quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ricardo Corona (O Escritor em Xeque)


Wilmar Silva - Ricardo Corona: como descobriu a poesia em sua vida?

Ricardo Corona - É difícil saber como a poesia entrou na minha vida. Talvez tenha chegado pelo som das páginas sendo viradas dos livros que a minha mãe lia. Ela sempre foi (e ainda é) uma leitora contumaz. O hábito táctil dos livros eu aprendi com ela e, penso agora, a partir da sua pergunta, sobre a repercussão desse som dentro de mim. Organicamente, acabou se misturando aos meus primeiros sentimentos, então, creio que minha descoberta da poesia veio desse som de livros em mãos maternas.

WS - Mais que hesitar entre som e sentido, ser poeta é hesitar entre substantivos e adjetivos?

RC - Os adjetivos têm que ser usados com cautela e sem hesitação. Não titubeio em eliminar adjetivos. Quanto à definição de Paul Valéry ("Poesia é a permanente hesitação entre som e sentido"), é a que mais me significa e desde sempre foi a que mais me interessou e me estimulou como poeta. Hesito sempre.

WS - É possível ao poeta de hoje produzir uma linguagem de invenção quando as vanguardas históricas habitam um abismo?

RC - Não sei exatamente o que quer dizer com "habitam um abismo". Mas levando ao pé da letra, não vejo nenhum abismo. Conforme o adjetivo da sua pergunta, as vanguardas se transformaram em movimentos históricos. Eu reconheço essas experiências como das mais importantes para o ambiente poético universal. No caso do Brasil, os poetas concretos (Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Pedro Xisto) nos deram régua e compasso... Mesmo que alguns neguem e outros odeiem, a verdade é que ainda usufruímos desse legado. Isto posto, o significado da palavra invenção deixa obrigatoriamente de estar ligado ao momento histórico das vanguardas. A experiência poética de hoje é outra. Acho uma experiência radical, por exemplo, operar cruzamentos de linguagens e épocas num trabalho contemporâneo. Um ritual Tungu está muito próximo de um happening dadaísta. E sabe qual a distância de tempo dessas manifestações? Mais de mil anos. Sabe qual a conexão? Ambas as manifestações trabalhavam poéticas sem sentido. Porém, apenas uma delas é conhecida como uma manifestação de vanguarda, que é a dadaísta. O que estou dizendo é que mesmo sem a necessidade da ruptura, a experiência continua, porque ela sempre esteve presente.

WS - Escrever poemas é o mesmo que remeter cartas para ninguém, ou escrever poemas é o mesmo que plantar as próprias sombras?

RC - Escrever poemas é o mesmo que rabiscar na própria pele. É dar ao mundo uma coisa que é sua. E dar, no meu repertório léxico, é feminino de dor.

WS - Sendo também performer, que pontos de mutação, a exemplo da obra em si como aquele Salto no Vazio de Yves Klein, entre o poeta léxico e o poeta físico?

RC - Acho que artistas como Yves Klein ou mesmo Carole Schneemann são agentes de performance. Claro que há muita similaridade entre a performance e a poesia que vai para o ar. Mas são linguagens autônomas. Eu trabalho com a cena e não me julgo um performer. Acredito piamente quando um texto é lido em voz alta pelo próprio autor. Eu gosto de começar nessa fronteira, nessa dimensão física do texto autoral, nesse lugar em que também se encontra a idéia nietzscheniana de acreditar somente nas coisas escritas com o próprio sangue. Neste sentido, sou um agente de poesia.

WS - A exemplos de tantos nomes que produzem e se publicam, há entrechoques nas poéticas de agora ou o mundo é uma pirâmide de repetição?

RC - Acho que as poéticas de várias épocas e culturas mantêm um diálogo intenso desde sempre. Os cantadores medievais com os poetas de cordel; a poesia de Glauco Mattoso e Gregório de Matos...; o grafite anônimo de hoje com o grafite também anônimo da cidade de Pompéia, do século I d. C. ... Mas não acho que isso seja uma pirâmide de repetição. Nossa época carrega nas costas milhões anos de cultura. Acho que temos que aprender que a idéia do “novo” não existe e que o desafio de se criar qualquer coisa mediante um repertório desses, é enorme. Talvez a sensação de impasse esteja mais na dificuldade de se classificar o que se faz hoje. Está difícil aplicar um adjetivo, um rótulo, uma única definição para a produção de agora. E isso é bom, é uma conquista, apesar da dificuldade da leitura crítica, do mapeamento. Mas aí já é um problema dos críticos. A nós cabe escrever sobre o que quisermos e pesquisar nas mais variadas fontes...

WS - Considerando o paradoxo entre a poesia concreta e a poesia marginal, e uma poesia de filigranas que você faz, falando em línguas, que língua Ricardo Corona escreve?

RC - Não existe mais essa dicotomia ou esse paradoxo na poesia brasileira. Não é mais possível pensar a partir desse paradigma. Uma premissa: eu gosto de lembrar o que Ferlinghetti dizia sobre poesia e público leitor, ou seja, que o poeta deve resguardar uma superfície de comunicação. Sem o ledo engano de querer "sentir o hálito das multidões" (Leminski), eu procuro evitar o hermetismo, até porque já penso o poema em voz alta e isso me exige comunicabilidade.

WS - A começar pelo nome que nasce puxando imagens, que imaginações iluminam seu livro de estréia solo Cinemaginário (Editora Iluminuras, SP, 1999)?

RC - A imaginação e as imagens de um cinema mental. Coloquei meus delírios e visões de mundo num fluxo poético. Cinemaginário é um livro enganador, pois parece se prestar mais à arte da visibilidade (da paisagem), mas o que importa nele é o invisível.

WS - Como foi realizada a poética híbrida de sons que comparece no CD Ladrão de Fogo (Editora Medusa, Curitiba, PR, 2001)?

RC - Muitos poemas que estão no CD Ladrão de fogo foram antes estampados no livro Cinemaginário. Porém, antes ainda do livro e do CD, eles compunham um repertório para várias récitas que apresentei pelo Paraná afora. Isso no início dos anos 1990. Então, gravar o CD foi uma conseqüência, um registro do trabalho que eu vinha fazendo. É um trabalho que incorpora processos criativos das vanguardas, mas sem dar as costas para o rico legado de referências que tem a poesia brasileira que está associada ao som, que vai desde as letras de música até a literatura oral.

WS - E Corpo Sutil (Editora Iluminuras, SP, 2005), que carreia para a matéria o adjetivo "sutil", que materiais foram usados para construir o enfeixe de papel?

RC - A dobra de Corpo sutil está numa poesia "líquida". Este elemento, a água, aparece no livro como um rio subterrâneo. Esse é o meu diálogo com o mundo, pois este livro, mais do que Cinemaginário, é um livro que está no mundo, que está dentro dele, embrenhado dele, sempre através de questões que me afligem. O meu mundo, digamos, mais individual, também aparece em cada poema, mas é como se fosse uma parte, um gomo de um todo.

WS - Como foi organizar a antologia Outras praias - 13 poetas brasileiros emergentes / Other Shores – 13 Emerging Brazilian Poets (edição bilíngüe – SP, ed. Iluminuras, 1998)?

RC - Em 1995, quando comecei a cogitar a idéia dessa antologia, lembro que havia muita necessidade de projetos assim. Não tinham revistas como se têm hoje. Os espaços eram bastante escassos e disputados. Dois ou três poetas que circundavam os segundos cadernos dos grandes jornais, alguns por competência e outros por mera relação de amizade com o editor, dominavam o espaço nacional dedicado à poesia. Num ambiente assim, sem internet, sem nada, antologias e revistas eram instrumentos político-culturais que serviam para romper com o dique. O time de poetas que está em Outras praias, com raríssima exceção, ainda está em atividade. E naquela época a maioria estava no seu primeiro ou segundo livro... Pra mim, como organizador, esse é o saldo principal. Fora isso, foi uma antologia bastante discutida, para o bom e para o ruim, e isso é sempre positivo, pois antologias não têm que indicar nada e, aliás, nem se deve acreditar nelas. Como disse, são instrumentos político-culturais.

WS - Que pode dizer sobre as linhas editoriais que divisam as revistas Medusa e Oroboro?

RC - São duas revistas de poesia e arte contemporâneas. Nesse ponto, são idênticas. Ou seja, nas duas publicamos as mesmas coisas. Porém, a Medusa também foi um projeto "guerrilheiro", igual a antologia. Nós publicávamos sempre aquilo que acreditávamos ser de qualidade, esse era o critério-mor. Mas procurávamos também pautas que provocassem o status-quo. Um exemplo: o dossiê do Sebastião Nunes. Lembro que delirei ao saber que ele havia reproduzido um caderno "Mais!" inteiro sobre o próprio trabalho. Supostos críticos escrevendo sobre seu trabalho e supostos jornalistas o entrevistando. Isso foi genial. Quer dizer, enquanto se travava a maior disputa para publicar um poema na "Folha de S. Paulo", a Medusa apareceu com um cara que esculhambou com esse "espaço de poder". Nessas horas é um prazer ser editor de revista. Já a Oroboro iniciou em outro ambiente cultural, com mais revistas, internet, pequenas editoras, etc., além de os grandes jornais estarem mais abertos, um pouco mais, então, a revista acaba apostando mais na rebeldia puramente artística.

WS - Como pratica também ensaios, o que pensa sobre o silêncio da imprensa e da academia frente a muitos autores que produzem uma poesia de invenção?

RC - Não posso dizer que escrevo ensaios. Escrevi alguns aqui e acolá e mantive num jornal daqui de Curitiba, por uns tempos, uma coluna dedicada à poesia contemporânea, na qual escrevi sobre alguns livros de poesia publicados de 2000 pra cá. Mas não dei conta. Acho que o Manoel Ricardo de Lima e também o Manuel da Costa Pinto estão fazendo melhor. E são dois críticos com visões diferentes e sempre escrevem sobre poesia contemporânea. Acho que o tempo mostrará um belo apanhado crítico dessas duas figuras.

WS - Fosse a um bosque curitibano paradisíaco, com que livros viajaria para ler durante as vindimas?

RC - E olha que tenho ido a parques e bosques curitibanos.... Tenho levado comigo livros de Arturo Carrera, poeta argentino, que traduzo com Joca Wolff há uns dois anos. Lembro de ter levado um livro dele chamado El vespertillo de las parcas.

WS - Hoje o poeta vive um exercício em dobras, em todos os sentidos a poesia é algo vivo entre as pessoas, mas o livro ainda é um objeto inacessível ao cotidiano, além de representar a ordem capital das elites —, que paralelos você pode fazer entre cultura e educação?

