quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Irmãos Grimm (O Pássaro de Ouro)


Houve, uma vez, um rei que possuía, atrás do castelo, um belíssimo parque, no qual havia uma macieira que dava maçãs de ouro. Quando as maçãs ficaram maduras, contaram-nas todas, mas logo na manhã seguinte faltava uma. Avisaram o rei e ele ordenou que todas as noites ficasse um guarda vigiando debaixo da macieira.

O rei tinha três filhos, e ao anoitecer, mandou o mais velho ficar no jardim, mas este, à meia-noite, não pôde resistir ao sono e, na manhã seguinte, faltou mais uma maçã. Na outra noite, foi a vez do segundo ficar de guarda, mas não teve melhor sorte: quando soou meia- noite, adormeceu e, pela manhã, faltava outra maçã. Chegara a vez do terceiro, mas o rei não confiava muito nele, pensando que faria ainda menos que os irmãos; contudo, acabou por consentir que ficasse vigiando. O jovem deitou-se sob a macieira e velou sem deixar-se vencer pelo sono. Quando bateu meia-noite, percebeu no ar um ruflar de asas e, à claridade da lua, viu chegar um pássaro voando, cujas penas cintilavam como ouro.

O pássaro pousou na árvore e tinha apenas desprendido uma maçã com o bico, quando o jovem lhe atirou uma seta. O pássaro fugiu, mas a seta atingira-lhe as penas de ouro, deixando cair uma no chão. O jovem apanhou-a e, na manhã seguinte, foi levá-la ao rei, narrando-lhe tudo o que ocorrera durante a noite.

O rei convocou o conselho, e os ministros todos afirmaram que uma pena dessas valia mais do que o reino todo.

- Se esta pena é tão preciosa, - disse o rei - de que vale possuir uma só? Eu quero o pássaro inteiro e hei de consegui-lo.

O filho mais velho, pôs-se a caminho e, confiando na própria inteligência, ia com a certeza de encontrar o pássaro de ouro. Após ter caminhado bom trecho, avistou uma raposa à entrada da floresta; apontou sobre ele a espingarda para atirar, mas a raposa gritou:

- Não atires, eu te darei um bom conselho. Sei que vais em busca do pássaro de ouro; hoje, à noite, chegarás a uma aldeia onde há duas estalagens, uma em frente da outra. Uma delas é bem iluminada e oferece ambiente alegre, mas não entres nela, vai para a outra, embora tenha aspecto feio e pouco acolhedor.

"Como pode, um animal tão estúpido, dar conselhos acertados!" pensou o príncipe, e atirou mas errou o alvo. A raposa esticou o rabo e correu para a floresta. Ele prosseguiu caminho e, à noite, chegou à aldeia onde estavam as duas estalagens; numa cantavam e dançavam; a outra tinha aspecto pobre e tristonho. "Eu seria um grande louco, - pensou ele, - se fosse para aquela estalagem miserável, em vez de ir para esta outra bem melhor." Assim, entrou na que se apresentava alegre e festiva e lá, todo entregue aos prazeres, esqueceu-se do pássaro, do rei e de todos os bons preceitos.

Após certo tempo, vendo que o irmão mais velho não voltava, o segundo pôs-se a caminho à procura do pássaro de ouro. Tal como seu predecessor, encontrou a raposa, que lhe repetiu o bom conselho, mas ele não lhe deu atenção. Chegou ao local das duas estalagens e, daquela em festança, surgiu o irmão na janela chamando-o. Ele não pôde resistir, entrou e entregou-se aos divertimentos.

Decorrido mais algum tempo, o menor dos três irmãos quis, por sua vez, tentar a sorte, mas o pai não queria permitir, dizendo aos que o cercavam:

- É inútil. Se os irmãos não encontraram o pássaro de ouro, muito menos o encontrará este; além disso, se lhe acontecer alguma complicação, não saberá como sair-se dela, falta-lhe um "parafuso"!

Mas, por fim, para que o filho o deixasse em paz, deixou-o partir. À entrada da floresta estava a raposa, a qual lhe suplicou que lhe poupasse a vida e deu-lhe um bom conselho. O jovem príncipe era generoso e respondeu:

- Fica sossegada, raposinha, não te farei mal algum.

- E não te arrependerás, - respondeu a raposa - se queres chegar mais depressa, monta na minha cauda.

Assim que o príncipe se instalou na cauda da raposa, ela deitou a correr desabaladamente, com os cabelos zunindo ao vento. Quando chegaram à aldeia, o jovem desmontou e seguiu o conselho dado; sem olhar para nenhum lado, entrou na estalagem indicada, onde pernoitou tranquilamente. Na manhã seguinte, quando chegou ao meio do campo, a raposa já estava lá e disse:

- Vou ensinar-te o que deves fazer. Anda sempre direito para a frente, chegarás finalmente a um castelo, na frente do qual encontrarás um batalhão de soldados. Mas não receies nada, porque estarão todos dormindo e roncando; passa no meio deles, entra diretamente no castelo e atravessa todas as salas, até chegar àquela onde está dependurada uma gaiola de madeira com o pássaro de ouro dentro. Aí perto, bem à mostra, encontrarás uma gaiola de ouro vazia; não queiras tirar o pássaro da gaiola feia para pô-lo na outra preciosa: poderia ser-te fatal.

