quarta-feira, 13 de abril de 2011

Poesia de Angola


João Melo
A LAGARTIXA FRUSTRADA


Um dia
a lagartixa
quis ser dinossauro

Convencida
saltou pra rua
montada em blindados
pra disfarçar a sua insignificância

Tentou mobilizar as formigas
que seguiam
atarefadas
pro trabalho

"Ó pobre e reles lagartixa
condenada
à fria solidão
das paredes enormes e nuas
tu não sabes que os dinossauros
são fósseis
pre-históricos?"

João Maimona
AS MURALHAS DA NOITE


A mão ia para as costas da madrugada
As mulheres estendiam as janelas da alegria
nos ouvidos onde não se apagavam as alegrias.

Entre os dentes do mar acendiam-se braços.

Os dias namoravam sob a barca do espelho.
Havia uma chuva de barcos enquanto o dia tossia.
E da chuva de barcos chegavam colchões,
camas, cadeiras, manadas de estradas perdidas
onde cantavam soldados de capacetes
por pintar no coração da meia-noite.

Eram os barcos que guardavam as muralhas
da noite que a mão ouvia nas costas
da madrugada entre os dentes do mar.

Geraldo Bessa Victor
"AS RAÍZES DO NOSSO AMOR"


Amo-te porque tudo em ti me fala de África,
duma forma completa e envolvente.
Negra, tão negramente bela e moça,
todo o teu ser me exprime a terra nossa,
em nós presente.

Nos teus olhos eu vejo, como em caleidoscópio,
madrugadas e noites e poentes tropicais,
- visão que me inebria como um ópio,
em magia de místicos duendes,
e me torna encantado. (Perguntaram-me: onde vais?
E não sei onde vou, só sei que tu me prendes...)

A tua voz é, tão perturbadoramente,
a música dolente dos quissanges tangidos
em noite escura e calma,
que vibra nos meus sentidos
e ressoa no fundo da minh'alma.

Quando me beijas sinto que provo ao mesmo tempo
o gosto do caju, da manga e da goiaba,
- sabor que vai da boca até às vísceras
e nunca mais acaba...

O teu corpo, formoso sem disfarce,
com teu andar dengoso, parece que se agita
tal como se estivesse a requebrar-se
nos ritmos da massemba e da rebita.
E sinto que teu corpo, em lírico alvoroço,
me desperta e me convida
para um batuque só nosso,
batuque da nossa vida.

Assim, onde te encontres (seja onde estiveres,
por toda a parte onde o teu vulto fôr),
eu te descubro e elejo entre as mulheres,
ó minha negra belamente preta,
ó minha irmã na cor,
e, de braços abertos para o total amplexo,
sem sombra de complexo,
eu grito do mais fundo da minh'alma de poeta:
- Meu amor! Meu amor!

António Cardoso
"ÁRVORE DE FRUTOS"


Cheiras ao caju da minha infãncia
e tens a cor do barro vermelho molhado
de antigamente;
há sabor a manga a escorrer-te na boca
e dureza de maboque a saltar-te nos seios.

Misturo-te com a terra vermelha
e com as noites
de histórias antigas
ouvidas há muito.

No teu corpo
sons antigos dos batuques á minha porta,
com que me provocas,
enchem-me o cerebro de fogo incontido.

Amor, és o sonho feito carne
do meu bairro antigo do musseque!

Viriato da Cruz
"NAMORO"


Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando
de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas

Sua pele macia - era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce - como o maboque...
Seus seios, laranjas - laranjas do Loje
seus dentes... - marfim...
Mandei-lhe essa carta
e ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão
que o amigo Maninho tipografou:
"Por ti sofre o meu coração"
Num canto - SIM, noutro canto - NÃO
E ela o canto do NÃO dobrou

Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo, rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigenia,
me desse a ventura do seu namoro...
E ela disse que não.

Levei á Avo Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
E o feitiço falhou.

Esperei-a de tarde, á porta da fabrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficamos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos...
falei-lhe de amor... e ela disse que não.

Andei barbudo, sujo e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
"-Não viu...(ai, não viu...?) não viu Benjamim?"
E perdido me deram no morro da Samba.

Para me distrair
levaram-me ao baile do Sô Januario
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso
as moças mais lindas do Bairro Operário.

Tocaram uma rumba - dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: "Aí Benjamim !"
Olhei-a nos olhos - sorriu para mim
pedi-lhe um beijo - e ela disse que sim.

Arnaldo Santos
"A VIGILIA DO PESCADOR"


Na praia o vulto do pescador
É mais denso que a noite...

E enquanto espera
A sua ânsia solidifica em concha
E sonoriza os ventos livres do mar.

E enquanto espera
A sua ânsia descobre
os passos da maré na praia
e o sono do borco das canoas.

É manha
e o pescador
ainda espera

e enquanto o mar
Não lhe devolve o seu corpo de sonhos
Num lençol branco de escamas

Um torpor de baixa-mar
Denuncia algas nos seus ombros.

Fonte:
PEREIRA, Carlos Pinto (organizador). Autores Africanos - Do Rovuma ao Maputo

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XI – João e Maria


Houve uma vez um casal com tantos filhos que o remédio foi aliviar a família botando dois fora. Chamavam-se João e Maria os escolhidos como vítimas. Certa manhã o pai mandou que se aprontassem para irem com ele tirar mel na floresta.

Os meninos se aprontaram e foram. Lá no meio da mata o pai disse: "Agora fiquem aqui bem quietinhos enquanto eu me afasto. Assim que ouvirem um grito, dirijam-se do lado do som", e afastou-se para um ponto em direção contrária à sua casa, onde gritou — e depois deu uma volta e correu para casa. Ouvindo o grito, as duas crianças encaminharam-se do lado do som. Não encontraram o pai e perderam-se.

Veio a noite e os dois coitadinhos dormiram num oco de pau. No dia seguinte João subiu ao alto duma árvore para ver se enxergava alguma coisa. Viu muito longe uma fumacinha. Mandou que Maria ficasse esperando e dirigiu-se para lá.

Era a casa duma velha catacega que estava assando bolos ao forno. João, meio morto de fome, não resistiu ao cheiro daqueles bolos. Quebrou uma varinha de gancho na ponta e por um buraco da parede furtou dois bolinhos. A velha viu aquilo mal-e-mal e pensou que fosse o gato. "Chispa, gato, não me furtes meus bolinhos.

No dia seguinte veio João com o gancho furtar mais bolinhos e a velha novamente tocou o gato. No terceiro dia voltou, mas dessa vez Maria insistiu em vir com ele — e veio. Quando João pescou o primeiro bolinho e a velha ralhou com o gato, Maria não conteve uma gargalhada. A velha apareceu à janela e disse.

— Oh, são vocês, meus netinhos! Entrem. Venham morar comigo.

Os dois meninos entraram, e a velha, nhoc! agarrou-os e trancou-os numa arca, para engordá-los e comê-los assados. E para que engordassem depressa, dava-lhes muitos bolos todos os dias. De vez em quando dizia: "Bote para fora o dedinho para eu ver se já estão no ponto."

João não punha o dedo — punha um rabinho de lagartixa que encontrara na arca, e a velha rosnava: "Ainda estão bem magros", e aumentava a ração de bolos.

Assim por muitos dias, até que João perdeu o rabinho da lagartixa e teve de pôr o dedo. "Oh, disse a velha, agora sim estão no ponto," e abriu a arca. "Saiam e juntem bastante lenha. Vamos fazer uma fogueira para dançar em redor." Mas a idéia da coruja não era essa, e sim lançá-los no tacho de água que ia pôr em cima da fogueira.

Os meninos saíram para a floresta. Estavam amarrando os feixinhos quando Nossa Senhora lhes apareceu e disse: "A velha é uma feiticeira que devora crianças. Por isso façam o que eu vou dizer. Depois de acesa a fogueira, assim que ela mandar que vocês dancem, digam-lhe: "Avozinha, dance primeiro para vermos como é" — e assim que ela começar a dançar, empurrem-na para a fogueira e corram — e subam naquela árvore grande que há perto da casa e fiquem lá até ouvirem um estrondo: é a cabeça da velha arrebentando no fogo. Dessa cabeça vão sair três cães ferozes, mas vocês levarão no bolso três bolos. Quando aparecer o primeiro cão, gritem: Turco! e lancem-Ihe um dos bolos. A mesma coisa com o segundo, que se chamará Leão e a mesma coisa com o terceiro, que se chamará Facão. Façam isso que os três cães ferozes se transformarão em três guardas fiéis."

