terça-feira, 15 de novembro de 2011

Reinaldo Pimenta (Origem das Palavras 2)


A DAR COM UM PAU
Avoantes são aves que vêm, em grandes bandos, da África para o Brasil e
pousam em algumas regiões do Nordeste para desova. Exaustas e famintas, são mortas, aos milhares, pelos sertanejos, a pauladas. Daí veio a expressão a dar com um pau com o sentido de em grande quantidade.

ADEUS
Adeus em português, adjós em espanhol, adieu em francês,addio em italiano, todas essas palavras têm a mesma origem: é o que restou de uma frase como entrego-te a Deus, recomendo- te a Deus ou algo parecido.
Em inglês, goodbye é a forma reduzida de God be with ye (Deus esteja contigo). God virou good por analogia com as expressões good day e good night.

ADVOGADO DO DIABO
É o encarregado de apresentar objeções e dificuldades a uma tese. A expressão veio do direito eclesiástico: nos processos de canonização, ele é o Promotor da Fé, incumbido de apontar os defeitos e as fraquezas de quem se pretende santificar. Em latim, havia as figuras doadvocatus diaboli e do seu oponente, oadvocatus dei (advogado de Deus). Maledicentes afirmam que a expressão está caindo em desuso porque o profissional e o cliente se confundem cada vez mais.

AGORA INÊS É MORTA
Portugal, 1340. D. Pedro, o filho do rei Afonso IV, se casa, por arranjo político, com D. Constança, uma nobre senhora de Castela. Ao se mudar para a corte portuguesa, a feinha e ingênua D. Constança, coitada, leva consigo uma dama lindíssima, filha de um fidalgo galego, chamada Inês de Castro, por quem, é claro, o infante D. Pedro vai se apaixonar perdidamente. Com a morte prematura de D. Constança, a tolinha, D. Pedro se casa clandestinamente com Inês. O casal tem três filhos. Influenciado por seus conselheiros, o rei D. Afonso IV decide mandar executar Inês de Castro, temeroso de que, uma vez morto, Inês se torne rainha de Portugal e, assim, passe a favorecer seus familiares da fidalguia galega em prejuízo da nobreza lusitana. No dia 7 de janeiro de 1355, no Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra, num local hoje conhecido como "Quinta das Lágrimas", Inês é degolada.
Quando D. Pedro sobe ao trono português em 1357 como D. Pedro 1, manda executar os assassinos de Inês de Castro. Em 1361, o serem trasladados, de Coimbra para o Mosteiro de Alcobaça, s restos mortais de Inês, D. Pedro 1 coroa o cadáver de Inês como rainha.
Hoje, no transepto desse mosteiro, estão os túmulos dos dois amantes. Na tampa do sepulcro de Inês, vê-se esculpida sua figura angelical, com a coroa de rainha. Muito mais que um fato político, o episódio se celebrizou como uma trágica história de amor, genialmente narrada por Camões em "Os lusíadas". E a expressão agora Inês é morta ficou consagrada para exprimir qualquer ação tardia e de resultado inútil.

Fonte:
PIMENTA, Reinaldo. A casa da mãe Joana 2. RJ: Elsevier, 2004

Ialmar Pio Schneider (Soneto)


Os versos que escrevi me trazem, hoje,
à lembrança, aventuras que sonhei,
mas vivo a presenciar que o tempo foge
e aquelas metas nunca realizei…

Posso dizer que alguém eu muito amei,
e sem usar a culta metagoge,
deva esquecê-la… como poderei?
para que deste carma me despoje?!

Mas as minhas poesias ´stão aí
e formam os momentos que vivi,
sempre cantando tristes madrigais…

Se algumas penas sofro nesta vida,
são o produto da missão cumprida,
procurando no amor meus ideais !
***

Publicado no Almanaque Gaúcho da Zero Hora de 15 de novembro de 2011 - pág. 38

Fonte:
Soneto enviado pelo autor

Conto Popular Celta (A História da Caveira)


Era uma vez um granjeiro que tinha apenas um filho. Este filho morreu e o pai não quis ir ao enterro porque antes houve uma briga entre eles. Passado um tempo, morreu um vizinho e ele foi ao seu enterro. Depois da cerimônia e ainda estando o granjeiro no cemitério, olhando distraído ao redor viu uma caveira.

Juntou-a e disse, pensativo:

- Gostaria de saber alguma coisa sobre ti...

E a caveira falou:

- Amanhã irei passar a noite contigo, se vieres passar outra noite comigo.

-Assim farei - disse o granjeiro.

No caminho de volta, encontrou um sacerdote e comentou o que tinha ocorrido. O sacerdote lhe disse que deveria ter sonhado, posto que as caveiras não falam.

O granjeiro lhe contou que na noite seguinte seria visitado pela caveira, e o sacerdote concordou em ir.

Assim, na noite seguinte, estavam o granjeiro e o sacerdote conversando quando, em seguida, chamaram à porta e apareceu a caveira. Ela subiu à mesa e comeu tudo que nela havia. Depois, saiu e desapareceu.

- Por que não falaste nada? inquiriu o granjeiro ao sacerdote.

-Por que TU não falaste?. respondeu o outro.

Na noite seguinte, como dia combinado com a caveira, o granjeiro foi até o cemitério e, não vendo nada, desceu os três degraus que estavam junto à Igreja.

De pronto se encontrou no meio de um campo, cheio de homens que lutavam entre si. Ao ver o granjeiro, perguntaram-lhe se procurava o crânio. Ao assentir, eles disseram:

- Acaba de ir para o campo ao lado.

No outro campo viu homens e mulheres que lutavam entre si. - Estás procurando um crânio? - perguntaram. Pois bem, acaba se ir ao campo do lado.

O granjeiro se foi ao campo do lado e viu uma grande casa. Ao entrar viu que era a habitação de uma dama e uma criada. A dama caminhava de um lado a outro da casa, e cada vez que chegava perto do fogo para se aquecer, a criada a empurrava. Também lhe perguntaram se buscava um crânio e que se era isso, que saira pela porta esquerda da casa e por ali saiu o granjeiro.

Ao entrar na casa contígua, encontrou a caveira e esta lhe perguntou se queria cear, com o que assentiu o granjeiro. A caveira o conduziu a cozinha onde estavam três mulheres. A caveira pediu a uma delas que servisse a ceia, e esta serviu pão preto e uma jarra d’água, o que ele não conseguiu comer. Em seguida pediu à segunda mulher que fizesse o mesmo, e ela serviu pior ao granjeiro do que a primeira. Por fim a caveira pediu à terceira mulher, e esta serviu uma deliciosa refeição, com uma profusão de pratos e excelentes vinhos.

Depois de comer, perguntou ao crânio o que tinha sido aquilo.

- Os homens que viste no primeiro campo se dedicavam a lutar entre si enquanto estavam vivos, porque tinham terras próximas e se acostumavam a mover as estacas e agora precisam lutar entre si para sempre. Os homens e mulheres que viste eram casais casados que viviam a brigar e agora devem seguir eternamente em brigas. A senhora que viste na casa e que a criada não deixava se aquecer fez o mesmo com a criada, que um dia chegou molhada e com frio, e agora a criada faz o mesmo com ela, até o dia do Juízo Final. As três mulheres na cozinha foram minhas três esposas. Quando pedia à primeira que me preparasse a ceia, me oferecia pão preto e água, a segunda ainda coisa pior mas a terceira me servia o banquete que ceiaste.

A caveira então olhou lugubremente o lavrador e disse:

-E quanto a ti, foste trazido a este lugar por não querer ir ao funeral do teu filho, apesar de teres ido ao de um vizinho. Assim, sugiro que, se queres te salvar, vá onde enterraram teu filho e pede-lhe perdão e, caso o obtenhas, saiba que desde o dia que saíste de casa até chegar aqui se passaram 700 anos.

O lavrador ficou petrificado e, como despertando de um sonho, se viu caminhando pelos campos, por lugares que antes ele havia passado mas que haviam mudado de forma pelo tempo transcorrido. Ao fim chegou ao cemitério e conseguiu localizar a tumba do filho . Ali se ajoelhou e pediu perdão. O perdão a seu filho.

Por fim surgiu uma mão da tumba, que tomou a sua e ambos, pai e filho, subiram juntos ao céu.

Fonte:
Jô Andrada (seleção). Contos Populares do Mundo.

Virgílio Nascimento das Dores (Vida, Prosa e Versos)

Pintura de J.P. Martins Barata
Quisera eu ser um mero poeta, um romancista,
E descrever a beleza da vida em versos de amor,
Citar a grandeza do universo de forma realista,
Enaltecer em prosa o brilho do sol e teu calor!

Pudera eu fazer da vida uma eterna poesia,
Narrando a arte de viver em estrofe de alegria,
Fazendo de cada frase um momento de fantasia,
Mostrando a paixão, despertando a tua alegria!

Se eu pudesse transformar a vida em um soneto,
Duas quadras de amor e dois tercetos de ilusão,
Realizando um sonho de um mundo de sedução!

E se pudesse eu fazer da vida uma peça teatral,
De um povo feliz vagando em torno do universo,
Uma história lenda contada em prosa e verso!