RC - Os livros deveriam ser mais baratos para se tornarem mais acessíveis. Recentemente, estive em Buenos Aires e uma das coisas que me encantou foi a variedade de formatos que o livro argentino tem. Eles pensam o livro como objeto de consumo, ou seja, o formato de uma publicação é pensado para atender também as diferenças de poder aquisitivo da sociedade, assim como acontece com qualquer produto. Além de medidas assim, que são práticas, por outro lado, e principalmente, deveriam existir mais ações governamentais, políticas de incentivo à leitura, de distribuição de livros, mas seria preciso investir maciçamente nisso, e em educação de modo geral, em formação de leitores, em práticas de envolvimento de todas as faixas etárias com o livro. O livro é um veículo de pensamento e de cultura que nunca será extinto. O homem poderá inventar maneiras telepáticas de se comunicar, mas o livro estará presente, tenho certeza disso. Então, o melhor é inseri-lo no coração das pessoas, como forma de nos elevarmos, crescermos.

WS - Ao contrário do que muitos dizem, eu penso que a poesia é uma arte que nasce da experiência de viver em forma de linguagem e penso que a poesia deveria ser um utensílio doméstico como a panela, por exemplo. O que pensa sobre a importância da poesia no cotidiano das pessoas?

RC - Há uma disposição de se dizer que poesia é inútil. E, de fato, ela parece ser. Mas se pensarmos novamente, desdobrarmos isso, talvez essa pretensa inutilidade venha justamente de uma íntima certeza de sua necessidade. Como se buscássemos preservá-la como última instância de nossa humanidade.

WS - Como vive hoje Ricardo Corona, sabendo que a miséria política porque passamos é uma política que oferece comida para comprar a miséria humana do dia seguinte?

RC - O problema é que isto se transforma num ciclo sem fim, em que a miséria humana comprada ontem pela política miserável fatalmente subtrairá violentamente nossas vidas amanhã.

WS - Falando por políticas de geografia, para reabitar um só exemplo fora do Brasil: Gary Snyder, consegue ver as diferenças de vida e linguagem entre os poetas que atuam hoje em nosso Brasil?

RC - Gary Snyder foi viver a poesia dele em corpo e alma. Existem bem poucos poetas que radicalizaram dessa forma. No Brasil de agora, não vejo ninguém. Acho que o Roberto Piva é um poeta desse naipe. Mas não se pode menosprezar a poesia pelo modo de vida do poeta. Veja o exemplo de Glauco Mattoso, que foi bancário a vida toda...

WS - Se a performance é um poema vivo, a realização de desejos na arte em si, o corpo do artista com o tempo do corpo no espaço, que diferenças realmente acontecem quando Ricardo Corona escreve um poema e quando esse mesmo poema se torna um poema vivo em sinergia com o criador?

RC - É possível criar um poema e se manter distanciado dele. Fernando Pessoa dizia que o poeta é um fingidor, no sentido que, mesmo vivendo aquela dor, é possível fingi-la. Mas a incorporação do poema no corpo do poeta é uma das maneiras de vivê-lo. E o mais perto possível.

WS - Afinal, Ricardo Corona, "Tá viva a letra"?

RC - Nunca se leu tanta poesia em voz alta e em público. Acho que estamos saindo das "amarras" de um pensamento pseudo-livresco e pouco livre para a criação de diferentes poéticas. Estamos nos livrando de fronteiras desnecessárias. A poesia está no ar e continua não estando na moda, o que é muito saudável.

WS - Como será a sua apresentação no projeto Terças Poéticas?

RC - Mesclarei poemas do Ladrão de fogo com outros que estarão no meu novo disco que se chamará justamente TÁVIVAALETRA. Dos poemas novos, um que apresentarei pela primeira vez, que se chama "Recall", que é meio esquisito, mas excelente para ser desbocado. Do Ladrão de fogo, farei poemas como "Pessoa ruim", que faz referência ao "Poema em linha reta", de Fernando Pessoa, mas ao vivo, tenho feito juntamente com outro chamado "Manifesto II", de autoria de Celso Borges. Juntos criam um "clima", próximo da performance, em que tiro um sarro dos poetas carreiristas. Farei uma homenagem a Jardelina da Silva, minha musa da oralidade. Entre outras coisas...

Fonte:
Entrevista realizada por Wilmar Silva, em Germina Revista de Literatura e Arte – janeiro de 2007. http://www.germinaliteratura.com.br/pcruzadas_triptico_rc_jan07.htm

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Humberto de Campos (As Barbas de D. Francisco)


Era costume de D. Francisco de Almeida, depois conde das Galveas e íntimo de D. João VI, comparecer ao Paço com a barba por fazer. Um dia, o monarca observou-lhe:

- Pois nem hoje, dia dos meus anos, D. Francisco, fizeste a barba?

- Por que não fez Vossa Majestade anos ontem, que foi dia em que me barbeei? - retrucou o fidalgo, na sua bonomia.

Fonte:
AZEVEDO, Moreira de. Mosaico Brasileiro. in CAMPOS, Humberto de. Brasil Anedótico.

Baú de Trovas II



Aqui jaz minha mulher
que partiu para o Além.
Agora descansa em paz
e eu também.
(VÃO GOGO – MILLÔR FERNANDES)

Basta-me um gesto, um aceno,
uma só prova, - e verás
minha alma, presa em teus lábios,
como de amor se desfaz
GONÇALVES DIAS)

Cabeça, triste é dizê-lo!
Cabeça, que desconsolo!
por fora não tem cabelo,
por dentro não tem miolo!
(LAURINDO RIBEIRO)

De muita gente que existe
e que julgamos ditosa,
toda ventura consiste
em parecer venturosa.
ANÔNIMA

Estes meus versos que a esmo
jogo aos espaços sem fim
são pedaços de mim mesmo,
que eu mesmo arranco de mim.
(FERREIRA GULLAR)

Há de, com toda certeza,
casar-se a minha alma à tua,
nessa capelinha acesa
na alva capela da lua.
(GILKA MACHADO)

Inda agora é que cheguei,
inda não saudei ninguém:
Boa noite pras senhoras
e pros senhores também.
(MINAS GERAIS)

Junto co’a minha viola
eu ando de arretirada:
ela se queixa de sol,
eu de queda e de topada.
(CEARÁ)

Mui decentes eu não acho
teus vestidos minha prima:
são altos demais em baixo,
são baixos demais em cima!
(BELMIRO BRAGA)

No meu livro de lembranças
hoje só resta a saudade:
Saudade das esperanças
perdidas na mocidade...
(ZÉ TRINDADE)

Passa na estrada um camelo
e um corcunda palpitante
de alegria, disse ao vê-lo:
- “Mas que animal elegante!”
(ANTÔNIO SALES)

Que cada um cumpra a sorte
das mãos de Deus recebida:
Pois só pode dar a Morte
aquele que dá a Vida!
(OLAVO BILAC)

Saudade – perfume triste
de uma flor que não se vê.
Culto que ainda persiste
num crente que já não crê...
(MENOTTI DEL PICCHIA)

Teus olhos são negros, negros
como as noites sem luar...
São ardentes, são profundos
como o negrume do mar.
(CASTRO ALVES)

Vi teus braços... que ventura!
teu colo... as pernas... que gosto!
Agora, tira a pintura,
que eu quero ver o teu rosto.
(BELMIRO BRAGA)
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Miguel Sanches Neto (Poetas do Paraná)



CAÇADOR E VÍTIMA

Escrever é caçar caranguejos
à maneira do guaximim.
Enfiando o rabo no buraco
onde se aloja o crustáceo,
ele espera que este o morda
como suas impiedosas tesouras
para sacar logo em seguida
a presa cravada em sua cauda.
O próximo passo é saboreá-la
— a memória da dor em carne viva.

Enquanto espera, o guaximim chora,
sofrendo de antemão a investida.
Caçador e vítima, é sua própria isca.
Contorcendo-se nesta emboscada,
o sabor e a cicatriz ele preliba
— a água na boca é a mesma das lágrimas.

––––-
INVENTÁRIO

Ouço os sons da chuva
e de um carro que passa na rua.
Tudo me dá de ombros,
a mim e a meus escombros.

Sofro como se existisse de fato
tal esta casa e este sapato
em que, por descuido, habito
com meu vazio sem vínculos.

A noite me sonega o ser.
Pela manhã serei o homem que sai,
funcionário cumpridor de regras,
aquele que tem fome e sede

e por isso vai ao mercado
e se entusiasma com queijos,
vinho pão fresco cerveja,
fugindo de toda incerteza.

Não. Não é este o tipo
de alimento que me sustenta
e sim a sombra que me inquieta
e que, com sua mão, me inventa.

Gerado na dor e na dúvida
no duro exercício da descrença,
sou vento enchendo roupas no varal
num inventário da própria ausência.
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Fontes:
– BUENO, Alexei. Uma História da Poesia Brasileira. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2007. ISBN 978-85-98815-06-0, p. 404
– Venho de um país obscuro”, Editora Bertrand-Brasil - Rio de Janeiro, 2005
http://www.antoniomiranda.com.br

Prêmio Jabuti



História

A história do Prêmio Jabuti começa por volta de 1957, em um período repleto de desafios para o mercado editorial, com recursos escassos e baixa articulação do segmento. Apesar das adversidades, não faltava entusiasmo aos dirigentes da Câmara Brasileira do Livro naquela época. As discussões foram comandadas pelo então presidente da entidade, Edgar Cavalheiro e pelo secretário Mário da Silva Brito – dois intelectuais e estudiosos da literatura brasileira – e outros membros da diretoria do biênio 1955-1957 interessados em premiar autores, editores, ilustradores, gráficos e livreiros que mais se destacassem a cada ano.

Essas discussões em torno de uma “láurea” ou “galardão”, como se dizia na época, ganharam forma na diretoria seguinte, de 1957-1959, presidida por Diaulas Riedel, a quem coube a confirmação da escolha da figura do jabuti para nomear o prêmio e a realização de concurso para a confecção da estatueta, vencido pelo escultor Bernardo Cid de Souza Pinto.

A primeira premiação ocorreu também na gestão do presidente Diaulas Riedel. No final do ano de 1959, em solenidade simples e despretensiosa realizada no auditório da antiga sede da CBL na avenida Ipiranga, foi feita a entrega do primeiro Prêmio Jabuti. Foram laureados autores como Jorge Amado, na categoria Romance, pela obra “Gabriela, Cravo e Canela”. A Saraiva ganhou o prêmio de Editor do Ano.

