Ficção científica é uma forma de ficção desenvolvida no século XIX, que lida principalmente com o impacto da ciência, tanto verdadeira como imaginada, sobre a sociedade ou os indivíduos. O termo é usado, de forma mais geral, para definir qualquer fantasia literária que inclua o fator ciência como componente essencial, e num sentido ainda mais geral, para referenciar qualquer tipo de fantasia literária. Em inglês o termo ficção científica é as vezes abreviado para sci-fi ou SF.
O que é a ficção científica
Este tipo de literatura pode consistir numa cuidadosa e bem informada extrapolação sobre fatos e princípios científicos, ou abranger áreas profundamente rebuscadas, que contrariam definitivamente esses fatos e princípios. Em qualquer dos casos, o ser de forma plausível baseado na ciência é um requisito indispensável, e assim obras precursoras deste gênero, como o romance gótico de Mary Wollstonecraft Shelley, Frankenstein, ou o Prometeu Moderno (1818), ou a obra de Robert Louis Stevenson, O Médico e o Monstro (1886) são considerados ficção científica, enquanto que Drácula, de Bram Stoker (1897), não é. Há, evidentemente, muitos casos de obras que se situam na fronteira do gênero, usando a situação no espaço exterior ou tecnologia de aspecto futurista, apenas como decoração para narrativas de aventuras ou de romance, e outros temas dramáticos típicos; um bom exemplo é a série Star Wars (traduzida como Guerra nas Estrelas no Brasil e A Guerra das Estrelas em Portugal e outros países) e muitos filmes de ação produzidos por Hollywood. Os fãs da ficção científica hard vêem estes filmes como exemplos de fantasia, enquanto que o público em geral tende a colocá-los no âmbito da ficção científica.
Origens e precursores
A ficção científica só se tornou possível pela ascensão da ciência moderna, sobretudo pelas revoluções operadas na astronomia e na física. Além da antiquíssima literatura fantástica, que não é considerada para o efeito, o gênero teve precursores notáveis: viagens imaginárias à Lua ou a outros planetas no século XVIII e viagens espaciais no Micromegas, de Voltaire (1752), culturas alienígenas em Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift (1726), e elementos de ficção científica nas histórias de Edgar Allan Poe, Nathaniel Hawthorne e Fitz-James O'Brien, todos do século XIX. O verdadeiro início da ficção científica, contudo, dá-se no final do século XIX com os romances científicos de Júlio Verne, cuja ciência se situava ao nível da invenção, bem como com as novelas, cientificamente orientadas, de crítica social de H. G. Wells
Há outros precursores ilustres e mais antigos. O astrônomo Johannes Kepler (1571 - 1630) escreveu uma história, a que deu o título de Somnium (O Sonho), em que descreve uma viagem até outro planeta. Em 1656, o francês Savinien Cyrano de Bergerac escreveu Histoire Comique des États et Empires de la Lune, que relata também uma viagem até à Lua e a forma como os Selenitas vêem os terrestres.
O desenvolvimento da ficção científica como gênero consciente de si próprio data de 1926, quando Hugo Gernsback, que cunhou a palavra combinada scientifiction (que se poderia traduzir para português como cientificção), fundou a revista Amazing Stories, dedicada exclusivamente a histórias de ficção científica. Publicadas nesta e noutras revistas pulp com um sucesso grande e crescente, tais histórias não eram vistas pelos setores literários como literatura, mas sim como sensacionalismo. Com a chegada, em 1937, de um editor exigente, John W. Campbell, da Astounding Science Fiction (fundada em 1930) e com a publicação de contos e novelas por escritores como Isaac Asimov, Arthur C. Clarke e Robert A. Heinlein, a ficção científica emergiu como uma forma de ficção séria. As aproximações ao gênero por escritores que não se dedicavam exclusivamente à ficção científica, como Aldous Huxley, C. S. Lewis e Kurt Vonnegut, também adicionaram respeitabilidade. Capas de revistas com monstros de olhos esbugalhados e mulheres seminuas preservaram em muitas mentes a imagem de sensacionalismo.