Fonte:
Soneto enviado pelo autor

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) O Sítio do Picapau Amarelo XI – A Rainha


Enquanto isso se passava no capoeirão dos Tucanos Vermelhos, lá no palácio das Abelhas a menina dizia ao ouvido da boneca:

— Já reparou, Emília, como é bem arrumado este reino? Uma verdadeira maravilha de ordem, economia e inteligência! Estive no quarto das crianças. Que gracinha! Cada qual no seu berço de cera, com pernas e braços cruzados, todas tão alvas, dormindo aquele sono gostoso... O que admiro é como as abelhas sabem aproveitar tudo de modo que a colméia funcione como se fosse um relógio. Ah, se no nosso reino também fosse assim... Aqui não há pobres nem ricos. Não se vê um aleijado, um cego, um tuberculoso. Todos trabalham, felizes e contentes.

— Isso não! — contestou a boneca. — O besouro é aleijado e pede esmolas.

— Besouro não é abelha, boba. Estou falando das abelhas.

— E quem manda aqui? Quem é o delegado? – perguntou Emília.

— Ninguém manda — e é isso o mais curioso. — Ninguém manda e todos obedecem.

— Não pode ser! — exclamou a boneca. — Quem manda há de ser a rainha. Vou perguntar. e chamou uma abelha que ia passando.

— Faça o favor, senhora abelhinha, de nos dar uma informação. Quem é, afinal de contas, que manda neste reino? A rainha?”

— Não senhora! — respondeu a abelha. — Nós não temos governo, porque não precisamos de governo. Cada qual nasce com o governo dentro de si, sabendo perfeitamente o que deve e o que não deve fazer. Nesse ponto somos perfeitas.

Narizinho ficou admirada daquelas idéias, e viu que era assim mesmo. “Que pena que também não seja assim na humanidade!”

— De manhã saímos todas — continuou a abelha — cada uma para o seu lado, a fim de recolher o mel das flores e o pólen. É disso que nos alimentamos. Depois guardamos o mel nos favos. Se há consertos a fazer, qualquer uma de nós os faz sem que seja preciso ordem. Se a menina passasse uns tempos aqui havia de gostar tanto que depois não mais se ajeitaria no reino dos homens.

— Mas a rainha? — perguntou a menina. — Estou cansada de esperar pela hora de conhecer essa grande dama. Deve ser linda, linda!...

A abelha continuou:

— Pensa que a nossa rainha é alguma dama emproada como as rainhas dos homens? Nada disso. Nem rainha é! Os homens é que lhe chamam assim. Para nós não passa de mãe. Todas somos filhinhas dela — todas, todas! E rodeamo-la de comodidades e carinhos, sem nunca lhe darmos o menor desgosto. Olhe, menina, lá no reino dos homens costumam falar muito em felicidade, mas fique certa de que felicidade só aqui. Cada uma de nós é feliz porque todas somos felizes. Lá não sei como pode alguém ser feliz sabendo que há tantos infelizes em redor de si!

Narizinho e Emília ficaram tristes. Que pena serem gente e não poderem transformar-se em abelhas para morar numa colméia daquelas, toda a vida ocupadas num trabalhão tão lindo como esse de recolher o mel e o pólen das flores...

— Mas a rainha, a rainha! — insistiu a menina. — Quero ser apresentada à rainha!

— Pois vamos lá — respondeu a abelha. — Sigam-me.

Foram. Depois de atravessarem vários compartimentos, chegaram aos cômodos reais. Lá estava Sua Majestade num trono de cera, conversando com vários zangões emproados e orgulhosos (pelo menos assim pareceu à menina).

— Bem-vinda seja! — saudou a rainha numa doce voz maternal. — Tem gostado da nossa colméia?

— Muito, Majestade! É o reino mais bem arrumadinho de quantos vi até agora. Estou positivamente encantada!

— O meu reino é assim — explicou a rainha — porque não é reino nenhum, mas uma grande família onde a boa mãe geral vive rodeada de todos os seus filhos. Já percorreu a colméia inteira?

— Já vi parte e tenho gostado de tudo, menos da cara desses senhores zangões, que me parecem emproados e orgulhosos...

— É que estão a me fazer a corte. Todos os anos escolho um dentre eles para marido, e os outros...

— Já sei! Os outros casam-se com as outras abelhas. A rainha sorriu.

— Não, menina! Os outros são condenados à morte e executados...

— Quê? — exclamou Narizinho horrorizada. — Acho que isso constitui uma crueldade, verdadeira mancha negra na organização das abelhas.

— Parece, menina. Mas é o jeito. Como não sabem trabalhar e a natureza os fez unicamente para serem esposos da rainha, as abelhas não têm a menor consideração com eles depois que a rainha elege um para esposo. Trucidam-nos e lançam os cadáveres para fora da colméia. Estas minhas filhas acham que o sentimentalismo não dá bom resultado em matéria de organização social.

Narizinho, cada vez mais admirada da inteligência da rainha, murmurou ao ouvido da boneca: “Vê, Emília? Isto é que é falar bem! Até parece aquele filósofo que vovó às vezes lê, o tal Rou... Rousseau, creio.”

Nisto um trrriin, trrriin, de esporas ressoou perto. Voltaram-se todos. Era Tom Mix que entrava. O cowboy correu os olhos pela sala. Logo que deu com a menina, dirigiu-se para ela.

— Recebi o recado, princesa, e aqui estou às vossas ordens!

— Que fim levou o marquês? — perguntou a menina com ansiedade, pois nada sabia do que se passara. — Está vivo ainda ou...

— Vivíssimo, senhora princesa! A estas horas já deve de estar atacando a segunda abóbora...

— Muito bem! — exclamou Narizinho, aliviada dum grande peso. — Quero agora, senhor Tom Mix, que me arranje uns burrinhos de carga para levar um pouco de mel e cera para vovó.

Tom Mix retirou-se para cumprir a ordem, enquanto a menina se dirigia de novo à rainha.

— Senhora rainha, poderá Vossa Majestade dar ordem à sua cozinheira para me oferecer um tostão de mel?

— Darei o mel e a cera que quiser — respondeu a rainha sorrindo; — quanto ao tostão, guarde-o para você, que aqui entre nós não tem o menor valor o dinheiro dos homens. Ali, naquela sala dos favos, é o depósito de mel. Vá lá e tire quanto quiser.

A menina agradeceu a gentileza e retirou-se para a tal sala com a boneca.

Tudo tão bem arrumado! Potinhos de cera cheios de mel em quantidade, todos iguais, com tampinhas também de cera.

— Querem mel? — perguntou logo uma abelha de avental muito limpa que tomava conta daquela repartição.

— Queremos, sim, senhora! Mel e cera.

— De que qualidade?

— Há de muitas qualidades?

— Temos aqui mel de flores de laranjeira, mel de flores de jabuticabeira lá do sítio de dona Benta e temos o mel mil-flores, colhido de todas as flores do campo.

— Dê-me de flores de jabuticabeira — resolveu logo Narizinho.

— E também um quilinho de cera bem branca, para tia Nastácia.

— Quem leva é aqui a sua criada? — perguntou a abelha indicando a boneca, enquanto fazia os pacotes.

Emília abespinhou-se toda, já vermelhinha de cólera. Mas a menina salvou a situação.

— Esta senhora não é minha criada e sim a Excelentíssima Senhora Condessa da Perna Vazia, futura Marquesa de Rabicó.

A abelhinha pediu mil desculpas, e ainda estava pedindo desculpas quando a entrada de Tom Mix à frente duma tropa de grilos arreados de cangalhas e ancorotes próprios para conduzir mel a interrompeu. Tom descarregou os ancorotes e esperou que a abelha meleira os enchesse. Depois os colocou de novo sobre as cangalhas e pediu instruções.

— Espere-me no portão do palácio com os cavalinhos prontos que também já vamos — ordenou-lhe a menina.
––––––––
Continua... A Volta

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Cruz e Souza (O Livro Derradeiro) Parte XVIII


QUANDO ESTÁS DE LAÇAROTES

Quando estás de laçarotes
E de plissês e fichus,
De rendas e de decotes,
Quando estás de laçarotes,
Toilette de chamalotes,
Quanto esplendor, quanta luz,
Quando estás de laçarotes
E de plissês e fichus.

DA IDÉIA NOS MARES JÔNIOS

Da idéia nos mares jônios
A barca das tuas cismas
Soprada por bons favônios
Da idéia nos mares jônios,
A rapariga -- um rainúnculo,
Da bruma pelos países
Da luz e da glória em suma,
Vai livre dos maus demônios,
Batida da luz dos prismas,
Da idéia nos mares jônios
A barca das tuas cismas.

COMO UM ASSOMBRO DE ASSOMBROS

-- Como um assombro de assombros
Da serra pelos escombros
Como um assombro de assombros,
Quando vê de enxada aos ombros
O noivo -- lembra um carbúnculo,
Como um assombro de assombros
A rapariga -- um rainúnculo.

COMO FORTES GARGALHADAS

-- Como fortes gargalhadas
Por um templo de cristal,
Sonoramente vibradas,
Como fortes gargalhadas,
Sinto idéias baralhadas
N’um frágil descomunal
Como fortes gargalhadas
Por um templo de cristal.

PELOS PAÍSES DA BRUMA

Pelos países da bruma,
Longe dos astros felizes,
Da bruma pelos países,
Tu vais perdendo os matizes
Da bruma pelos países,
Pelos países da bruma.

FRÊMITOS

I

Ó pombas luminosas
Que passais neste mundo eternamente
Só a cantar os madrigais de rosas,
Atravessados de um luar veemente,
Inundados de estrelas e esplendores,
De carinhos, de bênçãos e de amores.