Os meninos assim fizeram. Levaram a lenha e armaram a fogueira. Quando a velha mandou-os dançar, pediram-lhe que começasse para verem como era — e a velha pôs-se a dançar e eles a empurraram para a fogueira. Em seguida treparam à árvore e ficaram à espera do estouro. Bum! — lá rebentou a cabeça da velha. Imediatamente os três enormes cães surgiram. Os meninos disseram-lhes os nomes e lançaram-lhes os bolinhos. Os cães viraram guardas fiéis, tudo exato como Nossa Senhora dissera.

Desceram então da árvore e ficaram morando na casa da feiticeira, onde viveram vários anos em companhia dos bons cães.

Maria, que estava mocinha, foi gostada por um rapaz das vizinhanças, que resolveu dar cabo de João. Mas os cães defendiam-no tão bem que isso se tornou impossível. O moço armou um plano. Aconselhou Maria a pedir a João que fosse à floresta e deixasse os cachorros na casa e João assim fez. O moço veio e entupiu os ouvidos dos cachorros com cera — e lá se foi com uma espingarda em procura de João. Se ele gritasse, os cães não ouviriam e não viriam em seu socorro.

Encontrou-o e disse: "Reza, amigo, pois vais morrer" — e apontou a espingarda. João pediu tempo para dar três gritos. O malvado respondeu, rindo, que podia dar até cem. João trepou a uma árvore e gritou de cima: "Turco! Leão! Facão!"

Os cães estavam de ouvidos tapados, mas mesmo assim ouviram alguma coisa e sacudiram violentamente as cabeças. João repetiu os gritos, duas, três vezes. A cera escapou dos ouvidos dos cães e eles vieram, velozes como relâmpagos, e agarraram o malvado e o estraçalharam.

João voltou para casa e disse a Maria: "Tu me atraiçoaste, irmã. Fica-te pois aqui que eu vou correr mundo", e lá se foi com os três cães fiéis.

Tocou para um reino onde havia um monstro de sete cabeças, comedor de gente. Todos os dias tinham de levar-lhe uma vítima. Ao chegar lá João viu uma linda princesa amarrada a uma pedra. "Que fazes aqui, princesa?" — perguntou. E ela respondeu: "Cá estou para ser devorada pelo monstro de sete cabeças. Ele não tarda. Foge depressa, senão serás devorado também."

Contou ainda que o rei a tinha prometido como esposa a quem matasse o monstro, mas que nunca apareceu no reino homem nenhum capaz de semelhante façanha.

João declarou que não fugiria dali, ao contrário, ficaria à espera do monstro para lutar com ele e vencê-lo — e como estivesse cansado, deitou a cabeça no colo da princesa, para dormir.

Momentos depois o monstro surgiu ao longe, e a princesa, na maior aflição, pôs--se a chorar. Uma lágrima caiu no rosto de João, despertando-o. "Foge! Foge, senão serás devorado também" — disse-lhe a princesa. Mas João não mostrou o menor medo. Ficou — e atiçou contra o monstro o cão Turco. Travou-se uma luta medonha, e quando o Turco já não podia mais, João atiçou o Leão. E quando o Leão já não podia mais atiçou o Facão. O monstro não agüentou: foi vencido e estraçalhado..

João Cortou a ponta das sete línguas do monstro e foi com a princesa ao palácio do rei. Mas um negro, que ia passando a cavalo, deu com o bicho morto e teve uma idéia. Cortou sete tocos das línguas do monstro e foi de galope ao palácio do rei, ao qual declarou que tinha matado o monstro.

Quando João chegou era tarde. O rei já tinha resolvido o casamento da princesa com o negro mentiroso, por mais que ela contasse a história dum modo diferente. Ninguém acreditou era suas palavras, julgando ser invenção para não casar-se com o negro.

No dia do casamento houve um grande banquete, mas no momento em que os criados serviram o negro, Turco entrou e arrebatou o que lhe haviam posto no prato. Ao ver aquilo, a princesa ficou alegríssima e contou ao pai que era um dos cães que haviam lutado contra o bicho de sete cabeças.

Os criados serviram o negro novamente, e desta vez foi Leão que entrou e levou-lhe o prato. A princesa explicou que era aquele o segundo cão que lutara contra o monstro. Por fim entrou Facão e arrebatou ò terceiro prato servido ao negro. O rei, muito impressionado, mandou que seguissem aquele cachorro para ver a quem pertencia.

Os guardas foram e voltaram com o herói verdadeiro.

— Eis aí quem me salvou e matou o monstro! — gritou a princesa, e João confirmou suas palavras, abrindo um lenço e mostrando as sete pontas de língua.

O rei compreendeu tudo. Mandou amarrar o negro num burro bem bravo e casou João com a princesa.
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— Eu já li essa história em Andersen — disse Emília — e agora estou vendo bem claro como o nosso povo faz nela os seus arranjos. Foi Andersen quem a inventou.

— Não — disse dona Benta. — Andersen nada mais fez do que colhê-la da boca do povo e arranjá-la a seu modo, com as modificações que quis. Essas histórias são todas velhíssimas, e correm todos os países, em cada terra contada de um jeito. Os escritores o que fazem é fixar as suas versões, isto é, o modo como eles entendem que as histórias devem ser contadas.

— Na versão de Andersen — disse Narizinho — não há negro nenhum, nem nada de três cães. O povo aqui no Brasil misturou a velha história de Joãozinho e Maria com outra qualquer, formando uma coisa diferente. A versão de Andersen é muito mais delicada e chama-se Hansel e Gretel.

— O tal negro entrou aí — disse Pedrinho — porque no Brasil as histórias são contadas pelas negras, que gostam de enxertar personagens pretos como elas. Lá na Dinamarca Andersen nunca se lembraria de enxertar um preto porque não há pretos. Tudo gente loura.

— Onde o tal Sílvio Romero pegaria essa história? — perguntou Emília.

— No Rio de Janeiro e no Sergipe — respondeu dona Benta. — Ele fez um trabalho muito interessante, que publicou com o nome de Contos Populares do Brasil. Ouvia as histórias das negras velhas e copiava-as direitinho, com todos os erros de língua e os truncamentos. É assim que os folcloristas caçam a obra popular.
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Continua… XII – O Bom Diabo
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Fonte: LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995. Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Luiz Paulo Faccioli (O Escritor no Espelho)

Angustiado e angustiante, Um erro emocional trata do velho conflito da incomunicabilidade

Um erro emocional
Cristovão Tezza
Record

192 págs.


Vou contar o milagre sem contudo dar o nome do santo, e a razão é das mais prosaicas: simplesmente não lembro qual foi o autor que uma vez ouvi afirmar ter por objetivo, ao conceber um novo livro, criar sempre algo diferente por completo de tudo que houvesse escrito até então, pois não achava graça alguma em repetir o já feito. Noutras palavras, não se contentava em ser apenas um escritor, queria ser uma espécie de vários em um. Talvez o desejo do criador de se reinventar a cada nova obra não seja uma ocorrência assim tão rara, por isso minha dificuldade em identificar aquele autor. A afirmação, por exemplo, poderia muito bem ter partido de Cristovão Tezza. Pensei nessa possibilidade ao concluir a leitura de seu romance Um erro emocional, o primeiro depois de O filho eterno, que levou todos os prêmios literários mais importantes do país. E nesse caso não seria mera idiossincrasia a necessidade de romper de forma radical com o passado, pelo menos com o mais recente.

Tezza teve de enfrentar dois grandes desafios para gerar a nova obra. O primeiro foi o estrondoso sucesso do livro anterior, situação que muitas vezes eleva a um patamar inatingível a expectativa do público e do próprio autor em relação ao novo trabalho. O segundo, o fato de O filho eterno trazer uma história pessoal e comovente: a experiência do pai que se vê na condição de ter um filho portador da síndrome de Down. Não havia como repetir o tema ou buscar outro drama pessoal equivalente: O filho eterno nasceu para ser único. Era um caminho natural, por assim dizer, que ele procurasse vencer esses obstáculos pela via do contraponto ou mesmo da completa ruptura. Mas, ao invés de inovar totalmente, Tezza voltou no tempo e retomou uma fórmula por ele já exercitada: a história que se passa num curto período de tempo, com alternância sistemática do foco narrativo e onde o que mais importa é a ação interior dos personagens. Foi assim no elogiado O fotógrafo, de 2004, cuja trama se desenvolve num único dia.

Um erro emocional se passa em algumas horas da noite em que o veterano escritor Paulo Donetti bate à porta da jovem e bonita Beatriz, uma garrafa de vinho e uma pasta na mão, e anuncia ter cometido o tal erro. Ele é paulista e autor do bem-sucedido romance A foto no espelho, mas vive uma fase ruim na carreira; ela é sua leitora e fã. Os dois se conheceram um dia antes em Curitiba, onde mora Beatriz e aonde Paulo viajou para participar de um evento literário. O encontro fora casual. Beatriz jantava na companhia de um antigo desafeto de Paulo, Cássio, um também escritor que ele havia impulsionado no início de carreira e que mais tarde devolveu a gentileza criticando-o duramente numa resenha. Depois de conhecer Beatriz, Paulo decidiu prorrogar sua permanência na cidade. O erro emocional a que ele se refere é esclarecido logo em seguida à sua entrada em cena, quando declara ter-se apaixonado por ela. Contudo, após o preâmbulo melodramático e contrariando a expectativa do leitor, a conversa envereda por outro caminho, e Paulo revela, agora de um jeito menos abrupto, o verdadeiro objetivo daquela visita: ele quer que Beatriz digite, revise e organize os originais de um novo livro, e é isso justamente o que ele traz naquela pasta.

Estrutura complexa

Seria muito menos difícil listar o que o livro não conta do que resumir o que efetivamente acontece nessa noite, a começar pelo desfecho, que o leitor terá sozinho de imaginar. Paulo e Beatriz quase não falam, um mais contido que o outro. Ele fracassou em mais de um relacionamento, teve sua rebeldia adolescente domada pelo pai e se deixa levar em alguns momentos por aquela arrogância patética dos gênios decadentes. Beatriz, por sua vez, perdeu a família inteira - pai, mãe e irmão - num acidente de carro e tampouco teve sorte no casamento. Ambos estão divorciados e temem novas frustrações amorosas, por isso a ansiedade, a dúvida e a trava. Como não conseguem avançar no relacionamento, a história que constroem juntos é tênue, e o que existe de mais concreto no encontro é o que vai em suas cabeças. Resulta que o leitor fica sabendo muito mais dos personagens do que eles conseguem descobrir um sobre o outro.

A narrativa tem uma estrutura bastante complexa: um narrador em terceira pessoa costura a ação presente mesclando os dois pontos de vista principais, que emulam o diálogo interior de cada um dos personagens. O passado é construído com flashbacks que vêm da memória dos dois. Há ainda uma projeção de futuro: Beatriz imagina a todo momento como irá descrever à amiga Doralice a experiência que está vivendo nessa noite, solução que garante alguns momentos de humor e conseqüente descontração numa história de uma densidade que chega em alguns momentos a ser claustrofóbica.

A edição da Record vem numa bonita e sóbria capa em azul, num contraste talvez proposital com o vermelho usado em O filho eterno. O título, pinçado da frase de abertura, fica a meio caminho entre a sacada genial e um daqueles conceitos fabricados da auto-ajuda, o que reflete de certa forma a entressafra criativa de Paulo.

Em resenha de Um erro emocional para a Folha de S. Paulo, o jornalista e professor Felipe Pena usa dois conceitos aparentemente contraditórios para qualificar a prosa de Tezza. Ele afirma que o novo livro "traz de volta a narrativa delicada do escritor", para logo adiante ressaltar seu "discurso suntuoso". Ora, é difícil imaginar algo que seja a um só tempo "delicado" e "suntuoso", mas os dois adjetivos convivem harmoniosamente neste caso.

A suntuosidade do discurso é evidente. Tezza segue apostando nas frases longas e de ritmo lento, sua marca registrada e que já se observou estar na contramão de uma tendência atual. Mas essa característica, longe de se configurar um demérito, com ele se transforma em virtude estilística. Coordenar diferentes vozes de forma simultânea é outro luxo, um exercício que exige talento e competência narrativa, e isso Tezza tem de sobra. Há contudo uma dissonância: para emular um diálogo interior a duas vozes, Tezza usa uma pontuação mais livre, desafiando a ortodoxia gramatical, o que pode trazer alguma dificuldade ao leitor. Um bom exemplo são os travessões, como se pode ver no belo trecho escolhido para ilustrar esta resenha. A idéia talvez tenha sido mesclar as vozes de modo a que elas se confundissem e formassem uma unidade. Mas nem sempre o leitor consegue abstrair o tanto que o autor quer, e em vários momentos fica perdido.

Quanto à delicadeza citada por Pena, ela tem origem na concorrência de vários outros fatores: sutileza, bom gosto, elegância, ourivesaria dos detalhes são alguns deles. Tezza não quer chocar o leitor, mas seduzi-lo. Para tanto, revela pouco e esconde muito. Ele não pretende ser transgressor, mantém o léxico num padrão elevado, está inclusive bem mais comedido no uso de palavrões (em contraste com a gratuidade com que eles aparecem em O fotógrafo). Toda sua força criativa está concentrada na história que quer contar da maneira mais original e melhor possível e buscando ao máximo a participação do leitor.

Um erro emocional é um livro angustiado e angustiante em cuja essência está o velho conflito da incomunicabilidade. Foi com ele que um dos melhores escritores brasileiros da atualidade conseguiu driblar um adversário difícil e retomar às suas origens.

O AUTOR
CRISTOVÃO TEZZA é catarinense de Lages e vive há muitos anos em Curitiba (PR). Tem formação em Letras, foi professor universitário nessa área e desde 2009 dedica-se exclusivamente à literatura. É autor de vários romances: Trapo, O fantasma da infância, Aventuras provisórias, Breve espaço entre cor e sombra, A suavidade do vento, O fotógrafo e O filho eterno, entre outros. Ganhou muitos prêmios importantes em sua carreira, em especial com O filho eterno, que levou o São Paulo de Literatura, o Portugal Telecom, o Jabuti, o Bravo!, o Zaffari & Bourbon e o APCA.

TRECHO - Um erro emocional - Esse trecho - e Beatriz abria outra vez aquele ramalhete amarelo de papéis querendo puxá-lo de volta à realidade e ao mesmo tempo lisonjeá-lo; ela queria falar daqueles versos avulsos sobre o poder da memória e ele entristeceu súbito porque não pode sair daqui sem explicar melhor o que disse quando entrou (e para Beatriz continuava sendo um jogo bem-humorado, ainda sem lastro, apenas a alegria de tê-lo por perto, o seu autor preferido, tão à mão e tão, quem sabe, frágil) - está muito bonito, e lembra a intensidade do A foto no espelho. Escute: Amanheceu -

Fonte: Rascunho

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 184)


Uma Trova Nacional

Tem a benção garantida
e a felicidade eterna
a família reunida
numa partilha fraterna.
–PAULO JOSÉ DE OLIVEIRA/MG–

Uma Trova Potiguar

A família alicerçada,
na fé, na paz e no estudo,
transforma o seu quase nada,
com amor, no quase tudo!
–FRANCISCO MACEDO/RN-

Uma Trova Premiada

2003 - Niterói/RJ
Tema : CONQUISTA; M/E

Meu Pai mostrou sempre em vida
quatro conquistas sagradas:
Honradez, Família unida
e as duas mãos calejadas...
–JOSÉ MARIA M. DE ARAÚJO/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram

Veja, amada companheira,
este quadro, que beleza.
Temos a família inteira
ao redor de nossa mesa.
–ALYDIO C. SILVA/MG–

Simplesmente Poesia

–ADEMAR MACEDO/RN–
Família, Fé, Esperança e Cura...

Deus me fez um amante da poesia,
portador de profunda vocação,
agradeço a Deus Pai por minha vida,
vai pra Deus toda minha gratidão
pela minha família boa e pura,
pela fé, esperança e pela cura,
por meus versos... Por minha inspiração.

Estrofe do Dia

O mendigo que sofre só reclama
pede a bênção de Deus, nossa senhora
quando entra na loja vão embora
quando passa na rua ninguém chama
uma calça que veste é cor de lama
a camisa que usa é cor do chão
ele é mais humilhado que um cão
sem família, sem pão e sem abrigo
os fiapos das roupas do mendigo
são visíveis sinais de humilhação.
–NONATO COSTA/CE–

Soneto do Dia

–VINICIUS DE MORAES/RJ–
Soneto do Amor Total.

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Fonte:
Ademar Macedo

terça-feira, 12 de abril de 2011

Paulo Leminski (Tenho Andado Fraco)

Imagem por Deyse Melo
tenho andado fraco

levanto a mão
é uma mão de macaco

tenho andado só
lembrando que sou pó

tenho andado tanto
diabo querendo ser santo

tenho andado cheio
o copo pelo meio

tenho andado sem pai

yo no creo en caminos
pero que los hay
hay

A. A. de Assis (Canto do Amanhã)

Pintura de Edgar Osterroht
(trecho da Avenida Brasil no
Maringá Velho na década de 50)

Escuta, meu irmão que estás distante,
esse sussurro universal de homens e mulheres
de todas as raças,
misturando sotaques, tradições,
suor, amor, coragem,
sangue e fé.

Escuta o ronco do serrote,
a bofetada do machado,
o chiado da foice e a percussão da enxada.

Escuta o ruído de botas esmagando espinhos,
a leve sinfonia de mãos que espalham sementes,
o poema de outras mãos abanando o café.

Escuta os aviões que se entrecruzam no azul,
caminhões e jipes trotando na trilha dos carreadores,
tratores que tombam, mexem, remexem a terra.

Escuta essa algazarra de operários
montando fábricas,
multiplicando casas,
machucando as nuvens com seus ousados arranha-céus.

Escuta a voz da estrada:
- eixo delirante que gira, gira, gira,
impulsionado por milhões de alavancas
que se sustentam na força do chão,
na fibra dos homens,
no empolgante otimismo das crianças
nascidas sob o signo das coisas verdes,
no meio de uma festa de esperança.

Escuta, meu irmão, que tudo isso
é o canto enorme do meu Paraná,
alegre e jovem, construindo
os alicerces do amanhã!

Fonte:
A. A. de Assis. Vida, verso e prosa. Maringá: EDUEM, 2010
.
Imagem obtida no Diário de Maringá.

A A de Assis, Cidadão Benemérito de Maringá


O poeta, jornalista e professor Antonio Augusto de Assis recebeu na última quinta-feira (7 de abril) o título de cidadão benemérito de Maringá, em solenidade realizada no plenário da Câmara Municipal.

O projeto de lei de homenagem a Assis foi apresentado em 2010 pelo então vereador Ton Schiavone, sendo aprovado por unanimidade. “Entendo que o importante é que as pessoas sejam homenageadas em vida. Assis tem levado o nome de Maringá para outros estados e países. É um pioneiro que representa nossa cidade através da poesia”, afirmou Schiavone, cuja família foi vizinha de Assis na década de 1950, na Zona 2. O autor do projeto de lei comentou ainda sobre os livros publicados por Assis, a sua atuação na imprensa e as atividades no Rotary Club.

Presidida pelo presidente da Câmara, vereador Mário Hossokawa, a sessão solene teve a presença de familiares do homenageado e amigos de entidades, clubes de serviços, instituições de ensino e imprensa. Autoridades do poder Executivo municipal, representantes da Assembleia Legislativa, Câmara Federal, do Exército e da Polícia Militar prestigiaram o evento.

A sessão solene foi marcada pela emoção dos discursos de Assis, do autor da propositura, da secretária municipal de Cultura, Flor Duarte, representando o prefeito Silvio Barros - que esteve no plenário do Legislativo cumprimentando o homenageado -, e da presidente da Academia de Letras de Maringá, Olga Agulhon.

É uma alegria muito grande representar a Academia de Letras de Maringá nessa homenagem a Assis, nosso presidente de honra. É uma justa homenagem a um maringaense que eleva o nome da cidade em muitos lugares. A vida de Assis é um presente para Maringá, para a sua família e para todos nós. As suas trovas são reflexos de uma vida bem vivida, de honradez e humildade”, afirmou a presidente da Academia.

A secretária Flor Duarte falou da importância dos escritores e da grande contribuição de Assis para Maringá: “É uma justa homenagem a um dos mais atuantes escritores da nossa cidade. O que seria da gente se os escritores não trabalhassem por nós, para o nosso deleite? Ao poeta Assis a nossa homenagem, a nossa gratidão.”

A homenagem a um dos maiores trovadores do Brasil coincidiu com o dia do seu aniversário. No dia 7, Assis completou 78 anos, o que aumentou ainda mais a sua emoção ao falar da tribuna. Ele fez um relato da sua vida, falou dos seus familiares, das primeiras amizades que fez em Maringá, dos amigos da imprensa, da Universidade Estadual de Maringá, da Academia de Letras de Maringá, do Rotary Club e da União Brasileira dos Trovadores.

Agradecendo a Deus em vários momentos, Assis disse que com o título de cidadão benemérito vai se sentir com muito mais direito de ser o representante de Maringá, “um embaixadorzinho da cidade”, como se autodefiniu. O trovador finalizou seu discurso de forma inusitada e criativa. Disse que iria cantar a música “Maringá, Maringá”, composição de Joubert de Carvalho e pediu que o público cantasse com ele. E assim foi feito. Encerrada a sessão, o público cantou o “parabéns a você” ao aniversariante e homenageado.

Fonte: Câmara Municipal de Maringá

Eugénio de Andrade (Livro de Poesias)


A BOCA

A boca,
onde o fogo
de um verão
muito antigo cintila,
a boca espera
(que pode uma boca esperar senão outra boca?)
espera o ardor do vento
para ser ave e cantar.

Levar-te à boca,
beber a água mais funda do teu ser
se a luz é tanta,
como se pode morrer?

ADEUS

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava!
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os teus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os teus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...
já não se passa absolutamente nada.

E, no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos nada que dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

AS AMORAS

O meu país sabe a amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

AS PALAVRAS

São como cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

POEMA À MÃE

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...

Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
"Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal..."

Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...

Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...

Boa noite. Eu vou com as aves!

QUASE NADA

O amor
é uma ave a tremer
nas mãos de uma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não têm voz.

HAVIA UMA PALAVRA

Havia
uma palavra
no escuro.
Minúscula.Ignorada.
Martelava no escuro.
Martelava
no chão da água.
Do fundo do tempo,
martelava.
contra o muro.
Uma palavra.
No escuro.
Que me chamava.
de Matéria Solar.

Eugénio de Andrade (1923 – 2005)


Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas (Póvoa de Atalaia, 19 de Janeiro de 1923 — Porto, 13 de Junho de 2005)

Nasceu na freguesia de Póvoa de Atalaia (Fundão) em 19 de Janeiro de 1923. Fixou-se em Lisboa aos dez anos, com a mãe, que entretanto se separara do pai.

Frequentou o Liceu Passos Manuel e a Escola Técnica Machado de Castro, tendo escrito os seus primeiros poemas em 1936, o primeiro dos quais, intitulado Narciso, publicou três anos mais tarde.

Em 1943 mudou-se para Coimbra, onde regressa depois de cumprido o serviço militar convivendo com Miguel Torga e Eduardo Lourenço. Tornou-se funcionário público em 1947, exercendo durante 35 anos as funções de Inspetor Administrativo do Ministério da Saúde. Uma transferência de serviço levá-lo-ia a instalar-se no Porto em 1950, numa casa que só deixou mais de quatro décadas depois, quando se mudou para o edifício da Fundação Eugénio de Andrade, na Foz do Douro.

Durante os anos que se seguem até hoje, o poeta fez diversas viagens, foi convidado para participar em vários eventos e travou amizades com muitas personalidades da cultura portuguesa e estrangeira, como Joel Serrão, Miguel Torga, Afonso Duarte, Carlos Oliveira, Eduardo Lourenço, Joaquim Namorado, Sophia de Mello Breyner Andresen, Teixeira de Pascoaes, Vitorino Nemésio, Jorge de Sena, Mário Cesariny, José Luís Cano, Ángel Crespo, Luís Cernuda, Marguerite Yourcenar, Herberto Helder, Joaquim Manuel Magalhães, João Miguel Fernandes Jorge, Óscar Lopes, e muitos outros.

Apesar do seu enorme prestígio nacional e internacional, Eugénio de Andrade sempre viveu distanciado da chamada vida social, literária ou mundana, tendo o próprio justificado as suas raras aparições públicas com «essa debilidade do coração que é a amizade».

Recebeu um sem número de distinções, entre as quais o Prêmio da Associação Internacional de Críticos Literários (1986), Prêmio D. Dinis da Fundação Casa de Mateus(1988), Grande Prêmio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1989) e Prêmio Camões (2001).

Faleceu a 13 de Junho de 2005, no Porto, após uma doença neurológica prolongada.

Vida e obra literária

Estreou-se em 1940 com a obra Narciso, torna-se mais conhecido em 1942 com o livro de versos Adolescente. A sua consagração acontece em 1948, com a publicação de As mãos e os frutos, que mereceu os aplausos de críticos como Jorge de Sena ou Vitorino Nemésio. A obra poética de Eugénio de Andrade é essencialmente lírica, considerada por José Saramago como uma poesia do corpo a que se chega mediante uma depuração contínua.

Entre as dezenas de obras que publicou encontram-se, na poesia, Os amantes sem dinheiro (1950), As palavras interditas (1951), Escrita da Terra (1974), Matéria Solar (1980), Rente ao dizer (1992), Ofício da paciência (1994), O sal da língua (1995) e Os lugares do lume (1998).

Em prosa, publicou Os afluentes do silêncio (1968), Rosto precário (1979) e À sombra da memória (1993), além das histórias infantis História da égua branca (1977) e Aquela nuvem e as outras (1986).

Foi também tradutor de algumas obras, como dos espanhóis Federico García Lorca e Antonio Buero Vallejo, da poetisa grega clássica Safo (Poemas e fragmentos, em 1974), do grego moderno Yannis Ritsos, do francês René Char e do argentino Jorge Luís Borges.

Prêmios

Prêmio Pen Clube (1986)
Prêmio da Associação Internacional de Críticos Literários (1986)
Prêmio D. Dinis (1988)
Prêmio Jean Malrieu (França, 1989)
Grande Prêmio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (APE) (1989)
Prêmio APCA (Brasil,1991)
Prêmio Europeu de Poesia da Comunidade de Varchatz (República da Sérvia, 1996)
Prêmio Vida literária da APE (2000)
Prêmio Celso Emilio Ferreiro (Espanha, 2001)
Prêmio Camões (2001)
Prêmio PEN (2001)
Doutoramento "Honoris Causa" pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2005).
Em Setembro de 2003 a sua obra "Os sulcos da sede" foi distinguida com o Prêmio de poesia do Pen Clube.

Fonte:
Wikipedia

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) X – Manuel da Bengala


Era uma vez um rei que teve um filho que nasceu grandão e forte demais. Com oito dias de idade já devorava um boi inteiro. O rei, muito assustado, chamou seus conselheiros para lhe darem opinião, porque naquela toada o menino acabaria com todos os bois do reino. Os conselheiros acharam que o melhor era soltá-lo pelo mundo. O rei concordou. Deu ao filho uma bengala de ferro, um machado, uma foice de bom tamanho e soltou-o no mundo.

O príncipe saiu. Chegando a uma fazenda, pediu serviço. O fazendeiro ajustou-o e mandou-o roçar um pedaço de mato. O moço meteu a foice no mato com tanta fúria que assustou o fazendeiro. Na hora de jantar deu risada da comida que lhe trouxeram. Queria um boi inteiro, com um alqueire de farinha. O fazendeiro achou graça e fez a experiência, certo de que ele só comeria um pedacinho do boi e no máximo um litro de farinha; mas quando viu todo o boi desaparecer no seu bucho, e mais o alqueire de farinha, não quis saber de histórias — despediu-o.

O príncipe voltou para o palácio do rei, onde passou uns tempos. Por fim o rei cocou a cabeça e reuniu novamente os conselheiros. "Que fazer deste rapaz que me devora um boi por dia?" Os conselheiros aconselharam o rei a mandá-lo pegar seis leões na floresta, certos de que os leões num instantinho dariam cabo dele.

O príncipe pediu um carro com três juntas de bois — e foi para a floresta, onde passou seis dias. Cada dia comia um boi e pegava um leão, que amansava e punha no carro, em lugar do boi comido. Quando completou a conta, entupiu o carro de árvore e tocou para a cidade.

O rei e todo o povo se encheram de espanto com a façanha de Manuel da Bengala, que era como lhe chamavam. Coisa como aquela ninguém ainda tinha visto. O rei cocou a cabeça. Por fim mandou que o príncipe saísse pelo mundo e nunca mais lhe aparecesse. O príncipe saiu.

Foi andando, andando. Em certo ponto encontrou um homem que atravessava um rio sem se molhar. Era o Passa-vau.

— Bom dia, Manuel da Bengala! — gritou o homem.

— Passa-vau — disse o príncipe — quer passar-me para a margem de lá?

Passa-vau passou-o e seguiram juntos. Adiante encontraram um homem cortando cipó. Chamava-se Arranca-serra.

— Bom dia, Manuel da Bengala! — gritou o homem.

— Arranca-serra — disse o príncipe — quer viajar comigo?
O homem aceitou e lá seguiram os três.

Cada dia um deles tinha de arranjar comida para o bando. Certa vez em que Passa-vau saíra a cuidar disso, encontrou um molequinho de carapuça vermelha, que lhe pediu fogo para o cachimbo. Passa-vau não quis dar e o moleque pregou--lhe tal cachimbada na cabeça que o fez vir ao chão, como morto. Só uma hora depois voltou a si, e foi contar aos companheiros o acontecido.

— Você não vale nada — disse Arranca-serra. — Quem vai buscar comida amanhã sou eu. — E foi.

O molequinho da carapuça apareceu de novo, pedindo fogo para o cachimbo. Arranca-serra não quis dar e levou outra cachimbada na cabeça que também o deitou por terra, sem sentidos. Quando voltou a si e foi em procura dos companheiros, Manuel da Bengala riu-se muito.

— Vocês não valem nada. Quem vai buscar comida amanhã sou eu. — E foi.

O moleque da carapuça apareceu pela terceira vez, sempre pedindo fogo. Manuel da Bengala respondeu ao pedido com um golpe da sua tremenda bengala de ferro. O moleque resistiu e deu-lhe com o cachimbo na cabeça. Travou-se luta medonha, até que uma bengalada arrancou a carapuça da cabeça do moleque. Manuel guardou-a no bolso.

— Manuel da Bengala, me dê minha carapuça — pediu o moleque com voz de choro.

— Não dou, não dou — foi a resposta, e seguiram andando os dois, um a insistir pela carapuça e outro a negar. Por fim Manuel da Bengala disse: "Só te darei a carapuça se me entregares as três princesas que tens encarceradas."

O moleque, que era o "cão", respondeu: "Isso não, porque minhas não são."

Foram andando, andando. Em certo ponto o moleque entrou por uma gruta — e Manuel da Bengala atrás. Foram dar num reino lá no fundo da terra, onde trabalhavam muitos escravos. Era o inferno. O moleque não parava de pedir a carapuça, e Manuel não parava de pedir as princesas. Por fim, vendo o "cão" que não podia com a vida daquele homem, deu-lhe as princesas. "Agora passe para cá minha carapuça!" Manuel respondeu: "Espere! Primeiro tem que me botar lá fora, no caminho."

O moleque resistiu; Manuel pregou--lhe a bengala até que ele cedesse e o levasse para fora, com as três princesas na frente. Assim que as três princesas surgiram na abertura da caverna, os companheiros de Manuel da Bengala, que estavam por ali, agarraram-nas e dispararam com elas.

Quando Manuel se viu na estrada, restituiu a carapuça ao moleque, mas ficou muito espantado de não ver as moças. Os seus companheiros já estavam longe. Haviam ido entregá-las ao rei, dizendo que as tinham salvo e pois deviam recebê-las como esposas.

O rei ficou contentíssimo de rever as filhas mas as moças puseram-se a chorar, dizendo que o salvador das três não era nenhum daqueles homens.

Lá longe, Manuel da Bengala, sentado à beira do caminho, pensava na vida. Tinha ficado com os lenços das moças. Pegou num deles e disse: "Voa, voa, e vai cair no colo delas." O lenço virou num papagaio que foi sentar-se no colo duma das princesas.

— Eu só me casarei com o dono deste papagaio — disse a moça.

Manuel da Bengala pegou nos outros lenços e disse: "Voai e levai-me ao palácio das princesas", e os lenços voaram e levaram-no ao palácio das princesas.

Lá chegando, as três reconheceram-no como o seu salvador, e Manuel casou-se com a do papagaio. Os dois embusteiros depois de uma grande sova, foram expulsos do reino. As outras casaram-se com dois lindos príncipes. E acabou-se a história.
––––––––––––––––
— Então, Emília? — perguntou dona Benta.

— Está pitoresca e variada — respondeu Emília — mas muito mal composta. Com esses elementos eu faria uma beleza de história.

— Eu também — disse Narizinho. — Vejo uma porção de defeitos. O tal Arranca-serra, fiquei sem saber que é que fazia, pois o que arrancava era cipó, serra nenhuma. E o Passa--vau, que tinha a propriedade de não molhar--se, em toda a história não se utilizou dessa propriedade.

— Outro defeito que eu acho — disse Pedrinho — é o tal príncipe chamar-se Manuel da Bengala. Muito grosseiro para um príncipe. Muito sem poesia. Também aquilo de com uma semana de idade comer um boi inteiro, me parece idiota.

— É o que eu digo — ajuntou Emília. — O povo, coitado, não tem delicadeza, não tem finuras, não tem arte. É grosseiro, tosco em tudo que faz. Este livro vai ser só das histórias populares do Brasil, mas depois havemos de fazer um só de histórias compostas por artistas, das lindas, cheias de poesia e mimos — como aquela do Príncipe Feliz, do tal Oscar Wilde, que dona Benta nos leu. Aquilo sim. Até deixa a gente leve, leve, de tanta finura de beleza!

