sábado, 31 de outubro de 2009

Trovas Brincantes


Tique-taque, tique-taque...
é o tempo que vai passando.
Quase tenho um piripaque,
ao ver a idade avançando!
A.M.A. Sardenberg – RJ

Quem hoje não tem e-mail
perde contato e dinheiro...
Sem e-mail a gente é meio,
não consegue ser inteiro.
Antônio da Serra – PR

Do seu posto, à sentinela,
sobre o teto do galpão,
galo duro de panela
abre a goela, canta em vão...
Ari Santos de Campos – SC

Coincidência que me arrasa,
que me assusta e me espezinha:
– Meu marido chega em casa
quando chega o da vizinha!...
Clenir Neves Ribeiro – RJ

Arruaça e bebedeira
preferiu aos seus estudos:
hoje é peso na algibeira
dos amigos de canudos!
Eliana Palma – PR

Serei, se não morrer antes,
uma idosa serelepe;
entre jovens fascinantes,
sem ser de ninguém estepe.
Mifori – SP

– Acaso tu tem morim?
– Tenho sim... ma-qui-cô-qué?
– Uai, uai... assim, assim...
de caqué-cô qui tivé...
Osvaldo Reis – PR

Não foi possível contê-lo...
sai disparado o rojão!
Ele é quem tem pesadelo
quando ela come feijão!
Renata Paccola – SP
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Trovas extraídas da Revista virtual mensal – Coordenador: A. A. de Assis Ano 10 – n. 119 – novembro de 2009

Paulo Monteiro (A Trova no Espiríto Santo – Parte VI)

Monte H, em Piúma (ES). Tela da
Escola Municipal de Educação Fundamental
Álvaro de Castro Mattos
ÁBNER DE FREITAS COUTINHO

Ábner de Freitas Coutinho, que também usa o pseudônimo de Percy Guido, é advogado e economista. Natural do Santo Antônio, Estado do Mato Grosso, onde nasceu no dia 15 de dezembro de 1926. Reside há mais de duas décadas no Espírito Santo. É professor e integra diversas instituições culturais.
Caravelas portuguesas,
mensageiras da História
foram, levando incertezas,
voltaram cheias de glórias...

Se poupança a gente encara,
logo descobre a verdade:
nossa metade mais cara
é nossa cara metade..

Meu pai, figura esquecida,
eterno semblante mudo,
o que fiz em minha vida
só a ti eu devo tudo...

Se pensar no seu irmão,
um instante, por favor,
sentirá no coração,
renascer fraterno amor!
ALBERTO ISAÍAS RAMIRES

Alberto Isaías Ramires é capixaba de Vila Velha, onde nasceu em 8 de setembro de 1924. Um dos mais representativos trovadores do Espírito Santo. Há vários anos residente no Rio de Janeiro. Militar (Capitão Rh do Exército). Autor de diversas obras e membro de várias instituições culturais do país. Ganhador de vários concursos literários.
Quando eu morrer, por favor
coloquem na minha cova
um epitáfio de amor
escrito em forma de trova!

Da vida, pelos caminhos,
uma coisa aprendi bem:
a roseira dá espinhos,
mas nos dá rosas, também...

Por nascer pobre, o Divino
num gesto compensador,
despertou, em meu destino,
a lira de trovador...

Não entendes meu desgosto,
mas aprende esta lição:
nem sempre pomos no rosto
as mágoas do coração.

Via-a rezando, contrita,
com os olhos fitos no céu.
Quanto pecado escondido
debaixo de um fino véu!...

Falar mal da vida alheia
é coisa que não convém;
quem tem telhado de vidro
não fustiga o de ninguém...

Lá se foi a meninice,
meu barquinho do papel,
minha ingênua peraltice,
meu doce Papai Noel...
ALYDIO C. DA SILVA

Alydio de Carvalho e Silva pertence a diversas entidades culturais do país. É natural de Santa Cruz, Espírito Santo, onde nasceu em 11 de abril de 1917. Industriário aposentado, reside há quase 30 anos, fora de seu estado natal. Além de poeta é romancista. Autor de centenas de trovas e outros poemas. Tem vários livros inéditos e participou de diversas antologias.
Vi num jornal estampado
o perigo que há no beijo.
Antes ser contaminado
do que morrer de desejo.

Quando passei pela estrada
e ouvi teu canto distante,
senti que a mágoa passada
reviveu naquele instante.

Carnaval, fraternidade
transitória e resumida,
onde se esconde a verdade
dos sofrimentos da vida.

Se passas muito apressada,
fugindo à minha atenção,
eu sinto a tua pisada
esmagar meu coração.

É doce morrer no mar...
Cayme receita a dose.
Só Cristo pra transformar
tanta salmoura em glicose.
AMAURY DE AZEVEDO

Também usando o pseudônimo de Yruama, Amaury de Azevedo, capixaba de Alegre, onde veio à luz em 1º de agosto de 1935, é comerciante e reside em Campos, no Rio de Janeiro. Mesmo afastado de sua terra natal, há mais de 27 anos, Amaury continua mantendo intercâmbio com poetas do Espírito Santo.
O capixaba não nega
O que lhe pedem com jeito.
Também não foge do pega,
Estufando logo o peito.

Quando toda a Cristandade
Vê passar mais um Natal,
Surgem novas esperanças
De uma paz universal.
ANDRADE SUCUPIRA

José de Andrade Sucupira é sergipano de Pacatuba. Há mais de 35 anos reside no Espírito Santo, onde militou na imprensa e foi funcionário público. Hoje está aposentado e reside em Vila Velha. Desde os anos 30 faz trovas, divulgando-as pelas páginas dos vários jornais em que trabalhou. É um dos Príncipes da Trova Capixaba, escolhidos pelo CTC. Nasceu em 22 de junho de 1909.
Meu espelho mostra a cara
sem vergonha, encarquilhada,
no corpo setenta anos,
muita canseira, mais nada.

Pela tapera da vida
O homem nasce lutando.
Luta, luta, lida, lida
e morre... sempre esperando.

No Brasil, coisa mais feia,
e coisa que mais consome...
Poucos de barriga cheia
e a maioria com fome.

Esses seus olhos traquinos
e vivos, vivos de mais,
têm nossos céus nordestinos
no verde dos coqueirais.

