terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 4)


Trova do Dia

Quanta inspiração me causa,
o entardecer morno e rubro.
Faz na vida doce pausa,
e com sol quente eu me cubro.
CARMEN PIO/RS

Trova Potiguar

Adotando os bons conselhos
das faculdades morais,
os filhos serão espelhos
da retidão de seus Pais.
DJALMA MOTA/RN

Uma Trova Premiada

1999 > Amparo/SP
Tema > VÍCIO

Tantos jovens, sem carinhos,
desprotegidos da sorte,
se perdem pelos caminhos
do vício que leva à morte!...
HERMOCLYDES S. FRANCO/RJ

Uma Trova de Ademar

Nenhuma ciência explica
as satisfações da mente.
O prazer não se fabrica,
ele nasce simplesmente...
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram:

Entre o orgulho e a solidão,
no meu mundo, hoje pequeno,
guardo um “sim” de prontidão,
esperando o teu aceno!
ULYSSES CARVALHO JÚNIOR/RJ

Uma Poesia livre

Daufen Bach/MT
"CRISPARES – POEMA-INÍCIO”

Entre um verso para teus olhos
e uma fantasia para os teus lençóis,
transfiguro-me
para um renascer contínuo.

inauguro o absoluto,
o verbo fluente,
fixado,
nunca acabado.

inauguro em mim
o sentir do amor.

Estrofe do Dia

Hora que o sentenciado
nas grades da detenção,
por todo mundo humilhado
sente mais recordação,
sonha com a liberdade
mas por infelicidade
não sai daquela enxovia;
a Deus eleva uma prece,
baixa a face a lágrima desce,
ao som da Ave Maria.
CANHOTINHO/PB

Soneto do Dia

Francisco Macedo/RN
DESISTIR, JAMAIS!

Escalava a montanha novamente...
E, alpinista de amor enlouquecido,
chegaria a um lugar desconhecido,
jamais imaginado pela mente.

Eu sentia o infinito a um batente,
e, jamais eu teria desistido!
Mas, por forças humanas, impedido...
- E a chegada tão perto, um pouco à frente.

Um grande sonhador, não fica triste,
de alcançar o ideal, jamais desiste,
quer sempre ir mais à frente, e, se cansado...

Ele tenta vencer o seu limite,
buscando o inalcançável, ele admite,
que se jamais chegar... Terá tentado!

Fonte:
O Autor

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Trova de Aniversário por Nei Garcez (Curitiba/PR)


Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 3)


Trova do Dia

Fiel aos sonhos vassalos,
qualquer grande sonhador
guarda o medo de guardá-los
escondendo sua dor!
NILTON MANOEL/SP

Trova Potiguar

Meu pai, menino crescido,
brinca mais que meus irmãos...
Meu coração, comovido,
vê os calos em suas mãos...
CLEVANE PESSOA/RN

Uma Trova Premiada

2008 > Caicó/RN
Tema > ESTRADA > 4º Lugar.

Na estrada, outra pedra imensa,
mas, nem assim titubeio:
- não há revés que não vença
quem crê em Deus, como eu creio...
DARLY O. BARROS/SP

Uma Trova de Ademar

Sem pai, sem mãe, nem parente,
sente o mais triste desgosto,
não tem a quem dar presente
nos meses de maio e agosto.
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram:

Romance da mocidade
eu quis, um dia fazer;
tomou-me a mão a saudade
e então se pôs a escrever...
LUIZ RABELO/RN

Uma Poesia livre

Flauzineide Machado/RN
EU SOU APRENDIZ

Entre versos e rimas,
Eu escrevo poesias
Histórias contadas
Para serem sentidas.
Entre versos e rimas,
Eu escrevo emoções
Para serem vividas
Entre corações.
Entre versos e rimas,
Saio a caminhar
Para aprender,
Para ensinar.
Entre versos e rimas,
Canto feliz
A reviver

Estrofe do Dia

Até parece mentira
Certas coisas deste mundo:
Numa fração de segundo
A roda do tempo gira;
Um instante se retira,
Outro pula no tablado;
O tempo é tão apressado
Que passa pisando a gente...
Futuro é quase presente,
Presente é quase passado.
JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN

Soneto do Dia

João Justiniano da Fonseca/BA
O SONETO MODERNO.

O soneto renasce, e a todo pano,
transita pelos mares da poesia.
é clássico ou moderno, em confraria,
navega ao vento norte ou ao minuano.

É discriminação e puro engano,
dizer que a rima é velha e sem valia.
O belo é sempre belo, na poesia,
na pintura, na música... E que dano

causa o antigo teatro, o enceno, a mímica,
que afaga o espírito e ilumina a química,
do riso alegre, da tranqüilidade?

Renascendo o acadêmico soneto,
traz um sentido novo, e, em branco e preto,
tem gosto e aroma de modernidade!
----

Fonte:
O Autor

domingo, 26 de setembro de 2010

Nilto Manoel (C O R D E L - Jornal do Povo )


1
O cordel tem por ofício
quase a vida de um jornal.
Tem notícia, história, anúncio
e reportagem em geral.
Presente no dia a dia,
quer na prosa ou na poesia,
é cartilha nacional.
2
Na feira ou folheteria
e nas bancas vai em frente
reportando ao povo imenso
as coisas de nossa gente
do bóia fria ao doutor
do mestre ao construtor
no comércio refulgente.