Tendo dito isso, a raposa esticou, novamente, a cauda e o príncipe montou nela; depois, com o vento zumbindo por entre os cabelos, desabalaram em carreira vertiginosa. Chegando ao castelo, o príncipe encontrou tudo, exatamente, como lhe havia dito a raposa. Entrou na sala onde estava o pássaro na sua gaiola de madeira, tendo ao lado a gaiola de ouro; viu as três maçãs de ouro espalhadas pelo chão. Então, achou que seria ridículo deixar aquele belo pássaro na gaiola tão feia; abriu a portinhola, pegou-o e colocou-o na outra de ouro. Imediatamente o pássaro soltou um berro agudo; os soldados acordaram, precipitaram-se dentro do castelo, prenderam o príncipe e o conduziram à prisão. Na manhã seguinte, foi julgado e, sendo réu confesso, condenado à morte.

O rei disse-lhe que o libertaria, com a condição, porém, de trazer-lhe o cavalo de ouro, que era mais veloz que o vento, e lhe daria ainda, como recompensa, o pássaro de ouro.

O príncipe saiu andando, suspirando tristemente: onde iria encontrar o cavalo de ouro? Nisso avistou a sua velha amiga raposa deitada na estrada.

- Viste, - disse ela - o que te aconteceu por me desobedeceres? Mas não te amofines, eu te ajudarei e te ensinarei o que tens a fazer. Deves andar sempre direito para a frente até chegar a um castelo e ali, na estrebaria, encontrarás o cavalo de ouro. Diante da estrebaria estarão deitados os cavalariços, dormindo e roncando sossegadamente; assim não te será difícil tirar o cavalo de ouro. Mas presta bem atenção: poe-lhe a sela feia de madeira e couro, não aquela de ouro dependurada perto; se não tudo te correrá mal.

Depois a raposa esticou a cauda, o príncipe montou nela e sairam em carreira desabalada, com os cabelos zumbindo ao vento. Tudo se processou conforme dissera a raposa: ele chegou à estrebaria onde estava o cavalo de ouro; mas, no momento de pôr-lhe a sela feia, pensou: "Um animal tão bonito faz uma figura ridícula se não lhe ponho a sela que lhe compete." Mal o tocou com a sela de ouro, o cavalo pôs-se a relinchar com toda a força. Os cavalariços acordaram, agarraram o jovem e o trancaram na prisão. Na manhã seguinte, o tribunal condenou-o à morte, mas o rei prometeu fazer-lhe mercê e dar-lhe, ainda por cima, o cavalo de ouro se conseguisse trazer-lhe a bela princesa do castelo de ouro.

O jovem pôs-se a caminho com o coração anuviado; felizmente não tardou a encontrar a fiel amiga raposa, que lhe disse:

– Eu deveria deixar-te na desventura, mas tenho pena de ti e, ainda desta vez, quero auxiliar-te. O caminho te conduzirá direto ao castelo de ouro, onde chegarás à tarde; durante a noite, quando tudo estiver silencioso, a bela princesa vai banhar-se no pavilhão. Quando ela entrar, agarra-a e dá-lhe um beijo: então ela te seguirá e poderás levá-la contigo. Mas não deixes que diga adeus aos pais, do contrário, tudo te correrá mal.

Depois a raposa esticou a cauda, o príncipe montou nela e, em carreira desabalada, saíram, com os cabelos zumbindo ao vento. Quando chegou ao castelo de ouro, encontrou exatamente o que lhe dissera a raposa. Ele aguardou até meia-noite. Então, fez-se silêncio, tudo dormia, e a bela princesa entrou no pavilhão para banhar-se; ele, num gesto rápido, agarrou-a e deu-lhe um beijo. Ela disse que o seguiria de bom grado, mas suplicou, chorando, que a deixasse dizer adeus aos pais. No começo, ele se opôs às suas súplicas mas, como ela chorava cada vez mais, prostrando-se aos seus pés, acabou por consentir. Assim que a princesa se aproximou do leito do pai, este despertou ao mesmo tempo que despertavam todos os que dormiam no castelo; prenderam o jovem e trancaram-no na prisão.

Na manhã seguinte, disse o rei:

– Tu mereces a morte; mas serás absolvido se conseguires arrasar a montanha que há defronte da minha janela e que me impede ver longe; terás de fazer isso dentro de oito dias. Se o conseguires, terás minha filha como recompensa.

O príncipe pôs-se a cavar, a cavar sem interrupção, mas, passados sete dias, vendo quão pouco havia feito e que todo o seu trabalho nada representava, abismou-se em profundo abatimento, perdendo todas as esperanças. Na noite do sétimo dia, porém, apareceu-lhe a raposa, dizendo:

– Não mereces que me preocupe contigo, mas podes ir dormir, eu farei o trabalho.

Na manhã seguinte, quando o príncipe acordou e olhou para fora da janela, a montanha havia desaparecido. Louco de alegria foi correndo levar a notícia ao rei; então o rei, querendo ou não, foi obrigado a cumprir a promessa e dar-lhe a filha.

Partiram os dois. A fiel raposa não tardou a alcançá-los e disse-lhe:

– É verdade que possuis o melhor, mas à princesa do castelo de ouro pertence, também, o cavalo de ouro.

