quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Adauto Gondim (Trovas)


Da trova fiz o meu pão
minha cantiga inocente,
a voz do meu coração
e o sentir da minha gente.

De meus idílios, o fado
me traz em triste labor:
quanto mais sou desprezado
mais aumenta o meu amor,

Prometo dar-te um milhão
de beijos, se me disseres
quem tem o meu coração
que perdi entre as mulheres.

Vendo-te assim tão formosa,
de porte esbelto e sereno
para intrigar uma rosa
chamei-te cravo moreno.

Nosso amor, que se renova,
aumenta em tal proporção
que não cabe numa trova
nem dentro do coração

Da distância em que me vejo
quero ir pelos espaços
voando para o teu beijo,
fugindo para os teus braços

Saudades - alívio das dores
e dentro da alma se estampa
qual um canteiro de flores
plantado sobre uma campa.

Parece uma coisa louca:
para aumentar meu desejo
eu vejo que tua boca
Deus fez em forma de beijo.


— Vi teus braços... que ventura! —
teu colo... as pernas... que gosto!
Agora, tira a pintura,
Que eu quero ver o teu rosto.

Na noite de núpcias. O Gama
encontra a esposa envolvida
num lindo roupão e exclama:
— Posso, enfim, ver-te vestida!

Quem tiver a alma doente
não fuja deste caminho:
recorde a mulher ausente
faça trova e tome vinho.

Penso em ti de olhos fechados
e o pensamento aprofundo:
ah! se eu tivesse ao teu lado
para glória do meu mundo!

Sobre minha enfermidade
disse o doutor, com razão;
é o germe de uma saudade
destruindo o coração.

No teu jardim, entre flores,
feliz estou ao teu lado
meu calendário de dores
hoje marcou feriado.

Rico de amor como eu
não há quem possa igualar,
e o muito que Deus me deu
é pouco para te dar.

Mulheres que estão me olhando
pensando no mesmo assunto,
são como freiras rezando
na intenção de um só defunto.

Deus pensou em nós. Primeiro
para esculpir nosso amor,
deu-me uma alma de troveiro
deu-te a ternura de uma flor.

Adoro a treva ao açoite
do vento que não tem dono:
Deus fez o escuro da noite
para a carícia do sono.

Não sei de maior pecado:
não sou santo e, como tal,
vi meu retrato guardado
dentro do teu manual.

Quando os raios prateados
do luar beijam a noite,
pede a saudade pernoite
nos corações namorados.

Meu coração triste e frio,
sofrendo sempre em segredo,
faz lembrar ninho vazio
na solidão do arvoredo.

Amor que passou - rosário
de saudade e de ilusão,
folhinha de calendário
que a gente atira no chão.

Eu quando tiver certeza
que meu bem já não me quer,
irei matar a tristeza
nos braços de outra mulher.

Meu coração, se a esperança
dentro dele se renova,
se alegra qual a criança
que veste uma roupa nova.

Amor perfeito suponho
se houvesse seria assim:
ela dentro do meu sonho,
seu sonho dentro de mim.

Inverno, a terra se veste
de flores em profusão,
somente a minha alma agreste
vive em terno verão.

Inda recordo, querida,
foi numa noite de lua,
te beijei e a minha vida
se misturou com a tua.

Maria, quando eu morrer,
se Jesus me condenar,
deve também se perder
quem tanto me fez pecar.
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Fonte:
Adauto Gondim. 100 Trovas. (Organização de Luiz Otávio e J.G. de Araujo Jorge).
Coleção “Trovadores Brasileiros”. Editora Vecchi – 1959.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Luiz Otávio (Trovas Eternas)


A trova tomou-me inteiro,
Tão amada e repetida
Que agora traça o roteiro
Das horas da minha vida!...

Ó trovas — simples quadrinhas
que têm sempre um quê de novo...
— Como podem quatro linhas
trazer toda alma de um povo?!

Trovador, grande que seja,
tem esta mágoa a esconder:
a trova que mais deseja
jamais consegue escrever ...

Cada quadrinha que faço
em hora calma ou incalma,
é pequenino pedaço
que eu mesmo furto a minha alma.

Uma trova pequenina,
tão modesta, tão sem glória,
bem pouca gente imagina,
que também tem sua história.

Pelo tamanho não deves
medir valor de ninguém.
Sendo quatro versos breves
como a trova nos faz bem.

Toda noite ao me deitar
(por certo você reprova),
eu me esqueço de rezar
e fico fazendo trova.

Tudo nos une: o amor,
o gênio igual, a constância,
até mesmo a própria dor...
— Só nos separa a Distância...

Se é de amor tua ferida,
não busques remédio, — cala!
— O Tempo, aliado à Vida,
lentamente há de curá-la...

Duas vidas todos temos,
— muitas vezes, sem saber...
— A vida que nós vivemos
e a que sonhamos viver...

Do Passado faço culto!
Nas tenho cá o meu rito:
— Se triste, eu o sepulto!
Se feliz, o ressuscito...

É desigual esta vida
pois, nos engana... nos furta...
— Dá velhice tão comprida!
E mocidade tão curta!...

Que sina, que padecer
foi a Sorte aos cegos dar:
— Não ter olhos para ver
e tê-los para chorar...

“Meu Deus como o Tempo passa!...”
— Nós, às vezes, exclamamos...
Mas por sorte ou por desgraça,
fica o tempo... e nós passamos..

Muitas vezes ao partir,
(oh! tortura singular!)
— os que ficam, querem ir...
os que vão, querem ficar...