3
O escritor é jornalista
lavra a terra e vê no chão
a semente que germina
o progresso da nação.
Como profeta, feliz
refloresce no que diz
letra por letra a lição.
4
O progresso pouco a pouco
no sertão faz-se infinito
e leva a mão primitiva
todas as cores do infinito
revelando com altivez
que o povo unido tem vez
quando há irmandade no grito.
5
O meu irmão cordelista
da Bahia de Brasília,
de Goiás Mato Grosso,
Rio e São Paulo, em vigília
tem do trabalho alegria,
pois da prosa ou da poesia
ganha o sustento da família.
6
Tenho muito viajado
e nos trechos por onde piso
vejo com satisfação,
que do lápis mais preciso
ou das cordas de um repente,
nasce o encanto auri-fulgente,
de gente que tem juízo.
7
No folheto ou no improviso
o pensamento do autor
tem colorido de paz
quando semeia com amor
que povo unido é mais forte,
e do progresso o suporte
da nação seu esplendor.
8
O Cordel está presente
no acampamento operário
no escritório do doutor,
no metrô pelo itinerário
e no salão de barbeiro...
No teatro brasileiro
ganha chão pelo cenário.
9
Saiba que o poeta reporta
dos tempos toda finura
que até um pesquisador
defende a sua fartura.
Sempre existe um zombeteiro
que para não gastar dinheiro
diz: - Cordel? Não é cultura!
10
No entanto a escola da vida
demonstra o que é patente
que o Cordel é popular
e na cultura da gente
na mais terna galhardia
é folheto e antologia,
e tem magia patente.
11
Muito aprende quem é feliz
e quer da escola da vida
sua turma de trabalho
pois o círculo da lida
tem força quando une a gente
sem discriminar nem na mente
qualquer rota percorrida.
12
O Cordel está presente
na capital, no sertão,
na rede, na palafita,
no barco e no avião.
Anda até de bicicleta,
pois na sina do poeta
tem nobre motivação.
13
Só querendo ser sequência
sem jamais encher linguiça,
com imagem momentânea,
- no cinzento sem preguiça-
busco rima para cacto
e o assunto dá impacto...
O sertão quer mais justiça.
14
O Cordel é céu estrelado
na cultura tem primor,
pelos sertões do nordeste
ou nas cidades em flor
não teme a voz do ranzinza
nem o carregado de cinza
que seu brilho tem valor.
15
O Cordel fala gostoso
para o ouvido do Senhor,
senhora ou senhorita,
porque pinta em sua cor
celestial e bendita
sem precisar fazer fita
no mundo ganha vigor.
16
Sou andarilho, valente,
meu arco-íris é a estrada
por onde o sonho é constante.
Na realidade dourada
de um mensageiro fiel
desempenho o meu papel
com fala mais sublimada.
17
Coloco a lauda na máquina
e dedilho um violão,
produzindo num repente,
o que vai na imaginação,
... e no folheto gravado,
vai do forno ao mercado
porque do espirito é o pão.
18
Quando pinto minha tela
não descuido da tintura
porque sei que meu freguês
não vive só de amargura,
Sonha com amor e com a vida
e com o salário da lida
quer o direito de fartura.
19
Em qualquer rua gostosa
pelas mãos do próprio autor
no comércio sem mistério,
o Cordel é bom cantor,
tem o espaço que merece
conversa com voz de prece
pois sempre é bom orador.
20
Por isto leitor amigo,
Pelo chão preto, Mocinho,
A festa dos papagaios,
são folhetos meus onde alinho
mensagens ao seu alcance,
e espero que não se canse
com a embriaguez do meu vinho.
21
De poeta e louco há quem diga
que um pouco tem todo mundo.
Nesta pátria de poesia
o sonho é belo e profundo
quando há esperança no sonho,
o medo é menos risonho
quem luta não é vagabundo.
22
Todos nós somos irmãos
e de Deus a terra é nossa.
Quem faz boa semeadura
com paz e amor não há fossa,
tem sempre unida a família
se trabalha sem quizília
com a vida não se faz troça.
23
A temática ganha espaço
no mundo constantemente,
porque o poeta inspirado
consegue ver no repente,
até o sexo de micróbio
e se o tempo o faz macróbio,
fica antigo e experiente.
24
O cordelista é eterno
Nunca vive a vida em vão
é simpático tem mestria
com seu folheto na mão
semeia a boa feitura
do cordel que é cultura
na riqueza da nação.

Vila Tibério. 3/1/1979.

Fonte:
O Autor

Literatura de Cordel no Ponto de Cultura do Maurílio Biagi, em Ribeirão Preto


O “Ponto de Cultura”, nas dependências do Parque Maurílio Biagi, localizado nas proximidades da Câmara Municipal, teve programação especial no domingo, dia 19, quando, além da troca de livros, contadores de histórias, com Adriana Paim e Cassiana Freitas, haverá participação de autores e autoras lendo seus textos e um espaço dedicado à literatura de cordel.

Para isso, segundo Edwaldo Arantes, presidente do Instituto do Livro, o projeto convidou todos os escritores cordelistas para que inaugurem suas participações neste espaço democrático, por sugestão do vereador Cícero Gomes da Silva, que há anos realiza a feira de mangaio, que comercializa diversos produtos nordestinos, e que já acontece na cidade há anos. O trovador Nilton Manoel e seu grupo mostraram essa tendência literária aos frequentadores do Maurílio Biagi.