– Que hei de fazer para obtê-lo? - perguntou o príncipe.

– Digo-te já. - respondeu a raposa - Primeiro leva a bela princesa ao rei que te enviou ao castelo de ouro. Ficarão todos extasiados e de boa vontade te darão o cavalo. Monta-o depressa e despede-te de todos, estendendo-lhes a mão; por fim estende a mão à bela princesa, agarra-a, monta-a rapidamente no cavalo e sai correndo à rédea solta. Ninguém conseguirá apanhar-te, pois o cavalo corre mais que o vento.

Tudo correu perfeitamente bem e o príncipe levou consigo a bela princesa no cavalo de ouro, A raposa não se fez esperar muito e disse-lhe:

– Agora te ajudarei a capturar também o pássaro de ouro. Perto do castelo onde se encontra o pássaro, a princesa apeará e eu tomarei conta dela. Tu, no cavalo de ouro, entra no pátio; quando te virem ficarão todos felizes e te darão o pássaro. Assim que tiveres na mão a gaiola, volta voando a buscar a princesa.

Tendo corrido tudo perfeitamente, o príncipe quis regressar a casa com todos os tesouros conseguidos, mas a raposa disse-lhe:

– Agora tens que me recompensar por todo o auxílio que te prestei.

– O que desejas? - perguntou o príncipe.

– Quando estivermos na floresta, tens que matar-me e cortar-me a cabeça e as patas.

– Que bela recompensa! - disse o príncipe - Não posso absolutamente atender ao teu pedido.

– Se não queres fazê-lo, - disse a raposa - terei de abandonar-te; mas, antes disso, quero dar-te ainda um bom conselho. Livra-te de duas coisas: comprar carne destinada à forca e sentar-te à beira de um poço. 

Dizendo isto, fugiu para a floresta.

O jovem pensou: "Que animal esquisito! Tem cada ideia extravagante! Quem jamais compraria carne destinada à forca? E vontade de sentar-me à beira de um poço também nunca tive." Continuou o caminho, levando a linda jovem. O caminho passava pela aldeia onde haviam ficado os irmãos; ao chegar lá, viu um grande aglomerado de gente e muita algazarra. Tendo perguntado o que se passava, responderam-lhe que iam enforcar dois facínoras. Aproximando-se do local, viu que eram seus dois irmãos, os quais, tendo cometido toda espécie de perversidade e tendo malbaratado todos os haveres, estavam condenados a morrer na forca. O jovem perguntou se não era possível libertá-los.

– Sim, - responderam-lhe - se estás disposto a gastar todo o teu dinheiro para resgatá-los!

O jovem, sem hesitar, pagou tudo por eles; assim que ficaram livres viajaram em sua companhia.

Chegaram à floresta onde, da primeira vez, tinham encontrado a raposa. O sol queimava como fogo e, como o lugar aí fosse ameno e fresco, os dois irmãos disseram:

– Descansemos um pouco aí junto do poço e aproveitemos para comer e beber.

O jovem concordou e, entretido na conversa, sentou-se distraidamente na beirada do poço. Então os irmãos o fizeram cair de costas e o empurraram para dentro do poço; depois apoderaram-se da princesa, do cavalo e do pássaro e voltaram para a casa do pai.

– Não trazemos apenas o pássaro de ouro, - disseram - conquistamos também o cavalo de ouro e a princesa do castelo de ouro.

Todos estavam perfeitamente felizes, menos o cavalo, que não comia, o pássaro, que não cantava, e a princesa, que não parava de chorar.

Mas o irmão menor não tinha morrido. Por felicidade, o poço estava seco e ele caiu sobre o musgo macio, sem sofrer o menor mal; não conseguia, porém, sair de lá. Também, nessa angustiosa emergência, a fiel raposa não o abandonou; pulou para junto dele e repreendeu-o, severamente, por ter-lhe esquecido o conselho.

– Contudo, não posso deixar de restituir-te à luz do sol.

Mandou que se agarrasse e segurasse bem na sua cauda e, assim, puxou-o para fora. Depois disse:

– Ainda não estás livre de todos os perigos, teus irmãos mandaram sentinelas cercar a floresta, com ordens para te matar se te virem.

O rapaz agradeceu e foi andando. Ao chegar a um atalho, viu um pobre maltrapilho sentado, muito triste, e pediu-lhe que trocassem as respectivas roupas; assim disfarçado, conseguiu chegar são e salvo ao castelo real. Ninguém o reconheceu, mas logo o pássaro se pôs a cantar, o cavalo a comer e a jovem parou de chorar. O rei muito admirado, perguntou:

– Que significa isso?

– Não sei explicar, - disse a jovem - mas eu estava tão triste e eis que agora me sinto tão alegre! Como se tivesse chegado o meu verdadeiro noivo.

E contou ao rei tudo o que ocorrera, muito embora a houvessem, os dois irmãos, ameaçado de morte se revelasse qualquer coisa. Ouvindo isso, o rei ordenou que se apresentasse diante dele toda a gente do castelo; o jovem também compareceu, disfarçado em pobres andrajos. A princesa, porém, reconheceu-o imediatamente e correu a lançar-se-lhe ao pescoço.

Os perversos irmãos foram presos e condenados; enquanto que o menor casou com a bela princesa e foi nomeado herdeiro do trono.