Às vezes o mar bravio,
nos dá lição engenhosa:
Afunda um grande navio,
deixa boiar uma rosa

Meus sentimentos diversos
prendo em poemas tão pequenos.
Quem na vida deixa versos,
parece que morre menos....

Duas vidas todos temos,
muitas vezes sem saber:
-- a vida que nós vivemos,
e a que sonhamos viver...

Nessas angústias que oprimem,
que trazem o medo e o pranto,
há gritos que nada exprimem,
silêncios que dizem tanto !…

Eu ...você ...as confidências...
o amor que intenso cresceu
e o resto são reticências
que a própria vida escreveu...

Ele cai ... não retrocede ! ...
continua até sozinho ...
que a fibra também se mede
pelas quedas no caminho ..

Se a saudade fosse fonte
de lágrimas de cristal,
há muito havia uma ponte
do Brasil a Portugal.

Ao partir para a outra vida,
aquilo que mais receio,
é deixar nessa partida,
tanta coisa pelo meio ...

Busquei definir a vida,
não encontrei solução,
pois cada vida vivida
tem uma definição...

Não paras quase ao meu lado ...
e em cada tua partida,
eu sinto que sou roubado
num pouco da minha vida ...

Meus sentimentos diversos
prendo em poemas tão pequenos.
Quem na vida deixa versos,
parece que morre menos ...

Contradição singular
que angustia o meu viver :
a ventura de te achar
e o medo de te perder ...

Estrela do céu que eu fito,
se ela agora te fitar,
fala do amor infinito
que eu lhe mando neste olhar ...

Ó mãe querida – perdoa !
o que sonhaste, não sou ...
- Tua semente era boa !
a terra é que não prestou !
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Fontes:
OTÁVIO, Luiz. Trovas. Belo Horizonte: Editora Acaiaca,
VERDAN, Iraí. Vida e obra do Príncipe da Trova – Luiz Otávio.
Portal Movimento das Artes.

Tagore Biram (Goiás Poético)


PRÓLOGO

Chegou a hora de incendiar as palavras
e atiçar fogo na noite escura.
Ah, erga-se o facho das estrelas
nesta noite de puro abril:
eu quero a luz derramada
sobre a chaga do meu peito
e a sangria de minhas mãos à mostra.
E não me venham dizer que não é tempo
de falar de flores e que
passou-se o tempo de falar de amores.
Eu, do meu lado, não me cansei ainda
de amar com o meu amor desesperado
(Mesmo não havendo intervalo
no calendário de minhas dores).

Mesmo que me digam: “Não é tempo de falar de amores”,
eu viro as costas e não me importo
e abro as portas dos meus tumores.

Tudo que habita na retina do meu olhar
são os passos largos do barco fundo
no mar imenso do procurar.

Esta noite, sob o manto das estrelas,
erguerei o incêndio das palavras!
Venham todos assistir o grande espetáculo.
Não vês, na vidraça dos meus olhos,
uma colméia de abelhas? Uma centelha
desesperada, debulhando raios de luz?

Eis o prenúncio de um grande acontecimento.
(Não haverá gozo nem sofrimento,
mas a explosão da lucidez de um louco).

Venham todos! Vou incendiar o mundo
com um só dos meus olhares.
(Eu mesmo sou uma aldeia
e o meu coração pode matar a sede
de todos os mares).

Ah, eu peço pelo amor de Deus ou do demônio:
Abram as comportas do mundo.
Façam silêncio por um segundo:
aqui existe um homem incendiado
de amor e um coração que vai saltar
pela janela do peito!

ÚLTIMO ATO

Com um tiro no crânio
o gigante Maiakovski
disse adeus à estupidez.
Com uma navalha
acariciando o pulso,
Iessenin, angelical,
despediu-se do tédio,
escreveu com sangue seu último suspiro.
Há também os que tomam cianureto,
e ainda, mais comumente,
os que saltam dos edifícios.
Quanto a mim, será mais terrível.
Comigo será diferente.
Farei meu ato-de-fé,
dançarei um ballet invisível
e cantarei a invenção da cigarra.
Ah, seguirei cantando e cantando.

Não. Não tenha pena da minha voz,
nem é preciso me dar a mão.
Apenas seguirei cantando
(e ninguém pode impedir que eu cante)
até que você se espante
com a última sílaba do meu coração.

A NAVALHA DOS ANOS

A noite chegou lambendo
minha juventude
com sua língua tristíssima
E como se fosse
uma navalha,
a noite me sangrou
por mais de vinte vezes
Com sua
longa calda de solidão.
Esta noite
mais de vinte
séculos
Ficaram por terra
como o golpe inevitável
da navalha
noturna e tristíssima
dos meus anos

"O RÍO TIRÚA"

Que trágica é a vida dos rios
Que trágica é a vida dos mananciais
Com sua voz mineral
Cheia de peixes e pedras
E também um olhar de esperança.

Os rios arrependidos
Que viajam tantas voltas entre selvas,
Costas montanhosas,
Para voltar sem cansaço
Á sua fonte original.

E há rios tranquilos e sinuosos,
Rios tranquilos y sinuosos
como serpentes,
silenciosos rios,
rios indiferentes aos crimes dos homens.

Que conformada é a vida deste veios,
Estes veios que sangram a terra
E alimentam de batatas os semeados,
De milho, amor, vinho,
Todos os elementos possíveis.

A voz musical desta agua,
Que o homem insiste em calar para sempre.