Assistiu-se a um grande incremento na popularidade da ficção científica após a Segunda Guerra Mundial. Alguns trabalhos de ficção científica tornaram-se best-sellers. A crescente sofisticação intelectual do gênero e a ênfase em assuntos psicológicos e sociais mais latos alargaram de forma significativa o apelo da ficção científica junto do público leitor. Nos países anglo-saxônicos tomou-se consciência de ficção científica escrita noutras línguas, em especial na União Soviética e noutros países da Europa de Leste. É agora comum ver-se crítica séria ao gênero, e estuda-se ficção científica em instituições de ensino superior de várias partes do mundo (não no Brasil, no entanto), havendo especial interesse nas suas características literárias e na forma como ela se relaciona com a ciência e a sociedade.
Uma das características únicas do gênero é a sua forte comunidade de fãs, da qual muitos autores também fazem parte. Existem grupos locais de fãs um pouco por todo o mundo que fala inglês, e também no Japão, Europa e noutros locais. É freqüente que estes grupos publiquem os seus próprios trabalhos. Existem muitas revistas de fãs (e também algumas profissionais) que se dedicam apenas a informar o fã de ficção científica de todas as vertentes do gênero. Os principais prêmios da ficção científica, os Prêmios Hugo, são atribuídos pelos participantes da convenção anual Worldcon, que é organizada quase exclusivamente por fãs voluntários.
O trabalho dos escritores de ficção científica inclui previsões sobre sociedades futuras na Terra, análises das conseqüências da viagem interestelar e explorações imaginativas de outras formas de vida inteligente e das suas sociedades noutros mundos.
A ficção científica também se tem tornado popular na rádio, na histórias em quadrinhos, na televisão e no cinema.
Ficção científica feminista
Apesar da ficção científica ser um campo majoritariamente composto por homens, desde a década de 70 existe, principalmente nos EUA um crescimento na proporção de mulheres escrevendo dentro desse gênero literário, e além disso, escrevendo FC com uma perspectiva de gênero.
Algumas escritoras/escritos já se tornaram clássicos nessa nova ramificação de ficção científica que se mistura com a crítica feminista, como o The Female Man de Joanna Russ, Herland de Charlotte Gilman Perkins (livro que apesar de ter sido escrito no começo do século XX só foi editado em 1971), Dispossessed da Ursula Le Guin, Kindred da Octavia E. Butler.
Aproveitando-se da tendência à crítica social que a própria ficção científica possui, o que essas mulheres vão fazer é imaginar histórias que sacudam/denunciem/fraturem situações patriarcais. Por isso, muitas vezes, as histórias giram em torno de situações de utopia ou distopia.
A ficção científica feminista orienta-se para o desejo e a esperança de uma situação não-patriarcal, segundo Frances Bartkowski em seu Feminist Utopias:
“o espaço imaginado [da ficção utópica feminista] sempre implicou o aqui e agora de sua produção, seja implícita ou explicitamente. Essas ficções utópicas feministas nos contam tanto sobre o que é possível desejar, quanto sobre o que é necessário esperar. Elas são contos que impossibilitam e possibilitam condições de desejo."
Muitas das autoras, como é o caso da francesa Monique Wittig fazem de sua escrita um exercício prático de sua teoria, tentando subverter as categorias de gênero através da escrita. Nesse sentido a ficção científica feminista pode ser entendida como algum tipo de écriture feminine.
Nos EUA muita produção acadêmica tem sido feita a partir desses textos e existe uma comunidade grande de pessoas pensando o feminismo com os olhos da ficção científica. E parece que a utilização do texto literário como ferramenta para crítica e pensamento feministas abre novas possibilidades.
FICÇÃO CIENTÍFICA DO BRASIL
A Ficção Científica (FC) é um gênero literário que jamais atingiu no Brasil a popularidade e o número de publicações de países como Inglaterra e Estados Unidos. Ainda assim, foi e é praticada por diversos autores.
História
Os primeiros textos do gênero no país datam do século XIX, mas considera-se que o primeiro autor especializado foi Jerônymo Monteiro, a partir do segundo quarto do século 20. Nos anos 30, Berilo Neves publicou três livros de contos curtos de ficção científica.