II

Ó virgens peregrinas,
De meigo olhar banhado de esperanças,
Que perfumais com lírios e boninas
Que atravessais constantemente a vida
Do sol eterno, da visão florida.

III

Amadas e felizes
Coroadas de flor de laranjeira,
De vós que o sonho eterno dulcifica,
Que vivem, morrem suportando abrolhos,
Oh, sim que a força eterna
Gêmeas da luz das frescas alvoradas,
Vós que trazeis nas almas as raízes
Do que é são, do que é puro -- ó vós amadas
Prendas gentis do paternal tesouro,
Iriados corações de fluidos de ouro.

IV

É para vós que eu quero
Engrinaldar de tropos e de rimas,
Num doce verso artístico e sincero,
Esgrimir com belíssimas esgrimas
A estrofe e dar-lhe os golpes mais seguros
Para que brilhe como uns astros puros.

V

É só a vós, apenas,
Que eu me dirijo, límpidas auroras,
Que pelas tardes plácidas, serenas,
Passais, galantes como ingênuas Floras,
Noivas, sorrindo à mocidade inteira.

VI

Porque é de vós que deve,
Partir o lume quando cai a neve,
Surgir a crença poderosa e rica.
Porque afinal, o que se chama crença,
Senão o amor e a caridade imensa?

VII

Os tristes e os pequenos
Em quem descansam brandamente os olhos,
Esses humildes, rotos Nazarenos
Senão nos grandes entes piedosos
Que dão-lhes força aos transes dolorosos?

VIII

Parte dos corpos rijos da saúde,
Perante a lei da vida que governa,
O nobre, o rei, o proletário rude;
Parte dos seres fartos de carinhos
Como de paz e de alegria os ninhos.

IX

Eu peço para todos
E peço a vós que sois as fortalezas
Da esperança, da fé -- a vós que os lodos
Da miséria, do vício, das baixezas,
Não denegriram essas consciências
Castas e brancas como as inocências.

X

Nem se esperar devia
Que eu tentasse bater a outras portas,
Quando vós sois o exemplo de Maria;
Não andais mudas, regeladas, mortas
Pela noite voraz da sepultura
E escutareis os dramas da amargura.

XI

Não julgueis que eu vos peça,
Uma alvorada feita de um sorriso;
A minh'alma garante e vos confessa
Que se crê nas mansões do Paraíso,
É porque vós reinais por sobre a terra
E o Paraíso dentro em vós se encerra.

XII

A vós, a vós compete
A glória do dever -- porque assim como
A luz do sol na lua se reflete,
Também das aflições no duro assomo,
Da pobreza refletem-se nas almas,
Vossas imagens, como auroras calmas.

XIII

Portanto, a mocidade
Vossa, terá de ser de hoje em diante,
Enquanto a esmagadora atrocidade
Da peste -- nos vorar d’instante a instante,
Quem se há-de encarregar desta manobra
Do galeão da vida que sossobra.

XIV

E para isso, ó rainhas
Da juventude -- tendes as quermesses
Que dão bons frutos assim como as vinhas;
As matinées de cânticos e preces,
Os cintilantes, pródigos bazares
Onde a luz salta extravasando em mares.

XV

Enquanto a mim, na arena
Da heroicidade humana que consola,
Oh, faz-me bem a vibração da pena,
Pelo amor, pelo afago, pela esmola,
Como um radiante e fulgido estilhaço
De sol febril no mármore do Espaço!

Fonte:
Cruz e Sousa, Poesia Completa, org. de Zahidé Muzart, Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura / Fundação Banco do Brasil, 1993.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Trova Ecológica 45 - Élbea Priscila de Sousa e Silva (SP)

Carlos Drummond de Andrade (O Poeta Singrando Horizontes XI)


AULA DE PORTUGUÊS

A linguagem
na ponta da língua
tão fácil de falar
e de entender. A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, equipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, mistério.

AOS NAMORADOS DO BRASIL

Dai-me, Senhor, assistência técnica
para eu falar aos namorados do Brasil.
Será que namorado escuta alguém?
Adianta falar a namorados?
E será que tenho coisas a dizer-lhes
que eles não saibam, eles que transformam
a sabedoria universal em divino esquecimento?
Adianta-lhes, Senhor, saber alguma coisa,
quando perdem os olhos
para toda paisagem,
perdem os ouvidos
para toda melodia
e só vêem, só escutam
melodia e paisagem de sua própria fabricação?
Cegos, surdos, mudos - felizes! - são os namorados
enquanto namorados. Antes, depois
são gente como a gente, no pedestre dia-a-dia.
Mas quem foi namorado sabe que outra vez
voltará á sublime invalidez
que é signo de perfeição interior.
Namorado é o ser fora do tempo,
fora de obrigação e CPF,
ISS, 1FF, PASEP, INPS.
Os códigos, desarmados, retrocedem
de sua porta, as multas envergonham-se
de alvejá-lo, as guerras, os tratados
internacionais encolhem o rabo
diante dele, em volta dele. O tempo,
afiando sem pausa a sua foice,
espera que o namorado desnamore
para sempre.
Mas nascem todo dia namorados
novos, renovados, inovantes,
e ninguém ganha ou perde esta batalha.
Pois namorar é destino dos humanos,
destino que regula
nossa dor, nossa doação, nosso inferno gozoso.
E quem vive, atenção:
cumpra sua obrigação de namorar,
sob pena de viver apenas na aparência.
De ser o seu cadáver itinerante.
De não ser. De estar, ou nem estar.
O problema, Senhor, é como aprender, como exercer
a arte de namorar, que audiovisual nenhum ensina,
e vai além de toda universidade.
Quem aprendeu não ensina. Quem ensina não sabe.
E o namorado só aprende, sem sentir que aprendeu,
por obra e graça de sua namorada.
A mulher antes e depois da Bíblia
é pois enciclopédia natural
ciência infusa, inconsciente, infensa a testes,
fulgurante no simples manifestar-se, chegado o momento.
Há que aprender com as mulheres
as finezas finíssimas do namoro.
O homem nasce ignorante, vive ignorante, às vezes morre
três vezes ignorante de seu coração
e da maneira de usá-lo.
Só a mulher (como explicar?)
entende certas coisas
que não são para entender. São para aspirar
como essência, ou nem assim. Elas aspiram
o segredo do mundo.
Há homens que se cansam depressa de namorar,
outros que são infiéis à namorada.
Pobre de quem não aprendeu direito,
ai de quem nunca estará maduro para aprender,
triste de quem não merecia, não merece namorar.
Pois namorar não é só juntar duas atrações
no velho estilo ou no moderno estilo,
com arrepios, murmúrios, silêncios,
caminhadas, jantares, gravações,
fins de semana, o carro à toda ou a 80,
lancha, piscina, dia-dos-namorados,
foto colorida, filme adoidado,
rápido motel onde os espelhos não guardam beijo e alma de ninguém.
Namorar é o sentido absoluto
que se esconde no gesto muito simples,
não intencional, nunca previsto,
e dá ao gesto a cor do amanhecer,
para ficar durando, perdurando,
som de cristal na concha
ou no infinito.
Namorar é além do beijo e da sintaxe,
não depende de estado ou condição.
Ser duplicado, ser complexo,
que em si mesmo se mira e se desdobra,
o namorado, a namorada
não são aquelas mesmas criaturas
com que cruzamos na rua.
São outras, são estrelas remotíssimas,
fora de qualquer sistema ou situação.
A limitação terrestre, que os persegue,
tenta cobrar (inveja)
o terrível imposto de passagem:
"Depressa! Corre! Vai acabar! Vai fenecer!
Vai corromper-se tudo em flor esmigalhada
na sola dos sapatos..."
Ou senão:
"Desiste! Foge! Esquece! Esquece!"
E os fracos esquecem. Os tímidos desistem.
Fogem os covardes.
Que importa? A cada hora nascem
outros namorados para a novidade
da antiga experiência.
E inauguram cada manhã
(namoramor)
o velho, velho mundo renovado.

ANÚNCIO DA ROSA

Imenso trabalho nos custa a flor.
Por menos de oito contos vendê-la? Nunca.
Primavera não há mais doce, rosa tão meiga
onde abrirá? Não, cavalheiros, sede permeáveis.

Uma só pétala resume auroras e pontilhismos,
sugere estâncias, diz que te amam, beijai a rosa,
ela é sete flores, qual mais fragrante, todas exóticas,
todas histórias, todas catárticas, todas patéticas.

Vêde o caule,
traço indeciso.

Autor da rosa, não me revelo, sou eu, quem sou?
Deus me ajudara, mas ele é neutro, e mesmo duvido
que em outro mundo alguém se curve, filtre a paisagem,
pense uma rosa na pura ausência, no amplo vazio.

Vinde, vinde,
olhai o cálice.

Por preço tão vil mas peça, como direi, aurilavrada,
não, é cruel existir em tempo assim filaucioso,.
Injusto padecer exílio, pequenas cólicas cotidianas,
oferecer-vos alta mercância estelar e sofrer vossa irrisão.

Rosa na roda,
rosa na máquina,
apenas rósea.

Selarei, venda murcha, meu comércio incompreendido,
pois jamais virão pedir-me, eu sei, o que de melhor se compôs na noite,
e não há oito contos. Já não vejo amadores de rosa.
Ó fim do parnasiano, começo da era difícil, a burguesia apodrece.

Aproveitem. A última
rosa desfolha-se.