Sempre amar. Eis a verdade
do berço de qualquer vida.
Se o amor não tem idade...
Venha aos meus braços, querida!

Saudade... doce ternura,
espinho que se bendiz,
flor que fere com doçura
e deixa a gente feliz.
ANSELMO GONÇALVES

Pertencendo a diversas entidades culturais e por sua prática em favor da trova, Anselmo Gonçalves, capixaba de Vitória, onde nasceu em 21 de abril de 1929, é um dos mais atuantes trovadores do Espírito Santo. É funcionário público estadual e colabora na imprensa de sua terra natal.
Meu coração bate, insiste,
vai sacudindo, batendo.
A tudo ele bem resiste,
mas continua doendo.

Vela branca passa ao largo
Lá fora, longe, no mar.
Sua vida, sem embargo,
morre distante do lar.

Uma vida! Nosso amor
degringolou de repente.
Caiu da planta uma flor
resta a lembrança somente!

Toda tua indiferença
não consegue me vencer.
Sou todo amor e sou crença,
sou vida, e sou bem-querer!
ANTONIO TAVARES SUCUPIRA

Nascido em Vitória, no dia 12 de outubro do 1956, Antonio Tavares Sucupira é filho do trovador Andrade Sucupira. É, no campo profissional, engenheiro civil, formado pela Universidade Federal do Espírito Santo.
Saudades dela? Talvez?
Se se pudesse voltar
Eu nasceria outra vez
Com a mesma mãe para amar.

E um certo amigo dizia
À sua cara-metade:
Já fui preso, que ironia!
Por querer a liberdade.

Seria o mundo feliz
E só haveria glória
Se todo o povo da terra
Nascesse aqui em Vitória.
ASSUMPÇÃO BOTTI

Manoel Assumpção Botti nasceu em Vitória no dia 15 de agosto do 1916. É advogado. Autor de muitos poemas e trovas.
Que não me empolgue a subida,
Que a humildade viva em mim,
Que eu suba sempre na vida
Sem me esquecer de onde vim.

Se pintor eu pintaria
A vida com duas cores:
Um pingo azul de alegria
Num fundo roxo de dores.

Quantos contrastes abriga
Minha existência bizarra:
Obrigado a ser formiga,
Eu que nasci pra ser cigarra.

Os meus tristes olhos baços
Do que sou dão a medida:
Um coração em pedaços
Num corpo quase sem vida.
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Andréia Donadon Leal (A Bibliotecária)



Os livros estavam devidamente enfileirados nas estantes. Poucos centímetros de distância um do outro. Nenhum torto, fora de foco. As orelhas desamassadas, passadas com chapa de ferro morno. O cuidado era devidamente dado para cada um, sem discriminação. O cheiro da sala, papel. O lugar pouco iluminado, embora o requeresse. Na mesa, ao fundo, uma figura vergada e escondida na pilha de livros para carimbar. Idade avançada. Cabelos cor de prata. Rugas rasgavam ponta a ponta o rosto descorado. Uma vida inteira de cultura, diversão, viagens, um pouco de tudo mostrado pelas palavras imprensas nas páginas dos livros.

Clarice estava pouco a aposentar. A preocupação acometia seus últimos dias com a idéia. Quem iria cuidar deles? Os sonhos lhe roubavam o sono; os olhos mais fundos. Os livros, sua vida, arremessados no lixão da cidade. Livros velhos? Antigos e restaurados; relíquias. Nas manhãs a cabeça queria explodir e quase Clarice perdera a hora de trabalhar. A biblioteca da escola não funcionava sem ela. Não abriam. Ninguém sabia mexer com carinho nos livros. Não encontravam a essência da pesquisa. Também só ela dera conta até hoje de livro por livro. As capas que fazia para os que estragavam tiravam exclamações de incredulidade. Ficavam perplexos. Era muito especial. Qualquer pesquisa Clarice dava conta. Ia sempre além, explicava com precisão todos os detalhes. Sabia um pouco de tudo. Com a sacola pesada de livros restaurados entrava diariamente na biblioteca cruzando a mão direita no rosto, rezava pai-nosso e ave-maria. Uma vida dedicada somente ao trabalho e nada mais.

Clarice morava três quarteirões da escola. Casa modesta, herdada. A outra única coisa que fizera foi cuidar de sua mãe – morta havia uma década. Cuidado devido de filha exemplar, solteirona e única. Dividia parte de suas horas ora com a mãe, ora com os livros. Dona Gertrudes morrera numa manhã cinzenta de sexta-feira treze. Clarice tinha pavor destes dias, mesmo sabendo que era lenda. O sossego, a paz e o sorriso meigo que sempre faziam parte do seu perfil ficavam tensos. Mas ninguém percebia. A bibliotecária, pessoa muito estimada, querida por todos. Falavam que nem pecado tinha. Nunca arrumara um namoro. Era santa. Diziam que quando a boa dona donzela morresse iria direto para o céu. Em quase trinta anos, Clarice nunca dera uma má resposta, uma palavra feia, nenhum olhar meio torto. Mas o sonho mexia com sua rotina. Seria aviso de morte repentina? Os dias estavam findando para ela? Livros no lixão da cidade! No livro de sonhos consistia informação de algo novo na vida.

Para Clarice, novo seria o fim. Deus dar cabo na vida atribulada e solitária. Ponto final. Tudo investido em quatro paredes infestadas de livros. Histórias, informações, um mundo, o segredo da vida impressos nas páginas. A sensação, a mesma de ter vivido com emoção detalhes, aventuras, desventuras... As paixões atingiam um mundo desconhecido para ela. Não abria estas páginas. As mãos iam vez ou outra em contramão com a cabeça. Rezava vários padre-nossos e pedia logo perdão. Mesmo com os livros não recomendados, tinha obrigação de conservá-los. Não discriminava nenhum. Apenas deixava-os de lado. Um outro gosto que não combinava com uma vida afastada dos desejos e maldades da carne. Mundo desconhecido. Um fim de expediente como outro qualquer. Um dia cinzento. Frio. Clarice limpou o último livro. Fechara com cuidado as janelas pesadas de madeira. Antes de sair, mais uma olhada. Uma olhada demorada, apaixonada, precisa. Os livros estavam cada um no seu lugar. Limpos, conservados. Devidamente enfileirados. Alguns estavam sobre a mesa. Estragados, mal conservados. Daria um jeito.