Dizem que há rios que se lamentam.
Sim, há rios que se lamentam.

Eis sentido o coração
Que esgota suas últimas lágrimas,
As últimas de um rio sedento.

Estes rios generosos não se lamentam por si,
Sim pelos seus próprios assassinos.

Tenho visto rios e lagos,
Rios e lagos cadavéricos,
Rios que se cansaram de ser rios,
Rios que se foram ao exílio,
Rios que se esconderam debaixo da terra,

Aguas que deviam abandonar a seus filhos.

Sim,
Tenho conhecido rios que retornaram a ser nuvens,
Mananciais de aguas que não retornaram nunca mais.

Se foram para sempre estas aguas,
Estas aguas que persistem nos olhos,
Estas aguas, estas aguas.

(tradução: José Feldman)
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Tagore Biram (1958-1998)



Tagore Biram era pseudônimo de Ubiratan Moreira, em homenagem ao poeta indiano Rabindranath Tagore.

Ubiratan Moreira nasceu em 6 de janeiro de 1958, em Olho D´Àgua, antigo distrito de Anicuns (Goiás) e hoje município de Americano do Brasil.

Sua estréia literária foi em 1981 com o livro Flauta Noturna.

Em 1985, publicou Poemas do Amor e da Ausência e viajou para Moscou, como delegado do Festival Mundial da Juventude. Na União Soviética, participou do Encontro Internacional de Jovens Escritores. Fez recitais e falou sobre o Brasil.

Teve poemas seus traduzidos para o russo e publicados em Moscou.

Em 1986, criou e presidiu o Comitê Pablo Neruda de Solidariedade ao Povo Chileno.

Em 1987, conquistou, em Goiânia, o Prêmio Cora Coralina de Poesia, com o livro O Anjo Desafinado, seu divisor de águas poéticas.

Na década de 1990, transferiu-se para Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, onde viveu por vários anos e trabalhou como editor cultural (Caderno B, do Jornal do Brasil Central) e redator-criador em agências de publicidade. Conheceu o poeta pantaneiro Manoel de Barros e dele se tornou amigo.

Em 1996 mudou-se para o Chile e ganhou o prêmio literário Cidade de Concepción, onde publicou os livros El Enderezador de Vientos e Poesia Pasajera.

O poeta rebelde e saudoso de casa faleceu em Tirúa (Chile), em 13 de junho de 1998, dez anos depois da publicação de seu segundo livro, O Anjo Desafinado.

Em Campo Grande (MS), o auditório na sede da TV Educativa foi inaugurado com o nome de Tagore Biram. Em Tirúa (Chile) um centro cultural também leva seu nome. Quando morreu em 1998, Tagore Biram deixou, inéditos, os livros, Muro de Berlim e Poemas de Santiago, dos quais, até o momento, não se sabe o paradeiro. (Valdivino Braz)

Se fosse hoje, eu não teria deixado Tagore Biram cair tão facilmente. Mas nunca conseguimos impedir uma queda, pois, quando vamos notar, a derrota já alcançou a todos nós. Mas a história humana carece de algumas quedas precoces para termos presentes a nossa fragilidade. Também quanto mais intenso o fogo mais rápido o destroçar da madeira. E ele que seria uma renovação total da poesia goiana! Dois livros que editou foram suficientes para deixar um clarão intenso. Dormi uma vez no apartamento dele em Goiânia, e umas duas noites ele passou em minha casa. É do poeta Valdivino Braz — seu mais fiel amigo, tanto em vida como de sua memória — o texto que o apresenta, publicado recentemente no Jornal Opção . O poema “El rio Tirúa”, que se encontra numa página chilena, talvez tenha sido escrito no período final de sua vida, quando ele morava naquele país. (Salomão Sousa)

Fonte:
Antonio Miranda

Júlio Dinis (As Pupilas do Senhor Reitor)



Análise da obra

As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Dinis, primeiro romance português do século, publicado inicialmente em 1866 em forma de folhetim, e só no ano seguinte apareceria em livro. Seu caráter moralizador e a religiosidade que perpassa por todo o romance, a bondade capaz de chegar a extremos quase incríveis de sacrifício pessoal, são alguns dos ingredientes que transformaram em muito pouco tempo o autor desconhecido em sucesso nacional.

A calma da cidade do interior (Ovar - Portugal) e a observação da vida simples das pessoas da aldeia propiciaram o aparecimento desse romance que, algum tempo depois, se tornaria um dos mais famosos em Portugal.

Os capítulos são tipicamente folhetinescos: unidades narrativas com peripécias e final em suspensão. É um romance está cheio de ironias bem humoradas, tornando-o, apesar do moralismo intencional, de leitura mais agradável.

Como costuma acontecer com escritores românticos, Júlio Dinis também vê o mundo com as lentes do maniqueísmo. Assim, assenta sua obra em um jogo contínuo de oposições. Entre as principais, destacam-se: A cidade - O campo / A modernidade - A tradição / O desejo - O amor.

Temática

O romance gira em torno da tese segundo a qual a vida simples e natural torna as pessoas alegres e felizes. Júlio Diniz descreve o campo, os tipos humanos, os hábitos e as idéias, desenvolvendo toda uma problemática pequeno-burguesa, com o "propósito de pregar uma moralização de costumes pela vida rural e pela influência de um clero convertido ao liberalismo".

Foco narrativo

O foco narrativo organiza-se através de um narrador que conta a história em terceira pessoa, sem se confundir com nenhum dos personagens, a respeito dos quais tem uma visão onisciente. Assim, conhece-os de forma absoluta, em seu mundo interior e exterior, em suas ações e motivações íntimas.

A forma didática como o narrador conduz a leitura da obra, ora descrevendo a interioridade de um personagem, ora se colocando como mero cronista que registra os acontecimentos, caracteriza-o como alguém que narra para um tipo específico de leitor: o leitor de jornal, que lê o romance de maneira descontínua e cuja atenção deve ser constantemente alimentada.

Tempo / Espaço

O tempo histórico é o presente, como convinha a um autor pré-Realista que preconizava a substituição do maravilhoso psicológico pelo romance de costumes. E presente, neste caso, é o início da segunda metade do século XIX.

Quanto ao tempo narrativo, não se pode precisar a extensão, mas trata-se de alguns anos, que vão da infância de Daniel, passam pelo tempo em que faz Medicina no Porto, seu regresso e a introdução, em um tempo narrativo mais acelerado, das principais ações da trama, isto é, o período dos escândalos na aldeia até a descoberta do amor.

Toda a ação transcorre em uma aldeia típica de Portugal. Seus costumes, suas festas, seus valores e personagens. Da estada para tratamento de saúde em Ovar, interior de Portugal, são as memórias que o autor utiliza na composição de seu romance. Os costumes rurais portugueses, incluindo aí as maledicências, as beatas de verniz, mas também os valores positivos do agricultor próspero, cuja moral do trabalho Júlio Dinis dá como modelo social.

A obra se caracteriza por reforçar o velho motivo literário "fugere urbem" (fugir da cidade). Assim, a natureza é o grande cenário, repleto de abundância, de belezas nostalgicamente evocadas, e daquele caráter de mãe que provê e beneficia o cultivo das tradições.

Personagens

As personagens são autênticas, são cópias do natural, das pessoas que vivem no campo: o João Semana é o retrato fiel do cirurgião João José da Silveira, que no tempo da estada de Júlio Diniz em Ovar, exercitou a profissão médica com grande sucesso, naquela região.

Daniel - O segundo filho de José das Dornas. Franzino, volúvel e irresponsável, principalmente em relação à mulheres. Em tudo diferente do irmão. Detesta o trabalho no campo, começa estudando latim e finalmente vai para a cidade do Porto, de onde volta muitos anos depois, já médico formado. É um estróina que inquieta o sossego da aldeia, fazendo vibrarem os corações femininos e provocando a antipatia de quase toda a aldeia com sua mania de conquistador. Representa, no romance, o tema romântico do resgate através do amor. Tocado pelo amor, muda de vida, torna-se um homem sério.

Guida - A irmã mais velha de Clara. Filha de um primeiro casamento, seu pai, viúvo, casa em segundas núpcias, mas não sobrevive muito tempo à primeira esposa. Ao perder o pai, Margarida recebe tratamento cruel da madrasta, a quem serve de empregada. Vive uma infância solitária de trabalhos duros, como o de pastora. Passa os dias isolada nos campos e montes, onde seu único consolo e o menino Daniel, a quem ama apaixonadamente. Neste romance, é Margarida que representa o papel da bondade a qualquer preço.

Autodidata, torna-se a mestra dos meninos da aldeia. Ela é fada, que só pensa na felicidade alheia, que se anula para que a irmã seja feliz, mas que, no fundo, escondidamente, sofre terrivelmente por frustração amorosa. Esta personagem representa a dimensão realista do romance, porque, embora seja uma típica heroína romântica, capaz da bondade e do perdão, a amargura que sente em decorrência de uma infância solitária e infeliz, repleta de maus tratos e de pobreza, alia-se à instrução que a diferencia dos outros personagens e faz com que veja as contradições, as injustiças sociais, revitalizando o idealismo romântico da obra.

Clara - Das duas pupilas, ela é a mais nova. Única herdeira dos pais mortos, filha de um segundo casamento (sua mãe era proprietária rural), era moça alegre, dada também a cantorias. Um pouco leviana, mas regenerada por algumas das vicissitudes por que passa, como castigo por sua leviandade. Torna-se noiva de Pedro, com quem deverá casar brevemente, mas impressiona-se com Daniel, quando este regressa do Porto. Cede aos galanteios do moço sem perceber as conseqüências de sua atitude, a qual nada possui de maliciosa, sua leviandade não chega a comprometer-lhe o caráter, cuja nobreza percebe-se pela amizade que dedica a Guida, pela preocupação em reparar os males da infância.

Pedro - Filho mais velho de José das Dornas. Em tudo semelhante ao pai: robustez, disposição. Ingênuo, mas alegre, dado a cantorias, muito ligado à vida do campo. Apaixona-se por Clara, de quem fica noivo. Jovem aldeão cuja pureza, simplicidade e alegria pela vida exemplificam a visão romântica pela existência rural predominante na obra e reforçada pelo desfecho: a união entre os dois pares amorosos, Pedro e Clara, Daniel e Guida.

José das Dornas - Lavrador abastado, mas humilde e humano, por volta de 60 anos, homem alegre, encarnação do pensamento positivo do autor. Um viúvo forte e rijo, de formação moral tradicional. Mandar o filho para a cidade, para estudar, não é propriamente pensamento seu, mas ao fazê-lo torna-se o arquétipo dos agricultores de sua situação no país.

Padre Antônio - É o senhor Reitor, o pároco local, uma espécie de anjo benfazejo, onipresente, incansável, providencial. Destaca-se entre os personagens por sua função de porta-voz do narrador, o que percebe-se por sua presença estratégica e definidora dos rumos seguidos ao longo do romance, nos quais interfere diretamente como um arquiteto da história. Com o "evangelho no coração" ela não apenas representa a imagem do religioso autêntico, militante, cuja vida é dedicada aos outros, especialmente às pupilas, mas configura um personagem nuclear do romance, sendo porta-voz dos valores que Júlio Dinis quer transmitir às massas, utilizando um velho pároco de aldeia como exemplo vivo da força e da austeridade desses valores.

João da Esquina - Merceeiro que, com sua família, centraliza as fofocas locais. O plano de casar Francisca, sua desmiolada filha, com Daniel, rico herdeiro, ao falhar, torna-o um inimigo irreconciliável dos "das Dornas".

D. Tereza e Francisca - Respectivamente, esposa e filha de João da Esquina.

João Semana - O único médico da aldeia, até que Daniel regresse do Porto. Conservador, nacionalista fervoroso, contador de anedotas picantes sobre frades. Encarna a solidariedade comunitária, com sua medicina-apostolado, a vida sem outro sentido que não seja a prática do bem e a preocupação com os problemas alheios. Personagem secundário no romance.

Joana - Criada de João Semana, fiel e maternal. Forte, persuasiva, de coração grande, sempre à disposição do médico, seu amo.

Notas

1. O reitor, o lavrador José das Dornas e o médico João Semana representam o caráter de livro-instrumento do romance para transmitir ao leitor, com seu comportamento exemplar, de sua autoridade moral, de sua interferência benéfica na vida da comunidade, uma visão educativa da tradição como um valor que deve ser preservado e respeitado.

2. O reitor, sua "pupilas" Guida e Clara, os rapazes a quem amam, Pedro e Daniel e José das Dornas, pai de ambos, constituem os personagens principais do romance.

3. Cada par de irmãos se caracteriza por apresentar personalidades antagônicas - antítese fundamentada na posição entre razão e emoção:

Pedro, jovem de robustez adquirida pelo trabalho no campo, constitui uma pessoa decidida, orienta seu comportamento, ou tenta fazê-lo, pela racionalidade: seu destino de herdeiro do latifúndio, já traçado, não os desestabiliza. O irmão Daniel, por sua vez, constitui o avesso de Pedro: desajeitado, passional e frágil de corpo, conduz-se pela impetuosidade das emoções. Por isso, sua vida é tortuosa e ele freqüentemente se encontra em situações delicadas.

Da mesma forma, isto é, o mesmo tipo de oposição de caráter pode ser notado em relação à Clara e à Guida, que são irmãs por parte de pai. Margarida, jovem sensata, arquiteta sua existência a partir de pilares sólidos, tias como a racionalidade e a virtude; introspectiva, calada, sofre suas decepções sentimentais sem testemunhas. Já Clara é o contrário: alegre, extrovertida, boa e meiga, ela no entanto não possui a maturidade de Margarida. Sendo assim, freqüentemente tem problemas, decorrentes de suas reações emocionais.

Enredo

Uma aldeia portuguesa do século XIX é o cenário ideal para o desenrolar de uma delicada trama: o amor e os desencontros entre as órfãs Clara e Guida. Cenário este, povoado de tipos humanos cuja bondade só é maculada pelo moralismo quase ingênuo de comadres fofoqueiras, desenrola-se o drama amoroso.

Daniel, ainda menino, prepara-se para ingressar no seminário, mas o reitor descobre seu inocente namoro com a pastorinha Margarida (Guida). O pai, José das Dornas, decide, então, enviá-lo ao Porto para estudar medicina. Dez anos depois Daniel volta para a aldeia, como médico homeopata. Margarida, agora professora de crianças, conserva ainda seu amor pelo rapaz. Ele, no entanto, contaminado pelos costumes da cidade, torna-se um namorador impulsivo e inconstante, e já nem se lembra da pequena pastora.

A esse tempo, Pedro, irmão de Daniel, está noivo de Clara, irmã de Margarida. O jovem médico encanta-se da futura cunhada, iniciando uma tentativa de conquista que poria em risco a harmonia familiar. Clara, inicialmente, incentiva os arroubos do rapaz, mas recua ao perceber a gravidade das conseqüências. Ansiosa por acabar com impertinente assédio, concede-lhe uma entrevista no jardim de sua casa.

Esse encontro é o ponto culminante da narrativa: surpreendidos por Pedro, são salvos por Margarida, que toma o lugar da irmã. Rapidamente esses acontecimentos tornam-se um grande escândalo que compromete a reputação de Margarida. Daniel, impressionado com a abnegação da moça, recorda-se, finalmente, do amor da infância. Apaixonado agora por Guida, procura conquistá-la. No último capítulo, depois de muita resistência e de muito sofrimento, Margarida aceita o amor de Daniel.

Fonte:
Passeiweb.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Delasnieve Daspet (Devaneios Poéticos)


ASSIM COMO AS FOLHAS QUE TREMEM...

Assim, como o sol que se curva a cada manhã;
Assim, como as folhas que tremem
Com a brisa refrescante;
Assim, como um pássaro a céu aberto,
Numa ânsia que toma,
Assim, no meu silêncio, este lamento.

Escrevo no pó da estrada
A profunda dor de minha mágoa.
E na aridez de minha saudade,
Com o canto preso na garganta,
Sou a lágrima triste
Que pinga sobre tua lembrança!

Assim sou, assim sigo
Um mero reflexo na janela...
Esta mentira é tão real que dá pena,
Sem perceber, sou eu mesma, quem vaga,
Na multidão que não passa...

CAMPO GRANDE MS, 31.05.04

ATÉ O SILÊNCIO SE CALA

Tanto faz se o mundo é grande ou pequeno,
Se somos ricos ou pobres,
Se alguém é mais tranqüilo e outro mais histérico,
Se somos fechados ou abertos às chances do universo...
Acreditando ou não,
Olhando-se nos olhos,
Com necessidade de ser aceito, amado e admirado,
Com liberdade de poder ser quem quiser ser,
Até a gente...

O que falta então?
Falta a coragem de buscar dentro de nós
O que realmente somos....
Falta nos vermos como ser especial ,
Falta dar uma chance para a esperança aflorar...

Falta traduzir, em palavras, o sentimento,
Fazer nascer a alegria,
Pois quando o poema nasce,
Quando a palavra surge,
Quando o caminhar da lembrança se perde,
Quando a vida nos mostra que o passado
É o que somos..
E quando a luz surge
Para compor o cenário do nós conosco,
Até o silêncio se cala!
Campo Grande-MS, 29 de maio de 2005

DESESPERANÇA

Todas as manhãs acordo
e sinto o mesmo vazio.
E a desesperança toma conta
sem espaço para mais nada.

Não vai demorar
numa dessas manhãs eu vou embora;
Mas permaneço na fila,
voltei para acertar comigo.
Nada faz sentido, eu sei.

Sou um rio que um dia foi riacho,
que começou num córrego
e que teve seu início num pingo,
manuseando as formas, preenchendo vazios.

A verdade nunca é feia.
Por mais que eu caminhe,
por mais que eu me entregue,
sou-me uma desconhecida.

E na escuridão que tudo cobre
posso ver a lágrima derramada,
sentir os ventos lascivos
que carregam meu corpo
na morte líquida e profunda
do meu outro eu que me observa
e me aguarda lá fora...

Campo Grande MS 10/03/04

ANDO A NOITE, A NOITE ANDO...

Vou andar na noite
escutar do vento o cantar,
catar conchinas a beira-mar,
a noite vou andar...

Andei questionando os raios do luar,
se pensas em mim,
o tanto que penso em ti...
Da primeira aurora,
do primeiro raiar de luz,
na primeira estrela que brilha,
O sonho que sonho sempre,
tem o teu cheiro, perfume-orvalho!

Na pálida vida que levo,
me sinto sufocada, desesperada,
saio pela noite, a andar,
procurando um mundo real.
que não esconda
O riso, flor-da-pele, prazer.

Ando a noite, a noite ando...
Pois a noite pertence ao amante,
a noite pertence ao amor.

E ao te tomar nos braços, noite infinita,
( que a vida circunda, não passa ),
sei o que me espera noite, negra noite
que tudo cobre e nada encobre,
no momento, no espaço, no verbo,
na carne, na vida, que não somos!

Campo Grande MS 29-08-05

ABSOLUTA AUSÊNCIA

Oh! Luar da noite, ajuda-me!
Eis-me, no entardecer,
Caminho já estreito,
Deixei-me tomar de repentino,
Tardia, enlouquecedora força…

Após ler as linhas,
Só penso nisso.
Já não consigo esconder ,
Já não camuflo nos ventos que ondulam,
O desejo que toma conta.

O vento sul, que limpa as nuvens,
Bate com insistências as janelas que fechei.
Desliguei a TV, não importa,
Ferrenha, quero por uma pedra, na fenda...

Mas o pensamento, esse matreiro,
Me lembra que lá,
Dentro d´alma
Em todos os momentos
Está o sonho que não ouso sonhar!

E já rememoro, cheia de saudades,
O ritual que agora nego,
O sabor que não permito,
Que gosto terá o suor, o beijo?

E, Lua e Sol que somos,
Chegas e saio de cena.
Silenciosa, sem calor,
Na dolorida madrugada.

Ainda assim, sinta-me, sempre,
Estarei contigo, no mesmo pensamento,
Ainda que em absoluta ausência!

Campo Grande-MS 12-08-05
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Fonte:
Colaboração da autora.

Moacyr Scliar (A Mulher que Escreveu a Bíblia)



Último romance escrito por Moacyr Scliar e lançado no final de 1999, A mulher que escreveu a Bíblia reúne o que há de melhor no trabalho desse escritor cujo texto é marcado pela leveza, fluência e imaginação. Em sua trama bem urdida, misturam-se sem cerimônia erudição e escracho, sagrado e profano, História e ficção, sublime e ridículo, religião e sexo. Para escrevê-lo, Scliar baseou-se na hipótese do crítico norte-americano Harold Bloom de que uma mulher teria sido a autora da primeira versão da Bíblia, escrita no século X a.C.

Sem nome próprio, a protagonista deste romance tem como principal característica sua enorme feiúra facial, embora fosse “boa de corpo”. Descobre, por meio de terapia de vidas passadas, ter sido uma antiga cidadã dos tempos bíblicos na então Canaã e filha de um pastor de cabras. A mulher que escreveu a Bíblia é o relato em primeira pessoa da trajetória fabulosa dessa personagem anônima.

Tornou-se, por meio das relações comerciais do pai, uma das mulheres do rei Salomão, coincidentemente depois de ter sido alfabetizada às escondidas pelo escriba da tribo, que via na possibilidade de escrever um consolo para a vida celibatária que se apresentava para sua protegida.