O nome

Mas por que um jabuti para nomear um prêmio do livro? A resposta, tem explicação no ambiente cultural e político da época, influenciado, sobretudo, pelo modernismo e nacionalismo, pela valorização da cultura popular brasileira, nas raízes indígenas e africanas, nas suas figuras míticas, símbolos seculares carregados de sabedoria e experiência de vida e legados de uma geração à outra. Sílvio Romero, Mário de Andrade, Monteiro Lobato e Luís da Câmara Cascudo, entre o final do século XIX e o início do século XX, foram pioneiros na pesquisa, no estudo e na divulgação dessa rica cultura popular.

E foi Monteiro Lobato, provavelmente, o mais prolífico na recriação literária das histórias desses personagens meio enigmáticos, meio reveladores e sempre sedutores do folclore nacional. Um desses personagens da literatura infantil de Lobato é, como se sabe, o jabuti. O pequeno quelônio, já familiar no imaginário das culturas indígenas tupi, ganhou vida e personalidade nas fabulações do autor das “Reinações de Narizinho”, como uma tartaruga vagarosa, mas obstinada e esperta, cheia de truques para vencer obstáculos, para enganar concorrentes mais bem dotados e chegar na frente ao fim da jornada. Com essas credenciais, ganhou também a simpatia e a preferência dos dirigentes da CBL. Eles o elegeram para inspirar e patrocinar um prêmio para homenagear e promover o livro.

Jabuti repaginado

Ao longo dos seus 50 anos o Jabuti passou por transformações. No início, a cerimônia de entrega do Prêmio era feita na antiga sede da entidade, na avenida Ipiranga, depois passou a ser realizada durante as Bienais do Livro. Mas o Jabuti ganhou vida própria, e os diretores da CBL sentiram a necessidade de criar um evento proporcional à credibilidade que o Prêmio ganhou junto ao mercado editorial e à própria sociedade. Em 2004, ocorreu a primeira grande cerimônia de entrega das estatuetas, realizada no Memorial da América Latina. Nos últimos três anos, essa grande festa do livro do Brasil ganhou um dos espaços mais nobres da capital paulista – a Sala São Paulo.

O Jabuti foi se transformando aos poucos. No Regimento Interno do Prêmio, criado em 1959, constam apenas sete categorias de premiação: Literatura, Capa e Ilustração, Editor do Ano, Gráfico do Ano, Livreiro do Ano e Personalidade Literária. Atualmente, são contempladas todas as esferas envolvidas na criação e produção de um livro, em um total de 21 categorias, passando pela tradução, ilustração, capa e projeto gráfico, além das categorias tradicionais como Romance, Contos e Crônicas, Poesia, Reportagem, Biografia e Livro Infantil. Por sua abrangência, o Jabuti é considerado o maior e mais completo prêmio do livro no Brasil.

Outra iniciativa que trouxe ainda mais glamour ao Prêmio foi a criação das categorias Livro do Ano de Ficção, em 1991, e Livro do Ano de Não-Ficção, dois anos depois, em 1993. Esses prêmios são revelados somente na noite da entrega das estatuetas e são o ponto alto do evento, em um momento de grande expectativa por todos os agentes do mercado editorial.

Fatos curiosos

O livro de 50 anos do Jabuti traz ainda outras curiosidades. Em 2004, por exemplo, ano que registrou o maior número de obras inscritas (2.374), o vencedor do Livro do Ano de Ficção foi “Budapeste”, de Chico Buarque. A obra, no entanto, ganhou Menção Honrosa (3o lugar) na categoria Romance. “Houve um silêncio na platéia”, conta José Luiz Goldfarb, curador do Prêmio Jabuti. No dia seguinte, a mídia impressa também abriu espaço nas suas páginas para questionar o episódio. Como um livro que ficou em terceiro lugar na sua categoria poderia levar o prêmio de Melhor Livro do Ano? “O que ocorreu, na verdade, é que os vencedores das 20 categorias são escolhidos somente pelos jurados e os Livros do Ano recebem também os votos do mercado editorial, sendo que o grande vencedor não necessariamente é o 1. colocado de uma categoria”, explica.

Polêmicas à parte, o fato é que o Jabuti tornou-se, nas palavras de Rosely Boschini, presidente da CBL, um “patrimônio nacional”. “Com obstinação e argúcia, à maneira do seu inspirador, o Prêmio Jabuti avançou sem esmorecer, ganhou agilidade e encarou uma longa jornada. Avançou, ganhou densidade e respeito, conquistou o reconhecimento de todos os que, no Brasil, produzem informação, conhecimento e arte, de todos os que escrevem, publicam e leem livros. Tornou-se, ele próprio, um personagem vivo da cultura brasileira contemporânea”, destaca Rosely Boschini. Na maior festa do livro no Brasil, ganhar ou não o Prêmio, já não faz diferença. O importante é participar.

Fonte:
http://www.cbl.org.br/jabuti/telas/historia/

51. Prêmio Jabuti de Literatura (Finalistas)



A Câmara Brasileira do Livro (CBL) divulgou os finalistas das 21 categorias do 51º Prêmio Jabuti, o maior concurso literário do País. Além de estatuetas, os primeiros colocados receberão R$ 3 mil - os ganhadores de "Tradução de obra literária Francês-Português", em homenagem ao ano da França no Brasil, receberá como prêmio R$ 6 mil. Já para os vencedores dos melhores livros, o prêmio em dinheiro é de R$ 30 mil.

De acordo com a assessoria de imprensa da CBL, o júri - sob curadoria, já há 19 anos, de José Luiz Goldfarb - foi formado por profissionais indicados pelo mercado editorial e escolhidos por uma comissão do prêmio por meio de sorteio. De acordo com a CBL, a segunda fase do julgamento ocorrerá em 29 de setembro, quando serão revelados o primeiro, segundo e terceiro colocados em cada uma das categorias. No entanto, somente em cerimônia no dia 4 de novembro é que serão anunciados os melhores livros do ano de ficção e não-ficção. A lista completa dos indicados estão no site da CBL.

Confira os finalistas das principais categorias:

Romance
1.º Flores Azuis (Cia. das Letras), de Carola Saavedra
2.º Cordilheira (Cia. das Letras), de Daniel Galera
3.º Órfãos do Eldorado (Cia. das Letras), de Milton Hatoum
4.º Galileia (Objetiva), de Ronaldo Correia de Brito
5.º Satolep (Cosac Naify), de Vitor Ramil
6.º Manual da Paixão Solitária (Cia. das Letras), de Moacyr Scliar
7.º A Parede no Escuro (Record), de Altair Martins
8.º O Livro dos Nomes (Cia. das Letras), de Maria Esther Maciel
9.º Um Livro em Fuga (Record), de Edgard Telles Ribeiro
10.º Heranças (Rocco), de Silviano Santiago

Contos e Crônicas

1.º Canalha! - Crônicas (Editora Bertrand Brasil), de Fabricio Carpinejar
2.º 101 Crônicas - Ungáua! (Publifolha), de Ruy Castro
3.º Ó Editora (Iluminuras), de Nuno Alvares Pessoa de Almeida Ramos
4.º Rasif (Record), de Marcelino Freire, e Ostra Feliz Não Faz Pérola (Planeta), de Rubem Alves
5.º Os Comes e Bebes nos Velórios das Gerais e Outras Histórias (Auana), de Déa Rodrigues da Cunha Rocha
6.º Ping Pong - Chinês Por Um Mês: As Aventuras de Um Jornalista Brasileiro Pela China Olímpica (Manuela Editorial - Arte Paubrasil), de Felipe Machado
7.º Crônicas e Outros Escritos de Tarsila do Amaral (Unicamp), de Laura Taddei Brandini (Org.)
8.º Antologia Pessoal (Record), de Eric Nepomuceno
9.º Cheiro de Terra - Contos Fazendeiros (Scortecci), de Lucília Junqueira de Almeida Prado, e O Silêncio dos Amantes (Record), de Lya Luft
10.º Vatapaenses Vasos Comunicantes (Gm Minister), de Sergio de Almeida Brun

Poesia

1.º Dois em Um (Iluminuras), deAlice Ruiz
2.º Chocolate Amargo (Brasiliense), de Renata Pallotini
3.º Antigos e Soltos: Poemas e Prosas da Pasta Rosa (Instituto Moreira Salles Instituto Moreira Salles)
4.º Cinemateca (Cia. das Letras), de Eucanaã Ferraz
5.º A Letra da Ley (Annablume), de Glauco Mattoso
6.º Homem Ao Termo - Poesia Reunida [1949-2005] (Editora da UFMG), de Affonso Ávila, e Outros Barulhos (Reynaldo Bessa), de Reynaldo Bessa
7.º Geometria da Paixão (Anome Livros), de Dagmar de Oliveira Braga
8.º Os Corpos e Os Dias (Cultura), de Laura Erber
9.º Ferreira Gullar: Poesia Completa, Teatro e Prosa (Nova Fronteira), de Ferreira Gullar, e Réquiem (Contra Capa), de Lêdo Ivo
10.º Uma Hora Por Dia (7letras), de Maria Helena Azevedo

Biografia

1.º José Olympio, O Editor e Sua Casa (G.M.T. Editores), de José Mario Pereira
2.º O Sol do Brasil (Cia. das Letras), de Lilia Moritz Schwarcz
3.º Anna: A Voz da Rússia Vida e Obra de Anna Akhmátova (Algol), de Lauro Machado Coelho
4.º O Santo Sujo: A Vida de Jayme Ovalle (Cosac Naify), de Humberto Werneck
5.º Caio Prado Júnior (Boitempo), de Editorial Lincoln Secco
6.º Domingos Sodré, Um Sacerdote Africano (Cia. das Letras), de João José Reis
7.º Cruz e Sousa - Dante Negro do Brasil (Pallas), de Uelinton Farias Alves
8.º Cancioneiro Chico Buarque (Jobim Music), de Elianne Canetti Jobim
9.º Traição (Cia. das Letras), de Ronaldo Vainfas
10.º Viver Sua Música: Com Stravinsky em Meus Ouvidos, Rumo À Avenida Nevskiy (Editora da USP), de Gilberto Mendes