Carlos Drummond de Andrade (Procura-se um Pai )


O rapaz dirigia seu carro pela Avenida Brasil, rumo ao aeroporto do Galeão, onde ia receber o pai, que voltava do Chile, e eis senão quando...

O resto, imagina-se. Foi naquela noite de fevereiro em que o Rio, mais uma vez, transbordou de seu nome, e a cidade voltou a padecer os desmoronamentos, os desabrigos, as angústias e as mortes injustas de uma enchente. Na rua congestionada, ninguém avançava. Chuva matraqueando, tempo fugindo, todas aquelas pessoas em prisões de lata e vidro, temendo o pior. E o pai que deveria chegar às 20 horas. O pai chegando. O pai chegou? Ele não está familiarizado com esta bagunça em forma de cidade. É idoso. Mora em outro Estado. Como é que o pai sairá desta?

Inútil pensar nessas coisas, porém elas se pensam por si, na cabeça impotente. Nisto se abre, por milagre, um espaço suficiente para manobra, mas em sentido inverso ao do Galeão. O rapaz, menos por iniciativa própria do que por imposição dos motoristas que vinham atrás, aciona o motor, que pega também por milagre. A duras penas, sem saber como, volta para casa. Madrugada alta quando ele chega, mulher e filhos na maior aflição.

- Meu pai?

- Uê, você não trouxe seu pai? Aqui ele não apareceu.

Nem podia aparecer, claro. O Galeão fora do mapa. Que fazer? Os telefones, naturalmente, mudos. O jeito é esperar que a manhã traga serena tranquilidade, com esperança de aeroporto e salvamento. Sem dormir. Quem dorme numa dessas? O rapaz espera os escritórios se abrirem, na manhã ensopada. Corre ao escritório da companhia de aviação:

- Meu pai, o professor X, chegou?

- Bem, o avião chegou, mas sobre seu pai não podemos informar.
- Como não podem? Então sabem que o avião chegou e não sabem quem veio nele?

- É, não sabemos.

De novo, rumo ao Galeão. O trânsito ainda está difícil, porém não impossível. Pelo caminho, trágicos sinais deixados pelo temporal. No Aeroporto, a pergunta continua sem sorte:

- Não sabemos se ele desembarcou ou não.

- E a lista de passageiros?

Não está conosco.

- Está com quem, então?

- Não sabemos.

Um informante, melhor, um desinformante faz ironia:

- Numa sessão espírita, o senhor encontra seu pai.

- Eu só desejo que um dia o senhor se veja na minha situação, para ouvir isto de alguém, e sentir vontade de fazer com ele o que eu sinto vontade de fazer com o senhor.

- Desculpe, eu...

Mas o filho já demandava outro balcão, fazendo a eterna pergunta, e ninguém sabia dizer-lhe onde estava, se é que estava em algum lugar, o pai vindo do Chile. Chile? A palavra soava diferente, como se contivesse não sei que partícula perigosa. As autoridades sabiam tanto quanto a empresa, isto é, nada.

Classificado no Jornal do Brasil: Perdeu-se um pai na Ilha do Governador. Botar também no rádio. Meu pai, meu pai. Como pôde sumir assim? Aconselham-me a ir à Polícia Marítima e Aérea, na Praça Mauá. Mas daqui não saio sem vasculhar todo o Aeroporto. Ali está uma garota de chapeuzinho verde...

Felizmente para as histórias confusas de hoje, existe moça de chapeuzinho verde, fada ou coisa semelhante, que descobre o perdido e, de bonificação, ainda sorri para a gente. O rapaz expõe-lhe o problema do pai. Pela primeira vez alguém ouvia, considerava e buscava resolver o problema. Ela saiu e voltou, com outro sorriso no rostinho de relações-públicas.

- Seu pai chegou sem novidade. O nome dele está na relação de passageiros desembarcados.

- E para onde o levaram, que não aparece

- Para lugar nenhum. Deve ter dormido por aí, até o temporal passar.

- Mas não apareceu em casa.

- A essa hora já deve estar lá. Volte e há de encontrá-lo.

Não é que estava? Calmo, contando à nora e aos netos uma noite em banco de aeroporto, resignado, à espera de o toró passar.

Meu pai! Que susto! Que desinformação! Que alívio! Etc. O rapaz lembrou-se de Londres, onde perdera duas pastas num táxi, com passaporte e tudo, e na manhã seguinte a polícia o chamava para receber de volta os objetos recolhidos por um serviço policial que só não resolve o caso de quem perdeu a memória. Tivera vontade de telegrafar para Londres: Procurem meu pai na enchente aqui no Brasil. Felizmente, repito, a moça de chapeuzinho verde, sozinha, valia tanto quanto a Metropolitan Police.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 395)

Uma Trova de Ademar

Uma Trova Nacional

Chega o inverno. Aumenta o frio,
que eu sinto dentro do peito,
e a solidão e o vazio
resistem sós no meu leito!
–DELCY CANALLES/RS–

Uma Trova Potiguar

O imortal desaparece
desta vida transitória,
mas seu verso permanece
nas letras vivas da história.
JOAMIR MEDEIROS/RN–

Uma Trova Premiada

2011 - ATRN-Natal/RN
Tema: VERTENTE - 4º Lugar

Por tantas vezes perdido
Nas vertentes do destino,
segue em busca de um sentido
o meu sonho peregrino...
–RENATA PACCOLA/SP–

...E Suas Trovas Ficaram

Felicidade consiste
às vezes num quase nada:
- O encanto de um verso triste
vibrando na madrugada...
–ENO TEODORO WANKE/PR–

Simplesmente Poesia

MOTE:
Quero que a morte retarde,
Mas, chegando, seja breve.!

GLOSA:
Não sei bem se sou covarde,
ou tenho alguma coragem,
mas minha fatal viagem
quero que a morte retarde;
ela vindo sem alarde,
juro não lhe fazer greve...
Que a terra me seja leve
e que a hora derradeira
não me venha de carreira,
mas, chegando, seja breve!
JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Estrofe do Dia

Numa meia construção
eu fui trabalhar de meia,
com meia lata de areia
a meio metro do chão,
o dono meio enrolão
e eu também meio tolo
ele me deu meio rolo
com meio metro de linha
nesta construção só tinha
meia pedra e “mei” tijolo.
–MANOEL XUDU/PB–

Soneto do Dia

Ser Tão Sertão
–RACHEL RABELO/PE–

No trajeto vislumbro tais belezas
das paisagens de luz deste sertão,
que são típicas desta região
completando meu ser de sutilezas.

O teu povo traduz as realezas
conquistadas nas artes da paixão,
na poesia que vem do coração
retratando histórias e certezas.

Lá teu sol nasce já metrificado
vem na chuva um canto ritimado
entoando os ensaios da natura;

tua noite tem brilho diferente
que envolve num manto transparente
as sementes da arte e da cultura!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Paraná em Trovas Collection - 3 - Adilson de Paula (Joaquim Távora/PR)

Reinaldo Pimenta (Origem das Palavras I)


À BEÇA
GUMERCINDO BESSA (1889-1913), jornalista e jurista alagoano, foi adversário de Rui Barbosa na Questão Acreana, em que o Estado do Amazonas pretendia incorporar o Território do Acre. Bessa venceu a questão em favor do Acre, apresentando argumentos irrefutáveis e numa quantidade impressionante. Posteriormente, mas não muito, Rodrigues Alves (Presidente do Brasil de 1902 a 1906) diria a um cidadão que lhe apresentava um pedido com justificativas infindáveis: "O senhor tem argumentos à Bessa". A partir daí, popularizou-se a expressão à beça com o sentido de em grande quantidade ou intensidade. Por que os dois esses viraram cê-cedilha? Ninguém sabe.

ABLUÇÃO
Do LATIM ABLUTIONE, LAVAGEM, LIMPEZA, PURIFICAÇÃO, derivado do verboabluere (daí o português abluir), formado deab(prefixo significando afastamento) + lavare (lavar), já que a ablutione afastava a sujeira, no sentido físico e moral. Em português, ablução tem os sentidos de lavagem do corpo (rico não toma banho; faz ablução) e de lavagem (purificação) das mãos pelo sacerdote na missa. E, se você conhece alguém cheirosinho, que tem a estranha compulsão de repetidamente lavar as mãos ou banhar-se, trata-se de um legítimo abluciomaníaco. São pessoas facilmente identificáveis: andam sempre com um sabonete no bolso, fazem campanhas contra o uso do guarda-chuva, afirmam que chafariz é aumentativo de bidê e chamam carro de bombeiro de Jacuzzi ambulante.

ACENTOS
FOI ARISTÓFANES DE BIZÂNCIO (257-180 A.C.), o primeiro bibliotecário da biblioteca de Alexandria, que introduziu os sinais de acentuação e de pontuação no grego, com a intenção de evitar confusão na leitura das palavras e dos textos. Os acentos eram três e foram adotados na língua portuguesa com nomes provenientes do latim. O agudo (do latim acutu, agudo, penetrante) os gregos chamavam deoksútono (estridente; daí oxítono); indicava uma elevação da voz. O grave (do latim grave, pesado, grave) era conhecido pelos gregos como barítono (de voz grave; daí barítono); indicava uma elevação da voz menor que a do acento agudo. O circunflexo (do latimcircunflexu, descrito ao redor) era uma palavra linda em grego (e aqui vai uma boa idéia para o nome do seu próximo filho): perispómeno; indicava que a voz se elevava e se abaixava na mesma sílaba, e seu desenho era o resultado da união, na extremidade superior, do acento agudo com o acento grave, pode olhar.
Quanto a outros sinais, o til (do espanhol tilde, til) é um enezinho posto acima do "a" ou do "o" para indicar sua nasalização; o trema vem do grego trêma, furo, cada um dos pontos do dado (trema é sinônimo de diérese ou ápices e já foi chamado de cimalhas).
Provavelmente algum filho perdido do líder negro Malcolm do mesmo sobrenome. O latim não usava os acentos gregos. Tinha dois sinais gráficos que indicavam a quantidade de uma vogal (átofla ou tônica): a braquia para as vogais breves (ã) e o macro para as longas (â).

