quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Antonio Roberto Fernandes (Carta a São Fidélis)

Igreja Matriz de São Fidélis/RJ
Cidade de São Fidélis,
universo pequenino
dos meus dias de menino,
minhas noites de rapaz.
Cidade daquele tempo,
o tempo não volta mais. . .

Cidade com seus desfiles,
da Banda com suas tubas,
o "Barão de Macaúbas"
meu doce grupo escolar.
Cidade, nos seus desfiles
não posso mais desfilar.

Cidade dos meus estudos,
- ''pois quem estuda é que vence'' -
o Ginásio Fidelense,
a mundo a nascer do giz.
Cidade, quem sabe muito
é sempre mais infeliz.

Cidade, o velho cinema,
o amendoim torradinho,
o revólver do mocinho
com mil balas no tambor.
Cidade dos velhos filmes,
meu filme não tem mais cor.

Cidade, as nossas peladas
pelos terrenos baldios,
as pipas presas nos fios,
as brigas monumentais. . .
Cidade, eu saí do time
e os ventos sopram demais

Cidade, leilão, retreta,
roupa nova, ladainhas,
foguetório e barraquinhas
no vinte e quatro de abril.
Cidade, acabou a festa
e o seu menino sumiu.

Cidade, quede as lagostas,
os robalos, os dourados,
os peixes mais variados
que o rio pródigo dá?
Cidade, suas lagostas
fugiram do meu puçá.

Cidade, o povo na missa
e o sol nos vitrais batendo
vai a igreja acendendo
nas manhãs dominicais.
Cidade, na sua missa
eu não me ajoelho mais.

Cidade, fim-de-semana,
o amor queimando por dentro,
as moças todas no centro,
rodando pelo jardim.
Cidade daquela moça
que nunca ligou pra mim.

Cidade que dorme à beira
do Paraíba macio
e transpõe o largo rio
na ponte de um carro só.
Cidade, o laço da vida
só vai acertando o nó.

Cidade das ruas retas
que à noite ficam tão mortas
e agora são ruas tortas
pois a cidade cresceu.
Cidade das ruas tortas,
mais torto é o destino meu.

Fidélis de Sigmaringa
guia meus passos incertos
e nos seus braços abertos,
lá do alto do Matriz,
traz, num milagre, de volta
o tempo em que eu fui feliz. . .
---
Fontes

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Antonio A. de Assis (Missa em Trovas)



Em 1970, em Maringá, como ato de abertura do II Festival Brasileiro de Trovadores, foi celebrada pela primeira vez no Brasil a Missa em trovas, com versos de autoria do poeta maringaense A. A. de Assis, tendo como celebrante o então pároco da Catedral-Basílica de Nossa Senhora da Glória, Monsenhor Sidney Luiz Zanetini. Os trovadores visitantes levaram cópias da Missa, e desde então ela passou a ser celebrada em numerosas festas de trovas, em todo o Brasil, de Porto Alegre a Belém do Pará, tendo recebido inclusive uma bênção especial do papa João Paulo II. Em anos mais recentes, a Missa em trovas tem sido presidida em Maringá pelo Monsenhor Júlio Antônio da Silva (Padre Julinho), pároco da Catedral.

Para dar uma idéia, transcrevemos a seguir a oração de abertura da Missa em trovas:

Deus, no princípio, descerra
o palco da criação:
cria o céu e cria a terra
e enche de luz a amplidão.

Cria as águas e as reparte
em rios, lagos e mares,
e com ternura e com arte
cria os bosques e os pomares.

Coloca milhões de estrelas
na abóbada imensa e nua,
e acende no meio delas
o sol e em seguida a lua.

Faz que as águas se povoem
de peixes – grandes, pequenos,
e manda que as aves voem
com seus festivos acenos.

Num outro gesto ele faz
aparecer sobre a terra
toda espécie de animais:
os da planície e os da serra.

E o paraíso está feito,
e tudo está muito bem:
um mundo lindo, perfeito
em tudo o que ele contém.

E é nessa alegre paisagem
que Deus finalmente lança
alguém que é a sua imagem,
sua própria semelhança.

“Façamos – diz o Senhor –
o homem, e a companheira
com quem partilhe o esplendor
e a graça da terra inteira!”

Cria-os Deus na excelência
da justiça e da verdade,
e dá-lhes a inteligência
e a vontade e a liberdade.

Dá-lhes a luz, o calor;
dá-lhes o ar, o alimento;
dá-lhes o aroma da flor,
e a chuva e o luar e o vento.

E lhes confere o poder
de ter o mundo nas mãos,
e a missão de conceber
um grande povo de irmãos.

Fontes:
VICTOR, Agenir Leonardo. A Trova: o canto do povo. Maringá: Fac. Maringá, 2003.

Osman Lins (Conto de circo)

O Circo (Alvaro Alves de Faria)
Ergueu a cabeça e contemplou o lugar onde tantas vezes se aprestara para os seus breves triunfos no trapézio. No dia seguinte, desarmariam o Circo - pensava; e na próxima cidade, quando o reerguessem, ele estaria longe. Nunca, porém, haveria de esquecer aquela frágil armação de lona e tabique, as cadeiras desconjuntadas, o quebra-luz sobre o espelho partido e o modo como os aplausos e a música chegavam ali.

Baixou os olhos, voltou a folhear a revista. Em algum ponto do corpo ou da alma, doía-lhe ver o lugar do qual se despedia e que lembrava, de certo modo, o aposento de um morto, semelhança esta que seria maior, não fosse a indiferença quase rancorosa que o rodeava; pois a despedida iminente, só ele sentia. Os colegas - o equilibrista, aqueles dois que conversavam em voz baixa, todos enfim - sabiam de sua história e não haviam preparado a mínima homenagem. Pelo contrário: fingiam desconhecer tudo, procuravam irritá-lo. Ainda há pouco, quando entrara no camarim dos homens, os que lá se encontravam tinham respondido friamente à saudação dele, como se fizessem um favor. Sentara-se então num banco, apanhara aquela velha revista e começara a folheá-la, sem interesse, para fugir ao contato dessas 'pessoas que já o haviam excluído de seu mundo e que, desde alguns dias, raramente lhe dirigiam a palavra - com uma simplicidade afetada, esforçando-se para dar a entender que sua ausência não seria sentida. Teriam inveja, talvez. Ou desprezo. Que lhe importava, porém? Não precisava delas.
*****
Entretanto, desejaria confessar-lhes que não era espontâneo aquele abandono; que a culpa era da vida ou, pelo menos, de Aline, para quem o nomadismo e o mistério do Circo, dois anos antes, quando fugira com ele e o desposara, conservavam a mesma auréola da infância. Infelizmente - diria, se quisessem escutá-lo e valesse a pena contar - as coisas que a imaginação da mulher tão imperfeitamente esboçara com o passar dos meses haviam perdido o encanto. Por discretas e hábeis alusões, evitando magoá-lo, dava a entender que as freqüentes viagens a cansavam e que o mistério desaparecera. Até que um dia, quando se ultimavam os preparativos para nova viagem, não fora mais possível conter-se: com o olhar distante, forçando tranqüilidade, fingindo ignorar a extrema importância de suas palavras, dissera haver recebido carta do pai e que este o convidara para assumir a gerência de uma loja.