E a raposa, que fim levou?

Muito tempo depois, o príncipe voltou à floresta e lá encontrou a raposa, que lhe disse:

– Tu agora tens tudo o que desejar se possa, mas a minha infelicidade nunca tem fim; entretanto, está em teu poder libertar-me.

E, novamente, suplicou-lhe que a matasse e lhe cortasse a cabeça e as garras. Ele obedeceu e, no mesmo instante, a raposa transformou-se num homem, o qual outro não era senão o irmão da bela princesa, libertado, finalmente, do encanto a que fora condenado.

Assim nada mais faltou para que fossem todos felizes até o resto de suas vidas.

5a. Festa Literária Internacional de Maringá - FLIM (21 a 25de novembro)

Local: Estacionamento Estádio Willie Davids

Programação

Com o tema “Resistências”, a 5ª Festa Literária Internacional de Maringá (Flim), que será realizada entre os dias 21 a 25 de novembro, quer dar visibilidade às mulheres, negros, índios, refugiados e aos LGBTs.

Além das datas, fora do período eleitoral e dentro do mês da celebração nacional da Consciência Negra, estão entre as primeiras novidades da festa, novas locações e curadoria.

A FLIM ocupará parte do estacionamento de entrada do Estádio Willie Davids e espetáculos culturais serão realizados na Travessa Jorge Amado ao lado do Mercado Municipal. “

Diferente da edição anterior, onde a Flim teve como curador a Câmara Brasileira do Livro (CBL), o jornalista, escritor e diretor da Biblioteca Pública do Paraná, Rogério Pereira, assumirá a curadoria do evento. 

Participantes foram selecionados pelo trabalho conjunto da comissão curadora que reúne representantes de diversos segmentos da sociedade ligados à literatura e da curadoria da Flim, sob responsabilidade do jornalista, escritor e diretor da Biblioteca Pública do Paraná, Rogério Pereira. O curador é criador do Rascunho, um dos mais importantes jornais especializados em literatura do país. 

Evento contará com show do ex-Titãs Arnaldo Antunes e finalistas de edições do Premio Jabuti, considerado o mais tradicional prêmio literário do país.
Arnaldo Antunes - um dos grandes nomes do rock nacional e ex-integrante do grupo Titãs - conquistou o Prêmio Jabuti em 1992 na categoria Poesia. Tendo influências do concretismo, da cultura pop e do próprio rock and roll, publicou em 1983 o “OU E”, seu primeiro livro. 

A Flim contará com o poeta e cronista Fabricio Carpinejar, vencedor na categoria Contos e Crônicas do Prêmio Jabuti com a coletânea de crônicas Canalha!. O escritor ganhou notoriedade com o programa “A máquina” da Rede Gazeta, sendo conhecido popularmente com as participações do programa Encontro da Fátima Bernardes. Destaca-se como uma referência sobre a discussão do imediatismo, o ócio criativo e a vida.

Outro finalista do Prêmio Jabuti que participará da Flim é a escritora Carola Saavedra. Sua obra Flores Azuis de 2008 também foi eleita como o melhor romance pela Associação Paulista dos Críticos de Arte. A escritora ainda esteve na lista dos vinte melhores jovens escritores brasileiros da renomada revista literária Granta.

Confirmado a participação da escritora, poetisa, romancista e ensaísta, Conceição Evaristo. Proveniente do movimento literário pós-modernista, a patrona participará de uma ação que antecipará a nossa Festa, a Pré-FLIM, que acontecerá em outubro. 

Thalita Rebouças é mais uma confirmada para a FLIM 2018. Jornalista e escritora brasileira, Thalita Rebouças publicou mais de 20 livros nos últimos 18 anos. Atuando com temas voltados ao público adolescente, Thalita Rebouças apresentou o The Voice Kids, em 2017, na Rede Globo.

Fonte:

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Canteiro de Trovas do Riso n. 1


Quando o homem casa, se integra
à tal costela cedida.
E a mulher. via de regra,
regra-lhe os dias de vida...
ALARICO CINTRA

Daquele a quem hoje dás
almoço, janta e café,
amanhã receberás
um tremendo pontapé!
ALDA PEREIRA PINTO

Mulher que atinge os quarenta
pode ser bonita e boa.
A mim, porém, já não tenta:
além de cara, é coroa...
ALMEIDA CORRÊA

Era uma vez uma dona
que andava a pé, sem ninguém;
e tanto pediu carona,
que ganhou carro também!.,.
ALOÍSIO ALVES DA COSTA

Noiva, inda em casa do pai,
dizia-lhe em prantos: Vem!
Esposa, é hora do trem,
diz sempre sorrindo: Vai!
ALTINO MORAES

Bom advogado é aquele
de caráter puro e honrado,
que não deixa seu cliente
como um frango depenado...
ANTÔNIO BRAGA

Depois de ter condenado
o bicheiro Zebedeu,
o juiz saiu apressado
para ver que bicho deu...
ANTÔNIO MESSIAS DA ROCHA

Você diz que não é fria
e eu acho graça, porque
até o sol se resfria
quando olha para você...
ANTÔNIO ROBERTO FERNANDES

Político de visão,
agia de forma clara:
ao mudar de opinião,
jamais mudava de cara!
ANTÔNIO TORTATO