Muitos autores brasileiros clássicos assinaram eventualmente obras que podem ser classificadas como de ficção científica ou algo próximo disso. Um exemplo é Machado de Assis (1839-1908), cuja noveleta O alienista tem alguma coisa a ver com o gênero. Monteiro Lobato, falecido em 1948 (época em que Jerônymo Monteiro se firmava como especialista em FC), produziu todo um universo ficcional infanto-juvenil - O Sítio do Picapau Amarelo - ao qual não faltam elementos de FC, como sugerem mesmo alguns títulos ("A chave do tamanho", "A reforma da natureza", "Viagem ao céu") mas que são basicamente fantasias. Entretanto ele produziu um romance adulto de FC pura, "O choque das raças" (ou "O presidente negro") que porém não goza de boa fama por seus aspectos de racismo e machismo. E outros autores da primeira metade do século XX também incursionaram no gênero, como Menotti del Picchia, Érico Veríssimo e Orígenes Lessa.
Um novo impulso à ficção científica escrita por brasileiros veio nos anos 60 e 70, com uma coleção de livros lançada pelo editor baiano Gumercindo Rocha Dorea ("GRD"), que passou a encomendar trabalhos dentro do gênero a autores já consagrados na literatura mainstream.
Foi nesta, a chamada "Geração GRD" - a partir do livro Eles herdarão a Terra, de Dinah Silveira de Queiroz, - que apresentou um começo de organização de autores brasileiros neste campo. A época viu a publicação de obras de Fausto Cunha, André Carneiro, Guido Wilmar Sassi, Antonio Olinto, Zora Seljan, Clovis Garcia e vários outros, alguns somente em contos isolados, saídos em antologias.
O principal nome revelado por GRD foi o escritor André Carneiro, considerado, ao lado de Bráulio Tavares, um dos melhores prosadores na história da Ficção Científica brasileira. Nos anos 80, o jornalista Jorge Luiz Calife, depois de conquistar fama como um dos inspiradores do romance 2010, de Arthur C. Clarke, lançou uma trilogia própria, Padrões de Contato.
Dentre as razões pelas quais acredita-se que a ficção científica não alcançou espaço entre as massas está a alegada falta de uma cultura em ciências exatas no Brasil.
Atualmente
Atualmente, a Ficção Científica no Brasil aparece de forma mais visível como elemento complementar em telenovelas ("Kubanacan" é um exemplo, assim como as telenovelas da autora Glória Perez), mas uma nova geração de autores, articulada inicialmente em torno de diversos fanzines e posteriormente vista na edição brasileira da revista Isaac Asimov Magazine (publicada entre 1990 e 1993) e, depois, da editora Ano-Luz (1997-2004), além de diversas outras iniciativas, mantém ocupados os editores de fanzines e o pequeno "fandom" literário local. A Ficção Científica brasileira também já atraiu interesse acadêmico, tendo gerado volumes escritos pelo estudioso e autor brasileiro Roberto de Sousa Causo, pelo historiador Francisco Alberto Skorupa, pela brasilianista norte-americana M. Elizabeth Ginway e pelo francês Eric Henriett, que aponta a produção brasileira no subgênero da História Alternativa como a mais original dessa vertente.
Existe uma revista mensal brasileira especializada em ficção científica, chamada Sci-Fi News, que atua há mais de 10 anos no mercado nacional, e cujo conteúdo aborda filmes, seriados estrangeiros, assim como livros e acontecimentos no mercado nacional. Com uma coluna mensal sobre o mercado de literatura, e recorrente publicação de contos inéditos do escritor Renato Azevedo, o veículo propõe o ato da leitura a um público mais acostumado ao estímulo visual da TV e da Internet.
A Sci-Fi News teve uma "filha", a Sci-Fi Contos com contos e noveletas inéditos e inspirados por séries e universos conhecidos, porém a iniciativa foi cancelada em sua terceira edição. Revistas como Starlog, Quark e Cine Monstro surgiram ao longo dos últimos anos, mas também deixaram de ser publicadas.
E após 20 anos da sua fundação, continua ativo o CLFC - Clube de Leitores de Ficção Científica, um dos mais longevos expoentes da comunidade independente de fãs do gênero. Com cerca de 500 membros registrados, o CLFC publica o fanzine Somnium, com trabalhos inéditos de FC, Fantasia e Horror.
Entre os nomes mais atuantes na atual geração encontram-se, além do próprio Causo, Octavio Aragão (organizador e criador do Universo Intempol, iniciativa brasileira de gerar uma "franchise" multimídia, como as estadounidenses "Jornada nas Estrelas" ou "Arquivo X"), Carlos Orsi Martinho, Fábio Fernandes, o premiado romancista e roteirista Max Mallmann e, talvez o mais bem-sucedido autor brasileiro dentro do gênero - com livros publicados no Brasil e Portugal - Gerson Lodi-Ribeiro.
A prova que o gênero está vivo e atuante é o surgimento de outros autores e projetos a partir da virada dos anos 90. Em 1995 O Cineasta então estreante na computação gráfica, Allan Bispo cria o 1o filme de curta metragem brasileiro a usar composição de imagens reais com computação gráfica e 100% finalizado em computador. Hollywood F/X, é uma paródia aos filmes de efeitos hollywoodianos da época. O filme teve grande repercurssão no Animamundi edição de 1997 e 98 no Rio e em S. Paulo. O mineiro Flávio Medeiros publicou o techno-thriller Quintessência. Atuando em outras mídias, o autor paulistano Rynaldo Papoy, com sua experiência de ator, criou o primeiro podcast brasileiro de ficção científica, – que pode ser ouvido no endereço –, o veterano Lodi-Ribeiro foi contratado pela Hoplon Infotainment para construir um universo literário como base para um game interativo chamado TaikoDom e o curta-metragem Céus de Fuligem, produção de Marco Nápoli, busca resgatar as influências do cinema hollywoodiano para nossa realidade. O ano de 2006 começou com o lançamento do romance Space Opera Véu da Verdade, do carioca João Marcelo Beraldo, que mais tarde viria a ser convidado para trabalhar junto à Gerson Lodi-Ribeiro no desenvolvimento do universo ficcional do jogo TaikoDom.
Além de iniciativas de editoras como a Record e Novo Século, o selo Unicórnio Azul, da Editora Mercuryo, retornou às atividades em meados de outubro de 2006 com lançamentos de autores nacionais como Octavio Aragão, com A Mão que Cria, e Gerson Lodi-Ribeiro, com o já clássico Outros Brasis. Ao mesmo tempo, a Novo Século reforçava seu acervo de livros sobre vampiros e de Fantasia; a Devir publicava A Corrida do Rinoceronte, de Roberto de Sousa Causo, e anunciava a republicação de O Jogo do Exterminador, de Orson Scott Card; e a Aleph presenteava o mercado com uma belíssima edição de O Homem do Castelo Alto, de Phillip K. Dick. Esta configuração positiva passou a definir um novo momento promissor para a ficção científica brasileira.
O que é a ficção científica
Este tipo de literatura pode consistir numa cuidadosa e bem informada extrapolação sobre fatos e princípios científicos, ou abranger áreas profundamente rebuscadas, que contrariam definitivamente esses fatos e princípios. Em qualquer dos casos, o ser de forma plausível baseado na ciência é um requisito indispensável, e assim obras precursoras deste gênero, como o romance gótico de Mary Wollstonecraft Shelley, Frankenstein, ou o Prometeu Moderno (1818), ou a obra de Robert Louis Stevenson, O Médico e o Monstro (1886) são considerados ficção científica, enquanto que Drácula, de Bram Stoker (1897), não é. Há, evidentemente, muitos casos de obras que se situam na fronteira do gênero, usando a situação no espaço exterior ou tecnologia de aspecto futurista, apenas como decoração para narrativas de aventuras ou de romance, e outros temas dramáticos típicos; um bom exemplo é a série Star Wars (traduzida como Guerra nas Estrelas no Brasil e A Guerra das Estrelas em Portugal e outros países) e muitos filmes de ação produzidos por Hollywood. Os fãs da ficção científica hard vêem estes filmes como exemplos de fantasia, enquanto que o público em geral tende a colocá-los no âmbito da ficção científica.
Origens e precursores
A ficção científica só se tornou possível pela ascensão da ciência moderna, sobretudo pelas revoluções operadas na astronomia e na física. Além da antiquíssima literatura fantástica, que não é considerada para o efeito, o gênero teve precursores notáveis: viagens imaginárias à Lua ou a outros planetas no século XVIII e viagens espaciais no Micromegas, de Voltaire (1752), culturas alienígenas em Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift (1726), e elementos de ficção científica nas histórias de Edgar Allan Poe, Nathaniel Hawthorne e Fitz-James O'Brien, todos do século XIX. O verdadeiro início da ficção científica, contudo, dá-se no final do século XIX com os romances científicos de Júlio Verne, cuja ciência se situava ao nível da invenção, bem como com as novelas, cientificamente orientadas, de crítica social de H. G. Wells
Há outros precursores ilustres e mais antigos. O astrônomo Johannes Kepler (1571 - 1630) escreveu uma história, a que deu o título de Somnium (O Sonho), em que descreve uma viagem até outro planeta. Em 1656, o francês Savinien Cyrano de Bergerac escreveu Histoire Comique des États et Empires de la Lune, que relata também uma viagem até à Lua e a forma como os Selenitas vêem os terrestres.