De acordo com ele, Ribeirão Preto tem na vida cordelista a presença feminina, destacando boas histórias romanceadas. “Cordel é cultura e merece vida longa”, emenda Nilton Manoel, que compõe o Movimento Poético de Ribeirão Preto.

Fonte:
http://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/ccs/snoticias/i33principal.php?id=15890

Renata Paccola (Cristais Poéticos)


TROCADOS

No afã de conquistar algum trocado,
há quem entregue o corpo e venda a alma
pelo seu dinheirinho abençoado
que o faz ganhar o pão perdendo a calma.

Abra as mãos para ver, maravilhado,
que uma fortuna cabe em sua palma,
porque nem sempre o rico é afortunado
e nem sempre a fartura nos acalma.

Há quem ganhe dinheiro por esporte...
Contudo, neste mundo tem mais sorte
quem conquista os amigos verdadeiros,

mas chegando aos momentos derradeiros,
faz um pedido a todos os herdeiros,
que, por favor, esperem sua morte!

LIBERDADE

Liberdade, meu sonho mais distante!
Caminho com as pernas amarradas,
e com a realidade, de mãos dadas.
Liberdade, conceito conflitante!

Meu mundo de ilusões acorrentadas
tem a felicidade num instante
e, no outro, a tristeza mais cortante...
Sou um pássaro de asas arrancadas.

Liberdade, vital contradição:
até um escravo é livre quando alcança
a liberdade do seu coração.

Contudo, chegará aquele dia
pelo qual sobrevive uma esperança
da liberdade, ainda que tardia!

INDIFERENÇA

Passo por ti, e nem sequer me notas,
embora eu vá seguindo tua vida.
Sei de tuas vitórias e derrotas,
acompanho de perto tua lida.

De tuas fãs, eu sou a preterida.
Em teu meio, sou alvo de chacotas,
e me sinto como uma nau perdida
(busco em vão encontrar as próprias rotas).

Passas com jeito de quem não me quer,
usas palavras vãs, idéias turvas,
ao passo que eu te espero sem perder a calma.

Mas se pensas em mim como mulher,
enquanto vais olhando minhas curvas,
eu fico retratando tua alma.

DOM

De todos os meus dons, o que mais prezo
está na minha mente poderosa.
Por ser, antes de tudo, misteriosa,
nunca sei se gargalho ou se me enfezo.

Deixo-me dominar e sou teimosa.
Se tento fazer bem, é quando leso.
Sou profana, descrente, e sempre rezo.
Quando perco, sou mais vitoriosa.

Defendo a tese em que não acredito.
Quando minto, estou sendo verdadeira.
Por tudo o que vivi, eu já sou pura.

O espaço em que viajo é o mais restrito.
E tudo o que ganhei na vida inteira
é meu dom de assumir toda a loucura.

FOGO

Ao entregar meu corpo e minha vida
àquele que tomou conta de mim,
numa ação pelos céus reconhecida
vou revelando meu amor sem fim.

Contudo, para o mundo, estou perdida
por ter no corpo o fogo do carmim.
Vou carregando, embora perseguida,
em minha alma, a pureza do marfim.

Se o amor é belo para quem o vê,
é mais sublime para quem o faz.
Se a experiência pode ser bem vasta,

continuo na busca de um porquê
da existência, que com loucura traz
um corpo impuro numa alma ainda casta.

GIRA-MUNDO

Eu sei que não nasci para este mundo
repleto de tensão e violência,
avesso ao sentimento mais profundo,
em cujo solo impera a delinqüência.

Prossigo com um sonho de decência,
e neste sonho às vezes eu me afundo,
até chegar à beira da demência
e em meu espelho ver um vagabundo.

Mas da revolta o meu maior motivo
é que, apesar de tudo, ainda vivo
tentando ter o mundo a meu favor.

Seguindo o movimento de um pião,
eu giro pelo mundo em contra-mão
se o mundo gira contra nosso amor.

SOBRAS

Sobras
são sombras.

Sobras do passado,
saudades,
sombras que ainda se movem,
embora estendidas no chão.

Sobras,
quebras
dos grilhões de vidro que já não prendem,
mas seus cacos ainda cortam.

Sobras,
retalhos,
tijolos,
que foram e serão
partes de uma construção.

Sobras,
lembranças que podem se deteriorar
se não forem bem conservadas.

Saudosismos,
sobras inúteis
de fatos perfeitos.

Uma lágrima rola,
sobra de tantas derramadas.

Frases que poderiam ser ditas,
páginas ainda não escritas
da história que juntos vivemos
e que deixamos por terminar;
sobras úteis
de pratos malfeitos.

Sobras,
restos imortais
do passado que se confunde com o presente.

As sobras de hoje
serão o prato de amanhã,
quando a sombra partirá
e as lágrimas
não sobrarão.

Sobras de uma paixão,
um resto de sol
e uma poça no chão.

