sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Olivaldo Junior (Maria, as Moedas e um Menino em Dúvida)


Escrevo, para o Dia de Nossa Senhora Aparecida e das Crianças, breve história que me ocorreu à noite.

A música Romaria foi a primeira que aprendi a cantar, quando eu tinha um ano de idade, mais ou menos.

Não tenho sentido vontade de aprender novas músicas, pois que as velhas ainda resistem ao tempo. Meu tempo é o de fechar as cortinas e arrumar os papéis (coisa que não faço faz tempo), arrumando, também, minha alma. Não sei. Os papéis, amarelos, deixaram rastros na alma, bagunçada demais, desde criança, Maria. 

MARIA, AS MOEDAS E UM MENINO EM DÚVIDA

Era igreja pequena, mas cheia de afrescos, sinais do talento de gente do povo, tão cheia de fé que nem sabe que a tem. A igreja, embora singela, trazia nela um bom nome, o de Nossa Senhora, Aparecida, em louvor. Louvor a quem? A Nosso Senhor. 

A cidade onde ficava essa igreja também era mini, mas super feliz com a ideia de que Nossa Rainha guardava os fiéis. Um deles era um pobre menino que não tinha quase nada a perder. Os pobres hão de ter mais de uma chance de aprender sobre o Céu e suas coisas divinas, porque têm muito pouco a perder. Perdido, perambulava e só.

Um dia, onze de outubro de um ano qualquer, quando a fome apertava cada fibra do estômago daquela criança, teve a súbita imagem da caixinha dourada que abrigava as moedas de Nossa Senhora, bem aos pés de Maria. Não pensou duas vezes. Roubar!

A igreja estava quase vazia. Os olhos de cada imagem, sucintos, caíam sobre as costas do pobre enquanto ele catava as mais de vinte moedas do claustro de ofertas. 

Na rua, com as moedas cantando nos bolsos, calava no peito uma dúvida atroz: onde iria comer? Gastaria, ou guardaria o dinheiro para quando tivesse mais fome que a fome sentida nos últimos dias? Não sabia. Os passos, mais rápidos que sempre os soubera, corriam nas beiras do asfalto, querendo chegar. Não tinha parada. Chorou.

Assim, ao cruzar outra esquina, deu de cara com a triste mulher, de longo vestido, com criança nos braços, parecendo chorar, pois não dava para ver os seus olhos pedintes com a cabeça materna junto ao pobre bebê. A mulher não pediu. Ele não pararia! Mas, nos bolsos, cantando sem letra, as moedas pediam como se rogassem a ele que as deixasse com ela, vã mendiga no olho da rua. Cego de fome, deu de ombros, mas não “fugiu”. Parou, dando as moedas à pobre, que, num gesto sem força, fez menção de sorrir. A vida é sem jeito!, pensou ele, faminto, chorando. Chorava, mas era bondoso.

Caindo o sol, à tardinha, numa praça sem nome, o menino deitou-se. Não sabia rezar, mas olhou para o céu. Cada estrela era um sopro de luz sobre um triste e apagado menino. A fome doía. O corpo penava. O menino morreu. A mesa, no Céu, à espera dos justos e de quem amou, não seria, àquela noite de festa, mais um sonho sem nexo. A mendiga (meu Deus!) tinha dado ao menino franca entrada pra o Céu, aparecendo ali.

Fonte:
O Autor

Antônio Baracat Habib Neto (Poemas)


O poeta é de Itabuna/ BA

BEDUÍNA

Vem comigo Beduína..., arde o meu peito
No braseiro sem fim da nostalgia !...
Vem comigo que a lua já irradia
Seus raios argentinos no meu peito;

Vem comigo que dorme insatisfeito,
Quando a noite tão triste beija o dia,
O coração que outrora se perdia
No delírio do amor quase perfeito,

Vem comigo, formosa peregrina,
Pela estrada silente da ternura,
Para o templo bendito que fascina...

Vem comigo que a estrela da ventura,
Teus passos pelas noites ilumina,
Ó filha do deserto, casta e pura !...

(Extraída do Livro Versos de um Khalifa pág 37).

DESEJOS

Tu sabes que sei o que sentes
Tanto quanto sabes o que sinto
Por que retarda tanto nosso abraço?
Vens, e verás que não minto

Dás dois passos para mim...
Recuas três e te afastas...
Por que não cedes e me sacia
Livrando-me de saudades nefastas.

Tu avanças,retrocedes...
Recúas,me atormenta
Por que não te entregas duma vez?
Te demoras e o meu desejo aumenta

Que se rompa o muro levantado
Por preconceito vão,ultrapassado
Vens depressa,eu te espero...
Dupla força tens o grito sufocado

QUALQUER COISA
Acróstico

Qualquer coisa escreverei
Um poema formarei
Antes que inspiração se vá
Lá eu deixarei
Qualquer coisa escrita
Uma vaga lembraça
E o inicio de uma criança
Relembrando sua infancia

Com papel e caneta
O menino pensou
Isso é só começo
Sabia o que falava
Agora é um grande poeta que por aqui passa

CANTA TEUS AMORES
Acróstico 

C laras águas do mar
A qui vim megulhar
N as tuas ondas,minhas mágoas hei de afogar
T rás de volta o meu sorriso
A inda adormecido

T oca este coração
E sgotado de bater em solidão
U ne novamente esta paixão
S audosa e sincera

A onde que que eu vá
M eu pensamento em ti estará
O meu amor não pode esperar
R azão do meu viver
E elouquece-me de prazer
S erei teu até morrer.…

Fontes:
– O Autor
– http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=46554

Ialmar Pio Schneider (Sonetos)



VENTO DO MAR 

 Vento que sopras furibundo 
 e vens meus sonhos despertar, 
 as tristezas de todo o mundo 
 parece que trazes do mar... 

 Ouvindo o lamento profundo 
 sempre constante a marulhar, 
 quedo-me triste, me confundo 
 co’a voz misteriosa do mar... 

 Altas horas, cada segundo 
 teimas o meu corpo abraçar, 
 quando em reflexões me aprofundo 
 para obter segredos do mar…

SONETO 

Comemora-se no Brasil, o Dia Nacional da Leitura (a partir de 2009 - Lei nº 11.899). 

A distração do espírito é a leitura 
e os grandes mestres nos ensinam tal; 
nas obras-primas, vasto cabedal 
a mente encanta e o pensamento apura... 

A existência tem fases de amargura, 
pois há um confronto assaz fenomenal: 
de um lado luta o bem e de outro o mal 
e o que vence por fim é o que perdura. 

Escrevam, romancistas, seus romances ! 
Cantem, poetas, salutar poesia ! 
Porquanto houver na vida tantos transes, 

não vão morrer as páginas aflitas 
e nem há de ficar a imagem fria 
das criações pra todo sempre escritas.

DIA DA CRIANÇA

Julgavas que este amor não encontrasse 
pedras e espinhos pela estrada afora, 
mas são os sofrimentos e a demora 
o que fazem eterno o que é fugace. 

Repara-me nos olhos e na face 
para ver quanta mágoa me devora, 
por não ter alma cândida e sonora 
a fim de ser o que teu sonho amasse. 

Deixemos de torturas e cansaços, 
reclina-te serena nos meus braços, 
confia em mim na maior esperança... 

Faz de conta que nada mais existe, 
então verás alguém que foi tão triste 
convertido na mais alegre criança…

SONETO   ÍNTIMO

 Enfrenta teu destino sem alarde; 
 que ninguém saiba o que te vai na mente... 
 Não te lastimes, murmurando: “É tarde !” 
 Esquece o teu passado, indiferente... 

 Também não fujas, como vil covarde, 
 à luta que te espera, e simplesmente 
 pede ao Senhor que te proteja e guarde 
 em Sua bondade infinda, onipotente. 

 Encontrarás, enfim, sabedoria 
 para atingir a meta projetada, 
 sem falso orgulho, mágoa ou rebeldia; 

 porque tua fé com força redobrada 
 renascerá com flores de alegria, 
 enfeitando pra sempre tua estrada.

CATULLO DA PAIXÃO CEARENSE 
Soneto em homenagem póstuma – In Memoriam 

Faz-me lembrar o tempo de menino, 
no lar paterno, lá na velha aldeia, 
com minha mãe, irmãos e irmãs, na ceia, 
de noitezinha, ao bimbalhar do sino... 

Depois, eu contemplava a lua cheia 
e perguntava aos céus: qual meu destino, 
neste mundo que roda e cambaleia, 
com momentos de luz e desatino?!... 

E ouvia a minha voz na voz do vento, 
dizendo que eu tivesse paciência, 
estudasse, aprendesse e na paixão 

de adquirir maior conhecimento, 
ingressasse no reino da sapiência... 
Que lindo era o Luar do meu Sertão !…

Fonte:
O Autor

José de Alencar (Ao Correr da Pena) Primeira Parte: 3 de setembro: Conto de Fada


(Crônicas publicadas no “Correio Mercantil”, de 3 de setembro de 1854 a 8 de julho de 1855, e no “Diário do Rio”, de 7 de outubro de 1855 a 25 de novembro do mesmo ano, ambos os jornais do Rio de Janeiro).


O título que leva este artigo me lembra um conto de fada que se passou não há muito tempo, e que desejo contar por muitas razões; porque  acho-o interessante, porque me livra dos embaraços de um começo, e me tira de uma grande dificuldade, dispensando-me da explicação que de qualquer modo seria obrigado a dar. Há de haver muita gente que não acreditará no meu conto fantástico; mas isto  me é indiferente, convencido como estou de que escritos ao correr da pena são para serem lidos ao correr dos olhos.

Um belo dia, não sei de que ano, uma linda fada, que chamareis como quiserdes, a poesia ou a imaginação, tomou-se de amores por um moço de talento, um tanto volúvel como de ordinário o são as fantasias ricas e brilhantes que se deleitam admirando o belo em todas as formas. Ora, dizem que as fadas não podem sofrer a inconstância, no que lhes acho toda a razão; e por isso a fada de meu conto, temendo a rivalidade dos anjinhos cá deste mundo, onde os há tão belos, tomou as formas de uma pena, pena de cisne, linda como os amores, e entregou-se ao seu amante de corpo e alma.

Não serei eu que desvendarei os mistérios desses amores fantásticos, e vos contarei as horas deliciosas que corriam no silêncio do gabinete, mudas e sem palavras. Só vos direi e sito mesmo, é confidência, que, depois de muito sonho e de muita inspiração, a pena se lançava sobre o papel, deslizava docemente, brincava como uma fade que era, bordando as flores mais delicadas, destilando perfumes mais esquisitos que todos os perfumes do Oriente. As folhas se animavam ao seu contato, a poesia corria em ondas de ouro, donde saltavam chispas brilhantes de graça e espírito. 

Por fim, a desoras, quando já não havia mais papel, quando a luz a morrer apenas empalidecia as sombras da noite, a pena trêmula e vacilante caía sobre a mesa sem forças e sem vida, e soltava uns acentos doces, notas estremecidas como as cordas  da harpa ferida pelo vento. Era o último beijo da fada que se despedia, o último canto do cisne moribundo.

