quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Centro de Letras do Paraná (Centenário e Programação)


OS FESTEJOS DO CENTENÁRIO DO CENÁCULO

Divulgue a nossa Cultura, 
que o verso e a prosa nos dá, 
alçando a literatura 
e as Letras do Paraná. 

Nei Garcez 
Academia Paranaense da Poesia 
UBT-Curitiba/Paraná/Brasil

Muito nos ufana vivenciar o “Centenário do Centro de Letras do Paraná”, modelar e tradicional entidade cultural que congrega o que há de melhor no seio da intelectualidade de nossa terra.

Volvendo no tempo, deparamos com o 19 de dezembro de 1912, quando um grupo de idealistas, sessenta e cinco ao todo, inclusive quatro damas, reuniu-se no Salão de Honra do Diário da Tarde, Euclides Bandeira à frente, criando o Sodalício.

Dez anos depois, o mesmo Euclides assim justificava o acontecimento, verbis: “A ideia básica do Centro de Letras do Paraná consistia, em suma, na organização de uma biblioteca paranaense, porque ocorria fato interessante: muito se falava no Paraná Literário, na pujança espiritual e numérica de seus poetas, prosadores, dramaturgos, comediógrafos, etc. enfim, proclamava-se em todos os tons o estranho brilho com que o Estado exsurgia no convívio intelectual do país, mas em verdade, a produção representante em livros não correspondia a tamanho ruído” (.In “Euclides Bandeira, Biografia e Antologia”, de Paulo Roberto Karam).

E, para remover a desproporção, eis que apenas “as magnificas revistas de artes, legítimos primores que na radiosa esfera do pensamento prestaram ótimos serviços ao Estado”, o nosso primeiro presidente declarava, “... que não era a falta de operosidade, nem de capacidade criadora de nossos plumitivos, pois muitos até possuíam dois ou três volumes, carinhosamente escritos, ao fundo da gaveta. O óbice era de ordem pública e foi o que o Centro de Letras do Paraná se propôs a remover pela conjugação da vontade de todos, numa sorte de cooperativismo literário” (obra citada, página 44).

Agora, cem anos passados, quando, eufóricos festejamos, relembramos, com extrema gratidão, todos aqueles que nos legaram tão precioso acervo, cumprindo-nos preservá-lo a todo custo, a fim de que atual e as futuras gerações dele possam usufruir!

O mês de novembro ensejará outros tributos em hosanas a própria História do Centro de Letras do Paraná, certo que os Poderes Legislativos Municipais e Estaduais, homenagearão o nosso Centenário, como consta da programação respectiva.

Urge, porém, que os caríssimos confrades e confreiras prestigiem todos os eventos, tal como tem acontecido com aqueles até agora realizados. 

PROGRAMAÇÃO

DIA 06
16 HORAS
Reunião da Diretoria e do Conselho Fiscal.

17 HORAS
Tribuna Livre. Oportunidade para manifestação dos associados e convidados.

DIA 13
17 HORAS
Palestra do presidente da Rádio/TV Educativa, Dr. Paulo Vítola.
Tema: “O papel da Rádio e Televisão Pública na cultura em geral”.

17hrse45min.
Lançamento da “Coleção Tagarela, composta de cinco livros de história infantil”.
Autora: Poetisa e confreira Adélia Maria Woellner.

DIA 20
09hrse30min.
Homenagem da Câmara Municipal de Curitiba ao Centro de Letras do Paraná.
Local: Palácio Rio Branco.

17 HORAS
Terça da Poesia, a cargo da Academia Paranaense da Poesia.

18 HORAS
Término do prazo para indicação de novos associados, na forma estatutária.

DIA 27
14hrse30min.
Homenagem da Assembleia Legislativa do Estado ao Centro de Letras do Paraná.
Local: Edifício Anibal Khury, Praça Nossa Senhora do Salete, Centro Cívico.

Luís Renato Pedroso
Presidente.

Candy Saad (Nomeação no Portal CEN)

A Direção do Portal CEN
“Cá Estamos Nós”
Carlos Leite Ribeiro – Carmo Vasconcelos – Henrique L. Ramalho
Tem o prazer de nomear a Escritora e Poetisa
Candy Saad
para o cargo de:
ASSESSORA DE DIVULGAÇÃO CEN E APOIO ÀS ARTES DO PORTAL CEN
“CÁ ESTAMOS NÓS”
Esta nomeação é, também, um reconhecimento pelo trabalho de divulgação do CEN, que temos vindo a observar desempenhado dedicadamente pela prezada poetisa, apenas a título de gentileza, e pelo qual manifestamos a nossa gratidão.

Competirá a este título, para além da divulgação de todas as Edições do CEN, a captação de novos autores e a elaboração de eventuais Antologias Literárias, bem como a continuação do seu apoio às artes no CEN.


Em 05 de Novembro/2012
Pela Direcção do Portal CEN - "Cá Estamos Nós",
Carlos Leite Ribeiro
Responsável pelo Portal CEN
www.caestamosnos.org

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Raquel Ordones /MG (Meu Mar de Amar)


Silvia Araújo Motta (A Flor na Trova) Parte 3



51-É glória, imortalidade,
 o AMARANTO entristecido;
 aos heróis da humanidade
 no sepulcro é oferecido.

52-Imponente como o sol,
 a Glória, a Fé e Dignidade,
 paixão louca é GIRASSOL
 pleno de felicidade.

53-BOTÃO-DE-OURO todos querem,
 disso nós temos certeza;
AMARELO...alguns preferem,
 mas simboliza a avareza.

54-Símbolo da permanência
 e portal da eternidade,
SEMPRE-VIVA, na existência,
 reporta à imortalidade.

55-PINHEIRO-sobremaneira,
 conserva o verde no inverno,
 tal qual BAMBU e AMEIXEIRA,
 simboliza o amor eterno.

56-As flores da LARANJEIRA
 traduzem felicidade,
 mas para a noiva faceira
 provocam fecundidade.

57-Se AÇAFLOR você ganhar,
 saiba que é sinal de alerta.
 Traz tempero a amarelar:
 fim de amor tem porta aberta.

58-TAGETES avermelhadas,
 com CRAVOS são parecidas,
 se, diariamente, molhadas,
 por todo ano estão floridas.

59-PIETROS são margaridas,
 em vasos...Que coisa bela!...
 Tem pétalas coloridas
 vermelha, branca e amarela.

60-ESCABIOSA traz saudade
 que enfeita caixões na morte,
 também afasta a maldade
 trazendo-nos toda a sorte.

61-Simbolizando a mentira,
 a BUGLOSA é falsidade,
 desperta no mundo a ira,
 pois é contrária à verdade.

62-CICLAME é flor colorida
 que só floresce em setembro,
 é a XIMENÉSIA...da vida
 é a flor linda de novembro.