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Continua… XI – João e Maria
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Fonte:
Justificar
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995. Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Cláudia Lage (O Meu Professor de Literatura)


O homem que desistiu de "assassinar" livros em sala de aula para abrir uma livraria

Às vezes, eu costumava matar aula no colégio para ir ao cinema, outras vezes, vejam só, para ir à biblioteca da escola mesmo. Foi estranho quando, um dia, o meu professor de literatura da época me encontrou numa dessas vezes entre as estantes, procurando um livro. Naquela hora, na minha turma, era a aula dele. Por algum motivo, ele precisou deixar a sala e ir à biblioteca rapidamente. Teve um espanto ao me ver ali. Não sei se por que eu matava a sua aula, ou por que fazia isso na biblioteca, com um livro nas mãos. Ele me olhava e olhava o livro. Ia e voltava com os olhos, perplexo. Eu não soube, por um instante, se devia justificar a minha ausência na sala ou o fato de ter escolhido um lugar cheio de livros para faltar à aula de literatura. Quando enfim comecei a gaguejar alguma coisa, ele se afastou, transtornado, e saiu, mas não antes de olhar mais uma vez o livro que eu tinha nas mãos, com evidente ressentimento.

Eu havia cometido algum delito grave para aquele professor. O fundo em meu estômago dizia isso. Não podia ser só a aula. Outros alunos também a matavam de vez em quando, e ele depois lhes chamava a atenção com uma seriedade divertida e irônica. Nada de perplexidades constrangidas. Olhares graves e ressentidos. Aquela reação perturbadora ele havia reservado apenas para mim. Mas, tampouco, devia ser a biblioteca, ou era? O livro suava em minhas mãos, assumindo talvez a culpa. Levei-o para casa, apertando-o em meu peito. Éramos cúmplices, nós dois, de um ato horrível e misterioso contra o professor. Naquela noite, tive pesadelos. Os olhos do professor tomavam inteiramente o seu rosto, e me enfrentavam indignados e ofendidos.

Na aula seguinte, tentei me comportar da melhor maneira possível. Não passei o tempo olhando para a janela, como costumava fazer, em busca de um horizonte qualquer. Nem me distraí com rabiscos, desenhos e frases inúteis no caderno. Fixava o professor com atenção exagerada, tentando absorver e compreender tudo o que ele dizia sobre o estilo de época Arcadismo, anotando bucolismo e pastoralismo com caligrafia exemplar, e assentindo com a cabeça toda a vez que seus olhos passavam por mim e não me viam. Ao contrário do meu pesadelo, o professor não me olhava mais. Era dessa forma retraída que ele lidava com o ressentimento. Eu, por outro lado, assumia todas as culpas na medida em que ele silenciosamente me acusava. No corredor, evitava cruzar comigo, e se me via no pátio lendo um livro, como eu gostava de fazer, mudava de direção como se estivesse diante de um obstáculo intransponível. Era sempre à noite, na escuridão da insônia, que eu ruminava as atitudes do professor e repassava a matéria. Romantismo: nacionalismo, exaltação do eu. Realismo: racionalismo, crítica social. Não sei por que, naquele dia, eu achei que ele tremera um pouco durante a aula, a voz rasgando a garganta, ao dizer, crítica social.

Semanas depois, eu percebi: o professor não fazia mais a barba, engordava, e, como se não tivesse mais nada a fazer, envelhecia. Se antes não era alegre nem triste, agora não era, simplesmente. Entrava na sala de aula resignado, dizia algumas coisas, escrevia outras, para depois desaparecer. A sua apatia era tão grande que um dia ele deve ter se esquecido que sua presença era aguardada e realmente desapareceu. "Viajou", explicou a diretora, como se o fato de alguém ir de um lugar para o outro explicasse tudo. E assim os anos se passaram sem notícias do professor.

Nos encontramos anos depois, por acaso, numa livraria. Eu a freqüentava sempre, e não sabia que, desde que entrei pela primeira vez ali, era observada pelo professor. Já sentia o livro suando em minhas mãos, quando ele me cumprimentou, perguntando se eu era eu, a sua aluna. Sim, confirmei. Ele me olhava e olhava o livro, como nosso constrangido encontro na biblioteca da escola. De repente, me abraçou, com uma gratidão que eu não pude entender. Mas, em seguida, o professor foi de uma claridade imprevista, de fechar os olhos. Uma de suas alegrias era me ver ali em sua livraria, ele disse. E sorriu, confirmando, sim, sou livreiro. E pegando um livro, levou-o ao peito. A capa sobre o coração, enquanto ele confirmava a satisfação de ver que eu continuava a gostar de ler, apesar de suas aulas. Aquele dia na biblioteca ressurgiu então entre nós. Me ver matar a aula de literatura para ler foi a gota d'água para o professor. Havia passado a noite anterior preparando uma aula de literatura, elencando, não poetas e escritores, seus textos e suas poesias, mas características, datas e nomes que os alunos não podiam deixar de saber, porque ia cair na prova, porque estava no currículo do semestre. Às vezes, conseguia uma aula ou outra para os textos, mas era pouco, muito pouco. Até me ver na biblioteca, o professor me julgava uma aluna desinteressada e desinteressante, daquelas que não se avista o futuro. Não me imaginava abrindo um livro, como podia supor que eu era uma leitora? Mas eu era, e, para ele, havia sido como um marido, que sempre considerara a esposa frígida, descobrir que ela tem um amante. Eu, que já tinha idade e altura para sorrir dessa imagem, sorri, profundamente feliz. O professor abraçava o livro, apaixonado. Contou que um dia, se levantou da cama, se arrumou para ir trabalhar, saiu de casa, mas, em vez de ir à escola, foi para uma livraria. No dia seguinte, pediu demissão. Juntou dinheiro, conseguiu um empréstimo e abriu uma pequena livraria, que se expandira em outras. "Eu queria estar perto dos livros", explicou. "Antes, eu achava que podia ser professor de literatura impunemente", disse. O professor entrara na escola cheio de esperanças de mudar o modo em que é feito o ensino da literatura, de driblar, dia a dia, o sistema. Mas foi ao contrário, era o sistema que estava, pouco a pouco, mudando o professor, encurralando-o numa sala escura. "Até te ver na biblioteca, eu não tinha a real consciência da dimensão do que eu fazia. A cada aula, eu matava um livro. A cada aula, um leitor morria.

Fonte: Rascunho

Instituto Memória (Convite para Lançamentos em 26 de Abril, em Curitiba)


CONVITE!

26/04/2011 -
19H00 -
PALACETE DOS LEÕES



O Instituto Memória Editora & Projetos Culturais e o BRDE - Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul - convidam para o Lançamento Nacional das obras

SILENTES CONFISSÕES (CONTOS JUDAICOS)
Leon Knopfholz

A MAGIA DOS MOMENTOS: um convite para pensar
Carlos Mathias

OS ÍNDIOS E SEUS ALGOZES
Milton Ivan Heller

ECONOMIA DO TRABALHO & SINDICALISMO: escritos avulsos
ANTONIO BENEDITO DE SIQUEIRA

BATENDO DE FRENTE:um tapa no legalismo evangélico brasileiro
Alexandre de Souza Lacerda

IHGPR - BOLETIM LXII
Instituto Histórico e Geográfico do Paraná

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR E INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS HUMANIZADORAS
Dra. Marta Chaves
Dra. Ruth Izumi Setoguti
Dra. Silvia Pereira Gonzaga de Moraes
=Organizadoras=

TRADIÇÃO & TRAIÇÃO: Histórias da Medicina
Fahed Daher

CAPÃO DA ONÇA
Paulo Fernando Silveira

REFLEXÕES SOBRE LIDERANÇA
Enos de Castro Deus Filho

O evento contará com a apresentação artistica de Regina Monticelli e Alex Colim, a apresentação do músico Almo Júnior e a participação especial dos

MENINOS DE ANGOLA.

Contamos com a presença de todos para abrilhantar esta noite de valorização da cultura nacional de qualidade e seus autores.
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Instituto Memória Editora & Projetos Culturais

Editora Destaque Nacional - Prêmio Brasileiro de Qualidade Editorial
Câmara Brasileira de Cultura

(41) 3352 3661 - 3352 4515

www.institutomemoria.com.br

Anthony Leahy - Editor Presidente
Conselheiro da Academia Brasileira de Arte, Cultura e História - SP
Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná e da Academia de Cultura de Curitiba

Fonte:
Instituto Memória

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 183)


Uma Trova Nacional

Felicidades!...que todas
de vocês prossigam perto,
para os festejos das BODAS
de um grande amor que deu certo !
EDMAR JAPIASSÚ MAIA/RJ–

Uma Trova Potiguar

Estrela d’alva, é bonito
teu casamento no céu!
O teu noivo é o infinito,
a madrugada – o teu véu.
–MINERVINO WANDERLEY/RN–

Uma Trova Premiada

2002 > Niterói/RJ
Tema > RENDA > M/H

Se Deus me deu muitas prendas,
a mais bonita de todas
veio vestida de rendas
no dia de nossas bodas.
–SANDRO PEREIRA REBEL/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram

No amor, a felicidade,
com jeitinho permanece,
porque, superando a idade,
quem ama nunca envelhece.
–ALBERTO FERNANDO BASTOS/RJ–

Simplesmente Poesia

–MILTON SOUZA/RS–
Bodas de Oliveira.

Ademar, gostei do fato,
mas nesta eu ganho a parada:
completei 44
na sexta-feira passada.

É claro que estou lembrando
que nunca poderei ter
uma Dalva me esperando
quando o dia amanhecer...

Isso eu sei que só tu tens,
e és grande merecedor...
Eu vivo dizendo "amens"
em troca de um grande amor...

Eu e a Leda, tu e a Dalva,
casais que a vida renova:
casamentos sem ressalva,
regados de amor e trova...

Por este amor muito louco,
Meus parabéns para os dois...
E eu sei que ainda foi pouco:
muito mais virá depois...

Estrofe do Dia

Parabéns antecipados.
O que desejo a vocês:
cem anos de puro amor
ou uns 200... Talvez....
seja forte como um touro,
prá suas bodas de ouro
tá faltando dezesseis !!!!!!
–AMERICO PITA/RN–

Soneto do Dia

–FRANCISCO MACEDO/RN–
O Amor é Dom Divino

Se essa voz que te chama, é a voz do amor,
não deixe que te chame uma outra vez.
Se achar que deve, vá com destemor,
deixando-se levar na embriaguês.

O amor, quando é real, é insensatez,
desconhece a censura, é sem pudor,
tem fôlego, tem força, intrepidez...
Se ele te chama, vá onde ele for.

E se alguém diz: Amar assim é crime!
Tenha certa certeza que o amor redime,
na vida que por Deus é permitida.

O amor, quando é amor, é dom divino,
quase sempre nos leva ao desatino,
mas, é o prêmio maior da nossa vida.

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

Revista Cruviana nº 1 (Chamada para Publicação de Contos, Primeiro Semestre de 2011)



Cruviana é uma revista virtual dedicada a publicação de contos inéditos em qualquer língua, e imagens de qualquer artista. O projeto se propõe a unir escritores de todas as tribos e idades, aproximando os mais experientes dos iniciantes, a partir do espaço virtual.

Essa mídia foi criada com muitos propósitos, mas talvez o principal deles seja o de diminuir as distâncias, assim como a literatura que, até hoje, é o meio mais instigante e verdadeiro para se passear pelos vários universos, reais, ou não, da realidade que conhecemos.

A união desses dois mundos vem deslumbrando os mais entusiastas, sobretudo porque encurta caminhos que, até bem pouco, eram inalcançáveis. E é dentro desse contexto que nasce a Revista Cruviana, espaço que pretende não só explorar os novos meios de publicação ou de divulgação, mas, principalmente, utilizar o veículo mais democrático da atualidade para aproximar pessoas.

O que queremos é valorizar as relações humanas entre escritores e demais artistas, não só do Brasil, aproximando os novos literatos de nomes já consagrados e/ou em ascensão, além de servir de vitrine para o tão concorrido mercado editorial.

A Revista Cruviana é uma produção independente que conta com o apoio da editora Sarau das Letras e está aberta para todos aqueles que se propõem a dedicar qualquer tempo que seja para fazer brotar a vida no infinito branco da folha.

CHAMADA

A Revista Cruviana, em sua 1ª edição, está recebendo contos inéditos (tema livre) e ilustrações de autores e ilustradores de qualquer nacionalidade.

Os contos deverão ser enviados para o email: revistacruviana@gmail.com até o dia 30 de abril de 2011, para que sejam lançados no final do mês de junho de 2011. A seleção dos contos será feita pelo conselho editorial.

É importante lembrar que, como este se trata de um projeto sem fins lucrativos, todo e qualquer trabalho disponibilizado para a nossa editoria será uma colaboração espontânea e sem ônus.

A Revista disponibilizará o ISSN (International Standard Serial Number) após organização do sumário, como exige o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT).

REGULAMENTO

1. Os contos destinados às edições da Revista Cruviana devem ser entregues em anexo no e-mail: revistacruviana@gmail.com dentro dos prazos estabelecidos.

2. Junto com o conto o autor deve entregar a ficha de inscrição preenchida (modelo disponível aqui), declaração de autoria (modelo disponível aqui) e um resumo biográfico que não deve ultrapassar 6 (seis) linhas de folha A4, corpo 12, Times New Roman– todos em arquivo separado. Em seguida, o autor receberá um e-mail de confirmação do envio do material. Caso não receba em até 48h, deverá entrar em contato pelo referido e-mail de postagem.

3. A temática para a produção é livre e os autores devem remeter um único conto para cada edição.

4. Devido às questões de fechamento de edição e editoração, a data de envio do material não haverá adiamento.

5. Os contos recebidos serão lidos e apreciados pelo Conselho Editorial. Os contos que não forem publicados ficarão no banco de dados para edições subseqüentes, respeitando as decisões do Conselho Editorial.

6. Só serão aceitos trabalhos inéditos. Entenda-se por inédito aqueles trabalhos que não tenham sido publicados em outra mídia do tipo a que se destina, seja impressa ou eletrônica, como sites, revistas, periódicos, jornais, blogues-revista, etc.

7. Os trabalhos devem vir digitados em Word para Windows - qualquer língua - em arquivo formato DOC, fonte Times New Roman, tamanho 12, espaço 1,5. Cada trabalho deverá ter no máximo 5 páginas. Trabalhos fora desses padrões não serão publicados e isentos de qualquer parecer por parte do editor.

8. Os autores que tiverem alguma imagem/ilustração para seu conto podem fazer envio em arquivo separado – indicando a que texto se refere. Para saber mais sobre o envio de imagens, consulte a segunda parte deste regulamento.

9. O autor é único responsável pelo texto enviado. Portanto, a Revista Cruviana não se responsabiliza em caso de plágio ou cópia das obras enviadas.

10. Ao participar do projeto o autor não abre mão de seus direitos autorais, entretanto, os textos que não forem publicados não serão devolvidos. Logo, cada autor é ciente de que deve ficar com uma cópia de seu texto.

Envio de imagens

1. Podem ser remetidas fotografias, incursões plásticas, gráficas, grafites, desenhos, colagens, montagens, artes digitais etc. para o e-mail: revistacruviana@gmail.com

2. Podem participar autores consagrados ou iniciantes, brasileiros ou não, e cada um pode enviar o número de imagens que lhe convier.

3. Não necessariamente as imagens devam ser inéditas, entretanto, cada autor deve fazer uso do bom senso para, principalmente em casos de imagens expostas em alguma exposição, física ou virtual, mencionar tais especificidades, além dos créditos de seus autores.

4. Não haverá devolução dos trabalhos, logo cada autor é ciente de que deve ficar com cópia; os trabalhos que não se adequarem a uma edição poderão aparecer em edições subseqüentes da Revista; o autor não abrirá mão de seus direitos autorais.

5. Juntamente com as imagens o autor deve encaminhar uma declaração de direitos (modelo disponível aqui). Não há necessidade de envio de ficha de inscrição.

6. Os materiais devem ser encaminhados dentro dos prazos indicados nas Chamadas para publicações.

Os arquivos para baixar estão armazenados no 4shared. Por isso, sempre que você clica em qualquer arquivo que tenha de baixar será encaminhado à página do 4Shared. Ao chegar nessa página, você encontra o nome do arquivo que quer baixar e, logo abaixo, um botão que lhe diz Baixar agora. Será nele que você deve clicar para ser encaminhado à página do download. Não há necessidade de nenhum registro. Qualquer problema pode notificar ao editor da revista através do correio-eletrônico: revistacruviana@gmail.com.

Para baixar esse regulamento em formato PDF clique aqui.

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JOTTA PAIVA
(84) 8837 - 0585

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Paulo Leminski (Rumo ao Sumo)

"Pessoas Olhando o Céu" -
Pintura a óleo de Fernando Kojo
Disfarça, tem gente olhando.
uns olham pro alto,
cometas, luas, galáxias.
Outros olham de banda,
lunetas, luares, sintaxes.
De frente ou de lado,
sempre tem gente olhando
olhando ou sendo olhado

Outros olham pra baixo,
procurando algum vestígio
do tempo que a gente acha,
em busca do espaço perdido.
Raros olham para dentro,
já que não tem nada.
Apenas um peso imenso,
a alma, esse conto de fada.

Reginaldo Honório da Silva (Poema da Moça ao Lado)


Amigos, permitam-me explicar o poema abaixo.

Em Campinas, embarquei num ônibus que ia para Franca.

Sentei-me na poltrona do corredor e na poltrona da janela tinha uma moça lendo alguma coisa, me parecia artigo escolar, não prestei atenção direito, nem na moça nem no que ela lia.

Apanhei meu NoteBook, pus o fone de ouvido e selecionei as músicas bregas da minha infância para ouvir.

Em seguida comecei a escrever o poema e como normalmente a curiosidade sempre aguça, imaginei que ela por vez ou outro pelo canto do olho espiava o que eu escrevia. Teve uma vez que percebi que ela se deteve um pouco olhando e depois voltou a olhar pela janela do ônibus.

Eu desci em Limeira, para esperar um outro ônibus para Rio Claro, ela seguiu seu destino.
Foi isso.

POEMA DA MOÇA AO LADO

Lê ao meu lado seu futuro que sabe
O mais intrépido poema
Ou a nova escrita sem o trema

Pelo canto do olho curioso
Espia o que escorre na grafia
Dos símbolos de uma poesia

Se pergunta o que me inspira
Se pergunta se me inspira
Mas mastiga o silêncio como resposta

Talvez ao final destas variações
Um sopro ao seu ouvido confessa
Que por ela nasceram estes versos

Não por ser bela que não sei se é
Mal lhe dei meu olhar de poeta
Somente a vi lendo... quieta

A viagem busca seu destino
A moça ao lado continua
Eu? Desço no meio do caminho.

Rio Claro, 04 de abril de 2011.

Fontes:
Poetas del Mundo , colaboração de Delasnieve Daspet
Imagem criada por Vitor =
UFRJ Link

Guilherme Scalzilli (Córtex)


Esta noite sonhei com o acidente pela primeira vez. Acordei ofegante, abalada pela súbita impotência dos remédios. Mentalizei o alerta para a enfermagem. Sei que tocou, pude ouvi-lo do quarto. Mas ninguém apareceu até agora, depois que as listras do sol já passearam no teto branco.

O hospital continua mergulhado nessa quietude estranha. As janelas deixaram de ronronar a habitual agitação das ruas lá embaixo. Forçando o olho à esquerda, percebo que o soro acabou. Devo estar imunda, sinto odores sob o lençol. Entrevejo um canto do vidro que me exibe ao corredor. Não há sinal de movimento. Torço apenas para que a cabeça continue assim, com o queixo inclinado, permitindo-me respirar.

Você procurava entre as ferragens, gritando por socorro. Diluindo-se nas luzes enevoadas da ambulância. Então surgiram enfermeiros em debandada. Médicos de máscara. Cientistas falantes montando e regulando equipamentos. Homens elegantes e solenes. Aquele velho de farda que chorou quando me viu. As lembranças ganharam coerência. Estiveram sempre ali, mas não conseguia decifrá-las. Agora percebo como progredimos desde os primeiros experimentos. Não percebi o tempo correr. Pudera.

Concordo, é uma espécie de prisão. E alguém seria realmente livre, encapsulada nesta carcaça inútil? Considerando as circunstâncias, tenho sorte de contribuir para algo importante. Aliás, parece muito, muito importante. Mas ignoro as poucas digressões técnicas. Sei que não esclarecem coisa alguma. Quando ouso perguntar-lhes, quase nem se dão ao luxo de mentir. Tento não atrapalhar, já estorvo o suficiente. Você me conhece. Basta continuarmos unidas, nesse vínculo milagroso. A salvo de controles. Vencendo a distância e o isolamento em que me puseram. É o nosso segredo. É tudo que nos resta.

Eles não sabem, não quis frustrá-los depois de tantas cirurgias, mas continuo vulnerável a sensações físicas. Em mim e nos outros. Soa desagradável? Pois garanto que tem um gosto emocionante de contravenção. É disso que se trata, afinal. Compartilhar estímulos. Fundir-se em outras mentes ativas. Participar de seus sonos inertes. Sorver tormentos e prazeres nos esconderijos mais íntimos, onde pulsam, à espera. Como tumores de possibilidades. Desbravar a matéria desconhecida, idêntica e previsível. Emancipá-la.

Sim, prazeres. Ah, poupe sua mãe de pudores beatos. Faço tudo que me pedem. Ou não? Abro-lhes as imensidões microcósmicas de minhas tempestades nervosas, sem impor obstáculos a essa aventura incerta. Jamais sobreviveria se parecesse inapta ou resistente. Bastar-lhes-ia apertar um botão, ou deixar de acioná-lo. Creia, fizeram isso muitas vezes. Para eles não passo de uma velha fatigada, suspensa na brisa tênue do simulacro vital. Um emaranhado de células. Que eles ainda não conseguiram manter funcionando numa caixa sem desejos ou escrúpulos. Ainda.

Ora. Nada mais inofensivo que o intercâmbio honesto entre pessoas adultas. E conscientes, na medida do possível. Míseras descargas elétricas. Comunhão de impulsos desprovidos de barreiras estéticas, etárias ou sociais. Ali, nos abismos das entropias alucinantes, podemos ser muitos, enormes, ágeis, viris. Podemos esquecer esses membros reduzidos a ossos. Os pudores inúteis. As carecas horrendas pontilhadas de sensores. Vocês, limitados à crosta sensível, não imaginam a plenitude da sintonia entre essências imemoriais. Elaboradas a partir dos mesmos resquícios primitivos, porém minuciosamente variáveis. Assustadoramente complementares.

Diverte-me constatar que demorei anos para mover triviais peças de xadrez, teclas aleatórias, um único polegar mecânico. Arcaicos e desengonçados braços de ferro e fios. É fascinante acompanhar a inescapável obsolescência da tecnologia. De artifícios frágeis, que um dia pareceram definitivos. O pueril ilusionismo virtual. A combustão. Telefones. Mas você é jovem demais para saber. Conhece apenas essa completude automática, acessível ao toque, limpa de papéis, tempestades, inimigos reconhecíveis. Tudo fácil e asseado, longevo e seguro.

Também usufruo uma ilusão de conforto. Apenas durmo. Distraída e aliviada por evasões clandestinas que meus guardiões provavelmente conhecem e toleram. Sobrevivo. Mas não pense que é fácil. Às vezes participo de certezas dolorosas bastante convincentes. E terríveis. Assustadoramente reais. Antes, quando me recuperava do trauma e as conexões ainda pareciam ingovernáveis, gostava daquilo. E, quer saber? Algumas torturas podiam ser libertadoras. Deliciosas. Ah, a adorável intransigência da carne ferida. A indescritível sensação de vitalidade que o suplício proporcionava.

Depois a dor ficou repetitiva. Alienante, como a atrofia. Quase prefiro que me abandonem desperta, angustiada. Cansei da prostração confortável e passiva. Cansei de não sonhar. Precisavam realmente deixar-me tão alheia a tudo? Entendo. São os tais revolucionários. O exército de cérebros interligados ameaçando a civilização que os criou e desenvolveu. Detesto política, estou bem assim. Usem-me como quiserem. Iludam-se. É tarde para retroceder.

Mas... que barulho foi esse? Um tremor surdo. Um baque, um estampido, não sei. Lá fora. Janelas, paredes, teto, vibraram de repente. Veio de baixo. E parou.

Silêncio.

Espero. Reviro os olhos. Da rua chega um clarão vermelho. Não é crepúsculo, se esvai. De novo. A explosão. O quarto lateja por segundos. E agora. Mais próximo. Os suportes de soro caíram. Copos, bandejas. As máquinas, num estrondo. Metais. Estilhaços. Uma confusão de alarmes sonoros, por toda parte. Algo espatifa no corredor.

Percebi um vulto. Uma sombra. Passou rápido, ali. É verdade. Voltou. Parece me observar. Sumiu.

Tudo escuro.

Apagaram-se as luzes do prédio. Os barulhos cessaram. Treva absoluta. Rumores imprecisos. Arranhões sutis, remexendo ao redor. Minha respiração atrapalha. Prendo o ar. Tento ouvir. Nenhum movimento. Noite opressa. Calor. Pulsações aceleradas.

Um estalo.

A porta. Abrem a porta. Há alguém no quarto. Posso ouvir seus passos. Senti-los. Vibram. Cadenciados. Rascam devagar sobre os cacos. Aproximam-se. Ao pé da cama. Ao meu lado. Aqui.

É um travesseiro. Deita seu perfume gelado em meu rosto. Macio. Delicado.

- Filha, por favor, continue dormindo.
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GUILHERME SCALZILLI é historiador e escritor. Autor do romance Crisálida (Casa Amarela), entre outros livros. Vive em Campinas (SP).

Fontes: Rascunho Imagem = http://alzheimers.about.com/od/caregivers/ig/Brain-Changes-in-Alzheimer-s/cerebral_cortex.htm