- E eu quero tanto uma casa! - prosseguira. - Não tenho jeito para viver eternamente assim, fazendo e desfazendo malas. Acho que não tenho sangue. E estou cansada. De tudo. De ir de um lugar para outro, de ter medo. Tenho medo que lhe aconteça alguma coisa, que eu fique viúva. Principalmente agora, que vamos ter um filho. Acho que não tenho sangue.

Eram motivos justos, qualquer um reconheceria. E se não fossem, seria isso razão suficiente para que não a atendesse? Não tinha nenhuma importância a doçura com que se expressara?

Mesmo assim - era bom esclarecer isso - ele nem sequer respondera. A profissão alegrava-o, seus números eram apreciados. Logo passaria a ganhar mais. Quando começasse a cansar, a sentir que seus músculos já não eram os mesmos, aí então... E se morresse antes disso?

A pergunta o intrigara. Embora estivesse em forma, seguro de sua arte, não pudera deixar de impressionar-se ante a maneira simples como a esposa falara nisso. Para os que o censuravam, a menção não teria importância; não trabalhavam a mais de dez metros do solo, não zombavam de forças às quais é perigoso querer fugir. Ele, sim. Desafiava-as, desafio temerário. Como não pensar se haveria a mulher notado algum declínio em sua técnica? Ou alguma frieza do público?

Bem sabia quanto lhe custara convencer-se de que a observação não tinha valor, e como ficara surpreso, quando, cerca de um mês depois, ao saber que um seu colega fora acidentado, pusera-se a imaginar com desusada insistência como pudera acontecer aquilo. Não fazia um ano que o vira pela última vez, a mover-se no trapézio com a desenvoltura de quem pisava chão firme; por duas ou três vezes fingira falhar, isso fazia parte de seu número; e seria, talvez, o que o aniquilara: falseara um movimento qualquer e, ao procurar retificá-lo, era tarde demais. Não havia, portanto, que intranqüilizar-se. Não lhe aconteceria tal coisa.

No entanto, como prosseguir, se tivesse de narrar sua história? Como falar, sem parecer covarde, na incomum excitação que se apoderara dele, nas estranhas amarras que'.o haviam tolhido quando iniciara os exercícios na manhã seguinte? Como determinar a natureza daquela ameaça invisível, que parecia envolvê-lo?

Seria igualmente difícil relatar o que lhe sucedera, quando confessara a Aline a impossibilidade de praticar naquela manhã e ela indagara, quase com alegria:

- Você também está com medo?

Sem dar resposta, voltara colérico ao Circo, fizera as acrobacias do costume; no fim de tudo, ao se precipitar sobre a rede e, com um salto elástico, alcançar o solo, sentia-se livre - não sabia de que - mas livre outra vez.

Entretanto, o mesmo não acontecera à mulher. Um temor exaustivo, crescente, estragava seus nervos, devagar; ela começara a ter vertigens, pesadelos, a alimentar-se mal. Ia com freqüência ao Circo; olhava o trapézio, media a distância entre este e o chão e odiava aquelas barras e cordas que lhe disputavam o marido e que, quando menos se esperasse, poderiam traí-lo.

Tornara-se irritadiça, calada, com acessos de raiva e prostração, não ouvindo os argumentos de que tudo isso era nocivo a ambos: seu medo persistia, mais intenso, absorvente, mais forte, até que ele próprio se sentira incapaz de ajuizar qual dos dois tinha razão - e, mal grado sua resistência, terminara por se contagiar daquele temor.
*****
Agora, porém, que se aproximava o instante de sua última exibição, ele estava confiante. Chegara ao fim da aventura. Mais alguns minutos - e começaria outra vida, uma vida sólida, mais calma. Faria os desejos de Aline. Não iria ser vítima de um desastre naquela última noite.

Não era possível. Mas seria realmente outra vida?

Os homens que conversavam tinham saído. O equilibrista deu um último retoque na cabeleira ondulada, trocou um sinal com a mulher através do tabique, escutou sua resposta e seguiu-o. O camarim ficou deserto; e isso fez com que todas as coisas parecessem vivas e mais próximas. Essa impressão oprimiu-o. Ergueu-se, como que para afastá-la de si; atirou a revista sobre o banco no qual estivera sentado, olhou num gesto automático o relógio-pulseira e começou a vestir-se. Tinha que ser assim - pensava. Algum dia, teria que fazer aquilo pela última vez. Decerto, não esperava abandonar tão cedo o espaço e assentar os pés no chão, como qualquer um. Mas já que havia de ser...

Contemplou-se ao espelho. Considerou os membros bem desenvolvidos, o busto musculoso sob a camiseta alvíssima e lançou um olhar para o manto púrpura, com o qual entraria em cena e subiria ao trapézio, de onde o deixaria tombar. Apanhou-o, saiu do camarim. Através de um orifício existente na cortina que dava acesso ao picadeiro, olhou para o público, quase imóvel, a atenção presa no casal de equilibristas, enquanto a banda tocava em surdina.

Pouco depois, estrugiram palmas. Os equilibristas jogaram as bolas para o ar, fizeram uma reverência e retiraram-se correndo. Ele recuou para deixá-los passar; quando voltou a observar pelo orifício, dois palhaços macaqueavam-nos, diziam asneiras e trocavam tapas, enquanto um empregado preparava os trapézios. Quando terminassem, ele entraria. Faltava pouco; alguns segundos, apenas. O coração começou a bater, opresso por desalentada amargura. Tanto tempo, tantos anos de prática, de renúncias. E agora...

Dedos frios e trêmulos tocaram-no, prenderam seu braço. Não se voltou; sabia a quem pertenciam. Num segundo, recordou os finos cabelos de Aline à brisa da noite, a alegria sufocada, culposa, a ânsia de fugir, o'desejo de voltar, seu belo rosto ardente, as mãos frias... E se houvesse voltado? refletiu. Seu rosto ficaria guardado na lembrança, ela nunca me faria mal, não estaria me tirando esses... esses... Foi um erro, foi um erro que eu dei.

Engoliu um soluço. A mão afastou-se e novamente o prendeu, medrosa. Ele sabia que à altura de seu ombro os olhos fitavam-no (talvez houvesse qualquer coisa a dizer). Mas não queria vê-los, nem desejava escutá-la.