Se observo os homens de perto
e analiso os animais,
fico sem saber ao certo
quais são os irracionais...
APARÍCIO FERNANDES

Aqui repousa o Simplício,
coveiro, douto no assunto,
que, coveiro vitalício,
foi promovido a defunto,..
ARISTON TELES

Minha trova hoje se atreve
a dizer a quem quiser:
— Não existe pior greve
que uma greve de mulher!
AUGUSTO CLÁUDIO FERREIRA

Quando a mulher quer, eu acho
que nem Deus a desanima:
— É água de morro abaixo,
ou fogo de morro acima!...
BELMIRO BRAGA

Ela é tão cheia de graça!
Ignora minha existência...
Sabendo por onde passa,
vou criando "coincidência"...
BENNY SILVA

— "Era uma santa!" — falava
o viúvo olhando o caixão.
Mas perto alguém segredava:
— Deixe ao pobre essa ilusão...
BRANCA DO AMARAL MELLO

Sempre tem atualidade
essa velha descoberta:
a mulher de certa idade
nunca diz a idade certa.
BRASIL ALT

O Juca está radiante
porque nasceu-lhe um filhinho.
Mas o caso é que o tratante
tem a cara do vizinho...
CALIXTO DE MAGALHÃES

Nunca receies, Maria,
pelos pecados de amor:
o céu tem mais alegria
quando salva um pecador..
CARLOS GOMES

Esta matrona roliça,
que de vaidade delira,
por fora é toda postiça,
por dentro é toda mentira.
CÁSSIO CHAVES

Esse teu nome é uma troça,
com teu gênio não combina.
— Devias ser Josegrossa,
em lugar de Josefina!
CHICO VEIGA

Pilha a esposa em adultério,
certo marido notável.
Não levou o caso a sério,
pois era inacreditável!
COLBERT RANGEL COELHO

Quantos anos tem Maria?
— Não perguntes, pois é em vão,
Ela só responderia:
— "Que falta de educação!"
COLOMBINA

Dos teus joelhos para cima
conhecer-te não mereço,
mas penso que o mais é a rima
desse menos que conheço.
CRUZ FILHO

Entre uma fruta e a mulher,
o contraste sobressai:
— Aquela só vai madura,
e esta — madura não vai...
DEMÓSTENES CRISTINO

O cura de nossa terra,
cura dos mais refinados,
já me conhece de sobra
através dos teus pecados.
DJALMA ANDRADE

Fala um defunto, ao vizinho,
de uma defunta assanhada:
— Toma cuidado, velhinho,
que essa defunta é casada!
DURVAL MENDONÇA

Lá vem o Zéca da escola,
de cara desconsolada.
Traz redondo, na sacola,
um zero na tabuada.
EDGARD BARCELLOS CERQUEIRA

Estivesses tu ao lado
de Adão, naquela manhã,
e ele teria pecado
sem serpente e sem maçã.
EDIGAR DE ALENCAR

Toda mulher nos ensina
ao menos uma lição:
— fidelidade canina
pede-se apenas ao cão.
EDSON MACEDO

Morreu depois de uma sova;
e, como não tinha campa,
de uma orelha fez a cova
e da outra fez a tampa.
EMÍLIO DE MENEZES

Ao ver a campa enfeitada,
a viúva estremeceu:
— Viu tanta flor dedicada
àquele que fora seu...
EVA REIS

Cachorro em apartamento.
não há no mundo quem goste.
— Além de caro o sustento,
não tem lugar para o poste...
FARIA JÚNIOR

Não penses que me consola
o sorriso que te enfeita;
pobre que vê muita esmola
desconfia e não aceita...
FAUSTO PARANHOS

A justiça é mesmo cega,
de tão rara nos assusta!
Custa, mas um dia chega;
ou melhor: chega mas custa!...
FÉLIX AIRES

Com dois palmos de tecido
fizeste uma saia nova...
Ai, Se eu fora teu marido,
não queiras saber que sova!
FERRER LOPES

É louco quem lança pedras,
diz o ditado, mas mente.
Louco não é quem as lança,
e sim quem fica na frente...
FIDÉLIS PEREIRA DA SILVA

Ó sua descaradona,
tira a roupa da janela!
Vendo a roupa sem a dona,
penso na dona sem ela!...
FOLCLORE PORTUGUÊS

Há certas coisas na vida
que a gente vê mas não quer:
— moça de calça comprida,
— rapaz cheirando a mulher.
FRANCISCO AMORIM

Duvido, sem presunção,
que este meu sonho superes:
de ser o único Adão
num mundo só de mulheres!
FRANCISCO MADUREIRA

Quando me mostras, sentada,
teus joelhos, num sorriso,
vislumbro a curva da estrada
que me leva ao paraíso...
FRANCISCO PIMENTEL

Teu vestido decotado,
não por culpa da modista,
tal qual o arame farpado,
protege... e não tira a vista!...
FRANCISCO ROSETI

Sempre que o raio rebenta,
ela, medrosa, me abraça.
Mas a maldita tormenta,
mal começa, logo passa...
GABRIEL VANDONI DE BARROS

De pensar tanto em Maria,
— oxalá isto endireite —
no restaurante, outro dia,
pedi Maria com leite...
GILVAN CARNEIRO DA SILVA