ACHADOS E PERDIDOS
Achados e perdidos é uma seção num aeroporto, num prédio à qual você deve dirigir-se para recuperar algo que perdeu naquelas dependências. Inexplicável é a ordem das palavras. Primeiro se acha e depois se perde?! Enquanto no inglês a seqüência é lógica - lost and found -, no português a expressão acabou na contramão. Aqui, algum leitor pode empinar o nariz (todos os leitores têm sempre o direito, logicamente inalienável, de empinar o próprio nariz) e argumentar: ó pobre autor, não há uma ordem cronológica nas palavras; ali simplesmente estão coisas que foram achadas e coisas que foram perdidas. Ah, é? Então como é que uma coisa perdida foi parar na seção de achados e perdidos se ninguém achou? A única hipótese é alguém ter perdido algo na própria seção de achados e perdidos. E agora me diga: alguém perde alguma coisa na seção de achados e perdidos? Só se a pessoa foi lá recuperar algo perdido e lá mesmo perdeu uma segunda coisa.
A propósito de perdas, um dos fenômenos mais intrigantes da humanidade são os misteriosos desaparecimentos dos guarda-chuvas perdidos. Certamente o prezado leitor já perdeu um guarda- chuva e muito provavelmente nunca achou um guarda-chuva perdido. Eu mesmo já perdi vários guarda-chuvas e jamais achei algum. Pois esta é a questão que intriga a humanidade: para onde vão os guarda-chuvas perdidos no nosso planeta?

Fonte:
PIMENTA, Reinaldo. A casa da mãe Joana 2. RJ: Elsevier, 2004

Emiliano Perneta (Ilusão) Parte 2


O ENIGMA

Ao Dr. Clovis Bevilacqua

Cansado de querer decifrar o Mistério,
Cujo limiar tocou, mas sem poder entrar,
Como os sons, como os sons longínquos d’um saltério
Que se fanassem com a Luz crepuscular...

Ei-lo de volta enfim ao seu eremitério,
– Batel que se perdeu um dia pelo mar –
Ei-lo sem o fulgor daquele sonho etéreo,
Que já teve na voz, que já teve no olhar...

Todavia, ele é um deus. Mas, inquieto de tudo,
Que é seu, que ele inventou, do seu esforço mudo,
E da sua altivez estoica de leão,

Anseia para ver no meio da peleja,
Dessa refrega, desse ardor que relampeja,
Se ainda pode iludir a cruel Decepção!...

Dezembro – 1903

SALOMÃO

Ao Adolpho Werneck

Tudo o meu coração tem do rei Salomão,
A glória, e o furor, o orgulho, e a crueldade;
Não ambiciona dez, nem cem, nem um milhão,
Mas a terra, e o mar, o céu, e a infinidade...

Em tudo se parece, em tudo é seu irmão,
O mesmo luxo até, a mesma vaidade,
O mesmo fausto ideal, como asas de pavão,
E esse requinte, enfim, essa ferocidade...

Quando soará, porém, a hora maravilhosa,
Em que do alto de uma torre cor de rosa,
Novo rei Salomão, ele, um dia, verá,

Entre poeira e sol, ao longe, a caravana,
Onde em meio d’um régio esplendor, que se ufana,
Fulge o diadema da rainha de Sabá?

Fevereiro – 1906

NO TRONCO D’UMA ÁRVORE

Ao Mario de Barros

Foi num começo esplêndido d’outono,
Quando cheguei. A mata era um gorjeio,
Era um sussurro, languidez e sono,
E um corpo nu, e um perfumado seio.

E que gesto mais lindo de abandono,
Que abraços loucos, e que doido anseio,
Quando me vi perdido aqui no meio
Desta folhagem alta como um trono!

Hoje, anda em guerra o sol como um deus Marte,
É que eu me vou, é que eu me vou embora...
E que fel tão amargo de deixar-te,

Ó Natureza, ó rústica sonora,
Virgem de pés descalços e sem arte,
Que eu como um fauno deflorei agora!

Sítio dos Pinhais, 11 de dezembro de 1909

VENCIDOS

Nós ficaremos, como os menestréis da rua,
Uns infames reais, mendigos por incúria,
Agoureiros da Treva, adivinhos da Lua,
Desferindo ao luar cantigas de penúria?

Nossa cantiga irá conduzir-nos à tua
Maldição, ó Roland?… E, mortos pela injúria,
Mortos, bem mortos, e, mudos, a fronte nua,
Dormiremos ouvindo uma estranha lamúria?

Seja. Os grandes um dia hão de cair de bruço...
Hão de os grandes rolar dos palácios infectos!
E glória à fome dos vermes concupiscentes!

Embora, nós também, nós, num rouco soluço,
Corda a corda, o violão dos nervos inquietos
Partamos! inquietando as estrelas dormentes!

OVÍDIO

O exílio foi cruel e aspérrimo, de fome.
Foi o tédio brutal, a miséria. Curtiste
Toda espécie de fel, o horror que não tem nome,
E ninguém acabou mais feio nem mais triste.

Homem algum jamais sentiu, como sentiste,
Ovídio, ó coração que a cólera consome,
Quão perigoso enfim é ter esse renome,
A glória, que é a ilusão mais louca que inda existe.

Mas, que importa afinal! A mocidade toda,
Quando entravas no Circo, ó Mestre, quase doida,
Recitava de cor a tua arte de amor...

E o orgulho de beijar, que nem o exílio doma,
O corpo mais gentil do lupanar de Roma,
Júlia, e basta, Nasão, filha do Imperador!...

1905

VEIO

Di-lo tanto fulgor maravilhoso, di-lo
Este clarim de sol rubro do meu anseio,
Este verde de mar, como um sono tranquilo,
Este límpido céu azul, como um gorjeio,

Alto, bem alto, assim, para que eu possa ouvi-lo,
Que ela, vencendo o mar, transpondo o serro, veio,
Todo cheirando, em flor, o perfumado seio,
Bela, sonora, ideal, como a Vênus de Milo...

Fosse vaidade ou amor, desespero ou ciúme,
Que a trouxessem aqui, como um leve perfume,
Ou fossem, ai de mim! raivas e temporais,

Veio, mas com a graça e a própria luz do dia...
Ó prazer que me faz soluçar de alegria,
E respirar, e crer nos deuses imortais!

DESDE QUE COMECEI...

Desde que comecei a te olhar, de tal modo,
Com tal encanto, com tal êxtase sorri,
Que tudo que eu amei, mas doido, como um doido,
Este Símbolo até por quem me debati,

Versos, orgulhos vãos, lá no alto, com denodo,
Pompas imperiais, (mal os teus olhos vi,)
Como flores, assim, das minhas mãos, eu todo
Enlevado, deixei cair ao pé de Ti!

Mas que esperar enfim? Mais lindo do que um sonho
Tudo que é teu reluz, magnífico, risonho,
Com palmas, com florões, com Torres de Marfim...

És um manto real, o fausto d’um Castelo,
A Ilusão, o Fulgor misterioso e belo...
És tudo, meu amor! E hás de olhar para mim?...

1904

NÃO É SÓ TE QUERER...

Não é só, não é só te querer, porém tudo
Que é teu, ó girassol girando sobre mim,
Com sorrisos onde há seduções de veludo,
Atrações de luar e vozes d’um jardim...

Sonho que me faz mal, tortura onde me iludo,
Cruel inquietação, ânsia que não tem fim,
Ó delírio de ver palácios com escudo,
Reinos antigos com torreões de marfim!

Gestos lindos e vãos do que já foi, querida,
Graça do que findou, essência e flor da vida,
Origens afinal secretas do teu eu...

Quem me dera beijar tudo isso que me alegra,
No meio da nudez desse infinito Céu,
Desse Ródano Azul, dessa Floresta Negra!

Novembro – 1903

POSTO QUE JÁ...

Posto que já esse frescor, e esse
Brilho com que uma vez me seduziste,
Não fuljam tanto, a primavera existe,
E inda canta, e inda sonha, e inda floresce...

Tua beleza é um mármor que resiste
À dureza dos anos, e parece
Até que quanto mais ela envelhece,
Mais se enobrece, embora um pouco triste...

Nada perdeste, a palidez que tinhas,
Esse aspecto, e essa graça quase fátua,
E aquele gesto teu que é o de rainhas...

Bela do mesmo modo ainda tu és,
Ó estátua de Milo, antiga estátua,
Que tanto orgulho tens calcado aos pés!

Junho – 1904

DONZELAS

Donzelas que passais com esse gesto ameno,
E a doce palidez enfim d’uma cecém,
Em vão esse ar é grave, e esse aspecto é sereno,
Não me olheis, não me olheis, que não vos quero bem.

Sulamitas gracis e de rosto moreno,
E claras como a luz, e cheias de desdém,
Tendes perfume, sei, mas não tendes veneno,
Sois muito lindas, sois, não vos quero porém...