Com um aperto na garganta, viu o empresário dirigir-se ao centro do Circo e erguer os braços. Os rumores foram cessando, isolando-se. Fez-se um murmurante silêncio. A voz elevou-se, áspera, pausada, fazendo a apresentação. Por fim, os braços ergueram-se mais e logo caíram, amortecidos. A banda começou a tocar a "Ondas do Danúbio". Ele fechou os punhos, com um gesto rápido desvencilhou-se de Aline, atirou o manto sobre os ombros e dirigiu-se ao picadeiro. Queria acabar o mais depressa possível com aquilo.

A seus pés, junto à grande cortina, a mulher observava-o. Viu-o subir a escadinha, experimentar as cordas, contemplar a platéia, fazer um gesto característico com a cabeça e desfazer-se do manto, que se enfunou suavemente, revolveu-se como grande labareda e caiu. Olhou, instantes depois, para a massa que o aplaudia, enquanto passavam pela sua memória conturbadas histórias lidas em revistas, assistidas no cinema ou contadas por outrem, de domadores estraçalhados no último espetáculo, toureiros fracassados na última corrida... Isso podia acontecer com o esposo - temeu. Era o que toda aquela gente esperava. ~e ele morresse, se despencasse do alto, mergulharia num imenso grito de horror - mas também de prazer. E todos que ali estavam teriam, muitos anos depois, a estranha vaidade de contar que o haviam visto morrer.

Aplausos entusiásticos fizeram-na olhar para cima. Ele estava de pé, sobranceiro, olhando aquela multidão que logo mais o absorveria. A esse pensamento, ela estremeceu. Acabara de reconhecer, de forma vaga e, mesmo assim, inteligível, que também amava no marido a exceção que ele era. Dentro em pouco, quando este descesse do trapézio, estaria anulado; e ela sentia que o amaria menos por isso. Devia desistir de seu intento, permitir que ele cumprisse o seu destino. Aquela música, as luzes, os aplausos, a força que sustinha o corpo e que, por sua vez, dependia dele, deviam conter um fascínio que ela nunca poderia entender. Não era justo, pois, que cedesse aos próprios temores e desejos e arrebatasse ao esposo todas essas coisas de indeterminado e insubstituível valor.

Inesperadamente, os braços soltaram as cordas; o corpo arrancou para o chão e ficou pendente da barra, à qual se prendia pelos tornozelos. Era apenas uma fase de seu trabalho - ela bem o sabia. Sentiu porém violenta frieza no peito; e quando, retesando os músculos, ele se agarrou às cordas e ficou de pé outra vez, ela não mais se lembrava das considerações que interrompera. Desejava, apenas, com irreprimível intensidade, que o espetáculo findasse, quanto antes, para nunca repetir-se.

Ele tirara o lenço, enxugara-se e dera impulso ao trapézio para o número final. A música silenciara, para que se ouvisse outra vez o empresário, com sua entonação trêmula, fingir-se emocionado e tentar incutir nos espectadores a noção do perigo que presidiria o número a ser executado. Quando se calou, os tambores começaram a rufar. A oscilação do trapézio aumentara; ao chegar ao máximo, os tambores pararam, com um último estertor, como se fossem dotados de vida e repentina morte os aniquilasse. Ouvia-se agora, nitidamente, o ranger das cordas sobre o solene silêncio. Chegara o instante. Aline, ao termo de uma oscilação, viu-o projetar-se no espaço e girar um segundo - talvez menos - no ar e distender-se rápido, alva seta dirigida ao solo, com uma barra de metal que vinha ao seu encontro, lenta demais, para alcançá-lo.

Ele sentiu o contato que o restituía à segurança e escutou os aplausos que pareciam vir de muito longe, de um mundo perdido, enquanto se lembrava turvam ente que tudo estava acabado. Mas não! Por mais que o desejasse, não poderia descer naquele instante. Sentia um quase desesperado desejo de apegar-se à aquela glória e uma certeza obscura de que nada poderia vencê-lo. Era senhor de seus movimentos, de sua perícia, nunca o deteriam as forças que esperavam apanhá-lo. Não resistiu, nem procurou resistir à tentação de desafiá-las mais uma vez, zombar do inimigo, mostrar-se invencível. Tornou ao seu trapézio, deu lhe novo impulso e saltou.

Minutos depois, embora já nada tivesse a temer, a mulher, de pé a seu lado, não se animava a dirigir-lhe a palavra. Olhava a chuva. E como não trouxera agasalho, queixava-se intimamente por ter que ficar ali, presa daquele aguaceiro, sentindo que os minutos se tornavam cada vez mais insuportáveis e tristes, pois a recompensa de seu triunfo era apenas uma infinita consternação. Tinha o sereno e cruel sentimento de que o destruíra ou o mutilara, impressão que recrudescia quando escutava as gargalhadas do público, divertindo-se agora com a pontomima final. Era preciso ir embora - pensou; aquela indiferença feria-a e, sem dúvida, magoava-o igualmente: parecia dizer que seu pequeno reinado já começara a ser esquecido. Sim, era preciso ir embora. Aquelas gargalhadas doíam e a involuntária mudez que guardavam entre si aumentava a angústia.

- Seus saltos foram formidáveis - disse, fazendo um esforço. - Quem o viu, não esquecerá nunca.

Não houve resposta. Ela mordeu os lábios e, afastando-se um pouco, estendeu a mão. A chuva amainara.

- Vamos? - perguntou.

Ele continuou mudo, as mãos nos bolsos, o olhar imóvel, preso na noite. Ela tomou-lhe o braço e sentiu, nos músculos tão seus conhecidos, uma resistência que a assustou. Quis ignorar essa linguagem, tentou afastar-se com o homem. Ele permaneceu inabalável. E como se tudo fosse dito através daquele braço, que se fez mais rijo, teve umas contrações que faziam pensar em soluços e foi cedendo, tornando-se flácido, até repousar numa espécie de silêncio, ela compreendeu que a batalha terminara contra os seus desejos, quando já supunha ter a vitória nas mãos e que seria inútil insistir. Do âmago de sua cólera, do sentimento de derrota e quase de rejeição, ascendeu um inesperado orgulho. Calada, apoiou a cabeça no braço do marido, estendeu a mão para seu ombro, sentiu a sua força. Ele cerrou os olhos, atraiu-a a si e inclinou o rosto contra os seus cabelos.