63-DÍCTAMO pode brindar
 o nascimento da vida,
 se o tiver pode mandar,
 para pessoa querida.

64-Quando eu morrer, solidão
 deixe a MALVA no jardim
 para que eu tenha a ilusão
 de alguém a chorar por mim.

65-Na Praça da Liberdade,
 as DAMAS-DA-NOITE exalam...
 escondem-se na humildade,
 mas seus perfumes nos falam.

66-Simboliza amor secreto
 se a ACÁCIA for AMARELA,
 mas se for ROSA, discreto
 mostra a elegância e é bela.

67-CIPRESTE?-Fúnebre ação
 na vida é longevidade,
 evoca a ressurreição
 e a incorruptibilidade.

68-O CARDO tem floração
 mas é uma planta espinhosa:
 simboliza a desunião,
 na discussão, é famosa.

69- AMBROSIA, manjar dos Deuses,
 néctar da imortalidade,
 ingerido muitas vezes,
 produz a vitalidade.

70-A BÉTULA inspira a vida.
 Tê-la sempre, ai quem me dera!
 Na Rússia é a mais escolhida:
 simboliza a primavera.

71-AZALÉIA dá romance,
 só quando branca é a flor.
 Rosada é a outra nuance
 da natureza e do amor.

72-A medicinal CIDREIRA
 é símbolo da bondade,
 usada sobremaneira,
 posta em infusão...a dor... cura.

73-Quando "Ajax" faleceu
 em Tróia, em tempos de guerra,
ESPORINHA apareceu
 pôs seu sangue sobre a terra.

74-FLOR-DE-MAIO representa
 a beleza virginal,
 que qualquer maldade enfrenta
FLOR-DE-SEDA é sempre a tal.

75-Na terra do "sol nascente"
CRISÂNTEMO tem tradição.
 Do Japão pra toda a gente,
 simboliza a perfeição.

76-HELIOTRÓPIO tão amável,
 ninfa que Apolo adorou.
 Clítia, sendo insaciável
 Zeus, em flor a transformou.

77-VIUVINHA ou "Quem-me-quer"
 tem seus frutos coloridos,
 saudades roxas:-Quem quer,
 dividir dias sofridos?

78-Quatro folhas? TREVO tem,
 todas com felicidade,
 amor e sorte também:
 -Um sonho na realidade!

79-As ROSAS cristalizadas
 lindos bolos a enfeitar,
 secas bem adocicadas,
 agradam ao paladar.

80-AMOREIRA vem do Amor
 dos jovens apaixonados.
 Sangue verteram.Que horror!
 Morrendo os dois abraçados.

81-Zéfiro se apaixonou,
 por ANÊMONA e sem dor,
 sua esposa o transformou:
 -E que bela ninfa, em flor!

82-O JACINTO é flor de afeto
 simbolizando a constância.
 Do amor de Apolo repleto
 é a flor da fé e da arrogância.

83-Vênus, brilhante e formosa,
 pelo ADÔNIS, sem ação,
 viu nascer, toda chorosa,
 a flor da separação.

84-Com delicioso perfume,
 o GERÂNIO representa
 vitalidade sem lume.
 Toda a estupidez lamenta.

85-Muito belo e delicado,
HIBISCO é flor tropical,
 em clima bem temperado,
 tendo amor não se dá mal.

86-OLIVEIRA é branca flor,
 de paz, purificação.
 na China...por seu valor:
 gentileza no Japão.

87-É símbolo do Advogado,
CRAVO da felicidade,
 com VERÔNICA ao seu lado
 esquerdo...é felicidade.

88-Com JUCERI faz compressa...
 É bálsamo que alivia!
 Cicatrização apressa
 tira a dor dia após dia.

89-É muito usada na guerra:
 -A AQUILÉIA traz saudade.
 Planta nativa da serra;
 que seca é adversidade.

90-Quero da AGÁVEA a certeza
 do teu amor duvidoso,
 mesmo com toda a incerteza
 tens meu amor carinhoso.

Fonte:
Silvia Araújo Motta . A flor na trova. Editora: AVBL, www.avbl.com.br. Ebooknet - Bibliotecas Virtuais. www.ebooknet.com.br, 2006

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 719)



Uma Trova de Ademar  

Na construção do desgosto 
de um casamento desfeito, 
criei rugas no meu rosto 
e pus mágoas no teu peito... 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Ademar é um mensageiro,
mais que isso: um porta-voz.
É quem passa o ano inteiro
dizendo as trovas por nós! 
–José Ouverney/SP– 

Uma Trova Potiguar  

Sem teus beijos sedutores, 
procurei bocas errantes... 
Só revolta e dissabores 
encontrei nesses instantes. 
–Ubiratan Queiroz/RN– 

Uma Trova Premiada  

2011 - ATRN-Natal/RN 
Tema - VERTENTE - 3º Lugar 

Numa montanha de mágoas
há uma vertente escondida
por onde correm as águas
dos prantos da minha vida!
–Renato Alves/RJ– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Fortuna bem merecida, 
nas mãos de quem faz o bem, 
multiplica os bens da vida, 
depois divide o que tem. 
–Aloísio Alves da Costa/CE– 

U m a P o e s i a  

A música adentra n’alma 
enche a vida de emoção, 
inspira a cena da calma 
tem toda repercussão; 
começa pelos ouvidos, 
depois por outros sentidos 
termina no coração. 
–Marcos Medeiros/RN– 

Soneto do Dia  

JUDEU ERRANTE. 
–Rogaciano Leite/PE– 

Somente hoje, tristíssimo, descubro 
(pelas poucas notícias que me envia) 
a falência das juras da judia 
cujo nome de beijos inda cubro. 

Naquela noite azul do mês de outubro, 
quando a boca de tâmara me abria, 
gulosamente meu amor bebia 
na carne fina de seu lábio rubro. 

“Juro ficar cristã!” – disse, a meus pés. 
E eu jurei, pelas Tábuas de Moisés, 
que seria um hebreu – dess’hora em diante... 

Vejo agora a loucura do meu ato: 
a judia mentiu!... Mas, eu, de fato, 
serei – por seu amor – Judeu Errante! 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Cláudia Dimer/ RS (O Menino do Farol)


Olivaldo Junior/ SP (Trovas Sobre Drummond)


Dia 31 de outubro Carlos Drummond de Andrade completaria 110 anos de vida. Vida, para um poeta, é artigo de duplo sentido, posto que a vida é de todos, menos dele. O poeta usa a vida que flui, mas nem sempre a usufrui. Carlos, onde quer que esteja, torce por nós. 

Cento e dez anos Drummond
estaria completando
caso fosse de bom tom
não morrer de vez em quando...

Quando a vida vira tema,
vivo, sim, um grande impasse:
sete faces de um poema
desafiam minha face.

Uma pedra no caminho
fez Drummond poetizar;
um poeta faz seu ninho
no rochedo que encontrar.


De Itabira para o mundo,
o Poeta se anuncia:
todo mundo é mais profundo
quando vive em Poesia.

Quando “alguma poesia”
faz alguém melhor viver,
vive a vida, o dia a dia,
para a “pedra” desfazer.

Vide o “Caso do vestido”,
o seu nobre ensinamento:
a mulher, sem o marido,
se “vestiu” de sentimento.

Fonte:
O Autor

Silvia Araújo Motta (A Flor na Trova) Parte 2


21-Licor de CRAVO é gostoso,
 seu vinho é sensacional.
 Mel de ROSA é saboroso
 e também...medicinal.

22-Se eu a PERPÉTUA cheirasse,
 não teria mais saudade.
 Roxa...talvez me ofertasse
 a eterna felicidade.

23-No jogo do bem-me-quer,
MARGARIDA é virgindade,
 dispensando o MAL-ME-QUER
 é inocente de verdade.

24-Uns brotos de azul-roxeado
 tem o AGAPANTO em novembro...
 É o buquê mais cobiçado
 que se oferece em dezembro.

25-Lá na roça ou na cidade,
 qualquer mocinha faceira
 demonstra a fecundidade
 nas flores da LARANJEIRA.

26-A SAUDADE ROXO-ESCURA
 só tristeza nos inspira
 mas em função de uma jura,
SAUDADE BRANCA é mentira.

27-Simbolizando a amargura
 que nos traz alguma ausência,
ABSINTO, florzinha pura,
 tem muito aroma na essência.

28-Se és MIOSÓTIS, lindo assim
 e falas de amor sincero,
 imploro-te: nasce em mim,
 pois amar é o que mais quero.

29-Por ser medicamentosa
 tem mil virtudes e assim,
 a SÁLVIA, além de formosa,
 é a médica do jardim.

30-Mãe do ópio, mãe ainda,
 desse mal que ainda existe,
 a PAPOULA é muito linda,
 mas de uma lindeza triste.

31-Lá na China, meus Senhores,
 o remédio oferecido
 contra eczemas e tumores
 é MILEFÓLIO cozido.

32-A CAMÉLIA sedutora
 é a flor do arrependimento
 e do perdão...É a doutora
 diplomada em sentimento.

33-Ah, se o CRAVO amor revela,
 todo amor, quando se inflama,
 põe um cravo na lapela
 no coração de quem ama.

34-A ACÁCIA, branca ou vermelha,
 é um arbusto ornamental,
 em cujo nome se espelha
 uma amizade imortal.

35-Seu cor-de -rosa discreto
 muita elegância revela;
 mas fala de amor secreto,
 se for ACÁCIA AMARELA.

36-ORQUÍDEA tem, na verdade,
 lá na CHINA o seu ritual:
 desperta a sensualidade
 e a beleza espiritual.

37-Tem DEDALEIRA a harmonia,
 que Jesus tanto pregava,
 lembra o dedal de Maria
 que os "paninhos" costurava.

38-Quando a vida é mal vivida,
 por ser difícil e dura,
VALERIANA ressequida
 tem perfume, acalma e cura.

39-ARTEMÍSIA, flor ativa,
 filha de "Artêmis" dileta,
 mas, ciumenta e vingativa,
 sugere raiva secreta.

40-No dizer dos trovadores
ALELIS eram colhidas
 no passado, como as flores,
 perfumavam suas vidas.

41-AMARÍLIS e AÇUCENA
 são de família real
 e cheirá-las vale a pena:
 -seu perfume é sem igual.

42-Brancas lembram compaixão,
 mas, azuis, as CAMPAINHAS,
 parecem consolação,
 consolando as mágoas minhas.

43-Se tens a pele sardenta,
 passa-lhe frescas BONINAS,
 que chegarás aos setenta
 mais menina que as meninas.

44-O TREVO, eterna Trindade,
 Pai, Filho e Espírito Santo,
 na Grécia, é fertilidade,
 no mundo-ausência de pranto.

45-Em face a males ou dores,
 minha doença pouco dura,
 pois peço a bênção das flores
 e a ROMÃZEIRA me cura.

46-O TRIGO, que é fruto e flor,
 é sonho e também alento:
 me enlevo com seu candor,
 com seu sabor me alimento.

47-DAMAS-da-NOITE é o remédio
 que me traz felicidade
 e me liberta do tédio
 na Praça da Liberdade.

48-Pela ninfa castigado,
 por vaidade, com certeza,
NARCISO foi condenado
 a perder toda a beleza.

49-MADRESSILVA é trepadeira
 de flores bem perfumadas!
 No verão, quando altaneira,
 tem cores mais variadas.

50-As TROMBETAS anunciaram
 que, em Belém, o Rei nasceu,
 a estrebaria enfeitaram
 e "SALPIGLOSSIS" cresceu...

Fonte:
Silvia Araújo Motta . A flor na trova. Editora: AVBL, www.avbl.com.br. Ebooknet - Bibliotecas Virtuais. www.ebooknet.com.br, 2006

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 718)



Uma Trova de Ademar  

Para contar sua história, 
a pobre cigana cria 
uma verdade ilusória 
que ela mesma fantasia! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Se hoje não tens um dos pés, 
não lhe faz falta, porque, 
pelo poeta que és, 
o céu já mora em você! 
–A. A. de Assis/PR– 

Uma Trova Potiguar  

Cristo fez legado forte 
com sua paixão sofrida, 
pois da sentença de morte 
nos deu certeza de vida. 
–Hélio Pedro/RN– 

Uma Trova Premiada  

2001   -   Nova Friburgo/RJ 
Tema   -   DETALHE   -   4º Lugar 

Toda paixão se assemelha
à palha, por um detalhe:
basta uma simples centelha,
para que a chama se espalhe...
–Sérgio Ferreira da Silva/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Quando a chuva molha o agreste 
outro pranto molha o chão. 
- É muito cabra-da-peste 
chorando de gratidão!... 
–Waldir Neves/RJ– 

U m a P o e s i a  

Pra melhorar este mundo 
eu dou duro na poesia... 
Planto as sementes do verso 
no chão da sabedoria, 
e, na colheita da mente, 
dou ao mundo de presente 
um verso meu todo dia! 
–Ademar Macedo/RN– 

Soneto do Dia  

NINGUÉM... 
–Darly O. Barros/SP– 

“Ninguém! nenhuma só visita veio!” 
soluça uma roseira inconformada 
e esse refrão repete em seu gorjeio, 
nas ramas do arvoredo, a passarada... 

Unem-se ao coro as flores do passeio, 
a verde relva, a brisa perfumada 
e um céu cinzento, enquanto, bem no meio, 
do viço exuberante da esplanada, 

quando Finados quase já se encerra, 
e uma garoa fina molha a terra, 
por ironia de um destino ingrato, 

o jardineiro desse Campo Santo 
repousa numa cova em que, no entanto, 
em vez de alguma flor, só cresce mato...

José de Alencar (Ao Correr da Pena) 19 de novembro: Mitologia Folhetinística


(Crônicas publicadas no “Correio Mercantil”, de 3 de setembro de 1854 a 8 de julho de 1855, e no “Diário do Rio”, de 7 de outubro de 1855 a 25 de novembro do mesmo ano, ambos os jornais do Rio de Janeiro).

Se a mitologia dos povos antigos tivesse dado formas de mulher, de fada ou ninfa, às semanas, como o fez com as horas, não me veria às vezes em tão sérios embaraços para escrever esta revista.

Em lugar de estar a cogitar idéias, a parafusar novidades, e a lembrar-me de fatos e coisas passadas, pediria emprestado a algum dos tipos da  grande galeria feminina as feições e os traços para desenhar o meu original.

Assim, quando me viesse uma semana alegre e risonha, mas muito inconstante, com uns dias cheios de nuvens, e outros límpidos e brilhantes, iluminados pelos raios esplêndidos do sol, uma semana elegante de teatros e bailes, imaginaria alguma fada de formas graciosas, de olhos grandes, com uma certa altivez misturada de uma dose sofrível de loureirismo.

Vestiria a minha fada de branco com algumas fitas cor-de-rosa, pedir-lhe-ia que me contasse com toda a graça a travessura do seu espírito os segredos de suas horas e de seus instantes

Ao contrário, se fosse uma semana bem calma e bem tranqüila, em que os dias corressem puros e serenos, em que fizesse umas belas noites de luar bem suaves e bem calmas, de céu azul e de estrelas cintilantes, lembrar-me-ia de alguma moreninha da minha terra, de faces cor de jambo, ojos adormidillos, como dizem os espanhóis.

Então escreveria uma poesia, um poema, um romance ou um idílio singelo, e livrava-me assim de meter-me em certas questões graves, e importantes que ocupam a atualidade. Faria como o poeta; e limitar-me-ia às pequenas coisas que me tivessem interessado. Nugae, quarum pars parva fuit.

É verdade que, quando me acertasse cair uma semana como esta passada, onde iria eu procurar um tipo, um modelo que a caracterizasse perfeitamente? Lembro-me de uma mulher, que descreveu Byron, a qual, com algumas modificações, talvez me pudesse bem servir para o caso.

Seu único aspecto (da mulher) valia um discurso acadêmico; cada um de seus olhos era um sermão; na sua fronte estava estampada uma dissertação gramatical. Enfim, era uma aritmética ambulante. Dir-se-ia uma correspondência ou alguma velha polêmica que se houvesse despegado do seu competente jornal, para andar pelo mundo a discutir e argumentar.

Com efeito, só este tipo imitado de d. Juan poderia dar uma ligeira idéia da semana passada, a qual num formulário de botica podia bem traduzir-se pela seguinte receita: uma dose de sol, duas de chuva e três de maçada. Admirável receita para curar a população desta corte da febre de novidades que tem produzido a guerra do Oriente.

Os antigos, porém, que fizeram tanta coisa boa, esqueceram-se dessa invenção de personificar a semana, e por conseguinte não há remédio, senão deixar as comparações e voltar ao positivo da crônica, desfiando fato por fato, dia por dia.

Aposto que já estais a rir deste meu projeto, perguntando com os vossos botões que fatos são estes que descobri na semana passada, que acontecimentos se deram nestes dias, que valham a pena, não já escrever simplesmente, mas contar.

Ides ver. Em primeiro lugar, contar-vos-ei que a semana teve sete dias e sete noites, tal e qual como as outras. Destes sete dias muitos foram de chuva, e alguns estiveram tão belos, tão frescos, tão puros, que sentia-se a gente renascer com o sol que vivificava a natureza. As noites foram quase todas de inverno e de teatro.

No Provisório estreou a nova cantora, completando-se assim o número das três deusas que devem disputar o pomo de ouro, o qual também foi pomo da discórdia. O público dilettante está por conseguinte arvorado em Paris; e os poetas já se prepararam para cantar a nova Ilíada e as causas terríveis de tão funesta guerra. Et teterrimas belli causas

Em São Pedro de Alcântara o aparecimento de João Caetano produziu uma noite de entusiasmo e um novo triunfo para o artista distinto, único representante da arte dramática no Brasil.

Infelizmente as circunstâncias precárias do nosso teatro, ou outras causas que ignoramos, não têm dado lugar a que João Caetano forme uma escola sua, e trate de elevar a sua arte, que no nosso país ainda se acha completamente na infância.É a este fim que deve presentemente dedicar-se o ator brasileiro. Sua alma já deve estar saciada destes triunfos e dessas ovações pessoais, que são apenas a manifestação de um fato que todos reconhecem. Como ator, já fez muito para sua glória individual; é preciso que agora como artista e como brasileiro trabalhe para o futuro de sua arte e para o engrandecimento de seu país.

Se João Caetano compreender quanto. É nobre e digna de seu talento esta grande missão, que outros, antes de mim, já lhe apontaram; se, corrigindo pelo estudo alguns pequenos defeitos, fundar uma escola dramática que conserve os exemplos e as boas lições do seu talento e a sua experiência, verá abrir-se para ele uma nova época.

O governo não se negará certamente a auxiliar uma obra tão útil para o nosso desenvolvimento moral; e, em vez de vãs ostentações, de coroas e de versos que se procuram engrandecer unicamente pelo assunto, terá o que lhe tem faltado até agora, o apoio e a animação da imprensa desta corte.

Uma das coisas que têm obstado a fundação de um teatro nacional é o receio da inutilidade a que será condenado este edifício, com o qual decerto se deve despender avultada soma. O governo não só conhece a falta de artistas, como sente a dificuldade de cria-los, não havendo elementos dispostos para esse fim.

Não temos uma companhia regular, nem esperanças de possuí-la brevemente. A única cena onde se representa em nossa língua  ocupa-se com vaudevilles e comédias traduzidas do francês, nas quais nem o sentido nem a pronúncia é nacional

Deste modo ficamos reduzidos unicamente ao teatro italiano, para onde somos obrigados, se não preferimos ficar em casa, a dirigirmo-nos todas as noites de representação, quer cante a Casaloni, quer encante a Charton, quer descantem as coristas. Tudo é muito bom, visto que não há melhor.

Já algumas vezes temos censurado a diretoria do teatro por certas coisas que nos parece se podem melhorar sem grandes sacrifícios. Hoje cumpre-nos fazer-lhe uma justiça, e até um elogio, que ela merece sem dúvida alguma, pela resolução que nos consta ter tomado de reparar o edifício e ilumina-lo a gás.

A polícia também tem-se esmerado em fazer cessar as cenas tumultuárias e desagradáveis que se iam tornando tão freqüentes naquele teatro, e que, se continuassem, acabariam por afugentar dele os apaixonados da música de batuque.

Não é, porém, unicamente no teatro que a polícia tem dado provas de atividade. Efetuou-se esta semana a prisão de um moedeiro falso, que se preparava a montar uma fábrica dessa indústria lucrativa.

O crime de moeda falsa é um dos mais severamente punidos em todos os países, porque ameaça a fortuna do Estado e a dos particulares. Entretanto não acho razão no legislador em tr punido unicamente o falsificador de moeda, deixando impunes muitos outros falsificadores bem perigosos para a nossa felicidade e bem-estar.

Todos os dias lemos nos jornais anúncios de dentistas, de cabeleireiros e de modistas, que apregoam postiços de todas as qualidades, sem que a lei se inquiete com semelhantes coisas.

Entretanto imagine-se a posição desgraçada de um homem que, tendo-se casado, leva para casa uma mulher toda falsificada. E que de repente, em vez de um corpinho elegante e mimoso, e de um rostinho encantador, apresenta-lhe o desagradável aspecto de um cabide de vestidos, onde toda a casta de falsificadores pendurou um produto de sua indústria.

Quando chegar o momento da decomposição deste todo mecânico – quando a cabeleira, o olho de vidro, os dentes de porcelana, o peito de algodão, as anquinhas se forem arrumando sobre o toilette – quem poderá avaliar a tristíssima posição dessa infeliz vítima dos progressos da indústria humana!

Nem ao menos as leis lhe concedem o direito de intentar uma ação de falsidade contra aqueles que o lograram, abusando de sua confiança e boa-fé. É uma injustiça clamorosa que cumpre reparar.

Um homem qualquer que nos dá a descontar uma letra de uns miseráveis cem mil réis, falsificada por ele, é condenado a  uma porção de anos de cadeia. Entretanto aqueles que falsificam uma mulher, e que desgraçam uma existência, enriquecem e riem-se à nossa custa.

Deixemos esta importante questão aos espíritos pensadores, aos amigos da humanidade. Não temos tempo de tratá-la com a profundeza que exige; senão resumiríamos o quadro de todas as desgraças que produzem não só aquelas falsificações do corpo, mas também muitas outras, como um olhar falso, um sorriso fingido, ou uma palavra mentida. 

Demais, temos ainda de falar de uma outra medida do chefe de polícia a respeito dos cães, e que interessa extraordinariamente a segurança pública. O que cumpre é zelar a sua execução para que não se torne morta, e faça cessar o perigo que corremos todos os dias de encontrarmos a cada momento na rua ou no passeio a morte do hidrófobo.

Afonso Karr levou dois anos a escrever para conseguir que a polícia de Paris adotasse esta útil medida de segurança pública a que ordinariamente damos tão pouco cuidado, e muitas vezes mesmo revoltamos por um mal entendido sentimento de humanidade.

Um dos maiores obstáculos que ele encontrou sempre foram certos prejuízos, certos erros consagrados e que todo o mundo repete, sem refletir, nem compreender o sentido das palavras que profere.

Assim, desde a antiguidade se diz que o cão é o amigo fiel do homem, o tipo e o modelo da amizade.

Este consentimento unânime, diz o escritor francês, é uma singular revelação do caráter do homem. O cão obedece sem reflexões, se submete a todos os caprichos e a todas as vontades sem distinção; quando o castigam, em vez de se defender, roja-se aos pés de seu senhor e caricia a mão que o castigou. E é isto o que o homem chama um amigo!

Já se vê que o sentimento não é tão nobre como o parece a princípio. Todas estas vãs declamações dos poetas sobre esse animal, que dizem representar o símbolo da fidelidade, dão uma bem mesquinha idéia do coração humano.

Não é pois, o prazer de possuir um autômato, que se move à nossa vontade, que pode compensar um dos maiores riscos a que estamos sujeitos, e para o qual olhamos indiferentemente.

Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.

domingo, 4 de novembro de 2012

Silvia Araújo Motta / MG (A Flor na Trova) Parte I



DEDICATÓRIA

Aos poetas-trovadores,
 ofereço em lindo laço
 colorido de emoção,
 as flores, com seus olores,
 o meu carinho e o abraço,
 nascidos do coração.
 Aos trovadores-cantores
 mais uma alerta lhes faço:
 - Ao Poder da Criação
 que espalha ao mundo os valores,
 agradeçam a inspiração.
 Aos meus pais-educadores
 nesta singela homenagem,
 meu amor e gratidão.
 Aos meus filhos, lindos laços
 de um grande amor sem medida,
 meus perfumados abraços
 e bênçãos por toda a vida.
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INTRODUÇÃO

 FLORES NACIONAIS E INTERNACIONAIS EM TROVAS

 Estas Pétalas de Trovas retratam a íntima relação entre o homem, plantas e flores nacionais e internacionais, por meio de uma linguagem simbólica universal, simplesmente mitológica e poética.

 As flores estão presentes tanto nas culturas ocidentais quanto nas orientais.

 "Até nas flores se encontra
 a diferença da sorte,
 umas enfeitam a vida,
 outras enfeitam a morte.”

Esta trova foi publicada por Mello Morais Filho, no seu "Cancioneiro dos Ciganos", em 1875, registrando como autor, o cigano Jerônimo Guimarães.

 Que a união das pétalas de cada trova possa atingir a profundeza da conscientização filosófica e social, para prestar uma homenagem à eleita Rainha das Flores- a Rosa, símbolo dos Trovadores:

 Ó Trovador meu irmão!
 Quando fizeres poesia,
 proclama sempre a união,
 razão da nossa alegria.

 Eis algumas das minhas TROVAS e QUADRAS sobre flores nacionais e internacionais.
 Algumas se limitam a uma simples descrição meramente formal. Em outras tentei a abordagem poética. Se o consegui ou não, só caberá ao leitor este julgamento. Vale a reflexão de Henfil:

 "Se não houver frutos, vale perfume das flores. 
Se não houver flores, vale a sombra das folhas. 
Se não houver folhas vale a intenção da semente " .
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ARVERSOS - (Carta em versos)

 Amigos e Trovadores,
 fiquei muito entusiasmada.
 A pesquisa sobre flores
 deu-me uma paz perfumada.

1-Simbolizando nossa alma
 vitória e imortalidade,
 no mundo inteirinho a PALMA
 recorda a fecundidade.

2-A "FLOR" que o sonho me acena
 somente em sonhos eu vi:
 -Tem pureza de AÇUCENA
 e aroma de BOGARI.

3-Tem DEDALEIRA a harmonia,
 que Jesus tanto pregava,
 lembra o dedal de Maria
 que os "paninhos" costurava.

4-Costumo sempre afirmar
 que ANGÉLICAS perfumadas
 e puras fazem lembrar
 Marias "imaculadas..."

5-GYPSOPHILA tem beleza
 nos canteiros de nossa alma.
 Dos anjos herdou pureza,
 colhida transmite a calma.

6-Pondo o sol no amor dos noivos
 com pétalas coloridas,
 eles, os líricos GOIVOS
 unem almas e unem vidas.

7-A deusa com asas-ÌRIS,
 boas notícias na guerra,
 foi transformada em arco-íris,
 que é ponte entre o céu e a terra.

8-Na velha Grécia Feudal,
 além de medicamento,
 a TÍLIA-medicinal-
 era a flor do casamento.

9-VIOLETA Bonapartista,
 que tanta pureza tem,
 parece zelosa artista,
 tecendo o aroma do Bem.

10-MARAVILHAS são boninas,
 lindas flores temporais;
 na forma, tão pequeninas,
 na essência-grandes demais!

11-CHORÕES, em ramos pendentes
 lacrimejam delirantes,
 os "nunca mais" comoventes
 dos amigos...dos amantes...

12-Pobres Vênus -mal amadas-
 por ADÔNIS que só são
 as flores mal cultivadas
 na mera recordação.

13-A MIMOSA, concluímos,
 nos causa muita surpresa,
 pois, mesmo assim, com tais mimos,
 é o símbolo da certeza.

14-CRISTA-DE-GALO, eu diria,
 simboliza vigilância...
 Jardim que essa flor vigia,
 parece um Jardim de Infância.

15-Essa flor da longa vida
CAPUCHINHAS (também CHAGAS)
 trepadeira, colorida
 e presente em muitas plagas.

16-ROSA BRANCA é angelical,
ROSA AMARELA é traição,
ROSA VERMELHA é sinal
 do fogo do coração.

17-No Japão a CEREJEIRA
 dos Samurais é mascote,
 e numa visão guerreira,
 de pai para filho é dote.

18-Nos canteiros da Esperança
 vi COLEUS por toda a parte
 e aprendi, desde criança,
 que na flor tem sumo de arte.

19-A PETÚNIA é persuasão
 e, assim, por ser convincente
 é uma flor que dá lição
 de firmeza a toda gente.

20-A essência da TUBEROSA
 deve ser bastante usada,
 pois sendo essência cheirosa
 deixa a boca perfumada.

Fonte:
Silvia Araújo Motta . A flor na trova. Editora: AVBL, www.avbl.com.br. Ebooknet - Bibliotecas Virtuais. www.ebooknet.com.br, 2006

António Torrado (A Menina e o Burro)


Ilustração: Cristina Malaquias

Da Seleção Pavilhão de Contos Infantis

Era uma vez uma menina que conhecia o campo, mas de longe. Vira-o, uma vez, de passagem, da janela de um automóvel. Vira-o, mais vezes, de corrida, nos ecrãs da televisão. E vira-o, outras vezes, disfarçado de paisagem, nas folhas das revistas e nas tampas das caixas de chocolate. Esta menina, afinal, não conhecia o campo a sério.

Por isso, da primeira vez que foi ao campo, da primeira vez que pisou o chão rugoso do campo e respirou o ar vivo do campo e os cheiros todos do campo, a menina ficou, há que confessar, a menina ficou um tanto atordoada. 

Tropeçou numa pedra, comichou-lhe o nariz e picou-se nas urtigas. Mas, apesar destes contratempos, a menina, verdade se diga, não desgostou da experiência.

É que havia muita coisa para ver. Havia folhas que estalavam, quando ela as pisava. Havia carreiros de formigas, flores sem nome, canaviais bulindo, árvores ramalhando e, não muito além do caminho por onde a menina seguia, um burrito de orelhas espantadas. Tinha o pêlo cinzento e não era de peluche.

A menina, que já ouvira histórias de príncipes encantados por fadas más, pensou: "E se é um príncipe transformado em burro?"

Podia ser. Tinha os olhos pestanudos e olhava para a menina cheio de curiosidade.

"Eu dou-lhe um beijinho, desfaz-se o encanto e ele transforma-se em príncipe", pensou a menina. "Até pode ser que, mais tarde, queira casar-se comigo."

A menina, que já se via princesa, aproximou-se do burro, para concretizar o que tinha pensado. Mas o burro é que não estava pelos ajustes. Quando viu a menina mais perto, fugiu a galope.

A menina correu atrás dele:

- Não te faço mal. É só um beijinho - prometia ela.

Mas o burro não queria saber. Era um burro novo, sem nenhuma prática social, e aquela criaturinha enervava-o.

Naturalmente, não era um príncipe encantado. Devia ser só um burro.

Também nos parece que sim.

Clevane Pessoa (Haicais)


Os risos das crianças: 
 No cristal, bolas de gude 
 — luzes trepidantes ­ 
  
Pássaros canoros 
 Energia em expansão 
 Almas projetadas... 

Gestação do arco-íris 
 Leveza atestando o efêmero 
 — Bolha de sabão. 
  
Reflexo de prata: 
 Luar despeja-se no mar 
 — Espelho do céu 
  
Leve borboleta 
 Vitória sobre a crisálida: 
 Pétalas aladas…

Sons de flauta doce:
 Murmúrios edulcorantes
 - Vento no bambual...

 Órgãos musicais
 De sonata progressiva:
 Cigarra insistente

Armadilha bela:
 Luz atraindo mariposa
 - Destinação cruel

Força dos opostos
 Espirais de eternidade
 Yin e yang: você e eu

Pescoços de cisne
 Transformam em corações
 O espaço vazio…

Mini-borboletas
 Orquídeas papilonáceas
 - Só não podem voar

Violinista freme
 Libélula com o arco
 Vibrações no espaço...

Pássaros nos fios
 Como notas musicais:
 Celestiais canções...
  
A chuva pingando
 Devassa o botão da flor
 De / flora antes da hora...

Pele contra pele
 Proximidade de cheiros:
 Mistura de humores

Fonte:
Clevane Pessoa de Araujo Lopes. Mix de Haikais e Poetrix. Editora: AVBL,  www.avbl.com.br, 2005

José de Alencar (Ao Correr da Pena) 12 de novembro: A Tomada do Rio Alma


(Crônicas publicadas no “Correio Mercantil”, de 3 de setembro de 1854 a 8 de julho de 1855, e no “Diário do Rio”, de 7 de outubro de 1855 a 25 de novembro do mesmo ano, ambos os jornais do Rio de Janeiro).

Desta vez não há razão de queixa. O paquete de Southampton trouxe-nos uma boa coleção de notícias a respeito da guerra do Oriente. A curiosidade pública, suspensa há muito tempo, pôde finalmente saciar-se com alguns episódios interessantes, como o de uma batalha em campo raso, o da passagem de um rio, o da  morte de um general e da fugida de um príncipe à unha de cavalo.

Passada a primeira impressão. Cada um tratou de comentar as notícias a seu modo, de maneira que já ninguém se entende, e  não há remédio senão apelar para o vapor seguinte a fim de sabermos a verdadeira solução do negócio.

A tomada do rio Alma sobretudo abriu um campo vasto a essa guerra de ditos espirituosos e de epigramas, em que se acham seriamente empenhados os russos e turcos desta cidade.

Uns entendem que, à vista  das notícias, é fora de dúvida que Mesckintoff deixara tomarem-lhe Alma, embora a muito custo escapasse com o corpo salvo das mãos dos franceses e ingleses. Entretanto, as próprias notícias dadas pelos jornais, ninguém pode duvidar que quem perdeu a alma não foi o príncipe russo, mas sim o General Saint-Arnaud.

No dia da chegada do paquete, um espirituoso redator de uma das folhas diárias da corte dizia, ao ler a descrição da batalha, que o êxito da guerra estava conhecido, e que a Rússia nada podia fazer desde que Nicolau perdera Alma. Ao contrário – retrucou-lhe o seu colega – agora é que os ingleses e franceses estão em apuros, porque os russos, depois da batalha, ficaram desalmados e não há nada que lhes resista.

Muita gente, que sabe como os franceses são fortes nos trocadilhos e jogos de palavras, persuade-se que talvez todo este barulho da batalha de Alma não passe de algum calembur, que eles nos querem impingir. Não vou tão longe nas minhas suposições; porém, quando teio as duas participações de Lord Raglan e de Saint-Arnaud, não posso deixar de lembrar-me daquela antiga anedota dos dois compadres da aldeia, que descobriram o modo de se elogiar a si mesmos sem falar à modéstia.

Em toda essa batalha só há a sentir uma coisa; e é que os aliados fizessem poucos prisioneiros, e não pudessem ajuntar uma boa coleção de príncipes russos, que tivessem nomes de oito sílabas com a terminação em off, que é de rigor. Se isto acontecesse, seria uma felicidade para o gênero humano; porque os tais boiardos passariam à França, espalhar-se-iam pela Europa e talvez chegassem ao mercado do Brasil, onde imediatamente se havia de manifestar uma grande procura deles para noivos. Se viessem alguns da Hircânia, e uma meia dúzia de magias da Hungria, também não seria mau, para assim haver mais onde escolher conforme o gosto de cada um..

Enquanto, porém não lhe é possível mandar-nos esse gênero de que tanto necessitamos, a Europa vai nos enviando algumas cantoras exímias (é o termo do rigor), para nos distrair as noites de uma maneira agradável. Chegou ultimamente uma, que, se a reputação corresponder ao nome, terá de apagar de todo no espírito público as recordações que deixou a Stoltz, se não como cantora, ao menos como excelente trágica.

Criar-se á provavelmente um terceiro partido que se intitulará Raquelista, e então o teatro tornar-se-á interessantíssimo. Aplausos de um lado, pateada do outro, bravos, gritos, estalinhos, caixas de rapé a ranger, tudo isto formará uma orquestra magnífica, e realçará a voz das cantoras de uma maneira admirável. Isso pelo que toca ao ouvido; quanto à vista, tomando a diretoria o bom acordo de reduzir a iluminação brilhante do teatro, as nuvens de poeira, que se levantam da platéia, criarão o demi-jour necessário à ilusão ótica.

Que progresso! Possuiremos um Teatro Lírico, no qual não se ouvirá música e quase nada se enxergará! Só quem não tiver uso de freqüentar teatros é que poderá negar as grandes vantagens que resultam de tão engenhosa invenção.

Enquanto os empresários europeus se matam e se esforçam por contratar boas cantoras, ensaiar as melhores óperas, e adquirir pintores cenógrafos para satisfazer o público e dar-lhe espetáculos que agradem, nós descobriremos o meio de poupar todo  este trabalho inútil e dispendioso. 

Para isto bastam  duas ou três cantoras com os seus competentes partidos, e, se houver também uma dançarina como a Baderna, melhor será. Com estes elementos conseguir-se-á por noite umas quatro pateadas e algumas salvas de palmas; a noite tornar-se á animada, e o gosto pela música  italiana se irá popularizando cada vez mais.

Decerto, aquelas noites monótonas, em que levávamos a ouvir a Stoltz, comovidos e atentos aos seus menores movimentos, descobrindo um estudo da arte, uma inspiração do talento no seu gesto o mais simples, ou nas entonações graves de sua bela voz; essas noites frias e calmas, em que depois de longas horas de êxtases, a alma afinal transbordava de emoções e arrancava no fim da representação aplausos espontâneos; essas noites não valem os espetáculos animados, como temos agora, cheios de fervor e entusiasmo, e em que nos possuímos tanto do encanto da música, que todo o corpo se agita para dar a mais solene manifestação de amor à arte.

Um dilettante  é hoje no Rio de Janeiro o homem que se acha nas melhores condições higiênicas e que deve menos temer a invasão do cólera, porque ninguém o ganha em exercício. A cabeça bate o compasso mais regularmente do que a baqueta do Barbieri; as mãos dão-se reciprocamente uma sova de bolos, como não há exemplo que tenha dado o mais carrasco dos mestres de latim de todo o orbe católico. Dos pés não falemos; são capazes de macadamizar numa noite a rua mais larga da cidade.

Ajunte-se a isto os bravos, os foras, os espirros, os espreguiçamentos (novo gênero de pateada), e de vez em quando um  passeio lírico de uma légua fora da cidade, e ver-se-á que dora em diante, quando os médicos quiserem curar alguma moléstia que exija exercício, em vez de mandarem o doente para a serra ou para os arrabaldes, lhe aconselharão que se aliste nalgum dos partidos, chartonista ou casalonista, e vá ao teatro.

Um espírito observador, recorrendo a certos dados estatísticos, conseguiu também descobrir que o homem mais útil desta corte é o dilettante. Cumpre-me, porém, notar que, quando falamos em dilettante, não compreendemos o homem apaixonado de música, que prefere ouvir uma cantora, sem por isso  doestar a outra. Dilettante é um sujeito que não tem nenhuma destas condições, que vê a cantora, mas não ouve a música que ela canta; que grita bravo justamente quando a prima-dona desafina, e dá palmas quando todos estão atentos para ouvir uma bela nota.

São muito capazes de levantar alguma questão gramatical sobre a minha definição, tachando-a de paradoxo, ou demonstrando por meio da etimologia da palavra que estou em erro. Mas isto pouco abalo me dá; os gramáticos que discutam, fazem o seu ofício, contanto que não se arvorem em alfaiates ou comecem atalhar carapuças.

Voltando, porém, a nossas observações, é fato provado que o dilettante é o homem que mais concorre para a utilidade pública. Em primeiro lugar, o extraordinário consumo que ele faz de flores não pode deixar de dar grande desenvolvimento à horticultura, e de auxiliar a fundação de um estabelecimento deste gênero, como já se tentou infrutiferamente nesta corte antes do dilettantismo ter chegado ao seu apogeu.

Os sapateiros e luveiros ganham também com o teatro, porque não há calçado nem luvas que resistam ao entusiasmo das palmas e das pateadas. Na ocasião dos benefícios, as floristas e os joalheiros têm muito que fazer; e os jornais enchem-se de artigos que para os leitores têm o título de publicações a pedido, e para o guarda-livros da casa o de publicações a dinheiro.

Além de tudo isto, além dos estalinhos, dos versos avulsos, das fitas para os buquês, é preciso não esquecer a carceragem que de vez em quando algum vai deixar na cadeia, onde se resigna a passar a noite, fazendo um sacrifício louvável pelo seu extremo amor à arte.

Isso sem falar das outras vantagens que já apresentamos, como de fazer que não se ouça a música e não se veja  coisa alguma. De maneira que, assim, toda a ópera é boa e bem representada; e, estando o teatro escuro com a poeira, não há risco que as mocinhas troquem olhares malignos para as cadeiras. Só este último fato é de um alcance imenso; é uma garantia de moralidade pública!

Se a diretoria soubesse apreciar esses bons resultados, em vez de transferir constantemente o espetáculo por moléstias deste ou daquele, em vez de nos dar uma só representação por semana, regularizaria os espetáculos, e repetiria o Trovador cinqüenta vezes para que os moleques da rua aprendessem a assobiar de princípio  a fim toda esta sublime composição de Verdi, a qual daqui a alguns meses aparecerá correta e aumentada numa porção de valsas, contradanças e modinhas.

Outra coisa, a que a diretoria não tem dado muita atenção, é ao estado do edifício e à decência deste salão, onde se reúne a flor da sociedade desta corte. Agora que se trata com tanta eficácia  do asseio público, parece-nos que era ocasião que o asseio chegasse até o interior do teatro, e fizesse desaparecer essa pintura mesquinha, essas paredes sujas, e esse pó que cobre as cadeiras e que reduz as abas de nossas casacas à triste condição de espanador. A julgar pela poeira que se levanta quando aparece a Charton ou a Casaloni, creio que há no soalho do teatro terra para encher algumas carroças.

Se faltam à diretoria meios de remover essa terra, pode  requisitá-los da administração da limpeza pública, que por certo não se recusará, à vista da atividade que tem mostrado ultimamente nos trabalhos que lhe foram incumbidos.

Com efeito, embora em começo, o serviço já tem conseguido apresentar bons resultados; e basta percorrer as ruas desta cidade, para reconhecer os sinais de uma vigilância ativa, que vai pouco a pouco substituindo o desleixo e a incúria que ali reinava entre a lama e os charcos.

O Sr. Ministro do Império tomou, nesta questão da limpeza, o verdadeiro partido de um bom administrador e o expediente de um homem de ação. Enquanto a discussão se ateava, tratou de realizar a sua idéia, e criar com os fatos argumentos irresistíveis, argumentos que calam imediatamente no espírito público. Os escrúpulos cessaram, apenas as nossas ruas começaram a mostrar o zelo da autoridade; e creio que, removendo a lama e o cisco das ruas, se removerá igualmente qualquer oposição extemporânea  a uma medida de tanta utilidade.

Já podemos ter esperanças de ver nossa bela cidade reivindicar o seu nome poético de princesa do vale, e despertar de manhã com toda a louçania para aspirar as brisas do mar e sorrir ao sol que transmonta o cimo das serras. Talvez daqui a alguns meses seja possível gozar a desoras o prazer de passar à la belle étoile, durante uma dessas lindas noites de luar como só as há na nossa terra; ou percorrer sem os dissabores dagora a rua aristocrática, a rua do Ouvidor, admirando as novidades chegadas da Europa, e as mimosas galantarias francesas, que são o encanto dos olhos e o desencanto de certas algibeiras.

Esses passeios, que hoje já vão caindo um pouco em desuso, ainda se tornarão mais agradáveis com algumas novidades interessantes que se preparam naquela rua, e que lhe darão muito mais realce, excitando as senhoras elegantes e os gentlemen da moda a concorrer a esse rendez-vous da boa companhia.

O Desmarais está acabando de preparar a sua antiga casa com uma elegância e um apuro, que corresponde às antigas tradições que lhe ficaram dos tempos em que aí se reunia a boa roda dos moços desta corte, e os deputados que depois da sessão vinham decidir dos futuros destinos do país. Ali tinham  eles ocasião de estudar os grandes progressos da agricultura, fumando o seu charuto Regalia, e de apreciar os melhoramentos da indústria pelo efeito dos cosméticos, pela preparação das diversas águas de tirar rugas, e pela perfeição das cabeleiras e chinós.

Como o Desmarais, a Notre-Dame de Paris abrirá brevemente as portas do seu novo salão, ornado com luxo e um bom gosto admirável. As moirées, os veludos e as casimiras, todos os estofos finos e luxuosos, e destinados aos corpinhos sedutores das nossas lindezas, terão uma moldura digna deles, entre magníficas armações de pau-cetim; e o pezinho mignon que transpuser os umbrais desse templo da moda pousará sobre macios tapetes, que não lhe deixarão nem sequer sentir que pisam sobre o chão.

Assim, pois, quando os pais e os maridos passarem de longe, e virem este belo salão com toda a sua elegância, resplandecendo com o reflexo dos espelhos, com o brilho das luzes, apressarão o passo, e, se tiverem lido o Dante, lembrar-se-ão imediatamente da célebre inscrição:

Lasciate ogni esperanza, voi che entrate;

Ma guarda, e passa!

De todos esses progressos da Rua do Ouvidor o mais interessante, porém, pelo lado da novidade, é a Galeria Geolas, que deve nos dar uma idéia das célebres passagens envidraçadas de Paris. A Galeria Geolas vai da Rua do Ouvidor à Rua dos Ourives; tem uma extensão suficiente; apesar de um pouco estreita, está bem arranjada.

Os repartimentos formam um pequeno quadrado envidraçado, e já estão quase todos tomados. Na locação desses armazéns seria muito conveniente, não só aos seus interesses, como aos do público, que o proprietário procurasse a maior variedade possível de indústrias, a fim de que a passagem oferecesse aos compradores toda a comodidade.

Os moços de boa companhia que se reúnem ordinariamente num ponto qualquer da Rua do Ouvidor deviam tomar um daqueles repartimentos e formar como que um pequeno salão, que se tornaria o rendez-vous habitual do círculo dos flâneurs. Enquanto não pudéssemos ter um Clube, a passagem iria satisfazendo esta necessidade tão geralmente sentida.

Se ainda não estais satisfeito, meu amável leitor, com todas estas novidades, vou dar-vos uma, que suponho vos causará tanto prazer como me causa a mim; e é que estou fatigado de escrever, e por conseguinte termino aqui.

Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.