Reportagem

1.º O Olho da Rua: Uma Repórter em Busca da Literatura da Vida Real (Globo), de Eliane Brum
2.º O Sequestro dos Uruguaios - Uma Reportagem dos Tempos da Ditadura (L&PM Editores), de Luiz Cláudio Cunha
3.º O Livro Amarelo do Terminal (Cosac Naify), de Vanessa Barbara
4.º Narrativas de Um Correspondente de Rua (Pós-Escrito - do Instituto Cultural de Jornalistas do Paraná), de Mauri König
5.º Rim Por Rim (Record), de Julio Ludemir
6.º Sem Vestígios (Geração Editorial Ltda), de Tais Morais
7.º No Calor da Hora: Música e Cultura nos Anos de Chumbo (Algol), de João Marcos Coelho
8.º Casadas com o Crime (Letras do Brasil), de Josmar Jozino
9.º Suicídio - O Futuro Interrompido (Geração Editorial), de Paula Fontenelle
10.º 1968 - O Que Fizemos de Nós (Planeta), de Zuenir Ventura

Tradução

1.º Satíricon (Cosac Naify), de Cláudio Aquati
2.º A Morte de Empédocles / Friedrich Hölderlin (Iluminuras), de Marise Moassaba Curioni
3.º 40 Novelas de Pirandello (Cia. das Letras), de Maurício Santana Dias
4.º Moby Dick (Cosac Naify), de Irene Hirsch e Alexandre Barbosa de Souza
5.º Porta do Sol (Distribuidora Record de Serviços de Imprensa S.A.), de Safa A-C Jubran
6.º Poemata: Poemas em Latim e em Grego (Tessitura), de Erick Ramalho
7.º Os Irmãos Karamázov - 2 Vols. (34), de Paulo Bezerra
8.º Plotino, Enéada Iii. 8 [30]: Sobre a Natureza, A Contemplação e o Uno (Editora da Unicamp), de José Carlos Baracat Júnior
9.º O Diabo Mesquinho (Kalinka), de Moissei Mountian
10.º Contos Completos (Cosac Naify), de Leonardo Fróes

Teoria e Crítica Literária

1.º Monteiro Lobato: Livro a Livro (Editora da Unesp), de Lajolo Marisa e Ceccantini, João Luís
2.º Pensamento e "Lirismo Puro" na Poesia de Cecília Meireles (Editora da USP), de Leila V. B. Gouvêa
3.º Literatura da Urgência Lima Barreto no Domínio da Loucura (Annablume), de Luciana Hidalgo
4.º Graciliano Ramos - Um Escritor Personagem (Autêntica), de Maria Izabel Brunacci
5.º Machado de Assis: Ensaios da Crítica Contemporânea (Editora da Unesp), de Guidin, Marcia Ligia - Granja, Lúcia - Ricieri, Francine Weiss (Orgs.)
6.º Contos de Machado de Assis: Relicários e Raisonnés (Associação Jesuita de Educação e Assistência Social), de Mauro Rosso
7.º Do Teatro: Machado de Assis (Perspectiva), de João Robeto Faria (Org.)
8.º Que Poesia É Essa? Poesia Marginal: Sujeitos Instáveis, Estética Desajustada (Editora da Universidade Federal de Goiás), de Teresa Cabañas
9.º A Segunda Vida de Brás Cubas (Rocco), de Patrick Pessoa
10.º A Gargalhada de Ulisses: A Catarse na Comédia (Perspectiva) de Cleise Furtado Mendes

Infantil

1.º Sete Histórias Para Contar (Moderna), de Adriana Falcão
2.º Comilança (DCL), de Fernando Vilela
3.º No Risco do Caracol (Autêntica), de Maria Valéria Rezende e Marlette Menezes
4.º Era Outra Vez Um Gato Xadrez (Record), de Leticia Wierzchowski
5.º Minhas Contas (Cosac Naify), de Luiz Antonio
6.º A História de Biruta (Cia. das Letras), de Alberto Martins
7.º Zoo (Nova Fronteira), de João Guimarães Rosa
8.º E Um Rinoceronte Dobrado (Projeto), de Hermes Bernardi Jr
9.º A Invenção do Mundo Pelo Deus-Curumim (34), de Braulio Tavares
10.º Alma de Rio (Cortez), de Ellen Pestili

Juvenil

1.º O Fazedor de Velhos (Cosac Naify), de Rodrigo Lacerda
2.º A Distância das Coisas (Edições SM - Grupo SM), de Flávio Carneiro
3.º Cidade dos Deitados (Cosac Naify), de Heloisa Prieto
4.º Montanha-Russa (Cosac Naify), de Fernando Bonassi, e Surfando na Marquise (Cosac Naify), de Paulo Bloise
5.º 1808 - Edição Juvenil (Planeta), de Laurentino Gomes
6.º Brincos de Ouro e Sentimentos (Pingentes Biruta), de Luiz Antonio Aguiar
7.º Figurinha Carimbada (Girafinha), de Márcio Araújo
8.º Chuva de Letras (Scipione), de Luis Alberto Brandão
9.º Meu Pai Não Mora Mais Aqui (Biruta), de Caio Riter
10.º Conversa de Passarinhos (Iluminuras), de Alice Ruiz S / Maria Valéria Vasconcelos Rezende

Fonte:
Douglas Lara.
http://www.sorocaba.com.br/acontece

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Humberto de Campos (Senadores "Barbeiros")



Zacarias de Gois e Vasconcelos era orgulhosíssimo e fazia questão de, quando falava, ser ouvido atentamente por toda a casa. Um dia, achava-se ele na tribuna, quando notou que dois velhos colegas, o Barão do Rio-Grande e o Barão de Pirapama, que eram profundamente surdos, conversavam em voz alta, para se entenderem sobre navalhas afiadas. Zacarias parou.

E como a interrupção causasse estranheza:

- Estou esperando que os Barões de Pirapama e do Rio-Grande acabem de se barbear!

Fontes:
- Taunay - Reminiscências - vol. I. In CAMPOS, Humberto de. Brasil Anedótico.
- Imagem = http://aturminhado6d.blogspot.com

Roza de Oliveira (Poetas do Paraná)



A PALMEIRA

Na escalada da Montanha
a palmeira ameaçada
por estranho vendaval
entrelaçou-se a um Carvalho
que contente lhe ofertou
segurança paternal

Embora tão diferente
dentro da vegetação...
unida é bem mais feliz
do que todas as demais
que vivem na solidão.

===============

INSTANTÂNEO

Sempre que me inauguro
em teu sorriso
sinto tocar de leve
o Paraíso

===============

METAMORFOSE

Dentre as setas
com que me feres
eu forjarei a Agulha
com que bordarei a tela
da minha noite escura.
Nela tecerei
a Estrela que nos guia
com mãos de ternura
====================

RELÓGIO DE SOL

Relógio de sol
Eu sou.
Nuvens e trevas
Rejeitando vou…
Só registro as horas
Em que o sol brilhou
===============

MAGIA

Sempre que me inauguro
Em teu sorriso
Sinto tocar de leve o paraíso!
===============

PRIMAVERA

Todo ser tem seu tempo de expressão.
Baila a ave se a vida é movimento,
E canta quando a vida é uma canção,
Seja na alegria ou no tormento.

A primavera é um festival de vida.
Da planta sai poesia colorida:
Poesia-flor que transborda docemente
O prazer de ser fruto e ser semente.

Cada flor tem seu verso e sua rima
Nas florestas, nas praças e nas casas,
Do amor é poesia cristalina!

E na expressão que vitaliza esse planeta
Se, de repente as flores criam asas…
Não é verso-fantasma! – é borboleta!
===============

CASA ONÍRICA

Bem no pico dos meus sonhos
Construí minha morada
Sem paredes, sem telhados…
Sem limites nos seus lados.

Bem que o telhado varia:
Varia…conforme o dia:
Há telhado de gaivotas…
De estrelas…de andorinhas.

Minha cama – é uma nuvem.
Minha mesa – a lua cheia.
O vento – é o meu cavalo!
Sou turista do infinito!…
––––––––––––
Fontes:
– Andrea Motta. http://simultaneidades.blogspot.com/
- Antologia dos Acadêmicos - Edição comemorativa dos 60 anos da Academia de Letras José de Alencar. SP: Scortecci, 2001.

Roza de Oliveira (1941)


Roza de Oliveira, nasceu em Monte Alegre, distrito de Santo Antônio de Pádua, no Rio de Janeiro a 26 de agosto de 1941, Filha de Sebastião Bembém de Oliveira (de saudosa memória) e Dona Elazir Azevedo de Oliveira.

Morou em Paranavaí dos 7 aos 38 anos, onde concluiu seus estudos no curso de Letras e lá exerceu o magistério. Professora desde os 15 anos de idade. Já atuou no primeiro, segundo e terceiro graus em Paranavaí, Londrina e Curitiba. Tem mestrado em literatura brasileira. Mora em Curitiba desde 1979. Docente do Departamento de Letras da Universidade Tuiuti do Paraná. Casada com o maestro Júlio Enrique Gomez, participa do projeto poético musical “Lançando a rede na Lua”

Roza de Oliveira é eximia declamadora, fez palestras e conferências em entidades de várias cidades do Estado do Paraná. Recebeu várias homenagens, diplomas, medalhas, troféus e menções honrosas referentes aos serviços prestados e participações de concursos literários.

A escritora desenvolve, ainda, a Oficina Permanente de Poesia, na Biblioteca Pública do Paraná,

Formação Escolar:
Letras Franco-Portuguesas pela faculdade de filosofia de Paranavaí.
Mestrado em Letras-Literatura Brasileira - pela Universidade Federal de Santa Catarina.

Membro de:
- Academia Paranaense da Poesia, da qual é presidente.
- Centro de Letras do Paraná.
- Academia Feminina de Letras do Paraná. Cadeira 32.
- Centro Paranaense Feminino de Cultura.
- Academia de Letras José de Alencar, Cadeira 17.
- União Brasileira de Trovadores (UBT).
- Círculo de Estudos Bandeirantes (PUC).

Livros Publicados:

POESIAS:
- Escalada, 1979.
- Halley Cruzado & Cia - Poesia do Dia-a-Dia, 1986.
- S.O.S. Vida, Verde, Paz, no Pesadelo da Violência, 1990.
- Poemas de Amor, 1993.
- Minhas Trovas de Humor e Retrucando Minhas Trovas de Humor, 1993.
- Paródias Musicais, Poemas e Trovas para as Celebrações Escolares, 1992
- Caracolando - Poesias, 1997.

PROSA INFANTO-JUVENIL:
- Passeio Cósmico, 1989.
- A Menina que Queria Voar, 1990.
- O Cavalinho de Guilherme, 1993.