Assim se passou muito tempo; mas já não há amores que durem sempre, principalmente em dias como os nossos, nos quais o símbolo de constância é uma borboleta. Acabou o poema fantástico no fim de dois anos; e um dia o herói do meu conto, chamado a estudos mais graves, lembrou-se de um amigo obscuro, e deu-lhe a sua pena de ouro. O outro aceitou-a como um depósito sagrado; sabia o que lhe esperava, mas era um sacrifício que devia à amizade, e por conseguinte prestou-se a carregar aquela pena, que já adivinhava havia de ser para ele como  uma cruz pesada que levasse ao calvário.

Com efeito, a fada tinha sofrido uma mudança completa: quando a lançavam sobre a mesa, só fazia correr. Havia perdido as formas elegantes, os meneios feiticeiros, e deslizava rapidamente sobre o papel sem aquela graça e faceirice de outrora. Já não tinha flores nem perfumes, e nem centelhas de ouro e de poesia: eram letras, e unicamente letras, que nem sequer tinham o mérito de serem de praça, que serviria de consolo ao espírito mais prosaico.Por fim de contas, o outro, depois de riscar muito papel e de rasgar muito original, convenceu-se que, a escrever alguma coisa com aquela fada que o aborrecia, não podia ser de outra maneira senão – Ao correr da pena

De feito, começou a escrever ao correr da pena, e como se trata de conto fantástico, não vos admirareis de certo se vos achardes de repente e sem esperar a ler o que escreveu. Estou persuadido que não gastareis o vosso tempo a censurar o título, que vale tanto como qualquer outro. Quanto ao artigo, correi os olhos, como já vos disse, deixai correr a pena; e posso assegurar-vos que, ainda assim, nem uns nem a outra correrão tão rapidamente como os ministros espanhóis diante das pedradas e do motim revolucionário de Madri.

Já sabeis em que deu toda esta história, e por isso prefiro contar-vos outras notícias trazidas pelos dois últimos paquetes a respeito da questão do Oriente, que , segundo uma observação muito espirituosa, tomou para a Áustria certo caráter medicinal de muita importância. Napier, como velho teimoso, continuava de namoro ferrado com a soberba Cronstadt, que em negócio de amores parece-me ter mais fé nos cossacos do que nos ingleses velhos. Entretanto por prudência o nosso almirante foi-se arranjando com Bommarsund para passar o inverno. Bem mostra que é inglês e teimoso. Jurou que havia de passar, e, como não lhe deixam passar o canal, embirrou que havia de passar o inverno. Queira deus, porém, que não seja o inverno que passe por ele!

Enquanto os ingleses na Finlândia se conservam frios, não por causa dos gelos do norte, mas sim por causa do fogo da Rússia, os ingleses de Londres saíram do sério e deram a mais formidável pateada em Mário, o belo tenor, que cantava Cujus animam  numa noite de representação em Convent-Garden.. A história desses motim teatral, contada pelo folhetim do Constitutionnel, deveria ser bem estudada por grande número dos nossos dilettanti, que se contentam em fazerem um barulho insuportável no teatro, desaprovando pobres artistas sem mérito, e deixando em paz os únicos responsáveis de semelhantes atos.

O povo de Londres é mais positivo; depois de ter desaprovado os cantores, obrigou a vir à cena o empresário, e a todos os seus speechs respondeu um só grito uníssono: money, money. A coisa não prestava, exigiam a restituição do dinheiro, o que era muito justo: até dez horas pagaram-se bilhetes recambiados! O empresário teve de repor dinheiro de sua algibeira, mas no dia seguinte Mário foi aplaudido com três salvas estrepitosas no romance da Favorita.

Decerto, a causa desta demonstração a favor de Mário não foi unicamente a sua bela voz de tenor e a sua presença agradável, mas também a influência da Favorita, que ainda nos desperta tantas emoções e na qual os parisienses, mais felizes do que nós, vão recordar atrasados ouvindo a Stoltz, que se esperava devia cantar no primeiro meado de agosto na ópera de Paris. Também nós tivemos esta semana nossas recordações bem doces da Stoltz e  da Favorita e lembramo-nos com saudade de Arsace na noite do concerto Malavazi, que esteve brilhante em todos os sentidos. Nada faltou, houve de tudo, e até desgostosos, que sentiam que ainda faltava alguma coisa; o que isto era não sei; é provável que fosse o chá do costume, que, a falar a verdade, não atino com o princípio higiênico por que foi banido dos concertos.

Além destas recordações, tivemos a nossa festa musical na segunda-feira, noite do benefício do Ferranti. O ator simpático cantou como nos seus bons dias, e desempenhou primorosamente a cena dos Prigioni de Edimburgo, que, à custa de esforços seus, foi o mais bem ensaiado possível. Nesta noite as mãos pagaram os prazeres do ouvido, num e noutro sentido, e, depois de muitas salvas de aplausos, consta-nos que o nosso barítono brilhante saiu do teatro mais brilhante do que nunca entrara.

Tão feliz como Ferranti não foram dois inspetores de quarteirão lá das bandas de São Cristóvão, que faziam o seu benefício à nossa custa, sem nem ao menos terem a delicadeza de nos advertirem. A polícia, que nem sempre está ocupada em dar passaportes e prender negros fugidos, assentou que, sendo a semana de benefícios, devia também fazer o nosso, o do público, demitindo-os, isto é, dispensando aqueles honrados cidadãos do grande obséquio que nos faziam em servir-nos de graça.

O excesso em tudo, porém, é prejudicial, e o benefício, quando não é pedido, é incômodo, como essa resolução dos números dos bilhetes de teatro que ontem foi posta em vigor. Tiram-nos os lenços e as marcas, que eram mais pitorescas e mostravam  no público uma delicadeza louvável. Acharam que isto era mau; dessem-nos coisa melhor, e não pusessem em homem grave na dura necessidade de ir ao teatro lírico recordar a tabuada. Além de não se saber que número terão as travessas e mochos, se pertencerão aos inteiros, aos quebrados ou aos décimos, faço idéia em que apertos não se verá um pobre homem que não souber ler ou que for míope, a procurar o tal número constante de um pedacinho de papel microscópio, que precisamente no momento necessário, e como para fazer pirraça, some-se no labirinto de uma carteira ou nas profundezas de um desses bolsos à maneira, de vastas dimensões!