Sou soldado na tocaia,
não atiro pra falhar:
o nível da tua sala
é mira do meu olhar.
GIOVANI XAVIER

Morre a sogra. Para o inferno
foi-se, deixando-me em paz.
— Que se apiede o Padre Eterno
das mágoas de Satanás!
GUIMARÃES BARRETO

Três amigos, em tom grave,
elogiam Florisbela:
– pois todos três têm a chave
da porta do quarto dela...
GUMERCINDO JAULINO

— Como lhe provar eu posso
minha paixão, meu tormento?
E a moça responde ao moço:
— É fácil: com o casamento...
JOSÉ FERREIRA DA SILVA

Não tenho visto, mas creio
que teu nome ande em jornais...
Muito raramente leio
os casos policiais...
JOSÉ MARIA MACHADO DE ARAÚJO

No flagrante de adultério,
entraram no quarto errado
e pegaram o Eleutério
com a mulher do delegado!
JOSÉ PAULO TAVARES

Seguro morre de velho...
Mas, por avarento e duro.
morreu o velho Botelho:
velho morre de seguro...
LAURO SILVA

Muito esquisitos eu acho
teus vestidos, minha prima:
são altos demais embaixo
e baixos demais em cima… 
NERO DE ALMEIDA SENA

As suas cartas, senhora,
releio-as de quando em vez.
Mas nelas só vejo agora
os erros de português...
PAULO EMÍLIO PINTO

Isabel Furini (O Escritor)


Ernesto mudou-se do centro da cidade para o bairro de Bacacheri, perto do parque. Precisava de silêncio para escrever sua obra fundamental. Renovarei as letras, falava com seus botões. 

Nessa manhã de sábado estava sentado diante do computador. Escrevia o primeiro parágrafo de seu novo romance. Que nome daria à sua personagem? Teria que iniciar com A para demonstrar que o enredo partia de uma ação realizada pela protagonista. Ana seria um bom nome? Não! Curto demais. Anastásia? Não! Poderia ser confundido com a história da nobre russa desaparecida. Anacleta... não... não... Albertina? Isso mesmo! Albertina! Albertina foi o nome escolhido por Proust para sua personagem feminina. Por que não? Ao final, meu livro tem uma marcante influência proustiana, concluiu. 

Uma vez escolhido o nome da protagonista, o escritor inicia o primeiro parágrafo. Tem que ser visceral, pensou. Dilacerante! “No quarto escuro, Albertina apalpa as paredes. Onde estará o espelho de luz? Um reflexo luminoso no chão. A luz entrava por baixo da porta. Do outro lado, vozes e risos. Uma festa? Não lembrava...” Não lembrava... eu escrevi não lembrava mas ficou feio. Tenho que achar outra frase. Vejamos. Uma festa? Albertina estava confusa... Que porcaria... não era isso, não. O que escrever depois da pergunta: uma festa? Imagens rápidas... Não, rápidas não!.. Imagens entrecortadas. Isso ficou bom: imagens entrecortadas acudiam velozes. Que diabos estou escrevendo? Imagens não acodem... imagens... imagens aparecem? Surgem? Nada disso. Ernesto deleta as frases e volta àquela pergunta: Uma festa? 

Ele tentou escrever esse parágrafo durante horas a fio. O sol caía no horizonte quando Ernesto, desesperado, olhou o céu azul profundo com matizes vermelhos. Olhou o monitor. Não havia conseguido terminar o primeiro parágrafo. Nem o retrato de Proust, colocado na estante lhe havia servido de inspiração. - Se não posso ser igual a Proust, para que viver? - perguntou-se. Sempre olhando o céu, encaminhou-se à janela. E trêmulo e corajoso ao mesmo tempo, gritou: 

- Márcia, coloque no meu epitáfio: Foi um bom escritor. 

A esposa correu até o quarto, mas era tarde demais. Chegou no momento em que Ernesto, de olhos fechados, jogava-se pela janela. Machucou o braço e as costas. Tentou sentar-se na grama, enquanto Márcia, colocando a cabeça para fora da janela, gritava: - Ernesto, o que tentou fazer? Você esqueceu que agora moramos no térreo?
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Isabel Florinda Furini, educadora e escritora, de nacionalidade argentina, radicada em Curitiba/PR. escreve poemas desde criança, já foi premiada em alguns concursos. Publicou 15 livros, entre eles a Coleção "A Corujinha e os Filósofos" da Editora Bolsa Nacional do Livro, em 2006.  Em 2007 redigiu a obra SENAC PARANÁ, 60 ANOS e publicou "O Livro do Escritor", da editora Instituto Memória, Curitiba, 2009. Ministra palestras e oficinas direcionadas a novos escritores.
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Fonte:

Leandro Bertoldo Silva (Projeto Literário em Escola no Vale do Jequitinhonha)


Tudo começou com uma pergunta: como fazer os jovens se interessarem mais pela leitura? E a resposta apareceu muito clara e direta: colocá-los do outro lado da história, ou seja, do lado de quem escreve.

Pimba!

