segunda-feira, 7 de maio de 2012

Leila Krüger / RS (Caderno de Poemas)


A QUEDA DA BASTILHA

Enfim perdi a batalha surda contra a própria mudez.
Enfim a inoperância de meus punhos
para esmurrar estes labirintos de ferro,
para desnudar o universo.

Enfim, voltei... enfim não sei mais!

Enfim me recolho com meus únicos próprios braços,
esperando, no entanto, que haja ainda alguma bondade
nestes pequenos fardos.

Enfim acato a tristeza como uma rosa frágil que é minha...

Enfim não espero nada,
mas acredito em tudo aquilo que não é passível de ser verdade.
Como sei agora,
posso embalar a verdade em meu colo
até que ela acorde, e me olhe.
Caso ela não fuja eu um dia a verei crescer...

Como os carvalhos antigos que arrebentavam o céu,
assim cresce a verdade em meu pequeno bosque.
Copas silenciosas, em nuvens vagarosas, em tardes apenas grenás.

Enfim, perdi...
mas chorei como quem vence. Então venci!

LONGE

Mas se eu tiver que ser sozinha, serei inteira
serei plácida, como o lago que espera a chuva
como a chuva que busca a manhã.

E se eu tiver que ser escura, serei grandiloquente
se tácita, valente
se árida, compreensiva, ao menos
se ainda assim severa... então liberta.

E se me perder de tudo, e até do fim...
possivelmente eu serei nova
como o verão, no céu de janeiro
como janeiro, no céu de Paris!
Seja lá onde for Paris...        

Hoje, em qualquer lugar, longe daqui. Longe, longe...

 QUASE VERÃO

Há uma chuva negra e macia na vidraça.
                               Quase cinza, um tanto fraca... me acaricia.

 Pingos me olham – esperando o chão cegar.
                               Chegar!

E o desespero do que chove no mesmo lugar. E a nuvem que se move...
sobre as palavras... que eu não te dei. Negra na janela, esperando o chão.
 Sou eu quem chove – antes do verão...
 Sou eu quem grita! – Ao perder teu rosto de areia, entre minhas mãos...

 RETORNO DE MIM

Aprendi a me deixar podar pela vida.
Deixar que me arranquem os galhos, tal braços, sem dó,
                                 ou com dó, tanto faz...
mas que me arranquem inevitavelmente
                                 e façam de mim o que eu nem sei.

E se eu não souber tudo bem, porque aprendi também a voltar...
mais alta e mais graúda,
do tamanho de um coqueiro na praia deserta.

Também aprendi a me balançar na praia e até a tocar as ondas.
Tudo me deixa forte. Tudo um dia me deixará forte.

E nada me deixará, nunca mais, seca... agora eu posso amar.

 FLOR DE FIM

Como saber?
             Se a tristeza é breve
             se a alegria é forte
             se a paz é leve.
             Se a fé rebrota
              no inverno gris.
             Se teus dedos
             na madrugada
             fazem meu fim.

             Como saber?
             Entender tua cor.
             Como saber?
             Se já não sou.
             Como não ser?
             Se nós somos flor...

Fonte:
http://www.jornaldepoesia.jor.br/leilakruger.html#quase

Angela Lago (Muito Capeta)


O DIABO LOURO

Esta é uma história que vira e mexe acontece. Basta uma moça estar numa festa à moda antiga tomando chá-de-cadeira, ou seja, assentadinha sem ninguém para dançar com ela, e à meia-noite suspirar de vontade:

- Ah! Eu queria tanto dançar, nem que fosse com o próprio diabo!

Então um moço louro, de terno branco, aparece feito um anjo, e antes que alguém pisque os olhos já estão os dois rodopiando no meio do salão. Claro que o rapaz é o dito-cujo. Um belo momento a moça olha para baixo e vê que ele tem os pés diferentes. Um é normal, mas o outro é redondo, igual a uma pata de bode. Então ela berra e faz o sinal-da-cruz. O Diabo Louro explode na hora, e a festa acaba com um cheiro horrível de enxofre e o som de uma risada infernal.

Só que a noite desta história que eu vou contar para vocês não foi bem assim. A moça não era uma moça qualquer. Era a Maria Valsa. Vamos ter que começar tudo de novo.

COMEÇANDO DE NOVO

Na festa da padroeira da cidade, à meia-noite em ponto, Maria Valsa, que naquele momento estava sem par, se contorcia de vontade:

- Ah! Eu quero dançar! Nem que seja com o próprio diabo!

Então um moço louro e belíssimo abriu a porta, olhou para ela, veio direto em sua direção e agarrou sua cintura. Ó céus! Ele já levou Maria Valsa para o meio do salão. E dá-lhe valsa. Bateu uma hora, uma hora e meia, e os dois saracoteando. Maria Valsa cheia de molejo, mas espigadinha, com o nariz empinado, feliz e vaidosa do show que estavam dando. Nada de olhar para o chão.

Às duas da manhã, a festa começou a esvaziar e o Diabo Louro, embora estivesse gostando muito de dançar com Maria Valsa, percebeu que estava passando a hora de dar o outro show, o seu, o especial, o de estragar a noite de todos com a sua risada e o seu fedor.

Afinal ele se decidiu e sussurrou no ouvido da moça:

- Olha meu pé...

- Eu não pisei - respondeu Maria Valsa, tranqüila com sua atuação, olhando para cima.

- Não é isso - explicou o diabo. E repetiu com ênfase: - Estou pedindo para você olhar o meu pé!

- Para quê? - respondeu Maria Valsa, desta vez toda faceira, revirando bem os olhos para cima. - Não é preciso! Você me guia tão bem!

Como último recurso, o maligno resolveu dar uma bela pisada no sapatinho da moça. Só que não conseguiu. Quando ele ia, ela escapava; quando ele puxava, ela revirava; ele a empurrava, um rodopio. O belzebu com o suor a escorrer da testa, sem conseguir, sem dar conta da sua má intenção. E Maria Valsa feliz da vida: orgulhosa de acompanhar passos assim tão diferentes sem errar.

O pessoal que ainda estava no salão se entusiasmou com a novidade da dança e tratou de imitar e seguir o par. Mas era difícil. Depois, tudo cansa. Só a Maria Valsa é que nunca se cansa de baile. Às quatro da madrugada, quando o galo cantou, restavam os dois e o tocador de sanfona. O sanfoneiro fechou o instrumento e foi embora. O Diabo Louro, exausto e todo dolorido de tanta contorção, confessou:

- Maria Valsa, você me venceu!

UMA RÁPIDA EXPLICAÇÃO

Diabo também se apaixona. E o nosso não queria mais que a moça visse seu pé redondo. Como todos os apaixonados, começou a cismar e a se atormentar. Ela era tão linda e inocente, não ia querer se casar com um pobre-diabo com pata de bode. Deu para andar meio agachado, para que as calças tampassem tudo, esbarrando no chão. Isso dia após dia. À noite tinha que lavar e às vezes costurar a barra que ralava na rua. Sentia-se um lixo, um diabo qualquer a cerzir humildemente suas calças puídas.

Mas nós não vamos ficar com peninha dele por conta disso. Pelo menos assim ele passava o tempo com uma ocupação decente, já que não conseguia mesmo dormir de tanta preocupação. É que ele queria muito casar com Maria Valsa, mas...

- Será que, casado, vou dar conta de esconder meu pé redondo?! - o chinfrim se perguntava.

Até que um belo dia o capeta teve uma iluminação e decidiu mandar fazer umas botas fixas, permanentes, que não saíssem do corpo, e tapeassem Maria Valsa e o mundo, fazendo seu pé redondo parecer igual ao normal.

AS BOTAS DO DIABO

- Quero botas! Botas especiais! - disse o capeta, e pôs na mesa do sapateiro um desenho de como a bota deveria ser, para que seu pé de bode não aparecesse, nem escapulisse de dentro dela sem querer. Na verdade as duas botas deveriam ficar grudadas nos pés para sempre. 

Faltavam algumas medidas, e o sapateiro, sem maiores cerimônias, arregaçou as calças do diabo. Viu o pé redondo e não teve dúvidas. Já que o cliente era o capeta em pessoa, podia explorar:

"Estas botas muito raras, raras, raras, 
muito caras, caras, caras vão ficar. 
Mas a pessoa é rica, rica, rica, 
muito  rica... 
E muito caro sempre fica para quem quer tapear."

No outro dia o coisa-ruim veio pegar as botas e entregou ao homem um saco de ouro.

Recitou um versinho também:
"Um saco de ouro, ouro, ouro, muito ouro por duas botas de couro, simples couro, couro, couro!
Vire esterco esse dinheiro, antes que passe um dia inteiro!
Dinheiro é esterco, esterco, esterco. Esterco, esterco é dinheiro."

E para enfatizar a maldição, repetiu pausadamente:

"Vire esterco esse dinheiro antes que passe um dia inteiro!"

O sapateiro, que nunca tinha visto tanto  dinheiro na vida, tratou de pensar uma maneira de guardá-lo bem escondido para que a maldição do capeta não acontecesse, não desse certo. Depois de muito matutar, resolveu esconder o saco no meio de um monte de esterco, antes que virasse esterco de verdade.

Feito isso, entrou em casa. Como sempre acontecia, mal ele entrou, sua mulher começou a lamuriar que não tinha dinheiro para comprar feijão.

- Pois eu também não tenho - afirmou o homem, tratando de não levantar suspeitas da sua riqueza recente. - Mas que amolação essa história de você estar sempre pedindo dinheiro, mulher! - ele reclamou. 

E repetiu  o verso do diabo: 
- Dinheiro é esterco, esterco, esterco. 
Esterco, esterco é dinheiro.

Foi tirar um cochilo para fugir da lamúria. Quando levantou, já de tardinha, estranhou. Que cheiro bom! Além de feijão, tinha lingüiça. Afinal, a mulher tinha, conseguido fazer as compras.

Na mesa, já ia engolindo o caldo quando ela contou satisfeita:

- Sabe que você me deu uma boa idéia com aquela história de que esterco é dinheiro?  Passou um carroceiro e vendi o esterco todo!

Mas vamos continuar a história do capeta, pois é ela que nos interessa

Afinal o capeta se casou com a Maria Valsa. E deu um marido de primeira. Só tinha um problema. Não tirava as botas nem para dormir.

A sogra implicava com isso. Não queria saber de um genro que imundava os lençóis do enxoval da filha. Não adiantava Maria Valsa elogiar o marido.

- Mãe, mas ele é o máximo! Se eu pedir, ele até sobe pelas paredes. É capaz de esmagar aquela lagartixa lá no teto, com a ponta da bota. De cabeça para baixo!

- Ah, é? - pensou a sogra, e esperou o genro chegar.

- Minha filha disse que você é capaz de subir pelas paredes e, de cabeça para baixo, esmagar aquela lagartixa.

- Sobe para ela ver, meu bem! - piscou Maria Valsa cheia de dengo.

E o coisa-à-toa, para agradar sua mulher, subiu.

"Bem que eu desconfiava que meu genro é o dito-cujo", adivinhou a sogra, em silêncio, refletindo com seus botões. Saiu de mansinho, foi até a cozinha, e voltou com uma garrafa vazia.

- Subir no teto é fácil. Basta um pouco de malabarismo. Eu queria ver era seu marido dar conta de entrar nessa garrafa vazia.

- Entra para ela ver, meu bem! - sorriu Maria Valsa.

E o coisa, para não fazer feio, ficou pequenininho e entrou. A sogra, mais que depressa, pegou a rolha que tinha escondido no bolso do avental e enrolhou a garrafa.

- Você está salva! - disse para a filha.

- Salva!?

A filha, aos prantos, pedia à mãe para soltar o marido. Não adiantava. A moça podia chorar quanto quisesse.

- Isso não é marido. Isso é o próprio tinhoso, o cão, o dito-cujo - repetia a sogra do capeta.

Quando a filha afinal adormeceu de tanto chorar e soluçar, a mãe saiu pé ante pé com a garrafa e, depois de muita estrada, encontrou um lugar bem ermo. Nada ao redor, só uma árvore torta. Então a sogra cavou um buraco profundo, enterrou a garrafa e colocou uma pedra por cima.

O excomungado gritava:

- Me solta, porcaria de sogra! Sua megera desgraçada, me desenterra daqui!!!

Mas só chegava um fiapo de voz à superfície, um zumbidinho de nada. Ninguém ia ouvir.

INTERVALO

Vamos deixar o condenado gritando sem ninguém ouvir, e Maria Valsa procurando o marido sem nunca encontrar. Faremos uma pausa enquanto o tempo passa.

ZUMBIDOS

Um dia, trinta anos depois, Maria Valsa andava perto de uma árvore torta quando escutou um zumbidinho. Ela ainda procurava o marido. Não tinha se esquecido dele. Nem da sua voz. E reconheceu alguma coisa, um ritmo.

- Zum zumzum zumzumzumzum zum zumzum! Zum
zumzumzum zumzumzumzumzum, zum
zumzumzumzumzum zumzi.

- Será?

Aguçou bem os ouvidos, viu que o zumbido vinha de baixo da pedra e resolveu arrastá-la. Agora já dava para reconhecer uma ou duas sílabas.

- Zum zumzum zumzumria de sozum! Zum 
Zumzumzum.

Cavou um pouquinho.

- Zum zumzum porcaria de sogra! Sua megera zumzumzuda...

Era ele!! Cavou o mais rapidamente que pôde até avistar a rolha da garrafa. Puxou a garrafa para fora e viu o seu querido marido gritando:

- Me solta, porcaria de sogra! Sua megera desgraçada, me desarrolha daqui!!!

- Sou eu, sua mulher - disse, desapontada, Maria Valsa.

Mas o diabo continuou gritando o que já vinha gritando há anos.

- Me solta, porcaria de sogra! Sua megera desgraçada etc. etc.

Cá entre nós, com o passar dos anos, Maria Valsa tinha ficado parecida com a mãe. E era natural que, depois de tanto tempo preso, o capeta estivesse raivoso e confuso. Maria Valsa, por sua vez, escutou o marido gritando daquele jeito, miudinho dentro da garrafa, com aquelas botas esquisitas, e de repente atinou. Não é que sua mãe tinha razão? Que decepção! Seu marido era o próprio. O dito-cujo. O cão. E resolveu, antes de soltá-lo, fazer um trato sensato.

O TRATO COM O DIABO

- Divórcio! Eu quero o divórcio, e três sacos de dinheiro de indenização! Sem indenização não abro a garrafa.

- Maria Valsa, assim não é possível! Como vou arranjar dinheiro preso numa garrafa? Preciso reorganizar a vida.

- Sem essa!

Espera aí, Maria Valsa. Esperem aí, vocês também, meus queridos leitores. Dentro de uma garrafa não dava mesmo para o diabo arranjar o dinheiro. Mas ele tratou de bolar uma contraproposta que agradasse a mulher:  os dois iriam para Nápoles. Lá, a mulher se faria passar por bruxa curandeira, enquanto ele entraria no corpo da filha do rei. O rei acabaria por oferecer mais de seis sacos de dinheiro para quem curasse a princesa. A mulher então faria um teatro de ladainhas e benzeduras, e os dois meiariam o ganho.

Dessa idéia, Maria Valsa gostou. Conhecer Nápoles, ir a um palácio, e depois a recompensa...

INDO PARA NÁPOLES

A caminho de Nápoles o capeta decidiu entrar no corpo de uma moça para Maria Valsa treinar seu desempenho. Entrou no corpo da filha do dono de uma pousada onde Maria Valsa se hospedou. A moça foi ficando completamente encapetada! Quando o pai não dava mais conta, não sabia mais o que fazer, Maria Valsa ofereceu seus serviços de bruxa curandeira. De graça.

- Se é de graça, pode.

Maria Valsa pegou uma cabeça de alho e uma cebola, espremeu em um vidro com um pouco de água suja e começou a benzer a guria:

"Pela pata da barata
Vai saindo, vai saindo.
Pela baba da aranha
Vai saindo, vai saindo.
Pela gosma da lombriga
Vai saindo, vai saindo.
Pela meia com chulé
Vai saindo, vai saindo.
Pela meleca..."

- Chega! - reclamou o capeta de dentro da moça. - Que nojeira...

