamente um grau específico do Supra Realismo da História.

Podemos também, para maior esclarecimento, correlacionar o Grau de RACIONALIDADE com o Grau de SUPRA REALISMO de forma cruzada. Não esquecendo que a Racionalidade está sendo aplicada apenas no âmbito dos argumentos que validam o supra realismo da obra.

Considerando que qualquer obra neste âmbito possui algum grau Positivo de Supra Realismo, verificamos que as obras de FC exigem um grau de racionalidade mínima. O nível de Supra Realismo, desde que haja um mínimo, não afeta sua qualidade como FC, determinada tão somente pelo grau de Racionalidade.

Graficamente pode-se dizer que exemplos populares da FC cinematográfica, no ponto "A" seria uma obra com baixo grau de Supra Realismo e alto grau de Racionalidade, "2001-Uma odisséia no Espaço" por exemplo. No ponto "C" teríamos uma obra de maior Supra Realismo e grau pouco menor de Racionalidade, como The Matrix.

No ponto "D" teríamos obras cujo grau de racionalidade embora elevado, ainda não as caracterizaria como FC. Um exemplo são as obras de Tolkien, O Senhor dos Anéis. Apesar da ambientação fantástica, existe uma racionalidade intrínseca no mundo. É possível detectar claros limites para as magias dos personagens após uma maior intimidade com a obra, ao leitor é dado saber o que é possível ou não dentro deste universo fantástico.

Talvez um pouco acima do mesmo ponto "D" eu classificaria uma obra que invariavelmente é considerada FC, os filmes de Star Wars de George Lucas, que apenas a roupagem técnica lhe empresta um teor de FC, porém de baixa racionalidade. As batalhas espaciais, as Espadas de Luz, a gravidade artificial das naves, nada é explicado racionalmente, e são em geral absurdas. Apenas a roupagem lhes disfarça a característica de FF.

No ponto "F" teríamos obras ainda mais supra reais e menos racionais, como Harry Potter, e mais além, e mais abaixo, os famosos contos de fadas, onde virtualmente tudo pode ocorrer sem qualquer justificação racional.

É difícil encontrar filmes no ponto "B", mas são tema comuns na literatura. Esse talvez seja um dos maiores desafios ao escritor, criar ambientações muito ousadas e validá-las racionalmente. A série "Duna", de Frank Herbert, talvez seja um bom exemplo popular, mas obras menos famosas como "Fundação" de Isaac Asimov, representam melhor esse duplo exponente de supra realismo e racionalidade.

E no ponto "E" é relativamente simples encontrar exemplos. Quaisquer temas que envolvam uma dose discreta de sobrenatural.

A dificuldade em se perceber melhor esse esquema é que nos acostumamos a classificar obras arbitrariamente apenas pela sua aparência superficial, e é claro, termos associado rígidamente a racionalidade ao "científico", ainda que essa associação seja útil para categorizar certos casos.

Mas notaremos uma inegável afinidade entre públicos que apreciam certas obras de FC e FF que tem em comum uma coerência e lógica interna satisfatórias, ao mesmo tempo que tem menor apreço por obras que falhem nestes quesitos independente de suas roupagens.

O que tem definido mais claramente a FC é antes de tudo os pressupostos. Quando estes são previstos pelo nosso Paradigma científico atual, a obra tende a ser imediatamente classificada como FC, mesmo que careça de racionalidade em justificar seu Supra Realismo, e mesmo obras muitíssimo ordenadas conceitualmente, lógicamente possíveis, ficarão de fora do "gênero" FC se apresentarem pressupostos místicos ou espirituais.

Isso é evidentemente compreensível, e poderíamos dizer, sensato na maioria das vezes para fins de classificação, mas tem como efeito colateral criar uma nebulosidade nas categorias. E além disso criar um problema relativo ao curiosos processos de OBSOLESCÊNCIA de obras que podem mesmo perder seu status de FC.

Muitas obras já foram superadas pela realidade, como as de Júlio Verne, e algumas de Asimov, muitas vezes se baseando em concepções plausíveis na sua época de produção. É comum classificar-se algumas destas obras como RETROFUTURISTAS, e muitas são propositalmente produzidas com essa características mesmo depois de seus pressupostos já estarem superados. O que interessa porém, é o grau de racionalidade com que o tema é tratado, a coerência interna.

Em Filosofia, ao se falar em "mundos logicamente possíveis", faz-se "experimentos" imaginários que devem ser consistentes mesmo que seus pressupostos não sejam válidos em nosso mundo real. Uma obra de FC deve, necessariamente, se passar em um Universo Logicamente Possível, onde seus pressupostos não entrem em contradições.

Diferenciar essa essência racional da simples roupagem é quase impossível para os pouco envolvidos com obras de FC, mas é intuitivamente claro para os fãs do gênero.

Do mesmo modo como certas obras são refutadas pela realidade, outras podem ser confirmadas, embora mais comumentemente superadas. Temas como a viagem à Lua por exemplo, servem como um ótimo exemplo das diferentes formas de FC, sendo representado por obras clássicas de seus precursores, H.G.Wells e Júlio Verne.

Ambos desenvolveram sua viagem à Lua. Verne é em geral menos Supra Realista que Wells, e também menos Racional."A Viagem à Lua" de Verne por exemplo, exige premissas triviais em seu tempo, a cápsula que vai ao espaço é um projétil disparado por um canhão. Ou seja, isso não exigiu grande esforço de imaginação para a época.

Já Wells usa um conceito muito mais ousado. Em sua obra "O Primeiro Homem na Lua", existe a "Cavorita", um material sólido desenvolvido por um excêntrico e genial cientista que possui a propriedade de barrar o efeito da Gravidade. Com isso constrói-se uma cápsula capaz de se isolar da atração da Terra e subir até a Lua.

Portanto, o grau de Supra Realismo é maior. Mas ao mesmo tempo é mais racional, pois uma vez aceita a possibilidade lógica da Cavorita, a temática se desenvolve com perfeição, sem incorrer em contradições. Diferente de Verne que comete um erro primário em sua Viagem à Lua, ao supor que seres humanos poderiam ser colocados dentro de uma cápsula e serem acelerados de 0 a 660 mil Km/h (velocidade de lançamenteo necessária para entrar em órbita) em menos de um segundo, e sobreviverem! Ainda que a Viagem a Lua de Verne tenha um indisfarçável tom satírico.

Portanto, voltando ao gráfico, Wells estaria mais próximo dos pontos "C" e "B", ao passo que Verne mais à esquerda de "C" e em geral mais abaixo. E não estou aqui fazendo um julgamento de valor sobre os autores, pois são características de seus estilos literários. Mary Shelley, por exemplo, na ainda mais precursora obra "Frankstein", estaria por volta do limiar, próximo ao ponto "D", pois que seu livro basicamente usa uma premissa razoavelmente "Alquímica" para desenvolver uma tragédia.