O desenvolvimento da ficção científica como gênero consciente de si próprio data de 1926, quando Hugo Gernsback, que cunhou a palavra combinada scientifiction (que se poderia traduzir para português como cientificção), fundou a revista Amazing Stories, dedicada exclusivamente a histórias de ficção científica. Publicadas nesta e noutras revistas pulp com um sucesso grande e crescente, tais histórias não eram vistas pelos setores literários como literatura, mas sim como sensacionalismo. Com a chegada, em 1937, de um editor exigente, John W. Campbell, da Astounding Science Fiction (fundada em 1930) e com a publicação de contos e novelas por escritores como Isaac Asimov, Arthur C. Clarke e Robert A. Heinlein, a ficção científica emergiu como uma forma de ficção séria. As aproximações ao gênero por escritores que não se dedicavam exclusivamente à ficção científica, como Aldous Huxley, C. S. Lewis e Kurt Vonnegut, também adicionaram respeitabilidade. Capas de revistas com monstros de olhos esbugalhados e mulheres seminuas preservaram em muitas mentes a imagem de sensacionalismo.
Assistiu-se a um grande incremento na popularidade da ficção científica após a Segunda Guerra Mundial. Alguns trabalhos de ficção científica tornaram-se best-sellers. A crescente sofisticação intelectual do gênero e a ênfase em assuntos psicológicos e sociais mais latos alargaram de forma significativa o apelo da ficção científica junto do público leitor. Nos países anglo-saxônicos tomou-se consciência de ficção científica escrita noutras línguas, em especial na União Soviética e noutros países da Europa de Leste. É agora comum ver-se crítica séria ao gênero, e estuda-se ficção científica em instituições de ensino superior de várias partes do mundo (não no Brasil, no entanto), havendo especial interesse nas suas características literárias e na forma como ela se relaciona com a ciência e a sociedade.
Uma das características únicas do gênero é a sua forte comunidade de fãs, da qual muitos autores também fazem parte. Existem grupos locais de fãs um pouco por todo o mundo que fala inglês, e também no Japão, Europa e noutros locais. É freqüente que estes grupos publiquem os seus próprios trabalhos. Existem muitas revistas de fãs (e também algumas profissionais) que se dedicam apenas a informar o fã de ficção científica de todas as vertentes do gênero. Os principais prêmios da ficção científica, os Prêmios Hugo, são atribuídos pelos participantes da convenção anual Worldcon, que é organizada quase exclusivamente por fãs voluntários.
O trabalho dos escritores de ficção científica inclui previsões sobre sociedades futuras na Terra, análises das conseqüências da viagem interestelar e explorações imaginativas de outras formas de vida inteligente e das suas sociedades noutros mundos.
A ficção científica também se tem tornado popular na rádio, na histórias em quadrinhos, na televisão e no cinema.
Ficção científica feminista
Apesar da ficção científica ser um campo majoritariamente composto por homens, desde a década de 70 existe, principalmente nos EUA um crescimento na proporção de mulheres escrevendo dentro desse gênero literário, e além disso, escrevendo FC com uma perspectiva de gênero.
Algumas escritoras/escritos já se tornaram clássicos nessa nova ramificação de ficção científica que se mistura com a crítica feminista, como o The Female Man de Joanna Russ, Herland de Charlotte Gilman Perkins (livro que apesar de ter sido escrito no começo do século XX só foi editado em 1971), Dispossessed da Ursula Le Guin, Kindred da Octavia E. Butler.
Aproveitando-se da tendência à crítica social que a própria ficção científica possui, o que essas mulheres vão fazer é imaginar histórias que sacudam/denunciem/fraturem situações patriarcais. Por isso, muitas vezes, as histórias giram em torno de situações de utopia ou distopia.
A ficção científica feminista orienta-se para o desejo e a esperança de uma situação não-patriarcal, segundo Frances Bartkowski em seu Feminist Utopias:
“o espaço imaginado [da ficção utópica feminista] sempre implicou o aqui e agora de sua produção, seja implícita ou explicitamente. Essas ficções utópicas feministas nos contam tanto sobre o que é possível desejar, quanto sobre o que é necessário esperar. Elas são contos que impossibilitam e possibilitam condições de desejo."
Muitas das autoras, como é o caso da francesa Monique Wittig fazem de sua escrita um exercício prático de sua teoria, tentando subverter as categorias de gênero através da escrita. Nesse sentido a ficção científica feminista pode ser entendida como algum tipo de écriture feminine.
Nos EUA muita produção acadêmica tem sido feita a partir desses textos e existe uma comunidade grande de pessoas pensando o feminismo com os olhos da ficção científica. E parece que a utilização do texto literário como ferramenta para crítica e pensamento feministas abre novas possibilidades.
FICÇÃO CIENTÍFICA DO BRASIL
A Ficção Científica (FC) é um gênero literário que jamais atingiu no Brasil a popularidade e o número de publicações de países como Inglaterra e Estados Unidos. Ainda assim, foi e é praticada por diversos autores.
História
Os primeiros textos do gênero no país datam do século XIX, mas considera-se que o primeiro autor especializado foi Jerônymo Monteiro, a partir do segundo quarto do século 20. Nos anos 30, Berilo Neves publicou três livros de contos curtos de ficção científica.
Muitos autores brasileiros clássicos assinaram eventualmente obras que podem ser classificadas como de ficção científica ou algo próximo disso. Um exemplo é Machado de Assis (1839-1908), cuja noveleta O alienista tem alguma coisa a ver com o gênero. Monteiro Lobato, falecido em 1948 (época em que Jerônymo Monteiro se firmava como especialista em FC), produziu todo um universo ficcional infanto-juvenil - O Sítio do Picapau Amarelo - ao qual não faltam elementos de FC, como sugerem mesmo alguns títulos ("A chave do tamanho", "A reforma da natureza", "Viagem ao céu") mas que são basicamente fantasias. Entretanto ele produziu um romance adulto de FC pura, "O choque das raças" (ou "O presidente negro") que porém não goza de boa fama por seus aspectos de racismo e machismo. E outros autores da primeira metade do século XX também incursionaram no gênero, como Menotti del Picchia, Érico Veríssimo e Orígenes Lessa.
Um novo impulso à ficção científica escrita por brasileiros veio nos anos 60 e 70, com uma coleção de livros lançada pelo editor baiano Gumercindo Rocha Dorea ("GRD"), que passou a encomendar trabalhos dentro do gênero a autores já consagrados na literatura mainstream.
Foi nesta, a chamada "Geração GRD" - a partir do livro Eles herdarão a Terra, de Dinah Silveira de Queiroz, - que apresentou um começo de organização de autores brasileiros neste campo. A época viu a publicação de obras de Fausto Cunha, André Carneiro, Guido Wilmar Sassi, Antonio Olinto, Zora Seljan, Clovis Garcia e vários outros, alguns somente em contos isolados, saídos em antologias.
O principal nome revelado por GRD foi o escritor André Carneiro, considerado, ao lado de Bráulio Tavares, um dos melhores prosadores na história da Ficção Científica brasileira. Nos anos 80, o jornalista Jorge Luiz Calife, depois de conquistar fama como um dos inspiradores do romance 2010, de Arthur C. Clarke, lançou uma trilogia própria, Padrões de Contato.
Dentre as razões pelas quais acredita-se que a ficção científica não alcançou espaço entre as massas está a alegada falta de uma cultura em ciências exatas no Brasil.
Atualmente
Atualmente, a Ficção Científica no Brasil aparece de forma mais visível como elemento complementar em telenovelas ("Kubanacan" é um exemplo, assim como as telenovelas da autora Glória Perez), mas uma nova geração de autores, articulada inicialmente em torno de diversos fanzines e posteriormente vista na edição brasileira da revista Isaac Asimov Magazine (publicada entre 1990 e 1993) e, depois, da editora Ano-Luz (1997-2004), além de diversas outras iniciativas, mantém ocupados os editores de fanzines e o pequeno "fandom" literário local. A Ficção Científica brasileira também já atraiu interesse acadêmico, tendo gerado volumes escritos pelo estudioso e autor brasileiro Roberto de Sousa Causo, pelo historiador Francisco Alberto Skorupa, pela brasilianista norte-americana M. Elizabeth Ginway e pelo francês Eric Henriett, que aponta a produção brasileira no subgênero da História Alternativa como a mais original dessa vertente.
Existe uma revista mensal brasileira especializada em ficção científica, chamada Sci-Fi News, que atua há mais de 10 anos no mercado nacional, e cujo conteúdo aborda filmes, seriados estrangeiros, assim como livros e acontecimentos no mercado nacional. Com uma coluna mensal sobre o mercado de literatura, e recorrente publicação de contos inéditos do escritor Renato Azevedo, o veículo propõe o ato da leitura a um público mais acostumado ao estímulo visual da TV e da Internet.
A Sci-Fi News teve uma "filha", a Sci-Fi Contos com contos e noveletas inéditos e inspirados por séries e universos conhecidos, porém a iniciativa foi cancelada em sua terceira edição. Revistas como Starlog, Quark e Cine Monstro surgiram ao longo dos últimos anos, mas também deixaram de ser publicadas.
E após 20 anos da sua fundação, continua ativo o CLFC - Clube de Leitores de Ficção Científica, um dos mais longevos expoentes da comunidade independente de fãs do gênero. Com cerca de 500 membros registrados, o CLFC publica o fanzine Somnium, com trabalhos inéditos de FC, Fantasia e Horror.
Entre os nomes mais atuantes na atual geração encontram-se, além do próprio Causo, Octavio Aragão (organizador e criador do Universo Intempol, iniciativa brasileira de gerar uma "franchise" multimídia, como as estadounidenses "Jornada nas Estrelas" ou "Arquivo X"), Carlos Orsi Martinho, Fábio Fernandes, o premiado romancista e roteirista Max Mallmann e, talvez o mais bem-sucedido autor brasileiro dentro do gênero - com livros publicados no Brasil e Portugal - Gerson Lodi-Ribeiro.
A prova que o gênero está vivo e atuante é o surgimento de outros autores e projetos a partir da virada dos anos 90. Em 1995 O Cineasta então estreante na computação gráfica, Allan Bispo cria o 1o filme de curta metragem brasileiro a usar composição de imagens reais com computação gráfica e 100% finalizado em computador. Hollywood F/X, é uma paródia aos filmes de efeitos hollywoodianos da época. O filme teve grande repercurssão no Animamundi edição de 1997 e 98 no Rio e em S. Paulo. O mineiro Flávio Medeiros publicou o techno-thriller Quintessência. Atuando em outras mídias, o autor paulistano Rynaldo Papoy, com sua experiência de ator, criou o primeiro podcast brasileiro de ficção científica, – que pode ser ouvido no endereço –, o veterano Lodi-Ribeiro foi contratado pela Hoplon Infotainment para construir um universo literário como base para um game interativo chamado TaikoDom e o curta-metragem Céus de Fuligem, produção de Marco Nápoli, busca resgatar as influências do cinema hollywoodiano para nossa realidade. O ano de 2006 começou com o lançamento do romance Space Opera Véu da Verdade, do carioca João Marcelo Beraldo, que mais tarde viria a ser convidado para trabalhar junto à Gerson Lodi-Ribeiro no desenvolvimento do universo ficcional do jogo TaikoDom.
Além de iniciativas de editoras como a Record e Novo Século, o selo Unicórnio Azul, da Editora Mercuryo, retornou às atividades em meados de outubro de 2006 com lançamentos de autores nacionais como Octavio Aragão, com A Mão que Cria, e Gerson Lodi-Ribeiro, com o já clássico Outros Brasis. Ao mesmo tempo, a Novo Século reforçava seu acervo de livros sobre vampiros e de Fantasia; a Devir publicava A Corrida do Rinoceronte, de Roberto de Sousa Causo, e anunciava a republicação de O Jogo do Exterminador, de Orson Scott Card; e a Aleph presenteava o mercado com uma belíssima edição de O Homem do Castelo Alto, de Phillip K. Dick. Esta configuração positiva passou a definir um novo momento promissor para a ficção científica brasileira.
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