Após sofrer uma decepção amorosa, opta por consultar-se com um terapeuta de vidas passadas na tentativa de reencontrar-se, propiciando um autoconhecimento. Contudo, tal busca também está presente no próprio terapeuta que, frustrado na antiga profissão (professor de história), passa a atuar no ramo esotérico. No entanto, mesmo que a prática do consultor seja autodeclarada charlatã, a mulher acaba por atingir seus objetivos, após longas sessões, e entrega ao guia sobrenatural (agora apaixonado por ela) o resultado de sua procura sob a forma de um texto escrito, relatando suas aventuras em uma vida anterior, como esposa do rei Salomão e primeira autora de um grande empreendimento para a humanidade, a Bíblia.

A protagonista não só se apaixona pelo rei Salomão, como consegue, depois de algumas tentativas frustradas, consumar o casamento e, mais que tudo, escrever, sob encomenda, sua versão da Bíblia que, infelizmente, acaba se perdendo num incêndio de origem duvidosa em seus aposentos.

O segundo capítulo, ponto alto da obra, é, portanto, essa narrativa, a da vida regressa desta mulher que mesmo feia fez-se reconhecer pelo mérito de ser letrada em uma sociedade que não admitia tal prática a alguém do sexo feminino.

Ao final do romance, o leitor fica sabendo que a protagonista consegue superar suas dificuldades amorosas no tempo atual, abandonando seu apartamento e psicanalista, que começava a se apaixonar por ela.

O que vemos é o relato de uma experiência histórica, narrado a partir de um ponto de vista declaradamente assumido pela narração, que impõe sua voz, ou seja, seu modo de contar os fatos segundo sua perspectiva. Ainda assim, é possível aprender e rever neste romance certas passagens do Velho Testamento, como a expulsão de Adão e Eva do Paraíso, o julgamento do rei Salomão sobre as mães que disputavam o mesmo filho, o interesse do rei Salomão pela rainha de Sabá, a disputa entre Caim e Abel etc.

No entanto, o fator predominante do texto em análise novamente é o humor, uma vez que é bastante inesperada a versão que a protagonista dá aos episódios bíblicos, como a libidinagem que corria entre Adão e Eva, para ficar num único exemplo.

Mas, ao mesmo tempo, encontramos, dentro da mesma ficção bem-humorada de Scliar, trechos que podem ser interpretados como sua profissão de fé na arte de escrever. Em certo momento da história, o rei Salomão dirige as seguintes palavras à protagonista:

[...] Não quero ser lembrado por ruínas. Quero ser lembrado por algo que dure para sempre. Sabes o quê?
Fez uma pausa, olhou-me, e anunciou, solene:
— Um livro. Um livro que conte a história da humanidade, de nosso povo. Um livro que seja a base da civilização.
Claro, o livro, como objeto, também é perecível. Mas o conteúdo do livro, não. É uma mensagem que passa de geração em geração, que fica na cabeça das pessoas. E que se espalha pelo mundo. O livro é dinâmico. O livro se dissemina como as sementes que o vento leva.

O texto desfruta explicitamente de uma convergência de tempos, isto é, da recorrência do passado no texto presente, declarada sob a forma de memória de uma vida anterior. O que temos, portanto, é uma narrativa encontrada no presente que sofre interferência de um passado, ao passo que projeta o futuro, fato que possibilita aparições de anacronismos (recuos e avanços no tempo). A protagonista vê com os olhos da modernidade (ou pós-modernidade) suas experiências vividas em uma época longínqua. É o rever a tradição, recontá-la sob outros olhares não restritos a uma elite letrada, sendo, neste caso, a postura feminina frente ao discurso (religioso-eurocêntrico, ou seja, a partir homem branco, cristão e ocidental) que sempre a marginalizou.

Um outro ponto também trabalhado no romance é a duplicidade, o jogo corrente entre sagrado e profano, perceptível pela linguagem ora formal, ora escrachada da narração, um procedimento visível no diálogo da protagonista com a ordem dos anciãos, representantes oficiais da intelectualidade da época e do tom de censura amplamente criticado pela narradora.

Moacyr Scliar recria o cotidiano da corte de Salomão e oferece novas versões de célebres episódios bíblicos. Em sua narrativa, repleta de malícia e irreverência, a sátira e a aventura são matizadas pela profunda simpatia do autor pelos excluídos de todas as épocas e lugares.

O bem humorado enredo, porém, supera a mera aventura, com curiosos lances de reflexão sobre o ato de escrever, seu sentido, razão de ser e conflitante relação com a vida, onde se destaca toda uma perspectiva humanista radical do autor.

Como costuma acontecer nos livros do autor, o humor irreverente anda de braços com um profundo humanismo, cujo traço mais evidente é a simpatia pelos deserdados e excluídos. Aqui, Scliar, além de sua fabulosa imaginação, demonstra todo o seu virtuosismo literário ao misturar o registro elevado da linguagem bíblica com a fala desabusada da narradora/escriba, criando anacronismos deliberados e impagáveis.

Fonte:
Passeiweb.

Pedro Ornellas (Pedaços)


Os versos esparsos que eu fui rabiscando
são simples amostra da mágoa sentida...
pedaços de sonho que eu fui costurando,
lembranças que eu guardo da infância perdida!

São gritos calados que vão revelando
segredos guardados na mente sofrida...
espinhos e flores, ferindo e alegrando,
lições e valores - pedaços de vida !