Clarice dirigiu-se à mesa. Pensou em juntá-los e levá-los para casa. Antes de dormir teria tempo para arrumar uns três. Pela primeira vez o cansaço venceu. Estava ficando mesmo velha. Tinha que aposentar. Uma dor de cabeça, corpo ruim. Com a idade, a gripe costumava visitá-la mais vezes no ano. E este frio piorava tudo. Em casa tomaria um chá quente. O resfriado iria embora.

Ainda com os olhos sobre a mesa de livros, Clarice pensava. Não viu quando um rapaz chegou e ficou olhando para ela. Alheia ao tempo e tudo. Voltou quando escutou um pigarro. Pela primeira vez, corou. Será que o rapaz pensaria que estava esclerosada? Falava sozinha? De vez em quando fazia isto. Costume de vida solitária. Ela, só na sua companhia. Mas, daí? Nunca importava. Não ligava. Ajeitou a postura, prontificou-se. O rapaz, viajante. Hoje iria demorar. O mal estar ficaria para depois. Certamente ele mostraria catálogos e mais catálogos de livros. Compra de livros.

Esquecera por completo.

O rapaz da editora sentou. Com os olhos puxados e enigmáticos abriu os catálogos. Mãos grandes e unhas bem aparadas. As mãos do rapaz. Clarice imaginou como seria o toque delas. Chegou a esbarrar sua mão. Desconfiou estar com febre. O danado do resfriado desestruturou tudo. O rapaz falava. Voz macia. Dentes brancos. Lábios bem desenhados. Clarice não escutava. Olhava para o rosto dele. Enfeitiçada. Como seria beijar aqueles lábios? O viajante perguntou algo, não respondeu. Não o ouvira. As mãos dele falavam. Tudo que queria era sentir o toque macio das mãos no rosto pálido. Aquelas mãos esquentariam a pele até torná-la corada, sadia. Uma vontade quase incontrolável.

Clarice pensou aterrorizada ter pedido ao viajante para acariciar-lhe o rosto. Um toque apenas, por favor. Fechou os olhos. Sentiu o calor das mãos do rapaz. Aquecida. Estava mesmo carente. Esqueceu de oferecer um chá para o viajante. A bibliotecária educada, contida, estava ficando lerda. Velha. O rapaz novamente perguntou. Voz grave, hálito cheiroso. Cheiro de menta. Um sorriso separou seus lábios. Clarice despertou dos pensamentos. Pediu desculpas. A explicação, pouco convincente, o cansaço, a gripe prestes a sair do corpo. O viajante sorriu. Os olhos também sorriram. Separou catálogos. Entregou um a um. Roçou as mãos. Olhou profundamente para ela. Chegou próximo. Mais alto que parecia. Mais bonito. Muito próximo. Clarice chegou a pensar que o viajante iria beijá-la. Fechou os olhos imaginando a cena. Nunca sentira um roçar de lábios e o gosto de uma boca que não fosse a sua.

Delicadamente as mãos do viajante passaram pelo rosto dela. Uma fração de segundos. Uma vida inteira, só. Um dia, um desejo. Toque como imaginara: suave, quente, delicado, gostoso... Uma última olhada apaixonada nos livros e com a chave passou a tranca na porta da biblioteca.
–––––––––––––––––––-
Obs: Este conto foi escrito em um parágrafo. Contudo, para não tornar a leitura cansativa em uma tela do computador, tomei a liberdade de parti-lo em alguns parágrafos. O texto permanece o mesmo, sem ser alterada a sequência.

Fonte:
Jornal Aldrava Cultural. http://www.jornalaldrava.com.br/

Alunos do Colégio Almeida Junior (Itú/SP) lançam livro Leituras



Os alunos do colégio colaboraram com textos, poesias e desenhos

Para a alegria de alunos, professores, direção e pais, será lançada no dia 4 de novembro a terceira edição do livro “Leituras”, uma coletânea de textos dos alunos do Colégio Almeida Júnior.

Desde a primeira edição, a repercussão deste livro tem sido realmente muito boa. É uma satisfação imensa e uma grande alegria para todos nós do colégio”, disse a diretora do “Almeida”, Rita Pascale. O lançamento do livro ocorrerá através de uma parceria com a Livraria Nobel, a partir das 18 horas, no espaço de eventos do Plaza Shopping Itu.

Além do lançamento do livro, na mesma noite será aberta a exposição “Aprender é um convite”, com diversas obras dos alunos do Colégio Almeida feitas na disciplina de Artes. Esta exposição poderá ser vista também durante toda a quinta-feira no Plaza Shopping.

O livro “Leituras”, na verdade, nasceu como uma consequência de um projeto inédito nas escolas da cidade de Itu, que foi a criação da Academia Júnior de Letras, que chegou a reunir 35 “acadêmicos”, todos alunos do Colégio Almeida Júnior.

Estes alunos tinham produções excelentes, textos realmente muito bons. Resolvemos juntar em um livro esses textos aos de outros alunos que não faziam parte da academia, mas que também escreviam muito bem, e o resultado foi espetacular”, ressalta Rita.

São textos das mais diversas modalidades literárias, desde crônicas, narrativas, dissertações, a poesias e contos, além de desenhos, no caso das crianças do Ensino Infantil. “Elas expressam seus pensamentos por meio dos desenhos que também estão no livro”, salienta. Esta terceira edição do livro possui textos de 2008 e 2009, já que o “Leituras” é lançado a cada dois anos. O livro foi editado pela Ottoni Editora.

Fonte:
Douglas Lara. http://www.sorocaba.com.br/acontece

Jean-Pierre Bayard (História das Lendas) Parte II



CAPÍTULO II

DIVULGAÇÃO DOS CONTOS

1 — Teoria das Migrações

Gaston Paris estudou, depois de Benfey, a migração do contos orientais na literatura da Idade Média. — Cosquin, o inglês Clouston, o alemão Landeau, estabeleceram paralelos entre as novelas de Bocácio e as fontes orientais.