ENSAIO CRÍTICO:
- As Imagens do Ar nos Poemas de Tasso da Silveira - Publicação da Secretaria de Estado da Educação - 2001

PARTICIPAÇÕES EM ANTOLOGIAS:
- Seara Nova - Contos e Poesias, 1978.
- Sesquicentenário da Poesia Paranaense,1985

- Caderno Pedagógico da Assintec - Associação Interconfessional de Curitiba, 1994.
- O Lúdico na Trova, 1995.
- Mulheres Escrevem - Centro Paranaense Feminino de Cultura, 1997.
- Antologia dos Acadêmicos - Edição comemorativa dos 60 anos da Academia de Letras José de Alencar, 2001
- Semeadura da Paz - Publicação do Clube Soroptismista Internacional, 2000.

Fontes:
– Agência de Notícias do Estado do Paraná. http://www.aenoticias.pr.gov.br/modules/news/article.php?storyid=9359
– Andrea Motta. http://simultaneidades.blogspot.com/

- Antologia dos Acadêmicos - Edição comemorativa dos 60 anos da Academia de Letras José de Alencar. SP: Scortecci, 2001.

Rachid Boudjedra (1941)



Rachid Boudjedra nasceu em 1941 em Aïn-Beïda, Argélia. Sua obra ocupa importante espaço na literatura produzida após a guerra de libertação de seu país (1954-1962). Escreveu sempre em francês, mas atualmente se dedica também à produção em árabe. Desde seu primeiro romance, La Répudiation (1969), Boudjedra volta seu olhar para as contradições da Argélia independente — nação em que ainda é notável o embate entre a modernidade e o respeito à tradição.

Preocupação constante em seu trabalho são as condições do imigrante magrebino na Europa, especialmente na França, como ocorre no presente Topografia ideal para uma agressão caracterizada. Fortemente influenciado pelo nouveau roman francês, ganhou notoriedade por sua escrita sofisticada.

Além de romancista, Rachid Boudjedra é professor, poeta, ensaísta, autor de teatro e cinema, tendo assinado o roteiro do notável Crônica dos anos de brasa (Palma de Ouro em Cannes, 1975), dirigido por Mohammed Lakhdar Amina. Ministrou aulas em diversas universidades do mundo árabe e europeu. Em 1987, uma fatwa islâmica com sentença de morte foi emitida contra o escritor, por considerarem que sua obra representa uma afronta aos fundamentos do Islã. Entre suas obras mais recentes, constam La Fascination(2000), Les Funérailles (2002) e L’Hôtel Saint Georges (2007).

Fonte:
http://www.estacaoliberdade.com.br/autores/boudjedra.htm

Flávia Nascimento, Professora da UFPB Concorre ao Prêmio Jabuti de Literatura



Flávia Nascimento, doutora em Literatura Francesa pela Universidade de Paris, está entre as 10 finalistas do Prêmio de Literatura, na categoria da Tradução.

A professora adjunta da Universidade Federal da Paraíba (DLEM/PPGL), pesquisadora do CNPq e tradutora literária e de humanidades, Flávia Nascimento, é uma das dez finalistas do Prêmio Jabuti de Literatura, concorrendo na categoria ‘Tradução de Obra Literária Francês-Português’ com o trabalho “Topografia ideal para uma agressão caracterizada”, publicado pela Editora Estação Liberdade Ltda.

Em entrevista à Agência de Notícias da UFPB, a doutora em Literatura Francesa pela Universidade de Paris falou sobre seu trabalho e a importância do prêmio a que está concorrendo.

ENTREVISTA:

Agência de Notícias – Qual a importância no mundo literário do prêmio Jabuti?

Flávia Nascimento – O prêmio Jabuti é o prêmio literário mais relevante do país. Mas sua importância deve ser entendida mais propriamente no âmbito do mundo editorial brasileiro, e não apenas no do mundo literário. Isso porque o Jabuti não contempla somente textos literários (romance, conto, poesia), mas também outras categorias textuais importantes, entre as quais “tradução”, “biografia”, “ciências humanas”, e etc. Ao todo, são vinte categorias, que premiam, inclusive, aspectos artísticos do processo de fabricação do objeto estético a que chamamos livro; assim, por exemplo, as categorias “projeto gráfico” e “ilustração de livro infantil ou juvenil”. O prêmio é anual. Todos os anos, há uma premiação para a melhor tradução de língua estrangeira. Agora, em 2009, foi criada excepcionalmente a categoria “melhor tradução francês-português” (21ª categoria), no âmbito das comemorações do ano da França no Brasil. Meu trabalho está concorrendo como finalista nesta última categoria.
O Jabuti, que está em sua 51ª edição, foi criado por iniciativa da CBL (Câmara Brasileira do Livro). A escolha do pequeno quelônio para simbolizar a premiação ocorreu num contexto de valorização da cultura popular brasileira, na esteira do pensamento de Sílvio Romero, Mário de Andrade, Câmara Cascudo e Monteiro Lobato (um dos personagens de Lobato é precisamente um jabuti).

Agência de Notícias – De que trata o seu trabalho?

Flávia Nascimento - Topografia ideal para uma agressão caracterizada (1ª edição francesa: 1975), que traduzi para a editora paulista Estação Liberdade, é de autoria do escritor argelino de expressão francesa Rachid Boudjedra (nascido em 1941), um dos mais importantes, hoje, de seu país (Boudjedra escreve também em árabe). Essa é a primeira tradução de uma obra sua em língua portuguesa. Nesse texto, ele narra as desventuras de um herói anônimo – um imigrante argelino – pelos corredores do metropolitano parisiense, labirinto urbano subterrâneo em que ele se perde por algumas horas e do qual não sairá vivo. A intriga é minimalista, como se vê, mas seu poder de impacto sobre o leitor é desconcertante, graças à sofisticada arte do narrador de Boudjedra. O tema do imigrante pobre em busca de melhores condições de vida, do imigrante vitimado pelo ódio racista, é universal, e já originou obras em línguas diversas. Creio que ele encontra um eco longínquo, por exemplo, tanto em certos versos de João Cabral de Melo Neto quanto na letra da canção “Construção”, de Chico Buarque. A atualidade desse tema é desesperadoramente real: quer sejam eles nordestinos ou “hermanos” em São Paulo, indianos em Londres, haitianos em Nova Iorque, turcos em Berlim, angolanos em Lisboa ou argelinos em Paris, nosso mundo está repleto de migrantes e imigrantes em busca de trabalho. Escrevi para minha tradução um posfácio que intitulei precisamente “Morte e vida magrebina”, lembrando-me dos terríveis versos de João Cabral em “Morte e vida severina”.

Agência de Notícias – Qual a classificação de sua obra nessa disputa, até agora?

Flávia Nascimento - Meu trabalho ficou entre os dez finalistas, depois de ter concorrido com dezenas de outras traduções de obras literárias originalmente escritas em francês. Ao todo, nas 21 categorias, foram mais de 2.000 inscrições (uma média de quase 100 inscritos para cada uma). A próxima etapa, agora, é a escolha dos três primeiros colocados. Sinto-me profissionalmente muito gratificada por já estar entre as dez melhores traduções do francês para o português selecionadas pelo júri do Jabuti.

Agência de Notícias - Quando sairá o resultado final do concurso?

Flávia Nascimento – Os nomes dos três vencedores serão anunciados em São Paulo, no final de setembro.

Fonte:
Douglas Lara (http://www.sorocaba.com.br/acontece)

Convite na I Bienal do Livro de Curitiba

Fonte: museu de imagem e som

4a. Coletânea do Espaço Literário “Sorocult”



A capa dele continua seguindo o mesmo padrão dos livros anteriores, porém agora vem com alguns diferenciais devido ao fato do site Sorocult ter mudado de visual desde o início deste ano. As capas são iguais porque os livros fazem parte de uma coleção

Ele passou por duas revisões ortográficas ao invés de uma só, seguindo assim padrões mais modernos de revisão. Uma delas foi feita pela também co-autora no livro, Angela Cristina Santos de Jesus, que já faz a revisão dos livros dos Sorocultinhos. A outra está sendo feita pela revisora da Ottoni editora, com ambos os trabalhos se completando, dando assim ainda mais qualidade para o livro.

Uma Leitura Crítica da parte teórica, que estará no final do livro, feita pela também co-autora no livro, Angela Maria de Godoy Theodorovickz. Um livro muito bom que trará excelentes textos e belíssimas poesias. Um livro completo em vários sentidos.

O prefácio do livro foi feito pelo Secretário da Cultura de Sorocaba, Anderson Santos,. Ele escreveu um excelente texto, agregando desta forma, ainda mais valor ao livro.

O lançamento do livro será na 3ª Expo Literária de Sorocaba que acontecerá de 21 a 24 de outubro, na Biblioteca Municipal de Sorocaba. O lançamento será no último dia do evento, sábado, dia 24, provavelmente em torno das 14h.

Co-autores
Amadeu de Carvalho Junior---Pilar do Sul)
Angela Cristina Santos de Jesus---(Sorocaba) – (participa com 2 cotas no livro)
Angela Maria de Godoy Theodorovicz---(São Paulo)
Carmen Silveira de Abreu ---( Sorocaba)
Cláudia Salck---( Sorocaba)
Daniela Larissa Madureira Salcedo ---(Sorocaba)
Débora Valio Corrêa Fidêncio---(Pilar do Sul)
Dorothy Jansson Moretti ---( Sorocaba)
Fabiana Aparecida dos Anjos Souza ---(Sorocaba)
Fábio Souza Santos---(Votorantin)
Gonçalves Viana ---( Sorocaba)
Isabela Maria Madureira Salcedo ---(Sorocaba)
Jair Pereira da Silva---(Pilar do Sul)
Jairo Valio (Sorocaba)---(Sorocaba)
Joaquim Evónio ---(Portugal) – (participa com 2 cotas no livro)
Josefa Maria Portela ---(Sorocaba)
Leandro Galhardi Paez---(São Caetano do Sul)
Lourdinha Ribeiro Blagitz ---(Sorocaba)
Luis Fernando Costa Daher ---(Sorocaba)
Maria Antonia Canavezzi Scarpa ---(Sorocaba) - (participa com 3 cotas no livro)
Maria Antonieta Pincerato---(Salto de Pirapora)
Maria Thereza Moreira Pereira (Sorocaba)
Mariana Domitila Padovani Martins (Sorocaba)
Marianice Straub Terra Barth---(São Paulo)
Natali Cristiane dos Santos Silva ---(Sorocaba)
Neusa Padovani Martins ---(Sorocaba)
Nícolas Estevan Padovani Martins ---(Sorocaba)
Paula Regina Bissoli Nattis---(Itu)
Pedro Milan---(Itu)
Tereza Cristina Galvão Cesar ---(Sorocaba)
Therezinha Aparecida Válio Corrêa---(Pilar do Sul)
Tífani Postali ---(Sorocaba)
Valter de Jesus Martins ---(Sorocaba)
Vânia Moreira Diniz---(Brasília)
Vilma Padovani Borsari---(Itu)
Wagner Ferreira ---(Sorocaba)

Fonte:
Douglas Lara (http://www.sorocaba.com.br/acontece)

3ª Expo Literária de Sorocaba



Como será a Expo Literária: haverá uma tenda gigante para 600 pessoas destinada às apresentações dos escritores convidados (grandes escritores da atualidade) e os escritores sorocabanos.