Mas a confusão entre FF e FC não pode ser solucionada em definitivo, pois na verdade a Ficção Supra Realista pode se confundir mesmo com a Não-Ficção, ou seja com o que consideramos Realidade. Temos vários relatos de eventos fantásticos cujas fontes garantem ser reais. Há filmes com estórias Ufológicas por exemplo que se dizem baseados em fatos reais, ou eventos milagrosos e místicos em geral.

Afinal, o que poderia haver de mais fantástico do que a saga de Moisés e as 10 pragas do Egito, travessia do Mar Vermelho e etc? Boa parte da humanidade considera tais eventos verídicos. No entanto um filme como Impacto Profundo já pode ser considerado Ficção Realista, assim como muitas obras de FC do passado já foram superadas pela realidade, o que porém não aconteceria com a FF. Mas nem mesmo nosso avanço e progresso científico não conseguem eliminar a crença de muitos em eventos Fantásticos.

Como podemos ver, a dificuldade em se definir o quem vem a ser ou não Ficção e se esta é Fantástica ou Científica, não é um simples problema da literatura em si. É um problema da própria realidade. Nós não temos como ter certeza da "realidade" de tudo a nossa volta, não podemos de fato garantir se muitas coisas são de fato possíveis ou não, e essa dificuldade se estende e se intensifica na produção de Supra Realismo.

Os próprios fatos históricos e cotidianos estão sujeitos a elevados graus de interpretação e distorção, e uma pessoa crédula pode ter muito mais convicção da existência de fenômenos extra ordinários do que de certos fatos triviais.

Fatos ou Interpretações? Realidade, ou Ficção? Ilusão? São questões universais, que a Filosofia ainda tem muito o que investigar.
Fonte:

Ficção Científica

Ficção científica é uma forma de ficção desenvolvida no século XIX, que lida principalmente com o impacto da ciência, tanto verdadeira como imaginada, sobre a sociedade ou os indivíduos. O termo é usado, de forma mais geral, para definir qualquer fantasia literária que inclua o fator ciência como componente essencial, e num sentido ainda mais geral, para referenciar qualquer tipo de fantasia literária. Em inglês o termo ficção científica é as vezes abreviado para sci-fi ou SF.

O que é a ficção científica

Este tipo de literatura pode consistir numa cuidadosa e bem informada extrapolação sobre fatos e princípios científicos, ou abranger áreas profundamente rebuscadas, que contrariam definitivamente esses fatos e princípios. Em qualquer dos casos, o ser de forma plausível baseado na ciência é um requisito indispensável, e assim obras precursoras deste gênero, como o romance gótico de Mary Wollstonecraft Shelley, Frankenstein, ou o Prometeu Moderno (1818), ou a obra de Robert Louis Stevenson, O Médico e o Monstro (1886) são considerados ficção científica, enquanto que Drácula, de Bram Stoker (1897), não é. Há, evidentemente, muitos casos de obras que se situam na fronteira do gênero, usando a situação no espaço exterior ou tecnologia de aspecto futurista, apenas como decoração para narrativas de aventuras ou de romance, e outros temas dramáticos típicos; um bom exemplo é a série Star Wars (traduzida como Guerra nas Estrelas no Brasil e A Guerra das Estrelas em Portugal e outros países) e muitos filmes de ação produzidos por Hollywood. Os fãs da ficção científica hard vêem estes filmes como exemplos de fantasia, enquanto que o público em geral tende a colocá-los no âmbito da ficção científica.

Origens e precursores

A ficção científica só se tornou possível pela ascensão da ciência moderna, sobretudo pelas revoluções operadas na astronomia e na física. Além da antiquíssima literatura fantástica, que não é considerada para o efeito, o gênero teve precursores notáveis: viagens imaginárias à Lua ou a outros planetas no século XVIII e viagens espaciais no Micromegas, de Voltaire (1752), culturas alienígenas em Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift (1726), e elementos de ficção científica nas histórias de Edgar Allan Poe, Nathaniel Hawthorne e Fitz-James O'Brien, todos do século XIX. O verdadeiro início da ficção científica, contudo, dá-se no final do século XIX com os romances científicos de Júlio Verne, cuja ciência se situava ao nível da invenção, bem como com as novelas, cientificamente orientadas, de crítica social de H. G. Wells

Há outros precursores ilustres e mais antigos. O astrônomo Johannes Kepler (1571 - 1630) escreveu uma história, a que deu o título de Somnium (O Sonho), em que descreve uma viagem até outro planeta. Em 1656, o francês Savinien Cyrano de Bergerac escreveu Histoire Comique des États et Empires de la Lune, que relata também uma viagem até à Lua e a forma como os Selenitas vêem os terrestres.

O desenvolvimento da ficção científica como gênero consciente de si próprio data de 1926, quando Hugo Gernsback, que cunhou a palavra combinada scientifiction (que se poderia traduzir para português como cientificção), fundou a revista Amazing Stories, dedicada exclusivamente a histórias de ficção científica. Publicadas nesta e noutras revistas pulp com um sucesso grande e crescente, tais histórias não eram vistas pelos setores literários como literatura, mas sim como sensacionalismo. Com a chegada, em 1937, de um editor exigente, John W. Campbell, da Astounding Science Fiction (fundada em 1930) e com a publicação de contos e novelas por escritores como Isaac Asimov, Arthur C. Clarke e Robert A. Heinlein, a ficção científica emergiu como uma forma de ficção séria. As aproximações ao gênero por escritores que não se dedicavam exclusivamente à ficção científica, como Aldous Huxley, C. S. Lewis e Kurt Vonnegut, também adicionaram respeitabilidade. Capas de revistas com monstros de olhos esbugalhados e mulheres seminuas preservaram em muitas mentes a imagem de sensacionalismo.

Assistiu-se a um grande incremento na popularidade da ficção científica após a Segunda Guerra Mundial. Alguns trabalhos de ficção científica tornaram-se best-sellers. A crescente sofisticação intelectual do gênero e a ênfase em assuntos psicológicos e sociais mais latos alargaram de forma significativa o apelo da ficção científica junto do público leitor. Nos países anglo-saxônicos tomou-se consciência de ficção científica escrita noutras línguas, em especial na União Soviética e noutros países da Europa de Leste. É agora comum ver-se crítica séria ao gênero, e estuda-se ficção científica em instituições de ensino superior de várias partes do mundo (não no Brasil, no entanto), havendo especial interesse nas suas características literárias e na forma como ela se relaciona com a ciência e a sociedade.