FEITIÇO

Se eu tivesse os poderes de uma fada
Estaria contigo o tempo inteiro
Iluminando tua madrugada
Como se fosse a luz de um candeeiro.
Seria teu bordel e teu mosteiro,
Seria teu refúgio e tua estrada
Do nascer ao momento derradeiro,
Da hora da partida até a chegada.
Eu te seduziria qual sereia,
Então, nos amaríamos na areia;
Depois, te afogaria com meus beijos.
E no final eu me transformaria
Numa estrela repleta de magia
Que pudesse atender aos teus desejos!
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Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 2)

A pintura na imagem abaixo é de Fábio Pinheiro
(Casinha no Interior de Santana de Matos)
Trova do Dia

Aquele olhar triste e ardente,
que na partida me deste,
foi muito mais eloquente
que as palavras que disseste.
CONCEIÇÃO A. DE ASSIS/MG

Trova Potiguar

A terra inteira secou!...
E, a dor me fez sofrer tanto,
que quando a chuva voltou,
tinha secado o meu pranto!
PROF. GARCIA/RN

Uma Trova Premiada

1999 > Amparo/SP
Tema > VIRTUDE > Venc.

Nos mais difíceis momentos,
tuas virtudes revelas:
quando o barco enfrenta os ventos,
mostra a beleza das velas!
SÉRGIO FERREIRA DA SILVA/SP

Uma Trova de Ademar

Descobri no envelhecer
que a musa que me enaltece
não deixa o verso morrer,
pois musa nunca envelhece!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram:

Vejo na tarde tristonha,
pelo vento solto ao léu,
o lenço branco das nuvens
limpando o rosto do céu.
CESAR COELHO/CE

Uma Poesia Livre

CECÍLIA MEIRELES/RJ
MOTIVO

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Estrofe do Dia

MOTE: “o teu amor de mentira,
Me fez sofrer de verdade.”


Despertou a minha ira
me lançando ao ostracismo,
pois veio em tom de cinismo
o teu amor de mentira.
Meu “eu” de angústia delira
retroajo à puberdade;
meu peito dói de verdade
ao sentir com vil tormento
que teu ego fraudulento
me fez sofrer de verdade.
NIZARDO AMÉRICO/RN

Soneto do Dia

GERSON CESAR SOUZA/PR
EXTREMOS.

Somos assim, estranhamente extremos,
gostos opostos, sonhos discrepantes,
somos canção de acordes dissonantes,
há divergência em tudo o que queremos...

Só defendemos pontos concordantes
até entender que não nos entendemos,
e esclarecendo aquilo que dissemos,
dizemos sempre coisas conflitantes...

Tu, me querendo, dizes que eu não presto,
e ao te querer, sempre de ti reclamo,
mas tu me chamas, disfarçando o gesto,

e entre protestos eu também te chamo,
pois, mesmo amando tudo o que eu detesto,
tu és na vida aquilo que eu mais amo!
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Fontes:
- O Autor
- Imagem = montagem por José Feldman

Antônio de Alcântara Machado (Brás, Bexiga e Barra Funda) Parte II


8 · NOTAS BIOGRÁFICAS DO NOVO DEPUTADO

O coronel J. Peixoto de Faria fica desnorteado quando recebe a carta do administrador da fazenda Santa Inácia dizendo, entre outras coisas, que o seu compadre, João Intaliano, morreu. O órfão e afilhado do coronel, Gennarinho, ficou na casa do administrador, que agora pede uma orientação. O coronel Juca e Dona Nequinha, sua esposa, deixam para responder a carta no dia seguinte.

Gennarinho, nove anos, é trazido pelo filho mais velho do administrador. Vem “com o nariz escorrendo. Todo chibante.”

Logo Gennarinho já é tratado com um filho pelo casal.

Um dia, o coronel decide traduzir o nome do menino. “Gennarinho não é nome de gente”.

E passou a chamá-lo de Januário.

Discutindo sobre o futuro do garoto, os pais adotivos resolvem colocá-lo num colégio de padres.

No primeiro dia de aula, o coronel, todo comovido, acompanha Januário e o apresenta ao reitor. D. Estanislau pergunta seu nome. O menino responde dizendo apenas o primeiro nome. O reitor insiste: Januário de quê? O menino responde, com os olhos fixos no coronel: Januário Peixoto de Faria.

Seguindo para São Paulo, o coronel já pensa em fazer testamento.

9 · O MONSTRO DE RODAS

As pessoas da sala discutiam as providências a serem tomadas para o enterro de uma criança. Dona Nunzia, a mãe, chorava desesperada até que foi levada para dentro pelo marido e pelo irmão. Uma negra rezava.

Na sala de jantar, alguns homens discutiam sobre qual seria a repercussão no Fanfulla, jornal da comunidade italiana. Pepino acha que a notícia irá atacar o “almofadinha”. Tibúrcio, porém, sabe que “filho de rico manda nesta terra que nem a Light. Pode matar sem medo.”

Durante o cortejo, outros interesses aparecem: o bate-papo dos rapazes (“A gente vai contando os trouxas que tiram o chapéu até a gente chegar no Araçá. Mais de cinqüenta você ganha. Menos, eu.”), a vaidade das mulheres (“Deixa eu carregar agora, Josefina?” “Puxa, que fiteira! Só porque a gente está chegando na Avenida Angélica. Que mania de se mostrar que você tem!”), politicagens (“Tibúrcio já havia arranjado três votos para as próximas eleições municipais”)...

Na volta para casa, Aída encontra dona Nunzia olhando a foto da menina morta publicada na Gazeta. O pai tinha ido conversar com o advogado.

10 · ARMAZÉM PROGRESSO DE SÃO PAULO

O armazém do Natale era famoso por um anúncio em que dizia ter artigos de todas as qualidades. “Dá-se um conto de réis a quem provar o contrário”. Zezinho, o filho do doutor da esquina, sempre bulia com seu Natale, pedindo, por exemplo, “pneumáticos balão”. Quando o malandro cobrava seu um conto de réis, Natale respondia: “Você não vê, Zezinho, que isso é só para tapear trouxas?”. E anotava na conta do pai os cigarros que o rapaz pedia com nome de outros.

Em frente ao armazém, a confeitaria Paiva Couceiro não agüentaria por muito mais tempo. E seu Natale, que tinha prazer em observar aquele espetáculo de decadência dia após dia, já havia calculado quanto ofereceria ao português no leilão da falência. Por hora, ele fazia a sua parte: pressionava o homem com uma dívida com ele, uma letra que estava para vencer.

Dona Bianca o chama. Ouvira numa conversa do José Espiridão, o mulato da Comissão do Abastecimento, que a crise viria e os preços, inclusive o da cebola, produto encalhado na confeitaria, disparariam. Se não desse um jeito no português agora, nunca mais. Depois de confirmar o assunto com o mulato e pedir sua colaboração ficando quieto, seu Natale consegue “arranjar” o negócio. À noite, dona Bianca vai dormir se vendo no palacete mais caro da Avenida Paulista.

11 · NACIONALIDADE

O barbeiro Tranquillo Zampinetti lia entusiasmado as notícias de guerra no jornal italiano Fanfulla. Chegava até a brandir a navalha como uma espada assustando os fregueses. Mas tinha um desgosto “patriótico e doméstico”: os filhos Lorenzo e Bruno não queriam falar italiano.

Depois do jantar, Tranquillo colocava a cadeira na calçada e ficava com a mulher e alguns amigos como o quitandeiro Carlino Pantaleoni, que só falava da Itália. Tranquillo ficava quieto mais depois sonhava em voltar para a pátria.

Um dia, Ferrúcio, candidato do governo a terceiro juiz de paz, veio pedir votos. Tranquillo, que nem votava, acabou sendo convencido pelo compatriota e gostou tanto que com o tempo andava até pedindo votos.

A guerra européia encontrou Tranquillo bem estabelecido, influente e envolvido na política; Lorenzo, noivo e também participando da política da região; e Bruno estudando, além de ser vice-presidente da Associação Atlética Ping-Pong. Tranquillo ainda se agitou com a guerra. Mas, com o descaso da família, logo foi se desinteressando.

O progresso de Tranquillo continuava e agora ele comentava mais as questões políticas do Brasil que as da Itália.

Quando Bruno se forma advogado pela faculdade de Direito de São Paulo, o pai chora, a mãe é trazida pelo neto, filho de Lorenzo, para vê-lo e todos se abraçam emocionados. E o primeiro serviço de Bruno foi requerer a naturalização de Tranquillo Zampinetti.

FOCO NARRATIVO

Todos os contos são narrados em terceira pessoa. Aliás, o estilo narrativo está de acordo com a proposta feita pelo autor no prefácio da obra, “Artigo de Fundo”:

Este livro não nasceu livro: nasceu jornal. Estes contos não nasceram contos: nasceram notícias.”

Com este ponto de vista, Alcântara Machado assume um estilo jornalístico de narração. A preocupação do narrador é observar o cotidiano desta comunidade que chama sua atenção. E para melhor retratá-la, o narrador ora assume uma postura meramente observadora, mostrando os fatos de uma certa distância, ora assume um caráter onisciente, aproximando-se mais dos personagens.

AMBIENTAÇÃO

A obra de Alcântara Machado é um verdadeiro retrato de uma época. O título já revela a importância do espaço. A região escolhida para ser retratada já é ela própria determinante de uma cultura. No início do século, Brás, Bexiga e Barra Funda foram os principais bairros de São Paulo onde os ítalo-brasileiros se concentraram. As referências exatas dos nomes de ruas, praças e avenidas, além de tornarem a identificação do ambiente muito fácil, garantem também certo ar de veracidade. É o que já foi falado antes sobre o caráter jornalístico da obra. As histórias não se passam em “algum lugar” imaginário, distante. Estão todas em espaços bem definidos. Mas outros lugares que não só os bairros industriais italianos são citados. A avenida Paulista, por exemplo, aparece como símbolo de fortuna e nobreza.

A preocupação com a exatidão espacial cai até a citação do endereço (por vezes contendo até o número da casa: “Era a rua da Liberdade. Pouco antes do número 259-c já sabe: uiiiiia-uiiiiia!”). Mas não há preocupação maior com a descrição de ambientes internos e externos. Poucas vezes podemos “ver” como é a casa das personagens como acontece, por exemplo, em “Carmela”, que lê seu livro de cabeceira antes de “se estender ao lado da irmãzinha na cama de ferro”; ou em “Lisetta”, em que vemos a mulher rica e má entrando em seu “palacete estilo empreiteiro português”. Ou então pinceladas nos sugerem a atmosfera: “Não adiantava nada que o céu estivesse azul porque a alma de Nicolino estava negra”. Toda essa concisão descritiva é própria das narrativas curtas. Nelas, o autor controla as informações passando ao leitor somente aquilo que é extremamente necessário para criar o “clima” do texto.

Quanto ao aspecto temporal, todos os contos retratam a mesma época histórica, isto é, o início do século XX, momento da aculturação italiana em São Paulo. Mesmo assim cada conto trabalha um espaço temporal próprio. Alguns retratam uma época da vida dos personagens, como é o caso de “Nacionalidade” e “Notas Biográficas do Novo Deputador”; outros retratam apenas alguns dias da vida dos ítalo-brasileiros, como em “Gaetaninho”, “Carmela”, “A Sociedade” e “Armazém Progresso de São Paulo”. Já “Amor e Sangue”, “Coríntians (2) vs Palestra (1)” e “O Monstro de Rodas” dão enfoque aos acontecimentos de um dia especial na vida dos personagens.

PERSONAGENS

Os personagens são “planos”, superficiais, não apresentam transformações surpreendentes durante a narrativa.

Na busca pela adaptação cultural e econômica, encontramos as costureirinhas curiosas pelo mundo do qual não fazem parte, mas conscientes de que devem continuar a fazer suas famílias na colônia, as crianças vítimas do preconceito, da pobreza e da injustiça que cerca o imigrante de classe mais baixa, os comerciantes gananciosos e suas famílias buscando uma posição social, os jovens trabalhadores e apaixonados, os quatrocentões paulistas, nobres e falidos, diante dos “carcamanos” endinheirados e “sem berço”.

Assim como acontecia em relação à ambientação, as descrições das personagens só aparecem para nos dar traços marcantes, que permitam entender uma característica a mais delas. Muitas vezes os traços principais ganham destaques refletindo até mesmo na aparência, e o personagem ganha ares de caricatura. Mas tudo mostrado de um modo muito rápido, muito controlado da parte do narrador. A sensualidade de Carmela é notada pelas suas roupas e seus gestos: “O vestido de Carmela coladinho no corpo é de organdi verde. Braços nus, colo nu, joelhos de fora. Sapatinhos verdes. Bago de uva Marenga maduro para os lábios dos amadores”. Bianca, por sua vez, parece ter como função apenas dar ainda mais destaque à beleza da amiga: Bianca por ser estrábica e feia é a sentinela da companheira”. Com isso, consegue nacos de emoção da vida da outra. O namorado, entregador da casa Clarck, com muito orgulho, exibe-se também com um esmero exagerado, revelando a vaidade excessiva, o furor juvenil e o ar apaixonado: “sapatos vermelhos de ponta afilada, meias brancas, gravatinha deste tamaninho, chapéu à Rodolfo Valentino, paletó de um botão só”. Em “Notas Biográficas do Novo Deputado”, vemos Gennarinho se comportando como um menino rude, que entraria em choque com os hábitos da família do coronel se não tivesse caído nas suas graças. E daí para a brasilidade marcada até mesmo no aportuguesamento do nome: Januário. Enfim, um quadro amplo do que foi a vida dos italianos e seus descendentes nas primeiras décadas do século.

TIPOS DE DISCURSO

Uma das marcas de Brás, Bexiga e Barra Funda é a leveza conseguida por meio do discurso direto, predominante na obra. As personagens têm a oportunidade de falar diretamente por meio dos diálogos, exprimindo suas emoções, tristezas e esperanças com toda a carga expressiva e a coloquialidade que lhes é característica. Os diálogos propiciam também maior sensação de realismo e de proximidade entre personagens e leitor. A história ganha em dinamismo e, graças à sutil ironia de Alcântara Machado, em humor:

- Boa tarde, belezinha...
- Quem? Eu?
- Por que não? Você mesma...

Bianca rói as unhas com apetite.
- Diga uma cousa. Onde mora a sua companheira?
- Ao lado de minha casa.
- Onde é sua casa?
- Não é de sua conta.

Em alguns momentos, o discurso direto é guardado para as situações de maior intensidade e a preparação da cena traz o discurso indireto:

No chá de noivado o cav. uff. Salvatore Melli na frente de toda a gente recordou à mãe de sua futura nora os bons tempinhos em que lhe vendia cebolas e batatas, Olio di Luca e bacalhau português quase sempre fiado e até sem caderneta.

O discurso indireto livre também aparece algumas vezes, permitindo que o leitor aproxime-se mais do personagem, conhecendo seu interior.

Este espetáculo diário era um gozo para o Natale. Cebola era artigo que estava por preço que as excelentíssimas mães de família achavam uma beleza de preço. E o mondrongo coitado tinha um colosso de cebolas galegas empatado na confeitaria.

Era mesmo. Gostava do Rocco, pronto. Deu o fora do Biagio (o jovem e esperançoso esportista Biagio Panaiocchi, diligente auxiliar da firma desta praça G. Gasparoni & Filhos e denodado meia-direita do S. C. Coríntians Paulista campeão do Centenário) só por casa dele.

Percorre logo as gravuras. Umas tetéias. A da capa então é linda mesmo.

RECURSOS DE LINGUAGEM

Antônio de Alcântara Machado traz na linguagem uma marca muito própria dos modernistas da primeira geração: a recusa à linguagem empolada, retórica, cheia de volteios. Ao contrário sua linguagem é marcada pelo estilo telegráfico, conciso. As frases são na sua maioria formadas por orações coordenadas e curtas, garantindo sempre um mesmo ritmo ao texto:

Foi-se chegando devagarinho, devagarinho, devagarinho. Fazendo beicinho. Estudando o terreno. Diante da mãe e do Chinelo parou. Balançou o corpo. Recurso de campeão de futebol. Fingiu tomar a direita. Mas deu meia volta e varou pela esquerda porta adentro.

Ia indo na manhã. A professora pública estranhou aquele ar tão triste. As bananas na porta da Quitanda Tripoli Italiana eram de ouro por causa do sol. O Ford derrapou, maxixou, bamboleando. E as chaminés das fábricas apitavam na Rua Brigadeiro Machado.

O tom é sempre coloquial, marcado pela oralidade, pela linguagem do cotidiano das personagens:

Logo na porta um safanão. Depois um tabefe. Outro no corredor. Intervalo de dois minutos. Foi então a vez das chineladas. Para remate. Que não acabava mais.

O resto da gurizada (narizes escorrendo, pernas arranhadas, suspensórios de barbante) reunidos na sala de jantar sapeava de longe.

No discurso direto dos ítalo-brasileiros, a língua mesclada:

- Parlo assim para facilitar. Non é para ofender. Primo o doutor pense bem. E poi me dê a sua resposta. Domani, dopo domani, na outra semana, quando quiser, lo resto à sua disposição. Ma pense bem!

Uma marca ainda muito freqüente em sua linguagem é o uso de onomatopéias. Elas reforçam a sensação de que as cenas estão vivas e se passam na frente do leitor:

E – ráatá! – um cusparada daquelas.

O professor da Faculdade de Direito citava Rui Barbosa para um sujeitinho de óculos. Sob a vaia do saxofone: turururu-turururum!

O medo faz silêncio.
Prrrrii!
Pan!
- Go-o-o-o-ol! Coríntians!

Ambientação e construção de personagens também adquirem um estilo especial na escolha das imagens. Tudo parece ganhar vida por meio das prosopopéias.

A rua Barão de Itapetininga é um depósito sarapintado de automóveis gritadores. As casas de modas Ao Chic Parisienese, São Paulo – Paris, Paris Elegante despejam nas calçadas as costureirinhas que riem, falam alto, balançam os quadris como gangorras.

Lancia Lambda, vermelhinho, resplendente, serpejando na rua. Vestido do Camilo, verde, grudado à pele, serpejando no terraço.

Camisas verdes e calções negros corriam, pulavam, chocavam-se, esfalfavam-se, brigavam. Por causa da bola de couro amarelo que não parava, que não parava um minuto um segundo. Não parava.

O violão e a flauta recolhendo da farra emudeceram respeitosamente na calçada.

Outra figura de linguagem que aparece com constância é a metonímia:

A mão enluvada cumprimentou com o chapéu Borsalino.

Depois que seus olhos cheios de estrabismo e despeito vêem a lanterninha traseira do Buick desaparecer Bianca resolve dar um giro pelo bairro.

Até mesmo o modo de ver as coisas parece, na maioria das vezes, ser feito de modo fragmentado, metonímico:

Abre a bolsa e espreita o espelhinho quebrado que reflete a boca reluzente de carmim primeiro, depois o nariz chumbeava, depois os fiapos de sobrancelha, por último as bolas de metal branco na ponta das orelhas descobertas.

Carmela olha primeiro a ponta do sapato esquerdo, depois a do direito, depois a do esquerdo de novo, depois a do direito outra vez, levantando e descendo a cinta.

A contemporaneidade se faz presente pelas referências a lojas, marcas, endereços, que ganham ainda mais reforço por meio da ênfase gráfica dada: a roupa de marinheiro branca de Gaetaninho traz: “Encouraçado São Paulo”; as lojas do centro são mencionadas com destaque: Ao Chic Parisiense, São Paulo – Paris, Paris Elegante; o canivete usado pelo professor de Aristodemo era brinde do Chalé da Boa Sorte e os cigarros do rapaz eram Bentevi. “A sociedade” e “Armazém Progresso de São Paulo” trazem, respectivamente, o convite de casamento de Adriano e Teresa e o anúncio pelo qual o armazém ficou conhecido.

O recurso gráfico também surge para auxiliar na questão temporal. A linguagem concisa, já discutida acima, provoca a sensação de simultaneidade de acontecimentos. As cenas aparecem justapostas de variadas formas. A mais comum em todos os contos é o espaçamento gráfico entre as partes da narrativa. Ele permite perceber a interrupção entre um momento da história e a mudança de enfoque para outro momento. Outra forma usada para trabalhar a idéia de simultaneidade é o uso de parênteses, que acrescentam um novo dado secundário à cena principal:

No Grupo Escolar da Barra Funda Aristodemo Guggiani aprendeu em três anos a roubar com perfeição no jogo de bolinhas (garantindo o tostão para o sorvete).

Na sala de jantar Pepino bebia cerveja em companhia do Américo Zamponi (Salão Palestra Itália – Engraxa-se na perfeição a 200 réis).

Em “A Sociedade”, a simultaneidade é tanta que várias cenas se interpenetram por meio do espaçamento gráfico, da fragmentação da letra da música, das orações justapostas.

... mas a história se enganou!

As meninas de ancas salientes riam porque os rapazes contavam episódios de farra muito engraçados. O professor da Faculdade de Direito citava Rui Barbosa para um sujeitinho de óculos. Sob a vaia do saxofone: turururu-turururum!

- Meu pai quer fazer um negócio com o seu.
- Ah sim?
Cristo nasceu na Bahia, meu bem...

O sujeitinho de óculos começou a recitar Gustave Le Bom mas a destra espalmada do catedrático o engasgou. Alegria de vozes e sons.
... e o baiano criou!

Fonte:
Estudo copiado do material do Curso Universitário, disponível em http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=resumos/docs/barrafunda

sábado, 25 de setembro de 2010

Trova 175 - Ademar Macedo (Santana do Matos/ RN)

Roberto Pinheiro Acruche (Livro de Poesias)


A SAUDADE

Saudade... Qual é a sua cor?
Por que estou sentindo-a
tão junto a mim e não consigo vê-la?
Não me atormente ainda mais
com este silêncio,
além desta dor que me rasga o peito.

Porque você não aparece
e desvenda logo esse mistério?
Você sabe onde me encontrar!

Vou estar nos mesmos lugares,
sentado na areia olhando o mar
ou nos mesmos bares
consumindo a noite.

E se acaso não me encontrares
pergunte pra solidão...
Somente ela saberá dizer
o meu paradeiro.
Mas não demore mais;
faça antes da tristeza
me levar por inteiro!...

ARCA DOS SONHOS

As horas passam
e eu me curvo diante
do tempo
que também passa... Que passa!...
E eu preso na arca dos sonhos,
fantasiando a vida.
Quando acordar
desta aspiração
liberto do devaneio,
quem sabe ainda haverá tempo
para realizar os sonhos?
E se não houver tempo
e se não realizar meus sonhos,
valeu à pena ter sonhado!

ESPERA

Estou a sua espera,
carregado de desejos,
de uma nostalgia que enlouquece,
que explode dentro de mim,
que me faz lembrar do seu cheiro,
da sua boca sufocando-me de beijos,
dos seus gemidos,
da sua entrega louca,
desvairada e sem pudor.
--

LUZ DA VIDA

Em qualquer lugar que estiver nesta terra, há alguém com um olhar fixo, afetuoso, mágico direcionado para você...
Com um olhar puro, especial, muito especial, de um coração que só pulsa o amor...
Um olhar de alguém que é justo, com a inspiração de amar de modo pleno sem ajuizamentos, sem distinção.
Este olhar brilha mais que a luz do sol, tem a dimensão maior que o das estrelas de primeira grandeza, tem um alcance infinito.
Este olhar rompe os dias, vara as noites é a luz da vida.
Qualquer que seja o momento, em qualquer situação: de amor, paz, união ou perdão... Este olhar está reto, preciso em sua direção.
---

VIOLEIRO APAIXONADO

Sob a luz de um lampião
colocado sobre uma mesa
de madeira nobre,
porém pequena,
onde também tinha um ramo de flor,
ouvia cantigas de amor
de um violeiro solitário
exaltando sua paixão.
Sentado num banquinho humilde
que ficava no canto da sala,
dedilhava sua viola
sonorizando a noite
escura lá fora
onde os pirilampos
faziam refletir sua luminosidade
num pisca-pisca ritmado
como se acompanhasse a melodia
do violeiro apaixonado
que não tirava da imaginação
a sua cabocla
a mais bonita daquela região.
Morena de olhos negros,
cabelos longos, caídos pelos ombros,
corpo fascinante,
cheiroso como a flor do campo;
lábios sedutores...
O solitário violeiro morria de amores;
sonhava abraçar aquela trigueira
rolar com ela na esteira
esbanjar todo o anseio
tocar em seus seios
fazê-la sentir no peito
todo o efeito
que jorrava de seu coração.
A moreninha linda e faceira,
lá distante,
em seu casebre
não escutava
quando o violeiro cantava
e a viola chorava
com os versos entoados:
“Vem morena, vem agora,
não resisto à solidão!
Eu canto e a viola chora
vem me dar seu coração...”
“Vem morena, não demora,
vem me dar seu coração
eu canto e a viola chora
não resisto a solidão.”

MEU ESPELHO

Meu espelho, revelador!...
Arca de memórias,
juiz implacável do presente,
profeta mudo do futuro,
confessionário e principal consultor.
Sorrindo diante de ti
relembro os meus dias de infância
gesticulando e fazendo caretas...
Na vaidade da adolescência e juventude
extraindo acnes, penteando os cabelos,
raspando os primeiros fios de barba
experimentando roupas...
Quanto desvelo com a aparência!
Tudo sem perceber as transformações naturais
provocadas pela maturidade,
fator imposto pela idade,
pelo tempo, senhor de cada momento,
fosse ele, alegre, feliz, triste ou sofrido.
Agora, diante de ti,
mesmo estando a sorrir
estou subordinado às mutações...
Uma ruga que antes não existia,
hoje habita e marca a minha fisionomia...
Os cabelos longos, fortes, cheios,
que exigiam tantos cuidados,
apenas uns poucos ainda existem,
presentemente esbranquiçados
e jogados um tanto para os lados.
No entanto, o que mais me revela e me assusta,
não é a modificação irreversível, progressiva e bruta,
não são os momentos felizes ou tristes do passado;
nem o que fiz de certo ou errado;
não são os tempos perdidos, desiludidos...
Não são os ideais que não puderam ser alcançados;
ainda que me deixem entristecido.
Muito menos, por tanto haver me empenhado
e me obrigado a compromissos...
Nada disso!
Mesmo que tenham me abalado, também não são
as paixões e os amores fracassados...
Não é o futuro das minhas obras e conquistas;
não é a aparência de um homem cansado
desestabilizado, desalinhado,
vivido, sofrido,
nem sempre barbeado... Definhando!...
O que verdadeiramente me revela e me assusta
é o presente!... Esse presente
sem prorrogação, motivação,
sem meios de recuperação
para a efetivação de tantos sonhos
que ainda vivo sonhando.

Fontes:
– O Autor
http://robertoacruche.blogspot.com
Imagem = montagem por José Feldman