Quando vi pela primeira vez enfileirados pelos recostos das cadeiras aqueles batalhões de números brancos, que sem licença e com a maior sem-cerimônia do mundo se iam retratando a daguerreótipo nas costas das nossas pobres casacas, julguei que aquilo seria uma medida policial, por meio da qual os agentes ocultos poderiam seguir fora do teatro algum indiciado ou suspeito de importância, que fosse reconhecido no salão. Mas nunca pensei que, quisessem ainda numerarem os bancos as casacas dos dilettanti, quisessem ainda numerar-lhes os assentos, e obrigar um homem a comprar por dois mil réis o direito de estar preso numa cadeira e adstrito a um número como um servo da gleba.

Também o que nos faltava era justamente uma nova questão de bancos, embora de espécie diferente, porque a outra, a das sociedades comanditárias, já vai ficando velha e está quase a ir fazer companhia à do Oriente, à dos seiscentos contos e outras, que provavelmente hão de reaparecer daqui a algum tempo, como está sucedendo na Câmara dos Deputados com a das presas da independência.

O crédito proposto pelo Ministério da Marinha tem sido combatido por falta de uma liquidação regular; mas tudo induz a crer que desta vez o negócio ficará decidido. E depois disto, neguem-me que o Brasil seja um gigante! Uma criancinha que só aos trinta anos lhe começam a sair as primeiras presas! A falar a verdade, já era mais que tempo de soltarem-se estas malditas presas, por causa das quais andam presas tantas algibeiras.     

Falemos sério. – A independência de um povo é a primeira página de sua história; é um fato sagrado, uma recordação que se  deve conservar pura e sem mancha, porque é ela que nutre esse alto sentimento de nacionalidade, que faz o país grande e o povo nobre.Cumpre não marear essas reminiscências de glória com exprobrações pouco generosas. Cumpre não falar a linguagem do cálculo e do dinheiro, quando só deve ser ouvida a voz da consciência e da dignidade da nação.

Com essa questão importante tem ocupado a atenção da Câmara a discussão de um projeto do Sr. Wanderley sobre a proibição do transporte de escravos de uma para outra província. Este projeto, que encerra medidas muito previdentes a bem da nossa agricultura, e que tende a prevenir, ou pelo menos atenuar uma crise iminente, é combatido pelo lado da inconstitucionalidade, por envolver uma restrição ao direito de propriedade. Entretanto a própria Constituição autoriza a limitar o exercício da propriedade em favor da utilidade pública, que ninguém contestará achar-se empenhada no futuro da nossa agricultura e da nossa indústria, principal fim do projeto.

Por hoje basta. Vamos acabar a semana no baile da Beneficência Francesa, onde felizmente não há, como em Paria, a quête feita pelas lindas marquesinha, e onde teremos o duplo prazer de beneficiar aos pobres e a nós mesmo divertindo-nos. 

Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 695)



Uma Trova de Ademar  

O vento da minha Fé, 
de maneira enternecida, 
sopra, mas deixa de pé 
as dunas da minha vida! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Quem desfia a vida aos gritos 
nunca é dono do que faz; 
como ter sonhos bonitos 
quem não tem a própria paz. 
–Nilton Manoel/SP– 

Uma Trova Potiguar  

Mais vale amar, sem receios, 
numa entrega destemida... 
Do que não sentir os veios 
da doce fonte da vida! 
–Mara Melinni/RN– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Numa trova amoldo e sinto, 
além do tema proposto, 
um pensamento sucinto 
formulado com bom gosto. 
–Miguel Russowsky/SC– 

Uma Trova Premiada  

2010   -   ATRN-Natal/RN 
Tema   -   AUSÊNCIA   -   1º Lugar 

Cadeira velha, esquecida, 
sem dono e sem mais ninguém... 
Só a saudade atrevida 
reclama a ausência de alguém.
–Prof. Garcia/RN– 

U m a P o e s i a  

Quando a vida faz convite 
Pra o homem ser sofredor, 
Primeiro vem a paixão 
Mais tarde vem o amor, 
Depois do amor a saudade 
Depois da saudade a dor. 
–Edmilson Ferreira/PI– 

Soneto do Dia  

SONETO.
–Fagundes Varela/RS–

Desponta a estrela d'alva, a noite morre.
Pulam no mato alígeros cantores,
E doce a brisa no arraial das flores
Lânguidas queixas murmurando, corre.

Volúvel tribo a solidão percorre
Das borboletas de brilhantes cores;
Soluça o arroio; diz a rola amores
Nas verdes balsas donde o orvalho escorre.

Tudo é luz e esplendor; tudo se esfuma
Às carícias d'aurora, ao céu risonho,
Ao flóreo bafo que o sertão perfuma!

Porém minh'alma triste e sem um sonho
Repete olhando o prado, o rio, a espuma:
- Oh! mundo encantador, tu és medonho!

Concurso de Crônicas Laura Ferreira do Nascimento (Resultado Final)


1º LUGAR
Colar de pérolas
LETÍCIA MAURA CONSTANT PIRES - Paris/França.

2º LUGAR
Em família
MOACIR LOPES POCONÉ NETO - Lagarto/ Sergipe.

3º LUGAR
O senador
AGLIBERTO CERQUEIRA - Santana do Parnaíba / SP.

4º LUGAR
O protegido
MARLI RIBEIRO DE FREITAS – São Paulo/SP.

5º LUGAR
Nepotismo
RAFAEL ALVARENGA GOMES - Cabo Frio/RJ.

Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com

X Concurso Literário Faccat - Jornal Panorama (Resultado Final)


Contos

1º lugar
Afluência perene
Vicente Orsi Vargas | Taquara-RS

2º Lugar
Entre asteroides e flores
Celso Luis Rossi | Taquara-RS

3º Lugar
Um fim completamente vermelho de sangue
Mariana Muniz Dudzig | Igrejinha-RS

Poesias

1º Lugar
O fim do (nosso) mundo
Denise Müller Garateguy | Canoas-RS

2º Lugar
Poeminha dos últimos tempos
Cristiano Vargas dos Santos | Parobé-RS

3º Lugar
A pequena história do mundo
Sofia Wilhelms Wolf | Igrejinha-RS

Crônica

1º Lugar
O fim de nós mesmo
Veridiana Tomazi Ghesla | Gramado-RS

2º Lugar
O fim do Mundo
José Antônio Cordeiro | Igrejinha-RS

3º Lugar
Lembrete: o mundo acaba hoje e recomeça amanhã.
Vanessa Cristiane Garcia Tavares | Taquara-RS

Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com

XXXI Concurso Literário da Uniso (Resultado Final)


Em cerimônia realizada (04/10) na Uniso, em Sorocaba, foram divulgados os selecionados do XXXI Concurso Literário organizado pelo curso de Letras da referida instituição. 

O evento contou com sorteios de livros, participação em vídeo de autores que estavam em outras cidades e regiões, com transmissão do áudio ao vivo e com acompanhamento em tempo real através do twitter.

Segue o resultado final do concurso:

Microcontos

1º Lugar - Obrigações
de Tatiana Luques - Tatuí/SP

2º Lugar - Alice na Cidade Maravilhosa
de Rodrigo Domit - Rio de Janeiro/RJ

3º Lugar - Retratos do Cotidiano
de Lenon Silva Alves - Salto/SP

Videominuto

1º Lugar - Micro Holy Bugle
de Tiago Alves - Sorocaba/SP

2º Lugar - Vide Verso
de Geraldo Trombin - Americana/SP

3º Lugar - Circo no Trânsito
de Nivaldo Joaquim - São José/SC

Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com

43º Concurso Literário de Contos de Paranavaí (Resultado Final)


SELECIONADOS CONTO - NACIONAL

Chuva: Briga de cachorro grande
Vitor Perrella
Curitiba / PR

O reconstruído
Rafael Bonavina
São Paulo / SP

Ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado
Gilberto Garcia da Silva
Praia Grande / SP

Estação graffiti
Graça Carpes
Niterói / RJ

A francesa
Henrique Bon
Nova Friburgo / RJ

SELECIONADOS CONTO - REGIONAL

O Roscoph e a Trinca Ferro
Renato Benvindo Frata

O homem que aprendeu a viver
Marcela Oliveira

Serenata romântica
Moreira Felix

Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com

Concursos Literários da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (Resultado Final)


Com inscrições gratuitas (e voltados para os escritores de MS), a Academia Sul-Mato-Grossense de Letras promoveu recentemente dois Concursos Literários: a 1ª edição do “Concurso de Poesias Oliva Enciso” e o “Concurso de Contos Ulisses Serra” (edição 2012), este já tradicional na história da ASL. E, após as seleções e julgamentos (por comissão própria) dos muitos trabalhos inscritos em ambos os certames, sagraram-se vencedores os seguintes textos/autores: 

Poesias: 
1º Lugar: “O vestido” (autor: Reginaldo Costa de Albuquerque - de Campo Grande/MS); 
2º Lugar: “Menina do Taquaral” (autora: Sylvia Odinei Cesco - de Campo Grande/MS); 
3º Lugar: “Vigília” (autor: Edilberto Gonçalves Pael - de Campo Grande/MS). 

Contos: 
1º Lugar: “O melhor roubo da história” (autora: Isloany Dias Machado - de Campo Grande/MS); 
2º Lugar: “O primeiro amor” (autora: Maria Gorete de Moura - de Campo Grande/MS); 
3º Lugar: “Alma Serena - Uma Lição Terena” (autora: Carina Souza Cardoso - de Campo Grande/MS). 

Conforme Editais/regulamentos dos concursos, os autores classificados em 1º, 2º e 3º lugares serão premiados, respectivamente, com 80, 60 e 50 exemplares da próxima edição da Revista da Academia [que incluirá as publicações dos textos vencedores], bem como com placas alusivas às respectivas classificações. A entrega da premiação será em solenidade aberta a ser marcada pela ASL, que estará comemorando 41 anos de fundação. 

Com distribuição gratuita e dirigida, a Revista da ASL está na 22ª edição. 

Fonte: 
Http://concursos-literarios.blogspot.com 

VI CLIPP - Concurso Literário de Presidente Prudente (Resultado Final)


319 participantes
1015 textos inscritos

Lançamento do livro dia 27 de outubro, às 19h, no IBC, durante o 3º Salão do Livro de Presidente Prudente.

Adelmo dos Santos- “A intocável beleza das flores”
Adriana Maria Russo Moysés Harger- “Meu país”
Alceu Tiburcio dos Reis- “Em algum bar do passado”
Aline Cruz- “Versões de uma tragédia”
Amélia Marcionila Raposo da Luz- “Duelo”
Ana Carolina de Souza Alencar- “Moleque Destino”
Ana Claudia de Souza de Oliveira- “Vai, Carlos, vai ser Drummond na vida”
Ana Cristina Mendes Gomes- “Xô, Flangos!”
André Kaires-“ A insustentável estranheza do ser”
André Luiz Alves Caldas Amóra- “Sina”
André Telucazu Kondo- “O haicai”
Angelo Pessoa Martins- “Das verdades invertidas”
Antônio Baracat Habib Neto- “Sinfonia Khayamniana”
Aparecida Gianello dos Santos- “Particularidades”
Arai Terezinha Borges dos Santos- “Paralelas”
Aurélio Gimenez- “Crise”
Bianca Crepaldi Mendes- “Espinhos”
Bruno Fernandes Zenóbio de Lima- “Dominos Dei”
Caio Henrique Solla- “Ao pó”
Camila Ribeiro Mendes- “Bodas de prata”
Carlos Alberto Muzille- “Muralha”
Carlos Bruni Fernandes- “Cinzas da quarta-feira”
Caroline Nader Gervasoni- “12 anos”
Cássia Regina Geraldo- “Alinhavo e depois costuro”
Clarissa Damasceno Melo- “Diamantes”
Cláudio José Mendes Barbosa- “Meu mundo”
Cleusa Cardoso- “Amor multiplicado”
Coracy Teixeira Bessa- “Clara”
Danielle Martins Santos- “A Bela e a Fera”
Davi Menossi Gonzales-“O assalto ao trem pagador”
Debora Rodrigues Rocha- “Convite”
Deidemar Alves Brissi- “Dúvidas sobre Poliana”
Denivaldo Piaia- “Menino Medroso”
Diego Ramos Mileli- “Aleluia, á sábado!”
Dinis Reis Sutil Muacho- “José Maria”
Diogo Maluf de Souza Vaz de Faria- “Em teu nome clamar”
Dirce Meira França Caldeira- “Liberdade abstrata”
Edgar Borges- “Promessas”
Edgley Silva Gonçalves- “Asas”
Edileuza Bezerra de Lima Longo- “ Despedida”
Edson Teixeira Lopes- “Rotina”
Eduardo Aleixo Monteiro- “Soneto da necessidade”
Elaíse de Mello Barbosa- “O belo, o bom e o verdadeiro”
Elias Araujo- “Os olhos”
Eliza de Oliveira Cardoso-“Essa menina”
Eni Allgayer- “Tempestade”
Fernanda Mulin de Assis- “Semear palavras”
Fernanda Resende Ramos- “A vida é um labirinto”
Fernando Marcelo Olmo- “Casal perfeito”
Gabriel Troian Trevisan- “Mês que vem”
Geraldo Magela de Fátima Filho- “Contraponto”
Geraldo Trombin- “Internetic.à.beça”
Gisele Aparecida de Souza Santos- “Cotidiano Nacional”
Gisele Galindo- “Clausura”
Gustavo Fontes Rodrigues- “Intimidade”
Idalina Gonçalves de Queiroz Santos- “Uma canção”
Irismarqueks Alves Pereira- “A decisão”
Jacqueline Salgado- “Libidinagem”
Joana Neusa da Silva- “Fragmento”
João Elias Antunes de Oliveira- “Lâmpadas”
João Lisboa Cotta- “O dever e o desejo de Piatã”
Jorge Alberto Alves Menenzes- “Dia cinzento”
José Marques- “ Devaneios do coração”
José Massoco- “ O amor de mãe”
José Paulino Júnior- “Diversão para toda família”
José Ronaldo Siqueira Mendes- “Partida de truco”
Joyce Galdino Gomes- “Fuga”
Jussara Athayde Albertão- “Sopro de vida”
Jussara C. Godinho- “Alento”
Kleberson Marcondes Gonçalves- “Idas e vindas”
Leandro Andreo Rodrigues-“Artista de rua”
Leonardo de Oliveira Barros- “Cantiga”
Leonícia Aleixo Mussa- “Lágrimas”
Lucas Corrêa Mendes- “Cura”
Luciana Magalhães Athan da Silva- “Busca”
Luciano Esposto- “Viagem dos mundos”
Luiz Aparecido de Lima- “Na eternidade...”
Luiz Cláudio Alves de Oliveira- “ Ella Fitzgerald e um dia verde”
Mailson Furtado Viana- “Gota”
Marcelo Saldanha das Neves- “Metades”
Maria Aparecida Pereira de Souza-“Paradoxo”
Maria Apparecida S. Coquemala- “O caçula”
Maria Regina Prieto Sementino Bomfim da Silva- “Roupa Branca”
Marilene Aparecida Gianello Sobral- “A poetisa pobre”
Mathias Mendes de Souza- “Se fosse”
Maurício Fregonesi Falleiros- “Pode, Arnaldo!”
Michele de Morais Duarte Navarro- “Diálogo sobre o afeto”
Murillo Altafine- “Gente abençoada”
Natanael Otávio- “A odisséia de Henrique (O pequeno vendedor)”
Nédia Sales de Jesus- “Leila e o piano”
Nejme Maria Zakir Campeão- “O velho cão”
Newton de Souza Nazareth- “O valor do homem”
Nilton Chiaretti- “Abril”
Osvaldo Batista de Oliveira- “ A Dona Felicidade”
Patrik Oening Rodrigues- “Enfim o silêncio”
Paulo Franco- “O inefável do tempo”
Pedro Diniz de Araújo Franco- “Quem ama, não mata?”
Pedro Felippe Bernardi Menossi- “Pela metade”
Pétilin Assis de Souza- “Eu gosto”
Rafael Leopoldo Antonio dos Santos Ferreira- “Velhice”
Rafael Prado dos Santos- “Trocas”
Raphael Souza Cardoso- “O marujo e o vagalume”
Rebeca Martins Lala da Silva- “Micaela”
Reginaldo Costa de Albuquerque- “Cadeira de balanço”
Renato Vieira Ostrowski- “Stress de Caranguejo”
Robson da Silva Rodrigues- “Prólogo”
Robson Leandro Soda- “Habeas Corpus”
Rodrigo Domit- “O vulto na cadeira vaga”
Roosevelt Coutinho Lacerda- “Pomba errante”
Roque Aloisio Weschenfelder- “A loucura”
Rosana Banharoli- “Maria Madalena e o Rio de Janeiro em sua visão do paraíso”
Rubens Cavalcanti da Silva- “Madame Prata-Taxidermia”
Rubens Shirassu Júnior- “A enterrada viva”
Ruth Hellmann Claudino- “Lua enamorada”
Sandra M. de Jesus de Lima e Silva- “O outro lado da face”
Sarah Nadim de Lazari- “ Décadence Avec Élégance”
Sérgio Bernardo- “Martelo”
Sergio da Silva Santos- “A vastidão complexa de tua alma” e “O Muro”
Sérgio Edvaldo Alves- “Pincelada”
Sérgio Pereira de Souza- “Palimpsesto de paixão”
Sidclei Nagasawa- “12 de outubro”
Silvanilda Thethê da Silva- “Graças do que fui”
Sinézio de Souza- “O adeus”
Sonia Teresa Almeida dos Santos- “Pé de valsa”
Tatiana Alves Soares Caldas- “Noite Feliz”
Thiago Jefferson dos Santos Galdino- “In-versos da morte”
Vanessa Xavier da Silva- “Tempo”
Victor Soares Rodrigues Pereira- “Marcas”
Vinícius Flores Branco- “Voz do poeta”
Vinicius Pereira Marrafão- “Que eu apague”
Wellington Mariano da Silva-“Eterno eu”
Weslley Moreira de Almeida- “Inventório: estórias de inusitações

Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Mário Quintana (Ressalva)


Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 694)



Uma Trova de Ademar 

A “solidão” me parece,
ser um conforto sem fim...
quando um grande amor me esquece;
“Ela” se lembra de mim.
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional 

Quando a saudade me abraça,
num devaneio febril,
até na nuvem que passa,
eu diviso o teu perfil.
–Neoly Vargas/RS–

Uma Trova Potiguar 

Sonhei... sonhei..., já cansado,
ao acordar logo eu via;
a história de um passado,
que o meu presente escondia.
–Prof. Maia/RN–

Uma Trova Premiada 

2005   -   Valença/RJ
Tema   -   TROVADOR   -   1º Lugar

Lágrimas, gotas perfeitas
de orvalho por sobre a flor,
são saudades liquefeitas
nos versos do trovador!
–Francisco José Pessoa/CE–

...E Suas Trovas Ficaram 

Uma estrada, uma esperança, 
uma mesma direção.... 
Sonho livre de criança 
nas asas do coração!
–Francisco Macedo/RN– 

U m a P o e s i a 

Para falar a verdade,
partindo pra o jogo aberto,
mesmo marcando de perto
ninguém engana a saudade,
pra mim só tem crueldade
com sua presença ativa,
tentei levar na esportiva
mas só consegui sequela,
para me ver livre dela
somente enterrando viva.
–Majó/RN– 

Soneto do Dia 

A ESPADA.
–Divenei Boseli/SP–

A espada, na bainha, eu a trazia
nas dobras do meu manto de consorte,
férrea defesa em nosso dia a dia,
imprescindível para vida e a morte...

...Tu tinhas um punhal de fino corte:
à tarde, e, tendo sorte, ao meio dia,
colhias frutos, único suporte,
que a prole, em algazarra, recolhia...

Com teu punhal... um dia me mataste,
como quem colhe o fruto de uma haste
e a todos fazes crer que a culpa é minha...

E agora, vens à minha sepultura...
Mas eu, sem ter remorso ou amargura,
já tenho a espada fora da bainha!...

Érico Veríssimo (Clarissa)


 Neste livro de 1933, primeiro romance de Érico Veríssimo, pertencente ao modernismo de segunda fase, o gosto pelo rigor da descrição, pela minúcia da fotografia, manifestasse como característica que o acompanharia sempre. Sua fidelidade à vida tal como ela é em toda a multiplicidade de variados aspectos, inclusive aqueles que se apresentam sórdidos e desagradáveis.

 Trata-se de uma composição realista que assegura a veracidade do cenário retratado e dos seres que nele se movimentam. O romancista não se impõe às personagens; ao contrário, prefere ver o mundo através das personagens; e isso as faz viver como gente de carne e osso.

 O universo de Clarissa, dependendo do ângulo em que observamos, pode ser muito limitado ou infinitamente amplo em sugestões e promessas. Na verdade, está circunscrito no estreito território da pensão da Tia Zina e sua população pequeno-burguesa consumida na luta inglória pelo ganha-pão de cada dia. Entretanto, a presença de Clarissa amplia pouco a pouco a significação desse cenário, porque a narrativa se organiza em torno de seu desdobramento psicológico, e o que de fato interessa é a sua descoberta em relação aos seres e às coisas que a cercam. Imperceptivelmente, o autor se dissimula, quase escondendo-se num segundo plano, e deixa que a revelação do mundo observado se apresente através das surpresas, dúvidas e curiosidades que preenchem a consciência de Clarissa. Assim, fica aberto um caminho que permite a passagem da simples fotografia para o romance psicológico, de maneira que o leitor já não perceba a história como coisa "armada", sentindo-a antes como parte integrante de uma experiência vivida. 

 A "naturalidade" do relato guarda esse atributo indispensável à grande ficção de onde nasce o verdadeiro mundo das personagens: a possibilidade de existir na realidade. Este segredo do romancista é a prova da sua sensibilidade diante do assunto extremamente complexo que escolheu - o mundo banal e opaco de todas as horas, redescoberto através da perspectiva (meio lógica, meio fantástica) da adolescência:

 "...sobre uma coluna de madeira escura, a um canto da sala rebrilha o aquário. Pirolito está agitado. Será que a luz elétrica o assusta? Clarissa se aproxima do vaso de cristal. Agora nota que a água parece toda cheia de rebrilhos. A janela, as lâmpadas elétricas, os móveis da sala, tudo se reflete no aquário."

 Ultrapassando o perigo, Érico Veríssimo preferiu que Clarissa, ela própria, o conduzisse entre coisas que vão aparecendo no fluxo da descoberta. O mundo juvenil, povoado de sonhos e fantasias, possuía uma peculiaridade inconfundível: estava todo ele "refletido no aquário", mudando o desenho a todo momento, metade de cada coisa revelada e a outra metade ainda interrogável na sombra. A realidade teria de ser captada no contorno do aquário, respeitando o mistério do universo de Clarissa que só a ela pertence. Se trata, basicamente, de um problema de linguagem, isto é, encontrar a linguagem que narre a consciência fantasiosa de Clarissa e, ao mesmo tempo, preserve a sua identidade, sem se confundir com a perspectiva adulta e racional do seu criador.

Personagens

Clarissa - adolescente que morava numa fazenda e foi estudar na cidade grande.

Ondina - a infiel, casada com Barata.

Amaro - um musico que cortejava Clarissa.

Tonico - garoto que perdera as duas pernas num acidente, era muito frágil e acaba morrendo.

Vasco - primo de Clarissa que vive em Jacarecanga.

Linguagem

 Fiel à estrutura da narrativa psicológica e à natureza da personagem, Érico Veríssimo optou por um estilo pictórico, no qual as descrições valorizam sobremaneira a visualidade. Tudo se oferece mediante uma infinita gama de variações cromáticas, tonalidades e reflexos que buscam estabelecer, na órbita do cenário físico, o espelho das filigramas psicológicas que compõem a imaginação juvenil. Daí a preferência do romancista, neste livro, pelo adjetivo, pelas imagens que realçam a natureza e integram uma visão caleidoscópica, iluminando o espaço circundante. Justamente sob esse aspecto, o autor de Clarissa evidencia sua vinculação com o panorama literário da época. Se a linguagem pictórica, o estilo cromático, tornam-se um recurso inteligente na elaboração da personagem, não é menos verdade que já pertencia a uma longa tradição da literatura sulina, que iria alcançar um de seus pontos altos naqueles dias da publicação de Clarissa. Trata-se da tradição simbolista, na qual germinaram as obras de Eduardo Guimaraens e Alceu Wamosy, cujas raízes profundas se estendem por toda a produção literária do início do século para alcançarem, por volta de 1930, as melhores manifestações do modernismo no Rio Grande do Sul. 

 Na linguagem de Clarissa encontra-se muito dessa herança simbolista presente no ambiente da época, os mais profundos estados de ânimo entregando-se na pura visualidade.

 O trabalho criador de Érico Veríssimo exerceu-se na reelaboração dessa vertente estilística, transferindo uma linguagem até aí mais própria à poesia para a prosa descritiva de Clarissa. A expressão apoiada no adjetivo e na seqüência de imagens visuais garante o clima encantatório da narrativa, aliás o único em que poderia nascer com verossimilhança a história de uma adolescente de quatorze anos ainda mergulhada no deslumbramento do descobrir-se. O próprio Érico viria a considerar, mais tarde, o seu livro como "uma coleção de aquarelas e poemetos em prosa em torno da vida cotidiana".

 No entanto, também o lado obscuro e amargo da vida ganha lugar no contexto de Clarissa. Está refletido na personagem de Amaro, o músico frustrado, já na casa dos quarenta anos, que contempla na vitalidade física e espiritual de Clarissa tudo aquilo que a vida lhe negou: segurança, alegria, imaginação - o sentimento de participar do mundo que se constrói a cada instante. Mas é tarde para voltar atrás; o tecido do tempo passado não se recompõe; e Amaro ama Clarissa à sua maneira, transferindo para ela a imagem da mulher que sempre idealizara e sabe que nunca chegará a possuir. Em certa altura, essa personagem, marcada pelo curso dos dias opacos e inglórios que lhe couberam, expressa a melancolia diante do futuro que não está mais ao seu alcance:

 "O raio de sol é de um outro mundo. Clarissa, se pudesse falar, se tu pudesses entender. Eu te diria que nunca desejasses que o tempo passasse. Eu te pediria que fizesses durar mais e mais este momento milagroso."

 Ao opor entre si as personagens de Clarissa e Amaro, como se tratasse de dois pólos da existência, a luz e a sombra, o passado e o futuro, este romance permite vislumbrar uma preocupação que, alimentada por Érico Veríssimo em livros posteriores, veio a ser um de seus temas recorrentes - o tempo; o comportamento dos seres perante o decurso do tempo, que é vida e morte, descoberta e esquecimento. 

 Outra marca da identidade do romancista é a preferência por personagens femininas. Neste romance, a "parte forte" da vida está representada muito mais nas mulheres (autoritárias como Tia Zina, promessas futuras como Clarissa) do que nos homens, que em geral, são indolentes, frustrados ou insensíveis.

Enredo

Clarissa marca o início de uma atividade criadora no qual Érico Veríssimo elevou o romance sulino ao seu ponto mais alto: recém-chegada do interior, Clarissa vai morar numa pequena pensão em Porto Alegre. Em contato com criaturas frustradas, entregues às pequenas misérias do cotidiano, a garota descobre a vida aos poucos, ora tranqüila ora aos sobressaltos.

 Nesta história, espécie de iniciação à vida adulta, Clarissa se depara com uma realidade que se revela em toda a sua crueza. Seu sonho, porém, é maior do que tudo.

 Retrato lírico de uma adolescente às vésperas de se transformar em mulher, Clarissa é um romance comovente que integra a observação social e o realismo psicológico.

Fonte: