sábado, 10 de fevereiro de 2018

Jardim de Trovas n. 5




1
Amigo/amiga, reparto
este espanto com você:
– o parto não é mais parto;
é download de bebê...
A. A. de Assis
(Maringá/PR)
2
Findando minha jornada
na mata do meu sertão,
o cantar da passarada
suaviza meu coração.
Alda Lopes de Oliveira Rezende
(Taubaté/SP)
3
O próprio termo consorte
já diz tudo e está provado
que o casado tem mais sorte
do que o que está separado!
Amilton Maciel Monteiro
(São José dos Campos/SP)
4
Oh, que bonito escarcéu...
Gralha Azul... Panapaná...
A certeza está no céu:
Deus mora no Paraná!
André Ricardo Rogério
(Arapongas/PR)
5
Com tudo desmoronando
na batalha pela vida,
só a Fé fica amparando
a coragem combalida.
Angélica Vilella Santos
(Taubaté/SP)
6
Se as maravilhas são sete
 eu, agora, vou mais fundo
 pois ao meu amor compete
 ser mesmo a "oitava do mundo" !
Antonio Colavite Filho
(Santos/SP)
7
Neste mundo de conflitos
o Poder faz e desfaz...
E os povos seguem aflitos
com a esperança de paz.
Ari Santos de Campos
(Balneário Camboriú/SC)
8
Escrevi teu doce nome
na areia que o mar deixou:
e a onda, que tudo consome,
esse teu nome levou...
Astério Barbosa Gomes de Campos
(Amargosa/BA, 1891 - 1968, Rio de Janeiro/RJ)
9
Ao teu lado, estou seguro;
longe de ti, desgraçado.
Tu és todo o meu futuro,
meu presente e meu passado.
Athayr Cagnin
(Cachoeiro de Itapemirim/ES, 1918 - 2012)
10
Quando acaso sinto, crede,
vontade de trabalhar,
deito-me logo na rede
até a vontade passar...
Augusto Linhares
(Baturité/CE, 1879 -  1963, Rio de Janeiro/RJ)
11
Nossa casa é pequenina,
mas tem a graça de Deus.
De dia o sol a ilumina,
e de noite - os olhos teus.
Augusto V. Rubião
(Campos Gerais/MG, 1905 -    Machado/MG)
12
Como dois botões pequenos,
duas flores orvalhadas,
teus olhos dormem serenos
sob as pálpebras cansadas.
Auta de Souza
(Macaíba/RN, 1876 - 1901, Natal/RN)
13
O tempo - mestre perfeito,
nos vive sempre a ensinar...
Mas tem o grande defeito
de seus alunos matar...
Benedito Camargo Madeira
(Pouso Alegre/MG)
14
Saudade - sombra fagueira
dos tempos que já passaram,
nasceu de ausência primeira
dos que primeiro se amaram.
Benedito Tavares de Cunha Melo
(Goiana/PE, 1911 - 1981, Jaboatão dos Guararapes/PE)
15
É provérbio muito antigo
que todos devem saber:
Quem não evita o perigo
há de nele perecer.
Benedito Lopes de Oliveira
(Pouso Alegre/MG)
16
Quando angústias me consomem
esta crença em mim revive:
Nem só de pão vive o homem,
- de ilusões também se vive.
Benedito Rodrigues Aranha
(Pirassununga/SP, 1892 -   ,São Paulo/SP)
17
Eu venho de longes bandas
e trago em chagas os pés,
mas digas tu com quem andas
que eu te direi quem tu és...
Bernardo Guimarães Filho
(Belo Horizonte/MG)
18
A grande, a maior vitória
que até hoje consegui,
foi remover da memória
as batalhas que perdi.
Carolina Ramos
(Santos/SP)
19
Lobato deu às crianças,
para os seus dias tristonhos,
todo um mundo de esperanças,
dentro de um mundo de sonhos…
Cesídio Ambrogi
(Taubaté/SP)
20
Contra o perigo atual
já não há quem se previna
porque, do gênio do mal,
há um clone em cada esquina!
Clarindo Batista
(Natal/RN)
21
O rio, que é minha vida,
corre em sentido perfeito:
transforma em pedra polida
os tropeços do seu leito.
Conceição Parreiras Abritta
(Belo Horizonte/MG)
22
A mamãe cura o dodói,
afaga, põe a atadura...
e o rosto do seu herói
se lambuza de ternura!
Domitila Borges Beltrame
(São Paulo/SP)
23
Roça: – mata, fogo, chão,
força, braço, homem,  dor;
plantas, flores, frutos, pão,
terra, vida, infância, amor!!!…
Domingos Freire Cardoso
(Ilhavo/Portugal)
24
Na taça de cada dia,
a transbordar de amargura,
cai um pingo de alegria,
e o fel se torna doçura.
Dorothy Jansson Moretti
(Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP)
25
Não temo o mar traiçoeiro
e as ondas em desatino,
porque Deus é o timoneiro
do barco do meu destino!
Eduardo A. O. Toledo
(Pouso Alegre/MG)
26
"Só se ama uma vez na vida..."
Ilusão! Ingenuidade!
Para amar não há medida,
nem limite, nem idade.
Eduardo Borges da Cruz
(Lisboa/Portugal, 1896 -  ,Rio de Janeiro/RJ)
27
Sorte, aleatório caminho
que cada destino traça:
para alguns, tão farto vinho;
a outros, vazia taça.
Eliana Ruiz Jimenez
(Balneário Camboriú/SC)
28
Na minha vida pacata
que levo desde menino,
tenho sido um acrobata
no circo do meu destino.
Filemon F. Martins
(Itanhaém/SP)
29
Deus, garimpeiro maior,
vai, no seu mister profundo,
salvando o que há de melhor
pelo garimpos do mundo...
Flávio Roberto Stefani
(Porto Alegre/RS)
30
Esta vida é uma pomada
da maciez do veludo...
- Eu já não sofro de nada,
de tanto sofrer de tudo!
Francisco de Assis Garrido
(São Luis/MA, 1899 - 1969)
31
Reguei de pranto e mais pranto
a terra, o mundo sem fim.
Chorei, chorei, e entretanto
os homens riram de mim...
Francisco Eugênio Brant Horta
(Juiz de Fora/MG, 1876 - 1959, Rio de Janeiro/RJ)
32
Quem não quer vencer a estrada
como faz o peregrino,
dobra sempre a esquina errada
na contramão do destino.
Francisco José Pessoa
(Fortaleza/CE)
33
Foi fugindo de mim mesmo,
que consegui me encontrar,
numa eterna fuga, a esmo,
num constante procurar!
Gislaine Canales
(Porto Alegre/RS)
34
Sou poeta! O meu destino
é manter enclausurado
um coração de menino
num corpo velho e cansado!
Héron Patrício
(São Paulo/SP)
35
Quando no ocaso da vida,
notamos anoitecer,
se a missão já foi cumprida,
nós não devemos temer...
Ialmar Pio Schneider
(Porto Alegre/RS)
36
A fuga não leva a nada,
meu caminho eu sigo em frente.
Em toda e qualquer estrada,
há um anjo guardando a gente...
Jaqueline Machado
(Cachoeiro do Sul/RS)
37
Cenário sombrio, esboço
da miséria...que tristeza:
- Ver famílias sem almoço
E sem jantar sobre a mesa!
Joamir Medeiros
(Natal/RN)
38
Estou aqui de passagem
sob o véu de fortalezas
que me valem de coragem
para enfrentar incertezas.
João Batista Xavier Oliveira
(Bauru/SP)
39
Vou brincar com pirilampos
e beijar as flores nuas
pra ver se encontro nos campos
a paz que fugiu das ruas!
José Lucas de Barros
(Natal/RN)
40
Chega o inverno como açoite,
tingindo as tardes de gris,
pichando de breu a noite,
caiando a aurora de giz!
Lisete Johnson
(Porto Alegre/RS)
41
Toda a tristeza eu transpasso,
com meu viver rumo à lida.
Se da luta advém cansaço:
- transformo o cansaço em vida!
Luiz Antonio Cardoso
(Taubaté/SP)
42
Nem o sofista profundo
essa verdade falseia:
quem se julga rei do mundo
é um pequeno grão de areia.
Luiz Carlos Abritta
(Belo Horizonte/MG)
43
Se não se pinta uma rosa,
porque beleza já tem,
em uma face mimosa
não se põe tinta também.
Manuel Bezerra da Cunha
(São José dos Bezerros/PE, 1899 -  1976, São Paulo/SP)
44
Eu vi o amor eclodindo
na mensagem de um chamado:
o mar, despido, sorrindo...
o sol se pondo, apressado.
Mara Melinni
(Caicó/RN)
45
A justiça e o bom senso
caminhando de mãos dadas,
mostram num caminho imenso
as verdades reveladas!
Maria Luiza Walendowsky
(Brusque/SC)
46
Nas asas da liberdade
firmei meu corpo a voar,
pois ser livre é ter vontade
de não parar de sonhar.
Messody Benoliel
(Rio de Janeiro/RJ)
47
Esta minha alma indecisa
não consegue se aquietar:
mal um sonho realiza,
outro sonho quer buscar...
Milton Souza
(Porto Alegre/RS)
48
Céu azul, jangada a vela
mar que espuma de emoção
ondas rendilhando a tela
do meu Brasil – meu rincão.
Myrthes Mazza Masiero
(São José dos Campos/SP)
49
Amizades que são boas,
e atitudes tão singelas,
é gostarmos das pessoas,
mesmo assim como são elas!
Nei Garcez
(Curitiba/PR)
50
Morre a tarde!... E, ao fim do dia,
na imagem do sol poente,
há tintas de nostalgia
do fim da tarde da gente.
Prof. Garcia
(Caicó/RN)
51
Depois de muitas andanças,
e tanta ilusão perdida,
vejo lindas esperanças
orvalhando minha vida.
Reinaldo Moreira de Aguiar
(Natal/RN)
52
Sob chuva, ou sol que abrasa,
como nos tempos antigos,
o portão da minha casa
não se fecha aos meus amigos!
Renato Alves
(Rio de Janeiro/RJ)
53
Se o seu viver é um deserto
sem água  e está por falir,
chuvas de trovas, por certo,
farão  sua alma florir!
Roza  de  Oliveira
(Curitiba/PR)
54
Bravura é viver sorrindo,
embora seja evidente
que a vida é dor insistindo
em ser mais forte que a gente.
Thalma Tavares
(São Simão/SP)
55
Um laço azul no cabelo,
meu vestido de organdi...
Mamãe... seu amor... seu zelo...
- Por que, meu Deus, eu cresci?
Vanda Fagundes Queiroz
(Curitiba/PR)
56
Transcendo o sonho e refaço
minhas rotas do passado,
para ter de novo o abraço
do ventre em que fui gerado.
Wandira Fagundes Queiroz
(Curitiba/PR)

Érico Veríssimo (Sinopse: As Aventuras de Tibicuera)

As Aventuras de Tibicuera, romance infanto-juvenil de Erico Verissimo traz, de maneira leve e agradável, a história do Brasil para as crianças. Assim como fez em “O Tempo e o Vento”, Erico Verissimo baseou-se no que de melhor existia em pesquisa histórica, arqueológica e antropológica em sua época. Publicado pela primeira vez em 1937, o romance não envelheceu e ainda hoje é um bom lazer e uma forma agradável de estudar.

As aventuras de Tibicuera, contadas por ele próprio. O próprio protagonista, Tibicuera, um índio tupinambá da Bahia, nascido anos antes da chegada dos portugueses ao litoral brasileiro, narra sua fabulosa viagem através do tempo, que começou numa taba tupinambá, antes de 1500, e terminou num arranha-céu de Copacabana em 1942. Assim Erico Verissimo apresenta sua versão da história nacional, publicada em 1937 com o objetivo de fazer frente ao nacionalismo ufanista do Estado Novo. Logo no início, o herói recebe dois presentes do pajé de sua tribo: o apelido Tibicuera, que significa "cemitério" em sua língua, e o segredo da eterna mocidade.

Participa de episódios marcantes da história do Brasil, O índio está no litoral da Bahia quando Cabral aporta, em 1500. Participa da luta contra os franceses e os holandeses no Rio de Janeiro e em Pernambuco, e da defesa do Quilombo dos Palmares. As expedições dos bandeirantes ao interior do continente, as missões catequizadoras dos jesuítas, a escravidão, a chegada da família Imperial, a proclamação da Independência, a Guerra do Paraguai, a proclamação da república e seus sucessivos governos são contados de maneira sedutora às crianças. Talvez seu principal atrativo seja a empatia que gera em seu público alvo, já que há uma identificação com seu protagonista, o qual os pequenos leitores acompanham desde o dia de seu nascimento. Erico Verissimo, conhecido por sua maestria no trado com as palavras, não descuidou de detalhes enriquecedores da cativante narrativa, que emocionam e deixam, ao final de cada capítulo, a vontade de continuar até o fim.

Trata-se de uma mistura de fato e ficção que ensina, além de divertir, ao possibilitar que a história se desenrole - conforme diz Tibicuera - como "um romance de aventuras que se passa na Terra e tem como personagem principal a Humanidade.


ATENÇÃO
O livro será postado a partir de amanhã, são 67 capítulos em 17 dias.












Fontes:
http://resumos.netsaber.com.br/resumo-4063/as-aventuras-de-tibuicuera
https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12049

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Paulo R. O. Caruso (Cordel ao ocarense Lavoisier)

Lavoisier Freire Martins
O brasileiro é doutor
quando quer vencer na vida
a trajetória aguerrida
de um cabra do interior
eu vou lhe contar, leitor
um goleiro colossal
de fama internacional
cujo dom sempre convence
Lavoisier ocarense
nossa estrela do Futsal.

Em vinte e sete do mês
de março do já distante
setenta e quatro um vibrante
ocarense teve a vez
de nascer e bem o fez;
dum químico genial
veio o nome surreal -
digo-lhe antes de que pense
Lavoisier ocarense
nossa estrela do Futsal.

Lavoisier Freire Martins
é sim o nome completo
da parede de concreto
que atuou mesmo em confins
do mundo como em jardins
passeia-se ao natural
banho de sol ao final
de uma tarde fluminense!
Lavoisier ocarense
nossa estrela do Futsal.

Aos quatorze anos se viu
o goleiro começar
a carreira no Ceará
dois anos depois subiu
aos profissionais; surgiu
como reserva afinal
até chegar sem rival
a titular sem suspense
Lavoisier ocarense
nossa estrela do Futsal.

Começou pelo Sumov
do Ceará sua carreira
como estrela brasileira,
mas, como o tempo se move
e à família então comove,
ao Tio Sam foi o tal
atleta já num sinal
do progresso de quem vence
Lavoisier ocarense
nossa estrela do Futsal.

No Sumov quase sete
anos o cabra ficou
e dez títulos ganhou -
dois no juvenil esquete
e oito adulto - se repete
a fase experimental
da juventude em real
desabrochar que convence
Lavoisier ocarense
nossa estrela do Futsal.

Já no Tio Sam, do Rio,
cidade de Niterói,
vimos conquistar o herói
bicampeonato com brio
do estadual, mas o Tio
viu um gigante imortal
comprar o atleta afinal
- Vasco, um outro fluminense
Lavoisier ocarense
nossa estrela do Futsal.

Mais sete taças ganhou
o goleiro rei dos reis
de um metro e sessenta e seis,
que seu nome costurou
na história de quem lutou
outrora por trato igual
a todos no mais real
esporte que você pense!
Lavoisier ocarense
nossa estrela do Futsal.

O auge chegou de fato
no bravo Carlos Barbosa -
fase mesmo esplendorosa
vinte e três troféus no ato
nove anos de contrato
foi campeão mundial
na Espanha, o lar do rival,
o que a qualquer um convence
Lavoisier ocarense
nossa estrela do Futsal.

E até a paulista INTELLI
ele defendeu honroso
com o seu dom majestoso,
dando as mãos e toda a pele
às despesas, e então sele
dois troféus na especial
galeria oficial
do clube, leitor cearense!
Lavoisier ocarense
nossa estrela do Futsal.

Depois na Ulbra jogou,
onde venceu um torneio,
sendo que o reencontro veio,
e o goleiro enfim voltou
ao Carlos Barbosa e o gol
fechou novamente o tal
goleiro fundamental,
parando então sem suspense
Lavoisier ocarense
nossa estrela do Futsal.

Jogou pela seleção,
ganhou dezenove taças
nas mais variadas praças,
não lhe sobrando razão
pra chiar da boa mão
que Deus lhe deu afinal
carreira sensacional
ao Brasil e ao cearense
Lavoisier ocarense
nossa estrela do Futsal.

Mais dezenove homenagens
individuais levou
para casa e completou
sua sala, e traquinagens
quanto à altura - molecagens
nunca mais o mesmo ouviu,
pois à pátria ele serviu
com bravura não nonsense
Lavoisier ocarense
nossa estrela do Futsal.

Por clubes ou seleção
tudo o cabra conquistou,
e com Vládia se casou
filhas nasceram então
dessa linda comunhão:
Larissa e Letícia - a tal
química sensacional
ao casal que em vida vence!
Lavoisier ocarense
nossa estrela do Futsal.
-------------------------------
2º lugar no IX Concurso Literário Poeta Zé Mitôca 2017 na categoria Cordel (tema: Lavoisier Ocarense, nossa estrela do Futsal) -

Fonte: O autor

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Nemésio Prata (Canto da Cotovia...)

De tanto ouvi-las cantar
nas matas do meu sertão
meu louvor eu quero dar
às cotovias... Irmão!

Todo dia, na janela
do meu quarto aparecia
com seu trinado "a capella"
uma bela cotovia.

Não tem som mais eloquente
de se ouvir que a cantoria,
bem cedinho, ao sol nascente,
da pequena cotovia!

Quando canta a cotovia,
anunciando a madrugada,
faz-lhe coro, em melodia,
na mata, a passarinhada!

O canto da cotovia
é de um encanto divino;
mistura dor e alegria...
e é isto que o faz supino!

Quem escuta a cotovia
cantar, nunca mais esquece
a pungente melodia
do seu trinado finesse!

Caçador, tome cuidado
pra não matar cotovia,
pois pra Deus isto é pecado:
não diga que não sabia!

Fontes: 
O Autor
Imagem: Portal São Francisco

Contos e Lendas do Mundo (Os Três Machados)

Um camponês deixou cair o machado no rio, e cheio de angústia, pôs-se a chorar.

A Fada das Águas, ouvindo-o chorar, teve pena dele e levou-lhe um machado de ouro, e então perguntou-lhe:

- É este o teu machado?

- Não, não é esse - respondeu o camponês.

A Fada das Águas mostrou-lhe um de prata.

- Não, não é esse - respondeu ainda o camponês.

Então a Fada das Águas trouxe-lhe o que ele tinha perdido no rio.

- É esse - disse o camponês.

Para compensar a honradez com que ele, o camponês, tinha procedido, a Fada das Águas ofereceu-lhe os machados de ouro e de prata.

No regresso, o camponês contou a sua estranha aventura aos camaradas. E um deles teve a ideia de imita-lo. Foi à  beira do rio, deixou cair o machado e pôs-se a chorar. A Fada das Águas apresentou-lhe um machado de ouro e perguntou-lhe:

- É este o teu machado?

O camponês, muito contente, respondeu:

- Sim, sim é o meu.

A Fada das Águas, para castigar a mentira, não lhe deu o de ouro, nem o de aço, que ficou a enferrujar no fundo do rio.

Fonte:
Contos de Encantar

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Concurso Intersedes de Trovas 2018 (Resultado Final)

Promovido pela UBT – Seção de Maringá-PR

Tema: ACHADO
.
VENCEDOR

.
Depois de velho e cansado,
longe dos tempos risonhos,
bendigo por ter te achado
entre as cinzas dos meus sonhos.
Francisco Gabriel Ribeiro 
Natal/RN
.
MENÇÕES HONROSAS
.
Você foi o meu achado,
sei também que fui o seu,
e o destino, atrapalhado ,
nos achou. . . e nos perdeu...
Alba Christina Campos Netto 
São Paulo/SP
.
Trovador aprimorado
mede o verso, escolhe a rima...
Aproveita um belo achado,
e finaliza a obra-prima.
Glória Tabet Marson 
São José dos Campos-SP
.

Vejo, no olhar do menino,
a sorrir, sujo e descalço,
que há um achado pequenino
num mundo de riso falso...
Mara Melinni  
Caicó-RN
___________________


A. A. de Assis
Coordenador do Concurso

Avaliadores:
A. A. de Assis,
Jeanette De Cnop,
Olga Agulhon

Fiéis depositários:
José Feldman (e-mail) e
Nilsa Alves de Mello (correio)

 
Obs.: Caberá à UBT Natal/RN promover o próximo Intersedes (2019)

Eça de Queiroz (Ao Acaso)

Ainda ontem eu pensava que nós outros os peninsulares nem sempre tínhamos sido uma nação estreita, de pequenas tendências, sonolenta, chata, fria, burguesa, cheia de espantos e servilidades: e que este velho canto da Terra, cheio de árvores e de sol, tinha sido pátria forte, sã, viva, fecunda, formosa, aventureira, épica!

Ah!, foi há muito tempo.

Era naqueles tempos em que a Itália rodeava os papas severos; e olhavam para o céu as Virgens do Dominiquino. Por esse tempo ia pela Europa uma transformação social. Na Alemanha, Lutero entrava em Worms, com um canto batalhador, em nome do espírito, da alma. O papado ia morrer. Era necessário que todo o Sul se aliasse na cruzada católica. Toda a revolta de Lutero foi tomada ao principio por um daqueles lentos suspiros alemães, que se perdiam no coro profano, luminoso, embalador e forte do Sul. Viu-se depois que era a voz imensa da alma do Norte, toda uma humanidade austera e vital, que se movia, que vinha falar, pensar, examinar, revelar, sob o peso das teocracias romanas, dos papados, dos imperadores, das tiranias, dos sacerdócios.

Todo o Sul católico estremeceu; aquela revolta vinha imprevista e rápida; um dia a imperceptível e vasta humanidade, quando fosse uma madrugada para as suas adorações, podia encontrar a velha Roma deserta, e ao longe o catolicismo dissipando-se com um som hierático de salmos e um colorido vermelho de fogueiras.

Era necessário salvar o Sul.

A Itália tinha-se familiarizado com o cristianismo; tinha-se acostumado às santas macerações de Jesus, à transparência ascética das Virgens; os renunciamentos e os medos católicos já a não vergavam para o pó. Ela, cheia de sol e de sons e de forças, começava a olhar a Natureza, as grandes fecundidades. as vitalidades poderosas, as melodias moventes da carne. Os velhos deuses da Grécia tinham-se refugiado na alma italiana; ao princípio andavam no fundo, como recordação leve, transfigurados pela dor, encolhidos, soluçantes, miseráveis: depois lentamente foram aparecendo, espalhou-se um cheiro de ambrósia e um som de idílio; e os seus corpos são como astros, ocuparam por fim toda a alma italiana com coreias, derramações de néctares, palpitações de luz, divinos resplandecimentos de vida.

A Itália tinha-se afastado de Dante e das visões devoradoras do infinito; e os poucos que se curvavam sobre a Divina Comédia, não era para ver os castigos e os paraísos, mas para sentir as palpitações, que lá tinham ficado, da alma de Florença. A Itália seguia Petrarca: mas em Petrarca havia ainda uma religião e um misticismo – o amor: e a Laura dos Sonetos, como a Virgem mística, prendia nas humilhações religiosas todos os cavaleiros do Sul. A Itália então deixou Petrarca e rodeou Ariosto, o aventureiro, o jovial, o descrente, cavaleiro e escarnecedor.

Foi então que se ouviu aquela voz do Norte.

Todas as coortes católicas andavam dispersas, galhofeiras e namoradas, rindo com o Aretino, escarnecendo brutalmente com o poeta Pulei, guiadas por Lorenzo de Médicis e pelo cardeal Bembo, cantando às estrelas, adorando as Violantes, rindo de Fra Angelico, aclamando Ticiano, cobertas das sedas de Veneza, com o peito cheio da religião do
Sol, da música e das noite profanas.

Foi então que se ouviu a voz do Norte, o canto de Lutero. Todos os católicos correram instintivamente, rodearam os papas severos, Adriano VI, Clemente VIII, cantaram os salmos e as missas de Marcelo, cheias dos renunciamentos ascéticos, e. foram seguindo o Tasso, que voltava, apaixonado e religioso, para Dante e para Deus. E o papado continuou caminhando, sereno e terrível, deixando as sombras das masmorras de Galileno e de Campanella, e mais longe o fumo das fogueiras de Vanini e de Giordano Bruno. Tal era a luta do Norte e do Sul.

Ora durante essa luta das regiões e das pátrias, a Península, encolhida nas suas montanhas, cobertas de sol, violenta, sinistro cavaleiro de Deus, armava as caravelas e os galeões para as bandas desconhecidas das ilhas, dos continentes das Índias, dos cabos temerosos. Nós outros, os peninsulares, aparecíamos às outras nações como velhos lobos-do-mar, sempre em viagens, trigueiros, rijos como calabres, sãos como o Sol, ensurdecidos pelo clamor das marés, cheios de legendas e do cheiro das viagens, sobre os tombadilhos, e perdidos, ao longe, perdidos nas brumas terríveis.

De vez em quando desembarcava este povo, bradando que tinha descoberto um mundo, que lá tinham ficado infinitas multidões, negras, bestiais e nuas sob a bênção dos padres: ali mesmo sobre a areia, ao rumor das maresias, escrevia a história trágica da sua viagem, e uma madrugada, tomados das saudades do mar, partiam de novo, radiosos e bons, para a banda das Índias.

Era assim. Todos os anos, aquela multidão imensa de aventureiros embarcava nos galeões, entre os salmos e os coros, e eles iam silenciosos e flamejantes, por entre as sonoras ilimitações, os ventos aflitos e os tremores da água – para os nevoeiros inexplorados. Iam, em demanda de mundos, levando Deus dentro do peito, sob as constelações augustas, entre as tempestades, os rochedos e as correntes, de pé nos tombadilhos, descobertos às temperaturas, rodeando um Cristo, cantando os salmos ao coro dos furacões, todos reluzentes de armaduras e de divisas de amor, com a alma cheia de altivezas de batalhadores e de doçuras de apóstolos.

Iam como numa glória e em nome de Deus! E quando encontravam as hostilidades e os encrespamentos irados do elemento, as opressões infinitas dos ventos e das águas. erguiam as mãos como para uma excomunhão, e bradavam soberbos àqueles sopros e àquelas maresias os versículos do Evangelho Segundo S. João.

Era assim. Ora aqueles homens marinheiros e batalhadores eram historiadores e poetas. Escreviam os seus feitos. Escreviam-nos entre os assaltos e as tempestades, no convés das caravelas, nos cabos tormentosos, nas florestas sagradas da Índia sob as imobilidades cruas da luz: escreviam cobertos das espumas, enegrecidos pelos fumos, trêmulos das iras das batalhas. Por isso enchiam as suas crônicas e os seus poemas de uma estranha prodigalidade de força e de vida. E os seus diários de bordo tinham muitas vezes a simplicidade épica de Homero.

Mas eles também tinham amores, ciúmes, paternidades, paixões, lirismos interiores, e as saudades da pátria nasciam naquelas almas como grandes açucenas que se abrem dentro de um vaso e que o enchem. De noite, nos tombadilhos, embrulhados nos seus mantos esburacados, deitados entre as cordagens, aos embalos das marés, enquanto os pilotos silenciosos seguem com os olhos as viagens imensas das estrelas, e todo o mar enorme se amolece como um seio cansado, eles contavam em voz baixa, com as cabeças juntas, as histórias de amores, os torneios, as aventuras, as serenatas e a vida da pátria.

No meio daquela vida trágica da aventura eles tinham a alma cheia de amores, de legendas, de saudades, cheia da pátria. E escreviam poemas, cantatas, sonetos, farsas, comédias e elegias. E para vestirem o sentimento fecundo, forte, cheio do Sol e do mar tomavam a. forma popular.

Estavam longe da Europa, das plásticas da Itália, dos renascimentos gregos e romanos, das antigas formas rituais, das educações clássicas. Não conheciam isto. Mas lembravam-se sempre das cantigas da pátria, das endechas heroicas, dos romances populares, que eles tinham ouvido pelos campos, com que os velhos embalavam, que se cantam de noite às estrelas por Sevilha e por Granada e que os mendigos diziam pelas velhas pontes dos Godos e dos Árabes. Porque o povo na Península tinha uma poesia, sua exclusivamente, que cantava nos trabalhos, com que adormecia os filhos, em que escarnecia os alcaides e celebrava os heróis.

Fazia daquela poesia um uso sagrado: era a sua consolação, o grande leito misterioso onde adormecia as tristezas: era ali que procurava confortos, recompensas e as ideias da pátria. No Norte, a poesia popular foi a Invisível que levou pela mão os trovadores, filhos das glebas, até às lareiras dos senhores feudais: foi o primeiro suspiro de amor que os pobres poetas do povo, místicos e sensuais, soltavam para as brancas castelãs que entreviam nos torneios,cobertas de pedrarias: ou passando de noite, brancas, às estrelas, pelos altos terraços; ou entre as árvores, ao entardecer, quando as ogivas cheias do sol oblíquo estão flamejantes como mitras.

E as castelãs abriam os braços para os poetas tristes, indolentes e cheios do Paraíso. Admirável influência da poesia, que produziu pelo amor um renascimento social!

Mas a poesia da Península era unicamente do povo: era a epopeia austera do Cid, exterminador de mouros, e de Bernardo dei Carpio, exterminador de bárbaros. Na Península o povo estava sob uma condição especial; tinha uma importância no estado forte, fecunda e soberba: a Península tinha passado os primeiros anos da sua constituição nas lutas terríveis do forte Maomé e do Cristo místico; ora o popular da Península não era um servo, era um cristão: consagrado pelos batismos, era uma força individual, que impelia e dissolvia o elemento mourisco, sensual e poderoso. Ora, foi sob a forma popular que aqueles batalhadores e poetas, que vão hoje tomando a vaga atitude da legenda, escreveram os seus poemas, as suas cantatas, as suas comédias e os seus sonetos. Então toda a literatura peninsular tem uma originalidade profunda, independente de formas e ritos: a arte, o drama, a poesia saem das tradições populares, do clima, do Sol, de todas as vitalidades meridionais; isto quando pelo resto da Europa todas as nacionalidades esqueciam as suas tradições, a sua história, a sua velha alma, para se envolverem nas formas antigas. Era a Renascença. Então aparece o teatro espanhol original, cavalheiresco, enérgico, apaixonado, cheio de selvagens palpitações, de lances de religião: onde a cruz é uma personagem; onde falam lacaios, heróis, santos, ventos, galeões: todas as formas da vida confundidas; o riso, o choro, a ironia, a sátira, o madrigal: tal é a impressão geral.

Depois uma pintura mística e sensual: não é a espiritualização da alma, é antes a imortalização da carne: inspirada daquele misticismo espanhol, que sob a influência da Natureza, do clima, da política, da raça, parece mais cheio das trágicas iras de Jeová do que das doçuras de Jesus.

Depois uma música, como a do Dies Irae, obra dos terríveis dominicanos: um poema de morte; uma das maiores agonias da alma: música ascética e flamejante, onde a Natureza aparece, trágica e desgrenhada figura. Uma arte onde se torcem todas as chamas do Inferno e todas as pedrarias dos paraísos católicos, que parece uma luta trágica e cômica da vida e da morte: uma Igreja. cheia de renunciamentos místicos, mas onde o misticismos parece mais um desespero de não poder saciar-se dos bens do mundo do que uma aspiração a poder fartar a alma nas contemplações diversas: uma defesa do catolicismo trágica e apaixonada: um amor sublime pelos despotismos e pelos sacerdócios: confusão dos imperadores com os santos e das coroas de metal com as coroas de luz: uma vida super abundante: ascetismos ferozes e onde o sentimento mais aparente e o rancor.

Ao mesmo tempo uma austeridade monástica em tempo de guerra: caravelas que partem, sem rumo, sob as indicações das estrelas: quase, por vezes, uma reconciliação aparente do maometanismo e do cristianismo: uma paixão avara pelo dinheiro; o elemento da intriga que quer entrar na política, vindo substituir o elemento da força: combates cavalheirescos com a Europa vizinha: depois um sol ardente: um sangue exigente: uma carnação soberba: ao longe a América e as Índias como um paraíso de ouro, de metais e de soberanias. Tal é o aspecto mais geral da Espanha. nas vésperas da Renascença.

É dramática aquela vida.

Não admira por isso que a forma suprema da sua arte fosse o drama. Em Portugal não é este rigorosamente o fundo do gênio: há mais serenidade na força: o caráter português é mais parecido com o caráter italiano: os nossos sábios, os nossos viajantes, os nossos descobridores tinham mais a lucidez do tempo de Dante: as navegações são prudentes: por isso Portugal não resistiu nada à influência italiana. O renascimento da Antiguidade. a serenidade plástica, a frieza clássica aclimatam-se na Espanha mas com dor e com luta: foi necessário que a Espanha já não acreditasse na sua epopeia cavalheiresca e que Cervantes começasse a fazer trotar pelos caminhos o magro D. Quixote.

Em Portugal não: o gênio antigo aclimatou-se: transformou-se mesmo: perdeu o elemento vital e fecundo e ficou-lhe o elemento retórico.

Ó Arcádia! Ó moços pastoris e burgueses! Ó clássicos!

Fonte:
Eça de Queiroz. Prosas bárbaras.

Elben M. Lenz César (Oração de Um Escritor a Serviço de Deus)

(Pastor da igreja Presbiteriana de Viçosa e editor da revista Ultimato)

Deus, dá-me um bom português, sem vícios de linguagem e com palavras apropriadas.

Dá-me um estilo bonito, envolvente e agradável.

Dá-me substância, conteúdo, recado, mensagem. Algo que gere fé e convicção, conforto e esperança, arrependimento e transformação, alegria em meio à tristeza e consternação em meio à euforia. Filtra o que eu tenho para escrever e o que eu quero escrever. Ensina-me a construir em vez de destruir. Que a minha pena em tempo algum afaste alguém de ti.

Dá-me uma exegese cuidadosa de tua Palavra. Que eu não me sirva dela de modo irresponsável e superficial, mas que ela se sirva de mim. Dá-me uma mentalidade bíblica. Que eu veja a história numa perspectiva bíblica. Que eu veja o presente numa perspectiva bíblica. Que eu enxergue o futuro numa perspectiva bíblica.

Afasta de mim as segundas intenções, os propósitos duvidosos, as alfinetadas desnecessárias, a crítica mordaz. Livra-me do desamor, do preconceito, do equívoco, da injustiça. Segura em tuas mãos as rédeas do meu pensamento, do meu raciocínio, da minha escrita. Não me deixes escrever o que não é para ser escrito, nem deixar de escrever o que é para ser escrito. Não me deixes colocar bobagens no papel.

Dá-me discernimento espiritual para eu não misturar as coisas nem deixar de distinguir o bem do mal, o doce do amargo, a luz das trevas e o trigo do joio. Dá-me coragem e equilíbrio no trato de temas controvertidos e apaixonantes, e capacidade para enfrentar o que é complexo.

Dá-me a sabedoria que vem do alto, aquela que procede de ti, aquela que existe desde o princípio, aquela que mora com a prudência, aquela que vale mais que o ouro puro e a prata escolhida, aquela que tornaste disponível por meio da oração. Preciso muito de olhos que vejam, de ouvidos que ouçam e de coração que  ame. Quero ser escravo e instrumento da Verdade.

Santifica as minhas motivações. Que elas não sejam mercantilistas nem estejam a serviço do meu ego. Torna-me possuído da ideia de mistério, de prestação de serviço, de doação.

Livra-me da necessidade exagerada de ser reconhecido e elogiado. Livra-me da auto-avaliação mentirosa. Afasta de mim a arrogância e a presunção. Ensina-me a lidar com o sucesso eventual, que não provém apenas do meu esforço e de meus dons, mas, sobretudo, da tua bênção, que estou sempre buscando.

Cerca-me de críticos honestos, nem bajuladores nem preconceituosos. Cerca-me de leitores abençoados. Cerca-me de oração.

Ó Deus, eu preciso de inteligência e criatividade para te servir como escritor. Concede-me essa capacidade. Dá-me textos edificantes e de fácil entendimento. Que eu seja um escritor de sucesso. Para te servir, para honrar e glorificar o teu nome. 

Amém.