Lírios do campo com figura de mulher,
A minha decadência é um fruto caprichoso
Desta época sem luz que não sabe o que quer,

Não sabe nada; mas, ó candidez ideal,
Eu não posso querer senão o Monstruoso,
E o bem Maravilhoso, e o bem Fenomenal!

Janeiro – 1904

Fonte:
Emiliano Perneta. Ilusão e outros poemas. Re-edição Virtual. Revista e atualizada por Ivan Justen Santana. Curitiba: 2011

Conto Popular Palestino (O Caçador)


Era uma vez um homem quem era caçador, e seu nome era Caçador, também. Um dia, ele estava caçando quando encontrou um cervo. Quando mirou no animal, o cervo desapareceu. Ele mirou novamente e de repente o cervo se transformou num homem. Caçador ficou apavorado. O homem chegou perto dele e disse: "Por que você sempre caça cervos e pássaros? Você não sabe que eles têm um dono?" "Eu tenho que alimentar minha família, e esta é sua única forma", replicou Caçador.

"Qual o tamanho de sua família?" Perguntou o homem. "Dois meninos, uma menina, minha mulher e eu", respondeu Caçador, "e isso é o que nos mantêm vivos".

"Bem", disse o homem, "se eu lhe der dinheiro, você pára com isso?" "É claro", disse Caçador, "assim que eu tiver dinheiro, nunca mais caçarei". Neste momento, o homem pegou cinqüenta dinares e deu-os a Caçador. "Antes que você vá, qual é seu nome?" o homem perguntou. "Sou Caçador, e você?" disse Caçador.

"Chamo-me Abdala", respondeu o homem, "e eu tenho uma família, como você".

Caçador chegou em casa, limpou sua arma e encostou-a na parede. Ele disse a sua mulher que nunca mais iria caçar e que Deus lhe tinha dado uma fonte de dinheiro. Porém, não muito depois, o dinheiro acabou, e Caçador pegou novamente sua arma e saiu para caçar. Quando ele chegou na mata, encontrou o cervo no mesmo lugar e na mesma hora. Ele mirou, e imediatamente o animal transformou-se em Abdala. "Não tínhamos um acordo?" perguntou Abdala. "Mas o dinheiro acabou", disse Caçador, "e nós quase morremos de fome". "Você vê aquela rocha?" disse Abdala, "Sempre que você precisar de mim, apenas vá até ela e diga 'Ó irmão Abdala', e virei imediatamente." Então ele deu ao caçador outros cinqüenta dinares.

Caçador voltou feliz para casa. Quando ele deu o dinheiro a sua esposa, ela exigiu saber onde ele o tinha conseguido. Ele disse que tinha encontrado um amigo que lhe prometera ajuda todas as vezes que necessitasse; Caçador somente tinha que ir à rocha e chamá-lo. "Você é um homem pão-duro!" disse a esposa de Caçador, "Você deveria convidá-lo a vir a nossa casa, nós poderíamos comer juntos e reforçar essa amizade." Então Caçador voltou a rocha e chamou Abdala.

Após se desculpar por não convidá-lo, Abdala insistiu para que primeiro a família de Caçador fosse a sua casa. Após combinarem para às oito da manhã, Caçador voltou para casa para contar à esposa as novidades.

Caçador e sua família compraram um presente e se dirigiram à rocha com as crianças. Quando eles lá chegaram, encontraram Abdala e sua família esperando.

Cada um da família Abdala deu boas-vindas a um membro da família Caçador e eles sacudiram as mãos. Num piscar de olhos, eles estavam num mundo diferente.
A família Abdala preparou um banquete e convidou todos os vizinhos que trouxeram presentes e dinheiro para Caçador e sua família. Após ficarem algum tempo, Caçador e sua família juntaram os presentes e o dinheiro e foram para casa. Eles tinham dinheiro suficiente para construir uma boa casa. Poucos meses depois, num feriado, Caçador foi visitar seu amigo. Quando Abdala apareceu, ele segurou a mão de Caçador e num piscar de olhos, eles estavam um lugar diferente.

Abdala deu mil dinares a Caçador.

Caçador pegou o dinheiro e foi para casa. Sua esposa disse que eles tinham o suficiente para casar seu filho mais velho. Eles encontraram uma boa garota para ele e marcaram a data do casamento. É claro que Caçador convidou Abdala e sua família. Abdala disse a Caçador que preparasse uma sala separado para ele e outras vinte pessoas e não deixar ninguém se aproximar deles. No dia do casamento, todos da cidade foram convidados e Caçador fez o que Abdala pediu.

As pessoas podiam ver Caçador entrar na sala separada com bandejas cheias e sair com elas vazias, sem no entanto poderem ver o que estava lá dentro.

Após todos irem embora, Abdala perguntou a Caçador se eles poderiam dar o presente da noiva, e cada um deu um linda jóia. Antes de Abdala ir, ele disse a Caçador que todos estavam convidados para sua casa a semana toda.

Uma dupla de ladrões da cidade sabiam onde a noiva tinha colocado sua caixa de jóias, então entraram na casa e levaram. Quando Caçador e sua família voltaram para casa, descobriram o roubo. Todos os Caçadores pediram ajuda a Abdala, que os confortou e lhes disse que abrissem novamente a caixa das jóias. Eles encontraram o dobro de jóias que havia inicialmente. Abdala virou-se para Caçador e disse: "Na próxima vez, meu irmão, quando você for nos visitar, nós protegeremos sua casa".

Fonte:
Jô Andrada (seleção). Contos Populares do Mundo.

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) O Sítio do Picapau Amarelo - X – Saudades

Já estava cheio o palácio, não só de personagens do reino das Abelhas como de muitos outros reinos, inclusive o das Águas Claras.

Narizinho correu os olhos em procura dalgum conhecido. Viu logo o Major Agarra.

— Viva, Major! — exclamou, dirigindo-se a ele alegremente. — Como vão todos por lá?

Antes de dar notícias, o sapo demonstrou mais uma vez a sua gratidão pelo que a menina lhe havia feito, desculpando-se também de não ter aparecido no sítio de dona Benta, como prometera. Depois contou que o príncipe andava cada vez mais taciturno.

— Não se casou ainda?

— Nem casa. Tem recusado a mão das mais belas princesas do reino. Todos dizem que ele sofre de paixão recolhida. Ama alguém que não faz caso dele, é isso.

O coração da menina palpitou mais apressado.

— Não dizem por lá quem é essa que ele ama?

— Dona Aranha Costureira sabe quem é, mas guarda muito bem guardado o segredo. É uma senhora muito discreta.

— E o bobinho da corte, aquele tal gigante Fura-Bolos?

— Nunca mais foi visto. Com certeza teve o mesmo fim do Carlito Pirulito...

Narizinho refletiu uns instantes. Depois:

— Olhe, não se esqueça, quando voltar, de dizer ao príncipe que me viu aqui e que vou bem, obrigada. Diga-lhe também que qualquer dia receberá um convite para vir com toda a sua corte passar umas horas comigo no sítio de vovó, sim?

O Major prometeu não se esquecer do recado. E ia dizer mais

alguma coisa, quando a entrada duma libelinha mensageira o interrompeu.

— Salve, princesa! — exclamou ela.

— Viva! — correspondeu a menina franzindo os sobrolhos.

— Traz alguma mensagem para mim?

— Trago uma carta dum ilustre marquês. Ei-la.

Narizinho tomou a carta e leu:

Pesso-vos-lhe perdão da minha kovardia. Tom Mix stá aqui amolando a fhaca pra me matar. Tenha ddó deste infeliz, que se assina, com perdão da palavra, criado brigado
RABICO.

— O estilo, a letra, a ortografia e a gramática é tudo dele! Este bilhete corresponde a um perfeito retrato de Rabicó — ou Rabico, sem acento, como ele assina. Grandíssimo patife!

E voltando-se para a libelinha:

— Onde está ele?

— No capoeirão dos Tucanos Vermelhos, lá na terra dos lagartões. Prometeu-me um lindo lago azul em paga do meu trabalho de trazer esta carta.

Narizinho não pôde deixar de sorrir, pensando lá consigo: “Sempre o mesmo! Onde Rabicó já viu lago azul?” Mas não quis desiludir a mensageira, visto precisar dos seus serviços para a resposta. Rabiscou um bilhetinho a galope.

— Leve este bilhete a Tom Mix, mas depressa hein? E quando quiser aparecer lá pelo sítio de vovó, não faça cerimônia, ouviu ? Vá, vá!...

A libelinha vibrou as asas e zuct! desapareceu. Voou rápida como o pensamento. Chegou ao capoeirão dos Tucanos Vermelhos no instante em que os cinco minutos concedidos a Rabicó iam chegando ao fim e o carrasco lhe dizia, erguendo a faca:

— Está findo o prazo. Chegou a sua hora, marquês!

Mas Tom Mix teve de interromper o serviço. A libelinha sentara-se justamente na ponta do seu nariz, com o bilhete no ferrão.

Percebendo-o, Tom Mix tomou o bilhete e leu. Era ordem de perdão a Rabicó.

— Tem muita sorte o senhor marquês! — disse ele, enfiando a faca na bainha. — A princesa perdoa o seu crime e comuta a pena de morte nesta outra mais leve — e pregou-lhe um formidável pontapé.

— Uf! — exclamou Rábico depois que se viu livre do perigo. — Escapei de boa! Pontapé dum bruto destes não é nada agradável, mas mesmo assim deve ser mil vezes preferível às suas facadas...