A partir daí, o escritor e professor Leandro Bertoldo Silva procurou a escola Orlando Tavares, a qual já havia lecionado há 5 anos, e fez a proposta à diretora Jussara Pinheiro Paiva que, prontamente, acatou a ideia abrindo as portas da escola para que o projeto acontecesse. Tal aprovação é externada em sua fala:

Jussara Pinheiro Paiva. Diretora da Escola Orlando Tavares:

“É de uma imensa alegria compartilhar desse projeto com os alunos, professores e demais profissionais da escola. Foi desenvolvido pelo escritor, professor e amigo Leandro Bertoldo Silva atividades em sala de aula que acabaram aguçando a imaginação dos nossos discentes, nos mostrando como são habilidosos.

Acredito que a escola seja um lugar para construir prazerosamente o conhecimento integrado com afeto, valorizando a leitura e a escrita. Este livro proporcionou exatamente isso: possibilitou aos nossos alunos a elaboração de textos partindo de uma história de cada família. Durante esse trabalho fica claro que o entendimento literário pode ser prazeroso quando se trata do que se vive e é nessa pequena/grande diferença que mora o segredo para (des)costurar pensamentos com a ajuda da entrelinha.

Quero parabenizar a iniciativa do escritor e professor Leandro e a cada aluno que aceitou esse desafio. Que seja o primeiro de muitos livros publicados pelos alunos da EOT”.

Para isso, Leandro assumiu as aulas de redação da escola, levando aos alunos todo o conhecimento adquirido em seu curso Vivenciando a Linguagem, Leitura e Escrita na cidade de Padre Paraíso e região, oferecendo aos alunos uma forma pragmática de estudo.

O projeto foi dividido em 4 etapas – uma para cada bimestre – onde, em cada um deles, os alunos do ensino fundamental 2 (6º ao 9º anos) foram sendo orientados a partir de dinâmicas de escrita criativa e conhecimentos técnicos da escrita narrativa a entrarem em contato com o texto literário.

A proposta foi a escrita de um livro em conjunto – uma coletânea de mini contos – na qual cada aluno escreveria uma história partindo da concepção da escrita concisa, bem aos moldes do livro Entrelinhas Contos mínimos, escrito pelo próprio professor e escritor Leandro, e que todos tiveram acesso de forma online, juntamente com outro livro do autor (esse físico) – Janelas da Alma: uma tempestade íntima, um conflito, um retorno – como forma de mostrar na prática o processo de escrita e publicação de uma obra.

Faltava o fio condutor do livro, e este ficou por conta das memórias de família, que acabou sendo a temática do trabalho como mais uma estratégia de envolver as famílias dos alunos aproximando-as ainda mais do projeto, da escola e deles mesmos, pois, segundo o escritor Bartolomeu Campos Queirós em uma das unidades de um dos livros didáticos dos próprios alunos, “o que não foi esquecido merece ser repensado”.

Como mostra do envolvimento dos alunos, leia a seguir alguns depoimentos bem emocionantes!

Ana Esther Alvim de Godoy – Aluna do 6º ano.
“Essa aventura começou quando tivemos que levar um objeto antigo de família para a escola. Na hora fiquei um pouco preocupada, pois pensei que em casa não teria nada para levar. Fiquei a aula toda pensando sobre aquilo. Chegando em casa comentei com minha mãe e meu pai. Ao entardecer, meu pai chegou em casa falando que tinha pensado em uma coisa com bastante história, e eu fiquei muito empolgada. Era um rádio bem velho, mas em bom estado. Achei muito interessante, pois vinha do passado, o que seria bom, pois estávamos falando de lembranças, não é mesmo?”

Igor Gomes da Silva – aluno do 7º ano.
“Antes de relatar minha experiência com esse projeto, gostaria de parabenizar o meu professor Leandro pela iniciativa, pois estar à frente da construção de um livro requer muita coragem, esforço, dedicação e amor. Quanto a experiência, o tempo que passei com a minha mãe e irmão em busca do material foi muito importante, pois juntos percebemos que naquelas fotografias estavam registrados momentos que eu não teria como me recordar porque era muito pequeno. A fotografia escolhida retratava uma viagem que fiz com toda minha família para um hotel fazenda próximo de Governador Valadares, um lugar lindo, com tirolesa, piscina, sinuca, animais como cavalos e aves”.

Renato Santos Silva – aluno do 8º ano.
“Minha busca pelo objeto foi muito interessante, pois fui à casa da minha bisavó procurar algumas lembranças significativas na minha família para levar à escola. Chegando lá, minha bisavó começou a contar histórias da sua infância e de toda sua vida através dos objetos que tive curiosidade de conhecer. Dentre tantos, optei por dois, sendo eles o cassetete de quando o meu bisavô era soldado, da Polícia Militar de Minas Gerais, o qual minha bisavó sempre guardou com muito carinho para lembrar dele, que infelizmente faleceu. O outro foi o telefone que a esposa do Dr. Domingos Savio, grande médico que teve em Padre Paraíso, havia dado para ela. Minha bisavó gostava muito dele e ele a admirava muito. Sempre que podia, o médico a visitava, e ela, esperta como sempre, aproveitava para fazer uma consulta. Prova disso é que ela tem várias receitas guardadas até hoje”.