Fontes:
SALES, Herberto (organizador). Antologia de Contos Brasileiros. São Paulo: Ediouro, 2005. p. 39-46.
Imagem = http://campodetrigocomcorvos.zip.net

Balaio de Trovas IV


Trovas inseridas em Letras de Músicas:

Fica comigo esta noite
e não te arrependerás...
Lá fora o frio é um açoite,
calor aqui tu terás!
Adelino Moreira

Eu nasci naquela serra,
num ranchinho à beira-chão,
todo cheio de buraco,
onde a lua faz clarão...
Angelino de Oliveira

Serenô, eu caio, eu caio;
serenô, deixa cair...
serenô da madrugada
não deixou meu bem dormir...
Antônio Almeida

O teu nome principia
na palma da minha mão,
e cabe bem direitinho
dentro do meu coração!
Ary Barroso

Não me dou com terra roxa,
com a seca larga pó...
Na baixada do areião,
eu sinto um prazer maió!
Athos Campos e Serrinha

Com a filha de João
Antônio ia se casar,
mas Pedro fugiu com a noiva
na hora de ir pro altar...
Benedito Lacerda

A gente apenas repete
tudo o que escuta e que vê.
Oi, gente grande, eu queria
ser igualzinho a você!
Billy Blanco

Por entre fotos e nomes,
sem livros e sem fuzil;
sem fome, sem telefone,
no coração do Brasil...
Caetano Veloso

Estava à toa na vida,
o meu amor me chamou
pra ver a banda passar
cantando coisas de amor...
Chico Buarque de Holanda

Minha voz enternecida
já dourou os teus brasões
na expressão mais comovida
das mais ardentes canções..
Davi Nasser

Segredos de um caminhão,
fronteiras por desvendar...
Não diga que eu me perdi,
não mande me procurar!
Dominguinhos e Manduka

Peguei um Ita no Norte
pra vim pro Rio morá...
Adeus, meu pai, minha mãe;
adeus, Belém do Pará!
Dorival Caymi

Dentre as manias que eu tenho,
uma é gostar de você.
Mania é coisa que a gente
tem mas não sabe por quê...
Flávio Cavalcante

Prepare o seu coração
pras coisas que eu vou contar.
Eu venho lá do sertão,
e posso não lhe agradar...
Geraldo Vandré

Minha mãezinha querida,
mãezinha do coração,
te adorarei toda a vida
com uma grande emoção!
Getúlio Macedo

As moças de Vila Bela
não têm mais ocupação
e só vivem na janela
namorando Lampião...
Hervê Cordovil

Só nós dois é que sabemos
quanto nos queremos bem...
Só nós dois é que sabemos,
só nós dois e mais ninguém!
Joaquim T. Pimentel

Minha casa, que tem tudo,
tanta coisa de valor,
minha casa não tem nada;
vive só, sem teu amor!
Joubert de Carvalho

Na alameda da poesia,
chora rimas o luar...
Madrugada... e Ana Maria
sonha sonhos cor do mar...
Juca Chaves

Este é o exemplo que damos
aos jovens recém-casados:
que é melhor se brigar juntos
do que chorar separados!
Lupicínio Rodrigues

Quando estou nos braços teus,
sinto o mundo bocejar...
Quando estás nos braços meus,
sinto a vida descansar!
Luiz Vieira

O nosso amor traduzia
felicidade, afeição,
suprema glória que um dia
tive ao alcance da mão!
Mário Rossi

Depois da curva da estrada
tem um pé de araçá...
Sinto vir água nos olhos
toda vez que passo lá!
Renato Teixeira

Não preciso nem dizer
tudo isto que lhe digo,
mas é muito bom saber
que você é meu amigo.
Roberto e Erasmo Carlos

Muita gente cai à toa,
outros caem com razão...
A saudade é uma garoa
caindo no coração.
Roberto Martins

Olho o sol findando lento,
sonho o sonho de um adulto:
minha voz na voz do vento
indo em busca do teu vulto...
Sérgio Bittencourt

Eis aqui este sambinha
feito de uma nota só...
Outras notas vão entrar,
mas a base é uma só...
Tom Jobim

Tomara que chova logo,
tomara, meu Deus, tomara...
Só deixo o meu cariri
no último pau-de-arara!
Venâncio Curumbá

Esta porta não se fecha,
tem o emblema de uma cruz.
Contra ela não há queixa:
são os braços de Jesus!
Vicente Celestino

Um velho calção de banho,
o dia pra vadear...
Um mar que não tem tamanho
e um arco-íris no ar!
Vinícius de Moraes
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Fonte:
VICTOR, Agenir Leonardo. A Trova: o canto do povo. Maringá: Fac. Maringá, 2003.

Dicas Tilibra (Como Escrever Melhor)



Neste quesito falaremos em outras postagens, baseado no livro Superdicas para escrever bem diferentes tipos de textos, de Edna M. Barian Perrotti.
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Escrever bem é saber expressar idéias clara, rápida e persuasivamente. Uma boa redação revela capacidade de raciocínio e esforço pessoal - mesmo para aqueles que têm mais facilidade.

Para ajudar você a escrever melhor, no trabalho ou na escola, a Tilibra preparou algumas dicas, cedidas gentilmente pelas Empresas Ogilvy & Mather, um dos maiores conglomerados de Comunicação do Brasil e do Mundo.

A Tilibra lhe oferece essas dicas esperando que, com elas, sua autobiografia seja escrita com muitas páginas de sucesso.

1. Tenha sempre em mente que o tempo do leitor é limitado.

O que você escrever deve ser entendido na primeira leitura.

Se você quer que seu trabalho seja lido e analisado por seus superiores, seja breve. Quanto menor o texto, maior a chance de ser lido por eles. Durante a 2ª Guerra Mundial, nenhum documento com mais de uma página chegava à mesa de Churchill.

2. Saiba onde você quer chegar.

Antes de redigir, faça um esboço, listando e organizando suas idéias e argumentos. Ele lhe ajudará a não se desviar da questão central.

Comece parágrafos importantes com sentenças-chave, que indiquem o que virá em seguida.

Conclua com parágrafo resumido.

3. Torne a leitura fácil e agradável.

Os parágrafos e sentenças curtos são mais fáceis de ler do que os longos. Mande telegramas, não romances.

Para enfatizar, sublinhe sentenças e enumere os pontos principais (como fizemos com essas "dicas").

4. Seja direto.

Sempre que possível, use a voz ativa.

Voz Passiva - "Estamos preocupados com que nosso projeto não seja aprovado, o que poderia afetar negativamente nossa fatia de mercado".

Voz Ativa - "Acreditamos que esse projeto é necessário para manter nossa fatia de mercado".

5. Evite "clichês".

Use suas próprias palavras.

Clichê - O último, mas não menos importante...

Direto - Por último...

6. Evite o uso de advérbios vagos.

E não esclarecedores, como "muito", "pouco", "razoavelmente".

Vago - O projeto está um pouco atrasado.

Direto - O projeto está uma semana atrasado.

7. Use uma linguagem simples e direta.

Evite o jargão técnico e prefira as palavras conhecidas. Não esnobe o seu português.

Jargão - Input, Output.

Português comum - Fatos/informações, resultados.

8. Ache a palavra certa.

Use palavras de que você conheça exatamente o significado. Aprenda a consultar o dicionário para evitar confusões.

Palavras mal-empregadas são detectadas por um bom leitor e depõem contra você.

9. Não cometa erros de ortografia.

Em caso de dúvida, consulte o dicionário ou peça a alguém para revisar seu trabalho. Uma redação incorreta pode indicar negligência de sua parte e impressionar mal o leitor.

10. Não exagere na elaboração da mensagem.

Escreva somente o necessário, procurando condensar a informação.

Seja sucinto sem excluir nenhum ponto-chave.

11. Ataque o problema.

Diga o que você pensa sem rodeios. Escreva com simplicidade, naturalidade e confiança.

12. Evite palavras desnecessárias.

Escreva o essencial. Revise e simplifique.

Não Escreva : Plano de Ação
Escreva: Plano

Não Escreva: Fazer um debate
Escreva: Debater

Não Escreva: Estudar em profundidade
Escreva: Estudar

Não Escreva: No evento de
Escreva: Se

Não Escreva: Com o propósito de
Escreva: Para

Não Escreva: A nível de Diretoria
Escreva: Pela Diretoria

13. Evite abreviações, siglas e símbolos.

O leitor pode não conhecê-los.

14. Não se contente com o primeiro rascunho.

Reescreva. Revise. Acima de tudo, corte. Quando se tratar de um trabalho importante, faça uma pausa, entre o primeiro e o segundo rascunho, de pelo menos uma noite.

Volte a ele com um olhar crítico e imparcial.

15. Peça a um colega para revisar seus trabalhos mais importantes.

E dê total liberdade para comentários e sugestões.

Fonte:
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/ednilsom-comunicacao/dicas-tilibra.html#aprender

Caldeirão Literário do Alagoas (Arriete Vilela - Guimaraens Passos - Rosiane Rodrigues)


Arriete Vilela (1949)

POEMA N. 4
Preciso sempre
ir dentro de mim:

confiro-me.

E quando emerjo,
sou rochedo descobrindo-se
com a baixa da maré.

POEMA N. 11

Não quero mais
que o mergulho no mar,
a cara virada para o sol,
o esquecimento:

alma boiando à deriva,
como se fora tábua
despregada do casco
de algum velho barco.

POEMA N. 21

Hoje farejas indícios
de novas trilhas,
velas o teu coração tornado
ríspido, brumoso,
e vais às praças públicas colher
um súbito rosto.

Hoje tenho nos olhos
somente a dança das
estrelas cadentes
fazendo-se mar e poesia:
a minha melhor
porção diária de vida.

POEMA N. 26

Da janela sobre o mar,
sem saudades eu dou adeus
a mim mesma;

faço-me outra,
e nova.

Quero trazer-me alegre
à luz do dia ou da noite,
sossegar-me nas trovoadas,
evitar as esporas do vento
nos meus cabelos.

Inútil esforço,
Sei. Aos meus olhos
cola-se, diariamente,
uma alma de estopa áspera,
embora rara.

POEMA N. 28

Os meninos de rua
Parecem pardais urbanos:

em ligeiros vôos
acham-se em toda parte,
aproveitam restos de toda sorte.

Tropical
é algazarra de suas vozes,
quando se ajuntam;

seus gestos e jeitos,
de uma graça desavisada,
assustam e comovem.

Atentíssimo dever ser
o anjo da guarda dos meninos de rua,
esses tantos pardais urbanos.

POEMA N. 29

Vou me sabendo sem remansos.
Por vezes o mar estronda
dentro de mim
e tempestades medonhas me obrigam
a descer aos porões, a reconhecer-me
nas escotilhas fechadas da minha
incômoda solidão.

Difícil reconhecimento, porém.
Eu já sou muitas.
Meus olhos, é verdade,
ainda se mantêm amorosamente
indiscretos, e minha alma busca
da palavra as seduções segredosas
que me ardem no peito.

Mas já não me deixo
Possuir.
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Biografia da Autora

Arriete Vilela, Poeta e contista, nasceu em Marechal Deodoro, Alagoas, em 1949, é professora de Literatura da Universidade Federal de Alagoas. Já recebeu numerosos prêmios, tendo sido distinguida como mérito cultural da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro com a obra Lãs ao vento.

“Dona de uma obra que tematiza a Palavra e, em conseqüência, a escritura (suas possibilidades, conseqüências e responsabilidades), Arriete Vilela abre seu novo livro com João Cabral de Melo Neto: “Escrever é estar no extremo de si mesmo”, anunciando o que se vai experimentar até alcançar o ponto final indicado na epígrafe: a luta com, na e pela Palavra, para dar corpo a realidades, que, em última instância, são mesmo lãs ao vento: “Palavra: um modo metonímico de me fazer legar uma escritura de esfacelamentos, de recortes da realidade, de bordejos e de desesperanças.”, diz o texto, e dispensa explicações sobre esse “metonímico” que não pôde ser evitado.” Sônia van Dijck

Bibliografia: Eu, em versos e prosa (1970), 15 poemas de Arriete (1974), Recados (1978), Para além do avesso da corda (1980), Remate (1983), Farpa (1988), A rede do anjo (1992), Dos destroços, o resgate (1994), O ócio dos anjos ignorados (1995), Tardios afetos (1994), Vadios afetos (1999), Frêmito (2003), Lãs ao vento (2005).
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Guimaraens Passos (1867-1909)

XXXIV
Na terra estava quando te queria
De todas as mulheres diferente,
E olhando a altura com o fervor dum crente
Em nuvem de ouro a tua imagem via.

Na asa encantada que a paixão me abria
Subi, para buscar-te unicamente,
E em cima estando vi-te, de repente,
Na terra, no lugar donde eu saía.

Olhos de amante, que de tal maneira
Andam cheios de lúcida loucura,
Que assim se perdem na maior cegueira.

E vendo aquilo que não há, decerto,
Sonham longe a ilusão de uma ventura
E não vêem a ventura que têm perto.

Versos de um simples (1891)
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PUBESCÊNCIA
A Emílio de Menezes

Ei-la! Chega ao jardim, que estava triste,
Porque a sua alegria ausente estava,
E ela, que em vê-lo dantes se alegrava,
Agora a toda a tentação resiste:

Seria outra alma, pensa, que a animava?
Por que um desejo que a persegue insiste?
Qualquer cousa que ignora, mas que existe,
Pulsa-lhe ao coração que não pulsava.

Triste cismando segue, e em frente à fonte:
— Um sátira, de cuja boca escorre
Um fino fio d'água transparente —

Ri-se, dos cornos que lhe vê na fronte,
Os lábios cola aos dele, e porque morre
De sede, bebe alucinadamente.

Versos de um simples (1891)

GUARDA E PASSA

... Non me destar, deh! parla basso
Michelangelo

Figuremos: tu vais (é curta a viagem),
Tu vais e, de repente, na tortuosa
Estrada vês, sob árvore frondosa,
Alguém dormindo à beira da passagem.