E tratou de escapulir assim que pôde.

E embora o pai tivesse ficado tão agradecido que deixou Maria Valsa ir embora sem pagar pela hospedagem, o demo só fez criticar a representação da mulher.

- Deu certo porque era aqui. Na Corte você me fale em inglês. Trate de impressionar. Não me venha com essa ladainha que dá vontade de vomitar. E nada desse cheiro de alho, cebola e água suja.

MAIS UMA TENTATIVA

O lá-de-baixo resolveu dar mais uma chance para Maria Valsa treinar, antes de chegarem a Nápoles de Minas.

Na parada seguinte, ele entrou na mulher do dono do hotel. A dona foi ficando endiabrada, encapetada! O homem não dava conta, não sabia o que fazer. Então Maria Valsa ofereceu os seus serviços em troca da hospedagem. E como a notícia da cura da filha do dono da pousada já tinha corrido meio mundo, o dono do hotel aceitou na hora. Maria Valsa ficou satisfeita de ver como estava famosa e caprichou na representação. Arranjou carniça e fez um saquinho de pano. Ia batendo na mulher do dono do hotel com o saquinho e recitando:

"Catinga de urubu
I love you
Carniça com tutu
I love you"
E por aí em diante.

O capeta não agüentou de nojo, tratou de sair depressa.  Maria Valsa recebeu uma bela recompensa. Mas o marido, nada de valorizá-la. Pelo contrário:

- Assim não dá. I love you!? Estava melhor em português!

A FILHA DO REI

Quando chegaram a Nápoles, o capeta entrou na princesa. A princesa ficou endiabrada, encapetada, endemoniada! Mas, desta vez, Maria Valsa, já conhecida e respeitada como bruxa curandeira, nem precisou oferecer seus serviços. Foi procurada pelo rei, que prometeu...

A PROMESSA DO REI

- Não, Maria Valsa, minha filha vale muito mais que seis sacos de ouro. Além disso, sou viúvo, e a senhora, divorciada. Se curar minha filha, caso com a senhora e lhe dou a metade do reino.

Maria Valsa fez o saquinho com carniça, alho e cebola e tratou de  caprichar um estribilho em latim:

"Verme em ferida de peste
Ite! Ite! Missa est!"

O capeta, com raiva da mulher, tapou os ouvidos, decidido a não sair do conforto do corpo da princesa. Não adiantava Maria Valsa cantar a ladainha cada vez mais alto. Não tinha sucesso. (E olha que me proibiram de repetir aqui a ladainha inteira porque é nojenta demais.) É que o capeta mantinha os ouvidos bem tapados o tempo inteiro da recitação, para não vomitar a si mesmo para fora do corpo da princesa.

Então Maria Valsa teve uma idéia. Mudou de tom. Fingiu que comentava com os seus botões:

- Ainda bem que chamei mamãe para me ajudar e ela já está quase chegando...Ah! Ainda bem que chamei mamãe para me ajudar e ela já está quase chegando...

O capeta ouviu o tom diferente e destapou os ouvidos. Vocês sabem o horror que ele tem da sogra. Escutou aquilo e pronto. Saiu correndo do corpo da princesa. A toda! Corre que corre, e ainda está correndo.

É por isso que tem tempo que ninguém dança com o Diabo Louro. E Maria Valsa? Ora! Passando muito bem.

Fonte: 
Conta que eu conto (Ana Maria Machado, Angela-Lago, Daniel Munduruku, Heloisa Prieto, Roger Mello ; apresentação de Tatiana Belinky ; ilustrações de Mariana Massarani. - 1a. ed. - São Paulo : Companhia das Letrinhas, 2002. (Coleção Literatura em minha casa ; v. 2)

2. CIELLI e 5. CELLI na Universidade Estadual de Maringá


2º CIELLI - Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários
5º CELLI - Colóquio de Estudos Linguísticos e Literários 

Apresentação 

O II Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários (II CIELLI) e V Colóquio de Estudos Linguísticos e Literários (V CELLI), proposto pelo Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Estadual de Maringá, é um evento acadêmico-científico que tem por objetivo congregar pesquisadores atuantes no Brasil para discussão, reflexão e divulgação de produção acadêmica, técnica e cultural em Letras, Línguística e áreas afins.
Em sua segunda edição de caráter internacional, de 13 a 15 de junho de 2012, com a presença de conferencistas de universidades estrangeiras e a participação de estudiosos do Brasil em mesas-redondas e proposição de simpósios, o evento consolida-se como espaço de ampla divulgação e de permutas acadêmicas. 

Programação 

O Programa do evento contará com a seguinte estrutura: 

Conferências

Roger Chartier (França): Literatura e cultura escrita: estabilidade das obras, mobilidade dos textos, pluralidade das leituras.

Carlos Reis (Portugal): Estudos narrativos: estado da questão e a questão da personagem.

Mesas-redondas

O evento contará com 6 mesas-redondas para debate de temas de interesse da área de Estudos Linguísticos e Estudos Literários.

Minicursos

Serão ofertados 10 minicursos nas áreas de Estudos Linguísticos e Estudos Literários (ministrantes convidados pela Comissão).

Simpósios

27 Simpósios na área de Estudos Linguísticos: mínimo de 12 participantes e máximo de 24.

25 Simpósios na área de Estudos Literários: mínimo de 12 participantes e máximo de 24.

Sessões de comunicações

Para alunos de graduação que desenvolvam projetos de Ensino, Pesquisa ou Extensão.

Obs: a programação Geral do evento será divulgada em breve.

Simpósios - Estudos Literários 

LTR1 - A LITERATURA EM DIÁLOGO COM OUTRAS ARTES
Coordenadores: Mônica Luiza Socio Fernandes / Marly Gondim Cavalcanti Souza 

LTR2 - A LITERATURA JUVENIL: DO MERCADO ÀS INSTÂNCIAS DE LEGITIMAÇÃO
Coordenadores: Alice Áurea Penteado Martha / Vera Teixeira de Aguiar 

LTR3 - AS ARTES NARRATIVAS E O PANDEMÔNIO DA CONTEMPORANEIDADE
Coordenadores: Marisa Corrêa Silva / Acir Dias da Silva 

LTR4 - DIÁLOGOS COM A LITERATURA PORTUGUESA
Coordenadores: Antonio Augusto Nery / Rosana Apolonia Harmuch 

LTR5 - DIDÁTICA DA DIMENSÃO ESTÉTICA DA LEITURA
Coordenadores: Neide Luzia de Rezende / Robson Coelho Tinoco 

LTR6 - HISTÓRIA, MITO E PAISAGEM NA LITERATURA PORTUGUESA
Coordenadores: Clarice Zamonaro Cortez / Maria Natália Ferreira Gomes Thimóteo 

LTR7 - LEITURA LITERÁRIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SÉRIES INICIAIS: SUPORTES E GÊNEROS
Coordenadores: Renata Junqueira de Souza / Ana Lucia Espíndola 

LTR8 - LETRAMENTOS LITERÁRIOS: PRÁTICAS DE LEITURA E DE ESCRITA
Coordenadores: Mirian Hisae Yaegashi Zappone / Célia Regina Delacio Fernandes 

LTR9 - LITERATURA, CINEMA E TELEVISÃO: CONFLUÊNCIAS INTERSEMIÓTICAS
Coordenadores: Wellington Ricardo Fioruci / Ana Maria Carlos 

LTR10 - LITERATURA E CIÊNCIAS HUMANAS: LIMITES, APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS
Coordenadores: Edison Bariani Junior / Márcio Scheel 

LTR11 - LITERATURA E HOMOEROTISMO
Coordenadores: Emerson da Cruz Inacio / Jorge Vicente Valentim 

LTR12 - LITERATURA E IMPRENSA
Coordenadores: Jaison Luís Crestani / Daniela Mantarro Callipo 

LTR13 - LITERATURA INFANTIL E ENSINO: ROTAS, DESVIOS E DESAFIOS
Coordenadores: José Nicolau Gregorin Filho / Thiago Alves Valente 

LTR14 - LITERATURA SEM MORADA FIXA - ESPAÇOS E MOBILIDADES
Coordenadores: Paulo Astor Soethe / Wolf-Dietrich Sahr 

LTR15 - NARRATIVAS DE SUPERAÇÃO E DE ANIQUILAÇÃO NAS LITERATURAS AMERÍNDIAS, AFRICANAS E AFRO-DESCENDENTES
Coordenadores: Divanize Carbonieri / Alvany Rodrigues Noronha Guanaes 

LTR16 - O DEMONÍACO NA LITERATURA
Coordenadores: Antonio Carlos de Melo Magalhães / Salma Ferraz 

LTR17 - O PAPEL DO TEATRO NA LITERATURA BRASILEIRA
Coordenadores: Alexandre Villibor Flory / Allan Valenza da Silveira 

LTR18 - O ROMANCE BRASILEIRO
Coordenadores: Rosana Cássia Kamita / Regina Célia dos Santos Alves 

LTR19 - O SUJEITO LEITOR, A LEITURA E O ATO DE LER NA LITERATURA, NA EDUCAÇÃO E NAS MÍDIAS
Coordenadores: Raquel Lazzari Leite Barbosa / Sérgio Fabiano Annibal 

LTR20 - PSICANÁLISE E TEORIA CRÍTICA ARTICULADAS PARA A LEITURA E ANÁLISE DO TEXTO LITERÁRIO: O MAL ESTAR E A VIOLÊNCIA EM QUESTÃO
Coordenadores: Rosana Cristina Zanelatto Santos / Susylene Dias de Araújo 

LTR21 - REPRESENTAÇÃO/CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES NA LITERATURA DE AUTORIA FEMININA BRASILEIRA
Coordenadores: Lúcia Osana Zolin / Nincia Cecilia Ribas Borges Teixeira 

LTR22 - REPRESENTAÇÕES DO SUJEITO FEMININO: GÊNERO, SEXUALIDADE, IDENTIDADE, HISTÓRIA
Coordenadores: Cecil Jeanine Albert Zinani / Salete Rosa Pezzi dos Santos 

LTR23 - SOB O SIGNO DA CONVERGÊNCIA: ARTICULAÇÕES ENTRE TEORIA E PRÁTICAS DE SALA DE AULA NO ENSINO DE LITERATURA
Coordenadores: Márcio Roberto do Prado / Jaime dos Reis Sant Anna 

LTR24 - TRANSCULTURAÇÃO E HIBRIDISMO EM LITERATURAS PÓS-COLONIAIS
Coordenadores: Sérgio Paulo Adolfo / Alba Krishna Topan Feldman 

LTR25 - VIOLÊNCIA E TRISTEZA NA NARRATIVA DE FICÇÃO DO SÉCULO XX
Coordenadores: Alamir Aquino Corrêa / Jaime Ginzburg 

Simpósios - Estudos Linguísticos 

LNG1 - A GRAMÁTICA DISCURSIVO-FUNCIONAL E OS ESTUDOS DE GRAMATICALIZAÇÃO - INTERFACES POSSÍVEIS
Coordenadores: Edson Rosa Francisco de Souza / Ana Cristina Jaeger Hintze 

LNG2 - CONCEPÇÃO INTERATIVA DE LINGUAGEM E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: ABORDAGENS E REFLEXÕES TEÓRICO-PRÁTICAS
Coordenadores: Alba Maria Perfeito / Terezinha da Conceição Costa-Hübes 

LNG3 - DISCURSIVIDADES EM DIFERENTES SUPORTES MIDIÁTICOS
Coordenadores: Fernando Felício Pachi Filho / Renata Marcelle Lara Pimentel 

LNG4 - DISCURSO E SUJEITO: ABORDAGENS TEÓRICO-ANALÍTICAS EM TORNO DA SUBJETIVIDADE, DO CORPO E DA FALA PÚBLICA
Coordenadores: Pedro Navarro / Carlos Piovezani 

LNG5 - DISCUTINDO O ENSINO DE PORTUGUÊS COMO L1, L2, L2E
Coordenadores: Darcilia Marindir Pinto Simões / Maria Suzett Biembengut Santade 

LNG6 - ELEMENTOS DE LINGUÍSTICA PARA O TEXTO LITERÁRIO
Coordenadores: Jeane Mari Sant´Ana Spera / Marco Antônio Domingues Sant´Anna 

LNG7 - ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES NA CONTEMPORANEIDADE
Coordenadores: Adriane Teresinha Sartori / Sílvio Ribeiro da Silva 

LNG8 - ESTUDOS DO LÉXICO E DA GRAMÁTICA
Coordenadores: Magdiel Medeiros Aragão Neto / Morgana Fabiola Cambrussi 

LNG9 - ESTUDOS GEOSSOCIOLINGUÍSTICOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Coordenadores: Vanderci de Andrade Aguilera / Catarina Vaz Rodrigues 

LNG10 - FERRAMENTAS DE ENSINO E PRÁTICAS EM SALA DE AULA
Coordenadores: Cláudia Valéria Dona Hila / Elvira Lopes Nascimento 

LNG11 - FÓRMULAS E ESTEREÓTIPOS: RELAÇÕES E CONDIÇÕES DE FUNCIONAMENTO
Coordenadores: Sírio Possenti / Sonia Aparecida Lopes Benites 

LNG12 - LEITURA E ESCRITA: ESTUDOS PSICOLINGUÍSTICOS E INTERFACES
Coordenadores: Vera Wannmacher Pereira / Onici Claro Flôres 

LNG13 - LER NA ATUALIDADE: HISTÓRIA, PRÁTICAS E DISCURSOS
Coordenadores: Luzmara Curcino Ferreira / Henrique Silvestre Soares 

LNG14 - LETRAMENTO, ETNOGRAFIA, INTERAÇÃO E APRENDIZAGEM
Coordenadores: Neiva Maria Jung / Cristina Marques Uflacker 

LNG15 - LINGUÍSTICA FUNCIONAL: TENDÊNCIAS E INTERFACES
Coordenadores: Maria Regina Pante / Elódia Constantino Roman 

LNG16 - O CAMPO PARADOXAL DAS IDEOLOGIAS, ENTRE IDENTIFICAÇÕES, SIMETRIAS E RUPTURAS
Coordenadores: Helson Flávio da Silva Sobrinho / Maurício Beck 

LNG17 - O SUJEITO NA LÍNGUA E NA HISTÓRIA: DA QUESTÃO DA SUBJETIVAÇÃO
Coordenadores: Alexandre Sebastião Ferrari Soares / Roselene de Fatima Coito 

LNG18 - O TEXTO ESCRITO E FALADO: ASPECTOS COGNITIVOS E SOCIOINTERACIONAIS
Coordenadores: Paulo de Tarso Galembeck / Isabel Cristina Cordeiro 

LNG19 - ORALIDADE, LETRAMENTO E SUAS RELAÇÕES
Coordenadores: Elaine Cristina de Oliveira / Cristiane Carneiro Capristano 

LNG20 - PARA A HISTÓRIA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: ESTUDOS DIACRÔNICOS EM DEBATE
Coordenadores: Fabiane Cristina Altino / Elvira Barbosa da Silva 

LNG21 - PRÁTICAS DE LINGUAGENS EM ESTÁGIOS SUPERVISIONADOS
Coordenadores: Wagner Rodrigues Silva / Cristiane Carvalho de Paula Brito 

LNG22 - PRATICAS DISCURSIVAS POLÍTICAS E MIDIÁTICAS NA CONTEMPORANEIDADE
Coordenadores: Maria Celia Cortez Passetti / Roberto Leiser Baronas 

LNG23 - RELAÇÕES DE COERÊNCIA NO TEXTO E NA GRAMÁTICA
Coordenadores: Juliano Desiderato Antonio / Maria Beatriz Nascimento Decat 

LNG24 - REVISÃO E REESCRITA DE TEXTOS
Coordenadores: Raquel Salek Fiad / Renilson José Menegassi 

LNG25 - SEMÂNTICA, ENUNCIAÇÃO E POLÍTICA
Coordenadores: Sheila Elias de Oliveira / Soeli Maria Schreiber da Silva 

LNG26 - SUJEITO E RESISTÊNCIA EM PÊCHEUX E EM FOUCAULT
Coordenadores: Ismara Tasso / Suzy Lagazzi 

LNG27 - TRADUÇÃO, CULTURA & CONTEMPORANEIDADE
Coordenadores: Rosa Maria Olher / Ana Maria de Moura Schäffer 