Vitória Amaral Neves – aluna do 9º ano.
“Desde que nos foi feita a proposta, questionei-me inúmeras vezes de como a mesma seria realizada, pois cada aluno teria que escrever uma história a curto prazo direcionadas para um livro. Confesso que passou em minha cabeça a possibilidade de que o projeto não seria concluído, mas agora vejo que nada está sendo em vão. Com a procura dos objetos e fotos foi possível que um vínculo fosse criado em nossa família. Relembrar as histórias fez com que criássemos um momento particular entre nós, além do que pudemos nos aproximar de outros alunos e contar o trajeto das fotos e dos objetos levados por nós. Vejo que com o andamento das histórias irá ser um trabalho de incrível repercussão, podendo servir de inspiração para outras escolas, assim ampliando e fortalecendo ainda mais a literatura brasileira”.

Fabiene Ramalho Lopes Dutra, mãe da aluna Hanna Ramalho Dutra, do 6º ano.
“Penso que a leitura tem que fazer parte da educação da criança, e sempre incentivei Hanna a ler, mostrando a ela o quanto podemos aprender com um bom livro. Quando fiquei sabendo do projeto de escrever um livro, achei muito interessante. Uma forma de incentivar os alunos, a desenvolver a leitura e a escrita. O processo de pesquisa e a busca por informações envolveu a família e amigos. Recordamos momentos alegres e tristes, mas que faz parte da nossa história”.

A publicação do livro ficou por conta da Árvore das Letras, através do selo Alforria Literária, também desenvolvido pelo escritor e professor, no qual a publicação obedece a um conceito de sustentabilidade, onde os livros são publicados sob demanda produzidos com capa de papel ecológico inteiramente personalizado com fibras de material orgânico e tinta natural, numa verdadeira artesania literária, sendo o miolo do livro de papel reciclado, demonstrando um valor importante na preservação do meio ambiente, através do uso de recursos renováveis. (Clique AQUI para conhecer os livros e saber mais sobre a Alforria Literária).

A culminância do projeto, como não poderia deixar de ser, será uma noite de lançamento, com data já marcada para o mês de novembro, onde os alunos/escritores irão receber seus convidados e autografar os seus livros, fazendo desse momento mais uma realidade literária de nossas letras, valorizando o que de melhor existe em Padre Paraíso e no Vale do Jequitinhonha: sua própria gente e suas próprias histórias.

Para mim há uma grande diferença entre estudo vivo e estudo morto. Estudo vivo é aquele que pauta sua existência na produção de ideias e não apenas na repetição do que já existe, ainda mais o disfarçando sob o viés do conhecimento. Estudo vivo privilegia o compartilhamento, mesmo que o mundo muitas vezes nos leva a acreditar no contrário e nos faz criar escolas que são regimentos de competições, mas, pelo estudo vivo, aprendemos que há lugar para todos, pois ele cria e vive nas asas das possibilidades. Estudo vivo respira e se pergunta sempre “por que não?”, ao invés de conservar-se no abafamento das respostas prontas que nos faz ter vidas prontas, permanecidas em si mesmas, cinzas, sem perfume e cor. Sempre duvidei das escolas cinzas… Não, não pintem suas salas de aula de cinza. Se for para tê-las, tenha-as coloridas.

Acho que sempre fui indisciplinado, uma espécie de inconformado social, a ponto de não aceitar verdades verdadeiras; elas podem ser falsas e perigosamente destruidoras de sonhos. Também sempre acreditei que uma escola não pode motivar os seus alunos utilizando apenas o velho recurso de provas e notas. Uma escola assim tem algo de muito, muito errado, e alguma coisa precisa ser feita. Este livro é a tentativa dessa coisa, como é a tentativa de tudo o que eu faço, pois livros mudam vidas.

Quando fiz aos alunos a proposta de escreverem um livro, li em seus rostos uma certa descrença. Mas já esperava por isso. Minha tarefa não era apenas concretizar o que eu sabia que eles poderiam, mas tocar-lhes o coração. E isso foi acontecendo gradativamente, até que todos perceberam que sim, era verdade, escreveríamos um livro e que eu não iria desistir.

Uau!! É mesmo verdade! Vamos escrever um livro! Sobre o quê? Aqui entra uma outra coisa que acredito: a família. Sem ela não existimos. É ela que nos nutre, que nos faz acontecer. Precisava envolver não apenas os alunos, mas as suas famílias nas páginas do que seria escrito, confiando que desse encontro surgiriam lembranças, memórias, aproximações e curas, sim, curas, pois a busca de memórias escondidas pode sarar muitas distâncias…

E como diz Bartolomeu Campos Queirós, um escritor que soube muito bem entender como as lembranças moram em nós e delas surgem histórias, “a memória é um espaço interno onde a fantasia conversa com a realidade”, ou seja, “o que não foi esquecido merece ser relembrado”.

Pronto. Estava tudo exposto. Agora era trabalhar, fornecer aos alunos o que precisavam para escrever. Algumas técnicas, umas dinâmicas, um pouco de experiência, um tantinho de informação e muita, muita leitura e uma dose imensa de vontade. O resultado? Bem, está aqui em suas mãos ao alcance de seus olhos. É só virar as páginas e permitir-se ir nessa viagem, que não há feio nem errado; há histórias lindas, reais e imaginadas, também há as misturadas saídas de cada um a sua maneira e que, por isso, já bastam.

Quanto a mim, sigo o meu caminho com um profundo sentimento de gratidão. Obrigado aos alunos, à escola e às famílias por acreditarem que sonhos foram feitos para serem sonhados e muito mais para serem realizados.

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