Alguém, cuja fadiga angustiosa
Cedeu ao sono, em meio da romagem,
E exausto dorme ... Tinhas tu coragem
De acordá-lo? responde-me, formosa.

Quem dorme esquece ... pode ser medonho
O pesadelo que entre o horror nos fecha;
Mas sofre menos o que sofre em sonho.

Oh! tu, que turvas o palor da neve,
Tu, que as estrelas escureces, deixa
Meu coração dormir... Pisa de leve.

Horas mortas (1901)
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VILANCETE

Saudades mal compensadas,
Por que motivo as tomei?
Como agora as deixarei?

Voltas

Hoje por coisas passadas,
E só por vosso respeito,
Varado vejo meu peito,
­Senhora, por Sete Espadas,
Saudades mal compensadas
Destes-me rindo, e não sei
Por que motivo as tomei ...

Busquei-vos por brincadeira,
Aceitastes-me por brinco;
Quis-vos depois com afinco,
Não me quis vossa cegueira.
Vejo-me desta maneira ...
Penas que eu próprio busquei,
Como agora as deixarei?

Horas mortas (1901)
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... DEPOIS

Para mim, pouco importa a recompensa
Dos meus carinhos, quando te procuro;
Dirão que tens um coração tão duro,
Que pedra alguma há que em rijeza o vença.

Dirão que a calculada indiferença
Com que tu me recebes, é seguro
Condão que tens, de todo o meu futuro
Trocar, sorrindo, em desventura imensa.

Dirão... Que importa a mim/ Dá-me o teu leito,
Dá-me o teu corpo, fecha-me nos braços,
Une os lábios aos meus, o peito ao peito,

Que eu nem saiba qual seja de nós dois...
Mentem teus beijos/ mentem teus abraços?
Será tudo mentira... mas depois.

Horas mortas (1901)
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NIHIL

Sem aos outros mentir, vivi meus dias
desditosos por dias bons tomando,
das pessoas alegres me afastando
e rindo às outras mais do que eu sombrias.

Enganava-me assim, não me enganando;
fiz dos passados males alegrias
do meu presente e das melancolias
sempre gozos futuros fui tirando.

Sem ser amado, fui feliz amante;
imaginei-me bom, culpado sendo;
e se chorava, ria ao mesmo instante.

E tanto tempo fui assim vivendo,
de enganar-me tornei-me tão constante,
que hoje nem creio no que estou dizendo.
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XLI

Crianças fomos, como tal, tu, louca
de amores foste e eu, louco, te imitava,
então pelos teus olhos eu me olhava
e tu falavas pela minha boca.

E para nós tão cheia se mostrava
a vida que, por certo, havia de oca
ser para os outros; pena que foi, pouca
fosse para quem rindo a desfrutava.

Os anos foram breves como dias;
os dias como as horas foram breves;
esqueçamos passadas fantasias,

que, se eu fui louco, e se tu foste louca,
já por meus olhos hoje vejo e deves
ver que hoje falas pela tua boca.
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Sobre o Autor
Sebastião Cícero dos Guimarães Passos nasceu em Maceió, Alagoas, no dia 22 de março de 1867, e faleceu em Paris, no dia 9 de setembro de 1909. Trans­ferindo-se para o Rio de Janeiro com menos de vinte anos de idade, ali fez parte da famosa roda boêmia de Olavo Bilac. Exerceu o jornalismo, escrevendo versos, contos e crônicas em diversos periódicos, às vezes com pseudônimo. Foi nomeado arquivista da Secretaria da Mordomia da Casa Imperial, cargo que perderia com a proclamação da República. Foi exilado ao tempo de Floriano Peixoto.

Obra poética: Versos de um simples (1891), Horas mortas (1901) e os versos humorísticos de Pimentões (1897), em parceria com Bilac, com quem assinou também um compêndio de metrificação. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. FONTE: Parnasianismo/ seleção e prefácio de Sânzio de Azevedo. São Paulo: Global, 2006. 153 p. (Col. Roteiro da Poesia brasileira)
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Rosiane Rodrigues (1948)

ESCULTURA

anjo bate asas
horizonte deserto
beijo de chuva
de suave gesto

arco-íris e flechas
contra o tempo
esculpindo amor
a favor do vento

DESEJO

longe,
o coração
pranteia

perto,
acelera
e baqueia

fonte
do desejo
permeia
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QUIMERA

aquela imagem
ainda cintila
como miragem

a voz caliente
na mente destila
enfraquecida

o sonho se inflama
e a realidade
apaga a chama
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TEMPESTADE

nuvem passageira
doce manjar dos céus
altaneira

estrelas ladrilham
passos solitários
trilham

cálida noite
tragar de chuva
açoite
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Sobre a Autora

Rosiane Rodrigues Cavalcanti é natural de Piranhas, Alagoas, nascida em 14 de junho de 1948. Médica psiquiatra e professora universitária, fez cursos d pós-graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro e na Fundação São Camilo de São Paulo.

Poeta e compositora, é membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, Grupo Literário Alagoano, Associação Alagoana de Imprensa, Confederação Internacional de Autores e Compositores, Sociedade Independente de Compositores e Autores Musicais e Sócia Honorária Ada Academia Maceiosense de Letras.

Obras publicadas: O inocente (1967), Alma e Poesia (1977), Uma vida simplesmente (1983), Pêndulo da vida (1985), Chispada (1986), Bico de luz (1990), Piranhas, retrato de uma cidade (1999), Pequeno Dicionário de uma Psiquiatra (2001) e A tentação do anjo (2001).
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Fontes:
Texto e retratos = http://www.antoniomiranda.com.br/
Retrato Guimaraens Passos = http://www.biblio.com.br/

O Nosso Português de Cada Dia (Aluga-se/ Vende-se)



É correta a expressão Aluga-se casas?

Não, não é. O verbo alugar, nesse tipo de frase, deve concordar em número com a palavra que vier depois. Se a palavra estiver no singular o verbo ficará no singular. No entanto, se a palavra estiver no plural, então o verbo ficará no plural. Por isso o correto é dizer Alugam-se casas, com o verbo no plural, pois a palavra casas está no plural. Da mesma forma o correto é:

Aluga-se moto, mas se a palavra moto vier no plural, então fica: Alugam-se motos.
Aluga-se apartamento, mas ALUGAM-se apartamentos.

O mesmo caso acontece com o verbo vender. Assim, o correto é:

Vende-se casa, mas Vendem-se casas;
Vende-se moto, mas vendem-se motos e assim por diante.

Fonte:
Prof. Dr. Ozíris Borges Filho
http://www.movimentodasartes.com.br

Miguel Perrone Cione (O Poeta)

Dadaismo (Hans Arp)
O poeta sempre foi, em todas as épocas, o criador e o mensageiro de uma das mais belas produções artísticas que a espiritualidade e os sentimentos humanos conseguiram idealizar.