Minicursos 

1- Técnicas narrativas em jogos digitais: a ilusão da interatividade”
Maurício da Silveira Piccini (PUCRS)

2- Introdução à Gramática Discursivo-Funcional (GDF)
Taísa Peres de Oliveira (UFMS)

3- Identidade e nacionalismo às avessas na obra de Oswald de Andrade
Lourdes Kaminski Alves (Unioeste)

4- O ensino de leitura mediado por computador: uma reflexão sobre a relação didática entre teoria e prática
Denise Bértoli Braga (Unicamp)

5- Plínio Marcos: entre o lírico, o marginal e o político
Wagner Corsino (UFMS)

6- Exclusão e identidade: questões de ética
Maria José Rodrigues Faria Coracini (Unicamp)

7- Poética da Criação e da Crítica: Romantismo, Modernidade e Escritura
Márcio Scheel (Unesp)

8- Introdução à Teoria da Gramaticalização
Edson Rosa Francisco de Souza (UFMS)

9- Leitura e escrita: teoria e ensino em perspectiva psicolinguística e interfaces com outros modelos da Linguística e com a Literatura
Vera Wannmacher Pereira (PUCRS) e Onici Claro Flôres (Unisc)

10- Traduzindo para o Espanhol na Wikipédia
Artur Emilio Alarcon Vaz (Furg) e Daniele Corbetta Piletti (Furg)

Obs.: Serão ofertadas sessenta (60) vagas por minicurso

O Resumo dos simpósios será colocado no blog pouco a pouco.

Fonte:
http://www.cielli.com.br/programacao_geral 

Esopo (Fábula 9: O Rato do Campo e o Rato da Cidade)


Uma vez, um rato do campo convidou um velho amigo, um rato da cidade, para o visitar e  resolveu dar ao seu amigo o melhor de tudo o que tinha: côdeas com bolor, aparas de queijo, farinha de aveia velha, toucinho rançoso e outras coisas mais. Por fim, o amigo da cidade disse:

"Meu velho amigo, deixa-me ser franco. Por que ficas aqui. a passar mal, a apanhar migalhas e a ser miserável, quando podias ir para a cidade comigo? Ali podias gozar o conforto e os prazeres da vida citadina."

E lá foram os dois. Por volta da meia-noite chegaram ao seu destino. O rato da cidade mostrou ao amigo a despensa e, mais tarde, foram os dois para a sala de jantar, onde encontraram, ainda sobre a mesa, os sobejos duma magnífica refeição.

Mas, de repente, a porta abriu-se e entraram dois homens com os seus cães, fazendo uma tal barulheira que os dois ratos ficaram terrivelmente assustados. Quando tudo se acalmou, o rato do campo disse:

"Meu caro amigo da cidade, se é assim que se vive na cidade, prefiro voltar para a minha casa de campo com o meu queijo rançoso e as minhas côdeas duras.É melhor estar no meu próprio buraquinho, sem medo e sem correr perigo, do que ser dono do mundo inteiro com os seus sustos e os seus cuidados."

Moral da história

 Uma vida modesta na pacatez do campo vale mais do que todas as riquezas do mundo, quando estas trazem preocupações e problemas.

Fonte:
Fábulas de Esopo. Coleção Recontar. Ed. Escala, 2004.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 547)

Por do Sol em Porto Alegre
Uma Trova de Ademar 

Vem um verso “de veneta”,
falta tinta, que derrota!
Pois tinta em minha caneta
minha inspiração não bota!... 
–ADEMAR MACEDO/RN– 

Uma Trova Nacional 

Às vezes palavras faltam, 
vão crescendo os sentimentos... 
E é então que as trovas saltam 
pra fora dos pensamentos! 
–REGIANE ORNELLAS/SP– 

Uma Trova Potiguar 

Só ficaremos de pé, 
ante os percalços da vida, 
quando o equilíbrio da fé 
nos mostrar uma saída. 
–HÉLIO PEDRO/RN– 

Uma Trova Premiada 

2007 - Bandeirantes/PR 
Tema:  ENCANTO - Venc. 

Entre todos os recantos
é aqui que me sinto bem:
- o meu lar tem tais encantos
que outros lugares não têm!
–SONIA MARTELO/PR– 

...E Suas Trovas Ficaram 

Quando chora um trovador
não é o seu pesar somente,
canta, sofre e chora a dor
colhida de toda gente.
–VICTORINA SAGBONI/PR– 

Uma Poesia 

A poesia é uma fonte 
que não se esgota jamais; 
está nas flores, nos frutos, 
no canto dos sabiás, 
até na gota de orvalho 
que pinga de cada galho 
há versos sentimentais! 
–PROF. GARCIA/RN– 

Soneto do Dia 

Primavera 
–GILSON FAUSTINO MAIA/RJ– 

Então ela chegou mostrando as cores, 
transformando a tristeza em alegria, 
trazendo borboletas, poesia, 
suavizando o encontro dos amores. 

Aqui e ali, já estão brotando as flores, 
e os passarinhos, ao raiar o dia, 
no pomar fazem sua sinfonia. 
Vibrem poetas, cantem trovadores! 

Modifica-se, inteira, a natureza. 
A musa mostrará sua beleza 
e o jovem perderá seu coração. 

O sol irá brilhar mais claro agora! 
Capim novo, refaz-se a nossa flora, 
há mais vida no ar e em nosso chão.

Prêmio Cataratas de Contos e Poesias (Resultado Final)


Contos:

1o LUGAR:
Autor: Emir Ross
Obra: “Cotovelos Ao Parapeito” 
Porto Alegre – RS

2o LUGAR:
Autor: Danieli Moreira De Souza
São Paulo - SP
Obra: “Batman, Wolverine E A Bela Adormecida” 

3o LUGAR:
Autor: Zulmar José Lopes De Vasconcellos 
Rio De Janeiro – RJ
Obra: “A Professora De Caligrafia”

4o LUGAR:
Autor: João Paulo Parisio 
Jaboatão Dos Guararapes – PE
Obra: “Bio Boi”

5o LUGAR:
Autor: Jânsen Almeida Diniz 
João Pessoa – PB
Obra: “Da Rotina Alheia” 

6o LUGAR:
Autor: Caio Flávio Oliveira De Oliveira 
São Gabriel – RS
Obra: “Cabelos Grisalhos”

7o LUGAR:
Autor: Hugo Henrique S. Pinto 
Recife – PE
Obra: “O Essencial”

8o LUGAR:
Autor: Pedro Veludo
Rio De Janeiro – RJ
Obra: “Encontro Na Estação Do Catete” 

9o LUGAR:
Autor: Gerson Augusto Gastaldi 
São Paulo – SP
Obra: “A Permuta”

10o LUGAR:
Autor: Fernando Pires De Moraes 
Belo Horizonte – MG 
Obra: “A Doutora De Olhos Verdes” 

POESIAS

1o LUGAR:
Autor: Tatiana Alves Soares Caldas 
Rio De Janeiro – RJ
Obra: “Pontual”

2o LUGAR:
Autor: Bárbara Lia Soares 
Curitiba – PR
Obra: “Holocausto Dos Livres” 

3o LUGAR:
Autor: Rodrigo Domit 
Rio De Janeiro – RJ
Obra: “Cachoeira”

4o LUGAR:
Autor: João Paulo Parisio
Jaboatão Dos Guararapes – PE
Obra: “Teletransporte” 

5o LUGAR:
Autor: Francisco José Gomes Correia 
Vizela – Guimarães - Portugal 
Obra: “Confissão”

6o LUGAR:
Autor: Felipe Cattapan 
Rveschlikon – Suíça 
Obra: “Simetrias E Reflexos” 

7o LUGAR:
Autor: Mauro Cesar João De Cruz E Souza 
Cotegipe - BA
Obra: “Autopoiesis”

8o LUGAR:
Autor: César De Oliveira Santos 
Lagarto – SE
Obra: “Cais Noturno”

9o LUGAR:
Autor: Reginaldo Costa De Albuquerque 
Campo Grande - MS
Obra: “Os Galos Da Minha Rua”

10o LUGAR:
Autor: Gerson Augusto Gastaldi
São Paulo – SP
Obra: “Cataratas Do Iguaçu (O Mirante De Deus)” 

A premiação será realizada no dia 13 de maio de 2012, às 19h30, durante o Salão Internacional do Livro. A Fundação Cultural de Foz do Iguaçu é a responsável pela premiação e pela organização do evento. 

Clique em http://www.pmfi.pr.gov.br/Portal/VisualizaObj.aspx?IDObj=13815 para visualizar a programação do Salão, que começou no dia 04 de maio, na última sexta-feira.

Fonte:
http://www.pmfi.pr.gov.br/Portal/Pagina.aspx?Id=140 
Http://concursos-literarios.blogspot.com 

domingo, 6 de maio de 2012

A. A. de Assis (Estados do Brasil em Trovas) Rio de Janeiro

Wagner Marques Lopes / MG (O Martim-pescador do Rio Xerém)


O nosso Martim vivia
nas barrancas do Xerém.
Pescava o dia inteirinho,
a cuidar de sua cria,
que o esperava lá no ninho.

Eram tempos de fartura,
com peixes de qualidade.
Ele acordava com o dia...
Quando o sol ganhava altura,
um cesto bom ele enchia.

De certa feita, porém,
após fazer uns mergulhos,
Martim notou algo estranho
nas correntes do Xerém.
“-Que água turva que apanho!...”.

Mergulhava e nada via...
Nem mesmo sombra de peixe!...
Tudo era escuro demais!
Foi assim, dia após dia...
“- Peixe que é bom, nunca mais!”.

O rio bem poluído!...
A mortandade dos peixes!
Martim ficou bem tristonho...
Tudo estaria perdido?
Chegara ao fim um bom sonho?

O Martim- pescador do Rio Xerém
Eram peixões e peixinhos
descendo o rio, boiando...
E Martim falou com brio:
“- Que vale o choro?!... Sozinho,
não mudo a água do rio!...

Seguindo o rio, a montante,
Martim-pescador descobre
a razão de seu sofrer:
uma usina, a todo instante,
faz descargas a valer.

Dela saem poluentes
que tombam num ribeirão...
E conclui, com desconforto:
“- Contaminam afluentes...
O Xerém tem peixe morto!”

Ante um crime tão patente,
decide ir à usina.
Mostra o samburá vazio,
ao falar com o presidente:
“- Não há mais peixe no rio!...”.

Adeus à poluição!
A usina instalou os filtros.
E Martim, com seu menino,
volta a pescar de montão
num Xerém bem cristalino!

Fonte:
Ambiente Brasil

Bernardo Trancoso / ES (Diário de um Sonetista)


Tem horas que a gente fica com uma vontade louca de escrever e, mesmo sabendo que para escrever é preciso muito mais do que uma simples vontade, abre a gaveta às pressas à procura de lápis e papel. Há quem já arranque a folha do caderno antes que surjam as primeiras palavras. Há quem arrisque rabiscar o que lhe vem à mente, sem preocupação com a coerência, com a gramática, ou com o destino aonde aquilo tudo vai levar. Embora saiba o propósito deste texto, que é o de introduzir no meu sítio um lugar para a minha prosa, na intenção de que isto possa um dia ajudar alguém a começar as suas andanças pela literatura, neste exato instante eu pertenço a esta categoria de escritores compulsivos: não sei sobre o que vou escrever.

Só que minha vontade louca resolve, ao invés de enveredar pelos caminhos complicados da importância de escrever, que é tão ou mais valiosa do que a de ler, percorrer as trilhas seguras e sensatas do prazer que dá ao escritor o texto completo, bem feito. Não estou falando, outra vez, das concordâncias verbais e dos reguladores lingüísticos impostos pela gramática. Em matéria de palavras escritas, sou um pecador como qualquer outro: cometo minhas confusões com verbos, substantivos e vírgulas. Não sei mais distinguir a diferença entre uma oração subordinada causal e outra, concessiva. Agente da passiva, então, nem se fala. O editor de texto que estou usando é o meu corretor básico, o restante é o que lembro das aulas da Dona Edna e dos demais professores que tive... Enfim, perdoe-me pelos erros de português, aquela história... Mas, por favor, me deixe terminar este texto. Ou, como o autor do último livro que li dizia, não me perdoe, os erros são propositais.

Leio muito, eu. Adoro o prazer de um bom livro. Eles me fazem navegar por universos ainda inexplorados e que na maioria das vezes acabam ensinando algo. Recentemente, li um muito interessante sobre um jovem indiano que atravessa o Pacífico com uma hiena, um tigre de bengala e um orangotango... Quem tiver a oportunidade, o livro em português chama-se "A vida de Pi". Não vou falar mais nada dele, pois livro é igual xampu: para a cabeça de uns, serve; para a de outros, não. Se você não gostar, não me culpe. Nem culpe o autor, pois ele não pode, sob nenhuma hipótese, ser retirado do pedestal onde se colocou ao romper a barreira da imortalidade e escrever um livro. Algumas dicas para ler sempre: troque regularmente de autor e de assunto, para não enjoar; se não gostar de um livro e demorar em terminá-lo, tente voltar a ele no máximo três vezes e depois desista (levei um ano para ler um livro do Salman Rushdie... arrependo-me até hoje); com todo respeito aos tradutores, se puder leia um livro no idioma em que foi escrito e, finalmente, não procure grandes livros apenas em grandes autores – é muito bom ser surpreendido por um autor pouco conhecido no meio.

Veja só o leitor como já saí do tema inicial deste texto e enfurnei-me por outros caminhos. É assim com a poesia, é assim com a vida da gente onde nem tudo sai do jeito que esperamos, por que não haveria de ser assim com um artigo de abertura de uma página sobre o prazer de escrever? A magia da escrita está na liberdade que ela proporciona. Quando lemos algo, o fim já está escrito, ainda que não o conheçamos. No ato de escrever, o poder criador passa a ser do autor. Porém, com este poder advém, de certo modo, uma responsabilidade para responder pelas suas palavras. Salman Rushdie – convém citá-lo novamente – que o diga... Por isso é que escrever é arte; ler não é arte. Voltemos, então, ao tema principal.

"Como se escreve menos hoje em dia, como se escreve tanto hoje em dia". Li isso buscando na Internet um artigo sobre isso mesmo, e parei por aí. Escrevemos demais. Na frente de um computador, conversamos no aplicativo de mensagens instantâneas, enviamos e-mail, digitamos o endereço de uma página da Internet... A vida de muitas pessoas – a minha, inclusive, e cada vez mais a sua – gira hoje em torno de um quadrado de quinze polegadas com resolução de 800 por 600. Digito muito o dia inteiro mas, ao final, não escrevi nada. E o que isso representa? Menos livros, menos poesias, mais conteúdo para satisfazer necessidades momentâneas e egoístas e, portanto, inútil em um contexto mais amplo. Há os que alertam sobre o fim das relações entre as pessoas com o advento do Messenger e, mais recentemente, do iPod. Neste artigo, que já está ficando comprido, não entrarei no mérito deste tipo de discussão. Para mim a música é e sempre foi uma representação artística que abre a cabeça, inspirando outras artes. Basta fazer um teste para ver quantas músicas você conhece de memória. Música é poesia. Portanto, sem saber já estamos cheios de poesia dentro de nós. Agora, expressar esta poesia, acrescentando nela o elemento diferenciador de que somos feitos, que é a nossa personalidade, são outros quinhentos. E isso é o que me preocupa. Sinto que, em proporção com o século passado, estamos cada vez mais carecendo de escritores. E não estou falando apenas de dissertações, mas também de poemas e – para caber neste espaço – sonetos. Como eu gostaria de encher o meu sítio de sonetistas novos...

Não posso esquecer dos blogs, ou diários virtuais que muitos mantêm em um sítio na rede mundial de computadores. São geralmente compostos de textos curtos, relatos de acontecimentos esparsos que, sem dúvida, no mínimo ajudam a praticar o português. Afinal, ninguém gosta de entrar em um blog e encontrar a palavra "menas", popularizada não se sabe como nem por quem, mas que é cada vez mais comum na linguagem falada e dói ao ouvido daqueles que são um pouco mais cultos. Por isso, seus donos devem ter cuidado com o que publicam. Sim, os blogs são uma tendência louvável (isso aqui é uma espécie de blog), mas sinto que ainda falta um passo na evolução, ou melhor, na recuperação do prazer da escrita na era digital.

E é aqui que este artigo termina, meu amigo, sem definir solução alguma para o problema da perda de escritores. Espero, com o tempo e com outros textos como este, dar a minha contribuição para o tema. Estou até com um livro na gaveta que pretendo publicar em um futuro não muito distante. Novos sonetos meus, que já fluíram com mais vigor, ajudar-me-ão a manter o apego pelo conjunto lápis e papel. Mas o propósito, mesmo, é repassar o lápis. E quem sabe, um dia, no meio deste amontoado de palavras e de versos, passe por aqui um sujeito tímido e sonhador, com uma mente frenética ocultada por um olhar distante, e quem sabe ele resolva que nasceu para ser escritor, e quem sabe a partir de suas palavras eu encontre inspiração para mais um artigo, que inspire outro escritor num círculo vicioso e não menos romântico... Ah, aí neste momento, já não terá sido em vão... Já estou até ouvindo a minha mãe dizer: "deixa de sonhar, menino!".

São Paulo, 20 de março de 2005.
Bernardo Trancoso


p.s.: Relendo o primeiro parágrafo, no afã de revisar o que foi feito, empolguei-me por conseguir adequar o texto à sua proposta inicial de escrever compulsivamente. Todavia, nos demais parágrafos, senti pesar sobre mim a responsabilidade de deixar algo de inspirador e interessante para os leitores, e o que vi foi mais uma crítica do que um incentivo ao ato de escrever. Fiquei até meio triste com o texto... Será que eu também terei perdido o prazer de escrever e vou me juntar ao grupo dos que passeiam pela vida sem deixar uma mensagem escrita, como um testamento de sua alma, para as gerações vindouras? Ou tudo isso é saudade do estimado autor Fernando Sabino?

Fonte:
http://www.sonetos.com.br/vep1.php

José Galas / PI (Caderno de Poemas)


ENGENHO DE LETRAS

Cansado de letras cansadas
letras de ofício
quase tão mortas
quanto o fim do dia.

É mais o que engendram
do que o engenho delas
que atrofia.

É como porfia de partilha:
uns a querem morta
outros nua.
De nada adianta copular
com a forma.
O que sobrevive
é de pura teimosia.

E pensar que o tempo passa
entre o dedal e a linha
quase num suspiro.

CABEÇA DE POETA

Não um troféu se safári, ornamento.
Um bicho vivo arrastando a carcaça
para não morrer em lugar comum:

O instinto transmutado
longe das doces palavras.

DIÁSPORA

Aqueles aos quais me apeguei
estão distantes agora
Uns morreram por terra
outros correram por fora
De sorte que nada resta
afora gibão e espora
Eu mesmo me plantei aqui
entre o mar, o sertão e a espera.

Se perguntares a quem combato
Digo-te: a mim mesmo
bicho do mato.

ARRANJOS FLORAIS

não queira no galho
colher a rosa viva
nem no livro agasalhar
a pétala caída

CRIADOR DE GATOS

deixe-me dormir
amanhã tenho tempo de sobra:
frito ovo arrumo a casa faço carinho no gato
ah!? não tenho gato!?
tanto faz
com tempo sou capaz de inventar
um.

UMA JANELA AO LADO DA CAMA

nenhuma aurora
nem pomar
meus olhos dão para alqueires
de luzes,
os automóveis passam desligados
e estou cansado desse sabor...

O HOMEM E O TEMPO

O homem pára,
fuma seu cachimbo.

Que matéria ousaria perturbá-lo?
O tempo não é feito de têmporas
nem o homem de tâmaras.
Cada um a seu feitio
engendram-se.

O homem fuma,
o tempo esfuma-se
e não passa.

CARAMUJO

às vezes me encontro caramujo
o mar vem, rola...
o caminho percorrido a água apaga
a onda passa
o mar me devolve.

ANTROPOFLOR

A flor é diferente
na boca de cada poeta
Pode ser palavra só
sem aroma, adorável
palavra beija-flor
um conto
A flor na boca de cada poeta
é a flor
que ele come.

Fonte:
Antonio Miranda.

Carlos Heitor Cony (As Ligações Perigosas do Jornalismo e da Poesia)


No século passado, quando nasci e me iniciei no ofício que até hoje exerço, um dos meus espantos foi descobrir que, nas Redações de antigamente, todos, do redator-chefe ao contínuo que levava os originais para a composição, todos, sem exceção, faziam poesias, sendo o soneto o estuário preferencial para o estro geral.

Eu levava então da poesia, se não um amor entranhado, um respeito religioso, uma admiração distante e sagrada. Não conhecia até então nenhum poeta em carne e osso e, no fundo, no fundo, achava que os poetas não tinham carne nem osso. Ora, direis ouvir estrelas, vai-se a primeira pomba despertada, querida ao pé do leito derradeiro, a lua banha a solitária estrada, auriverde pendão da minha terra - todos os versos que conhecia eram desossados, feitos de éter e nuvem, nada tinham a ver com os homens que conhecia e mesmo com aqueles que não conhecia.

Até que, no final de uma tarde de distante ano, subi as escadas, combalidas e decadentes, do meu primeiro jornal, um jornal que vivia de seu passado enquanto eu queria começar a viver o meu futuro.

O secretário, que depois do dono era a autoridade máxima da Redação, chamava-se Mâncio, se não estou enganado, Mâncio Teixeira, era paraense ou maranhense. Apresentei-me e apresentei meu pequeno texto, a Central do Brasil decidira cancelar uns trens por medida de economia ou coisa equivalente.

Mal me aproximei, percebi que Mâncio apressadamente escondia a lauda que estava escrevendo, metendo-a numa pilha de matérias que ele teria de ler para encaminhar às oficinas. Meio sem jeito, como se fosse surpreendido fazendo má ação, ele leu o meu texto, corrigiu uma concordância, mas elogiou a matéria. Pediu que ficasse mais um pouco por ali, talvez precisasse de mim para fechar a primeira página.

Aproveitei uma ida dele ao banheiro e dei uma espiada na pilha de matérias, para saber como sairia a edição do dia seguinte. E encontrei a folha que ele escondera afobadamente: era uma poesia, mais precisamente, um soneto. Estava no segundo terceto e continha o uivo desesperado de uma dor de corno recente e sangrada.

Não tive tempo de ler o soneto, mas fiquei pasmo. Então um secretário de Redação, com a obrigação de fechar um jornal com cotações da Bolsa, crimes na Baixada Fluminense, crise na bancada do governo, o Flamengo mudando de técnico, o prefeito prometendo acabar com as enchentes do Catumbi -e ele suava para encaixar rimas e decassílabos, dando conta da devastação em que vivia após a certeza de que era traído.

Durou pouco meu pasmo. Cedo descobri que uns pelos outros, todos faziam seus versos, uns de forma escondida, outros abertamente, pois faziam questão de passá-los de mesa em mesa, cobrando uma opinião, mas esperando um elogio.

Frequentei outras Redações, mais nobres, com gente mais ilustre. Mas nunca esqueci o Mâncio, que morreria pouco depois, de infarto fulminante, ao subir as combalidas e decadentes escadas de sua Redação. Não era paraense nem maranhense, como eu supunha, mas de Parnaíba, no Piauí, segundo vim a saber no necrológio que alguns jornais publicaram. Era viúvo e não deixou filhos. Mas publicara na mocidade um livro de poesias, com o profético título de "Versos Inúteis".

Para compensar a inutilidade dos versos do Mâncio, encontrei pelas Redações poetas de fulgurante presença nas letras nacionais. No "Correio da Manhã", durante anos, fui colega de Carlos Drummond de Andrade, era meu vizinho no Posto 6, dava-lhe carona no meu carro, nunca o surpreendi fazendo um poema ou falando de poesia.

Nem todos tinham a sua glória e serventia. Eu preferia ler poemas que eram feitos envergonhadamente nas folgas do trabalho. Um repórter que trabalhava na editoria de esporte, cobrindo o turfe, fez um soneto intitulado "O Mosteiro de Tijolos de Feltro". O setorista credenciado no Ministério da Marinha brindou-me certa vez com um enorme poema sobre Tamandaré. Pouco depois, ele ganharia a medalha do Mérito Naval por conta de seus versos.

Quando publiquei, eu mesmo, o primeiro romance, passei a ser considerado persona grata dos editores, pelo menos do meu editor, que era o Ênio Silveira, da Civilização Brasileira.

Certo fim de noite, quando a Redação começava a ficar vazia, fui chamado ao gabinete do diretor responsável pelo jornal, um personagem imponente, de olheiras dramáticas e voz cavernosa, que já se candidatara cinco vezes à Academia e cinco vezes tivera apenas um voto de um acadêmico que era positivista como ele.

Nunca me chamara, eu até suspeitava que ele nem soubesse da minha existência. Levantou-se quando entrei em sua sala, ofereceu-me um café e pediu que lesse um soneto que acabara de fazer.

Evidente que elogiei o soneto, mas exagerei um pouco. Como castigo, ele abriu uma gaveta e dela tirou um calhamaço de versos. Que lesse com atenção e, se achasse mérito naquela produção poética, a encaminhasse ao meu editor. E, para me subornar, disse que somente eu poderia escrever-lhe o prefácio.

LEMBRANÇAS

Aos 20 anos, eu sabia latim, mas não sabia tomar um bonde. Ônibus então era mais complicado; afinal, bonde andava sobre trilhos, ônibus andava onde queria, cumprindo itinerários complicadíssimos. Deixara o seminário com odes de Horácio na cabeça, era capaz de recitar trechos inteiros do "Pro Milone" de Cícero. Mas, nas coisas práticas e necessárias, era uma lástima.

Sabendo que o filho não dera para padre, o pai achou que eu devia ser jornalista, função naquela época destinada àqueles que não davam certo em nenhuma outra. O sujeito ia trabalhar num jornal como alternativa desesperada, após quebrar a cara em outros ofícios que exigiam mais sabedoria e disciplina.

As redações estavam cheias de médicos, advogados, professores, políticos de diversas origens e finalidades, alguns até que davam certo na função principal, mas enchiam o tempo com um bico mal-remunerado, que não exigia habilitação específica, nem mesmo a de escrever razoavelmente.

Era comum a existência daqueles tipos que Lima Barreto descreveu em suas "Recordações do Escrivão Isaías Caminha". O cidadão era considerado entre os médicos por ser bom jornalista e respeitado entre os jornalistas por ser um bom médico.

Foi assim que, naquela tarde, após negociações embrulhadíssimas entre o pai e um secretário de jornal, subi as combalidas escadas da "Gazeta de Notícias", jornal que já tivera sua glória, endereço famoso na rua do Ouvidor, de cujas sacadas José do Patrocínio levantara as massas a favor da Abolição.

Um tópico da "Gazeta" derrubava ministros, falia bancos, consagrava um ator, provocava uma revolução. Durante a campanha de Canudos, houve um dia em que morreu mais gente sob as sacadas do jornal do que no arraial do Conselheiro.

O jornal vivia de seu passado, e eu queria viver um futuro que, aliás, nunca tive. Não podíamos dar certo. Apresentei-me ao tal secretário, que se chamava Mâncio – jamais conheci outro Mâncio, de maneira que não lhe guardei o nome todo, por isso o Mâncio me bastava porque o julgava único e suficiente.

Era um paraense que passava o dia corrigindo as besteiras que os outros escreviam. Nas horas vagas, fazia versos – função mais do que desculpável naquele tempo. Todos, de alguma forma, faziam versos mais ou menos por obrigação existencial. Era uma forma de superar a mediocridade da vida que se levava.

Mâncio tinha na página um pequeno espaço destinado a um soneto diário que ele próprio escrevia sob o título genérico de "Perfí...dias", assim mesmo, eram perfis de adversários ou desafetos do dono do jornal. Estava exausto, já esculhambara metade dos políticos, banqueiros e pessoas gradas do Rio de então. E, como o dono do jornal variava de adversários e desafetos conforme as circunstâncias, a outra metade não perdia por esperar.

Ele me olhou penalizado, tão jovem, sabendo latim (o pai fazia questão de proclamar essa minha única e problemática qualidade) e ali à sua frente, aguardando uma missão que fosse útil a mim e necessária à nação. Como não lhe passasse pela cabeça que eu não soubesse fazer sonetos, pediu-me que fizesse o "Perfí...dias" do dia seguinte. E deu-me o tema: Carlos Lacerda, que naqueles dias fazia campanha contra o prefeito que isentara o jornal de não sei quantas multas e emolumentos vários.

Apesar da pouca idade, eu já fizera muita coisa reprovável nos meus 20 anos, mas nunca me atrevera a fazer um soneto. Os maiores criminosos, capazes de violar sepulturas, violentar freiras e degolar criancinhas, conservam sempre um limite moral. Por exemplo, não comem carne nas sextas-feiras da Quaresma.

Recebida a missão, procurei um lugar para desovar os 14 versos dos quais dependeria o meu futuro. À frente do Mâncio havia uma mesa e cadeira empoeiradas e vazias, que me pareceram apropriadas para a função de fazer um soneto contra o Carlos Lacerda, que eu nem sabia ao certo quem era, nem o que fazia.

Houve um brado retumbante na redação. O próprio Mâncio levantou-se, vermelho de indignação: "O que é isso? Esta cadeira é do Olavo Bilac!". Levei um susto. Pelo que imaginava, Bilac havia morrido há anos, mas tive a sensação de que de repente ele iria surgir, vindo da rua ou do banheiro, para sentar ali, espanar a mesa e fazer um daqueles sonetos que lhe deram glória.

Pasmo, tendo iniciado tão mal minha carreira de jornalista e sem esperança de me recuperar às custas de um soneto imortal, lá fui eu para os fundos da redação, junto ao pessoal do turfe. Vencida a primeira dificuldade, logo tive outra: teria de encontrar uma rima para "Lacerda" e a única que eu sabia era impublicável nos jornais daquele tempo.

Mesmo assim, desovei os 14 versos que me garantiram, senão um futuro, ao menos um sanduíche de salame com caldo de cana, que o próprio Mâncio me pagou, numa pastelaria da rua Senhor dos Passos.

O SONETO

Era magro, feio, merecia o superlativo: era magérrimo e feiíssimo. Usava óculos, fumava de piteira, a voz rachada, andava mal vestido, mas tinha – milagre jamais explicado – um carrinho inglês que sempre estava de bateria arriada e precisava ser empurrado.

Trabalhava num vespertino, seu texto era barroco, cobria festividades cívicas e religiosas. Era – segundo o meu pai – uma boa alma, embora fosse ruim de corpo. Um dia, me levou para um canto da redação e recitou-me um soneto de sua lavra, os olhos faiscando de lascívia contrariada.

Esqueci o soneto minutos depois. Guardei por uns tempos o final, aquilo que os parnasianos chamavam de "chave de ouro". Transcrito em papel talvez não impressione.

Dito por ele, num canto empoeirado da redação, com sua voz rachada, a piteira nas mãos trêmulas, era uma apoteose da dor: "Passei bem junto a ela. E decerto ela nem soube que eu passei tão perto e nem suspeita que eu segui chorando!". O verso quebrado e a exclamação final faziam parte da poética e das redações daquele tempo.

Chamava-se Cardim. Domingos da Silva Cardim se não me engano. Casara-se com uma viúva tão feia e magra como ele, também boníssima alma. Não tinham filhos.

Por isso ou aquilo, Cardim apaixonava-se com freqüência e, quanto menos correspondido, mais apaixonado ficava. Deve ter feito outros sonetos, circulou pela redação um poema pornográfico e anônimo que desde o redator-chefe até o contínuo que ia buscar café na esquina atribuíram ao estro do Cardim.

Cardim morreu como um passarinho – naquele tempo era comum esse tipo de morte. O tempo passou, esqueci dele, mas nunca esqueci aquele final de lascívia contrariada. Outro dia, bestamente, depois de um dia inglório e triste, cara mais uma vez quebrada, me surpreendi recitando em causa própria: e ela nem soube que eu passei tão perto e nem suspeita que eu segui chorando!

Fonte:
http://www.sonetos.com.br/cony.php