Buscaram, para cada conto, a estrada percorrida: foi a teoria dos motivos errantes ou a teoria das migrações. Max Müller aponta sempre a Índia como fonte comum e o russo Stassov (1868) diz a mesma coisa e foi por isso criticado pela sua falta de patriotismo.

É preciso analisar com atenção as semelhanças, as condições históricas, a fim de reconhecer o tema pois se o conto toma de empréstimo o seu motivo ele adquire, de formo mais ou menos rápida, um caráter nacional. Os russos Vesselovski e Vsevolod Miller determinaram as trajetórias dos motivos emprestados e reconheceram uma influência turco-mongólica.

Joseph Bedier (Fabliaux), conforme a escola antropológica, manifestou dúvidas sobre o método de Benfey; julgou-se que as aproximações fossem vãs e a busca limitou-se ao que ligava essa obra à poesia nacional. O russo Oldenburg, zombando das dificuldades, provou serem os fabliaux oriundos da antiga Índia. O tcheco Polivka e o alemão Bolte forneceram também uma relação dos possíveis paralelos existentes entre cem contos de Grimm (Remarques sur les contes enfantins et familiaux de Grimm - Observações sobre os contos infantis e familiares de Grimm).

Com efeito, é curioso notar que as aventuras de Ulisses se assemelham às de Sindbad, o marujo e que o prólogo de Mil e uma noites relata a história de uma jovem chinesa, conto budista, traduzido para o chinês no século III (tradução Chavannes, conto n.o 109). Miss R. Coxe, numa monografia, conta quatrocentos variantes de Pele de burro e Gata Borralheira. Além das dos autores já citados, notemos as variantes erguidas por René Basset, Dähnhardt, Adolphe Pictet, Buslaiev e Afanassiev.

2. — A influência da Índia

Quando o conto primitivo, ou assim suposto, se libertou de todos os elementos transitórios e permanentes, sua variante foi discernida na literatura hindu, que penetrou na China antes do budismo. A maioria dos contos são encontrados no Extremo Oriente, dois séculos antes da nossa era. A influência budista, as invasões mongólicas contribuíram para a divulgação dos contos hindus que formam a base das coleções folclóricas.

3. — Migração dos Contos e dos povos

A migração dos contos nos é desconhecida e podemos quanto muito construir teorias mais ou menos plausíveis conforme nossa imaginação.

Além da influência budista e das invasões mongólicas, em conseqüência das conquistas árabes, toda a costa barbaresca e a Pérsia sofreram a influência asiática. Eis porque Mil e uma noites têm influência pérsica cuja cultura provinha da Índia. E preciso pesquisar a marcha do conto em relação à marcha do indivíduo.

A migração dos povos foi estudada por Elliot Smith, Maximo Soto Hall; os antigos egípcios seriam descendentes dos Maias que haviam emigrado para a África. A Atlântida, esse antigo continente, teria formado uma ligação natural entre a Europa e a América. Entretanto, conforme a notável teoria de Wegener sobre a separação dos continentes, a América seria um bloco que se desprendeu da Europa e da África. Realmente essa cisão parece que se produziu antes da aparição do homem. Contudo, se nos referimos ao sábio americano Libbey, que estudou as propriedades radioativas do carbono contido nos vestígios orgânicos (o “C 14”), nossas civilizações datariam de trinta mil anos (época pleistocena). Ora, há trinta mil anos, a Ásia e a América se juntavam: O Alasca e a Sibéria ainda não haviam sido separados pelo estreito de Behring. Canals Frau (Préhistoire de l’Amérique, 1953), é de opinião que grupos de emigrantes asiáticos aventuraram-se nas planícies norte-americanas, numa época imediatamente anterior ao último máximo da glaciação Wisconsiniana. Conforme os geólogos e Antevs, essa última glaciação, denominada Mankato, ter-se-ia produzido aproximadamente em 25.000 a. C.

Canals Frau supõe que nova onda emigratória asiática tenha-se produzido na época mesolítica; essa civilização esquimó teria, há três ou quatro mil anos, dominado a Sibéria e se teria fixado no litoral ártico da América. Esses homens teriam atravessado a América de norte a sul a fim de atingirem a Terra do Fogo.

É indiscutível que nossos antepassados viajavam e só a falta de documentos deu origem ao julgamento de que esses povos se ignoravam uns aos outros, Serviam-se das correntes naturais e a expedição Kon Tiki provou ser possível a travessia do oceano, de jangada, desde a América até os Mares do Sul. As monções favoreciam as viagens entre o Oriente e o Ocidente. Os malaios invadiram as ilhas polinésias com a ajuda de grandes vapores providos de balanceiros.

Os monumentos deixados pelos habitantes da antiga América testemunham uma civilização adiantada injustamente podada em todo o vigor da sua seiva, quando da invasão espanhola, no século XVI. Eis porque, nas margens do Mississipi, os rochedos estão eivados de caracteres que parecem ser fenícios; rochedos trêmulos que evocam monumentos druídicos; no hemisfério austral, imensas ruínas de outeiros assemelham-se às sepulturas do norte da Ásia. A admirável pirâmide de Paplanta, a fortaleza européia de Xochialco, o emprego do cimento no templo situado nas imediações de Santa Fé, fazem supor que a América era conhecida pelas civilizações hindus e européias antes da viagem de Cristóvão Colombo; a tradição deve ter-se apagado um pouco e a mensagem das antigas civilizações nem sempre foi transmitida.

Eis porque, nas imediações de Montevidéu, uma pedra tumular registra, em caracteres gregos, que um capitão heleno aportou nessa terra americana no tempo de Alexandre. Um contemporâneo de Aristóteles também pisou o solo brasileiro. Nas crônicas, Madoc, filho do príncipe de Gales, abriu velas em 1170, dirigindo-se para o oeste e descobriu terras férteis; porém, já em 942, os normandos haviam aportado na Groenlândia passando pela Islândia. Isto justificaria terem tribos do Missouri também falado a língua céltica. Humboldt admite que os tártaros e os mongóis tenham passado do norte da Ásia às regiões setentrionais da América antes do século VI; os chineses comerciaram com os americanos bem como o cartaginês Himilcon. Salomão e Hiram enviaram os fenícios para as regiões americanas conhecidas, sem dúvida, pelo nome de Ofir e Társis.