Dono da inspiração e da arte, coloca em versos um mundo de emoções; por essa razão, a poesia, que é imortal, atravessa épocas e gerações.

De todas as composições poéticas, à que mais eu me afeiçôo é o soneto.

Com poucas palavras e mais sentimentos, agrada a todos. Não há poeta, mesmo durante o Pré-Modernismo ou no Modernismo, que não tenha sido ou não seja autor de sonetos.

Sonetos não se fabricam. Atrás de um soneto, sempre existe algo de intimista: uma felicidade que está fugindo, uma esperança que empalidece ou a dor de uma saudade.

Socialmente falando de forma global, o poeta sempre sonha com dias melhores e mais humanos.

Dentro do que podemos chamar de sonetismo, há sonetos que são verdadeiras jóias literárias, alguns dos quais nesta minha coluna já tenho mencionado com seus autores.

Vamos hoje focalizar o 4.? Príncipe dos Poetas Brasileiros, Guilherme de Almeida, pré-modernista e modernista, com seu soneto Essa que eu hei de amar:

Essa que eu hei de amar perdidamente um dia,
será tão loura, e clara, e vagarosa, e bela,
que eu pensarei que é o sol que vem, pela janela,
trazer luz e calor a esta alma escura e fria.

E, quando ela passar, tudo o que eu não sentia
da vida há de acordar no coração, que vela...
E ela irá como o sol, e eu irei atrás dela
como sombra feliz... — Tudo isso eu me dizia,

quando alguém me chamou. Olhei: um vulto louro,
e claro, e vagaroso, e belo, na luz de ouro
do poente, me dizia adeus, como um sol triste...

E falou-me de longe: “Eu passei a teu lado,
mas ias tão perdido em teu sonho dourado,
meu pobre sonhador, que nem sequer me viste!”.

Vejam só que sutileza na maneira de sofrer algo que o destino, talvez, tenha desviado do seu caminho...

Dizem que o poeta é um sonhador... – Sonha, Poeta!, que o mais belo da vida é sonhar...
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Fontes:
http://www.movimentodasartes.com.br/miguelcione/default.htm
Pintura = http://www.grupoescolar.com

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Alvaro Viotti Vieira assume a Cadeira 27. da Academia Sorocabana de Letras


A Academia Sorocabana de Letras dará posse no dia 9 (terça-feira) às 20 horas, ao escritor ÁLVARO VIOTTI VIEIRA como novo titular da Cadeira nº 27, antes ocupada por Mario Barboza de Matos, que tem como Patrono João Simões Lopes Neto. A solenidade será realizada no auditório da Academia de Ensino Superior (Rua Romeu do Nascimento, 777, Jardim Portal da Colina) a partir das 20 horas.

O novo Acadêmico será introduzido no plenário por três Acadêmicos e fará o discurso de elogio do Patrono e do seu antecessor e instituidor da Cadeira nº 27, o Acadêmico Mário Mattos. Este, em maio, por proposta da Diretoria e decisão do Plenário, foi promovido à categoria de Sócio Honorário por haver fixado residência há mais de uma década em Capão do Leão (RS), nas vizinhanças de Pelotas. Historiador e estudioso e animador do Movimento Tradicionalista Gaúcho, Mário Mattos, criador de muitos dos cartazes da Semana do Tropeiro em Sorocaba, atualmente dedica-se intensivamente às artes plásticas e à pesquisa literária.

Este ano, ele dividiu com um dos maiores críticos literários do Rio Grande do Sul, Flávio Loureiro Chaves, o Prêmio 300 Onças, criado pelo Instituto João Simões Lopes Neto, sediado em Pelotas.

Em seguida, será saudado, em nome da Academia, pelo escritor Geraldo Bonadio

Viotti estreou aos 75 anos

Mineiro de Caldas, Álvaro Viotti Vieira estreou como escritor em 1991, com a publicação do livro Dimas, o bom ladrão. Tinha, então, 75 anos. Mantém constante atividade como escritor e, em 2006, foi biografo pelo jornalista Rui Albuquerque no livro Exemplo (A vida do alfaiate e escritor Álvaro Viotti Vieira).

Casado com Maria há 65 anos, tem três filhos (Eduardo, Oscar e Maria Luiza), netos e bisnetos, tem 92 anos.

Os outros membros (em ordem alfabética, suas cadeiras e patronos) são:

ADALBERTO NASCIMENTO – Cadeira 01, Patrono: Euclides da Cunha
ADILSON CEZAR – Cadeira 04, Patrono: Francisco Adolfo de Varnhagen
ADOLFO FRIOLI – Cadeira 08, Patrono: Antônio Francisco Gaspar
ANA MARIA DE SOUZA MENDES – Cadeira 24, Patrono: Lima Barreto
BENEDITO WALTER MARINHO MARTINS – Cadeira 13, Patrono: Machado de Assis
BERNARDINO ANTONIO FRANCISCO – Cadeira 06, Patrono: Castro Alves
CLEIDE RIVA CAMPELO – Cadeira 21, Patrono: Mário de Andrade
ELOISA GONÇALVES LOPES – Cadeira 11, Patrono: Érico Veríssimo
EURIDES BERTONI JÚNIOR – Cadeira 23, Patrono: Vinícius de Moraes
GERALDO BONADIO – Cadeira 09, Patrono: Paulo Setúbal
IRANI ALVES DE GENARO – Cadeira 28, Patrono: José Lins do Rego
JAIRO VALIO – Cadeira 14, Patrono: Ascenso Ferreira
JOÃO ALVARENGA – Cadeira 29, Patrono: José de Alencar
JOÃO DIAS DE SOUZA FILHO – Cadeira 05, Patrono: Rui Barbosa
JOSÉ MONTEIRO SALAZAR – Cadeira 18, Patrono: Aluísio Azevedo
JOSÉ RUBENS INCAO – Cadeira 40, Patrono: Cecília Meireles
JULIANA SIMONETTI – Cadeira 25, Patrono: Clarice Lispector
LOURIVAL MAFFEI – Cadeira 16, Patrono: Oduvaldo Viana Filho
MARIA VIRGÍLIA FROTA GUARIGLIA – Cadeira 26, Patrono: Joaquim Nabuco
MÁRIO CÂNDIDO OLIVEIRA GOMES – Cadeira 07, Patrono: Martins Fontes
MILTON MARINHO MARTINS - Cadeira 35, Patrono: Renato Sêneca de Sá Fleury
MÍRIAM CRIS CARLOS – Cadeira 38, Patrono: Oswald de Andrade
MYRNA ELY ATALLA SENISE DA SILVA – Cadeira 03, Patrono: João Guimarães Rosa
NANCY RIDEL KAPLAN – Cadeira 10, Patrono: Graciliano Ramos
NEIDE BADDINI MANTOVANI – Cadeira 15, Patrono: Barão de Ramalho
OTTO WEY NETTO – Cadeira 37, Patrono: Luiz Gonzaga de Camargo Fleury
SÉRGIO COELHO DE OLIVEIRA – Cadeira 17, Patrono: Gonçalves Dias
SHEILA KATZER BOVO – Cadeira 32, Patrono: Fernando de Azevedo
SÔNIA APARECIDA OLIVEIRA CANO – Cadeira 02, Patrono: Olavo Bilac
VERA RAVAGNANI JOB – Cadeira 33, Patrono: Aluísio de Almeida
ZEILA FÁTIMA PEREIRA GIANGIÁCOMO – Cadeira 31, Patrono: Nelson Rodrigues

Fontes:
Douglas Lara.
http://www.sorocaba.com.br/acontece
Academia Sorocabana de Letras.
www.academiasorocabana.com.br

domingo, 30 de novembro de 2008

O Mundo Curioso da Literatura



Lemony Snicket (Desventuras em Série)

A série de livros conta a história dos irmãos Baudelaire, que perdem os pais em um incêndio e são obrigados a ir morar com seu tio, o Conde Olaf. Ele é um sujeito ganancioso e egoísta, e só está de olho na herança dos garotos. Por isso, apronta poucas e boas com eles, fazendo-os sofrer bastante.

A coleção foi escrita pelo misterioso Lemony Snicket. Esse é o pseudônimo do norte-americano Daniel Handler. Antes de lançar Desventuras em Série, o escritor publicou dois livros para adultos que não obtiveram muito sucesso.

A biografia de Snicket presente na obra diz que ele nasceu numa pequena vila que hoje está submersa. Um povoado aparentemente pacato, mas cercado de segredos. ?Para escrever essas desventuras dos irmãos Baudelaires fui obrigado a conhecer a fundo as artimanhas de vilões como o conde Olaf. Passei anos mergulhado no mundo do crime. Não dos crimes reais, é claro: minha formação é estritamente técnica", completa.

Na época do lançamento do primeiro livro, Handler disse ao público que não era Snicket, apenas o representava. "As crianças ouvem mentiras constantes de adultos, então acho que não foi algo incomum para elas", falou ele sobre o disfarce.

Até 2005, haviam sido lançados 11 dos 13 volumes previstos para a série. Seus nomes são Mau Começo (The Bad Beginning), A Sala dos Répteis (The Reptile Room), O Lago das Sanguessugas (The Wide Window), Serraria Baixo-Astral (The Miserable Mill), Inferno no Colégio Interno (The Austere Academy), Elevador Ersatz (The Ersatz Elevator), A Cidade Sinistra dos Corvos (The Vile Village), O Hospital Hostil (The Hostile Hospital), O Espetáculo Carnívoro (The Carnivorous Carnival), O Escorregador de Gelo (The Slippery Slope) e The Grim Grotto (sem título em português).

Os livros foram traduzidos para 39 idiomas e venderam 27 milhões de cópias em todo mundo.

Foram os primeiros livros a tirarem a série Harry Potter do alto da lista de best-sellers infantis do jornal The New York Times.

Em 2004, foi lançada a adaptação da série para o cinema. Desventuras em Série levou oito meses para ser feito e custou 125 milhões de dólares. Jim Carrey e Meryl Streep estão no elenco.
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Bram Stocker (Drácula)

Durante o século XVIII, lendas gregas e sérvias falavam sobre vampirismo. Isso despertou a imaginação do escritor irlandês Bram Stoker (1847-1912). Primeiro ele pensou num personagem chamado Conde Vampiro. Até que um amigo, professor de história, falou de Vlad Tepes, herói romeno do século XV, famoso por sua crueldade. O personagem do livro, lançado em 1897, logo se transformou em Conde Drácula.

Parte da ação do romance Drácula, de Bram Stoker, é passada na cidade romena de Bistrita. Para aproveitar a fama, a cidade batizou um dos seus hotéis de ?Coroa de Ouro?, como no livro, e os restaurantes oferecem o cardápio Jonathan Harker, homenagem ao corretor de imóveis inglês que, na imaginação de Stoker, se hospedou no Castelo de Drácula. O cardápio consiste em espeto de carne, toucinho e cebola, temperado com pimenta vermelha, vinho da região, frios, queijos e crepe com geléia.

Também em Bistrita foi fundada a Sociedade Transilvânia Drácula. Para atrair turistas, a entidade criou três roteiros do Drácula Tour. Um deles, que inclui uma noite inteira num cemitério, dá o título de membro da sociedade aos corajosos.

Na cidade de Bran, um castelo atrai turistas usando o apelo de Drácula, embora Vlad Tepes nunca tenha vivido ali. Foi construído em 1377. A única relação é que o castelo pode ter sido atacado por Vlad. Um turista americano morreu do coração ali quando funcionários se escondiam para dar sustos nos visitantes. A brincadeira acabou.

O primeiro Congresso Mundial de Drácula foi realizado em Bukovina, a 40 quilômetros de Bistrita, em maio de 1995. Reuniu 300 participantes.

Vlad Tepes

Vlad Tepes (1431-1477) nasceu na Transilvânia e governou outra região da Romênia, a Valáquia, entre 1448 e 1476. Virou herói nacional na luta contra os turcos. Seu pai, também chamado Vlad, fora nomeado cavaleiro da Ordem do Dragão.

Dragão em romeno é Dracul, a mesma palavra para "demônio". O sufixo "a" significa "filho" em romeno. Tepes, filho de Dracul, virou Dracula.

Tepes era conhecido também como "o empalador". Na empalação, o condenado era espetado, pelo ânus ou pelo umbigo, em uma estaca fincada no chão. A vítima tinha o corpo atravessado até morrer.

Vlad Tepes bebia sangue? Os romenos repelem essa pergunta. É uma ofensa a um herói nacional. Mas as lendas existem mesmo. São várias versões. Uma diz que Vlad Tepes gostava de molhar o pão no sangue de suas vítimas. Outra afirma que, nos três últimos anos de vida, ele bebia o sangue das garotas virgens crendo que isso aumentaria sua força. Aparentemente, os malfeitos do romeno foram muito exagerados por seus inúmeros adversários.

Morto em combate pelos turcos, em 1477, Vlad Tepes teve a cabeça cortada. O corpo foi enterrado num monastério, construído em 1519. Fica no meio de um lado de Snagov, de difícil acesso. O túmulo de Vlad Tepes está localizado em frente ao altar. Há quem diga que os ossos teriam sido roubados dali.

Fontes:
http://guiadoscuriosos.ig.com.br/
Imagem Desventuras em Série = http://universoliterario.wordpress.com/
Imagem Drácula = http://kimbofo.typepad.com/