Cada escritor sorocabano poderá se inscrever, para palestrar, declamar poesias e para bater papo com os visitantes (o que ocorrerá na tenda gigante). O Sorocult terá alguns horários pré-definidos para atender todos seus escritores em atividades diferenciadas. Gostaríamos de receber sugestões e pedidos de vocês para podermos acertar nossa agenda.

Todos que são do Sorocult participarão automaticamente do evento, em espaço que será montado nele e também assistindo as palestras que forem oferecidas pelo evento, mediante a retirada de convite antecipadamente.

Quem desejar fazer algum tipo de apresentação na Expo poderá se inscrever previamente através de uma ficha de inscrição que se encontra à disposição de todos em Divulgação no site www.sorocult.com. É só copiar a ficha, imprimir, preencher e entregá-la na Secretária da Cultura ou na Biblioteca Municipal em Sorocaba.

A data limite para inscrição é dia 31 de agosto, mas a data será prorrogada. De qualquer forma, se tiverem interesse em participar com alguma atividade individual, preencham a ficha e entreguem. Os colegas de fora de Sorocaba poderão enviar a ficha preenchida via e-mail para : taniakalil@yahoo.com.br .

Maiores informações pelo fone (15) 3238-1955 com Tânia Kalil. Caso marquem alguma apresentação, avisem para ser colocada na programação também. Mas, observem: só participa palestrando, declamando e outros, quem quiser. Quanto aos livros a serem vendidos na Expo, junto há uma ficha própria para eles. O nº de títulos que consta lá também será mudado.

Se´rá lançado também na Expo a “5ª Coletânea dos Sorocultinhos - Profissões e trabalho” que faz parte do PLRS (Projeto Leitura Responsável Sorocult) e é feito para ser doado para crianças carentes das entidades assistenciais de Sorocaba e região.

Fonte:
Doulas Lara (http://www.sorocaba.com.br/acontece)

Caldeirão Poético do Pernambuco



Saulo Novaes

QUADRO DE OUTONO

Cai a última folha da árvore nua
Lentamente
Amparada pelos traços invisíveis
Do vento de Outono
E da janela, olhos que não vêem
Observam a dança da natureza
Enquanto os olhos reais
Passam ilesos por aquela cena

EXPLOSÃO POÉTICA

Pratico meu egoísmo
Numa poesia em primeira pessoa
Ao rimar-me num oásis poético
De versos livres.
Cantando a liberdade,
Saio à procura da perfeita
Forma que expressará
Aquilo que sinto,
E que me foge
Como a explosão de átomos.
============================
Sérgio Bernardo

HERANÇA DAS VÁRZEAS

-Que herança foi deixada
por teu pai, poeta?
-Uma serra gasta de suor
seixos de maré faminta
que afiava a lua minguada
em suas mãos

-E o teu pai, o que deixou?
-Uma casa no campo
outra na praia e contas bancárias
pela cidade

-Mas, e o teu? Só a lua minguada
e nada mais?
-Ele fora carpinteiro
e tantas vezes canoeiro
sabia das marés obesas e nuas.
Por isso não sou poeta
sou canoa e serra amanhecendo

-Diga-me então, já que não és poeta:
-o que ele faz hoje?
-Poda as nuvens em silêncio
para a minha chegada.

UMA LUZ, SÓ UMA LUZ

A um ano-luz ou laços infinitos
De uma aritmética suicida?

O calendário no mofo da parede
Sustenta a agonia das asas
E milhões de vidas
Juntam-se aos tigres enterrados

Quando começa a morrer o sol
De teus olhos
O calendário outra vez
Mostra-me o inatingível

Aí, vem a consciência:
Não compreendes?
A China já mora em teu rosto.

As nuvens de um chão aberto
Em rugas e brasas
Ainda se vestem de esperança.

O coração do amado
Viaja continentes
E chega ao teu, faz morada,
As fontes renascem
E a incadescência da manhã
Vive cantigas de pássaros.
===============================

Sergio Leandro

CANÇÃO PARA LISBOA

Há um mundo de águas e seres abissais
entre meu coração e Lisboa.
Mas eu sei que nos confins do dia
uma fogueira arde contra o frio e minha pátria espera

Minha canção também é feita de silêncio
e o meu tumulto se derrama nas horas vazias da noite...

Eu invoco as palavras sagradas
e ergo ao vento o meu estandarte
porque nos confins do dia
uma fogueira arde contra o frio e minha pátria espera.

ETERNA SÚPLICA

Morrer na flor da idade
Sem andar pelos pomares,
Sem colher os frutos doces...

Ai, meu Deus, não permitas tal!

Morrer na flor da idade
Sem ver se quer um filho.
Um filho!

Ai, Deus meu, não permitas tal, Senhor.

Ó Deus de todos os mortais,
De todos os crentes,
Deus de todos os ateus...

Deixa crescer a árvore junto às águas,
Deixa em silêncio a voz dos sinos,
Deixa.

CONCLUSÃO

O amor,
O ódio,
A violência,
O cosmo,
O infinito.

O que há de novo em tudo isso?

Nenhum dia se passou
Sem que eu pensasse na morte...

A vida é como a poeira
Que o vento leva,
Como teus olhos embaçados pela chuva,
Como eu mesmo quando me escondo.
======================
Sérgio Ricardo Soares

EPILIMNO

nunca bordou-se de singelas ondinhas azuis
o lago frio
nunca foi cisterna por cujo brilho
via-se plâncton

existiu -como é o comum nos dias -
com demasiada pouca luz
mal se distinguia o extenso lodo
que afinal nunca fora muralha assim tão mordaz

nunca o lago frio coalhou-se de gansos
os últimos fugiram sem grasnar
da sombra dos salgueiros

nunca pôde haver inverno branco
sob a sombra dos salgueiros
nunca se soube o sabor da pouca água
porque se desprezava com simples olhar
as poças pululantes de camarões

era remoto de qualquer rio
entre três montes humildes
só cheirava o vento forte
a longos juncos amarelados
aroma até doce
se vagasse em brisa
que no frio do lago nunca houve
e durou tanto

DRAMA

em verdade não é mais belo
o vôo do ranforrinco

atenção e notarás
como hesita um de seus braços
como se o espaço baixo fosse vastidão
e mãe dramática a vociferar algemas
como seus olhos repitílicos estão cheios
de falta de brilho de quem não encontra sua paz
e não a busca
e nem discerne os seres que lhe causam
esses embriões de pavor

o ranforrinco já é o assombro
de hibridez e esterilidade
vôo alçado ontem
e urgência de repouso
mas não se pousa no chão do futuro

não funciona por enquanto
a vida do ranforrinco
se ele soubesse que à frente
do ir está apenas a morte tamanha
----

Hélio Pólvora (A Chuva, Sol e Grilo Falante)



Veio a chuva e disse:

— Amigo, você anda triste, mas aqui estou para lhe dar firmeza. Deite, durma e esqueça tudo. Esqueça que árabes e israelenses se matam, não pense no Iraque devastado, esqueça as crianças mutiladas no Pará, as balas perdidas, o desemprego, as drogas, os assaltos, o roubo quase institucionalizado.

E a chuva companheira se pôs a cair no telhado e a pingar no cimento com o leve rumor doce de fonte escorrendo no prado.

— Ora essa, Chuva, você promete firmeza e, mal o sol surge em Salvador, você desaba outra vez. É chuva de mais para as minhas lavouras. Mas, sendo pessoa de ordinário cordata, eu lhe digo: obrigado, Chuva, você chove dentro de mim, lava minhas nódoas, que são poucas, e renova minhas purezas, que são muitas e sem valia.

— Não tem de que, amigo. Chovo porque você merece chuvas novas e antigas, grossas e finas, especialmente sem trovões, para serem bem melodiosas — chuvas mozartianas, que tal? Chuvas são para adiar, imaginar e criar, sonhar, recriar, conhecer falsas condessas e ciganas esquivas. Vamos, feche esses olhos e vá dormir, amanhã é outro dia e talvez você acorde num Brasil rico, direito e decente.

Acordei horas depois com o sol ardendo nos olhos e me queimando a cara inteira. E o Sol me disse, zangado:

— Levante, endireite a vida, você já pensou demais, quando é que resolve botar a cartucheira e empunhar o fuzil? Seus amigos já estão todos no campo de batalha.

— Bom dia, Sol. Sou da guerrilha e não sei atirar. Hay que pelear, pero sin perder la ternura. Você fala igual ao meu pai, que me mandava arar muito cedo para garantir no futuro minha cabeça de vento. Muito tenho laborado, quarenta, cinqüenta anos, sei lá, em repartições e jornais, dando aulas, redigindo, emendando prosa alheia, fazendo discursos para ministros. Pois é, acho que aprendi a escrever, o que já é alguma coisa, também a beber e traduzir,.e respirei na cidade grande o gás venenoso dos ônibus. Agora eu lhe pergunto, amigo Sol: adiantou?

— Adiantou, sim. Então você não vê que o trabalho de que tanto fala é falso, aparente e vão, servindo somente de base para o outro trabalho, o verdadeiro, do seu íntimo, do seu interior?

Fiquei comovido, mas não convencido. O sol tirou um reflexo da vidraça.

— É isso aí, filho. Você tem crescido com nossa ajuda de muitos sóis, luas e chuvas. Parabéns por sua riqueza.

— Eu, rico? Não tenho um décimo da aposentadoria de um desembargador.

— Rico, sim senhor. Veja as minas que você explora dentro de si. Você é uma África do Sul em diamantes, e sem apartheid. E agora, contista, com licença, tenho de ir ao Iguatemi conversar com os escritores que acordam sempre cedo e arregimentam forças para a Academia.

E o Sol sumiu. Pela janela avistei apenas os mares da baía, que pareciam anoitecidos em plena manhã. O Grilo Falante saudou-me então com sua voz estridente:

— Não acredite nessas falas de sonhos embalados pela chuva, nem em promessas de diamantes de metáfora. São miragens, meu velho, miragens de sol no deserto. Para encher os seus dias de riqueza deveras substancial, maior que a dos cantores de trio elétrico e dos auditores corruptos, basta ler Turgueniev em francês.

A essa altura, irritei-me com tanto conselho desatinado, pois afinal o sol arde demais no Nordeste calcinado, a chuva chove em demasia nas terras úmidas do sul, e Grilo Falante eu só conheço de contos da carochinha. O Grilo saltou. Gritou-me que ia dar um piparote na cabeça da ministra Benedita da Silva. Subi a Ladeira da Barra por entre levas de pivetes, pedintes e bandidos armados, e lá em cima Franz Kafka de roupa preta me piscou um olho, enquanto Joyce me acusava aos berros de nunca ter lido o Ulisses inteiro.

Fonte
http://www.jornaldecontos.com/cronica_achuvasolegrilofalante.htm

Monteiro Lobato (O Saci)



A rotação da terra produz a noite; a noite produz o medo; o medo gera o sobrenatural: – divindades e demônios têm a origem comum da treva

Quando o sol raia, desdemoniza-se a natureza. Cessa o Sabá. Satã afunda no Inferno, seguido da alcatéia inteira dos diabos menores.

A bruxa reveste a forma humana. O lobisomem perde a natureza dupla. Os fantasmas diluem-se em névoa. Evaporam-se os duendes. Os gnomos subterrâneos mergulham no escuro das tocas. A caipora deixa em paz o viajante. As mulas sem cabeça reincabeçam-se e vão pastar mansamente. As almas penadas trancam-se nas tumbas. Os sacis param de assobiar e, cansados duma noite inteira de molecagens, escondem-se nos socavões das grotas, no fundo dos poços, em qualquer couto onde não penetre a luz, sua mortal inimiga. Filhos da sombra, ela os arrasta consigo mal o Sol anuncia, pela boca da Aurora, o grande espetáculo em que a Luz e sua filha a Côr esplendem numa fulgurante apoteose.

A treva, batida de todos os lados, refoge para os antros onde moram a coruja e o morcego. E nessas nesgas de escuro apinha-se a fauna inteira dos pesadelos, tal qual as rãs e os peixinhos aprisionados nas poças sem esgoto, quando após as grandes enchentes as águas descem. E como nas poças verdinhentas a atraíra permanece imóvel e a rã muda, assim toda a legião dos diabos se apaga. Inutilmente tentaríamos surpreender unzinho sequer.

O saci, por exemplo.

Abundante à noite como o morcego, nunca se deixou pilhar de dia. Metido nas tocas de tatú, ou nos ocos das árvores velhas, ou alapado à beira-rio em solapões de pedra limosa com retrança de samambaias à entrada, o moleque de carapuça vermelha sabe como ninguém o segredo de invizibilizar-se. Não colhesse ele, todos os anos, nas noites de São João, a misteriosa flor da samambaia!…

Mal, porém, o sol afrouxa no horizonte e a morcegada faminta principia a riscar de vôos estrouvinhados o ar cada vez mais escuro da noitinha, a “saparia” pula dos esconderijos, assobia o silvo de guerra – Saci-pererê! – e cai a fundo nas molecagens costumadas.

As primeiras vítimas são os cavalos. O saci corre aos pastos, laça com um cipó o animal escolhido – e nunca errou laçada! – trança-lhe a crina para armar com ela um estribo e dum salto monta-o à sua moda. O cavalo toma-se de pânico, e deita a corcovear pelo campo afora enquanto o perneta lhe finca os dentes numa veia do pescoço e chupa gostosamente o sangue. Pela manhã o pobre animal aparece varado, murcho dos vazios, cabeça pendida e suado como se o afrouxasse uma caminheira de dez léguas beiçais.

O sertanejo premune-o contra esses malefícios pendurando-lhe ao pescoço um rosário de capim ou um bentinho. É água na fervura.

Farto, ou impossibilitado daquela equitação vanpírica, o saci procura o homem para atenazá-lo.

Se encontra na estrada algum viajante tresnoitado, ai dele! Desfere-lhe de improviso um assobio ao a ouvido escarrancha-se-lhe à garupa – e é uma tragédia inteira o resto da jornada. Não raro o mísero perde os estribos e cai sem sentidos à beira do barranco.

Outras vezes diverte-se o saci a pregar-lhe peças menores: desafivela um lóro, desmancha o freio, escorrega o pelego, derruba-lhe o chapéu e faz mil outras picuinhas brejeiras.

O saci tem horror à água. Um depoente no inquérito demonológico do “Estadinho” narra o seguinte caso típico. Havia um caboclo morador numa ilha fluvial onde nunca entrara saci, porque as águas circunvolventes defendiam a feliz mansão. Certa vez, porém, o caboclo foi ao “continente” de canoa, como de hábito, e lá se demorou até à noite. De volta notou que a canoa vinha pesadíssima e foi com enormes dificuldades que conseguiu alcançar o abicadouro da margem oposta. Estava a ‘maginar no estranho caso – um travessio que fora fácil de dia e virara osso de noite – quando, ao firmar o varejão em terra firme, viu saltar da embarcação um saci às gargalhadas. O malvado aproveitara o incidente do travessio a deshoras para localizar-se na ilha, onde, desde então, nunca mais houve sossego entre os animais nem paz entre os homens.

Nos casebres da roça há sempre uma pequena cruz pendurada às portas. É o meio de livrar a vivenda do hospede não convidado. Mesmo assim ele ronda a moradia, arma peças a quem se aventura a sair para o terreiro, espalha a farinha dos monjolos, remexe o ninho das poedeiras, gora os ovos, judia das aves.

Se a casa não é defendida, é lá dentro que ele opera. Estraga objetos, esconde a massa do pão posta a crescer, esparrama a cinza dos fogões apagados em cata de algum pinhão ou batata esquecidos. Se encontra brasas, malabariza com elas e ri-se perdidamente quando consegue passar uma pelo furo das mãos. Porque, além do mais, tem as mãos furadas, o raio do moleque…

As porteiras, como as casas, são vacinadas contra o saci. Rara é a que não traz uma cruz escavada no macarrão. Sem isto o saci divertir-se-ia fazendo-a ringir toda a noite ou abrindo-a inopinadamente diante do transeunte que a defronta, com grande escândalo e pavor deste, pois adivinharia logo o autor da amabilidade e o repeliria com esconjuros.

Os cães apavoram-se quando percebem um saci no terreiro, e uivam retransidos.

Refere um depoente o caso da Dona Evarista. Morava esta excelente senhora numa casinha de barro, já velha e buraquenta, em lugar bastante infestado. Certa noite ouviu a cachorrada prorromper em uivos lamentosos. Assustada, pulou da cama, enfiou a saia e, tonta de sono, foi à cozinha, cuja porta abria para o quintal. E lá estarreceu de assombro: um saci arreganhado erguia-se de pé na soleira da porta, dizendo-lhe com diabólica pacholice: Boa noite, dona Evarista! A veha perdeu a fala e desabou na terra-batida, só voltando a si pela manhã. Desde então nunca mais lhe saiu das ventas um certo cheirinho a enxofre…

Se fossem só essas aparições…

Mas o saci inventa mil coisas para azoinar a humanidade. Furta o piruá da pipóca deixado na peneira, entorna vasilhas d’água, enreda a linha dos novelos, desfaz os crochês, esconde os roletes de fumo.

Quando um objeto desaparece, dedal ou tesourinha, é inútil campeá-lo pela casa inteira. Para reavê-lo basta dar três nós numa palha colhida num rodamoinho e pô-la sob o pé da mesa. O saci, amarrado e imprensado, visibilizará incontinente o objeto em questão para que o libertem do suplício.

Rodamoinho… A ciência explica este fenômeno mecanicamente, pelo choque de ventos contrários e não sei mais que. Lérias! É o saci que os arma. Dá-lhe, em dias ventosos, a veneta de turbilhonar sobre si próprio como um pião. Brincadeira pura. A deslocação do ar produzida pelo giroscópio de uma perna só é que faz o remoinho, onde a poeira, as folhas secas e as palhinhas dançam em torno dele um corrupio infrene. Há mais coisa no céu e na terra do que sonha a tua ciência, Ganot!

Nessas ocasiões é fácil apanhá-lo. Um rosário de capim, bem manejado, laça-o infalivelmente. Também há o processo da peneira: é lançá-la, emborcada, sobre o núcleo central do rodamoinho. Exige-se, porém, que a peneira tenha cruzeta…

A figuração do saci sofre muitas variantes. Cada qual o vê a seu modo. Existem, todavia, traços comuns em relação aos quais as opiniões são unânimes: uma perna só, olhos de fogo, carapuça vermelha, ar brejeiro, andar pinoteante, cheiro a enxofre, aspecto de meninote. Uns têm-no visto de camisola de baeta, outros de calção curto; a maioria o vê nu.

Quanto ao caráter, há concordância em lhe atribuir um espírito mais inclinado à brejeirice do que à malvadez. Vem daí o misto de medo e simpatia que os meninos peraltas revelam pelo saci. É um deles – mais forte, mais travesso, mais diabólico; mas é sempre um deles o moleque endemoniado capaz de diabruras como as sonha a “saparia”.

A curiosidade despertada pelo inquérito do “Estadinho” denota como está generalizada entre nós a crendice. Raro é o brasileiro que não traz na memória a recordação da quadra saudosa em que “via sacis” e os tinha sempre presentes na imaginação exaltada. Convidados agora para falar sobre o duendezinho, todos impregnam seus depoimentos da nota pessoal das coisas vividas na infância. Referem-se a ele como a um velho conhecido que a vida, a idade e o discernimento fizeram perder de vista, mas não esquecer…

E – dubitativos uns, cépticos outros, afirmativos muitos – a conclusão de todos é a mesma: o Saci existe!…

- Como o Putois, de Anatole France?

Que importa? Existe. Deus e o Diabo ensinaram-lhe essa maneira subjetiva de existir…

Fontes:
http://contosdocovil.wordpress.com/2008/05/15/o-saci/
Imagem = http://brincandonaescola.blogspot.com

Dicionários e sua Utilidade



Fonte de informação de uso freqüente e generalizado, o dicionário é extremamente útil. É a primeira obra de consulta a que recorremos para saber o significado de uma palavra, para checar sua ortografia e para conferir sua pronúncia exata ou sua categoria gramatical

Consulta ao dicionário enciclopédico

No dicionário enciclopédico é possível encontrar informações sobre os principais assuntos científicos, humanísticos e artísticos e também sobre a vida dos mais ilustres personagens das ciências e das artes, tudo organizado por ordem alfabética. Nomes de pessoas devem ser procurados pelo último sobrenome conhecido. Exemplo: Fernando Pessoa deve estar no verbete Pessoa, Fernando. No caso de pseudônimos, como Molière (Jean-Baptiste Poquelin), deve-se procurar pelo pseudônimo. Na lombada de cada volume existe geralmente a primeira e a última palavra tratada em cada tomo.