É um erro julgar que os povos antigos eram selvagens e bárbaros; nossa falta de conhecimentos a esse respeito não prova essa asserção. Cristóvão Colombo deve ter ficado surpreendido quando encontrou entre esses “selvagens” a nossa cruz latina que figurava ainda nas esculturas colossais da cidade de Palenque, no México.

Depois da sensacional descoberta do Vixenu, por René joffroy (1952), compreende-se que o prestígio das artes gregas e italianas estendia-se à Gália céltica. O oppidum do monte Lassois (perto de Châtillon-sur-Seine) seria uma base dessa rota do estanho; e os móveis funerários, as jóias ítalo-gregas do século VI antes da nossa era, a bacia de bronze de fabricação etrusca, encontradas nessa parte setentrional da Borgonha, então somente céltica, colocam um enigma que provoca dúvidas sobre as influências da Etrúria ou das regiões greco-cíticas de passagem pela Grécia.

Os egípcios conheciam os movimentos planetários e as dimensões do nosso globo terrestre quando Galileu quase foi queimado vivo por ter adotado o sistema de Copérnico. Nossas descobertas modernas já haviam sido precedidas pela Escritura, nossas verdades físicas foram por muito tempo desconhecidas e ignoradas, enquanto que os Livros Sagrados ficam no limite da verdade e na harmonia de nossas mais recentes observações, cuja exatidão são apenas confirmadas por nossas pesquisas científicas; em compensação não havia na Antigüidade a mesma concepção do tempo e do seu emprego de hoje; conhecimentos provinham de uma reflexão amadurecida no recolhimento e no silêncio, alheio a qualquer agitação.

Além dos mercadores, as guerras muito contribuíram para a divulgação dos contos. Essa divulgação deve-se às conquistas de Alexandre da Macedônia e ao período helênico (do fim do IV ao II séculos antes da nossa era); depois as conquistas árabes (1.o milênio da era cristã) e finalmente à época das cruzadas (do X ao XII séculos).

A transmissão oral foi muito importante. Foi dessa forma que Pitágoras tomou conhecimento das religiões da Índia, quando já convivia com os magos da Caldéia. Esse sábio grego, contemporâneo de Buda — que talvez tenha encontrado — e de Confúcio, participava das idéias do hindu e do chinês e esses três homens pregavam o mesmo evangelho. As descobertas e os pensamentos existem, pois, no tempo e se transmite de forma desconhecida.

Walter Scott observa que a impressão era inexistente, os vedas e os edas noruegueses, a Bíblia só foram escritos depois de haverem sido transmitidos oralmente. Deve-se à inspiração popular a criação da Odisséia e dos Niebelungen.

Fonte:
BAYARD, Jean-Pierre. História das Lendas. (Tradução: Jeanne Marillier). Ed. Ridendo Castigat Mores

Escritores Canoenses em Porto Alegre



Livros dos Escritores Canoenses na 55ª Feira do Livro de Porto Alegre (de 30/10/09 a 15/11/09)

Barraca 87 (Editora Alternativa)

ACE (I Coletânea) Contos/Cronicas
ACE (II Coletânea) Contos/Cronicas
Ancila/Mari Rigo (Nas Asas da Poesia) poemas
Canabarro Tróis (À Procura de Deus e do Outro) poemas
Casa do Poeta (I Coletãnea) poesias/contos
Casa do Poeta (II Coletânea) poesias/contos
Casa do Poeta (III Coletânea) poesias/contos
Etevaldo Silveira (Caravelas Sinistras) poemas
Etevaldo Silveira (A Saga da Castorina) História
Etevaldo Silveira (O Choro da Casa Triste) Contos
Gerson Colombro (Solilóquio) Contos
Jairo Souza (Quem Diria...Matemática) infantil
Jairo Souza (Maraiana) infantil
Jairo Souza (Alma Nua) Poemas
Mª Luci Leite (Expressões D’alma) poemas
Marina Lima Leal (20º Núcleo CPERS) Artigos
Marina Lima Leal (Contruindo a Escola Democrática) Artigos
Marina Lima Leal (A Gestão Democrática da EP) Artigos
Neida Rocha (Danilo, sua Mochila e seus Amigos) infantil
Neida Rocha (Minha Não Metade) poemas
Neida Rocha (Efemérides) poemas
Nelsi Urnau (In quietude) poemas
Nelsi Urnau (Cecília e Amigos) infantil
Nelsi Urnau (Zé Toquin) infantil
Nemézio Meirelles (Estrelas cadentes) poemas
Nestor Mayer (Memória Ambiental da Cidade de Canoas) Artigos
Nestor Mayer (A Teia da Vida) crônicas
Roberto Pires (Sociedade Alternativa) crônicas

Fonte:
Neida Rocha

Gruta da Poesia (Parte I)



Donzília Martins
PELA METADE

Por detrás do tempo
Em vidraças partidas
Olham vazias o entardecer
E pela metade deixam a vida por cumprir.

Olhares apagados
Silhuetas de sombras
Em línguas de fogo afiadas
Perscrutam madrugadas no poente.

Desfeitas pelo pó dos caminhos
Roseiras sem rosas, com espinhos,
Esvaídas no pólen inflorido
Olham o vazio deitado na alma.

Tiveram alma? Ventre? Terão tido vida?
No vácuo do caminho andado
Sentem-se nada de nada, de ninguém.

Nem o ventre lhes pariu
Nem o seu jardim floriu!
São pétalas secas, mirradas,
Vagueando nos silêncios do desdém.

Hoje choram a flor cardida que fechou
O leito frio que ninguém ocupou
A ternura que não deram
Aos braços dos meninos de sua mãe.
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Maria Nascimento Santos Carvalho
CHUVA MIÚDA


A chuva fina molhou o meu mundo ...
O mundo que eu ergo, orgulhosamente,
embora deformado agora pelos excessos.

A chuva molhou meus pés;
pés antigamente delicados,
de solas aveludadas.

A chuva molhou minhas pernas
que foram torneadas
e hoje estão visivelmente volumosas,
meio disformes
e marcadas pela vaidade das depilações.

A chuva molhou meu tronco,
que, com o passar do tempo se alargou,
se desenvolveu em todas as dimensões,
sofrendo não ainda a deterioração do tempo,
mas obedecendo as inflações da idade;
tomou o porte das prestações a longo prazo:
expandiu-se, degenerou-se,
multiplicando as carnes, antes em desfalque.

A chuva molhou a minha cabeça,
que, feita para pensar,
pensa que não sabe o que pensar,
o que deseja pensar do mundo,
das coisas, das pessoas,
da vida ...

A chuva continuou pingando ...
Pingando ... pingando ... pingando ...
R e s p i n g a n d o...
e inocentemente molhando o meu mundo,
o meu eu ...
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Vânia Maria de Souza Ennes
ALGUMAS TROVAS

Eu não mudo de país,
nem de cidade ou estado,
porque aqui sou bem feliz...
exatamente... ao seu lado!!!

Romântico e apaixonado,
meu pensamento flutua,
vai ao céu... volta zoado:
Vive no mundo da lua!

Acalmar gesto impulsivo
num conflito sem razão:
Medicinal... curativo...
é a humildade e o perdão!

Reconheço que a razão
me exerce extremo fascínio,
mas, se acerta o coração...
perco o rumo e o raciocínio!

Mãos que orientam crianças,
seja na escrita ou leitura,
mostram sinais de alianças
de nobreza e de ventura!

Educação e cultura,
seriedade e competência
é alvo certo de ventura
que aguardamos com urgência!

Quero um planeta perfeito,
sem guerra, sem corrupção.
Povo justo e satisfeito,
respeitando seu irmão!
=============================

Gonçalves Viana
PAPELÃO

Eu cato ilusão
Daquelas perdidas
Que ninguém quer mais não,
Projetos de vidas, abortados ou não;
Pedaços de corações, frustradas orações,
Que anjo algum ouve não.

Eu cato ilusão
Sou um marginal à margem da vida
Sempre na contramão.
Cansado da lida, que nunca dá pé,
Remando contra a maré
Na mais completa solidão.

Eu cato ilusão
Notícias de amores
Que outros viveram... mas eu não!
Fantasias... que penso em vão,
Sonhos... que se ouso tê-los
Tornam-se pesadelos.

Eu cato ilusão
Neste velho carrinho
Que, trôpego arrasto pelo chão;
Cheio de quinquilharias,
Lixo, sucata, velharias...
Pranto, fome, cansaço, decepção,

Eu cato ilusão
Amargura, desengano,
Entra ano, sai ano,
E eu não percebo não
Que tudo isso, apenas são
Cacos do meu próprio coração.
====================

Edson Carlos Contar
PRESENÇA

O mistério de te saber tão longe,
Tão distante... E eu amar-te tão perto,
Induz-me a crer que a felicidade
Vem cá de dentro, de um cantinho certo
Inda que longe, é amor presente,
E tua imagem está aqui, decerto!

E onde estejas, eu sou só saudade
Do teu sorrir, do teu beijar, enfim...
Sonho apertar-te e, no sonho, me abraço
O teu calor eu sinto e me desfaço,
No abrir o peito e te encontrar em mim!
==================

Eron Vidal Freitas
TALVEZ

Talvez eu não seja o alvo, a meta pretendida,
como sua mente desenhou pra ter um grande amor...
Mas, se não sou pleno, que seja a fração que em sua vida
em algum momento a aqueceu com seu calor!

Talvez... é palavra que não tem força de "sim", de "não",
tem uma porta estreita chamada "Porta da Esperança",
diante da qual deposito toda a minha confiança
de ser agraciado com um "sim" meu pobre coração !

O dito popular me diz que "quem espera alcança",
por isso me planto diante da "Porta da Esperança",
desafiando no combate as armas dos cansaços!

Aguardo... que chegue a hora deste acontecimento,
Para que ponha fim à espera do feliz momento,
em que possa tê-la finalmente nos meus braços...
==================

Heralda Víctor
DEVANEIOS

Se eu fosse medir em versos
Meus sonhos e fantasias
Daria uma longa distância,
Uma estrada imensa.
Seriam dias...

Pedaços de momentos que vivi
Juras de amor que recebi
Carícias, beijos que dei
Em pensamentos,
Tantos que nem sei...

Ah, Como eu queria
Flertar com teu destino
Agarrar esta alegria
Oferecer meus doces sentimentos
Realizar teus desejos de menino
Aconchegar-me vagarosamente
Descobrir e mostrar tudo...
Silenciosamente.

Na verdade adoraria tão-somente
Acreditar que temos esperança
Para correr, pular, brincar feito criança
Sair livre, sem rumo estrada afora,
Crescer junto contigo sem demora
Viver amando sendo amada

Simplesmente...
=======================

José Luiz Grando
MOMENTO

Em um momento... só para si
A mente descansa na lembrança
mais viva de toda cultura de gueto.
Em cada verso de rebeldia
Em cada movimento...
...de resposta a todo preconceito.
A frente de seus olhos,
Um eclipse entre a fé !
E um rompante de violência...
Em um momento só para si...
...medita em torno de sua vida.
O homem precisa ser realista.
Falar sobre tudo que discorda...
...contra tudo o que o e massacra.
======================

Ermindo Gomes Rocio
NÓS E A NOSTALGIA

De tua boca eu guardo o sabor,
de teu riso guardo só a alegria,
de teus lábios eu guardo a cor,
de nosso amor tenho nostalgia.

Do sabor uma doce lembrança,
da alegria daquela juventude,
na cor do poente só confiança,
que nostalgia era uma ilicitude.

Tempos de tempestade enfim,
nuvens negras povoando o céu,
vi mares empolados e ao alfim,
palavras toscas jogadas ao léu.

Hoje, amor tatuado pela nostalgia,
como um vergão que não se apaga,
de nosso amor acabou aquela magia,
no peito trago cravado tua adaga.
============================

Luciana Tannus
QUE SE ABRAM AS CORTINAS SOFIA!

Botão de rosa
Criança onírica
Menina mulher

Provida de anseios
Desponta para a vida
Repleta de dúvidas e devaneios

Canta, sorri, chora, disfarça...

A natureza indicia
A mudança é iminente
Não cabe recurso

Está virando mulher

O conflito é eterno
A inocência insiste
A biologia impõe

Limiar de um novo caminho, pleno
De descobertas
Curvas
Apelos e
Desejos
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Milton Roza Junior
VIVA!!!

Viver é a primeira maravilha do mundo,
pois tudo advém deste mandado divino
podemos ver o mar em cima de nossas cabeças
e flutuarmos para mergulhar, nossa sina
Quando há Primavera
vejo mais a face de Vera
algo se altera na matéria
sua palavra parece ser mais sincera
Ouvir os seus passos à uma distância anos-luz
não é mais utopia para mim
é apenas mais uma forma de ouvir "I am the walrus"
Beatles e suas músicas enfim
O que mais posso implorar a Deus
talvez as palavras não estejam concatenadas
talvez erradas
ou enfim, caladas.
Sorria!!!
não mutila
não definha
não expira
só enaltece
o que apetece
meu realce
nosso enlace.
======================
Fonte:
Gruta da Poesia. Ano V. Outubro de 2009
in
Portal CEN. http://www.iaramelo.com

Sônia Cano (O pôr do sol)



Faz mais ou menos dois anos que estou morando num apartamento. A vida nos obriga a tantas reviravoltas, que acabamos nos acostumando a tudo.

A princípio, pensei que não me acostumaria fechada em quatro paredes, 'engaiolada', como disse um dia meu marido. Mas, aqui estamos e, para bem da verdade, acabei adorando nosso pequeno cantinho.

Já escrevi sobre minha casa. Grande, corredor largo, sala enorme, quartos imensos... Pra quê?
Só para juntar velharias, acumular 'coisas' sem nenhuma importância, talvez para ocupar espaços que estão sobrando.

Quando vejo os cristais, ainda intactos, perfeitos, e que foram presentes de casamento de meus avós, (ainda os conservo com carinho), penso que, na realidade, não deveriam importar para mim. Afinal, meus avós é que importavam. Sua presença amiga, seus conselhos, que na ocasião, via com desdém, seu sorriso, sua sabedoria, seu amor imenso e profundo como o mar. Os cristais, ora os cristais! Na sua fragilidade, permaneceram. As pessoas, não. Que ironia! Foram-se, como nuvens que passam. Deixaram, no entanto, uma mensagem forte, que não se diluiu com a ausência, nem se perdeu com o passar dos anos. E uma doce, suave e enorme saudade.
Mas... voltando ao apartamento, outro dia, descobri uma coisa maravilhosa. Estava eu preocupada com uma reunião importante que aconteceria naquele dia quando, ao olhar pela janela da cozinha (eram umas seis horas da manhã), vi o espetáculo maravilhoso do amanhecer.

Momento inesquecível!

O sol, ainda menino, deixava-se descobrir no horizonte, tímido, róseo, para alguns minutos, após, aparecer redondo, belo, imponente e dourado como um rei, anunciando que o dia chegava, claro e belo, tal qual a esperança e a certeza de que tudo estaria bem e que Deus, em seu imenso AMOR, me respondia a questões e esclarecia as dúvidas.

Lembrei-me, então, que todas as tardes; quando o céu está limpo, se quiser sentar-me em minha cadeira de balanço diante da janela da sala, tenho o espetáculo maravilhoso do entardecer ao meu dispor.

O sol se põe para mim, extasiando-me com a beleza desses momentos que são quase eternos. Saint Éxupery, através de seu Pequeno Príncipe, nos diz: 'Assim eu comecei a compreender, pouco a pouco, meu pequeno principezinho, a tua vidinha melancólica. Muito tempo não tivesse outra distração que a doçura do pôr-do-sol. Aprendi esse novo detalhe quando me disseste, na manhã do quarto dia:

- Gosto muito de pôr-do-sol. Vamos ver um...
- Mas é preciso esperar...
- Esperar o quê?
- Esperar que o sol se ponha.

Tu fizeste um ar de surpresa e, logo depois, riste de ti mesmo. Disseste-me:

- Eu imagino sempre estar em casa!
... no teu pequeno planeta, bastava apenas recuar um pouco a cadeira. E contemplavas o crepúsculo todas as vezes que desejavas...
- Um dia, eu vi o sol se pôr quarenta e três vezes!

E um pouco mais tarde acrescentasse:

- Quando a gente está triste demais, gosta do pôr de sol...
- Estavas tão triste assim no dia dos quarenta e três?'

Pois é. De repente, descubro que posso assistir num mesmo dia à alvorada e ao pôr de sol. Descobri, também, que o apartamento, se eu quiser, pode se transformar em meu pequeno mundo, como o planeta do Pequeno Príncipe.

Afinal, considero-me privilegiada. Deus não me deixa nunca sem respostas. Está sempre a me tratar com carinho de Pai. E suas respostas estão aqui. Ao meu lado para que O sinta bem pertinho de mim.

Mesmo nesta época de tantas controvérsias, de tão avançada tecnologia e tanto progresso, em que a humanidade se vê esmagada por incompreensões, lutas de classes, violências desnecessárias, seqüestros, ganâncias desmedidas, apego ao dinheiro e ao poder, sufocada por suspeitas e ameaças de 'vazamentos de substâncias químicas', ainda não se pode parar para assistir a um espetáculo grandioso e gratuito como a aurora e o crepúsculo

Fontes:
Douglas Lara. http://www.sorocaba.com.br/acontece
Imagem = http://www.melhorpapeldeparede.com

Vânia Moreira Diniz (Cristais Poéticos)



A NOITE

A noite se me afigura uma fada,
De mistério fascinante tecida,
E encontro nela comprovada,
Uma das grandes delícias da vida.

Na noite me refaço e transformo,
Encontro motivo de deleite,
Até com a tristeza me conformo
E não existe embate que a rejeite.

Quando a noite chega me encanto,
Sua escuridão enigmática atrai,
E a fascinação logo em mim recai.

É essa escuridão como um manto,
Que me envolve em deslumbramento
E traz ao prazer seu complemento.
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O SOL

Quando o sol desponta eu me levanto,
Sem entender a tristeza do meu coração,
Ouvindo aquele brado, longe, inconstante
Nas minhas ternas lembranças que se vão.

Quando o sol brilha, ofuscante, tão luminoso,
E nele encontro a fonte de minha energia,
Sonho em delírio com aquele vulto garboso
Que todo o dia fascinante me aparecia.

O sol me liberta e eu encontro fortaleza,
Seus raios me ofuscam naquele doce calor,
Que liderou meus dias recentes de amor.

Quando o sol desponta sinto sua beleza,
Absorvo em cada instante o movimento
Das verdes folhas no balanço do vento.
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TEU OLHAR

Vejo em teu olhar aquela luz,
Sinto em teu olhar a ternura,
Que espalhas e que reluz,
Transbordante de ventura.

Contemplo teu olhar profundo,
Com negro brilho de esperança,
Como a espalhar pelo mundo,
a generosidade que de ti se alcança.

Admiro teu olhar e me transporto,
Na beleza que inspira com suavidade,
O sentimento expresso em liberdade.

Aprecio teu olhar e curiosa me volto,
Sempre a aprender esplêndida lição,
E a ela me integro com paixão.
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SONETO DE NATAL

A doçura do amor simboliza natal,
Criança e salvação prestes a nascerem,
Vida se equilibrando sem o mal,
Bondade e discernimento a crescerem.

Beleza e olhar profundo era Jesus,
A esperança da humanidade com amor,
Nem a descrença por um minuto reduz
O brilhante filósofo também salvador.

No lugar escolhido imperava pobreza,
Maria ali estava encarnando a bondade,
E o filho aguardava com serenidade.

Jesus ao nascer não conheceu a riqueza,
Na simplicidade repousava na manjedoura
E a fé dos que cercavam era acolhedora.
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MOMENTO FELIZ

Esse é meu momento de felicidade,
Em que entrevejo o mundo com amor,
Transbordante de imensa ternura e amizade,
Que meus olhos se umedecem no ardor.

Diviso o sol, a lua, as estrelas em seu fulgor,
E me extasio no reflexo dessa potente beleza,
Sinto então que meu coração vibra de calor,
E concluo que é o meu momento, com certeza.

Nesse momento quero sentir essa sensação,
Poderosa, verdadeira, leal e fascinante,
Que toma conta de mim sorrindo atraente.

Quero entoar com carinho a linda canção
Que me embalou nas legítimas alegrias
E já retorna com a recordação desses dias.
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Daniela Jacinto (Lançamento do Livro História da Educação de Votorantim - Do Apito da Fábrica à Sineta da Escola)



“História da Educação de Votorantim - Do Apito da Fábrica à Sineta da Escola” é o título do livro que a professora e mestre em Educação pela Uniso, Isabel Cristina Caetano Dessotti, lançou ontem, às 19h30, na Livraria Espaço Alexandria. Na obra, que aborda a educação operária em Votorantim, a autora analisa como as relações de dominação, no âmbito das fábricas, se reproduzem no campo da educação operária, por meio das escolas mantidas pelos patrões, no período de 1890 a 1925, em Votorantim.

Conforme Isabel, professora do curso de Pedagogia da Unip e supervisora de ensino da rede estadual, o livro é resultado da dissertação de mestrado em Educação defendida em 2007, sob orientação do professor José Luís Sanfelice. “Percebi que não tinha como trabalhar a história da educação sem contar sobre a fábrica de tecidos, que foi onde tudo começou. A fábrica exercia uma dominação ora declarada e ora velada sobre as pessoas. Ela dominava os operários porque oferecia casa, emprego para a família inteira, mas pagava muito pouco. Para se ter uma ideia, a empresa influenciava até mesmo a vida pessoal, não permitindo que as pessoas morassem junto sem casar. Como a região teve um movimento operário bastante forte, com greves, coloco tudo isso em paralelo com a vida escolar”, esclarece a autora.

Nascida em Votorantim, Isabel conta que por ser filha de operário conviveu com muitas histórias. Por isso seu interesse em estudar o assunto. O período que abrange sua pesquisa, de 1890 a 1925, compreende desde a instalação da fábrica até o grupo escolar.

De acordo com ela, tudo dependia da fábrica, inclusive o sistema de ensino. “Algumas escolas eram mantidas pela fábrica. Tinham crianças de 7 a 9 anos de idade que estudavam à noite para poderem trabalhar durante o dia. Percebi, durante meus estudos, que a fábrica passou a premiar os melhores alunos, mas os contemplados eram sempre os filhos dos encarregados, ou seja, aqueles que não trabalhavam. Os que eram operários não tinham muito tempo para se dedicar aos estudos”, afirma.

Com relação ao sistema de ensino, a base era a memorização. “Havia exames e as crianças tinham de responder às perguntas diante de uma banca. Também existiam na época castigos como puxar orelha, dar tapas nas costas...”, relata Isabel.

A professora ainda acrescentou em seu trabalho as primeiras leis que tentavam regulamentar o ensino, que não era obrigatório. Entre as leis, Isabel cita a Sampaio Dória, de 1920, que reduziu o ensino de quatro anos para dois anos. “Então só poderia estudar quem tivesse entre 9 e 10 anos de idade. Isso só mudou bem depois, em 1930, com Getúlio Vargas. Na verdade a educação está atrasada até hoje”, lamenta.

Apesar de se tratar de um trabalho acadêmico, voltado a educadores, o livro é também de interesse dos votorantinenses porque conta sobre a história da cidade. “No livro eu coloco os nomes de todas as crianças que prestaram exames desde 1898 até 1925, quando foi criado o grupo escolar. Acredito que muitas famílias tenham interesse em pesquisar quem morava por aqui na época. Aliás, Votorantim ainda não tinha se emancipado, então é assunto também de interesse dos sorocabanos”.

Isabel ainda aborda em seu livro as condições de trabalho das mulheres, que levavam uma vida muito difícil. “Falo ainda da pobreza, mas o foco é o ensino. Entendo que Votorantim seguiu a mesma linha de outras cidades em relação à educação, que sempre ficou em segundo plano. O Brasil tem uma dívida social muito grande com seu povo nesse sentido, da geração de mais idade, muita gente ficou sem estudar.”

“História da Educação de Votorantim - Do Apito da Fábrica à Sineta da Escola” foi editado pela Crearte.

SERVIÇO:
A Livraria Espaço Alexandria fica na av. Barão de Tatuí, 1.377. Informações: (15) 3342-0583, 3233-4550 ou pelo site www.espacoalexandria.com.br .

Fonte:
Notícia publicada na edição de 30/10/2009 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 4 do caderno B.
Douglas Lara. http://www.sorocaba.com.br/acontece