É certo, o poeta também, vez em quando
supõe o que escreve e se perde sonhando,
confesso que às vezes também sou assim...

mas, via de regra, mais alto falando
é o meu coração quem assume o comando
e faz dos meus versos pedaços de mim!
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Fonte:
O Autor.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Arietto (Poesia da Primavera)


Há uma certa tendência na literatura atual pelo minimalismo, a exemplo do movimento Práxis. Os minicontos priorizam os leitores cada vez mais distantes, com menos tempo para se dedicarem à leitura. Entretanto, a leitura, como alimento prioritário da alma, revigora o crescimento intelectual pela arte. E a poesia é a verdadeira essência da palavra, o cerne de toda a literatura. Obra de arte lapidada.

Eis um perigo: reduzir a poesia à minúscula verve e relevá-la ao mar das coisas comuns. Ledo engano. A poesia sempre deve estar comprometida com a essência, com o sentimento, com a visão das coisas aparentemente invisíveis ao homem comum, como diria Octavio Paz.

Carregar o fardo de poeta num mundo tão avesso e cruel é árdua tarefa. E a poesia também é essencialmente lírica. A metáfora é a jóia máxima de toda arte poética. A primavera de 2005 trouxe uma novidade poética. O livro Punhos da Primavera, a ser lançado hoje às 19h30 na Fundação Jaime Câmara, é de um poeta comprometido com a palavra, com a metáfora e a lírica sempre lapidando as palavras. Os poemas de Weder Soares não são tão curtos quanto essa nova tendência, mas não torrencialmente longos como os tradicionais românticos. Weder busca nos versos a sua verdadeira identidade, como se pegasse as palavras pelos seus miolos, tirasse as suas cascas adjetivais excessivas, cortasse alguns fiapos verbais e debulhasse as imagens líricas e lúdicas, brincando com os parênteses, dando dois sentidos ao mesmo contexto. Weder imprime a musicalidade nas Árias, nos Cantos, nas Sonatas e no restante de seus versos, desconcertando o leitor desavisado. Vai 'soletrando as ruas', 'desmanchando sol', 'apresentando o mar', desatando o 'nó de fel/icidade', em 'versos empoeimados' que 'entre os dedos afago'; me 'curvo ao pé do poema' e guardo na 'caixa de segredos'. Há lembranças de Yêda Schmaltz? Sim. Cada palavra é o impacto de um murro, desses Punhos de Primavera. O leitor fica atordoado.

Por isso é que se diz que cada leitura muda o leitor. Impossível ser o mesmo depois de ler qualquer bom livro. Sem pretensão mercadológica, os melhores livros não costumam ficar em listas dos mais vendidos. Segundo o crítico Antônio F. Borges, 'a boa ou má qualidade de um livro não decorre absolutamente dos resultados financeiros, embora às vezes a recíproca possa ser verdadeira: afinal, livros ruins num país sem larga tradição de leitura... bem, é fácil deduzir o resto da equação'.

Tanta revolta revelaria lamúria por uma cultura escassa que se vende [e caro] por muito lixo. Mas é o preço que se paga para, ao invés de massagear a massa cinzenta, enaltecer o ego, num mundo necessitado de valores. Gosto não se discute, mas a boa leitura não se vende e nem se ganha: aparece para alimentar o espírito.

Fontes:
Poetas del Mundo.

Arietto


Arietto Pseudônimo de Léo Teixeira, poeta, estudante e funcionário público estadual, antigo diretor do departamento de imprensa do C.A.XI.M, da Faculdade de Direito/UFG,

Autor do livro 'Mergulhando no Pensamento: Brasil, O Poema Crítico', editado em Dezembro de 1998, lançado no auditório nobre da Faculdade de Direito da UFG em 18/12/98; no Café com Letras, nos dias 13 e 27/09/01 em Brasília - DF; e também na sede do Ministério Público no dia 09/11/01 durante a 1ª Jornada Jurídica 'A Corrupção na Administração Pública', realizado pela FESUMP [Fundação Escola Superior do Ministério Público].

Atual membro da Sociedade dos Poetas Pensantes -SOPOP.

O seu livro de poesias 'mostra que a juventude brasileira e goiana continua alerta e pensando os problemas nacionais, adotando uma postura crítica e atuante diante das mazelas que assolam o Brasil; armado de uma incomum sensibilidade para o social, para as pequenas coisas que tanta repercussão têm no dia-a-dia das pessoas, Léo Teixeira debruça-se sobre os mais variados assuntos, abordando-os sempre com convicção, firmeza, justiça e equidade, demonstrando arguta percepção do fenômeno social em suas poesias torrenciais, verdadeira cachoeira, jorrando saber, visão realista e sensibilidade, acentuando os contrastes que assolam o país.

Léo Teixeira é especialista em poemas longos, com tom próprio para declamações acaloradas, possuindo uma verve rica para a literatura e um inigualável senso de responsabilidade e equidade, nunca dissociando da poesia, senso de quem escreve com o corpo, com alma, transformando o dia-a-dia do brasileiro em pura poesia.' - Dr. Humberto Milhomem, advogado e professor em literatura.

'Léo Teixeira, como Contista, é criador de fantásticas e deliciosas histórias que sempre trazem à tona mensagens para refletir. Com um senso extraordinário da teoria bruta do conto, em seus personagens universais, uns reflexivos, intrínsecos, intimistas, outros bem diferentes. Inclusive, em alguns Contos, a ausência do espaço chama a atenção para seus interessantíssimos escritos. Realmente vale a pena lê-los'
Alan Möller, contista e escritor.

Fonte:
Poetas del Mundo.