Depois indagou, voltando-se para a mensageira:

— Onde está a princesa?

— No reino das Abelhas.

— E a condessa?

— Também lá, num canto, muito jururu nas suas muletas.

— Muletas? — repetiu Rabicó sem nada compreender. — Será que caiu do cavalo?

— Não sei, não tive tempo de indagar.

Rabicó permaneceu pensativo por alguns instantes. Depois disse:

— Está direito. Pode ir. Passe bem, muito obrigado.

A mensageira franziu o nariz.

— E o meu lago azul?

Rabicó, que tinha muito má memória para as suas promessas, fez cara de surpresa.

— Lago? Que lago?

— O lago azul que me prometeu em troca de levar a carta...

— Ah, sim... Mas menina, para que quer você um lago e logo um lago azul? Eu prometi um lago, é verdade, mas refletindo melhor vi que é um presente muito perigoso, pois você pode vir a morrer afogada. Em vista disso achei melhor substituir esse lago por esta sementinha de abóbora. Tome!

A libelinha ficou furiosa.

— Muito agradecida, senhor. Trato é trato. Faço questão do meu lago azul!

O marquês coçou a cabeça, embaraçado, lançando olhares gulosos para a abóbora que estivera comendo quando Tom Mix apareceu.

— Vamos deixar o caso para ser decidido amanhã — disse por fim. Agora não posso; tenho muito serviço. Imagine que Tom Mix me condenou a comer esta abóbora inteirinha — a mim, um marquês que está acostumado a só comer bombons e presuntos...
––––––––
Continua... A Rainha

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Cruz e Souza (O Livro Derradeiro) Parte XVII


SE ESTALA A ESTROFE DE FOGO,

Se estala a estrofe de fogo,
Se explode a estrofe do Bem,
Como o verbo demagogo
Se estala a estrofe de fogo,
Não ceda o espírito ao rogo
Do Mal que os erros contêm,
Se estala a estrofe de fogo,
Se explose a estrofe do Bem!

AMOR!!...

Oferecido à Ilma. Sra. D. Pêdra
como prova de imensa amizade e profundo amor
que lhe consagra.
O Autor.

Amor, meu anjo, é sagrada chama
Que o peito inflama na voraz paixão,
Amo-te muito eu t’o juro ainda
Deidade linda que não tem senão!

Virgem formosa, d’encantos bela,
Gentil donzela, meu amor é teu.
Vou consagrar-te mil afetos tantos
Puros e santos qual também Romeu!

Flor entre as flores, a mais linda, altiva
Qual sensitiva, só tu és, ó sim.
Esses teus olhos sedutores, belos
De mil anelos, me pedirão a mim.

Anjo, meu anjo, eu te adoro e amo.
Por ti eu chamo nas horas de dor.
Sem ti eu sofro; um sequer instante
De ti perante só me dás valor.

Meu peito em ânsias só por ti suspira
Como da lira a vibrante voz!
Te vendo eu rio e senão gemendo
Vou padecendo saudade atroz!

Amor ardente de meu coração
Santa paixão em todo peito forte
Eu hei de amar-te até mesmo a vida
Deixar, querida, e abraçar a morte!

Ó FLORA, Ó NINFA DAS ROSAS

Ó Flora, ó ninfa das rosas,
Ó frescura dos morangos,
Abre as pupilas radiosas,
Dá-me as estrelas formosas
Do olhar repleto de tangos,
Ó Flora, ó ninfa das rosas,
Ó frescura dos morangos.

MORENA DOS OLHOS PRETOS

Morena dos olhos pretos
Dos olhos pretos, morena,
Escuta os vagos duetos
Morena dos olhos pretos,
Faremos ambos, tercetos,
Com esta esfera serena,
Morena dos olhos pretos,
Dos olhos pretos, morena.

EMBORA EU NÃO TENHA LOUROS

Embora eu não tenha louros
Como esses grandes heróis
Embora eu não tenha louros,
Talvez nos tempos vindouros
Traduza o poema dos sóis,
Embora eu não tenha louros
Como esses grandes heróis.

Ó ALZIRA, ALZIRA, ALZIRA

Ó Alzira, Alzira, Alzira
Estrela resplandecente,
Resplandecente safira,
Ó Alzira, Alzira, Alzira,
As vibrações desta lira,
Acorda do sono ardente,
Ó Alzira, Alzira, Alzira,
Estrela resplandecente.

AOS RELÂMPAGOS SULFÚREOS

Aos relâmpagos sulfúreos
Na esfera zigue-zagando
Como esses pobres tugúrios,
Aos relâmpagos sulfúreos
Se douram, brilham purpúreos
Fulguram de quando em quando,
Aos relâmpagos sulfúreos
Na esfera zigue-zagando.

À SOMBRA ESPESSA DE UM ÁLAMO

À sombra espessa de um álamo
Quando nasceu-me a paixão,
À sombra espessa de um álamo
Que de harpas senti, que cálamo
Por dentro do coração
A sombra espessa de um álamo
Quando nasceu-me a paixão.

ROSA

a A. Moreira de Vasconcelos

Et, rose, elle a vécu ce que
vivent les roses,
l’espace d'un matin.
(Malherbe)

Rosa — chamava-se a estrela
Daquelas flóreas paragens;
Era escutá-la e era vê-la
Metida em brancas roupagens

Todas de pregas e tufos,
De laçarotes e rendas,
Ou mesmo ouvir-lhe os arrufos
Ou surpreender-lhe as contendas

Nas lindas tardes radiadas
Por cores de silforamas
E sentir logo, inspiradas
Do amor, as férvidas chamas.

Ela era um beijo fundido
Ao cintilar de uma aurora,
Um sonho eterno espargido
Nos belos sonhos de Flora.

E tinha uns longes sublimes
De grande força lasciva,
A transudar, como uns crimes
Do sangue, da carne altiva.

Contava tudo... mas tanto,
Em turbilhões, em cascata,
Que recordava esse canto
Uma garganta de prata.

E quando os poetas, rapazes,
A viam passar, vibrante,
Mostrando as curvas audazes,
Do corpo todo radiante,

Diziam de entre os primores
De estrofes mais dulçurosas:
— Tu és a gêmea das flores,
Das rosas, perfeitas rosas.

Convulsionado e sem regra
O coração nos palpita;
Andas alegre e se alegra
A gente quando te fita.

Tens umas coisas estranhas
Nas refrações da pureza...
Umas finuras tamanhas...
Uma sutil gentileza...

Ficas rosada se um tico
Alguém te diz, de mais franco...
Mas como fica tão rico,
Tão belo o rubro no branco,

Nesse grácil e tão claro,
Sereno e cândido rosto
Que é mesmo um céu puro e raro
Das alvoradas de agosto.

Depressa cobre-te o pejo
A face nova e adorada,
De sorte que sem desejo
És — Rosa e ficas rosada.

Dos risos colhes a messe
E és doce como o conforto,
És casta como uma prece
Gemida ao lado de um morto.

Para que a dor não te obumbre
A glória de flores junca
Tua vida e, por isso, nunca
Nas mágoas terás vislumbre.

Permita o bom sol que inunda
De luz os bosques — permita
Que sejas sempre fecunda
De gozo e sempre bonita.

Agora, quando alguém passa
Por onde a estrela morava,
Olhando pela vidraça
Bem junto da qual bordava,

Repara um silêncio triste
Na sala — em crepes envolta,
Onde parece que existe
Profunda lágrima solta.

E sente por dentro d’alma
Aquela angústia que esmaga
Bem como em noites sem calma
A vaga esmaga outra vaga.

Apenas as flores lindas
Que vendo Rosa morriam
Com brejeirices infindas
De invejas que renasciam,

Sem mais inúteis ciúmes,
Abrem os frescos pistilos,
Jogando aos céus, em perfumes,
Os seus melhores sigilos.

No entanto a luz soberana
Do amor desfilam as rimas
Dos poetas — como um hosana
A quem já goza outros climas.

Rosa — chama-se a estrela
Daquelas flóreas paragens;
Era escutá-la e era vê-la
Metida em brancas roupagens,

Para exclamar: — Dentro dela
Existe a fibra gloriosa...
Ninguém viu coisa mais bela
Nem Rosa... tão bela rosa!...

Fonte:
Cruz e Sousa, Poesia Completa, org. de Zahidé Muzart, Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura / Fundação Banco do Brasil, 1993.

57a. Feira de Livros de Porto Alegre (Programação de 15 de Novembro, Terça-Feira)


Canal Futura na Feira - Umas Palavras. Exibição de documentário.
15/11/2011 - 10:00
: Será exbido documentário (Episódios: Diogo Mainardi, Mia Couto, Luiz Ruffato).