Uma das características únicas do gênero é a sua forte comunidade de fãs, da qual muitos autores também fazem parte. Existem grupos locais de fãs um pouco por todo o mundo que fala inglês, e também no Japão, Europa e noutros locais. É freqüente que estes grupos publiquem os seus próprios trabalhos. Existem muitas revistas de fãs (e também algumas profissionais) que se dedicam apenas a informar o fã de ficção científica de todas as vertentes do gênero. Os principais prêmios da ficção científica, os Prêmios Hugo, são atribuídos pelos participantes da convenção anual Worldcon, que é organizada quase exclusivamente por fãs voluntários.

O trabalho dos escritores de ficção científica inclui previsões sobre sociedades futuras na Terra, análises das conseqüências da viagem interestelar e explorações imaginativas de outras formas de vida inteligente e das suas sociedades noutros mundos.

A ficção científica também se tem tornado popular na rádio, na histórias em quadrinhos, na televisão e no cinema.

Ficção científica feminista

Apesar da ficção científica ser um campo majoritariamente composto por homens, desde a década de 70 existe, principalmente nos EUA um crescimento na proporção de mulheres escrevendo dentro desse gênero literário, e além disso, escrevendo FC com uma perspectiva de gênero.

Algumas escritoras/escritos já se tornaram clássicos nessa nova ramificação de ficção científica que se mistura com a crítica feminista, como o The Female Man de Joanna Russ, Herland de Charlotte Gilman Perkins (livro que apesar de ter sido escrito no começo do século XX só foi editado em 1971), Dispossessed da Ursula Le Guin, Kindred da Octavia E. Butler.

Aproveitando-se da tendência à crítica social que a própria ficção científica possui, o que essas mulheres vão fazer é imaginar histórias que sacudam/denunciem/fraturem situações patriarcais. Por isso, muitas vezes, as histórias giram em torno de situações de utopia ou distopia.

A ficção científica feminista orienta-se para o desejo e a esperança de uma situação não-patriarcal, segundo Frances Bartkowski em seu Feminist Utopias:
o espaço imaginado [da ficção utópica feminista] sempre implicou o aqui e agora de sua produção, seja implícita ou explicitamente. Essas ficções utópicas feministas nos contam tanto sobre o que é possível desejar, quanto sobre o que é necessário esperar. Elas são contos que impossibilitam e possibilitam condições de desejo."

Muitas das autoras, como é o caso da francesa Monique Wittig fazem de sua escrita um exercício prático de sua teoria, tentando subverter as categorias de gênero através da escrita. Nesse sentido a ficção científica feminista pode ser entendida como algum tipo de écriture feminine.

Nos EUA muita produção acadêmica tem sido feita a partir desses textos e existe uma comunidade grande de pessoas pensando o feminismo com os olhos da ficção científica. E parece que a utilização do texto literário como ferramenta para crítica e pensamento feministas abre novas possibilidades.


FICÇÃO CIENTÍFICA DO BRASIL

A Ficção Científica (FC) é um gênero literário que jamais atingiu no Brasil a popularidade e o número de publicações de países como Inglaterra e Estados Unidos. Ainda assim, foi e é praticada por diversos autores.

História

Os primeiros textos do gênero no país datam do século XIX, mas considera-se que o primeiro autor especializado foi Jerônymo Monteiro, a partir do segundo quarto do século 20. Nos anos 30, Berilo Neves publicou três livros de contos curtos de ficção científica.

Muitos autores brasileiros clássicos assinaram eventualmente obras que podem ser classificadas como de ficção científica ou algo próximo disso. Um exemplo é Machado de Assis (1839-1908), cuja noveleta O alienista tem alguma coisa a ver com o gênero. Monteiro Lobato, falecido em 1948 (época em que Jerônymo Monteiro se firmava como especialista em FC), produziu todo um universo ficcional infanto-juvenil - O Sítio do Picapau Amarelo - ao qual não faltam elementos de FC, como sugerem mesmo alguns títulos ("A chave do tamanho", "A reforma da natureza", "Viagem ao céu") mas que são basicamente fantasias. Entretanto ele produziu um romance adulto de FC pura, "O choque das raças" (ou "O presidente negro") que porém não goza de boa fama por seus aspectos de racismo e machismo. E outros autores da primeira metade do século XX também incursionaram no gênero, como Menotti del Picchia, Érico Veríssimo e Orígenes Lessa.

Um novo impulso à ficção científica escrita por brasileiros veio nos anos 60 e 70, com uma coleção de livros lançada pelo editor baiano Gumercindo Rocha Dorea ("GRD"), que passou a encomendar trabalhos dentro do gênero a autores já consagrados na literatura mainstream.

Foi nesta, a chamada "Geração GRD" - a partir do livro Eles herdarão a Terra, de Dinah Silveira de Queiroz, - que apresentou um começo de organização de autores brasileiros neste campo. A época viu a publicação de obras de Fausto Cunha, André Carneiro, Guido Wilmar Sassi, Antonio Olinto, Zora Seljan, Clovis Garcia e vários outros, alguns somente em contos isolados, saídos em antologias.

O principal nome revelado por GRD foi o escritor André Carneiro, considerado, ao lado de Bráulio Tavares, um dos melhores prosadores na história da Ficção Científica brasileira. Nos anos 80, o jornalista Jorge Luiz Calife, depois de conquistar fama como um dos inspiradores do romance 2010, de Arthur C. Clarke, lançou uma trilogia própria, Padrões de Contato.

Dentre as razões pelas quais acredita-se que a ficção científica não alcançou espaço entre as massas está a alegada falta de uma cultura em ciências exatas no Brasil.

Atualmente

Atualmente, a Ficção Científica no Brasil aparece de forma mais visível como elemento complementar em telenovelas ("Kubanacan" é um exemplo, assim como as telenovelas da autora Glória Perez), mas uma nova geração de autores, articulada inicialmente em torno de diversos fanzines e posteriormente vista na edição brasileira da revista Isaac Asimov Magazine (publicada entre 1990 e 1993) e, depois, da editora Ano-Luz (1997-2004), além de diversas outras iniciativas, mantém ocupados os editores de fanzines e o pequeno "fandom" literário local. A Ficção Científica brasileira também já atraiu interesse acadêmico, tendo gerado volumes escritos pelo estudioso e autor brasileiro Roberto de Sousa Causo, pelo historiador Francisco Alberto Skorupa, pela brasilianista norte-americana M. Elizabeth Ginway e pelo francês Eric Henriett, que aponta a produção brasileira no subgênero da História Alternativa como a mais original dessa vertente.

Existe uma revista mensal brasileira especializada em ficção científica, chamada Sci-Fi News, que atua há mais de 10 anos no mercado nacional, e cujo conteúdo aborda filmes, seriados estrangeiros, assim como livros e acontecimentos no mercado nacional. Com uma coluna mensal sobre o mercado de literatura, e recorrente publicação de contos inéditos do escritor Renato Azevedo, o veículo propõe o ato da leitura a um público mais acostumado ao estímulo visual da TV e da Internet.

A Sci-Fi News teve uma "filha", a Sci-Fi Contos com contos e noveletas inéditos e inspirados por séries e universos conhecidos, porém a iniciativa foi cancelada em sua terceira edição. Revistas como Starlog, Quark e Cine Monstro surgiram ao longo dos últimos anos, mas também deixaram de ser publicadas.

E após 20 anos da sua fundação, continua ativo o CLFC - Clube de Leitores de Ficção Científica, um dos mais longevos expoentes da comunidade independente de fãs do gênero. Com cerca de 500 membros registrados, o CLFC publica o fanzine Somnium, com trabalhos inéditos de FC, Fantasia e Horror.

Entre os nomes mais atuantes na atual geração encontram-se, além do próprio Causo, Octavio Aragão (organizador e criador do Universo Intempol, iniciativa brasileira de gerar uma "franchise" multimídia, como as estadounidenses "Jornada nas Estrelas" ou "Arquivo X"), Carlos Orsi Martinho, Fábio Fernandes, o premiado romancista e roteirista Max Mallmann e, talvez o mais bem-sucedido autor brasileiro dentro do gênero - com livros publicados no Brasil e Portugal - Gerson Lodi-Ribeiro.

A prova que o gênero está vivo e atuante é o surgimento de outros autores e projetos a partir da virada dos anos 90. Em 1995 O Cineasta então estreante na computação gráfica, Allan Bispo cria o 1o filme de curta metragem brasileiro a usar composição de imagens reais com computação gráfica e 100% finalizado em computador. Hollywood F/X, é uma paródia aos filmes de efeitos hollywoodianos da época. O filme teve grande repercurssão no Animamundi edição de 1997 e 98 no Rio e em S. Paulo. O mineiro Flávio Medeiros publicou o techno-thriller Quintessência. Atuando em outras mídias, o autor paulistano Rynaldo Papoy, com sua experiência de ator, criou o primeiro podcast brasileiro de ficção científica, – que pode ser ouvido no endereço –, o veterano Lodi-Ribeiro foi contratado pela Hoplon Infotainment para construir um universo literário como base para um game interativo chamado TaikoDom e o curta-metragem Céus de Fuligem, produção de Marco Nápoli, busca resgatar as influências do cinema hollywoodiano para nossa realidade. O ano de 2006 começou com o lançamento do romance Space Opera Véu da Verdade, do carioca João Marcelo Beraldo, que mais tarde viria a ser convidado para trabalhar junto à Gerson Lodi-Ribeiro no desenvolvimento do universo ficcional do jogo TaikoDom.

Além de iniciativas de editoras como a Record e Novo Século, o selo Unicórnio Azul, da Editora Mercuryo, retornou às atividades em meados de outubro de 2006 com lançamentos de autores nacionais como Octavio Aragão, com A Mão que Cria, e Gerson Lodi-Ribeiro, com o já clássico Outros Brasis. Ao mesmo tempo, a Novo Século reforçava seu acervo de livros sobre vampiros e de Fantasia; a Devir publicava A Corrida do Rinoceronte, de Roberto de Sousa Causo, e anunciava a republicação de O Jogo do Exterminador, de Orson Scott Card; e a Aleph presenteava o mercado com uma belíssima edição de O Homem do Castelo Alto, de Phillip K. Dick. Esta configuração positiva passou a definir um novo momento promissor para a ficção científica brasileira.
Fonte:

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Como funcionam os jornais (Bob Wilson)

Introdução
Os jornais foram a primeira forma de comunicação de banda larga. Muito antes dos computadores, televisão, rádio, telefones e telégrafo, os jornais eram a maneira mais barata e eficiente de atingir as massas populares com notícias, comentários e anúncios. Os jornais, desde o tempo em que eram apenas uma grande folha de papel impressa à mão, têm sido um meio de comunicação de acesso aleatório, pois os leitores podem passar fácil e rapidamente pelas diferentes seções de um jornal, voltando a elas dias ou semanas depois. Além disso, pelo fato de seu "software" possuir uma linguagem comum, ele é universal e eterno. Por exemplo, um jornal publicado antes da Revolução Americana pode ser lido hoje como foi lido em 1775.

Neste artigo, vamos dar uma olhada nos bastidores de um complexo negócio em crescimento, que é a administração de um jornal, usando o The Herald-Sun (em inglês), de Durham, na Carolina do Norte, como exemplo real. Vamos examinar como as notícias são cobertas e descritas, como chegam ao jornal, como o jornal chega na gráfica e finalmente é distribuído, chegando às bancas e à sua casa. Também daremos uma olhada no jornal como uma empresa e discutiremos como ocorre o equilíbrio entre lucratividade e as funções de prestação de serviço e comunicação na sociedade.

O papel do jornal nos Estados Unidos tem mudado com o passar do tempo?

Embora o jornal de 1775 ainda seja legível, existe uma grande diferença entre ele e seu equivalente moderno. Em 1775, o jornal era publicado sob os caprichos de um governo colonial britânico, com pouca tolerância para a livre expressão de idéias, principalmente idéias políticas radicais. A Primeira Emenda à Constituição (em inglês), parte da Declaração dos Direitos dos Cidadãos Americanos (Bill of Rights) adicionada à Constituição Americana em 1791, proibiu leis que restringissem a liberdade de imprensa. Em uma era de reis e imperadores, isso significou um enorme passo rumo à liberdade individual e uma afronta à autoridade do Estado.

Os princípios e práticas que regem os jornais de hoje (objetividade jornalística, escrita concisa, notícias nacionais e internacionais) surgiram depois da Guerra Civil americana. Esta era a Idade de Ouro dos jornais diários, não somente pelo grande número de jornais então em circulação, mas também pelos lucros que eles geravam, permitindo a magnatas da imprensa como William Randolph Hearst e Joseph Pulitzer (em inglês) viverem em um patamar suntuoso. Nunca antes os jornais haviam exercido tanta influência na política e na cultura americana. Hearst, cujo império, ou melhor, parte dele, ainda existe até os dias de hoje, era tão poderoso que foi responsabilizado (ou culpado) pela explosão da guerra contra a Espanha em 1898.

O crescimento do telejornalismo

Com o crescimento do telejornalismo na década de 60, os jornais se confrontaram com seu primeiro grande concorrente. Hoje, a ABC News (em inglês) declara que mais americanos ficam informados através da ABC do que de qualquer outra fonte - e isso é provavelmente verdade. Os 1600 jornais diários americanos continuam servindo milhões de leitores, mas não são mais o meio de comunicação de massa dominante do país. O que mais se questiona nesse inicio de século é como fazer para sobreviver e progredir na indústria do jornal com a cultura atual mais sintonizada nos meios eletrônicos de comunicação que na tinta de impressão.

Os jornais vão sair de circulação?

Podemos dizer com certeza que os jornais não vão cair no esquecimento, como aconteceu com o Código Morse. Eles são um meio de comunicação portátil e conveniente. Ninguém leva o monitor do computador para a mesa do café da manhã para ler as notícias matinais. Além disso, os jornais têm provado estar dispostos a se renovar para os leitores de hoje, enfatizando bom design, fotos coloridas e histórias detalhadas que relatam ou interpretam acontecimentos atuais.

Pessoas e departamentos diferentes contribuem para um processo que lembra um rio com inúmeros afluentes. Entre eles estão cinco com grande importância para os leitores de um jornal: notícias, editorial, anúncios, produção e distribuição.

O que são notícias e como funcionam?

Curiosamente, para uma publicação denominada jornal, ninguém jamais criou uma definição padrão para o que é uma notícia. Mas o termo tem normalmente uma significação ampla: coisas anormais ( falhas humanas, falhas mecânicas e desastres naturais são freqüentemente "notícia").

Repórteres são os olhos e os ouvidos do jornal. Eles colhem informações de muitas fontes: algumas públicas, como registros na polícia, e outras privadas, como um informante do governo. Às vezes um repórter prefere ser preso do que revelar o nome de uma fonte confidencial. Os jornais orgulhosamente se consideram o Quarto Poder, que expõe o mal comportamento do Legislativo, Executivo e Judiciário.

Alguns repórteres são responsáveis pelos furos de reportagem ou por uma área de cobertura, como tribunais, prefeitura, educação, negócios, medicina e assim por diante. Outros são chamados repórteres gerais, o que significa que ficam de plantão para qualquer tipo de acontecimento, como acidentes, eventos cívicos e histórias interessantes. Dependendo das necessidades de um jornal durante o ciclo diário de notícias, repórteres especializados mudam facilmente do furo de reportagem para notícias gerais (novos repórteres eram chamados de focas, mas o termo não é mais usado).

Nos filmes, os repórteres têm trabalhos emocionantes, agitados e perigosos, vivendo de acordo com a famosa declaração sobre a vida nos jornais: "confortar os aflitos e afligir os confortados". Embora alguns jornalistas já tenham acaabado mortos devido a investigações, o trabalho em um jornal é rotina para a grande maioria dos repórteres. Eles são nossos cronistas da vida diária, filtrando a realidade e trazendo um senso de ordem para um mundo desordenado.

Todos os repórteres atendem, em última instância, a um editor. Dependendo de seu tamanho, um jornal pode ter inúmeros editores, começando com um editor-executivo, responsável pelo setor de notícias. Subordinado ao editor-executivo está o editor-geral, que inspeciona o trabalho diário do setor de notícias. Outros editores das áreas de esportes, fotografia, estadual, nacional, coluna e óbitos, por exemplo, também podem ser subordinados ao editor-geral.

No entanto, o editor mais conhecido - e de alguma forma o mais crucial - é o editor-chefe. Os repórteres trabalham diretamente para este editor, que determina histórias, reforça prazos e é o primeiro a ver os rascunhos dos repórteres no sistema de composição ou na rede de computadores. Estes editores são chamados de gatekeepers (guardião/porteiro), pois controlam quase tudo o que deve ou não entrar na próxima edição do jornal. Normalmente trabalhando sob o estresse das notícias de última hora, suas decisões são traduzidas diretamente no conteúdo do jornal.

Uma vez que o editor metropolitano termina de editar o rascunho de um repórter, a história vai do sistema de composição até outra parte do setor de notícias, a mesa de redação, através da rede de computadores. Aqui, os vice-editores verificam a ortografia e outros erros. Eles também procuram nos artigos tudo aquilo que pode confundir o leitor ou deixar perguntas sem respostas. Se necessário, eles podem verificar fatos na biblioteca do jornal, que mantém uma coleção de livros de referência, microfilmes e cópias online de edições antigas.

A chefe da mesa de redação manda as histórias concluídas para outros editores, que ajustam histórias locais, as manchetes (escritas pelo editor, não pelo repórter!) e as fotos digitais nas páginas. Os jornais fazem cada vez mais este trabalho, chamado de paginação, com computadores pessoais, usando programas disponíveis em qualquer loja de artigos para computador. Microsoft Windows, Word e Quark Express são três programas que, apesar de não serem específicos para produção de jornais, são facilmente adaptados para isso. Antes de vermos o que ocorre com as páginas eletrônicas feitas pela mesa de redação, é útil entendermos como outros setores do jornal contribuem com o ciclo de produção.

O que são os editoriais?

Um jornal publica sua visão sobre fatos atuais, regionais ou nacionais, nos editoriais. O editorial é um texto opinativo não assinado que reflete a posição coletiva da redação do jornal. Editoriais não são notícias, são opiniões baseadas em fatos. Por exemplo, os editoriais podem criticar a atuação de autoridades públicas como o prefeito, o chefe de polícia ou o conselho de alunos local. Por outro lado, podem também elogiar pessoas por suas contribuições. Seja qual for o assunto, jornais esperam que seus editoriais aumentem o nível de discussão na comunidade.

Isto ocorre de duas maneiras que são familiares para o leitor: as cartas ao editor e os artigos de opinião editorial. As cartas estão sempre entre as seções mais lidas de um jornal, pois é onde os leitores expressam suas opiniões. Alguns jornais limitam as cartas a um determinado número de palavras, 150, 250 ou até 300, enquanto outros publicam cartas de qualquer tamanho. Os artigos de opinião editorial normalmente têm de 850 a 1000 palavras. Os jornais têm espaço para cartas ao editor e artigos de opinião editorial, disponíveis como parte de sua contribuição para o diálogo.

O editorial é dirigido por um redator que não trabalha no setor de notícias. Pessoas que trabalham em jornais chamam isso de "separação entre a Igreja e o Estado", o que significa que há uma linha que não deve ser ultrapassada entre notícia e opinião. Se esta linha for ultrapassada, o jornal perde seu bem mais valioso, a credibilidade. Por este motivo, os redatores em alguns grandes jornais são subordinados ao editor, que é o diretor-geral da empresa, e não ao editor-executivo. Em outros jornais ele pode ser. Seja qual for o modelo da organização, nenhum dos dois departamentos pode dizer um ao outro o que publicar no jornal.

Por que os anúncios são importantes para um jornal?

O número de páginas é determinado não pelo setor de notícias, mas pela quantidade de anúncios vendidos para aquele dia (além de cadernos especiais devido a grandes eventos ou acontecimentos, como tornados, campeonatos esportivos ou outros acontecimentos importantes). O setor correspondente coloca os anúncios nas páginas antes de serem liberados para o setor de notícias. Como regra, os jornais imprimem um pouco mais de anúncios do que notícias. Os anúncios correspondem a 60% ou mais das páginas semanais, mas na edição de domingo é comum que as notícias tomem mais espaço do que os anúncios. A proporção de anúncios com relação a notícias deve ser alta porque os jornais não conseguem sobreviver sem os ganhos que os anúncios proporcionam. Os editores chamam este espaço deixado de "buraco na notícia". O setor de anúncios e o de notícias não influenciam no conteúdo um do outro.

Três tipos de anúncios dominam os jornais modernos:

anúncios de exibição - com fotos e gráficos, estes anúncios podem custar milhares de dólares, dependendo do tamanho. Estes anúncios, normalmente de lojas de departamento, cinemas e outros negócios, podem ser preparados por uma agência de publicidade ou pelo próprio departamento de anúncios. São chamados de carro-chefe e são responsáveis pela maior parte da renda;

anúncios classificados - normalmente chamados de classificados, são publicados em caracteres miniatura chamados de ágatas. Estes anúncios são de pessoas que querem comprar ou vender produtos, empresas procurando funcionários ou comerciantes oferecendo serviços. Os classificados têm preço acesssível, são populares e eficazes, atingindo milhares de prováveis consumidores;

folhetos - o terceiro tipo de anúncio é feito por grandes cadeias de lojas. Estes folhetos coloridos são colocadoss no meio do jornal para serem distribuídos com a edição de domingo. Os folhetos trazem ganhos menores do que os anúncios carro-chefe. Os jornais cobram para distribuir os folhetos, mas não tem controle sobre seu conteúdo ou qualidade de impressão.

Como é produzido um jornal?

O setor de produção faz o trabalho pesado. Nestes departamentos há especialistas que operam e fazem a manutenção das prensas, fotocompositoras, digitalizadores de imagens e máquinas de impressão fotográfica. Alguns funcionários trabalham no turno diurno, enquanto outros no noturno.
Com início em torno de 1970, os setores de produção de jornal iniciaram um movimento histórico longe da tecnologia de trabalho intenso das máquinas fotocompositoras Linotype e outras "de última geração" usadas em impressão em relevo. Esta foi a mesma técnica usada por Johannes Gutenberg no século XIV: imprimir uma página de papel diretamente em um bloco. A invenção da fotocomposição, baseada em processos fotográficos, acelerou a produção e reduziu os altos custos de despesas gerais da impressão em relevo. Além disso, a fotocomposição funcionava melhor com as novas prensas em offset que estavam começando a ser usadas.

A maioria dos jornais diários mudaram para alguma forma de impressão em offset. Este processo grava a imagem de uma página de jornal em chapas finas de alumínio (páginas com fotos ou letras coloridas precisam de mais chapas). Estas chapas, agora com a imagem positiva revelada a partir do negativo de uma página, vão para outros especialistas para colocação na prensa. Este processo é denominado offset porque as chapas de metal não encostam no papel que entra na máquina. Em vez disso, as chapas transferem a imagem feita com tinta para um rolo de borracha que imprime a página.
Embora as máquinas para impressão de jornais sejam grandes e barulhentas, são delicadas com o papel de imprensa, o papel de que é feito o jornal. Estas máquinas precisam ser delicadas pois o papel de imprensa é caro e deve passar por esses rolos enormes sem serem rasgados. Estas complexas máquinas de três andares, que podem custar mais de US$ 40 milhões, são chamadas de prensas rotativas, pois usam papel contínuo em vez de folhas individuais.

Além de colocar tinta no papel, a prensa também monta as páginas do jornal na seqüência correta. Tudo ocorre tão rápido que uma prensa em offset consegue produzir 70 mil cópias por hora na correia transportadora, que por sua vez manda as cópias para o setor de distribuição que já está aguardando.

Como são distribuídos os jornais?

A responsabilidade de levar o jornal da gráfica até o leitor é do setor de distribuição. Jornais grandes publicam dois, três ou até quatro edições, todas devendo estar prontas para deixar a gráfica em um horário determinado. A primeira edição, às vezes chamada de edição "buldogue", vai até os locais mais distantes da área de circulação. Isto pode significar vários municípios ou até mesmo um estado inteiro. As edições posteriores contêm notícias mais frescas e chegam até áreas menores. A edição final, que vai para impressão depois da meia-noite, contêm as notícias mais recentes, mas cobre uma área geográfica menor, normalmente uma cidade.

Qualquer assinante de um jornal diário sabe que ele é jogado em sua porta ainda de madrugada. Empresas terceirizadas chamadas de transportadoras compram os jornais com desconto e fazem a entrega, usando veículos próprios. Quando jornais vespertinos eram comuns, os veículos usados eram bicicletas. O primeiro emprego de muitos jovens americanos era como entregador de jornais pela vizinhança.

O departamento de circulação determina as rotas que os entregadores devem seguir. Este departamento também é responsável pelas vendas em máquinas de moedas. Ele mantém um registro de faturamento dos assinantes, interrompe e inicia as entregas mediante solicitação e usa mensageiros para entregar jornais que possam ter sido esquecidos.

Devido à circulação do jornal, o número de pessoas que o recebem tem grande impacto nos índices de anúncios. A Audit Bureau of Circulations (em inglês), agência independente de aferição de tiragens, examina e autoriza as quantidades para circulação. Isto assegura ao setor de anúncios e aos anunciantes que a demanda de circulação é válida.

Em 18 horas de trabalho bem coordenado, realizado por vários setores, o que as pessoas que trabalham em jornais chamam de "um rascunho da história" passa por sistemas de computador, máquinas de tratamento de imagens e impressões (que deixariam Gutenberg perplexo) indo até seu destino final, os leitores. Depois das 3h30 da manhã, poucas pessoas ficam na gráfica. Os funcionários de todos os outros setores já foram para casa. As prensas ficam silenciosas, talvez em manutenção pelo restante da noite. O silêncio repentino não dura muito. Em menos de quatro horas, o jornal desperta e começa tudo de novo.

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Bob Wilson é autor, escritor e redator de editorial no The Herald-Sun em Durham, N.C. Ele é formado pela University of Missouri School of Journalism e fez mestrado na Duke University. Ele também é autor de "Landing Zones: Southern Veterans Remember Vietnam" (1990, Duke University Press).

Fonte:

O Livro e A Editora

Livro é um volume transportável, composto por, pelo menos, 49 páginas, sem contar as capas, encadernadas, contendo texto manuscrito ou impresso e/ou imagens e que forma uma publicação unitária (ou foi concebido como tal) ou a parte principal de um trabalho literário, científico ou outro.

Em ciência da informação o livro é chamado monografia, para distingui-lo de outros tipos de publicação como revistas, periódicos, teses, tesauros, etc.

O livro é um produto intelectual e, como tal, encerra conhecimento e expressões individuais ou colectivas. Mas também é nos dias de hoje um produto de consumo, um bem e sendo assim a parte final de sua produção é realizada por meios industriais (impressão e distribuição). A tarefa de criar um conteúdo passível de ser transformado em livro é tarefa do autor. Já a produção dos livros, no que concerne a transformar os originais em um produto comercializável, é tarefa do editor, em geral contratado por uma editora. Uma terceira função associada ao livro é a coleta e organização e indexação de coleções de livros, típica do bibliotecário.

História

A história do livro é uma história de inovações técnicas que permitiram a melhora da conservação dos volumes e do acesso à informação, da facilidade em manuseá-lo e produzi-lo. Esta história é intimamente ligada às contingências políticas e econômicas e à história de idéias e religiões.

Antiguidade

Na Antiguidade surge a escrita, anteriormente ao texto a ao livro. A escrita consiste de código capaz de transmitir e conservar noções abstratas ou valores concretos, em resumo: palavras. É importante destacar aqui que o meio condiciona o signo, ou seja, a escrita foi em certo sentido orientada por esse tipo de suporte; não se esculpe em papel ou se escreve no mármore.

Os primeiros suportes utilizados para a escrita foram tabuletas de argila ou de pedra. A seguir veio o khartés (volumen para os romanos, forma pela qual ficou mais conhecido), que consistia em um cilindro de papiro, facilmente transportado. O "volumen" era desenrolado conforme ia sendo lido, e o texto era escrito em colunas na maioria das vezes (e não no sentido do eixo cilíndrico, como se acredita). Algumas vezes um mesmo cilindro continha várias obras, sendo chamado então de tomo. O comprimento total de um "volumen" era de c. 6 ou 7 metros, e quando enrolado seu diâmetro chegava a 6 centímetros.

O papiro consiste em uma parte da planta, que era liberada, livrada (latim libere, livre) do restante da planta - daí surge a palavra liber libri, em latim, e posteriormente livro em português. Os fragmentos de papiros mais "recentes" são datados do século II a.C..

Aos poucos o papiro é substituído pelo pergaminho, excerto de couro bovino ou de outros animais. A vantagem do pergaminho é que ele se conserva mais ao longo do tempo. O nome pergaminho deriva de Pérgamo, cidade da Ásia menor onde teria sido inventado e onde era muito usado. O "volumen" também foi substituído pelo códex, que era uma compilação de páginas, não mais um rolo. O códex surgiu entre os gregos como forma de codificar as leis, mas foi aperfeiçoado pelos romanos nos primeiros anos da Era Cristã. O uso do formato códice (ou códice) e do pergaminho era complementar, pois era muito mais fácil costurar códices de pergaminho do que de papiro.

Uma conseqüência fundamental do códice é que ele faz com que se comece a pensar no livro como objeto, identificando definitivamente a obra com o livro.

A consolidação do códex acontece em Roma, como já citado. Em Roma a leitura se dava tanto em público (para a plebe), evento chamado recitatio, como em particular, para os ricos. Além disso, é muito provável que em Roma tenha surgido pela primeira vez a leitura por lazer (voluptas), desvinculada do senso prático que a caracterizara até então. Os livros eram adquiridos em livrarias. Assim aparece também a figura do editor, com Atticus, homem de grande senso mercantil. Algumas obras eram encomendadas pelos governantes, como a Eneida, encomendada a Virgílio por Augusto.

Acredita-se que o sucesso da religião cristã se deve em grande parte ao surgimento do códice, pois a partir de então tornou-se mais fácil distribuir informações em forma escrita.

Idade Média

Na idade Média o livro sofre um pouco, na Europa, as consequências do excessivo fervor religioso, e passa a ser considerado em si como um objecto de salvação. A característica mais marcante da Idade Média é o surgimento do monges copistas, homens dedicados em período integral a reproduzir as obras, herdeiros dos escribas egípcios ou dos libraii romanos. Nos monastérios era conservada a cultura da Antiguidade. Apareceram nessa época os textos didáticos, destinados à formação dos religiosos.

O livro continua sua evolução com o aparecimento de margens e páginas em branco. Também surge a pontuação no texto, bem como o uso de letras maiúsculas. Também aparecem índices, sumários e resumos, e na categoria de gêneros, além do didático, aparecem os florilégios (coletâneas de vários autores), os textos auxiliares e os textos eróticos. Progressivamente aparecem livros em língua vernacular, rompendo com o monopólio do latim na literatura. O papel passa a substituir o pergaminho.

Mas a invenção mais importante, já no limite da Idade Média, foi a impressão, no século XIV. Consistia originalmente da gravação em blocos de madeira do conteúdo de cada página do livro; os blocos eram mergulhados em tinta, e o conteúdo transferido para o papel, produzindo várias cópias. Foi em 1405 surgia na China, por meio de Pi Sheng, a máquina impressora de tipos móveis, mas a técnologia que provocaria uma revolução cultural moderna foi desenvolvida por Johannes Gutenberg.

Idade Moderna

No Ocidente, em 1455, Johannes Gutenberg inventa a imprensa com tipos móveis reutilizáveis, o primeiro livro impresso nessa técnica foi a Bíblia em latim. Houve certa resistência por parte dos copistas, pois a impressora punha em causa a sua ocupação. Mas com a impressora de tipos móveis, o livro popularizou-se definitivamente, tornando-se mais acessível pela redução enorme dos custos da produção em série.

Com o surgimento da imprensa desenvolveu-se a técnica da tipografia, da qual dependia a confiabilidade do texto e a capacidade do mesmo para atingir um grande público. As necessidades do tipo móvel exigiram um novo desenho de letras; caligrafias antigas, como a Carolíngea, estavam destinadas ao ostracismo, pois seu excesso de detalhes e fios delgados era impraticável, tecnicamente.

Uma das figuras mais importantes do início da tipografia é o italiano Aldus Manutius. Ele foi importante no processo de maturidade do projeto tipográfico, o que hoje chamariamos de design gráfico ou editorial. A maturidade desta nova técnica levou, entretanto, cerca de um século.

Portugal

Em Portugal, a imprensa foi introduzida no tempo do rei D. João II. O primeiro livro impresso em território nacional foi o Pentateuco, impresso em Faro em caracteres hebraicos no ano de 1487. Em 1488 foi impresso em Chaves o Sacramental de Clemente Sánchez de Vercial, considerado o primeiro livro impresso em língua portuguesa, e em 1489 e na mesma cidade, o Tratado de Confissom. A impressão entrava em Portugal pelo nordeste transmontano. Só na década de noventa do século XV é que seriam impressos livros em Lisboa, no Porto e em Braga.

Na idade Moderna aparecem livros cada vez mais portáteis, inclusive os livros de bolso. Estes livros passam a trazer novos gêneros: o romance, a novela, os almanaques.

Idade Contemporânea

Cada vez mais aparece a informação não-linear, seja por meio dos jornais, seja da enciclopédia. Novas mídias acabam influenciando e relacionando-se com a indústria editoral: os registros sonoros, a fotografia e o cinema.

O acabamento dos livros sofre grandes avanços, surgindo aquilo que conhecemos como edições de luxo.

Livro eletrônico

De acordo com a definição dada no início deste artigo, o livro deve ser composto de um grupo de páginas encadernadas e ser portável. Entretanto, mesmo não obedecendo a essas características, surgiu em fins do século XX o livro eletrônico, ou seja, o livro num suporte eletrônico, o computador. Ainda é cedo para dizer se o livro eletrônico é um continuador do livro típico ou uma variante, mas como mídia ele vem ganhando espaço, o que de certo modo amedronta os amantes do livro típico - os bibliófilos.

Existem livros eletrônicos disponíveis tanto para computadores de mesa quanto para computadores de mão, os palmtops. Uma dificuldade que o livro eletrônico encontra é que a leitura num suporte de papel é cerca de 1,2 vez mais rápida do que em um suporte eletrônico, mas pesquisas vêm sendo feitas no sentido de melhorar a visualização dos livros eletrônicos.

A produção do livro

A criação do conteúdo de um livro pode ser realizada tanto por um autor sozinho quanto por uma equipe de colaboradores, pesquisadores, co-autores e ilustradores. Tendo o manuscrito terminado, inicia a busca de uma editora que se interesse pela publicação da obra (caso não tenha sido encomendada). O autor oferece ao editor os direitos de reprodução industrial do manuscrito, cabendo a ele a publicação do manuscrito em livro. As suas funções do editor são intelectuais e econômicas: deve selecionar um conteúdo de valor e que seja vendável em quantidade passível de gerar lucros ou mais-valias para a empresa. Modernamente o desinteresse de editores comerciais por obras de valor mas sem garantias de lucros tem sido compensado pela atuação de editoras universitárias (pelo menos no que tange a trabalhos científicos e artísticos).

Cabe ao editor sugerir alterações ao autor, com vista a ajustar o livro ao mercado. Essas alterações podem passar pela editoriação do texto, ou pelo acréscimo de elementos que possam beneficiar a utilização/comercialização do mesmo pelo leitor. Uma editora é composta pelo Departamento editorial, de produção, comercial, de Marketing, assim como vários outros serviços necessários ao funcionamento de uma empresa, podendo variar consoante as funções e serviços exercidos pela empresa. Na mesma trabalham os editores, revisores, gráficos e designers, capistas, etc. Uma editora não é necessariamente o produtor do livro, sendo que quase sempre essa função de reprodução mecânica de um original editado é feita por oficinas gráficas em regime de prestação de serviço. Dessa forma, o trabalho industrial principal de uma editora é confeccionar o modelo de livro-objeto, trabalho que se dá através dos processos de edição e composição gráfica/digital.

A fase de produção do livro é composta pela impressão (posterior à imposição e montagem em cadernos - hoje em dia digital), o alceamento e o encapamento. Podendo ainda existir várias outras funções adicionais de acréscimo de valor ao produto, nomeadamente à capa, com a plastificação, relevos, pigmentação, e outros acabamentos.

Terminada a edição do livro, ele é embalado e distribuido, sendo encaminhado para os diferentes canais de venda, como os livreiros, para daí chegar ao público final.
Pelo exposto acima, talvez devessemos considerar que a categoria livro seja a concepção de uma coleção de registros em algum suporte capaz de transmitir e conservar noções abstratas ou valores concretos. No início de 2007, foi noticiada a invenção e fabricação, na Alemanha, de um papel eletrônico, no qual são escritos livros.

Classificação dos livros

Os livros atualmente podem ser classificados de acordo com seu conteúdo em duas grandes categorias: livros de leitura seqüencial e obras de referência.

Cânones da literatura ocidental

Não é raro que se procure uma indicação de clássicos da literatura. Em 1994, o crítico americano Harold Bloom publicou a obra O Cânone Ocidental, em que discutia a influência dos grandes livros na formação do gosto e da mentalidade do ocidente. Bloom considera a tendência de se abandonar o esforço em se criar cânones culturais nas universidades, para evitar problemas ideológicos, problemática para o futuro da educação.

Editora

Uma editora ou casa editorial é uma organização que coordena a publicação de obras literárias, discográficas e impressos, como jornais e revistas. Em geral as editoras se especializam em um tipo de publicação e área: livros, partituras, livros didáticos, obras de referência, jornais, discos ou outros. Em geral também é a editora que arca com os custos de produção, divulgação e distribuição.

O termo correspondente a "editora" em inglês é publisher (livros) ou record label (discos). Uma das etapas de produção do texto é a edição, e o profissional encarregado também é chamado de editor ou editor de texto.

A editora contrata os profissionais de texto e arte para produção dos livros, custeia a impressão (gráfica), faz a divulgação e contrata uma distribuidora para colocar os livros nas livrarias, e media a interação dos leitores com autores.

Etapas da produção de um livro

As etapas, tarefas e agentes são:

Os autores, que criam o conteúdo e em geral também a versão de texto chamada original do autor.

Os escritores, redatores e pessoal de texto podem desenvolver a idéia do autor e redigir a primeira versão do texto a publicar, como em enciclopédias, biografias, manuais, livros didáticos. Segue-se a revisão do texto original, feita por editores de texto, revisores, copidesques, preparadores e outros que fazem o texto final.

Criação das elementos gráficos, ou imagens, chamadas genericamente de ilustrações: desenhos, fotografias, gráficos, tabelas.

O projeto gráfico (também chamado programação visual e design gráfico) determina como texto e elementos. Tal projeto varia do meramente funcional às criações artísticas, com qualidades também muito variadas.

Segue-se a etapa de paginação e revisão de provas, em que teoricamente o conteúdo não seria alterado mas dependendo do responsável pela revisão são feitas melhorias e/ou piorias.

Após o fechamento do arquivo e seu envio para gráfica, ocorre a impressão.

Divulgação, distribuição e venda

Antes de chegar ao leitor, o livro tem de ser divulgado, o que em geral é feito por jornalistas contratados pela editora, e distribuído. A editora pode fazer a distribuição mas as pequenas e médias costumam contratar distribuidores, que recebem porcentagem do preço de capa do livro (em torno de 20%).

A venda pode ser feita pela editora (por exemplo para o governo brasileiro, o maior comprador de didáticos) ou através de livrarias, que recebem os livros em consignação e os expõem para compradores e leitores.

Fontes:
FEBVRE, Lucien. O aparecimento do livro. São Paulo : Unesp, 1992.
KATZENSTEIN, Ursula. A origem do livro. Sao Paulo : Hucitec, 1986.
SCORTECCI, João. Guia do Profissional do Livro. São Paulo : Scortecci, 2007.
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