Alguns elementos permitem localizar a informação que procuramos num livro:
– Sumário ou índice geral, em que estão indicados os capítulos e subtítulos do livro, pela ordem em que aparecem
– Prólogo ou introdução, com dados e comentários sobre o autor e a obra. Às vezes convém ler o prólogo após a leitura do livro, para evitar que a opinião do comentarista influencie demasiadamente a nossa
– Índices (temático, de autores, de topônimos, de ilustrações). Geralmente eles se encontram no final do livro e permitem localizar alfabeticamente aquilo que procuramos, dando indicação da página
– Bibliografia, também ordenada alfabeticamente, indica outros textos em que o assunto foi tratado

Definição

O dicionário é uma obra que reúne por ordem alfabética e explica, de maneira ordenada, o conjunto de vocábulos de uma língua ou os termos próprios de uma ciência ou arte. Há também dicionários que explicitam o significado das palavras e a sua correspondência em outros idiomas. Esses livros especiais classificam-se de acordo com seus objetivos didáticos e finalidades a que se propõem.

Origens dos dicionários

Os dicionários existem desde os tempos antigos. Os gregos e romanos já recorriam a eles para solucionar dúvidas e esclarecer termos e conceitos. Esses primeiros dicionários não eram organizados alfabeticamente. Apenas reuniam definições de conteúdos lingüísticos ou literários. Só no final da Idade Média foi que começaram a aparecer dicionários e glossários organizados alfabeticamente. Quando as glosas desses manuscritos latinos ficaram muito numerosas, os monges passaram a ordená-las alfabeticamente para facilitar sua localização. Nasceu aí uma primeira tentativa de dicionário bilíngue latim-vernáculo. A invenção da imprensa, no século XV, deu novo impulso à difusão e ao uso dos dicionários.

Variedade

Há diferentes tipos de dicionário. Entre os mais comuns destacam-se:

Dicionários gerais da língua: em versão extensa ou adaptada a usos escolares. Contêm um grande número de palavras, definidas em suas várias acepções ou significados.
Dicionários etimológicos: trazem a origem de cada palavra, sua formação e evolução.
Dicionários de sinônimos e antônimos: definem o significado das palavras, apresentando as que são equivalentes ou afins –palavras sinônimas – e as de significados opostos – palavras antônimas.
Dicionários analógicos: reúnem as palavras por campos semânticos, ou por analogia a uma idéia. Não costumam ser organizados por ordem alfabética.
Dicionários temáticos: reúnem o vocabulário específico de determinada ciência, arte ou atividade técnica: Dicionário de Comunicação, de Astronomia e Astronáutica.
Dicionários de abreviaturas: muito úteis, facilitam a comunicação, principalmente nesta época repleta de abreviaturas e siglas.
Dicionários bilíngües ou plurilíngües: explicam o significado dos vocábulos estrangeiros e sua correspondência com os vocábulos nativos.

Há outros tipos de dicionário, que atendem às mais diversas finalidades: de dúvidas e dificuldades de uma língua, de frases feitas, de provérbios.

Os dicionários no Brasil

O Vocabulário Português, de Raphael Bluteau, lançado entre 1712 e 1728, é considerado a primeira tentativa bem-sucedida de edição de um dicionário da língua portuguesa. Entre os pioneiros destaca-se, porém, o Dicionário da Língua Portuguesa, de Antônio Moraes Silva. Publicado em Lisboa, em 1789, é reconhecido como o melhor e o mais completo dicionário da língua. A segunda edição desse Dicionário, enriquecida e publicada em 1813, é considerada a produção definitiva de Moraes Silva.

Entre os dicionaristas de produção mais recente sobressaem: Francisco Caldas Aulete (1823-1878), autor do Dicionário Caldas Aulete; Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1851-1925), que escreveu Lições de Filologia Portuguesa; José Rodrigues Leite e Oiticica (1882-1957), autor de Estudos de Fonologia. Na segunda metade do século XX, destaca-se o trabalho de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1910-1989), que lançou a primeira edição do Novo Dicionário da Língua Portuguesa em 1975. A segunda edição revisada e ampliada é de 1986. A grande difusão dessa obra popularizou tanto o autor que seu nome tornou-se sinônimo de dicionário: Você me empresta um aurélio?

Organização dos dicionários

Remissões: em algumas palavras aparece ao final um V, abreviatura de Ver Também, que remete o leitor a outra palavra do dicionário.
Etimologia: origem da palavra, vem normalmente entre parênteses.
Significados especiais: são aqueles relativos às linguagens específicas.
Verbete: conjunto de informações, acepções e exemplos que dizem respeito a um vocábulo.
Acepções: cada palavra tem vários ou diferentes significados, as chamadas acepções. Elas especificam-se conforme a ordem escolhida em cada dicionário: a partir das acepções mais antigas ou por sua importância e uso mais freqüente. Pequenos números separam os diversos significados.
Categoria gramatical ou morfologia: aparece sempre abreviada.

Alguns exemplos de línguas especiais

Linguagem jurídica e administrativa

O campo do direito é muito amplo. Existe o direito civil, o penal, o administrativo, o mercantil, o canônico, o processual, entre outros. Essa diversificação resulta em um vocabulário muito variado e específico:

Características da linguagem jurídica
– Objetividade: é extremamente importante, pois a subjetividade dificultaria sua função social
– Amplitude: é necessário legislar para todos os cidadãos
– Clareza e concisão: ela precisa ser compreendida por todos os interlocutores

Terminologia jurídica e administrativa
– Palavras obtidas da linguagem cotidiana: extrajudicial, decreto-lei
– Palavras e expressões latinas: ab initio (desde o princípio); ipso facto (por isso mesmo); usufruto
– Termos arcaicos: débito (em vez de dívida)
– Fórmulas: em virtude do acordado...
– Abundância de apartes e citações

Linguagem bancária

O sistema bancário, dedicado a negociar dinheiro e realizar outras operações comerciais e financeiras, tem um léxico próprio:

Léxico bancário
– Investimento: aplicação de capitais em títulos
– Crédito: empréstimo de dinheiro
– Juros: valor pago pelo empréstimo recebido
– CDB: Certificado de Depósito Bancário

Linguagem da informática

A informática é um campo de atividade que se ocupa do tratamento da informação em um meio físico automatizado, o computador. Sua linguagem, bastante específica, vem-se incorporando com rapidez à língua cotidiana:

Léxico da informática
– Computador: aparelho eletrônico de processamento de dados
– Hardware: conjunto de componentes físicos do computador
– Software: conjunto de programas do computador
– Programa: conjunto de instruções de uma linguagem de computador que permite solucionar um tipo determinado de problema
– Caracteres: símbolos utilizados para escrever dados e programas
– Bit: é o menor elemento de armazenamento de informação
– Byte: é a unidade mínima que representa um caractere ou número composto por 8 bits
– Programa-fonte: programa escrito pelo programador em linguagem simbólica: Assembler, Cobol, Fortran, Basic
– Entradas: dados e programas que podem ser colocados no computador
– Saídas: informação que o computador pode nos dar depois de processar os dados
– Memória: dois tipos de memória: ROM (Read Only Memory) – armazena a informação que controla o funcionamento do computador – e RAM (Random Access Memory) – pode-se ler e atualizar a informação por meio dos programas instalados no computador

Linguagem do cinema e da teledramaturgia

Os métodos e técnicas empregados no cinema e na teledramaturgia possuem uma linguagem variada e bastante característica:

Léxico do cinema e da teledramaturgia
– Tema e argumento: mensagem do filme, apresentada em seqüências e cenas
– Roteiro cinematográfico: apresenta os diálogos, situações dos personagens, movimentos das câmeras, planos, iluminação e sons
– Planos:
Grande plano geral (GPG) – enquadramento geral da paisagem
Plano geral (PG) – apresentação dos personagens no local da ação
Primeiro plano (PP) – a câmera destaca apenas uma parte do assunto; no caso de personagens, enquadra somente ou rosto ou as mãos
Primeiríssimo plano (PPP) – tomada bem próxima, isolando um detalhe. Também chamado plano de detalhe
Plano americano – enquadramento dos personagens a meio-corpo; utilizado nos diálogos
– Pausas dramáticas: fundido em preto (a câmera se fecha numa mancha preta para passar de uma seqüência a outra), encadeamento (junção de cenas) e corte (separação de duas cenas)
– Ângulo da câmera: posição da câmera em relação ao tema

Linguagem publicitária

Tem por objetivo informar o público consumidor sobre as características e utilidades de um determinado produto, com o objetivo de induzi-lo ao consumo. Além dos cartazes e folhetos, que são seus meios próprios, a imprensa, o rádio e a televisão são os canais de divulgação privilegiados dessa linguagem:

Características da linguagem publicitária

A mensagem publicitária deve ser:
– Visível: para tanto lança mão das fotografias, do jogo de cores, da variedade de letras e símbolos
– Fácil de lembrar: por meio de jogos de palavras e slogans fáceis de memorizar
– Legível
– Impactante

Uso dos dicionários

Todo dicionário tem sua organização e suas finalidades explicadas em um prólogo. É importante lê-las para saber como aproveitar todas as possibilidades da obra. Embora as informações sobre a língua em seu conjunto sejam objeto dos dicionários gerais – de palavras e enciclopédicos –, vários dicionários especializados podem trazer um enfoque lingüístico (dicionários de sinônimos, analógicos, etimológicos) ou enciclopédico (dicionários de psicologia, de informática, de cinema, de literatura). Os dicionários, além disso, geralmente trazem como apêndice, no começo ou no final, uma lista das abreviaturas utilizadas e dos sinais de pontuação específicos. Conhecê-los também facilita o manuseio.

Funções dos dicionários gerais

Suas principais funções são:
– Definir o significado das palavras e sua representação ortográfica.
– Informar a etimologia das palavras, explicando se elas se originam do latim, do grego, do árabe, de alguma outra língua antiga ou se é o caso de empréstimo de alguma língua estrangeira moderna.
– Informar a categoria gramatical da palavra (substantivo, verbo, pronome etc.) e outros aspectos gramaticais (gênero, número).
– Auxiliar, como instrumento de estudo de uma língua estrangeira.
– Ajudar a uniformizar e manter a unidade da língua.

Fontes
http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=dicionarios/docs/origemdicionario
http://www.klickeducacao.com.br