Encontro Potteriano
15/11/2011 - 14:00

UNIRITTER - 40 anos em contos, fotos e artes
15/11/2011 - 14:00
Editora: Uniritter

Tenda.doc: Coojornal
15/11/2011 - 14:30
Documentário recupera a trajetória de um dos mais importantes jornais nacionais durante o período da ditadura brasileira. Direção de Carlos Carmo

As Aventuras de Escaminha
15/11/2011 - 15:00
Editora: CORAG

Landell de Moura: o homem, o padre e o cientista
15/11/2011 - 15:30
A figura de Roberto Landell de Moura, gaúcho de Porto Alegre, precursor das comunicações, na perspectiva do homem, do padre e do cientista

Bate-papo com autor
15/11/2011 - 15:30

Contos Populares
15/11/2011 - 15:30
Contação e cantação de histórias com a equipe do QG

Presença de Tariq Ali
15/11/2011 - 16:00
Autor paquistanês fala sobre sua obra

O urso que não queria dançar - Bate-papo com a autora Ethel Peisker
15/11/2011 - 16:00

O cheiro do capim verde
15/11/2011 - 16:00
História que fala sobre solidão, encontros e partidas mediados pela metalinguagem dos meios de comunicação de massa

Literatura, História e Cultura Africana e Afro-Brasileira nas Escolas
15/11/2011 - 16:00
Editora: Uniritter

O Livrão e o Jornalzinho
15/11/2011 - 16:00
Editora: Libretos

Mídias Sociais
15/11/2011 - 16:30
Entre tantas atividades nas redes sociais, sobra tempo para a leitura? Como ela acontece? Palestra com lançamento do e-book gratuito

Caronhoto, a saga (1965-1983)
15/11/2011 - 16:30
Editora: WS Editor

A última notícia: Flávio Alcaraz Gomes e os diários de um repórter
15/11/2011 - 17:00
Mesa-redonda em homenagem ao jornalista e escritor, com discussão do livro Diários de um repórter

O Urso que não queria dançar
15/11/2011 - 17:00
Editora: Editora da Ulbra

O meio ainda é a mensagem? O futuro da escrita
15/11/2011 - 17:30
Convidados internacionais analisam as novas interfaces tecnológicas para a informação e comunicação a partir da célebre expressão cunhada por Marshall McLuhan "O meio é a mensagem"

A noite da borboleta dourada
15/11/2011 - 17:30
Editora: Record

Nóesis
15/11/2011 - 17:30
Editora: Alternativa

Coojornal, um jornal de jornalistas sob regime militar
15/11/2011 - 18:00
A trajetória do Coojornal, que obteve destaque nacional pela proposta editorial corajosa, num período de ditadura militar e luta pela democracia

Oficina aberta: Dicas de telejornalismo
15/11/2011 - 18:00
O correspondente internacional Flávio Fachel em bate-papo com o público

O Repórter Esso - A síntese radiofônica mundial que fez história
15/11/2011 - 18:30
Editora: EDIPUCRS

Cine Santander Cultural
15/11/2011 - 19:00
Sessão Comentada

Coojornal, um jornal de jornalistas sob regime militar
15/11/2011 - 19:30
Editora: Libretos

Tecnologia pra quê? Os dispositivos tecnológicos de comunicação e seu impacto no cotidiano
15/11/2011 - 20:00
Editora: Armazém Digital

Fonte:
http://www.feiradolivro-poa.com.br/

domingo, 13 de novembro de 2011

Trova Ecológica 44 - Wagner Marques Lopes (MG)

Carlos Drummond de Andrade (O Poeta Singrando Horizontes X)


POESIA

Gastei uma hora pensando em um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

VERBO SER

Que vai ser quando crescer?
Vivem perguntando em redor. Que é ser?
É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três. E sou?
Tenho de mudar quando crescer?
Usar outro nome, corpo e jeito?
Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser? Dói? É bom? É triste?
Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?
Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a? Posso escolher?
Não dá para entender. Não vou ser.
Vou crescer assim mesmo.
Sem ser Esquecer.

UNIDADE

As plantas sofrem como nós sofremos.
Por que não sofreriam
se esta é a chave da unidade do mundo?
A flor sofre, tocada
por mão inconsciente.
Há uma queixa abafada
em sua docilidade.
A pedra é sofrimento
paralítico, eterno.
Não temos nós, animais,
sequer o privilégio de sofrer.

SUAS MÃOS

Aquele doce que ela faz
quem mais saberia fazê-lo?

Tentam. Insistem, caprichando.
Mandam vir o leite mais nobre.
Ovos de qualidade são os mesmos,
manteiga, a mesma,
iguais açúcar e canela.
É tudo igual. As mãos (as mães?)
são diferentes.

SOMEM CANIVETES

Fica proibido o canivete
em aula, no recreio, em qualquer parte
pois num país civilizado
entre estudantes civilizadíssimos,
a nata do Brasil,
o canivete é mesmo indesculpável.

Recolham-se pois os canivetes
sob a guarda do irmão da Portaria.

Fica permitido o canivete
nos passeios à chácara
para cortar algum cipó
descascar laranja
e outros fins de rural necessidade.

Restituam-se pois os canivetes
a seus proprietários
com obrigação de serem recolhidos
na volta do passeio, e tenho dito.

Só que na volta do passeio
verificou-se com surpresa:
no matinho ralo da chácara
todos os canivetes tinham sumido.

SONETILHO DO FALSO FERNANDO PESSOA

Onde nasci, morri.
Onde morri, existo.
E das peles que visto
muitas há que não vi.

Sem mim como sem ti
posso durar. Desisto
de tudo quanto é misto
e que odiei ou senti.

Nem Fausto nem Mefisto,
à deusa que se ri
deste nosso oaristo,

eis-me a dizer: assisto
além, nenhum, aqui,
mas não sou eu, nem isto.

QUARTO EM DESORDEM


Na curva perigosa dos cinquenta
derrapei neste amor. Que dor! que pétala
sensível e secreta me atormenta
e me provoca à síntese da flor

que não sabe como é feita: amor
na quinta-essência da palavra, e mudo
de natural silêncio já não cabe
em tanto gesto de colher e amar

a nuvem que de ambígua se dilui
nesse objecto mais vago do que nuvem
e mais indefeso, corpo! Corpo, corpo, corpo

verdade tão final, sede tão vária
a esse cavalo solto pela cama
a passear o peito de quem ama.

Carlos Drummond de Andrade (Reverência ao Destino)


Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.

Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.

Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas ircunstâncias.

Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.

Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.

Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz.

Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.

Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer. Ou ter coragem pra fazer.

Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.

Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende. E é assim que perdemos pessoas especiais.

Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.

Difícil é mentir para o nosso coração.

Fácil é ver o que queremos enxergar.

Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto.

Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.

Fácil é dizer "oi" ou "como vai?"

Difícil é dizer "adeus". Principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...

Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.

Fácil é querer ser amado.

Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar. E aprender a dar valor somente a quem te ama.

Fácil é ouvir a música que toca.

Difícil é ouvir a sua consciência. Acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.

Fácil é ditar regras.

Difícil é seguí-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.

Fácil é perguntar o que deseja saber.

Difícil é estar preparado para escutar esta resposta. Ou querer entender a resposta.

Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.

Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.

Fácil é dar um beijo.

Difícil é entregar a alma. Sinceramente, por inteiro.

Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.

Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro .

Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.

Difícil é ocupar o coração de alguém. Saber que se é realmente amado.

Fácil é sonhar todas as noites.

Difícil é lutar por um sonho.

Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.

Fonte da Imagem
http://elisleaoblogspot.com

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 394)

Jogos Florais de Santos 2011
Uma Trova Nacional

Só Deus, através da igreja,
que é sinal de salvação,
concede a paz benfazeja,
misericórdia e perdão!
–ALOÍSIO BEZERRA/CE–

Uma Trova Potiguar

O sol, eterno andarilho,
nas rotas do movimento,
abre as cortinas com brilho
no escuro do firmamento.
–HÉLIO ALEXANDRE/RN–

Uma Trova Premiada

1999 - Barra do Piraí/RJ
Tema: DEVANEIO - Venc.

A distância achando meios
para unir nossas metades,
somou nossos devaneios
e dividiu as saudades...
–MARIA NASCIMENTO/RJ

Uma Trova de Ademar

Numa caminhada inglória,
com minha alma enternecida;
pude ver a minha história
no retrovisor da vida.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Angústia é a mágoa escondida
dos que, amargando o sofrer,
vegetam perto da vida
sem ter direito a viver.
–ELTON CARVALHO/RJ–

Simplesmente Poesia

Pódio da Trova
–JOSÉ OUVERNEY/SP–

Todo concurso de trova
cumpre esta finalidade:
pôr o trovador à prova
em originalidade.

Se não quiser ver na "cova"
sua obra, em tenra idade,
trilhe alguma estrada nova,
fuja da trivialidade.

Não se acomode, pesquise,
vá ao fundo da valise,
encontre o que ninguém vê.

Depois... é só constatar:
no pódio há sempre um lugar
guardado para você!

Estrofe do Dia

Nossas brigas cessou nossos carinhos
mas depois o amor curou as dores;
que um casal quando vive em mar de flores
muitas vezes se furam com os espinhos,
se eu feri os meus pés pelos caminhos
ao andar pelas zonas proibidas,
só você é quem cura tais feridas
pois em ti encontrei meu baluarte;
nossas brigas de amor já fazem parte
do romance maior de nossas vidas.
–WELTON MELO/PE–

Soneto do Dia

Renascer
–JOSÉ ANTONIO JACOB/MG–

Sei que andas longe, meu amor, eu sei...
E enquanto outros passeiam vou à igreja,
Todo sonho que existe já sonhei,
E quando rezo a minha voz gagueja...

Anos se foram e eu não me arredei
Da nossa pobre casa sertaneja,
Ainda repousa em cima da bandeja
O que era nosso e nunca mais usei.

Não te demores mais minha querida
Já arrumei a casa e colhi flores
Para enfeitar de aroma a nossa vida.

Este jazigo não é o teu fim!
Recompõe a tua alma e tuas dores
E vem nascer de novo para mim!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor